Você está na página 1de 14

Mídia Training: breve histórico do treinamento de mídia e proposições

sobre seus impactos para o uso eficaz do direito à informação


jornalística1
SOBRINHO, Humberto Antonio Martins (Estudante)2
ZUZA, Erika dos Santos (Professora)3
BEZERRA JÚNIOR, José Albenes(Professor)4
UFRN e UnP / RN

Resumo: Este artigo é fruto de reflexões realizadas durante cursos ministrados sobre mídia training
(treinamento de mídia) em Natal, no Rio Grande do Norte e em João Pessoa, na Paraíba. As discussões
ocorreram com estudantes de graduação e de pós – graduação lato sensu de áreas ligadas à comunicação
social, notadamente jornalismo e publicidade, além de cursos de treinamento de mídia com empresários e
profissionais autônomos que são fontes de notícias em Natal. Na perspectiva dos estudos de história da
mídia, tendo por base a comunicação institucional, este trabalho propõe reflexões interdisciplinares que
abrangem os estudos sobre assessoria de comunicação, com foco em um de seus serviços, o mídia
training, assim como visa iniciar um diálogo com a área do direito, através dos estudos referentes ao
direito à informação jornalística, passando pela liberdade de expressão e os direitos de informação e de
comunicação. Trata-se de uma pesquisa inicial cuja metodologia é alicerçada pelos estudos de autores
referências da comunicação empresarial, como Jorge Duarte, Rivaldo Chinem e Heródoto Barbeiro, assim
como pelas análises de leituras na área jurídica, tendo como base a Constituição Federal Brasileira de
1988 e os estudos de Vidal Serrano Nunes Junior sobre jornalismo e direito.

Palavras-chave: mídia training, comunicação, direito, história, assessoria.

1. Introdução

“Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à


plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social (...)” Art 220, § 1º Constituição Federal

1 Trabalho apresentado no GT de História da Publicidade e da Comunicação Institucional, integrante do


9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013.
2
Co-autor; Empresário do setor imobiliário; Estudante do curso de Direito da UNP. E-mail:
humberto_martins@gmail.com
3 Autora principal; Jornalista graduada pela UFRN; Mestre em Televisão Digital pela UNESP;
Professora substituta do Departamento de Comunicação Social da UFRN – E-mail:
erikazuza@terra.com.br
4
Co-autor; Advogado; Mestre em Direito pela UFRN; Professor da graduação e pós-graduação da
Universidade Potiguar (UnP) e Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN) – E-mail:
jalbenes@hotmail.com
2

O artigo 220 da atual Constituição Federal Brasileira (1988) é considerado o


mais específico dispositivo constitucional de proteção da informação jornalística
(JUNIOR, 2011). Através dele é possível se estabelecer reflexões acerca do que afirma a
carta federal sobre a liberdade de expressão e os direitos referentes à comunicação
social no Brasil.
Já no campo da assessoria de comunicação (atividade jornalística cada vez mais
difundida no Brasil e que tem como função básica, construir e manter o relacionamento
adequado entre assessorado e a imprensa) temos como um dos serviços prestados por
empresas de comunicação e por assessores autônomos, o mídia training (treinamento de
mídia), cuja atividade principal é o preparo das pessoas, consideradas fontes de notícias,
para o uso mais adequado dos espaços espontâneos gerados pelas entrevistas
jornalísticas.
O caminho traçado por este artigo científico visa contextualizar o direito à
informação jornalística com a importância do treinamento de mídia, no sentido de
consolidar através dos direitos fundamentais de todos os brasileiros, a utilização eficaz
dos meios de comunicação de massa para a difusão de informações jornalísticas, ou
seja, para a divulgação de fatos relevantes para a sociedade, bem como para a correta
aplicação dos direitos de resposta em momentos de gestão de crise do assessorado, ou
da empresa/instituição assessorada.
Neste contexto, a metodologia deste trabalho está alicerçada pelos estudos de
autores referências da comunicação empresarial, como Jorge Duarte, Rivaldo Chinem e
Heródoto Barbeiro, assim como pelas análises de leituras do campo jurídico, tendo
como base a atual Constituição Federal e os estudos de Vidal Serrano Nunes Junior
sobre jornalismo e direito.
Além de se configurar como uma pesquisa teórica e transdisciplinar, este artigo é
resultado de reflexões feitas durante aulas ministradas pela Professora Erika Zuza em
cursos de treinamento de mídia em Natal, no Rio Grande do Norte e em João Pessoa, na
Paraíba, para estudantes de graduação e de pós – graduação lato sensu, em áreas do
jornalismo e publicidade, além de oficinas de mídia training realizadas com empresários
e profissionais autônomos que são fontes de notícias em Natal.
3

2. Mídia Training: capacitação de fontes e porta-vozes

No Brasil a atividade de assessoria de comunicação ganhou espaço no mercado


de trabalho, sobretudo a partir da década de 70, quando empresas multinacionais se
instalaram no país e trouxeram do exterior o serviço de comunicação empresarial, cujas
atividades eram voltadas para comunicação interna entre gestores, diretores e
funcionários, além do relacionamento entre empresa e veículos de comunicação de
massa.

As primeiras mudanças ocorrem pouco antes da informatização das


redações [meados dos anos 70 – grifo nosso] quando as empresas
jornalísticas passam a utilizar-se de ‘estratégias de comunicação e
persuasão’ nos noticiários informativos, aceitando a mediação das
assessorias de imprensa no fazer jornalístico. CHINEM (2006, p. 20)

A partir dos anos 80, com a informatização das empresas jornalísticas e


sobretudo em pleno período de redemocratização política, aliado ao processo de
enxugamento das redações com a redução dos postos de trabalhos para os jornalista nos
veículos tradicionais, muitos profissionais acostumados a lidar com as atividades de
produção de notícias, passaram a trabalhar em empresas dos setores públicos e privados,
em departamentos de comunicação social, relações públicas e assessoria de imprensa,
onde os objetivos eram produzir conteúdos que reforçassem a imagem positiva da
empresa - ou do gestor - perante a sociedade, através da mídia, assim como divulgar
materiais que minimizassem situações negativas provocadas por crises e problemas no
contexto empresarial.
Antes de focarmos no treinamento de mídia, é importante ressaltar que para
pensar e aplicar estratégias de relacionamento empresarial com a imprensa, é necessário
o entendimento da importância dos mais variados serviços de assessoria de
comunicação, como o planejamento e organização do Mailing list, a lista com os
contatos atualizados dos jornalistas; o envio de notícias aos veículos, através da edição
de releases, texto jornalísticos que ressaltam as informações que o assessorado deseja
informar ao público; o Clipping, serviço que compreende a seleção, catalogação e
arquivamento de todas as matérias publicadas/transmitidas ligadas direta e/ou
4

indiretamente a pessoa/empresa assessorada; bem como o serviço destacado neste


artigo: o Mídia Training, o treinamento das pessoas consideradas fontes de notícias e/ou
porta-vozes sobre como lidar com a imprensa.

Falar com os jornalistas costuma ser um desafio para o qual a maior


parte das pessoas, na condição de fontes de informação, não se sente
preparada. É uma atividade que envolve a perspectiva de exposição
pública, profundos sentimentos relacionados à autoestima e a incerteza
de que as informações serão veiculadas segundo suas expectativas.
DUARTE (2011, p. 345)

O serviço de treinamento de mídia originalmente é denominado Media Training


e tem seus primórdios nos EUA no início do século XX, com o surgimento das relações
públicas. CHINEM (2006) cita o jornalista americano Ivy Lee - considerado fundador
das relações públicas, berço da assessoria de comunicação - como o profissional que
primeiro compreendeu a importância de se trabalhar um bom relacionamento com a
imprensa utilizando atividades de comunicação empresarial.
Em 1906, Lee deixou o jornalismo e abriu o primeiro escritório de relações
públicas em Nova York. Um de seus primeiros clientes foi o empresário John D.
Rockefeller, o mais impopular homem de negócios dos EUA naquela época.
“Contratado pela Pennsylvania Railroad para assessorar no caso grave de acidente, Lee
anunciou para surpresa de todos, que se empenharia em ajudar os repórteres”
CHAPARRO (apud CHINEM, 2006, p. 24).

A Pennsylvania Railroad sumir das manchetes escandalosas. A


transparência no trato com a imprensa e a confissão honesta das
dificuldades técnicas da ferrovia em prestar um serviço sem falhas,
acalmaram o ímpeto sensacionalista dos jornais, que passaram a tratar
os acidentes com mais respeito e compreensão. (CHINEM, 2006, p. 24)

No Brasil, uma das ações que marcam o início dos serviços de media training
ocorre nos anos 80, quando a filial brasileira da multinacional de indústria química
Rhodia, lança seu plano de comunicação integrada: “um documento que pregava a
5

implantação de uma política de comunicação, alinhada à jovem democracia brasileira e


que integrava na empresa, ações de imprensa, relações públicas e de comunicação de
marketing”, CHINEM (2006, p. 21).
Neste ambiente da nova república, a comunicação empresarial ganhou novos
reforços, a Rhodia e outras empresas brasileiras incluíram em seus planejamentos
estratégicos diversas ferramentas jornalísticas de comunicação, entre elas o mídia
training, “com o objetivo de treinar a alta direção para o relacionamento adequado com
a imprensa”. CHINEM (2006, p. 21).
Atualmente o mídia training está consolidado e é um dos serviços mais
importantes na composição das atividades de assessoria de comunicação. No Brasil, esta
capacitação é realizada tanto por empresas de assessoria comunicacional, quanto por
jornalistas que atuam no mercado (em emissoras de tv e rádio) e promovem cursos para
treinar pessoas sobre como divulgar suas mensagens durante uma entrevista jornalística,
quais as posturas corretas diante do vídeo e como trabalhar suas falas de maneira eficaz
e objetiva. Segundo Duarte (2011, p. 360) nos últimos anos a capacitação de fontes e
porta-vozes é um dos instrumentos de assessoria de imprensa que mais se popularizou.

Aperfeiçoar continuamente os assessorados em compreender a


imprensa, interagir com jornalistas, atender adequadamente suas
demandas, ser proativo e aproveitar as oportunidades para transmitir
mensagens de maneira eficiente, tornou-se uma estratégia prioritária
para as equipes de comunicação. DUARTE (2011, p.360)

Alguns autores brasileiros utilizam uma junção do português e inglês e o serviço


de mídia training, termo adotado neste trabalho por entendermos que melhor se
enquadra metodologicamente às reflexões acerca de técnicas originalmente americanas,
mas que ganham perspectivas e aplicações inerentes ao contexto brasileiro.

Assim como a melhor maneira de enfrentar crises é gerenciar riscos e


preparar-se para evitar que não aconteçam, capacitar fontes e porta-
vozes para compreender a dinâmica da mídia e interagir com jornalistas
são investimentos de retorno certo para criar e fortalecer uma cultura de
comunicação e obter resultados mais efetivos. DUARTE (2011, p. 360).
6

Através do treinamento de mídia, o indivíduo, seja ele profissional autônomo ou


vinculado a uma empresa, recebe orientações sobre como aproveitar da melhor maneira
a oportunidade de divulgar suas mensagens em um espaço midiático, considerado
espontâneo, já que não são anúncios, e sim espaços jornalísticos que existem na
imprensa conforme a confiança, audiência e credibilidade depositada pela sociedade.
Saber divulgar as informações através de uma comunicação verbal e não –
verbal adequadas, ter condições de lidar com imprevistos no local da entrevista,
responder a perguntas inesperadas e, por vezes, capciosas, assim como conseguir
controlar a tensão, são prerrogativas primordiais para qualquer entrevistado considerado
fonte de notícia.
As orientações pertencentes ao treinamento de mídia evidenciam como qualquer
pessoa pode aproveitar de forma mais eficiente o direito fundamental à informação
jornalística, tanto no contexto de se informar e de ser informado, como, e
principalmente, sob o aspecto de informar, de ter o direito de repassar informações
através dos meios de comunicação.
Neste sentido, conhecer seus direitos, e entender como a mídia contemporânea
funciona, contribuem para a redução das tensões durante os processos de entrevistas,
sejam gravadas ou realizadas ao vivo, conduzidas por um jornalista, ou por vários em
uma coletiva de imprensa.

3. Direito à Informação Jornalística: breves reflexões

Considera-se informação jornalística todo fato que é noticiado pelos meios de


comunicação de massa (jornal impresso, revista, rádio, TV e internet) e que se configura
como notícia. Através do artigo 220 da Constituição Federal (1988) são apresentados os
dispositivos referentes à comunicação social e a informação jornalística, que
configuram, segundo Nunes Júnior (2011), uma estrutura complexa, na qual se
encontram, de um lado, a notícia, e de outro, a crítica. Crítica jornalística aqui entendida
não somente no sentido negativo, mas sim enquanto “juízo de valor que, impregnado à
notícia ou recaindo separadamente sobre ela, formaliza um conceito, positivo ou
negativo, acerca de um fato ou opinião”. NUNES JÚNIOR (2011, p. 91)
A liberdade de informação jornalística não é um assunto recente. É assunto
7

discutido desde o século XIX. Em 1880, Thomas Cooley (apud NUNES JÚNIOR,
2011) já preconizava nos Estados Unidos, a ideia de que a imprensa funcionava como
um meio de comodidade pública que registra os acontecimentos do dia, para apresentá-
los aos leitores.

sob o ponto de vista constitucional a importância capital [da imprensa –


grifo nosso] consiste em facilitar ao cidadão o ensejo de trazer perante o
tribunal da opinião pública qualquer autoridade, corporação ou
repartição pública e até mesmo o próprio governo em todos os seus
ramos com o fim de compeli-los, uns e outros, a submeterem-se a um
exame e a uma crítica sobre sua conduta, as suas medidas e os seus
intentos, diante todos, tendo em vista obter a prevenção ou a correção
dos males; do mesmo modo serve para sujeitar a idêntico exame e com
fins idênticos, todos aqueles que aspiram a funções públicas. COOLEY
(apud NUNES JÚNIOR, 2011, p. 51 - 52)

Já no século XX, em 1948, o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos


Humanos, prescreve:

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este


direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios
e independentemente de fronteiras”. (UNESCO, 1998)

Já na contemporaneidade, Nunes Júnior (2011, p. 51) afirma que o


desenvolvimento tecnológico, com o surgimento e consolidação dos sistemas de
radiodifusão (notadamente o rádio e a TV), assim como a informática e o surgimento da
internet, passaram a oferecer “meios de difusão mais sofisticados, fazendo com que a
antiga liberdade de imprensa assumisse também uma nova e mais moderna forma: a
liberdade de informação jornalística”.
Para uma reflexão eficaz sobre o conteúdo do direito à informação jornalística, é
importante observar o que estabelece a Constituição Federal do Brasil (1988) sobre a
comunicação social, sobretudo o que afirma no artigo 220:
8

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1.º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à


plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art.5.º, IV, V, X, XIII e
XIV. (Constituição Federal)

Neste contexto, também se faz relevante observarmos o artigo 5º e seus


respectivos incisos citados no parágrafo primeiro do artigo 220:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem; (...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação; (...)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,


atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o


sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Assim é possível enfatizar o fato de que juridicamente qualquer pessoa, seja


profissional do jornalismo ou não, tem a liberdade de expressão do pensamento, das
opiniões e o direito de informar conteúdos através dos meios de comunicação, sendo
essa pessoa ligada direta ou indiretamente a esses veículos.
9

O direito à informação jornalística no Brasil, segundo interpretação da


Constituição Federal, é um direito fundamental de todos os indivíduos. Neste sentido,
cabe aqui diferenciar os direitos de informação e o de comunicação:

a. Direito de informação: O direito de informação contempla três


variáveis: o direito de informar, o direito de se informar e o direito de
ser informado. Sendo o primeiro, foco deste artigo.

O direito de informar consiste basicamente na faculdade de veicular


informações, ou, assumindo outra face, no direito a meios para
transmitir informações, como, verbi gratia, o direito a um horário no
rádio ou na televisão. O direito de se informar consiste na faculdade de
o indivíduo buscar as informações desejadas sem qualquer espécie de
impedimento ou obstrução. Por fim, o direito de ser informado remete à
faculdade de ser mantido integral e corretamente informado. (NUNES
JUNIOR, 2011, p. 44)

b. Direito de comunicação: “é o conjunto das normas gerais e cogentes


que regulam a existência e a atuação dos meios de comunicação.”
COSTELLA (apud NUNES JUNIOR, 2011, p. 43) Neste sentido, o
direito de comunicação respeita a preservação da opinião, da expressão
e da informação, através dos meios de comunicação. Por outro lado, “se
refere à integração jurídica da existência e do funcionamento desses
meios de comunicação” (NUNES JUNIOR, 2011, p. 43)

Na Constituição Federal, esse direito de informar, assume uma feição de


permissão, “é permitido a todo indivíduo veicular informações que julgar pertinentes,
desde que possua os meios necessários para tanto”, NUNES JÚNIOR (2011, p.43).
Assim, um indivíduo considerado fonte de notícias que queira transmitir conteúdos que
sejam de interesse público, tem todo o aval para buscar espaços espontâneos nos meios
de comunicação social, com ou sem apoio da assessoria de comunicação.
10

4. O uso do direito à informação jornalística no contexto do mídia training

“A notícia é a matéria prima do jornalista e assumir o papel de fonte


significa se submeter a riscos e oportunidades” BARBEIRO (2011, p.
12)

Através da capacitação de fontes de notícias e porta-vozes, o mídia training gera


bases sólidas para o entendimento acerca das capacidades de cada pessoa em colocar em
prática os direitos à informação jornalística, concedendo entrevistas e aproveitando da
melhor maneira as linguagens específicas e as potencialidades de cada veículo de
comunicação, bem como conduzindo a conversa, controlando a tensão e sendo coerente
na transmissão das mensagens chaves que são planejadas antes do momento da
entrevista com o apoio do assessor de imprensa.
O mídia training aborda o aperfeiçoamento da postura e voz, reforça a
importância do planejamento de conteúdos nos momentos que antecedem a entrevista
jornalística e capacita o profissional para lidar com desenvoltura com todos os
obstáculos que podem surgir durante o contato com os jornalistas. Falar com a imprensa
requer planejamento, pois o entrevistado tem a responsabilidade de divulgar
informações para a sociedade, e deve ter firmeza e equilíbrio para se posicionar e
declarar as mensagens que sejam de interesse público, mas que também estejam
alinhadas com sua função profissional ou com os interesses da empresa/organização
representada.

A imprensa pode contribuir para que sua organização obtenha o atributo


de credibilidade. Não é o único caminho, mas é um dos mais percebidos
pela sociedade. Ela ajuda a construir a admirabilidade da marca, porque
tem grande influência na opinião pública. (BARBEIRO, 2011, p. 13)

No jornalismo situações imprevistas são comuns em entrevistas, por isso quem


vivencia o treinamento de mídia, recebe orientações para ter a consciência e a
capacidade de encarar os obstáculos e transformá-los em oportunidades, para reforçar
opiniões, decisões ou defender posições da empresa/organização em situações de crises.
“A comunicação na crise deve ser ágil, direcionada a diminuir as incertezas, atenuar as
11

expectativas, criar padrões de entendimento e cordialidade, a fim de que a empresa


possa passar pela crise sem grandes impactos.” CHINEM (2006, p. 47)
O próprio ambiente da captação e registro das informações, pode representar
empecilhos ao exercício jornalístico, como locais não adequados para gravações,
problemas climáticos ou mesmo, falhas ou falta de equipamentos. O treinamento de
mídia também envolve orientações sobre o uso de roupas, acessórios e maquiagens
adequadas, além de como lidar com jornalistas bem preparados, inteligentes,
atualizados, assim como com aqueles desinformados e, por vezes, sensacionalistas.
O direito à informação jornalística pertence a todos os brasileiros e estrangeiros
que moram no Brasil, independente de estarem ligados diretamente a um veículo de
comunicação, ou não. Embora sejam informações registradas pela lei, via de regra, é
possível inferir que muitas pessoas não tem conhecimento disso, e portanto, proliferam
opiniões que viram senso comum, como por exemplo o fato de que poucos tem acesso
aos meios de comunicação tradicionais, ou mesmo a dificuldade encontrada pelos
assessores de comunicação em inserir pessoas “novatas” no hall dos
‘escolhidos/selecionados’ como fontes de notícias pela imprensa local, nacional ou
internacional.

Estima-se que 95 por cento de todo o noticiário jornalístico são relatos e


comentários de fatos programados por instituições interessadas, ou
revelações e falas controladas por fontes organizadas. Ou seja, é cada
vez maior o número de pessoas que rompem a barreira do mutismo e se
tornam fontes de notícias. BARBEIRO (2011, p. 17)

O jornalismo brasileiro é organizado por empresas de comunicação que


compõem, num contexto capitalista, uma indústria de notícias, regida por regras de
negócios que por diversas vezes, podem impedir o acesso da população a esses meios.
Diante deste cenário, este artigo propõe que a vivência do treinamento de mídia pode
contribuir para que a fonte de noticia passe a exercer com mais qualidade o direito à
informação jornalística, já que o profissional toma consciência sobre o funcionamento
da imprensa, sobretudo nos dias de hoje, marcados pela convergência digital, em que há
uma integração cada vez maior entre os veículos de comunicação de massa.
A sociedade da era digital está passando por um processo de transição e
12

crescimento exponencial de uma linguagem híbrida jornalística, o que vem ampliando


os desafios dos que são e dos que querem ser Fontes de notícias. Nesta era digital,
marcada pela compartilhamento instantâneo de dados, interatividade com os usuários e
mídias sociais, uma pessoa convidada para uma entrevista em uma emissora de rádio,
por exemplo, também deve estar preparada para o vídeo, isso porque a tecnologia
permite - e muitas emissoras tem colocado isso em prática - que a entrevista transmitida
a princípio ao vivo via rádio, também estará ao vivo via web tv ou será gravada em
vídeo e transmitida posteriormente pela internet.
Outro exemplo, são as entrevistas para jornal impresso, em que o entrevistado
conversa com o jornalista, que por sua vez grava áudio para podcasts no site de notícias,
pode também registrar tudo em vídeo para compor os extras de uma reportagem que
originalmente estará nas páginas impressas de um jornal. Com a banda larga e a
mobilidade, é possível afirmar que nos dias de hoje, qualquer pessoa tem mais espaços
para exercer seu direito à informação jornalística, tanto para informar notícias de
interesse público, quanto para se informar, devido a multiplicidade de canais de
divulgação, bem como exercer adequadamente o direito de ser informado por outros
através da liberdade de expressão dos veículos de comunicação de massa.

Considerações Finais

Este artigo constitui uma tentativa de alinhar duas áreas do conhecimento de


extrema importância para a sociedade: o jornalismo, através da assessoria de
comunicação, com foco no serviço mídia training, e o Direito, pelo viés dos dispositivos
referentes ao direito à informação jornalística, presentes na Constituição Federal (1988).
O treinamento de mídia vem se consolidando no Brasil porque as empresas e os
respectivos assessorados estão percebendo cada vez mais a importância de estarem
preparados para as entrevistas, tendo condições de exercerem o direito de informar com
qualidade e segurança.
O jornalismo é constituído por pessoas. As notícias só são notícias se estiverem
construídas baseadas em depoimentos dos entrevistados, caso contrário, estaremos
tratando de outro tipo de texto. Para escreve as histórias do nosso cotidiano, os
profissionais da comunicação social utilizam diversas fontes: jornais, internet, livros,
13

documentos, são fontes de informação, mas são as fontes humanas as ferramentas


essenciais na construção das notícias numa sociedade democrática.
É intenção deste paper, ressaltar a importância de conhecermos brevemente a
história jurídica que nos permite ter acesso à informação jornalística, assim como
sermos fontes de notícias. Neste contexto, o mídia training pode significar o
instrumento mais eficaz para o melhor aproveitamento de um direito fundamental,
pertencente a todos os cidadãos.
Em síntese, destacamos que as reflexões aqui empreendidas são iniciais e que
por isso necessitam de novos embasamentos. Consideramos que nossas metas foram
alcançadas através da fixação e divulgação de conhecimentos transdisciplinares, bem
como a geração de incentivos para a construção de novos significados e novos trabalhos
que possam aprofundar esta temática e contribuir para a divulgação científica e
acadêmica.
14

Referências

BARBEIRO, Heródoto. Mídia Training – como usar a mídia a seu favor. São Paulo:
Saraiva, 2012.

CHINEM, Rivaldo. Comunicação Empresarial – Teoria e o dia a dia das Assessorias de


Comunicação. São Paulo: Horizonte, 2006.

Constituição Federal – art 220. Disponível em


http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_02.04.2013/art_220_.sht
m Acesso em 18 de abril de 2013

Constituição Federal – art 5. Disponível em


http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_02.04.2013/art_5_.shtm
#inc_IV_ Acesso em 18 de abril de 2013.

Constituição Federal – Vade Mecum com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia
Céspedes e Juliana Nicoletti. 15. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013.

UNESCO. Declaração Universal dos Direitos humanos - 1948. Disponível em


http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf Acesso em 25 de abril de
2013. UNESCO, 1998.

DUARTE, Jorge (org) Assessoria de comunicação e o relacionamento com a imprensa.


São Paulo: Atlas, 2011.
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_02.04.2013/art_220_.sht
m Acesso em 18 de abril de 2013.

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Direito e Jornalismo. São Paulo: Editora Verbatim,
2011.

Você também pode gostar