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Nos dizeres do aludido autor, “as sanções punitivas têm por finalidade essencial
castigar o responsável pelo ilícito ao qual correspondem”.
Contudo, o ilícito tributário não é necessariamente penal. “Será ilícito penal, ou
crime, apenas se estiver descrito como um tipo penal, vale dizer, se à conduta estiver ligada
uma sanção penal” (MACHADO, 2015, p. 55).
Em síntese, caso um agente descumpra um dever presente em legislação com
matéria tributária, estará sujeito a cometer ilícitos administrativos (infrações tributárias) ou
penais (chamados crimes tributários ou contra a ordem tributária).
Desta forma, cumpre evidenciar que caso o infrator apenas faltar com a obrigação
de pagar tributo devido, o sujeito ativo da obrigação (o credor), poderá exigir seu
cumprimento coercitivamente através de sanção imposta pelo Estado-Juiz, previamente
definida em lei.
De acordo com a prescrição do artigo 136 do Código Tributário Nacional, a
responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do
responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato (Brasil, 1966).
A princípio, portanto, a responsabilidade seria objetiva em matéria tributária.
Sendo assim, a Lei nº 8.137 de 27 de dezembro de 1990 surgiu definindo os
crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo.
Mais precisamente em seu artigo 2º, a referida lei estabelece como crime:
Ante o exposto, verifica-se que nos termos do artigo 2º, inciso II da lei
supramencionada, a conduta fundada na vontade direcionada ao desígnio final de se eximir do
pagamento do tributo é considerada crime, chamada pela doutrina brasileira de “apropriação
indébita tributária”.
Porém, alguns doutrinadores se posicionam no sentido de “em caso de não
recolhimento, por exemplo, deve-se proceder à execução fiscal (posto que há dívida ativa) e
não à ação penal (MACHADO, 2015) ”.
Neste norte, elencando os critérios objetivos da apropriação indébita tributária,
temos que sua conduta típica consiste no ato omissivo “deixar de recolher”.
Esse termo denota a omissão em relação ao recolhimento dos valores de tributos
descontados ou cobrados, lançados e, portanto, devidos à autoridade fazendária.
O doutrinador TORRES (2018) reforça a ideia de que todos os crimes contra a
ordem tributária, que constam na Lei nº 8.137/1990 são dolosos:
Cumpre destacar que o devedor contumaz seria aquele que faz do não pagamento
de dívidas e tributos uma fonte de renda, e, com isso, além do prejuízo aos cofres públicos,
acaba promovendo a concorrência desleal e predatória.
Verifica-se que os comerciantes foram denunciados pela prática do crime previsto
no art. 2º, II, da Lei 8.137/1990 (crime de apropriação indébita tributária).
No julgamento em 1º instância, o juiz a quo absolveu sumariamente os
denunciados por considerar a conduta atípica.
Em sede de apelação, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, afastou a
tese da atipicidade, determinando assim, o regular prosseguimento do processo.
Em razão do exposto, a defesa impetrou Habeas Corpus (HC 399.109) perante o
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Naquela Corte, a Terceira Seção, por maioria, asseverou ser inviável a absolvição
sumária, notadamente quando a denúncia descreve fato que contém a necessária adequação
típica e não há excludentes de ilicitude.
No julgamento em questão, os ministros negaram o pedido de Habeas Corpus
apresentado por comerciantes que deixaram de repassar ao fisco o tributo devidamente
declarado.
Ou seja, o mero inadimplemento do ICMS declarado e devido em operações
próprias foi considerado crime pela corte do STJ em julgamento realizado em agosto de 2018.
Analisando o caso em comento, é importantíssimo destacar a importância desse
julgado (STJ), uma vez que este, estava relacionado a alteração da jurisprudência histórica do
tribunal, que sempre entendeu ser atípico o não recolhimento do ICMS próprio devidamente
declarado ao fisco.
Ou seja, no entendimento antigo do STJ e das cortes regionais o mero
inadimplemento do ICMS não configurava o tipo penal de apropriação indébita, inexistindo
dolo e fraude e tendo sio efetivamente declarado o imposto, improvável seria qualquer
repercussão efetiva na esfera criminal.
Voltando a análise do presente Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 163.334,
inconformados com a decisão do STJ, a defesa interpôs recurso ordinário para o STF, com o
objetivo de restabelecer a sentença que absolveu sumariamente os denunciados, em virtude da
atipicidade formal da conduta que lhes foi imputada.
O placar Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 163.334 ficou em sete votos a
três, sendo que os ministros fixaram a tese de que o contribuinte que deixa de recolher o
ICMS pratica crime de apropriação indébita tributária, desde que, haja dolo.
O relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, ressaltou que alterou a proposta
feita na sessão anterior para acrescentar uma referência direta às expressões “contumaz” e
“dolo”.
Complementou ainda, que a tese não criminaliza a mera inadimplência do ICMS,
e sim a prática dos devedores contumazes, que prejudica os consumidores, o fisco e a
concorrência.
O ministro ressaltou que a pena para apropriação indébita tributária é baixa, de
seis meses a dois anos de prisão. Ainda, lembrou que se o contribuinte quitar o débito a
punição é extinta mesmo após o trânsito em julgado da condenação criminal.
Insta refutar que os fundamentos descritos no RHC pelo STF, no que tange a
incidência no tipo penal de apropriação indébita tributária, o contribuinte precisaria: “deixar
de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou do serviço, tendo ânimo de
apropriação, e sendo de maneira recorrente”.
A tese aprovada pelo plenário determina que a inadimplência só é crime quando
houver dolo, isto é, intenção de se apropriar do recurso destinado aos cofres públicos, seja
porque a empresa embutiu o valor no preço e não recolheu o tributo de propósito ou porque
vendeu os produtos a preços predatórios, a exemplo dos devedores contumazes.
Cumpre evidenciar que, se antes a inadimplência do tributo declarado não era
considerada crime de apropriação indébita tributária, após a decisão do STF os devedores, vão
responder pelo crime na esfera criminal e travar uma disputa com o Ministério Público, na
qual deveram provar se são inocentes ou não.
Com isso, verifica-se o entendimento uníssono dos tribunais STJ e STF (Tema nº
937 do STF), fixando a tese de que “ o inadimplemento do ICMS declarado e não recolhido é
considerado crime de apropriação indébita”.
Destaca-se, que em 21 de junho de 2018, em um julgado realizado pela 5º Câmara
Criminal, mais precisamente em sede de apelação criminal autos nº 0010703-
96.2014.8.24.0020/SC, presidida pela Relatora e Desembargadora Cinthia Beatriz da S.
Bittencourt Schaefer, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina se posicionou no
mesmo sentido.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina no julgamento supramencionado, afastou
a conduta atípica do mero inadimplemento, uma vez que ausência de recolhimento do tributo
tipifica o crime, evidenciando ainda, que a conduta típica se consuma com a simples omissão
de recolher a verba devida.
Por fim, conclui-se a análise do presente estudo respondendo à pergunta descrita
no início deste trabalho:
O que acontece com o contribuinte (pessoa física ou jurídica) que deixa de
recolher o ICMS?
Hoje, em decorrência dos recentes posicionamentos do Supremo Tribunal Federal
e do Superior Tribunal de justiça, o contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de
apropriação, deixar de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço
incide no tipo penal do artigo 2º, II, da Lei nº 8.137/1990 - “Crime de Apropriação Indébita
Tributária”.
Apesar do recente posicionamento das cortes (STJ e STF), a fixação da referida
tese causou balbúrdia no cenário jurídico brasileiro, onde diversos doutrinados e especialistas
no ramo tributário se questionam se referido posicionamento está correto, uma vez, que a
prisão no Brasil é considerada a última ratio, dessa forma, o ato de criminalizar as dívidas do
não recolhimento do ICMS declarado, estaria se equivalendo à prisão civil.
Porém, como é sabido, a única exceção no Brasil de prisão civil é a prisão do
devedor de alimentos.
Isto posto, verifica-se que o tema ainda é passível de muitas discussões, em razão
das diversas lacunas existem nas teses fixadas, restando a toda comunidade jurídica aguardar
que novas e melhores intepretações sejam elucidadas pela corte.
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REFERÊNCIAS
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