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ATO COLONIAL

Resumidamente, esta lei-padrão da colonização portuguesa até aos anos 50 vem proclamar
para o País uma 'função histórica e essencial de possuir, civilizar e colonizar domínios
ultramarinos', afirmando como sua 'ideia basilar' que 'o Estado não aliena, por qualquer título,
nenhuma parcela do seu território colonial. Os outros Estados não podem adquirir nenhuma
porção dele, salvo para estabelecimento da representação consular, mediante reciprocidade'.
Aos 'domínios de Portugal' se passa a chamar o 'Império Colonial', fixando-Ihes um regime
político, administrativo e económico assente nos seguintes princípios essenciais:

- Restrição às concessões a estrangeiros, seja no domínio territorial, seja no tocante à


exploração de portos comerciais, igualmente impedindo 'a acumulação deles na posse de
empresas para fins especulativos'. 'Muito menos' o Estado concederia a 'empresas particulares
quaisquer prerrogativas de funções de soberania. Onde estejam em vigor concessões de tal
espécie, não podem ser prorrogadas ou renovadas de qualquer modo';

- As futuras concessões do Estado, ainda que a capital estrangeiro, 'ficarão subordinadas à


nacionalização e desenvolvimento da economia das colónias';

- Definição, como base das relações económicas entre a metrópole e as colónias, de uma
'comunidade e solidariedade natural' reconhecida por lei, cabendo àquela 'assegurar pelas
suas decisões a conveniente posição dos interesses que (...) devem ser considerados em
conjunto nos regimes económicos das colónias', isto é, 'ser o árbitro supremo da situação
recíproca dos interesses' mútuos;

- Extinção da figura institucional dos altos-comissários, substituída pela dos governadores


gerais ou de colónia, a quem são drasticamente reduzidos os poderes e a autonomia de
decisão, centralizada, em tudo o que era essencial, no ministro das Colónias ou no Governo de
Lisboa;

- Fim da autonomia financeira das colónias, cujo orçamento geral 'depende da aprovação
expressa do ministro das Colónias», impondo-se-lhes o princípio do estrito equilíbrio das
contas. Igualmente deixam as colónias de poder contrair empréstimos em países estrangeiros:
tais operações, quando necessárias, passam a ser feitas «exclusivamente de conta da
metrópole'.

O Acto Colonial define, assim, o quadro jurídico-institucional geral de uma nova política para
os territórios sob dominação portuguesa. Dentro da opção colonial global do Estado
português, abre-se uma fase 'imperial', nacionalista e centralizadora, fruto de uma nova
conjuntura externa e interna e traduzida numa diferente orientação geral para o
aproveitamento das colónias."
IMPORTANCIA DAS COLONIAS NA ECONOMIA PORTUGUESA E IMPLICAÇÕES DA POLITICA
COLONIAL NA EVOLUÇÃO POLITICA DO PAIS

Por volta de 1926, o mundo estava às portas de uma grave crise, e Portugal enfrentava dois
problemas de difícil resolução: o Brasil e a Venezuela não poderiam mais escoar o excedente
populacional que procurava emigrar, e debatiam-se com uma acentuada descida das remessas
monetárias enviadas para as suas famílias pelos emigrantes, facto perturbador das finanças do
Estado. A criação de um novo império português na África foi assim a solução encontrada
pelos militares e governantes, que deixaram este projeto a cargo de António de Oliveira
Salazar.

Este novo império permitiria a fixação dos emigrantes portugueses em áreas onde pudessem
amealhar receitas, que viessem tomar o lugar das riquezas atlânticas que entretanto se haviam
perdido.

O Ato Colonial, decretado por Salazar em 1930, era um diploma legal que procurava diminuir
os pesados custos com a administração de Angola e Moçambique e fomentar o
desenvolvimento económico destes territórios. Este império ficou muito dependente do
capital estrangeiro e da mão de obra colonial muito barata, porque no país não havia avultadas
somas de dinheiro para investir, e as próprias colónias não ofereciam as condições favoráveis
de antigos países coloniais como a Venezuela.

A primeira fase deste colonialismo implicou por isso mesmo a utilização de mão de obra negra
em pesados trabalhos agrícolas. Os próprios investidores estrangeiros usaram esta mão de
obra (principalmente a masculina) para trabalhar nas suas plantações e nas suas minas. As
mulheres negras desempenhavam um papel diferente: trabalhavam nas culturas de
subsistência e criavam os futuros trabalhadores coloniais.

No período após a Segunda Guerra Mundial, as políticas coloniais mudaram radicalmente,


quando muitos emigrantes se começaram a dirigir para a África portuguesa, pois na Europa
havia muita pobreza e a África oferecia a possibilidade, ou melhor, a perspetiva de uma vida
melhor. Os colonos portugueses tiveram algum sucesso na comercialização de produtos
agrícolas como o café, o milho e o algodão, criando recursos financeiros para um maior
investimento na produção. Agora, as colónias não eram mais vistas como locais de degredo
para deportados e desgraçados "sem eira nem beira".

O desenvolvimento destas economias coloniais favoreceu o crescimento das cidades, em


especial das capitais das colónias, onde se desenvolveram pequenas indústrias e o setor dos
serviços.

Este crescimento económico não acabou com as grandes assimetrias raciais e sociais. Para
manter as colónias afastadas de agitações sociais era imperativo manter exércitos prontos a
reprimir quaisquer atentados ao poder colonial.

A contestação das colónias portuguesas teve início na Ásia, onde nacionalistas chineses e
indianos questionaram o direito de os portugueses manterem as colónias imperiais em Macau
e em Goa, Diu e Damão. Este exemplo haveria de ser seguido nos anos 60 por alguns
nacionalistas africanos.
No final dessa década e inícios da década de 70 a metrópole decidiu fazer uma campanha de
reconquista colonial, para atrair o investimento externo. Por exemplo, a África do Sul tornou-
se um importante parceiro económico e militar de Portugal. Neste contexto, as colónias
desenvolveram uma cultura própria mais aberta e mais liberal do que a da metrópole, ainda
agarrada a valores tradicionalistas.

Nos anos 70, o exército nacional estava já exausto e muito fracionado e os industriais que
tinham investido em África voltavam-se agora para a Europa. Em 1974, ano da Revolução dos
Cravos, o destino de eleição para a emigração era já a França, Alemanha e Suíça e não as
colónias portuguesas. O exército "sabia" não ter qualquer hipótese de sair vitorioso da guerra
colonial, que não lhe traria prestígio nem riqueza, apenas a responsabilização pela perda do
império. Por estes motivos, os "Capitães de abril" revoltaram-se contra os defensores do
império, encontrando um apoio massivo por parte da população.

Portugal deixava para trás a África e voltava-se para a Europa, numa altura em que também via
a colónia de Timor Leste ser invadida pela Indonésia.

Após Salazar ter proclamado o enfático “para Angola, rapidamente e em força” a 13 de Abril
de 1961, e até ao 25 de Abril de 1974, o quotidiano dos portugueses metropolitanos seria
marcado pelas partidas e chegadas de contingentes militares. No Cais da Rocha do Conde de
Óbidos, em Alcântara, Lisboa, embarcavam rotineiramente tropas coloniais, mas também
novas e volumosas levas de colonos que partem rumo às colónias. O início da guerra colonial
coincide com a instituição, em 1962, da livre circulação de pessoas e bens no seio do “Espaço
Económico Português”, fazendo aumentar o fluxo migratório destinado ao Ultramar2. No
mesmo período, durante o mandato de Adriano Moreira como Ministro do Ultramar (1961-
1962), são aprovadas medidas conducentes ao povoamento branco, que continua a ser
encorajado até inícios da década de 1970. Nos últimos anos do colonialismo português, a
população branca residente nos territórios ultramarinos cifrava-se em cerca de 500 000
indivíduos (vd. Quadro). Destes, apenas 35% haviam nascido em África, o que evidencia que o
auge dos fluxos migratórios rumo às colónias só se dá no pós-Segunda Guerra Mundial, tendo
sido fortemente propiciado pelo desenvolvimento das economias coloniais, sobretudo da
angolana, mas também encorajado por programas estatais que viam no aumento da
povoamento branco uma importante medida para combater o movimento anticolonial, já
então em marcha.

POLÍTICA DE DESCOLONIZAÇÃO PÓS 25 DE ABRIL

Quando se dá o 25 de Abril de 1974, a notícia do derrube do Estado Novo não parece ter sido
recebida com especial preocupação pelas populações colonas. Apesar dos treze anos de
conflito, o mal-estar em relação à guerra colonial parecia atingir mais as populações
metropolitanas que as coloniais, que geralmente estavam estabelecidas nos centros urbanos,
longe dos teatros das operações. Além disso, estas frequentemente encaravam a mudança do
regime como um problema que concernia à metrópole, e que não as iria afetar. Com efeito,
uma eventual saída dos territórios ultramarinos parecia estar fora das perspetivas dos colonos.
Esta perceção era acalentada, no seio da população colona, não só pelo crescimento
económico e pelos níveis de bem-estar que se registavam então nas colónias, mas também
pela ideia, disseminada pela propaganda colonial, de que as colónias portuguesas eram um
caso singular de convívio harmonioso entre raças, povos e culturas, não havendo, por isso,
razão que justificasse a descolonização daqueles territórios. Isto apesar da realidade da
situação colonial, marcada pela segregação racial e pelo trabalho forçado. Além do mais, se
bem que “Descolonizar” fosse um dos eixos do Programa da Revolução e o novo governo
tenha posto imediatamente termo às guerras que o Estado Novo travava em África contra os
movimentos de libertação, o direito das colónias à independência revelou-se uma questão
sensível, acabando mesmo por ser omissa do Programa do Movimento das Forças Armadas. As
promessas que ecoavam nas colónias no pós-25 de Abril eram as acalentadas pela expressão
presente na declaração da Junta de Salvação Nacional feita pela voz de António de Spínola:
“Garantir a sobrevivência da Nação, como Pátria Soberana no seu todo pluricontinental”.

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