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Paul Ricœur

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Paul Ricœur (Valence, 27 de fevereiro de 1913 -


Châtenay-Malabry, perto de Paris, 20 de maio de
Paul Ricœur
2005[2]) foi um dos grandes filósofos e pensadores
franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra
Filosofia do século XX
Mundial
Paul Ricoeur.jpg
Data de 27 de fevereiro de 1913
nascimento:
Índice Local: Valence França
Biografia Morte 20 de maio de 2005 (92 anos)
Filosofia Local: Châtenay-Malabry França
A reconquista da ideia de "pessoa" Principais Filosofia, Hermenêutica,
Estudos sobre a narrativa interesses: Fenomenologia, Existencialismo
Estudos sobre a história Religião Protestantismo
Ideias Psicoanálise como hermenêutica do
Obras notáveis sujeito, teoria da metáfora
Originais
Influências: Heidegger · Jaspers · Marcel ·
Em português Gadamer · Dilthey · Kant · Hegel ·
Literatura crítica Kierkegaard · Husserl · Arendt ·
Lévinas · Jakobson · Benveniste[1] ·
Referências Lavelle · Halbwachs · McKeon
Ligações externas

Biografia
Paul Ricœur nasceu numa família protestante. Órfão de mãe, que morre pouco depois de seu nascimento,
perdeu o pai na primeira batalha de Marne, dado como morto em 1915, e foi criado por sua tia. Em 1936,
licenciado em filosofia, criou a revista Être, inspirada nos preceitos de Karl Barth, teólogo cristão suíço. Em
1939, servindo como oficial de reserva, Ricœur foi preso pelos nazistas e enviado ao campo de Groß Born e
depois a Arnswalde, na Pomerânia, atualmente Polônia.[3]

No pós-guerra foi acadêmico na Universidade da Sorbonne. Passou também pelas universidades de


Louvaina (Bélgica) e Yale (EUA), onde elaborou uma importante obra de filosofia política. Paul Ricœur
participou de debates sobre linguística, psicanálise, o estruturalismo e a hermenêutica, com um interesse
particular pelos textos sagrados do cristianismo.

Ricœur descreve assim, em 1991, suas raízes filosóficas: "Se reflito, dando um passo para trás de meio
século [...], sobre as influências que reconheço ter sofrido, sou grato por ter sido desde o início solicitado
por forças contrárias e fidelidades opostas: de uma parte, Gabriel Marcel, ao qual acrescento Emmanuel
Mounier; de outra, Edmund Husserl". Portanto, Ricoeur forma-se em contacto com as ideias do
existencialismo, do personalismo e da fenomenologia.
Suas obras importantes são: A filosofia da vontade (primeira parte: O voluntário e o involuntário, 1950;
segunda parte: Finitude e culpa, 1960, em dois volumes: O homem falível e A simbólica do mal). De 1969 é
O conflito das interpretações. Em 1975 apareceu A metáfora viva.

Em O voluntário e o involuntário, Ricœur dirige a atenção para a relação recíproca entre voluntário e
involuntário, assim como esta relação se configura na tríplice dimensão do decidir, do agir e do consentir.
Em poucas palavras, necessidades, emoções e hábitos premem sobre o querer, que replica a eles, por meio
da escolha, do esforço e do consentimento. Escreve Ricœur: "Eu suporto este corpo que governo".

Descendo ainda mais em profundidade no interior da existência humana, Ricœur vê que o homem concreto
é vontade falível e, portanto, capaz de mal. A antropologia de Ricœur delineia um homem frágil,
"desproporcionado", sempre à beira do abismo entre o bem e o mal.

A fim de entender o mal e a culpa, o filósofo deve ouvir e interpretar os símbolos que representam a
confissão que a humanidade fez de suas culpas; ou seja, deve compreender os mitos que veiculam símbolos
como a mancha, o pecado, a culpabilidade etc. E, entre esses mitos, central, no pensamento de Ricœur, é o
mito de Adão: a figura de Adão mostra a universalidade do mal enquanto Adão representa toda a
humanidade.

Eis, a propósito, um pensamento do próprio Ricœur (1983): "Se a pessoa voltar, isso se dará porque ela
continua o melhor candidato para sustentar as batalhas jurídicas, políticas, econômicas e sociais".

A problemática da simbólica do mal leva Ricœur ao tema da linguagem, ou melhor, ao projeto da construção
de uma grande filosofia da linguagem - projeto que encontra seus inícios num escrito sobre Freud: Da
interpretação. Ensaio sobre Freud (1965).

A psicanálise interpreta a cultura e simultaneamente a modifica, assim como marca de forma duradoura a
própria ideia de consciência. A realidade é que Freud, junto com Marx e Nietzsche, é um dos três mestres da
suspeita, que levaram a dúvida para dentro da fortaleza cartesiana da consciência:

• para Marx, não é a consciência que determina o ser, mas é o ser social que determina a consciência; • para
Nietzsche, a consciência é a máscara da vontade de poder; • para Freud, finalmente, o Eu é um infeliz
submisso aos três patrões que são o "Isso", o "Super-eu" e a "Realidade" ou "Necessidade".

A humanidade objetiva nos símbolos, nas diversas formas simbólicas, os significados e os momentos mais
importantes da vida e de sua história. Daí - se quisermos compreender o homem - a necessidade da
interpretação. E justamente a multiplicidade de modelos interpretativos em conflito torna urgente um
escrupuloso trabalho que, enquanto de um lado bloqueia as pretensões totalizantes das interpretações
particulares, de outro lado dá razão do efetivo, embora limitado, valor de tais interpretações particulares.
Mais em particular, será necessário pesquisar, nos símbolos, o vetor arqueológico e o teleológico, ou seja, as
razões de suas raízes no passado e as motivações que os tornam úteis ou necessários para o futuro.

Filosofia

A reconquista da ideia de "pessoa"

O sentido do trabalho filosófico de Ricœur deve ser visto em uma teoria da pessoa humana; conceito - o de
pessoa - reconquistado após uma peregrinação fatigante na floresta das produções simbólicas do homem,
depois das devastações produzidas na ideia de consciência pelos mestres da "escola da suspeita". Eis, a
propósito, um pensamento do próprio Ricœur (1983): "Se a pessoa voltar, isso se dará porque ela continua o
melhor candidato para sustentar as batalhas jurídicas, políticas, econômicas e sociais". Com efeito, no
confronto com a "consciência", com o "sujeito" ou o "eu", a pessoa é um conceito que sobreviveu e que hoje
voltou a viver com força.

Ainda Ricœur: "Consciência? Como se poderia ainda crer na ilusão de transparência associada a este termo,
depois de Freud e da psicanálise? Sujeito? Como se poderia alimentar ainda a ilusão de uma fundação
última em algum sujeito transcendental, depois da crítica das ideologias efetuadas pela Escola de Frankfurt?
O eu? Mas quem não sente com força a impotência do pensamento para sair do solipsismo teórico [...]? Eis a
razão - conclui Ricœur - pela qual prefiro dizer pessoa em vez de consciência, sujeito, eu". E a pessoa é
atenazada na dialética entre liberdade e culpa, e se sente só diante de Deus, como o cavaleiro da fé de que
fala Kierkegaard, cavaleiro que, diante de Deus, "não dispõe em todo caso a não ser de si próprio, em um
isolamento infinito. [4]

Estudos sobre a narrativa

Em 1983, nos três volumes de Temps et récit (pt. "Tempo e narrativa"), o autor destaca as proximidades
entre a temporalidade da historiografia e aquela do discurso literário. Pode ser encontrada aí a vontade de
Ricoeur de ligar a reflexão filosófica sobre a natureza da narrativa com a perspectiva linguística e poética.

Estudos sobre a história

Desde cedo, Ricœur se interessou sobre a história desde uma perspectiva filosófica sem, no entanto, praticar
uma filosofia da história. Em Histoire et vérité (1955; pt. "História e verdade"), ele tenta definir a natureza
do conceito de verdade em história e diferenciar a objetividade em história distinguindo-a da objetividade
nas ciências exatas.
Anos mais tarde, ele se dedicará às questões culturais e históricas de uma perspectiva fenomenológica e
hermenêutica. Ele fomenta então a discussão sobre a memória e a memória cultural em La mémoire,
l'histoire, l'oubli (2000; pt. "A memória, a história, o esquecimento").

Obras

Originais
(em parceria com Mikel Dufrenne): Karl Jaspers et la philosophie de l'existence, Le Seuil,
1947.
Gabriel Marcel et Karl Jaspers. Philosophie du mystère et philosophie du paradoxe, Le Seuil,
1948.
Philosophie de la volonté. Tome I: Le volontaire et l'involontaire, Aubier, 1950.
Histoire et vérité, Le Seuil, 1955.
Philosophie de la volonté. Tome II: Finitude et culpabilité, Aubier, 2 volumes, 1960.
De l'interprétation. Essai sur Sigmund Freud, Le Seuil, 1965.
Entretiens avec Gabriel Marcel, Aubier, 1968.
Le conflit des interprétations. Essais d'herméneutique I, Le Seuil, 1969.
La métaphore vive, Le Seuil, 1975.
Les cultures et le temps, Payot, 1975.
Temps et récit. Tome I: L'intrigue et le récit historique, Le Seuil, 1983.
Temps et récit. Tome II: La configuration dans le récit de fiction, Le Seuil, 1984.
Temps et récit. Tome III: Le temps raconté, Le Seuil, 1985.
Du texte à l'action. Essais d'herméneutique II, Le Seuil, 1986.
À l'école de la phénoménologie, Vrin, 1986.
Le mal. Un défi à la philosophie et à la théologie, Labor & Fides, 1986.
Soi-même comme un autre, Le Seuil, 1990.
Réflexion faite. Autobiographie intellectuelle, Esprit, 1995.
Le juste, I, Esprit, 1995.
L'idéologie et l'utopie, Le Seuil, 1997.
Amour et justice, PUF, 1997.
(em parceria com Jean-Pierre Changeux): Ce qui nous fait penser, Odile Jacob, 1998.
(em parceria com André LaCocque): Penser la Bible, Le Seuil, 1998.
Lectures. Tome I : Autour du politique, Seuil , 1999 ISBN 2-02-036488-3 ; ISBN 978-2-02-036488-1
Lectures. Tome II: La contrée des philosophes, Seuil , 1999 ISBN 2-02-038980-0 ; ISBN 978-2-02-
038980-8
Lectures. Tome III : Aux frontières de la philosophie, Seuil , 1999 ISBN 2-02-085502-X ; ISBN 978-
2-02-085502-0
La mémoire, l'histoire, l'oubli, Le Seuil, 2000.
L'herméneutique biblique, Le Cerf, 2000.
Le juste, II, Esprit, 2001.
La lutte pour la reconnaissance et l'économie du don, Unesco 2002
Parcours de la reconnaissance. Trois études, Stock, 2004.
Sur la traduction, Bayard, 2004.
Écrits et conférences. Tome I : Autour de la psychanalyse, Seuil, 2008.
Écrits et conférences. Tome II : Herméneutique, Seuil, 2010.

Em português
A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain Fraçois. Ed. Unicamp, 2008. 536p. ISBN:
8526807773 ; ISBN-13: 9788526807778.
Teoria da Interpretação. Trad. Artur Morão. Edições 70, 1996. 109p. ISBN: 9724406679 ; ISBN-
13: 9789724406671.
Na escola da fenomenologia. Coleção "Textos filosóficos". Petrópolis: Vozes, 2009. ISBN:
9788532638595
Outramente. Coleção "Textos filosóficos". 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008 [1ª ed. 1999]. ISBN:
9788532622099
Hermenêutica e ideologias. Coleção "Textos filosóficos". 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2011 [1ª ed.
2008]. ISBN: 9788532637123
Escritos e conferências 1. em torno da psicanálise. São Paulo: Edições Loyola, 2010. ISBN:
9788515037544
Escritos e conferências 2. hermenêutica. São Paulo: Edições Loyola, 2011. ISBN:
9788515038275
Tempo e Narrativa 1. A intriga da Narrativa Histórica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
ISBN: 9788578270537
Tempo e Narrativa 2. A configuração do tempo na narrativa de ficção. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2010. ISBN: 9788578270520
Tempo e Narrativa 3. O tempo narrado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. ISBN:
9788578270544
O si-mesmo como outro. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. ISBN: 9788578278977
O Justo 1. A justiça como regra moral e como instituição. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2008. ISBN: 9788578270155
O Justo 2. Justiça e verdade e outros estudos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. ISBN
9788578270162
A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2000. ISBN: 8515019396.
Percurso do Reconhecimento. São Paulo: Loyola, 2006. ISBN: 9788515034062
Vivo até a morte seguido de fragmentos. São Paulo: WMF Martins Fontes. 2012. ISBN:
9788578275570
História e Verdade. São Paulo: Forense, 1968. ISBN Não Tem.
A ideologia e a utopia. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. ISBN: 978-85-8217-604-7

Literatura crítica
Jervolino, Domenico. Introdução a Ricœur. Coleção "Filosofia em Questão". Paulus Editora,
2011. ISBN: 8534932743 ; ISBN-13: 9788534932745
Pellauer, David. Compreender Ricœur. Coleção "Compreender". Petrópolis: Vozes, 2009.
ISBN: 8532638538 ; ISBN-13: 9788532638533

Referências
1. Aya Ono, "Le parcours du sens : Ricœur et Benveniste Individual", Semiotica, Vol. 168 (1/4),
International Association for Semiotic Studies, 2008.
2. Jornal de Notícias (http://jn.sapo.pt/2005/05/21/ultimas/Faleceu_o_fil_sofo_Paul_Ricoeur.html)
3. Paula, Adna Cândido de; Sperber, Suzi Frankl (organizadoras). Teoria literária e hermenêutica
ricœuriana - Um diálogo possível (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/gd000047.
pdf). Dourados, MS : UFGD, 2011. 272p. ISBN 978-85-61228-80-4, p. 9.
4. REALE; ANTISERI;, Geovanni; Dario.; (2006). História da Filosofia: De Nieztsche à Escola de
Frankfurt. Coleção História da Filosofia seis. São Paulo: Paulus. 273 páginas

Ligações externas
Página oficial de Paul Ricœur (https://web.archive.org/web/20050524000434/http://ricoeur.iaf.
ac.at/)
Stanford Encyclopedia of Philosophy. "Ricœur" (http://plato.stanford.edu/entries/ricoeur/)
Ricœur na página PhilosophyPages.com (http://www.philosophypages.com/dy/r9.htm#rico)
Paula, Adna Candido de; Sperber, Suzi Frankl (organizadoras). Teoria literária e hermenêutica
ricœuriana - Um diálogo possível (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/gd000047.
pdf). Dourados, MS : UFGD, 2011. 272p. ISBN 978-85-61228-80-4
Paul Ricoeur e a ciência: uma contribuição hermenêutica ao debate sobre o conhecimento
científico (https://web.archive.org/web/20160815221106/http://www.fafich.ufmg.br/temporalida
des/pdfs/06p47.pdf)

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