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Ambiente

Vista aérea
da Fazenda
Experimental
de Lageado,
em Botucatu.

© Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Lageado, em Botucatu. / Sabesp

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Ambiente

Sérgio Santa Rosa

De problema a solução ambiental


Unesp e
Sabesp somam
esforços para
F undada em 1973, a Sabesp é responsá-
vel pelo fornecimento de água, coleta e
tratamento de esgotos de 368 municípios do
podem provocar doenças) para o uso agrícola
do lodo de esgoto. A resolução determinou a
necessidade de análises sobre a presença de
transformar Estado de São Paulo. É considerada uma das ovos de helmintos (parasitos responsáveis por
lodo de maiores empresas de saneamento do mundo doenças como ascaridíase, teníase e cisticer-
esgoto em população atendida: são 27,9 milhões de cose), salmonela, vírus e coliformes termoto-
urbano em pessoas abastecidas com água e 21,6 milhões lerantes (bactérias que toleram temperaturas
composto a com coleta de esgotos. acima de 40ºC).
ser utilizado Cada uma de suas 502 estações de trata- Em razão da falta de pesquisas sobre o te-
em atividades mento de esgoto (ETE) em atividade gera, ao ma no Brasil, a resolução optou por cercar o
agrícolas e final dos processos de tratamento dos efluen- uso do lodo de esgoto de todos os cuidados
ajudar na tes domésticos, um resíduo denominado lodo ao invés de arriscar a ocorrência de danos ao
elaboração de esgoto. Rico em matéria orgânica e com ambiente ou à saúde humana. A exigência
de uma reconhecido potencial para condicionar solos das análises, por conta de seu alto custo e do
legislação utilizados em áreas agrícolas ou florestais, o número restrito de laboratórios capazes de
para uso lodo de esgoto ainda é subutilizado no Brasil, executá-las, acabaram gerando dificuldades
desses em razão das incertezas geradas pela regula- para que as empresas que trabalhavam com
efluentes na mentação para sua aplicação no solo e pela lodo pudessem atender aos requisitos da re-
agricultura carência de pesquisas sobre possíveis riscos solução do Conama. A partir de 2011, prazo
ambientais e sanitários do seu uso. final estabelecido pela resolução 375 para que
A resolução 375/2006 do Conselho Nacio- as ETES se adequassem às normas, a própria
nal do Meio Ambiente (Conama), órgão con- Sabesp, que destinava o lodo recolhido na
sultivo e deliberativo do Ministério do Meio ETE de Franca para a cultura do café, com
Ambiente, estabeleceu limites de tolerância bons resultados, interrompeu essas operações.
para a ocorrência de indicadores de patogeni- Não podendo ser utilizado na agricultura,
cidade (bactérias, vírus e outros agentes que o lodo de esgoto precisa ser descartado em

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pelo Ministério da Agricultura e Abasteci-


mento (MAPA). Tais normas oferecem pos-
sibilidade legal de, ao realizar a compostagem
do lodo de esgoto, enquadrá-lo como Produto
Fertilizante Orgânico Composto Classe D. O
termo classe D indica o uso do lodo de esgoto
na composição do fertilizante.
Assim como na resolução do Conama, os
limites de tolerância de patogenicidade se-
guem sendo exigidos pelas normas editadas
pelo MAPA. Para ser utilizado, o composto à
base de lodo de esgoto deve passar por aná-
lises de coliformes termotolerantes, ovos de
helmintos e salmonela. Como o aumento de
temperatura causado pelo próprio processo
de compostagem elimina a população de mi-
crorganismos patogênicos, tais normas não
estabeleceram a exigência de análises de vírus
para esse tipo de produto.
Foi com base nessas normas e motivada
pelas diversas limitações ambientais, econô-
micas, técnicas e de espaço para disposição
Lodo de esgoto passa aterros sanitários. No entanto, somente aterros do lodo de esgoto que Sabesp e Fundação de
por processo de medição
da temperatura.
especialmente preparados e autorizados podem Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Durante o processo receber esse tipo de material, exigência que (Fapesp) assinaram um Acordo de Cooperação
de compostagem, as também gera custos para as ETEs. “O lodo para Desenvolvimento Tecnológico, em busca
temperaturas podem
passar de 70ºC. de esgoto pode chegar a ter 85% de água em de alternativas de tratamento, disposição e a
sua composição e elevada carga orgânica. Os utilização do resíduo.
aterros devem estar preparados para receber, O projeto “Compostagem do lodo de esgo-
coletar e tratar o chorume, elemento bastan- to: avaliação do processo, do produto gerado
te problemático do ponto de vista ambiental”, e dos custos”, envolvendo dez pesquisadores
afirma o professor Roberto Lyra Villas-Bôas, e docentes da FCA, do Instituto de Biociên-
do Departamento de Solos e Recursos Am- cias (IB) da Unesp, Câmpus de Botucatu, e
bientais da Faculdade de Ciências Agronômi- da própria Sabesp, foi selecionado pelo Pro-
cas (FCA) da Unesp, Câmpus de Botucatu. O grama de Apoio à Pesquisa em Parceria para
destino mais próximo para o resíduo gerado nas Inovação Tecnológica (PITE) da Fapesp, que
ETEs da Sabesp em Botucatu, por exemplo, financia estudos desenvolvidos por instituições
é um aterro sanitário em Paulínia, a 180 km acadêmicas em cooperação com empresas que
de distância. As despesas com esse descarte cofinanciam os trabalhos.
podem chegar a 50% do custo operacional de A aprovação do projeto, sob a coordenação
uma ETE. dos professores Lyra, Dirceu Maximino Fer-
nandes e Iraê Amaral Guerrini, possibilitou
Surge uma alternativa a aquisição de equipamentos, maquinários
A chance de reverter esse panorama foi encontra- (trator e compostadora), construção de estufa
da também na legislação, mais especificamente e a concessão de uma bolsa de pós-doutorado
no Decreto Federal 4.954 de 14/01/2004 e em e uma bolsa de doutorado, com duração de 36
uma série de Instruções Normativas editadas meses, e duas bolsas de treinamento técnico

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com duração de 18 meses. No total, o proje- Três materiais foram testados para deter- Maquinário adquirido no
projeto “Compostagem
to reuniu 10 alunos de pós-graduação, dando minar sua capacidade de fermentar e se mis- do lodo de esgoto:
origem a duas teses de doutorado e seis dis- turar ao lodo de forma homogênea, formando avaliação do processo,
sertações de mestrado. assim o composto orgânico. A casca de arroz, do produto gerado e dos
custos”.
produzida com mais intensidade no Vale do
A pesquisa Paraíba, foi descartada pela sua dificuldade
A primeira decisão dos pesquisadores foi a em absorver água, o que impede a formação
realização dos experimentos em grande esca- de uma massa homogênea ao ser misturada
la. “Poderíamos fazer o projeto em pequena
escala, juntando um metro cúbico de lodo a
um metro cúbico do resíduo orgânico e obser- Três materiais foram testados na sua capacidade
var os resultados. Mas sabemos que o volume de se misturar ao lodo de forma homogênea.
influencia no processo, por isso optamos por A casca de arroz foi descartada. Já o bagaço
fazer em larga escala com o objetivo de ob- de cana e a casca de eucalipto apresentaram
ter informações sobre o que efetivamente vai características desejadas.
ocorrer com o material, no mesmo volume que
será trabalhado pela empresa”, explica Lyra.
O processo de compostagem exige a mis- ao lodo de esgoto. Já o bagaço de cana-de-
tura de um material mais rico em nitrogênio, açúcar e a casca de eucalipto, testados porque
no caso o próprio lodo de esgoto, com outro podem ser obtidos em usinas e plantios em
material mais rico em carbono. A primeira diversas regiões do Estado, apresentaram as
questão enfrentada pela pesquisa foi a deter- características desejadas, com os compostos
minação da melhor fonte de carbono, em ter- atingindo e mantendo a temperatura acima
mos de eficiência e economia, para viabilizar a dos 55ºC por um período superior a 15 dias.
demanda da Sabesp no Estado de São Paulo. O aumento da temperatura é um fator fun-

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Mistura de materiais – damental do processo de compostagem, pois -Graduação em Ciência Florestal da FCA, sob
bagaço de cana e casca
de eucalipto.
permite o desenvolvimento dos microrganis- orientação do professor Robert Boyd Harrison,
mos (bactérias, fungos e actinomicetos) res- da University of Washington, nos Estados Uni-
ponsáveis pela conversão microbiológica da dos e coorientada pelo professor Iraê Guerrini.
matéria orgânica bruta em composto orgâ- Toda a metodologia utilizada foi baseada
nico. Esse aumento de temperatura também naquela utilizada pela Companhia Ambiental
é fundamental para higienizar o composto, do Estado de São Paulo (Cetesb). “O lodo de
por eliminar os microrganismos patogênicos. esgoto tem a característica de ser composto por
“A eficácia do processo de compostagem e as muita gordura, o que pode esconder os ovos
pesquisas com as fontes de carbono não re- de helminto”, relata Lyra. “Antes da análise,
presentariam nenhum avanço se os resultados o material precisa ser dispersado e selecio-
das análises não indicassem a eliminação dos nado para que se obtenha um material mais
microrganismos patogênicos durante o proces- fino. Como a legislação fala em ovos viáveis
so”, ressalta Lyra. de helminto, Marianne fez um treinamento
Com o objetivo de comprovar a eliminação para identificá-los e conseguiu fazer uma das
dos microrganismos a partir da compostagem, pesquisas pioneiras no país nesse sentido.”
os pesquisadores retiraram amostras do expe- Marianne começou a pesquisar sobre o te-
rimento a cada dez graus que a temperatura da ma ainda em seu mestrado, quando estudou
pilha de compostos aumentava e também ao a presença desses microrganismos no lodo de
final, quando ela voltou para menos de 40ºC. esgoto in natura. “Avaliamos o lodo de esgoto
As análises microbiológicas foram realizadas por um ano e o tempo de permanência de ovos
com apoio dos Departamentos de Microbiologia de áscaris, o tipo mais resistente de ovos de
e Parasitologia do IB, como parte da tese de helmintos, foi de sete semanas. Nas pesquisas
doutorado da engenheira ambiental Marianne conduzidas no doutorado comprovamos que
Fidalgo de Faria junto ao programa de Pós- 100% dos ovos de áscaris foram inativados

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durante o processo de compostagem. Com o nutrientes e retornando-o ao solo em áreas


bagaço de cana foram 60 dias de monitora- de cultivo de florestas, culturas como café e
mento e com a casca de eucalipto 45 dias. Na cana-de-açúcar e mesmo na recuperação de
metade desses períodos já não encontrávamos áreas degradadas.”
mais esses ovos. Já a salmonela não foi encon- Segundo Caroline, considerando apenas
trada desde o início do experimento”, detalha. os plantios de eucalipto, a demanda já seria
As análises dos coliformes termotolerantes muito maior do que a produção. “Se o país
foram responsáveis por preocupações no de- inteiro coletasse e tratasse o esgoto, o lodo
correr do estudo, como conta Marianne. “Eles resultante não supriria nem a cultura do eu-
chegaram a nível zero numa determinada etapa calipto no país. Assim, o problema dos aterros
do processo. Mas, na coleta seguinte detecta- sanitários poderia estar encerrado. Além dis-
mos um grande aumento na sua quantidade. so, a compostagem desse lodo pode oferecer
Pesquisando, percebemos que esse fenômeno um destino ambientalmente adequado para
é normal porque, como eles se reproduzem outros resíduos, como por exemplo a poda
em temperaturas mais elevadas, as condições de árvores que todos os municípios fazem.
foram propícias para sua reprodução. Mas O futuro é a utilização do lodo de esgoto na
como as temperaturas continuaram a subir e agricultura”, assegura.
a umidade diminuiu, esses microrganismos
também acabaram eliminados”, argumenta.
Estados Unidos e Austrália já utilizam sem
Em debate restrição o lodo de esgoto depois de beneficiado,
Quando o tema do uso agrícola do lodo de e com as mesmas características de qualidade do
esgoto começou a ser debatido no Brasil, não fertilizante produzido na ETE de Botucatu
havia estudos nacionais conclusivos. “Hoje,
a Resolução 375 está em debate e pode ser
revista em razão dos estudos que já temos no Caroline lembra que, além da Unesp, ou-
país. Os trabalhos que desenvolvemos aqui, tras instituições têm se dedicado à pesquisa
junto com pesquisas feitas em outras insti- sobre o tema. A Companhia de Saneamento
tuições, estão ajudando nessa discussão”, co- do Paraná (Sanepar) é responsável pelas pu-
menta Marianne. “Um dos pontos em que se blicações mais antigas sobre uso agrícola do
espera mudanças é a retirada da exigência de lodo de esgoto no Brasil. “O Paraná é um Es-
análise de vírus. Tanto os meus como vários tado pioneiro nessa área, mas eles trabalham
outros estudos comprovam que os vírus, dentre com adição de cal ao lodo de esgoto. A cal
todos os patógenos, são os mais sensíveis ao também elimina os microrganismos e é ade-
meio ambiente e duram poucas horas, o que quada para a correção de alguns dos tipos de
minimiza o risco”. solos daquela região. No Estado de São Paulo
O debate no seio da comunidade técnico- essa solução é menos interessante, em razão
científica da área inclui outro fator importan- dos custos da adição da cal e dos tipos de so-
te: a pressão dos órgãos ambientais para que o lo, que demandam outras formas de manejo”,
lodo de esgoto não seja mais disponibilizado explica Caroline.
em aterros sanitários. “É um resíduo que gera Ana Lúcia Silva, gerente da Divisão de Con-
chorume e pode contaminar o lençol freático, trole Sanitário do Médio Tietê da Sabesp,
além de ser um material muito rico em maté- lembra que países da União Europeia, Esta-
ria orgânica e nutrientes jogado fora”, explica dos Unidos e Austrália já utilizam sem restri-
a pós-doutoranda Caroline Mateus, bolsista ção o lodo de esgoto depois de beneficiado, e
do projeto. “É preciso dar um destino correto com as mesmas características de qualidade
a esse material, fazendo uma reciclagem de do fertilizante produzido na ETE Botucatu.

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“Nos Estados Unidos, por exemplo, esses fer-


tilizantes podem ser encontrados em qualquer
prateleira de supermercado, o que demonstra
a segurança e o baixo risco ao meio ambiente
e à saúde pública”, assinala.

Benefícios
Outra frente de estudos do projeto foi o le-
vantamento dos custos de produção do com-
posto, para avaliar a viabilidade econômica do
processo. Conduzido pela professora Maura
Seiko Esperancini, do Departamento de Eco-
nomia, Sociologia e Tecnologia da FCA e sua
orientada de mestrado Roseli Visentin, esse
trabalho levantou todos os custos de cada etapa
do processo, incluindo aquisição de materiais,
equipamentos, estrutura, combustível, mão de
obra e transporte. “Ao longo do estudo, per-
cebemos que a logística para a produção do
composto é bastante complexa. Você depende
do lodo que está na ETE/Botucatu, mas o ide-
al é que os materiais que serão misturados na
compostagem também estejam na região para cular, que busca a reutilização, a recuperação
baratear os custos”, comenta Roseli. e a reciclagem dos produtos, com base em um
A pesquisa atestou a existência de um grande modelo de desenvolvimento sustentável. Não é
mercado para o produto. “Botucatu tem 96% um caminho fácil, mas é um objetivo inserido
do esgoto coletado e 100% do esgoto tratado. em nossa visão de futuro para o saneamento.
A ETE Botucatu tem capacidade para produzir Sabesp e Unesp estão dando um importante
cerca de 70 toneladas de composto orgânico passo nessa direção”.
por mês, quantidade que atenderia cerca de
5% da área cultivada com milho no municí- Alternativas
pio, aplicando-se 10 toneladas por hectare por Foi também pensando no aspecto econômico
ano, ou seja, a demanda é muito maior que a que os pesquisadores avaliaram a possibilidade
oferta. Mas ainda que esse produto não seja do uso do composto orgânico como substrato
comercializado, o grande benefício econômi- para a produção de mudas de eucalipto e es-
co já ocorre quando se evita os custos com o pécies florestais nativas. “A ideia era agregar
transporte e a disposição desse lodo no aterro mais valor ao composto. Foram feitos quatro
sanitário em Paulínia”, esclarece Roseli. trabalhos nesse sentido, orientados pelos profes-
Além disso, há inegáveis benefícios sócio- sores Magali Ribeiro da Silva e Iraê Guerrini,
ambientais, como coloca Wanderley da Silva sempre comparando os dados obtidos com os
Paganini, superintendente de Gestão Ambien- substratos comerciais, e os resultados foram
tal da Sabesp. “O grande desafio vivenciado muito bons”, conta o professor Lyra. “Muitas
hoje é a transição de uma economia linear, vezes, o substrato comercial precisa receber
que é aquela na qual se extrai a matéria-pri- adubação extra. O lodo de esgoto, por conter
ma para a produção dos bens de consumo e nitrogênio e outros nutrientes, já ajuda a pro-
se descartam os resíduos gerados após o uso mover o crescimento da planta. Trata-se de um
dos produtos, para a chamada economia cir- campo imenso para pesquisas que busquem

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o gasto com o trabalho das máquinas”, relata Da esq. para dir.,


professor Lyra (FCA),
Caio Vilela Cruz, responsável por essa etapa Ana Lúcia Silva (Sabesp)
do projeto, sob orientação do professor Dir- e Maurício Tápia (Sabesp).
ceu Maximino Fernandes. Em fase final, essa
vertente do projeto também tem apresentado
resultados positivos.
Próxima do seu encerramento, a iniciati-
va apresentou respostas diretas e claras para
questionamentos pontuais sobre aspectos de
interesse da Sabesp. “A proposta objetiva do
projeto foi estudar as limitações que impediam
o uso do lodo no solo e como essas barreiras
poderiam ser superadas”, afirma Lyra. “Acredito
que mostramos os caminhos e geramos infor-
mações que podem ajudar na formulação da
legislação e a tornar o uso do lodo mais amplo e
seguro para o homem e para o meio ambiente.”
Para Maurício Tápia, superintendente da
© Arquivo do projeto

Unidade de Negócio Médio Tietê da Sabesp,


o grande desafio para o desenvolvimento sus-
tentável é agregar valor econômico e ambiental,
gerando o mínimo de rejeitos, que deverão ter
encontrar os padrões ideais para o uso desse uma destinação ambientalmente adequada.
material nas diversas espécies”. “Por meio da otimização do processo de trata-
Um último enfoque do projeto foi a avalia- mento e da aplicação de novas tecnologias, a
ção do enriquecimento do composto elaborado Sabesp, através da Unidade de Negócio Médio
com bagaço de cana com fósforo e a eficiência Tietê, vem obtendo resultados significativos
do seu aproveitamento em áreas de cana-de- nas estações de tratamento. Em Botucatu,
-açúcar. O bagaço de cana tem sido compostado temos o privilégio de contar com a parceria
e utilizado pelas usinas nas plantações dessa da Unesp. O uso do lodo de esgoto deve ser
cultura, principalmente em solos arenosos onde feito com todo o cuidado porque ele é poluente
as perdas de nutrientes são mais intensas e a potencial se mal utilizado, mas apesar do rigor
falta de água mais expressiva, com resultados da legislação vigente, já estamos conseguindo
importantes em termos de produtividade. No usufruir dos benefícios do material com a se-
entanto, esse material é pobre em fósforo, ha- gurança necessária”, diz.
vendo a necessidade de complementação de Em novembro, a Sabesp deve receber o re-
adubo inorgânico nos plantios. latório final geral sobre o projeto, em todas as
Os pesquisadores resolveram então avaliar suas vertentes. A ideia é que esse documento
o enriquecimento do composto com outras auxilie a decisão estratégica da empresa sobre
fontes de fósforo e a eficiência do seu apro- o melhor uso para o lodo de esgoto gerado em
veitamento pelas plantas. “Normalmente, são suas ETES. “As informações mostram que
feitas duas operações: aplica-se o composto e, o produto tem potencial. Desenvolver essa
na sequência, aplica-se o adubo. Então por pesquisa é uma forma de retribuir o investi-
que já não enriquecer o material aplicado, a mento feito pela sociedade, trazendo benefí-
partir da compostagem? Seria uma forma de cios de várias ordens, economia e uma visão
levar o fósforo que a planta precisa, com ape- ambiental que a cada dia é mais importante”,
nas uma operação no campo, economizando analisa Lyra.

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