Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sociais – UCPel
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
* **
“O Judiciário na contra Marcha da Liberdade”
Trabalho publicado pela editora EDUCAT, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) em 2009.
*
Trabalho elaborado por: Frank Sebastiani Moraes; Jackson da Silva Leal; Letícia Barbosa
Hernandorena; Lucas Fagundes Machado; Wagner Barbosa Pedrotti.
**
Sob orientação de: prof. Ms. Marcelo Oliveira de Moura; prof. Samuel Chapper.
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Muros e Grades
Resumo
O presente trabalho procura discutir de forma não legalista e acrítica três temas, que
primeiramente parecem distantes, no entanto, estão totalmente entrelaçados. De forma
radical, ou seja, atingindo a raiz da questão, primeiramente, se aborda a modernidade,
como norteador de toda nossa cultura ocidental, sendo gênese de todas as discussões e
problemas vivenciados pela atual sociedade. Conceitos criados a partir do
individualismo influenciaram toda sociedade mundial, inclusive o Judiciário, que será
objeto da segunda análise. O Direito como parte da sociedade não poderia ser diferente,
pois influenciado pelo senso comum teórico dos juristas, torna seu discurso desprovido
de crítica e complexidade, chegando às piores decisões possíveis. Dessa maneira,
procurou-se fazer um estudo de caso, abordando o Judiciário frente à prática da
liberdade de expressão. Esta, que foi impedida em várias manifestações a favor da
descriminalização da maconha em todo Brasil, desrespeitando o direito fundamental
adquirido.
2
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Introdução
3
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Pois bem, essa responsabilização por parte do Estado não mais se faz necessária,
não por terem se desvanecido as necessidades em decorrência do “desenvolvimento”
tecno-produtivo – o modelo burguês individualista – mas porque não mais se tem à
iminência de uma revolução social, os inimigos se dissiparam, separaram-se, não mais
oferecendo uma ameaça real de subversão ao modelo político ideológico que foi se
modificando e concedendo, para se manter da mesma forma e mais bem estruturado,
perverso e estável\inseguro.
4
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
5
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
6
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
O medo nos leva a tudo, a fantasia, ao risco, e por sermos iguais, “da igualdade
deriva a desconfiança, e da desconfiança, a guerra” (HOBBES, 2004. p. 95). O risco que
o outro nos trás nos leva a agir sem pensar, ao inconsciente coletivo. A pureza é a visão
das coisas colocadas em seus lugares, é uma visão de ordem, ou seja, com a finalidade
de eliminar os excluídos, aqueles que estão fora do lugar, que estragam o quadro. Não
ligamos para as razões do outro, desde que ninguém ao nosso redor nos coloque em
dúvida, então, é por isso que a chegada do outro nos coloca em insegurança, como diria
Sartre, “o inferno são os outros”.
7
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
transformado e como diz o autor “a luta pela igualdade se torna uma luta pelo poder –
mas o poder, por conta própria, não reconhece a igualdade” (BAUMAN, 1997, p. 46).
Aqueles que contestam verdades pré-estabelecidas nunca foram vistos com bons
olhos, porém, sem eles a sociedade permaneceria estática até os dias atuais. É notório
que em toda história da humanidade o modelo de sociedade só mudou através da
tomada do poder, da revolução, e posteriormente tornando-se conservador, ou seja, o
revolucionário de hoje será o conservador de amanhã, nem que isso tenha que passar
por cima de seus próprios princípios. Esse conservadorismo quando não assume um
fundamento lógico, toma forma de fundamentalismo, o certo é a alienação, é aceitar o
status quo, e todo aquele que estiver insatisfeito é visto como anti-social.
8
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
9
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
10
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
1 Nesta obra os autores trabalham o mito da justiça, sendo cega, necessitaria ler em Braille a fim de ter
contato com os signos e símbolos que operacionalizam a pretensa resolução de conflitos. Permitindo com
que sejam negligenciados as particularidades de cada caso conflituoso que amplia as insuficiências do
fenômeno jurídico em sua tarefa apaziguadora diante da complexidade e multiplicidade das relações
sociais e a conflitualidade potencial que encerra. Por sua vez, o daltonismo jurídico, pelo fato de
enxergar, no entanto não poder confiar no seu sentido e com isso nos símbolos que ele traduz, procederia
com maior cautela e analisando as especificidades e contexto de cada caso.
2
“se encontram condicionados, em suas práticas cotidianas, por conjunto de representações, imagens,
noções baseadas em costumes, metáforas e preconceitos valorativos e teóricos, que governam seus atos,
suas decisões e suas atividades.” (WARAT, Luís. (...) In: FARIA, José Eduardo. A Crise do Direito
Numa Sociedade em Mudança. P. 31.
11
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
12
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
3
Termo utilizado remeter às pessoas absolutamente estranhas ao universo jurídico e seus
desdobramentos.
13
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
“profissional da área”, tais como freqüência de lugares e convìvio social entre outras
questões pertinentes a um juiz, afinal na cultura local, este é tido como um quase Deus,
pois traduz para a sociedade a “vontade legislativa de fazer justiça” – sem nunca ter tido
contato com esta Justiça efetivamente. Como propõe Wolkmer:
14
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
15
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
4
“há que se ter consciência de que a categoria „conflito‟, aqui, insere-se no contexto de uma ordem
capitalista periférica e dependente, simbolizando lutas históricas de sujeitos sociais que reivindicam
necessidades fundamentais capazes de erradicar a condição de exploração econômica, dominação política
e exclusão cultural.” (WOLKMER, Antonio Carlos . Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova
cultura do Direito. P. 85)
16
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
garantia dos direitos e garantias conferidos pela legislação (direito adquirido e ato
jurídico perfeito), ou seja, parte-se do pressuposto que se tem algo a defender. No
entanto, os maiores problemas estão nos pseudo-direitos conferidos pela Constituição
Federal e nunca regulamentados, utilizando-se da prática generalista e sem qualquer
objetividade ou mesmo objetivo social, não atribuindo qualquer direito e consoante, não
havendo o que exigir do Judiciário, e estamo-nos imersos nesta cultura onde a falta dos
dispositivos legais regulamentadores e códigos é o maior entrave, ficando o indivíduo
imerso em sua estagnação, dominação, imobilidade social, cultural, político e
economica – desprovido de sua liberdade com autonomia se é que é possível liberdade
sem autonomia, acreditamos que não.
17
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
defenda sua liberdade, e não a suprima, sendo assim, a liberdade de expressão se torna
inerente à cultura moderna, pois sem ela, todos os demais perderiam a razão. Ainda, há
bem pouco tempo, com essas promessas, se procurava afastar o fantasma comunista, em
um período de bipolaridade político-ideológico e cultural de guerra fria, este modelo era
representado como sendo um modelo de risco/insegurança, econômico,
político/ideológico, social.
Hoje, não mais existe o temor frente ao modelo comunista, não mais carecendo
que estas promessas façam tanto sentido quanto necessitavam antes, após a vitória do
modelo capitalista burguês, começam a ficar claras algumas falácias, começam a cair as
máscaras, tais como a igualdade, os direitos, a liberdade... Demonstrando ser o modelo
de sociabilidade do risco, por excelência, onde a insegurança não tem limites, assim
como não tem tido o crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico, ao lado
da desigualdade social, iminência de conflitos armados, catástrofes ambientais (...) a
modernidade dos riscos imprevisíveis e incalculáveis.
18
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Via de regra, esses grupos dissidentes são inclusive passíveis de uma cartografia
social, pois normalmente pertencem à determinadas classes falhas, à raça estranha, à
gênero subordinado ou adepto de uma religião perigosa; ou à qualquer tipologia ou
forma de diferenciação que os torne não mais detentores de sua cidadania, mas
meramente um custo e objeto de política pública filantrópica subtraindo e
impossibilitando cada vez mais profundamente a possibilidade de manutenção ou
cultivação de uma alteridade pessoal individual e grupal.
Assim “a ameaça parte „de baixo‟, das vielas e cortiços, dos homens com
costumes „anômalos‟ e lìnguas incompreensìveis, das doutrinas revolucionárias e
instabilizadoras, do outro que está dentro como a peste” (RODRIGUES, 2004). E estes
devem ser contidos dentro do espaço que lhes é destinado na sociedade, o gueto ou a
penitenciária. O isolamento espacial, sempre foi a maneira encontrada quase que
instintivamente pelo poder para lidar com os setores inassimiláveis e problemáticos da
população, os ditos difíceis de controlar, principalmente quando o são por não
desejarem se acomodar. Existe em nossa sociedade a tendência cada vez maior de lidar
19
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
5
“O conceito constitucional de „estado de exceção‟ é evidentemente contraditório – a constituição precisa
ser suspensa para ser salva -, mas esta contradição é resolvida ou pelo menos atenuada pelo entendimento
de que o período de crise e exceção é breve. Quando a crise deixa de ser limitada e e specifica,
transformando-se numa onicrise generalizada, quando o estado de guerra e, portanto, o estado de exceção
torna-se ilimitado ou mesmo permanente, como acontece hoje em dia, a contradição manifesta -se
plenamente, e o conceito adquire um caráter completamente diferente” (HARDT; NEGRI. 2005, p. 27).
20
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Este controle que na sociedade moderna se faz pela via criminal, como se isso
pudesse não só resolver como apreender/compreender a complexidade das relações e
situações conflituosas – tornando o Direito Penal e as políticas criminais,
pretensamente, no principal (para não dizer o único) ente protetor, à salvaguardar a boa
convivência humana, retomando novamente a colocação de Nietzsche quando propõe
que uma vontade de poder se assenhorou de algo menos poderoso (o Direito, atualmente
21
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
6
Sobre a politica criminal e sua identidade Narcísica, bem como suas perversidades e falibilidades ver:
CARVALHO, Salo de. Anti Manual de Criminologia. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008.
22
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
23
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Mesmo após tentar mostrar que está claro que a falácia da substancialização do
crime e do criminoso, que fazem parte de determinados indivíduos ou classes, isto é
visível no mundo acadêmico, e ainda não abarca todo este, existindo ainda uma ou
várias gerações que fundamentam o poder repressivo do Estado em degenerescências
que são socialmente criadas pelo próprio sistema moderno atual tanto de produção
quanto de punição e não patologias individuais ou de determinados grupos
(seletivamente especificados), resultado da ampliação perversa das desigualdades
modernas e potencializadas suas vulnerabilidades, isto, somado à incidência dos
aparelhos repressivos oficiais, se obtém o nosso Estado de Penitência Social ou de
exceção permanente, onde são retiradas as liberdades constitucionalmente previstas,
mas quase nunca concedidas, ao menos para a maioria. Demonstrando claramente o
quanto é tênue a linha divisória entre violência legítima ou não, quanto mais em se
tratando de „segurança‟ nacional – que não se satisfaz, não tem limites e o pior, não
aufere resultados positivos.
Conclusões
7
Sobre as discussões em torno de política criminal de drogas, sobretudo crítica da instrumentalidade
penal moderna ver: CARVALHO, Salo. A política Criminal de Drogas no Brasil: estudo criminológico e
dogmático. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007.
24
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
inerente, como proposto por Boaventura, remontando José Martì “a América Latina é o
oposto da Europa, longe está de ser um povo homogêneo, é plural, mestiça, [...] fundada
do cruzamento, muitas vezes sangrento entre o sangue europeu, ìndio e africano”
(SANTOS, 2006. p. 200). Particularização potencializada pela alta intensidade dos
fluxos relacionais advindos da globalização hegemônica e a perversidade de ampliação
e amplificação dos efeitos da modernidade neoliberal importada – e por sinal, bem cara.
É nesse contexto que surge o jurista orgânico, como propõe Marx “os filósofos
(juristas) somente interpretaram o mundo de diversas maneiras, a questão, porém, é
mudá-lo” (MARX, 1995, p. 210). Mesmo, ocorrendo uma profunda reforma ou
reconstrução do sistema de justiça, seria a solução, talvez, para o Judiciário, porém
nunca a solução para os problemas da modernidade. Portanto o Judiciário não seria o
último garantidor de direitos. E sim, apenas mais um. Não podendo, o Direito, sozinho,
de forma alguma, possibilitar uma sociabilidade emancipatória.
25
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
26
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
Bibliografia
ANDRADE, Lédio Rosa de. Juiz Alternativo e Poder Judiciário. São Paulo: Editora
Alternativa, 1992.
__________. Introdução ao Direito Alternativo Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. Companhia das Letras,
2006.
27
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
28
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
____________. O fórum Social mundial: manual de uso. São Paulo: Cortez, 2005.
____________. Para uma revolução democrática da Justiça. São Paulo: Cortez,
2007.
SANTOS, Milton. 12ª Edição. Por Uma Outra Globalização. Editora Record, 2005.
THOREAU, Henry David. A Desobediência civil: e outros escritos. São Paulo: Martin
Claret, 2003.
29
Universidade Católica de Pelotas
Centro de Estudos Jurídicos, Econômicos e Sociais
VI Jornadas Interuniversitarias de Derecho Constitucional y Derechos Humanos
30