No caso do uso de evidenciais em Karitiana, observamos a presença de dois morfemas
específicos, /ta’ã-/ e /saryt-/ (ou sua variante /saryr-/, que se opõem em torno dos traços “evidência em primeira mão” e “evidência indireta”, respectivamente. Segunda a tradução apresentada, ainda, o morfema /ta’ã/ carrega o traço semântico de evidência visual. Ambos os mofemas são sintaticamente localizados no sintagma aspectual, à esquerda da marcação de aspecto.
Em Kamayurá, mesclam-se evidenciais formados por morfemas específicos e
construções analíticas. As duas primeiras frases, por exemplo, apresentam dois morfemas diferentes ao final do verbo saber, /-in/ e /-et/, que talvez possam carregar os valores de suposição e inferência, respectivamente. No entanto, a segunda sentença, que carrega o valor de certeza por parte do enunciador, também apresenta o morfema /rak/ à esquerda do argumento interno do segundo verbo, glosado como atributivo. A terceira sentença em Kamayurá volta a apresentar o atrbutivo /rak/ e foi traduzido com uma evidencialidade neutra, enquanto que a quarta sentença, que carrega o valor semântico de evidência indireta, revela a presença do morfema /je/ (reportativo?). A quinta sentença tem evidencialidade não- marcada, o que pode nos remeter ao comentário de STENZEL (2006), de que evidenciais visuais são comumente não-marcados em muitas línguas ameríndias das terras baixas. O contraste fica ainda mais claro ao comporá-la com a sentença seis, em que o morfema atributivo /rak/ é novamente utilizado com valor evidencial de inferência. Por fim, as sentenças 7 e 8 apresentam a construção de constraste evidencial através da variação do morfema de foco (/te’a/ e /te/, respectivamente) e no uso de um dêitico espacial /a’/, na sétima sentença, e um morfema evidencial /po/, de experiência direta, externa e não-visual. Com exceção das duas primeiras sentenças, cujos sintagmas verbais são transitivo, as construções evidenciais aparecem sempre à esquerda dos verbos.
Segundo alguns dados de Kotiria apresentados por FRANCHETTO (2018), os evidenciais
reportativos podem ser utilizados também em citações de frases pelo enunciador de forma a indicar, mas não identificar, o falante original da sentença citada. Em nenhum dos exemplos de Karitiana e Kamayurá tivemos acesso a esse tipo de construção, em que a enunciação cita um enunciado anterior de um outro enunciador. No entanto, com relação aos recursos morfológicos e sintáticos mobilizados, fica claro que os evidenciais em Kotiria diferem dos das outras línguas por estarem localizados na periferia direita das sentenças.