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EXCELENTISSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ DA ÚNICA VARA DO TRABALHO

DE QUIXADÁ-CE/TRT7ª REGIÃO.

FRANCISCO TIAGO DE CARVALHO LIMA, brasileiro, solteiro, preparador de calçados,


portador do registro geral n° 2001020059417 SSPDC-CE, inscrito na Secretária da Receita Federal sob n°
007.048.743-00, residente e domiciliado na Rua Capistrano de Abreu, n° 136, Caracará, Senador
Pompeu-Ceará, por meio de seu Advogado in fine conforme procuração em anexo (doc.1), vem
respeitosamente a presença conspícua e preclara de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 282 e
seguintes do Código de Processo Civil Brasileiro, artigos arts. 3º, 29, 66, 73, todos da CLT,
combinados com o art. 7º, IV, VI e XIII da Constituição Federal de 1988, propor:

AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E


INSALUBRIDADE

Em face da CALÇADOS SENADOR POMPEU LTDA, localizada na Rua Antonio Soares, n° 58,
Bairro do Caracará; Senador Pompeu; Ceará; CEP nº 63600-000, CNPJ Nº04.358.307/0001-10, de
acordo com os fatos e fundamentos jurídicos adiante expostos;

I - PRELIMINARMENTE DA NECESSIDADE DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA


Inicialmente, cumpre obtemperar que a Requerente é pobre em conformidade com os ditames legais,
de maneira que não tem condições de arcar com ás custas judiciais sem que venha comprometer sustento
bem como o da sua própria família.
Em sendo assim, amparado pelo princípio constitucional do acesso ao poder judiciário, bem como a
Lei 1.060/50, tem a Requerente direito de ver o seu caso apreciado.
De acordo com Pontes de Miranda (1979, p. 642), "o benefício da justiça gratuita é direito à dispensa
provisória de despesas, exercível em relação jurídica processual, perante o juiz que promete a prestação
jurisdicional. É instituto de direito pré-processual". É o juiz da causa quem vai deferir ou indeferir o
pedido.
Néri Júnior (2003, p. 377) igualmente considera as despesas do processo como sendo o gênero, cujas
espécies seriam ás custas judiciais, ás custas e honorários periciais, as multas e etc. Os honorários
advocatícios, por sua vez, não se classificam como despesas processuais, constituindo gênero apartado.
Despesas processuais são todos os gastos necessários despendidos para fazer com que
o processo cumpra sua finalidade ontológica de pacificação social. No conceito de
despesas processuais estão compreendidas ás custas judiciais, os honorários
periciais, ás custas periciais, as multas impostas às partes, as despesas do oficial de
justiça (para citação, arrecadação, penhora, cumprimento de mandato judicial, etc),
a indenização, diária e condução das testemunhas, etc. Os honorários de advogado
não são despesas processuais e vêm tratados no CPC 20 §§ 3 a 5 (NERY JÚNIOR,
2003, p. 377).

O princípio da isonomia também lhe garante tal súplica, por esta razão, REQUER que lhe seja
concedida a JUSTIÇA GRATUITA.

A Reclamante requere à V. Exa., que as notificações/intimações atinentes ao referido processo


sejam endereçadas EXCLUSIVAMENTE ao patrono Dr. NATANAEL ALVES DE OLIVEIRA,
OAB/CE Nº 29.772, devidamente constituídos no instrumento procuratório em anexo, com endereço
profissional na Rua José Carlos Sampaio, nº 314, Centro, Senador Pompeu-Ce, CEP n° 63.600.000, para
onde deverão ser encaminhadas as notificações do presente feito.

III - DOS DOCUMENTOS QUE ACOMPANHAM À PRESENTE PEÇA.

O Texto Consolidado garante ao patrono da parte o direito de declarar autênticos os documentos


oferecidos em cópia, consoante dispõe o novel Art. 830 da CLT, in verbis:
Art. 830. O documento em cópia oferecido para prova poderá ser declarado
autêntico pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.

Portanto, conforme legislação em vigor, os patronos abaixo signatários declaram autênticos os


documentos em cópia anexados à presente peça.
IV - DOS FATOS

O reclamante era detentor de uma relação de emprego com a empresa reclamada, relação essa, que
teve início no dia 23/03/2012, e término no dia 08/12/2015, conforme consta o termo de rescisão em
anexo.

Porém, ao se deparar com os documentos que constavam os valores relacionados a suas verbas
rescisórias, percebeu que não estavam contidos os valores referentes aos adicionais de insalubridade e
periculosidade, fato esse que veio a motivar a presente ação, o reclamante também traz à baila que
durante toda a relação empregatícia não recebeu esses adicionais.

Excelência, o reclamante durante todo o contrato de trabalho, laborou em condições insalubres, eis
que mantinha contato permanente com agente físicos e químicos nocivos à saúde, no caso em tela uma
cola extremamente tóxica.

Cumpre registrar ainda, que os EPI's fornecidos pela empresa não eram suficientes para amenizar
os efeitos dos reagentes químicos ao organismo deste ser humano, por exemplo as máscaras faciais que
eram trocadas em três em três dias ou em até espaço de tempo superior a isso, quando na verdade deve ser
trocada diariamente, havendo a inalação diária deste componente insalubre, sem receber o adicional
previsto na legislação trabalhista.

Além disso, como se não bastasse o contato direto que possuía com tais produtos, o promovente
ainda era obrigado a trabalhar próximo a máquinas rústicas e perigosas que facilmente poderiam lhe
causar algum acidente grave ou ceifar sua vida com alguma explosão por ser material inflamável, fato
esse, que veio a motivar a cobrança do adicional de periculosidade que jamais fora pago pela parte
reclamante.

O reclamante e seus colegas de trabalho por várias vezes presenciaram essas máquinas em chamas,
por ser a cola tóxica e estar em contato direto com os fornos que ficam próximos as esteiras em que os
operários labutam, por muitas vezes os próprios funcionários apagaram o fogo com extintores, situações
de extremo risco a vida daqueles operários que trabalham em contato direto com a cola e com os fornos.

Logo, postula-se o pagamento do adicional de insalubridade e periculosidade a ser apurado por


perito técnico, se Vossa Excelência entender necessário, baseado no salário mínimo vigente, que deve ser
integrado ao valor devido nas verbas rescisórias, conforme os fundamentos a seguir relatados.

V - DO MÉRITO

Como já relatado, o reclamante da presente ação requer da reclamada a inclusão dos adicionais de
insalubridade e periculosidade em suas verbas rescisórias, pedido esse totalmente pertinente.

Inicialmente a cumulação de tais adicionais não era permitido em nosso ordenamento jurídico,
porem com edição do decreto n.º 1.254 de 29/09/1994, em que, em seu artigo 11, alínea b, passou a
permitir a cumulação de tais pedidos levando em consideração os riscos a saúde decorrentes da exposição
simultânea a diversas substâncias ou agentes.

Nesse sentido, temos o referido artigo em verbis, comprovando nosso argumento;


ART 11: Com a finalidade de tornar efetiva a política referida no artigo 4 da presente
Convenção, a autoridade ou as autoridades competentes deverão garantir a realização
progressiva das seguintes tarefas:

a) (.........................)

b) a determinação das operações e processos que serão proibidos, limitados ou sujeitos


à autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades competentes, assim como a
determinação das substâncias e agentes aos quais estará proibida a exposição no
trabalho, ou bem limitada ou sujeita à autorização ou ao controle da autoridade ou
autoridades competentes; deverão ser levados em consideração os riscos para a saúde
decorrentes da exposição simultâneas a diversas substâncias ou agentes;

Visto isso, a partir da leitura do referido dispositivo, torna-se claro e evidente o pedido do autor,
no sentido em que, já não existe vedação legal que impeça a cumulação dos adicionais de insalubridade e
periculosidade, no sentido em que o trabalho do reclamante era exercido de forma concomitante em
condições insalubres e perigosas.

VI - DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Como já relatado anteriormente, o reclamante no exercício de suas atividades trabalhava em


condições insalubres, eis que mantinha contato permanente com agente químico nocivo a sua saúde, fato
esse que configura o direito do mesmo de exigir um adicional de insalubridade.

Em relação ao referido adicional temos o artigo 189 da CLT, in verbis:

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas


que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de
exposição aos seus efeitos."

A partir da análise do referido dispositivo legal, podemos concluir que o reclamante se adequa
completamente aos requisitos exigidos para se pleitear o adicional em questão, pois estava em contato
direto com agentes nocivos e sem a proteção adequada.

Além disso, cumpre registrar que os EPI's fornecidos pela empresa não eram suficientes para
amenizar os efeitos insalubres ao ser humano, referente ao labor exercido pelo reclamante.

Excelência, o produto tóxico que comprova o direito da parte reclamante de exigir tal adicional é
referente a uma cola da marca QUIMOPREM utilizada para colar sapatos, cola essa que, em sua própria
embalagem, confirma que se trata de um produto tóxico e inflamável, conforme documento em anexo
com toda sua composição química para auxiliar este juízo.

Comentando acerca do Adicional de Insalubridade, leciona Alice Monteiro de Barros:

O trabalho em condições insalubres, ainda que intermitente (Súmula n. 47


do TST), envolve maior perigo para a saúde do trabalhador e, por isso
mesmo, ocasiona um aumento na remuneração do empregado. Em
conseqüência, o trabalho nessas condições, acima dos limites de tolerância
estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura ao empregado o direito
ao recebimento de um adicional, de 10%, 20% ou 40% sobre o salário
mínimo, ou mínimo profissional, conforme se classifique a insalubridade,
respectivamente, no grau mínimo, médio ou máximo, segundo apurado por
perito, médico ou engenheiro do trabalho registrado no Ministério do
Trabalho.

Ainda em relação ao adicional de insalubridade devido ao reclamante, temos o seguinte julgado


confirmando a pertinência do nosso pedido:

Ementa: RECURSO ORDINÁRIO DE AMBAS AS PARTES. ADICIONAL DE


INSALUBRIDADE. INDÚSTRIA CALÇADISTA. Os solventes ou inalantes são
substâncias pertencentes ao grupo químico denominado de hidrocarbonetos, tais como
tolueno, xilol, hexano, acetato de étila. Mesmo em baixas concentrações, esses produtos
são nocivos à saúde, tanto pela via cutânea (pele) como aérea (aspiração). Ainda que as
mãos da reclamante estivessem protegidas da ação dos agentes químicos (colas e
adesivos) pelo creme protetor, a insalubridade persiste, porquanto não lhe foi fornecida
qualquer espécie de proteção para as vias respiratórias. Negado provimento. (...)

Recurso Ordinário RO 1426200733204002 RS

Data de publicação: 28/03/2009

Com isso, diante dos fatos e argumentos relatados, claro está o direito do reclamante em receber
um adicional de insalubridade referente ao serviço anteriormente prestado, direito esse, totalmente
pertinente conforme o julgado supracitado.

Diante do exposto, deve-se destacar ainda que durante os quase 4 (quatro) anos de labor, o
reclamante não veio a receber o adicional de insalubridade que lhe era devido, fato esse, devidamente
comprovado nos documentos em anexo.

Em sendo assim, diante do valor não pago ao reclamante, temos a seguinte tabela explicativa, no
qual a mesma demonstra-se os valores referentes aos adicionais de insalubridade devido ao Autor durante
a vigência do seu contrato de trabalho para com a reclamada que não foram adimplidos:

ANO VALOR DO AD.INSALUBRIDADE M E S S E S TOTAL


SLÁRIO 40% DO SALARIO TRABALHADOS DEVIDO
MENSAL
2012 R$ 622,00 R$ 248,80 9 R$ 2.239,80

2013 R$ 678,00 R$ 271,20 12 R$ 3.254,40

2014 R$ 724,00 R$ 289,60 12 R$ 3.475,20

2015 R$ 788,00 R$ 315,20 8 R$ 2.521,60


VALOR
TOTAL DEVI
DO R$
11.491,00

A partir da análise da tabela supracitada, podemos observar que os valores devidos referentes ao
adicional de insalubridade correspondem a 40% do salário mínimo mensal referente a cada ano, valor esse
multiplicado pela quantidade de messes trabalhados durante o ano.

Portanto, requer o reclamante, que ao analisar as provas e os fatos desta ação, lhe seja concedido o
referido adicional, devendo a empresa demandada pagar o valor de R$ 11.491,00 (Onze Mil,
Quatrocentos e Noventa e Um Reais), relativo a todos os adicionais mensais que lhe são devidos,
conforme já explicado na tabela.

VII - DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Como já mencionado, o reclamante, exercia claramente uma atividade insalubre, porém, como se
não bastasse, o mesmo era exposto a uma atividade extremamente perigosa.

Ocorre que o Autor trabalhava habitualmente em área de risco acentuado, ao lado de máquinas
perigosas e de difícil manejo, sendo que tais máquinas soltam chamas que podem provocar queimaduras,
bem como explosões caso entrem em contado com os produtos inflamáveis, no caso em tela a cola tóxica
usada nas esteiras, próximo aos fornos.

Note-se que, diante de tais riscos o reclamante jamais recebeu o adicional de periculosidade
previsto em lei.

A Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu artigo 193, relata um breve conceito do que seria o
adicional de periculosidade, bem como prevê algumas situações consideradas perigosas, in verbis:
Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma
da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego,
aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:

I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades


profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.

Fazendo um paralelo com o artigo supra, que em relação ao promovente que exercia atividade
laboral para com a reclamada, com contato direto com produtos inflamáveis, bem como, efetuava seu
trabalho próximo a uma máquina que "expulsava" faíscas/chamas que caso entrassem em contato com o
referido líquido inflamável (no caso cola), poderia provocar inúmeras queimaduras ao reclamante, fato
esse que configura claramente o direito da parte Autora em receber o adicional de periculosidade referente
ao labor anteriormente exercido.

Diante do exposto, temos o julgado a seguir que relata a total pertinência do pedido:

Ementa: RECURSO DE REVISTA. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.


INFLAMÁVEIS. TEMPO DE EXPOSIÇÃO. "Tem direito ao adicional de
periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que, de forma
intermitente, sujeita-se a condições de risco" (Súmula 364/TST), sendo esta a
hipótese dos autos. De outra sorte, o trabalho em condições intermitentes não
afasta o convívio com as condições perigosas, ainda que tanto possa ocorrer
em alguns minutos da jornada ou da semana. No presente caso, o contato do
trabalhador com o agente perigoso ocorria rotineiramente, não podendo ser
considerado eventual ou fortuito. O risco é de consequências graves, podendo
alcançar resultado letal em uma fração de segundo. Recurso de revista
conhecido e provido.

TST - RECURSO DE REVISTA RR 28847620135150010

Data de publicação: 13/11/2015

Diante dos argumentos utilizados, o reclamante também possui o direito de receber os adicionais
de periculosidade referente ao seu tempo de trabalho, adicional esse que, segundo o § 1º do artigo 194 da
CLT deve ser de 30% sobre o salário hora recebido.
ART 194, § 1, in verbis;

O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um


Adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos
resultantes ou participações de gratificações, prêmios nos lucros da
empresa.

Ora Excelência, a parte dispositiva é clara, bem como dos julgados, sendo de plena conclusão que
o direito do Autor de requerer o pagamento do adicional de periculosidade é totalmente pertinente. Sendo
que, na tabela a seguir consta o valor devido referente ao adicional em comento, com o devido cálculo
para se chegar a esse valor:
ANO VALOR DO AD.PERICULOSIDADE MESSES DE T O T A L
SALÁRIO 30% DO SALÁRIO TRABALHADOS DEVIDO
MENSAL

2012 R$ 622,00 R$ 186,60 9 R$ 1679,40

2013 R$ 678,00 R$ 203,40 12 R$ 2440,80

2014 R$ 724,00 R$ 217,20 12 R$ 2606,40

2015 R$ 788,00 R$ 236,40 8 R$ 1891,20

VALOR
TOATAL
DEVIDO R$
8.617,80

VIII - DA CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Uma vez constatada a concomitância entre ambos os agentes nocivos, não há nenhuma
razoabilidade na vedação ao acúmulo de ambos os adicionais, sendo que foram devidamente
especificados e justificados na presente ação.

Importante sublinhar que, como fora supracitado, inicialmente a cumulação de tais adicionais não
era permitido em nosso ordenamento jurídico, porem com edição do decreto n.º 1.254 de 29/09/1994, em
que, em seu artigo 11, alínea b, (dispositivo esse devidamente incluso na presente ação) passou a permitir
a cumulação de tais pedidos levando em consideração os riscos a saúde decorrentes da exposição simultâ
nea a diversas substâncias ou agentes, decreto esse incluso pela convenção n.º 155 da OIT.

Com isso, concordando com a possibilidade de cumulação de tais pedidos, temos o ilustre
doutrinador, Raimundo Simão de Melo, que assevera que:

"[…] se os dois adicionais têm causas e razões diferentes, logicamente


devem ser pagos cumulativamente, sempre que o trabalhador se ativar
concomitantemente a atividade insalubre e perigosa, cujo fundamento
maior está no já mencionado inciso V do art. 5° da Constituição Federal,
que assegura indenização proporcional ao dano." (Raimundo Simão de
Melo, Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador, 3ª Ed.,
Ltr. 2008. p 161)
Concordando também com a possibilidade de cumulação de pedidos temos a renomada
doutrinadora, Vólia Bonfim Cassar explicando que:

"Infelizmente e de forma absurda, o TST tem sustentando que os


adicionais não se acumulam caso o empregado esteja exposto a mais de
um agente nocivo, baseado na vedação contida no item 15.3 da NR-15, da
Portaria nº 3.214/78. Entendemos de forma diversa. Se o adicional visa
indenizar a nocividade do trabalho executado pelo empregado, se as
nocividades são múltiplas, os adicionais também deveriam ser." (2009,
p.668)

Visto isso, embora não haja, razão alguma para que não sejam cumulados tais adicionais, tal
entendimento não é algo unânime em nossa doutrina e jurisprudência pátria, sendo que, mesmo com a
existência de um dispositivo legal (decreto n.º 1.254 de 29/09/1994, artigo 11, alínea b), permitindo tal
cumulação, bem como acatamento de inúmeros doutrinadores em relação ao tema, tal possibilidade de
cumulação é algo que, erroneamente, é fruto de algumas divergências.

Admitindo a possibilidade que cumulação dos referidos adicionais temos os seguintes julgados:

Ementa: CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERI


CULOSIDADE. POSSIBILIDADE. Importante observar que os tratados de
direitos humanos ratificados pelo Brasil gozam de hierarquia supralegal. As
disposições contidas na Convenção n. 155 da OIT, aprovada no Brasil pelo
Decreto Legislativo n. 2, de 17.03.92, ratificada em 18.05.92 e promulgada pelo
Decreto n. 1.254, de 29.09.94, devem prevalecer sobre àquelas constantes do
parágrafo 2º, do art. 193 da CLT e do item 15.3 da NR-15. A norma
constitucional, quando tratou do "adicional de remuneração para as atividades
penosas, insalubres ou perigosas", não estabeleceu qualquer impedimento à sua cu
mulação, até porque os adicionais são devidos por causas e com fundamentos
absolutamente diversos. A impossibilidade de percepção cumulada dos adicionais
de periculosidade e insalubridade constante do parágrafo 2º, do art. 193 da CLT
e do item 15.3 da NR-15 não se mostra compatível com as normas constitucionais
mencionadas, notadamente ao princípio da dignidade da pessoa humana e ao
direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho e ao meio ambiente laboral
saudável. (Recurso Ordinário RO 00022934620125020064 - TRT- Relatora- Ivete
Ribeiro - Data de Publicação 29/05/2015)

Nesse sentido também:

Ementa: RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA


ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015 /2014. CUMULAÇÃO DOS ADICI
ONAIS DEINSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE.
PREVALÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS
SOBRE A CLT. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO AO
EFEITO PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM DESCOMPASSO
COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.
INCOMPATIBILIDADE MATERIAL. CONVENÇÕES NOS 148 E 155 DA
OIT. NORMAS DE DIREITO SOCIAL. CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE. NOVA FORMA DE VERIFICAÇÃO DE
COMPATIBILIDADE DAS NORMAS INTEGRANTES DO ORDENAMENTO
JURÍDICO. A previsão contida no artigo 193, § 2º, da CLT não foi recepcionada
pela Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 7º , XXIII , garantiu de
forma plena o direito ao recebimento dos adicionais de penosidade, insalubridad
e e periculosidade, sem qualquer ressalva no que tange à cumulação, ainda que
tenha remetido sua regulação à lei ordinária. A possibilidade da aludida cumulaçã
o se justifica em virtude de os fatos geradores dos direitos serem diversos. Não se
há de falar em bis in idem. No caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde
do obreiro, haja vista as condições nocivas presentes no meio ambiente de
trabalho; já a periculosidade traduz situação de perigo iminente que, uma vez
ocorrida, pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa
proteger. A regulamentação complementar prevista no citado preceito da Lei
Maior deve se pautar pelos princípios e valores insculpidos no texto
constitucional, como forma de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma.
Outro fator que sustenta a inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução no
sistema jurídico interno das Convenções Internacionais nos 148 e 155, com status
de norma materialmente constitucional ou, pelo menos, supralegal, como decidido
pelo STF. A primeira consagra a necessidade de atualização constante da
legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a segunda determina que
sejam levados em conta os "riscos para a saúde decorrentes da exposição
simultânea a diversas substâncias ou agentes". Nesse contexto, não há mais
espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º, da CLT. Recurso de revista de que se
conhece e a que se nega provimento.... (Processo RR 18718720135120022-12/08/
2015-7ª Turma)

Sobre a possibilidade da cumulação dos adicionais, temos também a ilustre opinião do Juiz do
Trabalho Titular da 5ª Vara do Trabalho de Canoas e Secretário de Assuntos Legislativos da AMATRA
IV Luiz Antonio Colussi, in verbis:

Por força do aspecto dinâmico do Direito, e em decorrência das transformações


pelas quais diariamente passam os fatos da vida, necessário se fazer uma revisão
crítica do tratamento até então despendido à matéria, a fim de que sejam
reavaliadas posições até então tidas por pacíficas, sob risco de serem mantidos
como dogmas entendimentos anacrônicos e dissociados de uma realidade social,
em prejuízo aos destinatários das regras protetivas. (grifei)

À vista do exposto, requer o reclamante que na hipótese de comprovação na relação laboral da


incidência concomitante dos dois agentes, deve ser deferida a cumulação dos adicionais de insalubridade
e periculosidade, conforme os fatos e argumentos acima relatados.

IX - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Os honorários advocatícios alcançam fundamento para sua concessão nos artigos 5º, XVIII,
LXXIV, bem como, nos artigos 8º, inciso V e 133, todos da Constituição da República.
Apesar da CF/88 também ter acolhido o "jus postulandi" das partes no processo judiciário do
trabalho, sua interpretação em relação à assistência judiciária gratuita há de ser efetivada através do
estudo combinado dos referidos dispositivos legais supracitados.

Frisa-se que os honorários de advogado ainda recebem especial embasamento na legislação


infraconstitucional, como no art. 20 do CPC e no art. 22 do Estatuto da OAB, não havendo com isso
qualquer incompatibilidade com o princípio do "jus postulandi" da Justiça Especializada, posto que, o
mesmo é uma faculdade da parte, não uma imposição legal.

Sobre o tema, sabiamente, possui semelhante posicionamento os julgados infra:

HONORARIOS ADVOCATICIOS DEFERIMENTO. A presença do advogado


nas lides trabalhistas deve ser incentivada, sendo mesmo sua presença
indispensável, como determina o art.133 da CF/88 e, ainda, com base no princípio
da sucumbência a que se refere o art. 20 do CPC. (TRT - 7ª Região - CE - RO
0109200-32.2009.5.07.0025 - 2ª Turma - Rel.: Paulo Régis Machado Botelho -
DJ. 09/08/2010 - Fonte: DEJT / TRT 7ª Região). GRIFO NOSSO.

HONORARIOS ADVOCATICIOS - DEFERIMENTO. Os honorários de


advogado são devidos nos termos da Constituição Federal em vigor (art. 133) e
legislação infraconstitucional, como art. 20 do CPC e Estatuto da OAB (art. 22),
não havendo com isso qualquer incompatibilidade com o princípio do "jus
postulandi" desta Justiça Especializada. Não há vedação legal à condenação na
verba honorária na Justiça Obreira, nem na Lei nº 1.060/50, tampouco na Lei nº
5.584/70. Recurso conhecido e provido. (TRT - 7ª Região - CE - RO
0139000-20.2009.5.07.0021 - 2ª Turma - Rel.: Manoel Arízio Eduardo De Castro
- DJ. 20/07/2010 - Fonte: DEJT / TRT 7ª Região).

Portanto, na presente reclamação trabalhista é cabível e necessário à condenação do empregador


ao pagamento de honorários advocatícios no valor de 20% sobre o valor da causa.

X - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

A citação da Calçados Senador Pompeu LTDA, na pessoa do seu representante legal, no


endereço retro mencionado, usando-se para as diligências citatórias e intimatórias disciplinadas no novo
Código de Processo Civil.

Que seja a demandada condenada ao pagamento do Adicional de Periculosidade no valor de R$


8.617,80 (Oito Mil, Seiscentos e Dezessete Reais e Oitenta Centavos), correspondente ao valor não
pago, durante todo período laboral.

A condenação da reclamada ao pagamento de R$ 11.491,00 (Onze mil, Quatrocentos e Noventa


e Um Reais), referente ao Adicional de Insalubridade não pago, durante todo o período laboral;

Custas processuais, despesas emergentes, correção monetária e juros de mora sobre o total da
condenação;

A condenação da parte demandada ao pagamento de Honorários Advocatícios em 20% do valor da


condenação;
Os benefícios da Justiça Gratuita, em concordância com a Lei nº 1.060/50 com as alterações
introduzidas pela Lei nº 7.288/84, por serem pessoas pobres na acepção jurídica do termo e não reunirem
condições de arcar com as despesas e custas processuais sem prejuízo de sua própria subsistência, em face
à declaração de pobreza ora juntada;

Que ás intimação sejam feitas no endereço de seu procurado no Escritório Oliveira Advocacia e
Consultoria Jurídica à Rua José Carlos Sampaio, n° 314, Centro, na cidade de Senador Pompeu-Ceará;

Provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, especialmente pelo
depoimento pessoal do representante legal da Ré, sob pena de confissão, oitiva de testemunhas, perícias,
vistorias, juntada de novos documentos e demais provas que se fizeram necessárias, realização de
perícias;

Seja deferida a cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade e conforme explanado


supra.

Em caso de indeferimento do pedido de cumulação dos adicionais, o obreiro resguarda seu direito,
esclarecendo que optará pelo que representa maior valor.

Dá-se o valor da causa, para efeitos fiscais a quantia de R$ 20.108,80 (Vinte mil, Cento e Oito
Reais e Oitenta Centavos).

Termos em que pede e espera deferimento.

Senador Pompeu - Ceará. 11 de Abril de 2016

Natanael Alves de Oliveira

Advogado

OAB/CE n° 29.772

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