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BAIA – FARTA
Processo nº 251/2017
Autos De Querela
CONTESTAÇÃO
I – DOS FACTOS
1º
O arguido está a ser indiciado pelo crime de Homicídio Preterintencional
nos termos do artigo 361º § Único do Código Penal;
2º
Foi infeliz o MºPº, na sua tentativa de qualificação do crime em homicídio
preterintencional, atendendo evidentemente a forma como os factos
ocorreram;
Se não vejamos:
3º
A data dos factos, o arguido estava juntamente com os seus amigos no local
do sucedido exactamente a conviver, uma vez que naquela altura os
mesmos procuravam por um local que lhes permitisse o convívio, e foi
assim que inicialmente os mesmos pediram a autorização da vitima por
sinal porteiro do evento, que em vida chamou-se Nicolau Adriano Octávio
(vide fls. 18,32 e 37);
4º
Após verem negado a sua tentativa de participarem do evento, os mesmos
decidiram ficar próximo do local, em beberetes e sobretudo aproveitando o
ambiente que o local na altura dispunha;
5º
Momentos depois, verificou-se um ambiente instável, por circunstância de
alguém ter insultado uma Sra. que responde pelo nome de Naisa Isabel
Octávio (vide fls. 11);
6º
Foi assim que sem meia medida o infeliz Nicolau Adriano Octávio,
decidiu partir para violência e tendo varias vezes agredido com uma cadeira
metálica o arguido, e tendo mesmo seguido o arguido para continuar a
agredi-lo (vide fls. 37);
7º
Em função da agressão actual e ilegal, o arguido não viu outra forma de a
suspender, se não mesmo valer-se da pedra que encontrava-se junto ao
local, e imediatamente arremessar à vítima;
8º
Depois de a vítima ser atingida, foi submetido à intervenção médica, tendo
na altura a equipa médica decidido que o mesmo regressasse a casa, uma
vez que apresentava um quadro clínico normal (vide fls. 23 e 25);
9º
Entendemos ser insustentável alimentar a ideia de ter havido uma
preterintencionalidade, na medida em que tal ideia, remeteria-nos a crer
que o arguido antes de se verificar a morte estava a praticar um crime de
ofensas corporais voluntarias e premeditada, facto que não corresponde
com a verdade, sendo certo que foi pela negligencia médica que surgio a
morte;
10º
É preciso olhar aos factos tal conforme elas ocorreram e consequentemente
subsumi-las de forma correcta e desapaixonada ao ilícito – típico previsto
na lei penal, sob pena de incorrermos numa autêntica injustiça, quando na
verdade a situação em questão nos coloca numa ideia de conflito de bens
jurídica e socialmente valiosos, onde em definitivo há-de decidir por uns e
contra outros;
II – DO DIREITO
11º
12º
14º
O exímio professor Jorge De Figueiredo Dias, citando Taipa de Carvalho,
defende que a razão por que deve rejeitar-se qualquer ideia de
proporcionalidade no âmbito da legítima defesa reside na injustiça que
seria de impor ao arguido, por um agressor doloso e censurável, uma
limitação da sua liberdade de estar ou da defesa activa dos seus bens;
15º
O fundamento da legítima defesa recai em especial a situação de uma
agressão actual, ilícita, dolosa e censurável. Contudo, seria de todo injusto
impor ao agredido um dever de suportar essa agressão com o fundamento
pelo princípio da proporcionalidade;
16º
O crime pressupõe sempre o preenchimento de um tipo legal taxativamente
previsto em Lei Penal, ou seja, no caso subjudice a imputação ao arguido
pelo crime de homicídio preterintencional não corresponde com a verdade;
17º
O artigo 361º do Código Penal estabelece que “Se, por efeito necessário
da ofensa, ficar o ofendido privado da razão ou impossibilitado por toda
a vida de trabalhar, a pena será a de prisão maior de 2 aos 8 anos”;
18º
O § Único, do mesmo dispositivo legal, estabelece que “ a mesma pena
agravada será aplicada, se a ofensa corporal for cometida
voluntariamente, mas sem intenção de matar, e contudo ocasionar a
morte;
19º
Nos termos do artigo 44º nº 5 do C.P, a legítima defesa própria ou alheia
constitui causa de justificação do facto e de exclusão da culpa;
20º
A situação de legítima defesa pressupõe nos termos do artigo 46º do C.P, a
concorrência cumulativa dos seguintes requisitos:
1º Agressão ilegal em execução ou iminente, que não seja motivada por
provocação, ofensa ou qualquer crime actual praticado pelo que defende.
21º
Entretanto, por aquilo que os factos nos mostram e por aquilo que os
declarantes confirmaram nos seus depoimentos na fase de instrução
preparatória, (vide fls. 18,23, 25, 32 e 37) fica mais do que claro, que o réu
deverá ser absolvido por preencher os requisitos exigidos na legítima
defesa, caso contrário, admitindo-se aqui a mera hipótese académica,
poderá o facto ser subsumido nos termos do artigo 270º n.º 1 do C.P, uma
vez que o facto ocorreu em função da provocação em jeito de agressão
inicialmente praticada pela vítima;
22º
ASSIM,
OS ADVOGADOS
NELSON JOMBO
CÉD. Nº 3. 838
ALFREDO NALATU
CÉD. Nº 3.179