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Tipologia e dimensionamento estrutural das

fundações de Torres de Linhas de Alta Tensão


em diferentes condições geotécnicas

Ana Raquel Pereira Afonso

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador:

Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues

Júri

Presidente: Professor Doutor José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro

Orientador: Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues

Vogal: Professor Doutor Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira

Outubro de 2015
Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar ao meu orientador de dissertação, o Professor Rui Rodrigues,


toda a ajuda, ensinamentos e disponibilidade ao longo de toda a realização da dissertação.

Ao meu pai pelo grande apoio, ajuda, motivação e por ser sempre uma inspiração.

À minha mãe pela compreensão, apoio, carinho e por nunca duvidar das minhas capacidades.

Ao Tiago pela paciência ilimitada, por acreditar sempre em mim e por todo o apoio.

À Daniela por me entender como ninguém, por me apoiar sempre e pela amizade infinita.

A toda a minha família, amigos e colegas que de certa forma contribuíram para o meu
percurso.
Resumo

A construção de uma linha de alta-tensão é uma obra que, devido à sua grande extensão,
exige um grande número de sondagens ao terreno de fundação das torres. O terreno
atravessado pode ser muito heterogéneo e uma mesma linha ter necessidades de fundações
muito distintas.

Uma detalhada e completa caracterização das amostras de solo permite a otimização da


escolha do tipo de fundação e respetivo dimensionamento.

Consideram-se como principais tipos de fundação, ordenando por ordem decrescente de


resistência do terreno de fundação: fundação por pregagens, fundação por sapata única,
fundação por tubulão e fundação por sapatas isoladas com fuste. No entanto, para o mesmo tipo
de terreno podem ser consideradas diferentes soluções de fundação, fatores como quantidade
de material e mão-de-obra e equipamento especializado são condicionantes à escolha.

Para cada tipo de fundação em estudo, consideraram-se diferentes métodos de


dimensionamento. Considera-se o método baseado em princípios de estabilidade utilizando
coeficientes e parâmetros presentes no Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta
Tensão (Decreto Regulamentar nº1/92 de 18 de Fevereiro) e também métodos provenientes de
estudos mais aprofundados do comportamento de interação solo-fundação, entre os quais os de
Sulzberger, Clouterre e Biarez e Barraud.

Concluiu-se que o dimensionamento pela estabilidade considerando os coeficientes e


parâmetros indicados no Regulamento fornece, no presente caso de estudo, e em geral,
resultados mais conservativos e condicionantes quando comparados com os métodos dos
estudos geotécnicos mais aprofundados.

Palavras-chave
Fundações ; Linhas de alta-tensão ; Sapata ; Pregagens ; Tubulão ; Sapata isoladas com
fuste

i
Abstract

The construction of a High Tension Electric Line, due to its large size, requires a large number
of polls to the ground foundation of the towers. The crossed ground can be very heterogeneous
and the same line needs a very different type of foundations.

A complete characterization of soil samples allows the optimization of the choice of the type
of foundation and respective design.

The main types of foundation are (ordering in descending order of soil resistance): nailing,
isolated footing and pad and chimney foundation with circular and rectangular section. However,
for the same type of soil there can be considered different foundation solutions, factors such as
amount of material, skilled labor and specialized equipment influence the choice.

For each type of foundation, there are different design methods. The method based on
principles of stability using coefficients and parameters present in Regulamento de Segurança de
Linhas Eléctricas de Alta Tensão and methods from studies of the soil-foundation interaction
behavior, including Sulzberger, Clouterre and Biarez and Barraud.

In conclusion, when compared the methods of geotechnical studies, the stability design with
coefficients and parameters from Regulamento provides in general safe results.

Key-words
Foundations ; High tension electric line ; Footing ; Nailing ; Pad and chimney

ii
Índice

Resumo ..................................................................................................................................... i

Palavras-chave ...................................................................................................................... i

Abstract .....................................................................................................................................ii

Key-words ..............................................................................................................................ii

Índice de figuras ....................................................................................................................... v

Índice de tabelas ......................................................................................................................vi

Notação .................................................................................................................................. viii

1. Introdução ...................................................................................................................... 1

2. Descrição dos métodos de cálculo ................................................................................ 3

2.1. Fundação por sapata única ....................................................................................... 5

2.1.1. Dimensionamento pela estabilidade ................................................................. 5

2.1.2. Método de Sulzberger [2] .................................................................................. 7

2.2. Fundação por pregagens ........................................................................................ 12

2.3. Fundação por tubulão e fundação por sapatas isoladas com fuste ........................ 14

2.3.1. Método baseado no ângulo fornecido pelo Regulamento [1].......................... 14

2.3.2. Biarez e Barraud [3] ......................................................................................... 17

3. Análise das sondagens dos terrenos de fundação ..................................................... 27

3.1. Caracterização e classificação de maciços rochosos ............................................. 27

4.2. Amostra S1 .............................................................................................................. 31

4.3. Amostra S2 .............................................................................................................. 32

4.4. Amostra S3 .............................................................................................................. 33

5. Definição de ações e combinações ............................................................................. 36

5.1. Definição de ações .................................................................................................. 36

5.2. Combinação de ações ............................................................................................. 36

5.2.1. Estado limite último ......................................................................................... 36

6. Dimensionamento........................................................................................................ 38

6.1. Tipo de terreno S1 ....................................................................................................... 38

6.1.1. Fundação por pregagens ................................................................................ 38

iii
6.1.2. Fundação por sapata única ............................................................................. 40

6.1.3. Fundação por sapatas isoladas com fuste ...................................................... 41

6.2. Tipo de terreno S2 ................................................................................................... 43

6.2.1. Fundação por sapata única ............................................................................. 43

6.2.2. Fundação por sapata isolada com fuste ......................................................... 51

6.3. Tipo de terreno S3 ................................................................................................... 52

6.3.1. Fundação por tubulão...................................................................................... 52

6.3.2. Fundação por sapata isolada com fuste ......................................................... 62

6.3.3. Fundação por sapata única ............................................................................. 68

7. Análise de Resultados ................................................................................................. 69

Conclusão .............................................................................................................................. 71

Referências bibliográficas ...................................................................................................... 72

ANEXO A .................................................................................................................................. I

ANEXO B .............................................................................................................................. XIII

Peças desenhadas ................................................................................................................ XX

iv
Índice de figuras

Figura 1 - Fotografia da fundação de uma torre de alta tensão .............................................. 2


Figura 2 - Esquema do carregamento e fundação por sapata única ....................................... 5
Figura 3 - Esquema dos centros de rotação do maciço .......................................................... 7
Figura 4 - Reações do terreno ................................................................................................. 9
Figura 5 - Tronco de cone/pirâmide com inclinação segundo ângulo β para os dois tipos de
fundação ...................................................................................................................................... 15
Figura 6 - Esquema de um tubulão ........................................................................................ 16
Figura 7 - Esquema para solos 1ª categoria .......................................................................... 19
Figura 8 - Solos 1ª categoria, D<Dc ....................................................................................... 20
Figura 9 - Esquema para solos 2ª categoria .......................................................................... 21
Figura 10 - Solos 2ª categoria, D>Dc, ϕ > 15º, C≠0 ............................................................. 22
Figura 11 – Parâmetro Mγ Solos 2ª categoria, C=0, ϕ > 15º a 20º, D<Dc (Mϕ=0 e Mq=0)..... 23
Figura 12 - Gráfico do fator M(Rf/R,ϕ) ................................................................................... 24
Figura 13 – Tipo estaca onde α=-ϕ/8 ..................................................................................... 25
Figura 14 - Gráfico das curvas Qft1 e Qft2 ............................................................................ 26
Figura 15 - Esquema planta e corte da fundação por pregagens 16Φ25 ............................. 40
Figura 16 - Dimensões da sapata única ................................................................................ 43
Figuras 17 e 18 - Deformada análise linear e deformada análise não-linear (fator de escala
1000) ........................................................................................................................................... 47
Figura 19 - Pressão de contacto análise não-linear [kN/m2]................................................. 48
Figura 20 – Reações verticais nos nós – análise não-linear ................................................. 48
Figura 21 - Tronco de cone mobilizado com inclinação β ..................................................... 54
Figura 22 - Esquema do cilindro de solo................................................................................ 57
Figura 23 - Esquema de rutura localizada no tubulão ........................................................... 58
Figura 24 - Verificação da intersecção dos cones de solo mobilizados ................................ 61
Figura 25 - Esquema do tronco de pirâmide mobilizado ....................................................... 63
Figura 26 - Esquema de verificação da intersecção das pirâmides de solo mobilizadas ..... 67

v
Índice de tabelas

Tabela 1 - Cargas nas fundações torre A60D2 30m, valores não majorados ......................... 2
Tabela 2 - Principais tipos de fundação ................................................................................... 4
Tabela 3 - Valores de Ct (Projectos Mecânicos das linhas aéreas de transmissão) [2] ......... 8
Tabela 4 - Valores de k0,3 [5] ................................................................................................ 11
Tabela 5 - Quadro Nº5.1 do Regulamento - Características de terreno para efeitos de cálculo
de fundações [1] .......................................................................................................................... 15
Tabela 6 - Estado de alteração .............................................................................................. 27
Tabela 7 - Estado de fracturação ........................................................................................... 28
Tabela 8 - Classificação segundo índice de RQD ................................................................. 29
Tabela 9 - Avaliação de parâmetro dos solos em função do estudo de compacidade ou
consistência (Bowles, 1997) [9]................................................................................................... 30
Tabela 10 - Amostra S1 ......................................................................................................... 31
Tabela 11 - Classificação amostra S1 ................................................................................... 31
Tabela 12 - Peso específico informação EC1 ........................................................................ 31
Tabela 13 - Peso específico segundo o Regulamento [1] ..................................................... 32
Tabela 14 - Amostra S2 ......................................................................................................... 32
Tabela 15 - Classificação amostra S2 ................................................................................... 32
Tabela 16 - Amostra S3 ......................................................................................................... 33
Tabela 17 - Resultados ensaio SPT ...................................................................................... 33
Tabela 18 - Resultados correlações com NSPT .................................................................... 34
Tabela 19 - Valores adotados para o solo da amostra S3..................................................... 34
Tabela 20 - Classificação camada rochosa amostra S3 ........................................................ 34
Tabela 21 - Tensão admissível ao longo da profundidade .................................................... 35
Tabela 22 - Valores 𝛾𝐺, 𝑗 e 𝛾𝑄, 𝑗 segundo o Quadro A1.2(B) – Valores de cálculo das ações
(STR/GEO) .................................................................................................................................. 37
Tabela 23 - Valores 𝛾𝐺, 𝑗 e 𝛾𝑄, 𝑗 segundo o Quadro A1.2(C) – Valores de cálculo das ações
(STR/GEO) .................................................................................................................................. 37
Tabela 24 - Cálculo esforço axial máximo por pregagem...................................................... 39
Tabela 25 - Dimensões sapata única ..................................................................................... 41
Tabela 26 - Dimensões sapata isolada com fuste ................................................................. 42
Tabela 27 - Dimensões sapata única ..................................................................................... 43
Tabela 28 - Resultados momentos derrubamento e estabilizante ........................................ 44
Tabela 29 - Equivalência de ações ........................................................................................ 44
Tabela 30 - Dados do método de cálculo .............................................................................. 44
Tabela 31 - Dimensões sapata única Método Sulzberger ..................................................... 45
Tabela 32 - Parâmetros do solo considerados ...................................................................... 45
Tabela 33 - Resultados do cálculo dos momentos M1 e M2 ................................................. 46

vi
Tabela 34 - Valores das cargas introduzidas no modelo ....................................................... 47
Tabela 35 - Imagens da representação gráfica dos momentos M11 e M22 ......................... 49
Tabela 36 - Representação gráfica da armadura necessária nas duas direções e nas duas
faces da sapata ........................................................................................................................... 50
Tabela 37 - Valores máximos de armadura ........................................................................... 51
Tabela 38 - Dimensões sapata isolada com fuste ................................................................. 51
Tabela 39 - Parâmetros do solo ............................................................................................. 52
Tabela 40 - Dimensões tubulão ............................................................................................. 53
Tabela 41 - Volume da fundação ........................................................................................... 53
Tabela 42 - Compressão máxima no solo ............................................................................. 54
Tabela 43 - Verificação segurança à tração .......................................................................... 55
Tabela 44 - Verificação de segurança ao derrubamento ....................................................... 55
Tabela 45 - Parâmetros do solo ............................................................................................. 56
Tabela 46 - Dimensões tubulão ............................................................................................. 56
Tabela 47 - Coeficiente Mγ, resultados ábaco da Figura 11 .................................................. 57
Tabela 48 - Cálculo resistência à tração Qft1 ......................................................................... 57
Tabela 49 - Resultados r e R'f................................................................................................ 58
Tabela 50 - Cálculo do fator m ............................................................................................... 59
Tabela 51 - Valores de M ....................................................................................................... 59
Tabela 52 - Cálculo resistência à tração - rutura localizada QftD ........................................... 59
Tabela 53 - Cálculo resistência à tração - rutura generalizada QftF ....................................... 60
Tabela 54 - Resistência à tração total - D>Dc ....................................................................... 60
Tabela 55 - Verificação segurança à tração .......................................................................... 60
Tabela 56 - Comparação dos resultados dos métodos de dimensionamento....................... 61
Tabela 57 - Dimensões sapata isolada com fuste ................................................................. 62
Tabela 58 - Verificação da compressão admissível no solo (metodologia simplificada,
considerando apenas os esforços axiais) ................................................................................... 63
Tabela 59 - Verificação de segurança à tração ..................................................................... 64
Tabela 60 - Raios equivalentes .............................................................................................. 64
Tabela 61 - Coeficiente Mγ retirado do ábaco Figura 11 ....................................................... 65
Tabela 62 - Cálculo resistência à tração profundidade D<Dc ............................................... 65
Tabela 63 - Valor de m ........................................................................................................... 65
Tabela 64 - Cálculo resistência à tração - rutura localizada QftD ........................................... 66
Tabela 65 - Cálculo resistência à tração - rutura generalizada QftF ....................................... 66
Tabela 66 – Resistência à tração total D>Dc ......................................................................... 66
Tabela 67 - Verificação de segurança à tração ..................................................................... 67
Tabela 68 - Comparação dos resultados dos métodos de dimensionamento....................... 67
Tabela 69 - Dimensões sapata única ..................................................................................... 68
Tabela 70 - Tabela resumo das melhores soluções de fundação para cada tipo de terreno
analisado ..................................................................................................................................... 69

vii
Notação

𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 Área da base

𝐴𝑝 Área secção transversal da pregagem

𝐶 Coesão do solo

𝐶𝑏 Coeficiente de reação no fundo de escavação

𝐶𝑖 Força de compressão majorada de um pé da torre


Coeficiente do solo das paredes laterais à profundidade t, entendendo-se por tal o
𝐶𝑡 esforço necessário, em kgf, para fazer penetrar no terreno, a 1cm de profundidade,
uma placa de 1cm2 de área
𝐷𝑐 Profundidade crítica
𝐷𝑑 Diâmetro de furação

𝐹𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 Força de atrito

𝑓𝑠𝑦𝑑 Tensão de cedência à tração do aço

𝐹𝑡,𝑚𝑎𝑥 Força horizontal de valor máximo

𝐺𝑘,𝑗 Valor das cargas permanentes

𝑘𝑠 Coeficiente de reação

𝐿𝑏 Comprimento da selagem da pregagem

𝑀𝑑𝑒𝑟 Momento de derrubamento

𝑀𝑒𝑠𝑡 Momento estabilizante

𝑃𝑃𝑓𝑢𝑛𝑑 Peso próprio da fundação

𝑃𝑃𝑠𝑎𝑝𝑎𝑡𝑎 Peso próprio da sapata

𝑃𝛾 Resistência axial máxima da pregagem

𝑄𝑓𝑡 Capacidade de carga à tração

𝑄𝑘,𝑗 Valor da sobrecarga

𝑆𝐿 Área da superfície lateral do cilindro

𝑇𝑑 Valor de dimensionamento da resistência da interface calda-terreno

𝑇𝑖 Força de tração majorada de um pé da torre

𝑇𝐾 Valor característico da resistência da interface calda-terreno


𝑇𝑢𝑙𝑡 Valor máximo (último) da resistência da interface calda-terreno

𝑉𝑠 Volume de solo

𝛾𝑑 Fator de minoração da resistência característica

𝛾𝐺,𝑗 Fator de majoração das cargas permanentes

viii
𝛾𝑠 Peso específico do solo

𝛾𝑄,𝑗 Fator de majoração da sobrecarga

𝜇 Coeficiente de atrito
𝜉 Fator de correlação entre a resistência última e a resistência máxima
𝜎𝑎𝑑𝑚 Tensão admissível do solo

𝜎𝑐𝑜𝑚𝑝 Tensão de compressão


𝜙 Ângulo de atrito do solo

ix
1. Introdução

Com o crescimento das grandes cidades nasce a necessidade da construção de grandes


centrais de produção de energia elétrica longe dos núcleos populacionais, é então necessário
fazer o seu transporte através de linhas de alta tensão. Sendo de grande importância para o
desenvolvimento de atividades económicas, existe uma constante atualização de técnicas,
materiais e equipamentos, como indicado no Decreto Regulamentar nº1/92 de 18 de Fevereiro.

A construção de linhas de transporte de energia implica a implantação de torres (Figura 1)


com afastamentos e dimensões dependentes da topografia do terreno e das necessidades de
transporte de energia. Este tipo de construção para além de depender fundamentalmente da
topografia do terreno, depende também da composição geológica do mesmo influenciando o tipo
de fundações das torres. Por se prolongarem por vários quilómetros, uma mesma linha pode
abranger tipos de terreno muito heterogéneo, levando à necessidade da realização de várias
sondagens geológicas.

Uma boa análise das amostras das sondagens e a exploração dos diferentes tipos de
fundação adequadas pode implicar uma diferença significativa ao nível dos custos da construção
das linhas de alta tensão.

Surge então a importância de sistematizar os métodos de cálculo dos vários tipos de fundação
aplicáveis a torres de alta tensão para cada tipo de terreno.

Os tipos de fundação mais usuais são a fundação por sapata única, fundação por pregagens,
fundação por tubulão e fundação por sapatas isoladas com fuste. O dimensionamento das
fundações é regulado pelo Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão [1],
onde são definidos coeficientes de segurança e alguns dados relativos ao solo.

Os métodos de cálculo de dimensionamento que serão abordados baseiam-se em conceitos


de estabilidade estrutural e em alguns estudos e teorias, nomeadamente o Método de Sulzberger
[2], o Método de Biarez e Barraud [3] e as Recomendações de Clouterre [4].

O presente trabalho apresenta primeiramente um conjunto de dados reais fornecidos relativos


à construção de uma linha de alta tensão, seguidamente serão descritos os métodos de cálculo
utilizados para cada um dos quatro tipos de fundação em estudo. Seguindo-se da análise dos
dados das amostras de carotagem e posterior dimensionamento das soluções para cada tipo de
terreno. No final, será apresentado um quadro resumo com as soluções mais indicadas para
cada tipo de solo, juntamente com a análise de resultados e conclusões.

1
Figura 1 - Fotografia da fundação de uma torre de alta tensão

O presente trabalho, para além da descrição teórica dos métodos de cálculo dos quatro tipos
de fundação, enquadra-se numa situação real. Os dados fornecidos de três amostras de
carotagem são relativos a uma linha de alta tensão em fase de execução. As três amostras S1,
S2 e S3 são representativas de três tipos de solo com características distintas, permitindo assim
explorar os diferentes tipos de fundação em estudo.

Os resultados dos ensaios realizados e análise geológica apresentam-se no Anexo A. As


amostras encontram-se ordenadas de forma decrescente quanto às capacidades de resistência
mecânica do terreno. A completa análise das amostras é feita no capítulo 3.

Os dados relativos às torres de alta tensão incluem três tipos de torre com diferentes alturas
(Anexo A). As torres são de duplo circuito e transportam 220kV. Adotou-se para o
dimensionamento das fundações a torre com o carregamento mais exigente. A torre analisada é
A60D2 com 30 m de altura, torre de amarração em linha dupla com desvio máximo de 60º. O
carregamento fornecido (Tabela 1) engloba o peso próprio da estrutura e equipamentos, bem
como as ações mais condicionantes a que a estrutura e os cabos estão sujeitos, nomeadamente
o vento, fator muito condicionante. Os dados fornecem o carregamento mais condicionante
distribuído por forças nas três direções por cada pé da torre.

Tabela 1 - Cargas nas fundações torre A60D2 30m, valores não majorados

A60D2

Esforço transverso Esforço Tranverso


Altura Tração T Compressão
torre (m) (kN) Long Vl,T Trans Vt,T C (kN) Long Vl,C Trans Vt,C
(kN) (kN) (kN) (kN)

30 1533,15 169,33 174,55 1720,04 174,55 194,24

2
2. Descrição dos métodos de cálculo

Neste presente capítulo serão descritos os diferentes métodos de cálculo para cada tipo de
fundação a analisar – sapata única, pregagens, tubulão e sapatas isoladas com fuste.

As fundações dividem-se em dois tipos, fundação única e fundação isolada. A fundação única
é um maciço único aos quais estão ligados os quatro pés da torre, a fundação isolada consiste
em quatro fundações independentes, uma para cada pé da torre.

O dimensionamento de um maciço único de fundação é essencialmente condicionado pela


estabilidade ao derrubamento. O dimensionamento das fundações isoladas são condicionadas
pelos esforços verticais, uma vez que, para as torres de alta tensão, são de ordem de grandeza
superior aos horizontais. Desta forma, a verificação de segurança à tração e à compressão é
condicionante para fundações isoladas.

Nas fundações isoladas dimensiona-se uma fundação para as ações mais condicionantes e
assume-se a construção das quatro com as mesmas dimensões, uma vez que o sentido do vento
e das restantes ações pode variar e por motivos de segurança todas as fundações deverão estar
dimensionadas pelas ações mais condicionantes.

3
Tabela 2 - Principais tipos de fundação

Principais tipos de fundação

3.1. Fundação por sapata


única

3.2. Fundação por pregagens (x4 apoios)

3.3. Fundação por tubulão (x4 apoios)

3.4. Fundação por sapata


(x4 apoios)
isolada com fuste

4
2.1. Fundação por sapata única

A fundação por sapata única funciona pelo efeito estabilizante do seu peso próprio. Em termos
de processo construtivo, a construção deste tipo de fundação implica uma grande área de
escavação, pelo que não deverá ser implantada a uma grande profundidade. A ligação estrutura-
fundação é feita por pequenos fustes, as cantoneiras da estrutura prolongam-se até à base da
sapata de forma a transmitir as tensões ao maciço.

De seguida apresentam-se dois métodos para o dimensionamento da sapata única, o primeiro


segundo o dimensionamento pela estabilidade utilizando o coeficiente de segurança presente no
Artigo 74º do Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão [1]. O segundo
método apresentado baseia-se nos estudos desenvolvidos pelo Eng. Sulzberger que constitui o
Método de Sulzberger [2].

2.1.1. Dimensionamento pela estabilidade

Considerando o carregamento apresentado no esquema da Figura 2, verifica-se que a aresta


mais condicionante em termos de momento de derrubamento é a assinalada a vermelho. Desta
forma, o momento de derrubamento provocado pelo carregamento na base da torre, é calculado
pela equação ( 1 ).

Figura 2 - Esquema do carregamento e fundação por sapata única

𝐵 𝐿 𝐵 𝐿
𝑀𝑑𝑒𝑟 = 2 × 𝐶 × ( − ) − 2 × 𝑇 × ( + ) − (2 × 𝑉𝑙,𝑇 + 2 × 𝑉𝑙,𝐶 ) × 𝐻 (1)
2 2 2 2

5
Em que,

B Largura da sapata;

A Comprimento da sapata;

L Largura da base quadrada da torre de alta tensão;

H Altura da sapata.

A estabilidade do maciço é garantida pelo seu peso próprio, sendo o momento estabilizante
em relação à aresta assinalada dado pela equação ( 2 ).

𝐵
𝑀𝑒𝑠𝑡 = 𝑃𝑃𝑠𝑎𝑝𝑎𝑡𝑎 × ( ) (2)
2
O peso do solo não é considerado na estabilidade por o seu valor não ser significativo, para
além de se tratar de solo de aterro artificial. A sua não consideração está do lado da segurança.

Pelo Artigo 74º do Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão [1]

1- As fundações dos apoios deverão ser calculadas tendo e conta as seguintes condições:
a. Nas fundações cuja estabilidade se basear principalmente nas reacções
verticais do terreno deverá considerar-se um coeficiente de segurança ao
derrubamento, a justificar conforme o método utilizado, não inferior a:
i. 1,5 para solicitações normais;
ii. 1,25 para solicitações excepcionais;

Considerando as ações na base da torre como solicitações normais, adota-se como


coeficiente de segurança ao derrubamento a 1,5.

𝑀𝑒𝑠𝑡
≥ 1,5 (3)
𝑀𝑖𝑛𝑠𝑡

A força de arrastamento, embora não seja condicionante devido à diferença na ordem de


grandeza dos valores das cargas verticais com as horizontais, a expressão de cálculo da força
de atrito apresenta-se na equação ( 4 ).

𝐹𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 = 𝜇 × 𝑃𝑃𝑠𝑎𝑝𝑎𝑡𝑎 > ∑ 𝑉 (4)

6
2.1.2. Método de Sulzberger [2]

O método de Sulzberger distingue-se do anterior por se considerar reações do terreno que


beneficiam a estabilidade do maciço. O método foi estabelecido pela Comissão para a Revisão
das Normas Suíças pelo Eng. Sulzberger.

Sulzberger desenvolveu o método baseando-se no principio de que para taludes com


inclinações tais que tan ∝ < 0,01, o terreno tem comportamento elástico. Desta forma, os
pequenos deslocamentos do bloco geram tensões nas paredes verticais da escavação
proporcionais ao produto dos deslocamentos do maciço pelos módulos de elasticidade
correspondentes. O método só é aplicável a sapatas construídas sem cofragem, ou seja, com a
betonagem feita diretamente na escavação realizada.

O método propõe que a resistência do solo é nula à superfície e que cresce proporcionalmente
com a profundidade. Não se consideram as forças de atrito devido à indeterminação da sua
grandeza.

O método permite verificar a estabilidade do maciço submetido a esforços de flexo-


compressão. Considera um bloco paralelepípedo sujeito a um carregamento vertical P (peso
próprio do maciço mais estrutura) e um carregamento horizontal F, esta força horizontal provoca
um momento de derrubamento que é equilibrado pelo momento estabilizante provocado por P
juntamente com as tensões geradas pelo solo na base e paredes do maciço.

Em função das características do terreno, o bloco apresenta diferentes centros de rotação,


devido às diferentes tensões geradas. Para solos sem coesão, do tipo arenosos, o centro de
rotação coincide com o centro de gravidade (ponto O), para terrenos “plásticos” o centro de
rotação é o ponto O’ com coordenadas (b/4, 2t/3), para terrenos muito resistentes o centro de
rotação coincide com a aresta inferior, ponto O’’.

Figura 3 - Esquema dos centros de rotação do maciço

7
Sulzberger defende com base em resultados experimentais que a tensão admissível do
terreno à compressão varia proporcionalmente com a profundidade e é função do tipo de terreno
e grau de humidade.

A comissão Suíça convencionou valores aproximados dos coeficientes de terreno, Ct, sobre
as paredes verticais enterradas a 2m de profundidade, apresentados na Tabela 1.

Tabela 3 - Valores de Ct (Projectos Mecânicos das linhas aéreas de transmissão) [2]

Natureza do Terreno Ct (kgf/cm3)

Terreno lamacento e turfa leve 0,5 a 1,0

Turfa pesada, areia fina da costa 1,0 a 1,5

Dep. De terra vegetal, areia/cascalho 1,0 a 2,0

Argila molhada 2,0 a 3,0

Argila húmida 4,0 a 5,0

Argila seca 6,0 a 8,0

Argila pesada (dura) 10

Terrenos bem compactados

Terra vegetal c/ argila, areia e pedras 8,0 a 10,0

Idem, mas com muitas pedras 10,0 a 12,0

Cascalho fino c/ muita areia fina 8,0 a 10,0

Cascalho médio c/ areia fina 10,0 a 12,0

Cascalho médio c/ areia grossa 12,0 a 15,0

Cascalho grosso c/ muita areia grossa 12,0 a 15,0

Cascalho grosso c/ pouca areia grossa 15,0 a 20,0

Idem para bem compacto 20,0 a 25,0

As reações do terreno geradas encontram-se representadas no esquema abaixo. As tensões


laterais têm forma parabólica e a pressão na base tem forma linear.

8
Figura 4 - Reações do terreno

As pressões do solo são traduzidas pelas seguintes expressões:

𝐻
𝜎3 = 𝐶𝑡 tan 𝛼 (5)
3
𝜎3
𝜎2 = (6)
3

2𝐶𝑏 𝑃 tan 𝛼
𝜎1 = √ (7)
𝐴

Em que,

𝐶𝑡 – Coeficiente de terreno sobre as paredes verticais enterradas a 2m de profundidade

𝐶𝑏 – Coeficiente de reação na base

Momento de derrubamento

2
𝑀𝑑 = 𝐹 (𝑇 + 𝐻) (8)
3
Momento da ação lateral do solo

𝐴 𝑡3
𝑀1 = 𝐶 tan ∝ (9)
36 𝑡
Momento das cargas verticais

2 𝑃
𝑀2 = 𝑃 𝐵 (0,5 − √ 2 ) ( 10 )
3 2 𝐵 𝐴 𝐶𝑏 tan ∝

Condição de equilíbrio

𝑀𝑑 = 𝑀1 + 𝑀2 ( 11 )

9
Quando 𝑀1/𝑀2 < 1, a acção do terreno é menor que a das cargas verticais, é necessário
considerar-se um fator de segurança K que varia entre 1,0 e 1,5.

𝑀1 + 𝑀2
𝑀𝑑 = , 𝐾 ∈ [1; 1,5] ( 12 )
𝐾

2.1.2.1. Coeficiente de reação

Segundo o relatório Modelação de Fundações na Análise Estrutural [5], o coeficiente de


reação (Cb ou ks) para sapatas quadradas (BxB) pode ser calculado pelas seguintes expressões:

Solos arenosos:

(𝐵 + 0,3)2
𝑘𝑠 = 𝑘0,3 ( 13 )
2𝐵

Solos argilosos:

0,3
𝑘𝑠 = 𝑘0,3 ( 14 )
𝐵

Em que:

k0,3 – valor de referência obtido através de ensaios de placa


normalizados, com placas 0,30x0,30 m

10
Tabela 4 - Valores de k0,3 [5]

Tipo de terreno Características do terreno K0,3 (x103 kN/m3)

Solta 8 – 25
Areia seca ou húmida Medianamente compacta 25 – 125
Compacta 125 – 375

Solta 10 -15
Areia saturada Medianamente compacta 35 – 40
Compacta 130 – 150

Solos Arenosos 1,8

Rija 12 – 25
Argila Muito rija 25 – 50
Dura >50

11
2.2. Fundação por pregagens

As fundações por pregagens é um tipo de fundação isolada, que apenas pode ser aplicado a
solos com elevada resistência mecânica, sendo apropriado um índice de RQD superior a 50%.
É também desejável que o solo seja suficientemente consistente de forma a manter a geometria
do furo para a instalação do varão.

Este tipo de fundação é constituído por um fuste devidamente armado, que permite a ligação
das cantoneiras da torre à fundação, e por um maciço de encabeçamento das pregagens, que
garante a distribuição de esforços de tração às pregagens e a distribuição de compressões no
solo. As cantoneiras da estrutura da torre prolongam-se até à base do maciço de forma a
distribuir as tensões.

As pregagens são muito utilizadas em estruturas de contenção de terras como ancoragens


passivas. Muitos dos requisitos apresentados para este tipo de fundação por pregagem são
baseados nos estudos e normas das pregagens para essa função de contenção de terras.

A resistência das pregagens é garantida pelos três elementos envolvidos, o varão de aço, a
calda de cimento e o solo. Desta forma existem também três tipos de rotura possíveis:

o Rotura do varão quando sujeita a esforços superiores aos de dimensionamento;


o Rotura pela interface calda-terreno devido a um comprimento insuficiente e/ou fraca
resistência da união;
o Deslizamento na interface varão-calda quando utilizados varões lisos (é aconselhado a
utilização de varões nervurados).

A calda de cimento é responsável pela transferência de cargas da pregagem para o solo


através da ligação que se cria pela deformação do solo durante a escavação, este fenómeno
origina um acréscimo de tensões no varão. A calda de cimento funciona também como proteção
contra a corrosão.

Desta forma, é necessário garantir algumas características na sua composição,


nomeadamente a relação água/cimento que deverá estar entre 0,40-0,50 de forma a ser fluida e
garantir a resistência. Para reduzir riscos de corrosão dos chumbadores, deverá ser controlada
a composição da água utilizada na mistura.

O diâmetro de furação terá de ter em conta o recobrimento necessário dos varões, considera-
se que o diâmetro pode variar entre 75 a 89 mm dependendo das dimensões dos varões, ϕ25
ou ϕ32 mm. O recobrimento apropriado garante maior resistência e maior proteção à corrosão.

O comprimento de ancoragem depende do estado de alteração da rocha envolvente, para


rochas sãs ou pouco alteradas o comprimento mínimo de ancoragem é de cerca de 3 m, para
rochas moderadamente alteradas o valor mínimo de referência é de 6 m, de forma a garantir
alguma robustez pela mobilização da rocha envolvente.

12
A execução deste tipo de fundação requer mão-de-obra e equipamento especializado.

Para o dimensionamento das fundações por pregagens considera-se que o esforço axial de
tração máximo suportado por cada pregagem é o menor dos valores entre a resistência axial
máxima do chumbador, 𝑃𝛾 , e a resistência da interface calda-terreno, 𝑇𝑑 .

 Resistência axial da pregagem – calculada através do valor de cálculo da tensão de


cedência à tração do aço e da área da secção transversal do chumbador.

𝑃𝛾 = 𝑓𝑠𝑦𝑑 × 𝐴𝑝 ( 15 )

 Resistência da interface calda-terreno – baseado no método de Clouterre


(Recommandations Clouterre, 1991) [4]

O valor máximo (último) da resistência da interface calda-terreno, 𝑇𝑢𝑙𝑡 , é calculado com o valor
médio da resistência unitária última da interface calda-terreno, 𝑞𝑠 , fornecido com base em
ensaios de arrancamento, e com o fator de expansibilidade, α, cujo valor adoptado é de 1,0 (ver
Recommandations Clouterre [4]).

𝑇𝐾
𝑇𝑑 = ( 16 )
𝛾𝑑
𝑇𝑢𝑙𝑡
𝑇𝑘 = ( 17 )
𝜉

𝑇𝑢𝑙𝑡 = 𝜋 × 𝐷𝑑 × 𝛼 × 𝑞𝑠 × 𝐿𝑏 ( 18 )

Em que,

𝐷𝑑 - Diâmetro de furação;

𝐿𝑏 – Comprimento de selagem da pregagem

Considera-se como fator de minoração da resistência característica, 𝛾𝑑 , o valor 1,5 e como


fator de correlação, 𝜉, entre a resistência última e a resistência máxima 1,35.

13
2.3. Fundação por tubulão e fundação por sapatas isoladas
com fuste

A fundação por tubulão assemelha-se a uma estaca circular com um alargamento na base, o
que permite uma diferente interação com o solo. A sua construção é realizada de forma
semelhante a uma estaca moldada, com perfuração por trado, com a diferença de na base da
perfuração a máquina abrir uma base de maior diâmetro betonando uma base circular com
maiores dimensões que o resto do fuste. A armadura é colocada como se tratando de uma
estaca. De forma a garantir uma distribuição dos esforços da torre à fundação, a cantoneira do
pé da torre ficará no interior do tubulão a uma profundidade que rondará os 4 m, garantido a
distribuição de esforços e a ligação estrutura-fundação.

A fundação por sapata isolada com fuste trata-se de uma sapata com dimensões mais
reduzidas, relativamente à sapata única anteriormente descrita, que é implantada a uma maior
profundidade, o fuste garante a ligação estrutura-fundação. O fuste tem inclinação igual às
cantoneiras da estrutura da torre, que por sua vez se prolongam até à base da sapata de forma
a distribuir as tensões na sapata. A maior profundidade da sapata permite uma interação com o
solo diferente da sapata única a baixa profundidade. Em termos de processo construtivo, a
escavação deverá ser feita garantindo a verticalidade do talude de escavação de forma a não
interferir na natureza do terreno e não alterando as suas características e resistências
mecânicas.

As fundações por tubulão e sapata com fuste funcionam segundo os mesmos princípios
mecânicos, pelo que seguem os mesmos modelos de cálculo. Este tipo de fundações, quando
submetidas a esforços de tração, mobilizam com a sua base um tronco de cone/pirâmide
(dependendo da geometria da fundação) que contribui para a estabilidade como parte da
fundação.

Os modelos de cálculo propostos abordam a mobilização do solo como parte da fundação


segundo diferentes teorias. Apresenta-se em seguida um modelo baseado nos dados fornecidos
pelo Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão [1] e o modelo do método
de Biarez e Barraud [3].

2.3.1. Método baseado no ângulo fornecido pelo Regulamento [1]

Baseado no principio da mobilização de um tronco de cone ou pirâmide quando a fundação


é submetida a tração, o Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão [1]
fornece, para cada tipo de solo, valores do ângulo de inclinação β, que determina a dimensão do
tronco de cone/pirâmide.

14
Figura 5 - Tronco de cone/pirâmide com inclinação segundo ângulo β para os dois tipos de fundação

Tabela 5 - Quadro Nº5.1 do Regulamento - Características de terreno para efeitos de cálculo de


fundações [1]

Ângulo Ângulo β (graus) (a)


Massa Pressão Coeficiente de
de atrito
Natureza do solo volumica admissível compressibilidade
Fundação Fundação
int.
(kg/m3) (kPa) (daN/cm3) (b)
monobloco dividida
(graus)

Aterro não artificialmente compactado

Conforme a constituição e espessura da camada 1400 a


20 a 25 0 a 70 5 14 a 20 0 a 10
1600
da fundaçãp e a densidade e regularidade do seu
empilhamento

Terreno natural

Lodo, turfa, terreno sedimentar em geral 650 a 1100 0 0 0 0 0

Terreno incorente bem acamado:

Areia fina e média até 1mm de diâmetro de grão 1600 30 a 32 200 a 300 8 a 10 20 a 22 60 a 80

Areia grossa até 3mm de diâmetro de grão e areão


com pelo menos, um terço em volume de calhau rolado e 1800 33 a 35 300 a 400 8 a 12 20 a 25 80 a 100
calhau rolado até 70 mm de diâmetro

Terreno coerente (barro, argila):

Muito mole 1600 0 0 0 0 0

Mole (facilmente amassável) 1800 11 a 17 50 4 8 a 10 20 a 40

Consistente (dificilmente amassável) 1800 16 a 22 100 6 14 a 16 50 a 70

Médio 1700 20 a 24 200 8 22 80

Rijo 1700 22 a 30 400 10 22 a 25 90

(a) Ângulo β, ângulo de inclinação, em relação à vertical, que fazem as superfícies limítrofes do sólido de terreno
que se considera no cálculo das fundações e que têm inicío nas arestas inferiores de todos os lados do maciço.
(b) Força, em decanewtons, necessária para fazer penetrar 1cm no terreno de uma placa normal à força com 1 cm2
de superfície. Os valores indicados são valores do coeficiente de compressibilidade medido numa direcção
horizontal a cerca de 2 m de profundidade.

15
Para verificar a estabilidade da fundação é necessário verificar a segurança à compressão,
tração e derrubamento.

As forças de compressão, ação de compressão da torre e peso próprio da fundação, são


transmitidas ao solo na base da fundação. Não são consideradas as forças de atrito lateral, uma
vez que contribuem apenas pelo lado da segurança. O fator de segurança considerado é de 1,5.

𝐶𝑖 + 𝑃𝑃𝑓𝑢𝑛𝑑 𝜎𝑎𝑑𝑚
𝜎𝑐𝑜𝑚𝑝 = ≤ ( 19 )
𝐴𝑏𝑎𝑠𝑒 1,5

O conjunto peso próprio da fundação mais peso do tronco de cone/pirâmide mobilizado


estabiliza a força de tração aplicada. A força de tração atuante 𝑇𝑖 é majorada – ELU.

(𝑉𝑠 × 𝛾𝑠 ) + 𝑃𝑃𝑓𝑢𝑛𝑑 > 𝑇𝑖 ( 20 )

A verificação ao derrubamento, segundo Projectos mecânicos das linhas áreas de


transmissão [2], pode ser calculado com as seguintes equações.

Figura 6 - Esquema de um tubulão

Momento de derrubamento

𝑀𝑑𝑒𝑟𝑟𝑢𝑏 = 𝐹𝑡,𝑚𝑎𝑥 (𝛥 + ℎ) ( 21 )

16
Momento resistente lateral

 Fundação circular com as dimensões segundo o esquema da Figura 6

𝛾𝑐 (𝐷 + 𝑑). (ℎ23 + ℎ13 )


𝑀𝑅 = [𝑑. ℎ13 + + 𝐷. (ℎ33 − ℎ23 )] ( 22 )
2 2

Considerando o coeficiente de segurança 1,5 ao derrubamento do Regulamento [1].

𝑀𝑅
≥ 1,5 ( 23 )
𝑀𝑑𝑒𝑟𝑟𝑢𝑏

2.3.2. Biarez e Barraud [3]

O método desenvolvido por BIAREZ e BARRAUD (1968), na Universidade de Grenoble,


pretende estudar o comportamento de vários tipos de fundações submetidas a tração.
Fundamenta-se num número elevado de ensaios experimentais com base em modelos
analógicos bidimensionais do tipo TYLOR-SCHNEEBELI e em modelos reduzidos
tridimensionais com areia de rio e argila saturada e não saturada.

O método de Biarez e Barraud tem apenas em consideração cargas verticais. Uma vez que
a grandeza das cargas verticais na base da torre é muito superior às cargas horizontais,
considera-se aplicável o método.

O cálculo da capacidade de carga à tração, Qft, é baseado na seguinte expressão geral:

𝑄𝑓𝑡 = 𝑄𝑓𝜑 + 𝑄𝑓𝑐 𝑆𝑙 + 𝑄𝑞 + 𝑄𝛾 + 𝑃 ( 24 )

Em que,

𝑄𝑓𝜑 – Termo de atrito

𝑄𝑓𝜑 = 𝑆𝐿 × 𝛾 × 𝐷 × 𝑀𝜑 ( 25 )

𝑄𝑓𝑐 – Termo de coesão

𝑄𝑓𝜑 = 𝑆𝐿 × 𝐶 × 𝑀𝑐 ( 26 )

17
𝑄𝑞 – Termo de sobrecarga

𝑄𝑞 = 𝑆𝐿 × 𝑞 × 𝑀𝑞 ( 27 )

𝑄𝑓𝛾 – Termo de gravidade

𝑄𝑓𝛾 = 𝑆𝐿 × 𝛾𝑆 × 𝐷 × 𝑀𝛾 ( 28 )

P – Peso próprio da fundação

Sendo,

𝑆𝐿 = 2𝜋 × 𝑅 × 𝐷 ( 29 )

A equação geral pode ser expressa pela seguinte equação:

𝑄𝑓𝑡 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾𝑆 𝐷 (𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 ) + 𝑞 𝑀𝑞 ] + 𝑃 ( 30 )

Os parâmetros “M” obtém-se através de ábacos que dependem das características do terreno
em estudo.

De todas as fundações estudadas - estacas, sapatas, placas, sapata e chaminé, será apenas
detalhado o de sapata e chaminé que corresponde à fundação por tubulão e sapata isolada com
fuste.

O estudo da sapata e chaminé necessita da determinação de características que dividem os


solos em duas categorias definidas no método. As categorias de solo definem a configuração da
superfície de rutura.

1ª Categoria – solos argilosos com elevado grau de saturação e ângulo de atrito interno
baixo ϕ ≤ 15°
2ª Categoria – solos arenosos saturados e não saturados e argilosos com baixo grau de
saturação e ângulo de atrito interno alto ϕ > 15°

A superfície de rutura depende ainda do conceito de profundidade critica, Dc. Até atingir a
profundidade critica, a superfície de rutura forma-se desde a aresta superior da sapata até à
superfície do terreno. Quando a profundidade ultrapassa a crítica, o volume de solo mobilizado
não corresponde a toda a profundidade, a rutura é localizada.

18
I. Solos 1ª categoria

As superfícies de rutura dos solos de 1ª categoria encontram-se esquematicamente


representadas da Figura 7. O fuste contribui apenas com o seu peso próprio, o seu volume é
descontado no volume do tronco de cone (comportamento de estaca). O valor do ângulo α é
convencionado positivo com a vertical, o que traduz a configuração do tronco de cone com base
na aresta superior da sapata. Com base em resultados experimentais, o valor de α apresenta um
valor relativamente constante no domínio da aplicação de α = π/16, correspondendo a um único
valor de profundidade critica relativa Dc/R=5.

A superfície de rutura atinge o nível do terreno para uma profundidade inferior à crítica,
quando é superior à crítica a superfície não atinge o nível do terreno e origina-se um efeito de
sobrecarga ( 𝑞 = 𝛾(𝐷 − 𝐷𝑐 ) ) na região superior ao cone, como se encontra representado no
esquema abaixo.

Figura 7 - Esquema para solos 1ª categoria

Para D ≤ Dc utiliza-se a expressão geral com os parâmetros Mc, Mφ + Mγ e Mq calculados com


valor positivo de α, através dos ábacos da Figura 8.

𝑄𝑓𝑡 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾𝑆 𝐷 (𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 ) + 𝑞 𝑀𝑞 ] + 𝑃 ( 31 )

Para sapatas retangulares ou quadradas, adota-se um raio equivalente tal que 𝑅 = 𝑅𝑒 = 𝑝/8,
em que 𝑝 é o perímetro.

19
Figura 8 - Solos 1ª categoria, D<Dc

Para D > Dc, a capacidade de carga à tração é dada pela soma de dois termos:

 Qft1 corresponde à ação da sapata fundada a uma profundidade crítica, sendo igual
à expressão utilizada anteriormente.
 Qft2 corresponde à resistência provocada pelo fuste até a uma profundidade de D-Dc,
o cálculo é assim semelhante a uma estaca com rutura generalizada, com valor de α
negativo.

𝑄𝑓𝑡 = 𝑄𝑓𝑡1 + 𝑄𝑓𝑡2 ( 32 )

Em que,

𝑄𝑓𝑡1 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾𝑆 𝐷𝑐 (𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 ) + 𝑞𝑀𝑞 ] + 𝑃(𝐷𝐶) + 𝑃𝑆 ( 33 )

Para sapatas retangulares ou quadradas 𝑅 = 𝑅𝑒 = 𝑝/8.

20
Os coeficientes “M” retiram-se dos ábacos da Figura 13.

𝑄𝑓𝑡2 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾 (𝐷 − 𝐷𝑐 )(𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 )] + 𝑃𝐹(𝐷−𝐷𝑐) ( 34 )

Para fustes retangulares ou quadrados 𝑅𝑓 = 𝑅𝑒𝑓 = 𝑝𝑓 /2𝜋, em que 𝑝𝑓 é o perímetro do


fuste.

Os coeficientes “M” retiram-se dos ábacos da Figura 8.

II. Solos 2ª categoria

As superfícies de rutura para os solos de 2ª categoria encontram-se representadas na Figura


9. O ângulo α é por convenção negativo o que corresponde a um tronco de cone com base no
nível do terreno.

Quando a profundidade da sapata é inferior à profundidade crítica a rutura é generalizada e


a superfície gerada corresponde a um tronco cónico com base ao nível do terreno.

Figura 9 - Esquema para solos 2ª categoria

21
Para D < Dc é utilizada a expressão geral, os parâmetros Mc, Mφ + Mγ e Mq são calculados
utilizando valores negativos de α, através dos ábacos das Figuras 10 e 11.

𝑄𝑓𝑡 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾 𝐷 (𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 ) + 𝑞 𝑀𝑞 ] + 𝑃 ( 35 )

Para sapatas retangulares ou quadrados 𝑅 = 𝑅𝑒 = 𝑝/2𝜋, em que 𝑝 é o perímetro.

Figura 10 - Solos 2ª categoria, D>Dc, ϕ > 15º, C≠0

22
Figura 11 – Parâmetro Mγ Solos 2ª categoria, C=0, ϕ > 15º a 20º, D<Dc (Mϕ=0 e Mq=0)

Para profundidades superiores à crítica, D>Dc, a rotura é localizada junto à sapata, a


superfície de rutura tem aparência cilíndrica no sistema bidimensional e aparência de toro no
sistema tridimensional. Este fenómeno verifica-se apenas em solos arenosos ou argilosos com
ângulo de atrito de valor elevado. No caso dos solos argilosos compactos o efeito ocorre sem a
rotação do material para baixo da sapata.

O fenómeno de rotura localizada foi observado em modelos experimentais, a formação de


uma cunha de solo que se torna parte da sapata provocando o movimento vertical das partículas
de solo por caminhos circulares em ambos os lados da base. Este efeito de rutura localizadas
gera forças que contribuem para a resistência à tração da fundação.

A resistência à tração do conjunto sapata e fuste para uma profundidade superior à crítica é
igual á soma das duas resistências provocadas pelos dois tipos de rutura, a rutura localizada ao
nível da base e a rotura global ao longo do comprimento da chaminé segundo o ângulo α = - ϕ/8.

Para D > Dc:

𝑄𝑓𝑡 = 𝑄𝑓𝑡𝑏 + 𝑄𝑓𝑡𝑓 + 𝑃 ( 36 )

Em que,

𝑄𝑓𝑡𝑏 = (𝑆𝑏 − 𝑆𝑓 ) 𝑚 𝑀 (𝛾 𝐷 tan 𝜙 + 𝐶) ( 37 )

23
Sendo,

1 𝑒
𝑚 =1− sin−1 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒 < 𝑅 − 𝑅𝑓 ( 38 )
2𝜋 𝑅 − 𝑅𝑓

𝑚 = 0,75 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒 ≥ 𝑅 − 𝑅𝑓 ( 39 )

Em que,

e – espessura da base da “sapata e chaminé”

O fator m tem valor compreendido entre 0,75 e 1,0.

O coeficiente M pode ser obtido pelo ábaco da Figura 12 ou pela equação ( 40 ).

12𝜋 𝑅𝑓 𝑅𝑓2
𝑀= − 1,6 (1 − 1,9 + 0,9 2 )
𝜋 2 𝑅𝑓 6 𝑅 𝑅 ( 40 )
1 + 6 tan 𝜙 ( − ) + 2 (1 + + tan 𝜙)
4 𝜋 𝑅 𝜋

Figura 12 - Gráfico do fator M(Rf/R,ϕ)

Para sapata e chaminé com secção retangular é valido considerar M=Mb para qualquer valor
de rácio Bf/B.

4𝜋
𝑀 = 𝑀𝑏 = 𝜋 ( 41 )
1 + tan 𝜑
2
O fuste atua como uma estaca com um ângulo de rutura α = - ϕ/8, a resistência provocada é
calculada pela equação ( 42 ). Os coeficientes Mc, Mφ + Mγ e Mq retiram-se dos ábacos da Figura
13.

𝑄𝑓𝑡𝑓 = 𝑆𝐿 [𝐶 𝑀𝑐 + 𝛾 𝐷 (𝑀𝜙 + 𝑀𝛾 ) + 𝑞𝑜 𝑀𝑞 ] ( 42 )

24
Para sapatas retangulares ou quadrados 𝑅 = 𝑅𝑒 = 𝑝/2𝜋, em que 𝑝 é o perímetro.

Figura 13 – Tipo estaca onde α=-ϕ/8

O valor da profundidade crítica pode ser determinado pela intersecção das duas curvas que
traduzem a variação da resistência à tração com a profundidade (gráfico da Figura 14). Em
termos de dimensionamento, deverá ser adotado o menor valor de Qft.

25
Figura 14 - Gráfico das curvas Qft1 e Qft2

26
3. Análise das sondagens dos terrenos de
fundação

3.1. Caracterização e classificação de maciços rochosos

O primeiro passo para o dimensionamento das fundações é a análise do tipo de solo das
amostras fornecidas, é necessário caracterizar e classificar os maciços.

A classificação de maciços rochosos [6] divide-se em dois tipos: classificação geológica e


classificação litológica.

 Classificação geológica engloba classificação litológica e a qualidade do maciço


rochoso.
 Classificação litológica engloba mineralogia, estrutura da rocha, textura da rocha,
composição química, coloração, entre outros.
Para este tipo de análise, o mais importante é determinar a qualidade do maciço, a sua
determinação envolve o estado de alteração e o grau de fracturação. Ambos os parâmetros são
fornecidos nas tabelas das amostragens.

Qualidade do maciço rochoso

1. Estado de alteração [6]


Tabela 6 - Estado de alteração

Símbolos Designações Descrição

W1 São Sem alteração

W1-2
Sinais de alteração apenas nas
W2 Pouco alterado
imediações das descontinuidades

Alteração visível em todo o


W3 W3 Medianamente alterado maciço rochoso mas a rocha não
é friável
Alteração visível em todo o
W4 Muito alterado maciço rochoso mas a rocha é
parcialmente friável
W4-5 O maciço apresenta-se
completamente friável,
W5 Decomposto
praticamente com comportamento
de solo

27
2. Estado de fracturação [6]
Classificação da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (SIMR)

Tabela 7 - Estado de fracturação

Intervalos Símbolos Designações

>200 F1 Muito afastadas


F1-2 Afastadas
60-200 F2 Afastadas

Medianamente Medianamente
20-60 F3 F3
afastadas afastadas

6-20 F4 Próximas
F4-5 Próximas
<6 F5 Muito próximas

3. RQD – Rock Quality Designation [6]

O índice RQD proposto por D. Deere em 1964, engloba os dois critérios, o estado de alteração
e o estado de fracturação. A sua determinação é feita pela observação de uma amostra de
carotagem segundo a seguinte fórmula.

100 × 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎𝑠 > 10𝑐𝑚


𝑅. 𝑄. 𝐷. = ( 43 )
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑎𝑟𝑜𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚

O RQD é calculado a cada metro de perfuração, sendo o comprimento de carotagem 1m, as


sondagens devem ser realizadas utilizando amostradores de parede dupla ou tripla e com
diâmetro igual ou superior a 76mm. Maciços muito anisotrópicos ou amostragens de diâmetro
muito pequeno não devem ser avaliados por este critério.

A classificação do maciço rochoso é feita por intervalos como indicado na Tabela 8.

28
Tabela 8 - Classificação segundo índice de RQD

RQD (%) Designação

0 – 25 Muito fraca

25 – 50 Fraca

50 – 75 Razoável

75 – 90 Boa

90 - 100 Excelente

4. SPT [7]

No registo da sondagem da amostra de solo S3, apresenta-se os resultados do ensaio de


penetração dinâmica SPT. Este ensaio é um dos mais utilizados para o reconhecimento das
condições do terreno, principalmente para a determinação das propriedades mecânicas dos
solos arenosos. Através de correlações podem ser aferidos vários parâmetros do solo.

O ensaio é realizado na base de um furo de sondagem, cravando no terreno um amostrador


normalizado, com dimensões e energia de cravação normalizadas, com uma massa de 63,5kg a
uma altura de queda de 76,0 cm. O ensaio é realizado em três fases com penetrações de 15cm,
os resultados da primeira fase são desprezados devido às perturbações causadas pelos
trabalhos de furação. O valor de NSPT é definido pelo número de pancadas necessárias para se
atingir a penetração de 30cm.

Correlações com o NSPT

Com o resultado do ensaio SPT é possível fazer correlações de forma a determinar certos
parâmetros do solo. Estas correlações em forma de tabelas, ábacos ou fórmulas são de origem
empírica, por isso o seu uso é limitado a estudos prévios.

Os valores do peso específico, γ , e do ângulo de atrito interno, ϕ, podem ser estimados


através das seguintes expressões (Silveira, 2002) [8]:

𝑁𝑆𝑃𝑇
𝛾 = [14,0 + ( )] [𝑘𝑁/𝑚3 ] ( 44 )
2,5
𝜙 = 15 + √20 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 [ ° ] ( 45 )

29
Ambas as equações são para solos sem presença do nível da água. Nas presentes amostras
verifica-se que não existe nível de água, estando as três amostras de solos completamente não
saturadas.

Tabela 9 - Avaliação de parâmetro dos solos em função do estudo de compacidade ou consistência


(Bowles, 1997) [9]

Compacidade
Características Muito
Muito fofa Fofa Média Compacta
compacta
Densidade
0 0,15 0,35 0,65 0,85 – 1,0
Relativa

SPT 0 4 10 30 50

Φ (°) 25 - 30 27 - 32 30 - 35 35 - 40 38 – 43

γ (tf/m3) 1,12 – 1,60 1,44 – 1,76 1,76 – 2,25 1,76 – 2,24 2,24 – 2,40

Analisando a constituição das amostras de solos, verifica-se que nas três sondagens a
camada superficial é constituída por areia argilosa e as camadas inferiores formadas por siltitos
de diferentes estados de degradação. Ao observar esta informação e as imagens fornecidas
(Anexo A), conclui-se que se trata de siltito argiloso.

Siltito [10]

O siltito é uma rocha de origem detrítica, consolidada e a sua granolometria está


compreendida entre os valores 1/256 < ϕ < 1/16 mm. A sua textura é fragmentária compacta a
pulverulenta com fragmentos muito finos (não distinguíveis). A rocha é formada pela acumulação
de sedimentos silte, composto principalmente por quatzo, feldspato, micas e argila.

Este tipo de rocha é considerada rocha branda, o que, para diversos autores, significa um
estado de transição entre um solo e uma rocha. A sua classificação é feita em termos de
propriedades mecânicas e de durabilidade.

A gama de tensões admissíveis de compressão para as rochas brandas é grande e com


grande variação entre autores, admite-se no presente trabalho um máximo de 1000 kPa para o
siltito com menor estado de degradação (amostra S1) e 800 kPa para o estado intermédio
(amostra S2).

30
4.2. Amostra S1

Tabela 10 - Amostra S1

Amostra S1

Siltito violeta com deposição de


Rocha
óxidos amarelados

Terreno de fundação à profundidade de 3m e de 5m.

Tabela 11 - Classificação amostra S1

Parâmetros Classificação Designações

Estado de alteração W4 Muito alterada

Fraturas medianamente
F3
Estado de afastadas
fracturação
F4 F5 Fraturas próximas

50-75% (3m) Razoável


RQD
75-100% (5m) Boa a excelente

O maciço rochoso da amostra de terreno S1 apresenta boas características de fundação.


Trata-se de um siltito pouco alterado, embora apresente-se com fraturas próximas. Os níveis de
RQD chegam perto dos 100%, o que significa ser uma rocha considerada boa ou até excelente.

Tensão admissível considerada: 𝜎𝑎𝑑𝑚 ≤ 1000𝑘𝑃𝑎

A informação contida no EC1 [11] para o peso específico dos materiais semelhantes ao solo
em análise apresenta-se na Tabela 12.

Tabela 12 - Peso específico informação EC1

Peso específico
(kN/m3)
Areia 14,0 a 19,0
Arenito 21,0 a 27,0

O Regulamento [1] apresenta na Tabela 5 alguns valores para os pesos específicos de solos
genéricos, retirando-se o seguinte valor:

31
Tabela 13 - Peso específico segundo o Regulamento [1]

kg/m3

Areia fina até ϕ 1mm 1600

Com base nesta informação, considerou-se a aproximação pelo lado da segurança do peso
específico de 𝛾𝑠 = 19,0 𝑘𝑁/𝑚3 .

4.3. Amostra S2

Tabela 14 - Amostra S2

Amostra S2

Siltito violeta com níveis


Rocha
conglomeráticos intercalados

Terreno de fundação à profundidade de 3m.

Tabela 15 - Classificação amostra S2

Parâmetros Classificação Designações

Estado de alteração W2 Pouco alterada

Estado de
F4 Fraturas próximas
fracturação

RQD 50-75% (3m) Razoável

A amostra de terreno S2 apresenta um estado de degradação da rocha superior à amostra


S1, ainda assim as suas capacidades mecânicas encontram-se ao nível de rocha branda.

Tensão admissível considerada: 𝜎𝑎𝑑𝑚 ≤ 800𝑘𝑃𝑎

Peso específico considerado: 𝛾𝑠 = 19,0 𝑘𝑁/𝑚3 (ver 4.2)

32
4.4. Amostra S3

Tabela 16 - Amostra S3

Amostra S3

Siltito decomposto recuperado


(0,80 – 3,10m)
como silte de tons violetas
Camadas
terreno
Siltito conglomerático de tons
(3,10 – 9,12m)
violetas e esbranquiçados

A primeira camada (0,8 – 3,10m) não tem informação do estado de alteração nem fracturação,
o índice de RQD é zero. A informação existente são os resultados do ensaio SPT. O que significa
que esta primeira camada de terreno trata-se de solo não rochoso.

Tabela 17 - Resultados ensaio SPT

1ª Fase (nº 2ª Fase (nº 3ª Fase (nº Penetração


Profundidade
pancadas) pancadas) pancadas) (cm)

1,0 m 22 7 0 30

2,0 m 12 18 24 30

3,0 m 10 - - 10

O ensaio realizado aos 3,0m não obteve resultados nas 2ª e 3ª fases, o que se justifica pela
proximidade ao estrato rochoso.

Correlações com NSPT

Para calcular as correlações com o resultado do ensaio SPT calculou-se a média dos
resultados dos ensaios nas profundidades 1,0 e 2,0m.

33
Tabela 18 - Resultados correlações com NSPT

NSPT (média dos valores) 12,25

γ (kN/m3) 18,9
Resultados fórmulas
( 44 )e( 45 )
Φ (°) 30,65

Resultados Tabela 9 -
γ (kN/m3) 17,6 – 2,08
Avaliação de
parâmetro dos solos
em função do
estudo de Φ (°) 30 - 35
compacidade ou
consistência
(Bowles, 1997)

Consideram-se as aproximações apresentadas na Tabela 19.

Tabela 19 - Valores adotados para o solo da amostra S3

γ (kN/m3) 18,5

Φ (°) 30

A segunda camada (3,10 – 9,12m) apresenta as mesmas informações que as amostras


anteriores.

Tabela 20 - Classificação camada rochosa amostra S3

Parâmetros Classificação Designações

Estado de alteração W2 Pouco alterada

Estado de fracturação F4 F5 Fraturas próximas

25-50% (4,6–5,0m) Fraca


RQD
75-100% (>8,1m) Boa a excelente

34
Tabela 21 - Tensão admissível ao longo da profundidade

Tensão admissível
Profundidade
(kPa)

1,0 – 2,0 m > 600

2,0 – 3,0 m 500

> 3,0 m > 600

A amostra S3 apresenta o pior estado de degradação da rocha, até sensivelmente 3m de


profundidade, o siltito encontra-se decomposto, a partir dos 3m ainda se apresenta como rocha
mas com níveis de RQD muito baixos, considerando-se assim a rocha como muito branda ou
fraca.

35
5. Definição de ações e combinações

5.1. Definição de ações

Considera-se como carga permanente apenas o peso próprio da fundação e o peso do solo.
As forças ao nível da base da torre, que foram fornecidas como sendo as resultantes do peso
próprio do conjunto estrutura mais equipamentos juntamente com as ações que atuam na torre,
são consideradas como sobrecarga, uma vez que englobam ações e sobrecargas aplicadas na
estrutura.

5.2. Combinação de ações

5.2.1. Estado limite último

Segundo o EC 0, 6.4.2 (3) [12], a verificação aos estados limite últimos é considerada quando
se trata de um estado limite de rotura ou deformação excessiva (STR e/ou GEO), sendo a
condição a verificar:

𝐸𝑑 ≤ 𝑅𝑑 ( 46 )

Em que:

𝐸𝑑 valor de cálculo do efeito das ações;

𝑅𝑑 valor de cálculo da resistência correspondente.

Segundo o Anexo A1, A1.3 [12]:

(4) O projecto de elementos estruturais (STR) que não envolva acções geotécnicas deverá ser
verificado utilizando os valores de cálculo das acções indicadas no Quadro A1.2(B).

(5) O projecto de elementos estruturais (sapatas, estacas, muros de caves, etc.) (STR) que
envolva ações geotécnicas e a resistência do terreno (GEO) deverão ser verificado utilizando
uma das três abordagens seguintes:

- Abordagem 1: aplicação, em cálculos separados, dos valores de cálculo do Quadro A1.2(C) e


do quadro A1.2(B) às acções geotécnicas, assim como às outras ações sobre a estrutura ou dela
provenientes. Nos casos correntes, o dimensionamento das fundações é determinado pelo
Quadro A1.2(C) e a resistência estrutural é determinada pelo Quadro A1.2(B)

36
Para uma combinação tal que:

∑ 𝛾𝐺,𝑗 𝐺𝑘,𝑗 + ∑ 𝛾𝑄,𝑗 𝑄𝑘,𝑗 ( 47 )


𝑗≥1 𝑖>1

Os coeficientes 𝛾𝐺,𝑗 e 𝛾𝑄,𝑗 encontram-se os Quadros A1.2(B) e A1.2(C) do Anexo A [12].

Tabela 22 - Valores 𝛾𝐺,𝑗 e 𝛾𝑄,𝑗 segundo o Quadro A1.2(B) – Valores de cálculo das ações (STR/GEO)

Ação desfavorável Ação favorável

𝛾𝐺,𝑗 1,35 1,00

𝛾𝑄,𝑗 1,50 0

Tabela 23 - Valores 𝛾𝐺,𝑗 e 𝛾𝑄,𝑗 segundo o Quadro A1.2(C) – Valores de cálculo das ações (STR/GEO)

Ação desfavorável Ação favorável

𝛾𝐺,𝑗 1,00 1,00

𝛾𝑄,𝑗 1,30 0

37
6. Dimensionamento

Com base na caracterização dos três tipos de solo apresentada anteriormente, apresenta-se
para cada amostra de solo as soluções de fundação possíveis. Será dimensionado com maior
detalhe um exemplo de cada tipo de fundação em estudo, associado a um tipo de solo.

Para cada tipo de fundação serão aplicados os métodos de cálculo descritos anteriormente,
dimensionada a armadura e apresentadas as peças desenhadas.

6.1. Tipo de terreno S1

Numa primeira análise, principalmente devido ao elevado índice de RQD, a sugestão mais
apropriada de fundação seria a fundação por pregagens. De forma a poder comparar com outras
soluções serão também estudadas as soluções de fundação por sapata única e de sapatas
isoladas com fuste. A solução de fundação por tubulão não é indicada para este tipo de solo
rochoso.

6.1.1. Fundação por pregagens

As fundações por pregagens são aplicáveis a maciços rochosos com RQD superior a 75%, o
que nesta sondagem corresponde a uma profundidade de 5m.

Para os chumbadores foi adotada uma armadura de aço A500 com diâmetro ϕ25 mm. Assim
sendo, a resistência axial por pregagem, Py, é de 213,53 kN.

Considerando a proteção contra a corrosão das pregagens e os valores de referência


referidos anteriormente, adotou-se um diâmetro de 75 mm para o furo, ficando assim com um
recobrimento de 25 mm. Considerou-se um comprimento de selagem da pregagem no maciço
de 7,0 m, de forma a garantir a segurança, uma vez que o terreno apenas apresenta RQD > 75%
em 1 m de profundidade numa zona intermédia, o valor de RQD é maioritariamente entre 50 e
75%.

Para o cálculo da resistência da interface calda-terreno segundo o método de Clouterre


(Recommandations Clouterre 1991) [4], considerou-se um valor de coeficiente de
expansibilidade, α, de 1,0 e um valor médio da resistência unitária última da interface calda-
terreno, qs, de 300kPa para ZG2, baseado em ensaios de arranque realizados. É de notar que
este valor de qs necessita de ser confirmado com ensaios de arrancamento. O valor da
resistência da interface calda-terreno Td é de 244,35 kN.

38
Considerando o esforço axial máximo como o menor dos valores anteriores, a resistência
máxima à tração de cada chumbador é de 213,53 kN.

De forma a garantir uma folga de segurança e por fatores de construção optou-se por
considerar 16ϕ25 pregagens por pé da torre, resultando em uma tração de 143,73 kN por
pregagem.

Para as dimensões do maciço foi tido em conta o número de chumbadores e um afastamento


de 0,8m entre eles e de 0,1m à face. O maciço verifica a condição de rigidez e a tensão
admissível de compressão do solo (𝜎𝑚𝑎𝑥 < 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 1000𝑘𝑃𝑎) (ver Anexo B, B.1).

Tabela 24 - Cálculo esforço axial máximo por pregagem

Pregagens Maciço
Aço A500 Φ25 Betão C30/37

Comprimento de selagem Lb (m) 7,0 B (m) 2,6 A (m) 2,6 H (m) 1

Diâmetro furo Dd Recobrimento Área de σmax


75 25 3,98 689,98
(mm) (mm) compressão (m2) (kPa)

Resistência axial da pregagem Resistência da interface calda-terreno

qs Tult
α 1 300 501,40
(kPa) (kN)
fsyd
435 Ap (cm2) 4,91
(MPa) Tk
ξ 1,35 371,41 γd 1,5
(kN)

Pγ (kN) 213,53 Td (kN) 247,60

Esforço axial máximo por pregagem


213,53
(kN)

39
Figura 15 - Esquema planta e corte da fundação por pregagens 16Φ25

Para o cálculo de armadura inferior do maciço foi utilizado um modelo de escoras e tirantes
que considera a compressão e momentos mais desfavoráveis (Anexo B, B.1), o valor da
armadura adotada é de ϕ12//0,10 (11,31cm 2/m).

Quanto à face superior, foi utilizado um modelo de cálculo em que se considera o


comportamento de metade do maciço como uma consola, em que a força de tração das
pregagens provoca uma flexão ao nível da ligação maciço-fuste. A armadura adotada é também
ϕ12//0,10 (11,31cm2/m).

A armadura adotada para o fuste é de 12ϕ25 com estribos ESTϕ8//0,20.

Os cálculos detalhados encontram-se no Anexo B, B.1.

6.1.2. Fundação por sapata única

O dimensionamento de uma fundação por sapata única está condicionado às ações impostas,
não dependendo, numa primeira análise, do solo de fundação – dimensionamento pela
estabilidade (2.1.1). As dimensões que verificam a segurança ao derrubamento pelo método de
cálculo descrito em 2.1.1 são as apresentadas na tabela abaixo.

40
Tabela 25 - Dimensões sapata única

A (m) 12

B (m) 12

H (m) 3

Comparando com a solução anterior, verifica-se que esta acarreta um custo muito superior
em termos de betão.

6.1.3. Fundação por sapatas isoladas com fuste

Pela observação do resultado da sondagem do terreno S2, a construção de fundações


isoladas por sapata com fuste teria um máximo de profundidade de 3m. Ao nível dos 3 m de
profundidade o nível de RQD é superior a 50%, o que significa tratar-se de um maciço rochoso
com condições de fundação.

A segurança à tração para uma fundação de altura total de 3 m não é verificada em ambos
os métodos de cálculo, utilizando o ângulo β do Regulamento [1] (2.3.1) e pelo método de Biarez
e Barraud [3] (2.3.2). O peso do volume de solo mobilizado juntamente com o peso próprio da
fundação não são suficientes para estabilizar o esforço de tração aplicado.

A segurança à tração verifica-se para as dimensões apresentadas na Tabela 26, para os dois
métodos de cálculo.

41
Tabela 26 - Dimensões sapata isolada com fuste

b (m) 1

B (m) 3

a (m) 0,5

h (m) 5

c (m) 1

O ângulo β adotado foi de 20° e o ângulo de atrito ϕ de 30°, valores mínimos estando assim
do lado da segurança.

A fundação teria uma profundidade total de 6 m, o que significa que as escavações teriam de
ser feitas em rocha, o que complica o processo. Por outro lado, a teoria da mobilização de solo
quando a fundação é submetida à tração é aplicada a solos e não a rochas. Desta forma, os
métodos de cálculo utilizados não são representativos da realidade.

42
6.2. Tipo de terreno S2

A amostra de solo S2 apresenta-se como um terreno com resistência mecânica inferior ao


anterior, o nível de RQD é em determinadas zonas inferior a 50%, pelo que a solução de
fundação por pregagem não é aplicável.

Considera-se que existem condições de fundação a uma profundidade de 3m (RDQ > 50%),
deste modo, uma fundação por sapata única é uma solução possível, por ser um fundação de
pequena profundidade. Outra solução a ser estudada é a fundação por sapatas isoladas e fuste.

6.2.1. Fundação por sapata única

6.2.1.1. Dimensionamento pela estabilidade

As dimensões consideradas para este método de dimensionamento apresentam-se na


Tabela 27.

Tabela 27 - Dimensões sapata única

(m)
A 12
B 12
H 3

Figura 16 - Dimensões da sapata única

O momento de derrubamento provocado pelas cargas na base da torre (equação ( 1 )) é de


38769,36 kNm e o momento estabilizante do peso próprio do maciço (equação ( 2 )) é de 64800,0
kNm, verifica-se assim a condição de segurança segundo o Art.º 74 do Regulamento [1].

43
Considerando uma verificação aos estados limites últimos, as cargas da torre introduzidas no
cálculo do momento de derrubamento encontram-se com fator de majoração de 1,5.

Tabela 28 - Resultados momentos derrubamento e estabilizante

𝑀𝑑 [kNm] 38769,36
𝑀𝑒 [kNm] 64800,0
𝑴𝒆
1,67 > 𝟏, 𝟓
𝑴𝒅

Quanto ao arrastamento, tal como esperado não é condicionante uma vez que a força de
atrito, considerando 𝜇 = 0,7, é de 6300 kN, valor 5,69 vezes superior à soma das forças
horizontais mais condicionantes.

6.2.1.2. Método de Sulzberger

De forma a converter as ações fornecidas na forma como são introduzidas no método,


considera-se que as forças na base da torre na direção longitudinal, direção mais condicionante
em termos de derrubamento, resumem-se a:

Tabela 29 - Equivalência de ações

𝐹 = 2 × 𝑉𝑙,𝑇 + 2 × 𝑉𝑙,𝐶
𝑀
ℎ=
𝐿 𝐿 𝐹
𝑀 =2×𝑇× +2×𝐶×
2 2

Em que,

𝑉𝑙,𝑇 , 𝑉𝑙,𝐶 , 𝑇 , 𝐶 – Carregamento na base da torre

Os resultados da simplificação acima são os apresentados na Tabela 30. Os valores das


cargas da base da torre foram incluídos no cálculo majorados por um fator 𝛾𝑄 = 1,5 (ELU).

Tabela 30 - Dados do método de cálculo

M [kNm] 39038,29
F [kN] 1031,65
h [m] 37,84

44
O momento de derrubamento calculado foi de 40757,70 kNm.

Foram consideradas as medidas apresentadas na Tabela 31.

Tabela 31 - Dimensões sapata única Método Sulzberger

(m)
A 11
B 11
H 2,5

Analisando os parâmetros do solo necessários ao cálculo do método de Sulzberger,


classifica-se, segundo a Tabela 3, a amostra de solo S2 que envolve lateralmente a sapata até
aos 3m de profundidade como “terra vegetal com argila e pedras”, considera-se um valor de Ct
aproximado de 800 kN/m2.

Para o cálculo do coeficiente de reação, considera-se o solo como arenoso, uma vez que a
sua aparência e descrição aproxima-se mais do tipo arenoso do que argiloso. Classifica-se o
solo como “areia seco ou húmida medianamente compacta” segundo a Tabela 4, considera-se,
pelo lado da segurança, o coeficiente k0,3 de 25 MN/m 3, recorrendo à fórmula dos solos
arenosos, o coeficiente de reação ks calculado é de 145,10 MN/m3. Adota-se a aproximação de
ks = 140.000 kN/m3 para o coeficiente de reação.

Tabela 32 - Parâmetros do solo considerados

Parâmetros do solo

Ct (kN/m2) 800

ks (MN/m3) 140

Considera-se que o peso próprio do conjunto estrutura mais equipamento, carga vertical P, é
igual à diferença entre as cargas de compressão e tração. Uma vez que o carregamento
fornecido é o mais condicionante, e assim sendo, engloba para além das ações a que a torre
está sujeita, também o peso próprio do conjunto.

O valor de tan ∝ é definido pela teoria de Sulzberger sendo igual a 0,01.

Verifica-se nos resultados apresentados na Tabela 33, que a ação do terreno é inferior à ação
das cargas verticais, sendo necessária a introdução de um coeficiente K que varia entre 1 e 1,5.
Por ser mais condicionante, optou-se por considerar 1,5 para o valor de K.

45
Tabela 33 - Resultados do cálculo dos momentos M1 e M2

Momento da ação lateral do solo


38,19
M1 (kNm)
Momento das cargas verticais
40963,75
M2 (kNm)
M1/M2 0,000932 <1
K 1,50
(M1+M2)/K 27334,63 > Md = 40757,70

As condições de segurança verificam-se segundo o método de Sulzberger para medidas da


sapata inferiores às do método anterior, o que comprova que ao considerar as tensões da reação
do solo maximiza-se a estabilidade ao derrubamento.

O dimensionamento adotado foi o mais condicionante, ou seja o com maiores dimensões,


correspondendo ao primeiro método cujas dimensões são 12x12x3 m.

De forma a estudar o seu comportamento e dimensionar a armadura necessária recorreu-se


a um modelo de elementos finitos com recurso ao software SAP2000 v16.0.0.

6.2.1.3. Modelo de elementos finitos (cascas)

Para modelar a sapata única, recorreu-se a elementos de Shell-Thin – laje espessa, de


dimensões 0,5x0,5 m com espessura de 3,0 m. Sendo as dimensões da sapata 12,0x12,0x3,0m
resulta em um total de 576 elementos de laje.

O material escolhido foi o betão C30/37 pré-definido pela versão do software (v16.0.0),
segundo o EC2. Para a armadura – Rebar, definiu-se os parâmetros considerando um aço A500,
𝑓𝑦 = 435𝑀𝑃𝑎.

De forma a simular o comportamento do solo à compressão, associou-se a todos os


elementos de área uma area spring, uma mola simples, resistente apenas à compressão,
paralela ao eixo 3 na face inferior, com uma resistência igual ao valor estimado anteriormente
para o coeficiente de reação, 140.000 kN/m3.

De forma conservativa, bloqueou-se os deslocamentos horizontais de todos os pontos.

As cargas verticais e horizontais foram aplicadas em 9 pontos, simulando a degradação em


1,0x1,0 m, correspondente ao fuste de 0,8x0,8 m. O valor das cargas por pé foi dividido por 9 e
aplicados nos pontos sem serem majoradas. A carga permanente do peso próprio do maciço é
calculado pelo programa através do material definido e as dimensões.

46
Tabela 34 - Valores das cargas introduzidas no modelo

kN/m2
T 170,35
Vl (T) 18,81
Vt (T) 19,39
C 191,12
Vl (C) 19,39
Vt (C) 21,58

Através de uma Load Case definiu-se a combinação de Estados Limites Últimos, atribuindo o
coeficiente 1,0 às cargas permanentes e 1,5 às cargas aplicadas, com o tipo de análise não-
linear. De forma a comparar a diferença entre os dois tipos de análise, definiu-se uma
combinação igual à anterior com o tipo de análise linear.

Uma análise não-linear permite simular o comportamento do solo de não resistir à tração.
Para comparar a diferença entre os dois tipos de análise e de forma a demonstrar a necessidade
de uma análise não-linear para simular o comportamento do solo, apresentam-se de seguida as
imagens das deformadas de ambos os casos.

Figuras 17 e 18 - Deformada análise linear e deformada análise não-linear (fator de escala 1000)

Verifica-se pela observação das duas deformadas que a análise não-linear tem maiores
deslocamentos verticais positivos, o que confirma a representação do comportamento do solo
ao não resistir à tração.

47
Figura 19 - Pressão de contacto análise não-linear [kN/m2]

Observa-se que a análise não-linear apenas apresenta pressão negativa do lado direito e
pressão nula no lado esquerdo, mostrando a aproximação do comportamento do solo, uma vez
que apenas existe pressão de compressão do solo e nenhuma resistência à tração.

Figura 20 – Reações verticais nos nós – análise não-linear

Verifica-se pela Figura 20 que apenas existem reações à compressão do solo na área de
compressão da sapata.

É de notar que esta análise com modelos de cascas com 3m de altura é apenas uma
aproximação que pretende estudar de forma geral o comportamento do maciço e do efeito de
compressão do solo.

48
Tabela 35 - Imagens da representação gráfica dos momentos M11 e M22

M11 (kNm/m) M22 (kNm/m)

Y Y

X X

Legenda:

Sentido do momento

49
Tabela 36 - Representação gráfica da armadura necessária nas duas direções e nas duas faces da
sapata

Ast1 (m2/m) Ast2 (m2/m)


Y Y

Face
superior

X X
Y Y

Face
inferior

X X

Legenda:

Sentido da armadura

Analisando os resultados das representações gráficas da Tabela 36, verifica-se que os


valores máximos de armadura são os seguintes:

50
Tabela 37 - Valores máximos de armadura

(As/m)max (cm2/m)

Face superior 3,53

Face inferior 4,33

Atendendo a que as armaduras necessárias para assegurar a resistência ao ELU de flexão


são reduzidas, considera-se adequada a adoção de uma malha de armadura ϕ20//0,20
(15cm2/m).

6.2.2. Fundação por sapata isolada com fuste

À semelhança do caso analisado em 6.1.3, embora o terreno com boas condições de


fundação seja à profundidade de 3 m, a fundação isolada com sapata com fuste não verifica a
segurança com altura igual a essa profundidade.

A segurança é verificada para as dimensões apresentadas na Tabela 38 para ambos os


métodos de cálculo estudados.

Tabela 38 - Dimensões sapata isolada com fuste

b (m) 1

B (m) 3

a (m) 0,5

h (m) 5

c (m) 1

Os ângulos utilizados nos métodos de cálculo foram também conservativamente os valores


mínimos de 𝛽 = 20° e 𝜙 = 30°.

51
6.3. Tipo de terreno S3

O tipo de terreno 3 apresenta-se como o mais fraco em termos de condições mecânicas por
ter o maior grau de degradação da rocha. O seu estado não compacto leva à necessidade da
construção de fundações mais profundas, podendo tirar partido deste estado ao se considerar a
mobilização do solo como parte da fundação. Posto isto, as soluções de fundação por tubulão e
sapata isolada com fuste consideram-se ser as mais indicadas. Contudo, considera-se também
a hipótese de uma sapata única. A solução de fundação por pregagem não é aplicável para este
tipo de solo.

6.3.1. Fundação por tubulão

6.3.1.1. Método baseado no ângulo fornecido pelo Regulamento

Os parâmetros do solo considerados para este método de cálculo estão apresentados na


Tabela 39, correspondem à análise feita ao solo no capítulo 4.4.

Tabela 39 - Parâmetros do solo

γs (kN/m3) 18,5

σadm (kPa) 600

Φ (°) 30

β (°) 20

O ângulo β, ângulo de inclinação do tronco de cone, foi determinado recorrendo à Tabela 5.


Classificou-se o terreno como “Terreno incoerente – Areia fina”, considerou-se pelo lado da
segurança o valor mais baixo de 20°.

As medidas consideradas para o tubulão foram as seguintes:

52
Tabela 40 - Dimensões tubulão

d (m) 1,1

D (m) 2,5

h1 (m) 6

h2 (m) 6,5

h (m) 6,7

b (m) 0,5

c (m) 0,2

Δ (m) 0,5

O fuste de dimensão Δ não será considerado nos cálculos de estabilidade à compressão e à


tração, uma vez que este valor é variável pois depende da topografia do terreno onde se implanta
a torre. Para efeitos esquemáticos considera-se o valor de 0,5m para esta dimensão.

O volume de betão é calculado segundo a seguinte expressão.

𝑉𝑐 = 𝑉𝑐1 + 𝑉𝑐2 + 𝑉𝑐3 ( 48 )

Sendo,

𝜋𝑑 2
𝑉𝑐1 = (ℎ1 ) ( 49 )
4
𝜋𝑏 2
𝑉𝑐2 = (𝐷 + 𝑑 2 + 𝐷. 𝑑) ( 50 )
12
𝜋𝐷2
𝑉𝑐3 = 𝑐 ( 51 )
4

Tabela 41 - Volume da fundação

m3

Vc1 5,70

Vc2 1,34

Vc3 0,98

Vc 8,02

O volume total de betão é 8,02 m3, multiplicando pelo valor do peso específico do betão
armado, 25 kN/m3, resulta em um peso e betão armado de 200,51 kN.

53
A carga de compressão máxima é então a soma do peso de betão com a carga de
compressão por pé da torre majorada, 2580,05 kN. A compressão máxima resulta em 285,44
kN, verificando assim a segurança com um coeficiente de 1,5.

Tabela 42 - Compressão máxima no solo

Peso betão (kN) 285,39


Compressão torre (kN) 2580,05
Compressão máxima (kN) 2780,56
𝜎𝑎𝑑𝑚 = 600 𝑘𝑃𝑎
σmax (kPa) 141,61 <
1,5

Para o dimensionamento à tração é considerada a mobilização de um cone de solo com


inclinação β como indica a Figura 21. O cálculo do volume de solo estabilizante é feito segundo
a expressão ( 52 ).

Figura 21 - Tronco de cone mobilizado com inclinação β

𝑉𝑠 = 𝑉𝑠1 − 𝑉𝑠2 − 𝑉𝑠3 ( 52 )

Em que,

𝜋ℎ 2
𝑉𝑠1 = [𝐷 + (2ℎ2 . tan 𝛽 + 𝐷)2 + 𝐷. (2ℎ2 . tan 𝛽 + 𝐷)] ( 53 )
12
𝜋𝑑 2
𝑉𝑠2 = ℎ ( 54 )
4 1
𝜋𝑏 2
𝑉𝑠3 = (𝐷 + 𝑑 2 + 𝐷𝑑) ( 55 )
12

O volume de solo estabilizante é de 123,35 m3, o que corresponde a um peso de 2282,06 kN,
sendo o peso específico estimado para o solo de 18,5 kN/m3. A força estabilizante total resulta
da soma do peso próprio do tubulão com o peso do tronco do cone solo mobilizado.

54
Considerando o coeficiente de majoração da força aplicada de tração de 1,5, verifica-se a
segurança à tração.

Tabela 43 - Verificação segurança à tração

Peso de betão 𝑃 [kN] 200,51

Peso de solo mobilizado


2282,06
𝑃𝑠 [kN]
Força estabilizante total
2482,56
𝐹𝑒𝑠𝑡 [kN]
Força tração 𝑇𝑖 [kN]
2299,73
(com 𝛾𝑄 = 1,5)

𝑭𝒆𝒔𝒕 > 𝑻𝒊

A verificação ao derrubamento é calculada segundo as equações ( 1 ) e ( 2 ). Nesta verificação


considera-se o valor de Δ, uma vez que a sua consideração aumenta o valor do momento do
derrubamento, estando assim do lado da segurança a sua consideração. A segurança ao
derrubamento é verificada para um coeficiente de segurança de 1,5 (Regulamento [1]).

Tabela 44 - Verificação de segurança ao derrubamento

Momento derrubamento
2097,75
𝑀𝑑 [kN]
Momento resistente lateral
14825,9
𝑀𝑅 [kN]
𝑴𝑹
7,07 >1,5
𝑴𝒅

6.3.1.2. Método de Biarez e Barraud

O solo da amostra S3 tem um ângulo de atrito ϕ estimado de 30°, através de correlações com
a média dos ensaios SPT no tópico 4.4, o que corresponde a um solo da 2ª categoria.

Para os solos da 2ª categoria o dimensionamento deverá ser feito considerando duas


hipóteses, profundidade inferior e superior à crítica. O menor valor da resistência à tração Qft
será o condicionante.

Os parâmetros do solo estimados necessários para os cálculos apresentam-se na Tabela 45.

55
Tabela 45 - Parâmetros do solo

φ (°) 30
α (°) -30
C 0
γ (kN/m3) 18,5

As medidas consideradas são as mesmas que no método anterior, na tabela abaixo estão
indicadas as medidas do tubulão com a terminologia do método.

Tabela 46 - Dimensões tubulão

Rf (m) 0,55

R (m) 1,25

D (m) 6,7

Df (m) 6

b (m) 0,5

c (m) 0,2

O peso próprio da fundação calculado anteriormente é de 200,51 kN.

i. Profundidade inferior à crítica D < Dc

A área da superfície do cilindro de raio de base igual à base do tubulão é calculada com a
expressão:

𝑆𝐿 = 2𝜋 × 𝑅 × 𝐷 ( 56 )

O peso de solo sob a base do tubulão correspondente ao cilindro do esquema da Figura 22


é dado pela equação ( 57 ).

56
Figura 22 - Esquema do cilindro de solo

𝑏
𝑃𝑆 = [𝜋 × 𝑅2 × 𝐷 − 𝜋 × 𝑅𝑓 × 𝐷𝑓 − 𝜋(𝑅𝑓2 + 𝑅𝑓 × 𝑐 + 𝑐 2 )] 𝛾𝑠 ( 57 )
3

O coeficiente Mγ é dado pelo ábaco da Figura 11, uma vez que a coesão é igual a 0 e o ângulo
de atrito é maior que 15 e 20°. Adota-se um valor aproximado de 0,6.

Tabela 47 - Coeficiente Mγ, resultados ábaco da Figura 11

𝛷 (°) 30

𝐷
5,36
𝑅

𝐷
𝑀𝛾 (𝜙, ) 0,6
𝑅

A resistência à tração é calculada com a expressão ( 58 ).

𝑄𝑓𝑡1 = 𝑆𝐿 𝛾𝑠 𝐷 𝑀𝛾 + 𝑃 + 𝑃𝑆 ( 58 )

Tabela 48 - Cálculo resistência à tração Qft1

P (kN) Ps (kN) 𝑆𝐿 (m2) 𝛾𝑠 (kN/m3) D (m) 𝑀𝛾


200,51 495,53 52,62 18,5 6,7 0,6

𝑸𝒇𝒕𝟏 (kN) 4609,51

57
ii. Profundidade superior à crítica D > Dc

A superfície de rutura localizada junto à base do tubulão com forma circular tem um raio “r”
cuja expressão para o seu cálculo é a seguinte:

𝑟 = √(𝑅 − 𝑅𝑓)2 + 𝑏 2 ( 59 )

O raio do círculo interno do toro é dado por:

𝑅𝑓′ = 𝑅 − 𝑟 ( 60 )

Tabela 49 - Resultados r e R'f

𝑟 0,86
𝑅𝑓′ 0,39

O fator m para esta geometria é calculado em função do ângulo μ indicado na Figura 23


através da expressão ( 61 ).

1 𝑏 𝑐
𝑚 = 1− (sin−1 ( ) + sin−1 ( )) ( 61 )
2𝜋 𝑟 𝑟

Figura 23 - Esquema de rutura localizada no tubulão

58
Tabela 50 - Cálculo do fator m

𝑒 (= 𝑐) 0,2 < 𝑅 − 𝑅𝑓

𝑅 − 𝑅𝑓 0,7

𝑚 0,95 0,75 ≤ 𝑚 ≤ 1,0

O fator 𝑆𝑢 = 𝑆𝐵 − 𝑆𝐹′ que também integra a expressão da resistência ao nível da base é dado
por:

2
𝑆𝑢 = 𝑆𝐵 − 𝑆𝐹′ = 𝜋(𝑅2 − 𝑅𝑓′ ) ( 62 )

O coeficiente M, tal como referido anteriormente, pode ser calculado a partir da fórmula ( 40
) ou do ábaco da Figura 12. Adotou-se o valor 9,5, pelo lado da segurança.

Tabela 51 - Valores de M

M (fórmula) 9,42

M(ϕ,R'f/R) (ábaco) 13

Tabela 52 - Cálculo resistência à tração - rutura localizada QftD

𝑄𝑓𝑡𝐷 = 𝑆𝑢 . 𝑚 . 𝑀 . 𝛾𝑠 . 𝐷 . tan 𝜙

𝑆𝑢 𝑚 𝑀 𝛾𝑠 (kN/m3) 𝐷 (m) 𝜙 (°)

4,43 0,95 9,5 18,5 6,7 30

𝑸𝒇𝒕𝑫 (kN) 2873,78

Para a resistência do mecanismo de rutura “global” é necessário o cálculo da área de


superfície do fuste, sendo:

𝑆 = 2𝜋 × 𝑅𝑓 × 𝐷𝑓 ( 63 )

A determinação do coeficiente (𝑀𝜑 + 𝑀𝛾 ) é feita com o ábaco da Figura 13, em função dos
valores de𝐷𝑓 /𝑅𝑓 = 10,91 e ϕ = 30°, considerando-se o valor aproximado de 0,3.

59
Tabela 53 - Cálculo resistência à tração - rutura generalizada QftF

𝑄𝑓𝑡𝐹 = 𝑆𝐿 . 𝛾𝑠 . 𝐷𝑓 . (𝑀𝜑 + 𝑀𝛾 )

𝑆 (m) 𝛾𝑠 (kN/m3) 𝐷𝑓 (m) (𝑀𝜑 + 𝑀𝛾 )

20,73 18,5 6,0 0,3

𝑸𝒇𝒕𝑭 (kN) 690,46

A resistência total para a fundação com profundidade superior à crítica é a soma das duas
resistências calculadas anteriormente com o peso próprio do tubulão.

Tabela 54 - Resistência à tração total - D>Dc

𝑄𝑓𝑡𝐷 (kN) 𝑄𝑓𝑡𝐹 (kN) 𝑃 (kN)

2873,78 690,46 200,51

𝑸𝒇𝒕𝟐 (kN) 3764,74

Comparando os valores das resistências para as duas hipóteses, 𝑄𝑓𝑡1 e 𝑄𝑓𝑡2 , verifica-se que
o valor mais condicionante corresponde à segunda hipótese, profundidade superior à critica.
Comparando o valor da resistência 𝑄𝑓𝑡2 com o valor da tração, 𝑇𝑖 , majorada com o fator 𝛾𝑄 = 1,5
, a fundação verifica a segurança à tração.

Tabela 55 - Verificação segurança à tração

𝑇𝑖 (kN) 2299,73
𝑄𝑓𝑡2 (kN) 3764,74
𝑸𝒇𝒕𝟐 < 𝑻𝒊

Uma vez que as dimensões da fundação por tubulão referidas anteriormente verificam a
segurança para todas as verificações de todos os métodos de cálculo, adotou-se essas
dimensões para os desenhos de pormenor.

Um facto a verificar é se existe intersecção dos troncos de cone de solo mobilizados pelos
tubulões, uma vez que se consideram dois pés da torre simultaneamente à tração. No esquema
abaixo, verifica-se que para as fundações dimensionadas, considerando o ângulo definido pelo
Regulamento [1], não existe intersecção dos troncos de cone.

60
Figura 24 - Verificação da intersecção dos cones de solo mobilizados

Comparando as forças resistentes de ambos os métodos (ver Tabela 56) verifica-se que o
primeiro método que utiliza o ângulo β do Regulamento [1] apresenta um valor inferior o que
torna este método mais condicionante. Utilizando apenas o método de Biarez e Barraud [3] as
dimensões da fundação poderiam ser menores.

Tabela 56 - Comparação dos resultados dos métodos de dimensionamento

Força resistente método 6.3.1.1


2482,56
𝐹𝑒𝑠𝑡 [kN]
Força resistente método 6.3.1.2
3764,74
𝑄𝑓𝑡2 (kN)

6.3.1.3. Armadura

Como referido anteriormente, a armadura do tubulão é igual à armadura de uma estaca


introduzida na vertical, não existindo armadura na base saliente por motivos de impossibilidade
construtiva. A base do tubulão ao não ser armada não tem características de betão armado,
nomeadamente, não tem resistência a tensões de tração, o que torna a fundação por tubulão
uma solução desvantajosa.

A armadura adotada para a fundação por tubulão com dimensões acima indicadas é de 12ϕ25
com estribos ϕ8//0,20.

O cálculo da armadura está pormenorizado no Anexo B, B.2.

61
6.3.2. Fundação por sapata isolada com fuste

Os métodos de dimensionamento da fundação por sapata isolada com fuste são iguais aos
anteriores para a fundação por tubulão. Desta forma, o dimensionamento será descrito de uma
forma mais abreviada, enfatizando as diferenças.

6.3.2.1. Método baseado no ângulo fornecido pelo Regulamento

Os parâmetros do solo necessários ao cálculo são os referidos anteriormente na Tabela 39.

As dimensões consideradas são:

Tabela 57 - Dimensões sapata isolada com fuste

b (m) 0,8

B (m) 3,0

a (m) 0,5

h (m) 5,0

c (m) 1,0

O fuste de dimensão a não será considerado nos cálculos de estabilidade à compressão e à


tração, uma vez que este valor é variável pois depende da topografia do terreno onde se implanta
a torre. Para efeitos esquemáticos considera-se o valor de 0,5m para esta dimensão.

O volume de betão é de 12,2 m3, o que corresponde a um peso estabilizante de 305,0 kN.
Somando com o valor da carga de compressão majorada do pé da torre, a carga de compressão
máxima é de 2885,05 kN.

A compressão máxima na base é de 320,56 kPa, verificando a segurança com um coeficiente


de 1,5.

62
Tabela 58 - Verificação da compressão admissível no solo (metodologia simplificada, considerando
apenas os esforços axiais)

Peso betão (kN) 305,0


Compressão torre (kN) 2580,05
Compressão máxima (kN) 2885,05
𝜎𝑎𝑑𝑚 = 600 𝑘𝑃𝑎
σmax (kPa) 320,56 <
1,5

Para o dimensionamento à tração é considerada a mobilização de um tronco de pirâmide de


solo com inclinação β como indica o esquema da Figura 25. O cálculo do volume de solo
estabilizante é feito segundo a expressão( 64 ).

Figura 25 - Esquema do tronco de pirâmide mobilizado

1
𝑉𝑠 = × ℎ × (𝐵2 + (𝐵 + 2ℎ tan 𝛽)2 + √𝐵2 (𝐵 + 2ℎ tan 𝛽)2 ) − 𝑏 2 × ℎ ( 64 )
3

O volume do tronco de pirâmide de solo é de 118,47 m3, o que corresponde a um peso de


2191,78 kN, sendo o peso específico do solo considerado 18,5 kN/m3. A força estabilizante total
é a soma do peso do betão com o peso do tronco de pirâmide de solo, tendo o valor de 2496,78
kN. A segurança à tração é verificada, o valor da força estabilizante é superior ao da carga de
tração majorada com um fator 𝛾𝑄 = 1,5 .

63
Tabela 59 - Verificação de segurança à tração

Peso de betão 𝑃 [kN] 305

Peso de solo mobilizado


2191,78
𝑃𝑠 [kN]
Força estabilizante total
2496,78
𝐹𝑒𝑠𝑡 [kN]
Força tração 𝑇𝑖 [kN]
2299,73
(com 𝛾𝑄 = 1,5)

𝑭𝒆𝒔𝒕 > 𝑻𝒊

Para este tipo de fundação o derrubamento não é condicionante, desta forma não é
considerado necessário o seu cálculo para o dimensionamento.

6.3.2.2. Método de Biarez e Barraud

Os parâmetros do solo considerados são os apresentados na Tabela 45.

As dimensões consideradas são as mesmas que as apresentadas no método anterior (Tabela


57), por ter uma geometria quadrada é necessário para aplicar o método calcular os raios
equivalentes. Uma vez que o solo é de 2ª categoria, os raios equivalentes do fuste e sapata são
iguais a 𝑝/2𝜋.

Tabela 60 - Raios equivalentes

B (m) 3 p (m) 12 Re (m) 1,91


b (m) 0,8 pf (m) 3,2 Ref (m) 0,51

O peso próprio da fundação isolada é de 305 kN.

i. Profundidade inferior à crítica D < Dc

O coeficiente Mγ em função de Φ e D/R é dado pelo ábaco da Figura 11, adotando-se um


valor aproximado de 0,45.

64
Tabela 61 - Coeficiente Mγ retirado do ábaco Figura 11

𝛷 (°) 30

𝐷
3,14
𝑅
𝐷
𝑀𝛾 (𝜙, ) 0,45
𝑅

A resistência à tração é calculada com a expressão ( 35 ).

Tabela 62 - Cálculo resistência à tração profundidade D<Dc

P (kN) Ps (kN) 𝑆𝐿 (m2) 𝛾𝑠 (kN/m3) D (m) 𝑀𝛾


305,0 64,68 72,0 18,5 6,0 0,45

𝑸𝒇𝒕𝟏 (kN) 3966,08

ii. Profundidade superior à crítica D > Dc

Para esta geometria de sapata com fuste, o fator m calcula-se através da expressão ( 38
), segundo o esquema da Figura 9.

Tabela 63 - Valor de m

𝑒 (= 𝑐) 1 < 𝑅 − 𝑅𝑓

𝑅 − 𝑅𝑓 1,40

𝑚 0,82 0,75 ≤ 𝑚 ≤ 1,0

O fator 𝑆𝑢 = 𝑆𝐵 − 𝑆𝑓 é calculado em função de R e Rf para a sapata e fustes quadrados.

𝑆𝑢 = (𝑆𝐵 − 𝑆𝑓 ) = 𝜋(𝑅2 − 𝑅𝑓 2 ) ( 65 )

O coeficiente M, tal como referido anteriormente, para sapatas e chaminés quadradas adota-
se M=Mb, sendo calculado através da equação ( 41 ).

65
Tabela 64 - Cálculo resistência à tração - rutura localizada QftD

𝑄𝑓𝑡𝐷 = 𝑆𝑢 . 𝑚 . 𝑀 . 𝛾𝑠 . 𝐷 . tan 𝜙

𝑆𝑢 𝑚 𝑀 = 𝑀𝑏 𝛾𝑠 𝐷 𝜙

10,64 0,82 6,59 18,5 6,0 30

𝑸𝒇𝒕𝑫 3698,51

O cálculo da resistência do mecanismo de rutura ao nível do fuste é igual ao apresentado no


caso do tubulão e encontra-se resumido na Tabela 65.

Tabela 65 - Cálculo resistência à tração - rutura generalizada QftF

𝑄𝑓𝑡𝐹 = 𝑆𝐿 . 𝛾𝑠 . 𝐷𝑓 . (𝑀𝜑 + 𝑀𝛾 )

𝑆 𝛾𝑠 𝐷𝑓 (𝑀𝜑 + 𝑀𝛾 )

16,0 18,5 5,0 0,3

𝑸𝒇𝒕𝑭 444,0

A resistência total para a fundação com profundidade superior à crítica é a soma das duas
resistências calculadas anteriormente com o peso próprio da fundação sapata com fuste.

Tabela 66 – Resistência à tração total D>Dc

𝑄𝑓𝑡𝐷 𝑄𝑓𝑡𝐹 𝑃

3698,51 444,0 305

𝑸𝒇𝒕𝟐 4447,51

Verifica-se que o valor da resistência à tração condicionante é o resultante da primeira


hipótese, profundidade inferior à crítica. A fundação verifica a segurança à tração, uma vez que
o valor dessa resistência é superior ao valor da tração majorada por um fator 𝛾𝑄 = 1,5.

66
Tabela 67 - Verificação de segurança à tração

Ti (kN) 2299,73
𝑄𝑓𝑡1 (kN) 3698,51
𝑸𝒇𝒕𝟏 > 𝑻𝒊

À semelhança da fundação por tubulão, também existe necessidade de verificar se existe


intersecção entre os tronos de pirâmide mobilizados pelas sapatas dimensionadas
anteriormente. Observa-se no esquema abaixo que não existe cruzamento dos troncos de
pirâmide de solo.

Figura 26 - Esquema de verificação da intersecção das pirâmides de solo mobilizadas

À semelhança do dimensionamento da fundação por tubulão descrita anteriormente, verifica-


se que o primeiro método é o mais condicionante quanto à resistência à tração (ver Tabela 68).
Podendo concluir que ao se considerar o método de Biarez e Barraud poderia dimensionar-se
fundações com menores dimensões.

Tabela 68 - Comparação dos resultados dos métodos de dimensionamento

Força resistente método 6.3.2.1


2496,78
𝐹𝑒𝑠𝑡 [kN]
Força resistente método 6.3.2.2
3698,51
𝑄𝑓𝑡1 (kN)

6.3.2.3. Armadura

A armadura inferior da sapata isolada foi dimensionada tendo em conta apenas o esforço de
compressão transmitido à sua base, à semelhança da simplificação utilizada para verificar a

67
tensão admissível do solo. O valor de área de armadura resultante da força de tração
desenvolvida na base da sapata é muito pequeno, considerou-se então razoável adotar uma
armadura de ϕ12//0,10 (11,31 cm 2).

A face superior da sapata isolada está submetida a tensões de tração devido ao peso do solo
do tronco de pirâmide mobilizado. De forma a determinar a armadura necessária, considerou-se
um comportamento de consola em que o solo atua como uma carga uniformemente distribuída
provocando um momento no encastramento, ou seja na ligação da sapata ao fuste. O diagrama
e as expressões utilizadas neste método simplificado de cálculo encontram-se no Anexo B, B.3.
A armadura adotada para a face superior da sapata é também de ϕ12//0,10 (11,31 cm 2).

A armadura adoptada para o fuste foi de 12ϕ25 com estribos ϕ8//0,20.

O cálculo detalhado das armaduras encontra-se no Anexo B, B.3.

6.3.3. Fundação por sapata única

À semelhança dos dimensionamentos anteriores da fundação por sapata única, considerando


o dimensionamento pela estabilidade (2.1.1), as dimensões que verificam a segurança são as
apresentadas na tabela abaixo.

Tabela 69 - Dimensões sapata única

A (m) 12

B (m) 12

H (m) 3

68
7. Análise de Resultados

Tabela 70 - Tabela resumo das melhores soluções de fundação para cada tipo de terreno analisado

Sapata
Sapata
Pregagens Tubulão isolada com
única
fuste
Terreno S1
Maciço rochoso pouco
degradado
Boa resistência mecânica

Terreno S2
Degradação mediana
Alguma resistência mecânica

Terreno S3
Muito degradado
Solos
Baixa resistência mecânica

Legenda:

Não é aconselhado

Pode ser considerado

Apropriado

Muito apropriado

1. Terreno tipo S1

Para o solo S1 indicou-se como melhor solução a fundação por pregagem, uma vez que
despende menos material, nomeadamente, pouca quantidade de betão e aproveita a resistência
da rocha de fundação. Note-se ainda que esta solução envolve mais tecnologia em termos de
mão-de-obra qualificada e equipamentos específicos e especializados, o que constitui um
potencial inconveniente.

A fundação por pregagens apresenta um problema em relação à corrosão da armadura, é


essencial um bom recobrimento e cuidados quanto à calda de cimento aplicada. A verificação do
estado de corrosão das pregagens é impossível, visto implicar a escavação de toda a fundação.

69
Por este motivo também, é essencial um elevado grau de tecnologia para a construção deste
tipo de fundação.

A solução de sapata única implica um grande volume de betão, o que acarreta um elevado
custo. No entanto, este tipo de fundação não implica mão-de-obra muito qualificada e dadas as
grandes dimensões da sapata única, a segurança é visivelmente garantida.

A solução de fundação de sapatas isoladas com fuste para este tipo de solo não faz muito
sentido pela necessidade da escavação de rocha, comparando com a solução por pregagens.

2. Terreno tipo S2

Para o Solo S2 foi indicada como mais apropriada a solução de fundação por sapata única,
embora a fundação de sapata isolada com fuste também seja adequada. O que distingue as
duas soluções é a quantidade de betão necessário e a profundidade de escavação.

O solo S2 apresenta-se como um terreno rochoso e a escavação a grande profundidade torna


a solução de sapatas isoladas uma opção menos desejável, por outro lado a sapata única implica
um volume muito elevado de betão e armadura, para além de uma grande área de escavação
em largura.

3. Terreno tipo S3

As soluções apresentadas como sendo as melhores para o solo S3 foram a fundação por
tubulão e por sapata isolada com fuste, comparando as duas soluções, verifica-se que a sapata
isolada com fuste é mais vantajosa. Tal como referido anteriormente, a armadura da fundação
por tubulão apresenta uma falha com implicações na resistência da fundação a tensões de tração
ao nível da base, o que pode comprometer a segurança. Por outro lado, também o equipamento
utilizado para a perfuração e enchimento de um tubulão é mais especializado.

A fundação de sapata isolada com fuste tem a grande necessidade de se garantir uma
escavação com taludes verticais de forma a não comprometer a formação natural do tronco de
pirâmide de solo.

A solução de sapata única, mais uma vez implica um grande volume de betão, o que
comparando com as hipóteses anteriores para este tipo de solo não compensa.

70
Conclusão

A descrição e aplicação dos métodos de cálculo para o dimensionamento de cada tipo de


fundação estudada permitiu comparar resultados ao nível das dimensões mínimas das
fundações e dos esforços resistentes. Os métodos de cálculo baseados em estudos que
exploram a interação solo-fundação beneficiam o lado da resistência, pois a interação com o solo
desenvolve tensões de reação que beneficiam a segurança. Os métodos baseados em cálculo
de estabilidade com coeficientes e parâmetros do Regulamento [1] são mais conservativos, no
presente estudo, levando a fundações com maiores dimensões.

No caso da sapata única dimensionada em 6.2.1, o dimensionamento com o método de


Sulzberger [2] obteve dimensões menores para o maciço, comparativamente com o método de
cálculo de estabilidade sem consideração de reações do solo.

O dimensionamento dos chumbadores da fundação por pregagem teve em conta o menor


dos valores entre a resistência axial do varão e a resistência da interface calda-terreno pelas
Recomendações de Clouterre [4]. Verificou-se que atinge-se a cedência das pregagens antes de
se atingir a cedência pela interface, desta forma a resistência axial dos varões é condicionante.

No dimensionamento da fundação por tubulão, 6.3.1, e por sapata isolada com fuste, 6.3.2,
verifica-se que o método de Biarez e Barraud [3] garante um valor de resistência à tração maior
comparando com o método de cálculo que considera o ângulo do solo do Regulamento [1]. Os
estudos experimentais de Biarez e Barraud verificam uma maior resistência à tração ao
considerar diferentes superfícies de rutura dependentes das características do solo.

Nos casos onde a caracterização do terreno de fundação é limitada considera-se como


melhor opção os dimensionamentos pelos métodos mais conservativos, levando assim à
consideração das maiores dimensões para as fundações. As peças desenhadas correspondem
ao dimensionamento pormenorizado de uma fundação de cada tipo estudado.

O dimensionamento das várias fundações aplicável a cada tipo de terreno permitiu concluir
quais as vantagens e desvantagens que a sua construção implica. Na Tabela 70 pode observar-
se quais as opções possíveis e quais as mais indicadas para cada tipo de solo. No entanto,
variáveis como capacidades tecnológicas e preços de materiais são fundamentais na escolha do
tipo de fundações a construir.

Uma completa determinação das características dos solos de fundações é fundamental para
uma minimização de custos de obra, sendo então essencial um número de sondagens
considerável e representativo de toda a extensão da linha de alta-tensão, sem prejuízo da
avaliação local das condições reais.

71
Referências bibliográficas

[1] “Regulamento de Segurança de Linhas Eléctricas de Alta Tensão,” Decreto


Regulamentar nº1/92 de 18 de Fevereiro, 1992.

[2] P. R. LABEGALINI, J. A. LABEGALINI, R. D. FUNCHS e M. T. ALMEIDA, Projectos


Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão, Blucher.

[3] J. BIAREZ e Y. BARRAUD, “The Use of Soil Mechanics Methods for Adapting Tower
Foundations to Soil Conditions,” CIGRE, Paris, 1968.

[4] Projet national Clouterre, Recommandations Clouterre, Presses de Ecole Nationale


des Ponts et chaussées, 1991.

[5] P. A. C. Prof. F. A. BRANCO, “Modelação de Fundações na Análise Estrutural,”


CMEST, IST, Lisboa, 1990.

[6] E. MARINHO, “Caracterização e classificação de maciços rochosos,” Material de


apoio às aulas da disciplina de Obras Geotécnicas, Instituto Superior Técnico.

[7] “Instituto Superior Técnico,” [Online]. Available:


https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779573717280/Geo_Fund_9.pdf.
[Acedido em 4 Abril 2015].

[8] J. Silveira, Curso de Fundações - Volume 1 e 2, 2002.

[9] J. E. Bowles, Foundation Analysis and Design, McGraw-Hill, 1997.

[10] “Material de apoio da disciplina de Mineralogia e Geologia, Instituto Superior


Técnico,” 2010/2011.

[11] CEN, EN 1991-1-1 Acções em estruturas - acções gerais, 2002.

[12] CEN, EN 1990 Eurocódigo - Bases para o projecto de estruturas, 2002.

[13] V. SANTA, “Controlo de Qualidade de Pregagens Passivas e Activas,” Dissertação


de Mestrado, Instituto Superior Técnico, 2010.

[14] [Online]. Available: http://paginas.fe.up.pt/~geng/ge/apontamentos/Cap_5_GE.pdf.


[Acedido em 14 09 2015].

[15] Software: SAP2000 v16.0.0, CSI.

72
[16] A. COSTA, Folhas de Apoio às Aulas - Estruturas de Betão II, Instituto Superior
Técnico, 2013/2014.

73
ANEXO A
Dados fornecidos

I
ANEXO B
Cálculos detalhados

XIII
B.1. Cálculo detalhado armadura fundação por pregagens 5.1.1

 Verificação da compressão no solo

Esforços actuantes

𝑁𝑠𝑑 = 𝐶 + 𝑃𝑃𝑚𝑎𝑐𝑖ç𝑜 Nsd [kN] 2749,05

𝑀𝑠𝑑,𝑥 = 𝑉𝑙,𝐶 × (𝐻 + ℎ) Msd,x [kNm] 785,50

𝑀𝑠𝑑,𝑦 = 𝑉𝑡,𝐶 × (𝐻 + ℎ) Msd,y [kNm] 874,06

Excentricidades

𝑀𝑠𝑑,𝑥
𝑒𝑥 =
𝑁𝑠𝑑

𝑒𝑥 0,286
𝑒𝑦 0,318
𝑀𝑠𝑑,𝑦
𝑒𝑦 =
𝑁𝑠𝑑

Área comprimida

𝐵
𝑥 = ( − 𝑒𝑥 ) × 2 x (m) 2,03
2

𝐵
𝑦 = ( − 𝑒𝑦 ) × 2 y (m) 1,96
2

𝐴 =𝑥×𝑦 A (m2) 3,98

Tensão de compressão

𝑁𝑠𝑑
𝜎= < 𝜎𝑎𝑑𝑚 σ (kN/m2) 689,98 < 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 1000 𝑘𝑃𝑎
𝐴

XIV
 Cálculo de armaduras
o Armadura inferior do maciço

0,9ℎ
tan 𝛼 =
𝐵
− 0,35𝑎
4
𝐵
𝑅 =𝜎× ×𝑦
2

Força de tração Armadura


𝑅 𝐹𝑡
𝐹𝑡 = [𝑘𝑁] 𝐴𝑠 = [𝑐𝑚2 /𝑚]
tan 𝛼 𝑦 × 𝑓𝑦𝑑

tan 𝛼 2,43 𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 /𝑚] 8,48


𝑅 [kN] 1761,75 Φ12//0,10
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 /𝒎]
𝐹𝑡 [kN] 724,28 11,31

o Armadura superior do maciço

Afastamento
Nº pregagens Dist à face [m]
af [ m]

16 0,8 0,1

ft 4ft M
143,73 574,93 919,89

𝑎𝑓 𝑎𝑓
𝑀 = 4𝑓𝑡 × + 4𝑓𝑡 × ( + 𝑎𝑓)
2 2

𝑀 fcd [MPa] 20
𝜇=
𝑏 × 𝑑 2 × 𝑓𝑐𝑑 fyd [MPa] 435
𝑑 = ℎ − 𝑟𝑒𝑐 , 𝑟𝑒𝑐 = 0,05 b [m] 2,6

XV
𝜔 = (1 − √1 − 2,42𝜇)/1,21 h [m] 1,0

𝑓𝑐𝑑
𝐴𝑠 = 𝜔 × 𝑏 × 𝑑 × [𝑐𝑚2 ]
𝑓𝑠𝑦𝑑 𝜇 0,0196
𝜔 0,0198

𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 ] 22,53
𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 /𝑚] 8,67
Φ12//0,10
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 /𝒎]
11,31

o Armadura fuste

𝑇
𝐴𝑠 = [𝑐𝑚2 ] 52,87
𝑓𝑦𝑑

12Φ25
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 ]
58,90

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 [𝑐𝑚2 ] 0,6% Área1 38,4

1
Valor de área mínima apenas para efeitos comparativos, origem empírica não é considerado
como uma referência para o dimensionamento.

XVI
B.2. Cálculo detalhado armadura fundação por tubulão 5.3.1.3

𝑇
𝐴𝑠 = 𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 ] 52,87
𝑓𝑦𝑑

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 0,6%𝐴𝑟𝑒𝑎 2 57,02

12φ25
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 ]
58,92

Recobrimento [m] 0,05


Perímetro do alinhamento da armadura [m] 3,14
Espaçamento [m] 0,24

2
Valor de área mínima apenas para efeitos comparativos, origem empírica não é considerado
como uma referência para o dimensionamento.

XVII
B.3. Cálculo detalhado armadura fundação por sapata isolada com fuste
5.3.2.3

 Cálculo de armaduras
o Armadura inferior do maciço

𝑑
tan 𝛼 =
𝐵−𝑎
4

𝐶
tan 𝛼 = 2
𝐹𝑡

Força de tração
(igualando as duas expressões de tan 𝛼) Armadura
𝐶(𝐵 − 𝑎) 𝐹𝑡
𝐹𝑡 = [𝑘𝑁] 𝐴𝑠 = [𝑐𝑚2 /𝑚]
8𝑑 𝑦 × 𝑓𝑦𝑑

tan 𝛼 1,64 𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 /𝑚] 2,27


𝐹𝑡 [kN] 176,31 Φ12//0,10
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 /𝒎]
11,31

XVIII
o Armadura superior do maciço

𝑉𝑠𝑜𝑙𝑜 𝐵−𝑏 2
𝛾𝑠 𝑝( )
𝑝= 2 [𝑘𝑁/𝑚] 𝑀= 2
𝐵−𝑏 2
2

𝑉𝑠𝑜𝑙𝑜 [𝑚3 ] 𝛾𝑠 [𝑘𝑁/𝑚3 ] 𝑝 [𝑘𝑁/𝑚] 𝑀 [𝑘𝑁𝑚]


118,48 18,5 996.26 602,74

fcd [MPa] 20

fyd [MPa] 435

b [m] 3
𝑀
𝜇= h [m] 1
𝑏 × 𝑑 2 × 𝑓𝑐𝑑
𝑑 = ℎ − 𝑟𝑒𝑐 , 𝑟𝑒𝑐 = 0,05
𝜇 0,0111
𝜔 = (1 − √1 − 2,42𝜇)/1,21
𝜔 0,0112
𝑓𝑐𝑑
𝐴𝑠 = 𝜔 × 𝑏 × 𝑑 × [𝑐𝑚2 ]
𝑓𝑠𝑦𝑑
𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 ] 14,68
𝐴𝑠 [𝑐𝑚2 /𝑚] 4,89
Φ12//0,10
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 /𝒎]
11,31
o Armadura fuste

𝑇
𝐴𝑠 = [𝑐𝑚2 ] 52,87
𝑓𝑦𝑑

12Φ25
𝑨𝒔,𝒂𝒅𝒐𝒑𝒕 [𝒄𝒎𝟐 ]
58,90

𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 [𝑐𝑚2 ] 0,6% Área3 38,4

3
Valor de área mínima apenas para efeitos comparativos, origem empírica não é considerado
como uma referência para o dimensionamento.

XIX
Peças desenhadas

XX
ESC. 1/100

PLANTA DIMENSIONAMENTO
ESC. 1/50
ESC. 1/100

PLANTA DIMENSIONAMENTO
ESC. 1/50
ESC. 1/100

PLANTA DIMENSIONAMENTO
ESC. 1/50
ESC. 1/100
ISOLADAS COM FUSTE
PLANTA DIMENSIONAMENTO
ESC. 1/50
ISOLADAS COM FUSTE

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