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O futuro hoje: ser professor no Sec. XXI

Conference Paper · October 2008

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O futuro hoje: ser professor no Sec. XXI

Paula Alves Quadros Flores, Joaquim José Escola


UTAD

Palavras-chave: identidade profissional docente, tecnologia educativa, competências


Temática: Os profissionais da Infância – Formação, Desenvolvimento e Identidades

Esta comunicação aborda vários aspectos relevantes da concepção de ser professor no século
XXI. Salienta-se o que é ser professor hoje, tendo presente um olhar para o passado e para o futuro
próximo. Neste contexto, a introdução das novas tecnologias em contextos educativos e a exigência de
uma sociedade da informação e comunicação em rede impõe novos perfis para a escola, os professores,
os alunos e seus ambientes de aprendizagem. Prosseguimos, identificando novas práticas pedagógicas
com recurso às novas tecnologias, salientando o estado da arte da formação de professores em TIC e
reforçando o que é ser professor e aluno num contexto interactivo, de hipermedia e global, o contexto do
século XXI. Concluímos que a integração das novas tecnologias conduzem a novas práticas no ensino
abrindo a escola ao mundo, redimensionando o papel do professor. Actualmente há professores
empreendedores que venceram este desafio encontrando-se envolvidos em projectos ou em práticas
metodológicas inovadoras. No entanto, estudos mostram a necessidade de uma formação técnica e
sobretudo pedagógica que ajude na aplicação da tecnologia em contextos educativos. A escola começa,
assim, a incorporar uma cultura audiovisual e digital criando o modelo educativo dos futuros cidadãos.

Introdução

As necessidades e expectativas de uma sociedade aberta, globalizada, sustentada pela


informação e o conhecimento, uma sociedade em rede, transformam os modos de ser
professor desafiando-o para uma atitude dinâmica, flexível e em conexão com o mundo. Neste
contexto, é irreversível uma mudança nas concepções de educação, de escola, de aluno e de
ambiente de aprendizagem. Redefinem-se também os objectivos da formação de professores,
base do sucesso e do desempenho dos alunos, promotora do desenvolvimento sustentável da
qualidade da educação. Pretende-se com esta comunicação encontrar um painel de
representações que traduzam a identidade profissional docente na era da informação e da
comunicação, que tracem o estado de arte da formação de professores como vector
estratégico de resposta às necessidade dos professores e que reflictam o ser professor num
mundo tecnológico onde inovar, redimensionar, conectar e aprender a aprender são chaves
para a eficácia e optimização do ensino.

Profissão professor, hoje: que futuro?


O que diferencia um professor de um médico, de um advogado ou de um engenheiro? O
que é próprio de um professor em qualquer local de trabalho que justifique uma formação
específica? O que é que diferencia um professor de outros actores da educação? O que é ser
professor? Como é que ele actua? Quais são as suas funções?
O que diferencia um professor de qualquer outro profissional é a sua acção ou seja, o
seu pensamento, a sua atitude, a construção de conhecimento e a sua actuação a partir das
múltiplas e complexas relações dos processos de ensino aprendizagem, ou como diz Afonso
(2004) é a forma como usa o saber. Este autor é de opinião que há uma relação entre o poder
e o saber. Isto é, quanto mais hermético for o seu saber maior é o seu poder. Porém, os

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professores são aqueles profissionais que devem abrir mão do seu conhecimento e transmiti-lo
aos seus clientes, sendo a maior característica do professor pegar em coisas complexas e
descodificá-las, transmiti-las de forma fácil. Contrariamente a outros profissionais, o trabalho de
professor depende da colaboração do aluno: “um cirurgião opera com o doente anestesiado e
um advogado defende um cliente silencioso, mas o sucesso do professor depende da
cooperação activa do aluno” (Labaree, citado por Nóvoa, 2001). Acrescenta o autor, que para
os professores, o dilema do conhecimento passa por ter uma relação pedagógica que tem por
finalidade despertar uma nova palavra no educando, o bom professor é aquele que se torna
dispensável, que consegue que os alunos aprendam sem a sua ajuda, por isso os professores
desmistificam o seu próprio conhecimento e entregam a fonte de poder sobre o cliente que
outros guardaram zelosamente. Outros profissionais mobilizam o conhecimento sem desvendar
os mistérios. Para Tardif (2002) o que distingue as profissões das outras ocupações é a
natureza dos conhecimentos que estão em jogo. Neste contexto, defende que o saber
profissional circunda algumas características básicas: saber especializado que abrange um
longo tempo de aquisição, conhecimento suficiente para resolução de problemas de natureza
prática, saber controlado, monopolizado e avaliado pelos próprios profissionais, envolve ainda
uma necessidade de improvisação e, por isso, é um saber que se renova e que necessita de
ser bem utilizado e aplicado. A afirmação do profissionalismo docente dependerá da
capacidade dos professores se assumirem como uma classe detentora das competências
específicas para assegurar o direito à educação e, portanto, há necessidade de uma
consciência colectiva que, em termos humanos, éticos e pedagógicos, sirva de referência à
profissão (Monteiro, 2000). Assim, genericamente, o professor é quem se dedica
profissionalmente a educar outros, a mobilizar as suas capacidades, a integrar-se e a participar
activamente na sociedade e no desenvolvimento cultural (Garcia 1997).
Contudo, esta relação sofre influências externas que significativamente alteram a
comunicação pedagógica e os modos como nos conectamos com a educação e a sociedade.
Assim, no período em que a informação era escassa, as escolas foram concebidas para serem
fechadas sobre si mesmas nas formas estruturadas de gestão dos espaços, dos tempos e de
compartimentação dos saberes. Acentuava a dimensão da transmissão da informação com
carácter unidireccional, tal como acontecia com os média da época, rasurando o diálogo, a
comunhão, a participação, deixando que a informação fluísse sempre no sentido do “ensinante
para o aprendiz” nas palavras de Paulo Freire (1972), numa transferência mecânica,
promotora, por sua vez, de uma memorização maquinal. O professor assumia-se então como o
único protagonista no processo de construção do conhecimento, o único detentor do saber,
sendo os alunos arremessados para a condição de objectos passivos, meros depósitos de
informação. A sala de aula consagrava uma imagem de ordem, de silêncio, sendo o estrado o
ponto alto, lugar simbólico da elevação da fonte dos saberes, território de eleição do “magister
dix” que tinha no quadro preto o meio privilegiado para a transmissão de informação e
inculcação dos valores. Neste contexto, segundo Silva (2006), o emissor é um contador de
histórias que atrai o receptor para o seu universo mental e o receptor limita-se à assimilação
passiva ou inquieta, mas sempre com recepção separada da emissão. Este traçado definiu um
modelo de professor e a natureza das suas práticas pedagógicas. Reduzia, assim, os homens

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a uma visão acomodada, desencantada e passiva do mundo, uma visão não compatível com a
compreensão e desenvolvimento da globalização e da vida económica, tecnológica, política e
social actual. A sociedade de massas coabitou numa era em que se podia prever os
conhecimentos e as competências para a vida. Ler, escrever e contar foram o enfoque para a
inserção na sociedade e a formação do cidadão. Contudo, o rápido desenvolvimento
tecnológico das últimas décadas revolucionou possibilidades comunicacionais ao estender as
fontes e os recursos à comunicação pondo em causa qualquer previsibilidade a longo prazo.
Hoje, na sociedade do conhecimento e da informação, abunda a informação e graças à
evolução das novas tecnologias vivemos uma sociedade em rede, uma sociedade globalizada,
aberta e tecnologicamente dependente. Exigem-se fluxos dinâmicos, conectáveis e flexíveis
que promovam a comunicação e o conhecimento, exige-se um cidadão mais interveniente e
mais criativo. Segundo a Comissão das Comunidades Europeias (2007) “num mundo de
crescente complexidade, a criatividade, a capacidade de pensar lateralmente, as competências
transversais e a adaptabilidade tendem a ser mais valorizadas do que um conjunto específico
de conhecimentos”. Acrescenta que há um conjunto de competências essenciais que um
cidadão necessita para uma vida bem sucedida na sociedade do conhecimento: língua
(materna e estrangeira), matemática e ciências, competência digital, transversais, sociais,
cívicas, espírito de iniciativa e empresarial, sensibilidade e expressão cultural.
Hoje as crianças têm uma noção diferente de comunicação e de entretenimento: brincam
com o gay boy, vídeo games e play station, navegam num mundo desconhecido e desafiante;
predomina o digital nos media, a rede no social. A escola, para estar em sintonia com esta
evolução precisa de se adaptar a uma nova realidade sob pena de entrar em colapso, precisa
de desvincular-se de convenções cristalizadas no tempo e abraçar a inovação. E os
professores? Estes precisam de abrir as mãos ao mundo interactivo e libertar-se da
modalidade comunicacional de massas para promover uma aprendizagem mais personalizada
sustentada nas potencialidades das novas tecnologias.
As novas tecnologias interactivas promovem o redimensionamento da mensagem, da
emissão e da recepção. Segundo Silva (2006) a interactividade põe fim à imagem de “professor
contador de histórias”. O emissor assemelha-se ao “designer de software interactivo”, ele
constrói uma rede e define um conjunto de territórios a explorar disponibilizando, abertos a
navegações e dispostos a interferências e modificações vindas do receptor. Por sua vez o
receptor torna-se um “utilizador” que manipula a mensagem como co-autor, um conceptor que
pode ouvir, ler, gravar, ir para trás, ir para a frente, enviar, receber e modificar conteúdos, ou
seja, pode inferir, modificar, produzir e compartilhar. Há assim, uma mudança significativa já
que a mensagem pode ser modificada segundo as solicitações do receptor. Deste modo, elas
permitem a participação, a intervenção, a bidirecionalidade e a multiplicidade de conexões,
rompem com a linearidade ao permitirem ao utilizador ser actor e co-autor promovendo
ambientes de grande riqueza criativa. Há assim uma tendência para a autonomia e
personalização da aprendizagem.
Pela primeira vez na história, a sociedade não pede aos educadores que preparem as
novas gerações para responder às necessidades actuais, mas para fazer frente às exigências
de uma sociedade futura, que ainda não existe (Faure, citado por Esteve, 1995). A mudança é

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inevitável! Contudo, exige-se a mudança, mas não se consegue desvincular a escola dos
valores tradicionais. Os professores que mantêm os métodos tradicionais são vistos com
desconfiança, os que utilizam os novos métodos são incompetentes, visto que uma
aprendizagem centrada no aluno e nas suas aprendizagens não tem tido grandes
repercussões na prática (Lopes, 2001). Este paradoxo está iminente na própria profissão
professor. Nóvoa (1999) refere algumas ambiguidades desta profissão. Diz o autor que se por
um lado os professores são olhados com desconfiança acusados de serem profissionais
medíocres e de terem uma formação deficiente, por outro lado são bombardeados com uma
retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da
qualidade do ensino e para o progresso social e cultural. O facto é que o professor tem que
transmitir a tradição, mas também devem preparar eficazmente os seus alunos para o mundo
do amanhã. Um mundo dominado pelas tecnologias, pela incerteza e por mudança repentinas.
A sociedade da Informação e do conhecimento exige novas competências sociais, profissionais
e pessoais o que implica uma alfabetização digital.
Como é que se prepara professores dos Séc. XX para educar crianças do Séc. XXI?
Segundo Estrela (2001) a profissão docente está assente num conjunto articulado de saberes,
saber-fazer (saberes profissionais) e atitudes que exigem uma formação profissional longa e
certificada. Estes saberes profissionais estão articulados com as funções e papéis e deverão
ser apoiados pela formação contínua de professores.
A tendência actual é da extensão da escola a novos espaços educativos sustentada
pelas novas tecnologias. Uma análise a alguns projectos e plataformas actuais, que poderia
chamar de inovadores com recursos às novas tecnologias, como o Connect, ENIS (Rede
Europeia de Escolas Inovadoras), eTwinning, Programa KidSmart Early Learning, Moodle-
edu.pt, constata-se que têm por base um processo emergente de aprendizagem que nos
obriga a repensar práticas pedagógicas tradicionais e criar novas metodologias de trabalho em
contexto escolar. Representam, assim, novas oportunidades no mundo digital. Se observarmos
a evolução tecnológica, vertiginosamente a Internet, que se constituiu como um dos pilares
básicos de alfabetização, está a mudar a sua configuração. Inicialmente era praticamente
estática, tínhamos acesso a um mar de informação a ponto de desafiar a escola (como ensinar
os alunos a navegar e a seleccionar conteúdos de interesse e convertê-los em conhecimento),
poucos eram os que tinham a sua página pessoal na Web; hoje começa a centrar-se nos
utilizadores finais e converter-se num espaço inovador de leitura e escrita, fomentando a
colaboração e o intercâmbio de informação entre os utilizadores. Desenvolvem-se assim,
pontos de encontro de redes sociais que desenvolvem a inteligência colectiva para
proporcionar serviços interactivos em rede dando ao utilizador o controlo dos seus dados.
Deixa de se falar de enciclopédia, de Webs pessoais, para se falar de Wikipédia, Wiki,
Youtube, Flickr e de Blogs , Fotblogs, Podcasting, SlideShare, Second Life, etc. Ainda
tentamos perceber a usabilidade da Web 2.0 e já se fala da Web 3.0 como uma Web semântica
com inteligência artificial. A frase chave da Wikipédia “tu podes ajudar a Wikimedia a mudar o
mundo” reverte-nos para um ambiente que convida à produção de conhecimento. Assim, num
contexto onde flúi a bidirecionalidade e a partilha, onde o utilizador toma protogonismo na rede
consumindo e produzindo informação, qual é o papel da educação, do professor e do aluno?

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Que metodologias se podem usar e como é que se aplicam de modo a melhorar o processo de
ensino/aprendizagem?

O desafio da revolução digital


A interactividade que possibilita uma comunicação bidireccional e multidireccional, a
aprendizagem colaborativa que promove uma cultura de atitudes sociais e a liberdade de
edição e difusão que possibilita o produção/consumo de informação são destacáveis
significativos desta era digital que revolucionaram as formas de produção de conhecimento. A
escola precisa de adoptá-los e implementá-los no seu contexto por serem meios que propiciam
um construtivismo activo e subsequente eficiência no ensino aprendizagem. Como é que a
escola tem absorvido esta matéria?
Em termos de imagem quase todos os agrupamentos de escolas já têm uma página na
Web que os identifica e diferencia de outras escolas. Também já há professores, escolas, ou
agrupamentos envolvidos em projectos nacionais e internacionais, ou a utilizarem
simplesmente as novas tecnologias na sala de aula. Um olhar sobre alguma iniciativas ou
ferramentas impulsionadoras de práticas inovadoras em contextos educativos e verifica-se o
seguinte:

 Learning Awards 2007 - European Schoolnet, com o apoio de 28 Ministérios da


Educação Europeus, organizou Prémios de eLearning intitulado "Future School Now”
premiando as melhores práticas com recurso às tecnologias para criar escolas para o
Séc. XXI. Portugal apresentou cerca de 52 práticas (destas 7 foram seleccionadas para
concurso e o blog de Teresa d`Eça “Call Lessons 2005-2007” ganhou o prémio “Smart
Technologies Award for the School of the Future”) com enfoques em diferentes
destinatários: aprendizagem dos alunos, mais eficiência nas escolas, informação para
professores. Foram apresentadas por professores, escolas, agrupamentos de escolas,
centros de formação de professores e instituições superiores envolvidas no projecto
Nónio. A apresentação destas práticas incidiu sobretudo em páginas Web e na
plataforma Moodle. Em termos de metodologias é significativo o ensino B-elearning e
os Blogues, mas também há referências de práticas que utilizam o Podcasting, o
Hotpotatoes, a WebQuest e E-Portefólios e Comunidades de Prática. Há práticas que
estão envolvidas em projectos como o Comenius e o E-Twinning. São práticas que
envolvem crianças do básico ao secundário, vindas de todo o país, mas com maior
incidência no Norte. Comparativamente aos outros países no número de participações,
Portugal teve uma excelente participação. Um olhar global sobre os diferentes países,
constata-se que os projectos como o Twinning estão muito mais presentes, assim
como a WebQuest, têm sites que incluem actividades para Smartboard, Wiki; contudo,
a Plataforma Moodle está muito menos presente. Verifica-se ainda o estudo da cultura
portuguesa em espaço Internacional através do projecto e-Twinning.

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 e-Twinning – O projecto eTwinning foi criado com o objectivo de dar às escolas a
oportunidade de aprender umas com as outras, interagindo de modo a partilharem os
seus pontos de vista e outros interesses sustentados na tecnologia. É assim uma
experiência pedagógica que equilibra a tecnologia e o contexto a sala de aula
desenvolvida por duas ou mais escolas de diferentes países que encontraram um tema
que as une. Esta simbiose promove a imagem da escola dando-lhe visibilidade a nível
europeu, permite uma escola em rede alargando ideias e experiências, actualiza
conhecimentos e novas competências pedagógicas e desenvolve competências em
TIC, na aprendizagem das línguas abrindo horizontes culturais e sociais. É assim um
excelente veículo para a tolerância, compreensão e relação entre os países europeus.
O portal do e-Twinning apresenta modelos para professores que podem ser usados e
adaptados aos diferentes contextos. Facilita assim, a construção de projectos iniciais e
o encontro entre escolas. Existem prémios anuais com o objectivo de dar
reconhecimento a projectos colaborativos desenvolvidos no âmbito da iniciativa
eTwinning. Relativamente a Portugal, nesta 3ª candidatura, 18 escolas obtiveram
certificados de qualidade.
 O Global Júnior Challenge é uma competição a nível mundial que pretende identificar e
reconhecer as melhores práticas na utilização das novas tecnologias na educação e na
formação dos mais novos.
 MyEurope – É um projecto na Web que pretende ajudar os professores a elevar os
seus alunos para tomarem consciência do que significa ser um jovem cidadão na
Europa. Envolve mais de 8000 escolas construindo uma rede que promove a
multiculturalidade.
 Escolas ENIS- European Network of Innovative Schools- é uma rede de escolas
inovadoras que se destacam na utilização das Tecnologias da Informação e da
Comunicação tanto a nível organizacional como pedagógica, preparando assim os
alunos para melhor responderem às necessidades colocadas pela Sociedade do
Conhecimento e Aprendizagem. A ENIS pretende assim, discutir e disseminar boas
práticas em conformidade com as políticas da Comissão Europeia, noneadamente no
Plano da acção eLearning, promover projectos colaborativos entre escolas na
vanguarda do desenvolvimento TIC, testar e validar projectos, encorajar a inovação e a
mudança. Há 32 escolas portuguesas certificadas que constituem hoje a rede nacional
ENIS e integram a rede Europeia. Destas, 11 são do 1º ciclo e apresentam no site
algumas práticas nesse âmbito.
 O projecto moodle-edu.pt da Equipa de Missão Computadores, Redes e Internet na
Escola pretende disponibilizar um espaço on-line na área da formação de professores
em TIC e põe à disposição das escolas um ambiente digital de trabalho. Deste modo,
visa enriquecer situações de ensino e de aprendizagem usando a potencialidade b-
elearning da plataforma.
 Os quadros interactivos vêm substituir os famosos quadros pretos. Pretende-se não um
bibelot decorativo, mas que tornem as aulas mais atractivas, dinâmicas e envolventes.
Promove ferramentas que ajudam o professor na preparação das aulas e na sua

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transmissão melhorarando assim os resultados de ensino e aprendizagem. A Ebeam
SMARTboard (2007) apresenta as vantagens de utilização desta ferramenta na sala de
aula e o impacto no processo de aprendizagem. Mostram assim uma mudança de
paradigma na forma de ensinar e partilhar o conhecimento incentivando a renovação
de metodologias de ensino em interacção com as tecnologias.

Perante este cenários, parece-nos que a que a escola do séc. XXI cria novos desafios
aos actores da educação, nomeadamente aos professores que estão implicados directamente
na aprendizagem dos seus alunos. Estes, confrontados com múltiplas tarefas, têm de
responder com eficácia a uma escola aberta, a uma educação globalizante e a uma sociedade
da informação e do conhecimento em rede. O que é ser professor nesta era digital? Que
competências deverão assumir para levarem a bom porto a sua missão?

O professor do Século XXI


Estamos na era dos professores, afirma Esteve (2001). Os professores voltam a estar no
centro das preocupações políticas e sociais e o relatório da OCDE afirma “trazer outra vez os
professores para o retracto”, ou porque lhes cabe formar os recursos humanos necessários ao
desenvolvimento económico, ou porque lhes compete formar as gerações do Séc. XXI ou
porque devem preparar os jovens para a sociedade da informação e da globalidade (Nóvoa,
1999). A responsabilidade de educar e de formar gerações para um futuro incerto e em
constante mutabilidade é uma carga pesada que os professores devem ter consciência e
também orgulho. Actualmente, a riqueza de um país passa pela qualificação da sua população.
José Sócrates, primeiro-ministro, reconhece que o atraso que nos separa dos países mais
desenvolvidos radica, em grande medida, no insuficiente nível de qualificação da população
portuguesa. É assim necessário assegurar que os sistemas sejam eficientes, sendo um desafio
muito importante a qualidade da educação. O facto é que “os alunos portugueses de 15 anos
estão "significativamente abaixo" da média dos seus colegas da OCDE a nível de
conhecimentos científicos, ocupando a 37.ª posição entre 57 países, segundo os resultados
parciais do estudo PISA 2006, hoje divulgados” (Portal da educação, 2007). O que se passa
com a educação? Que mudanças são necessárias para se responder com sucesso às
exigências sociais?
No inicio deste século, Esteve (2001) afirmou que a escola morreu e que se perspectiva
uma nova escola, mas é preciso que os professores sejam capazes de reflectirem sobre a sua
própria profissão, encontrando modelos de formação e de trabalho que lhes permitam não só
afirmar a importância dos aspectos pessoais e organizacionais na vida docente, mas também
consolidar as dimensões colectivas da profissão (Nóvoa, 1999). É assim necessário preparar
os professores para a participação activa e crítica expressa em 4 níveis: aprender a cooperar e
actuar em rede, aprender a viver a escola como uma comunidade educativa, aprender a sentir-
se membro de uma verdadeira profissão e responsável por ela e aprender a dialogar com a
sociedade (Perrenoud, 2000). Segundo o Ministério da Educação (2001) um professor com

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competências básicas em TIC terá conhecimentos e competências em cinco vertentes que
passam desde uma atitude positiva de abertura e aceitação das TIC, a competências de
manuseamento das ferramentas e modo de as usar no ensino. Domingo Gallego e al (2003)
propõem doze competências para o professor actual que vão desde o favorecimento da
aprendizagem, à utilização de recursos psicológicos do aprendizado, a uma atitude inovadora,
positiva e de análise, de crítica face à integração das TIC e ao contexto docente, à valorização
da tecnologia mais que da técnica, ao conhecer e utilizar a linguagem de códigos semânticos,
ao aproveitar a comunicação para favorecer a transmissão da informação com enfoque
construtivista, desenhar e produzir meios tecnológicos, seleccionar, organiza e avaliar recursos
tecnológicos, investigar com meios e sobre meios.
Há necessidade de desamarrar-se de uma estrutura tradicional obsoleta e lenta para o
presente, inadequada no futuro. Os desafios do séc. XXI estimulam inovações que respondam
às necessidades e preocupações da sociedade e fortaleçam uma nova profissionalidade
docente. Na sociedade do conhecimento é necessário fomentar a capacidade tecnológica de
forma a combinar práticas tradicionais e modernas que estimulem a aprendizagem. Mas não
bastam computadores nas escolas, são necessários processos de aprendizagem que
estimulem a actividade intelectual, que desenvolvam o pensamento crítico, que permita o
aprender a aprender reconstruindo a informação e construindo o conhecimento. A questão
determinante deixa de ser a tecnologia, mas a forma como se utiliza a tecnologia, usando-a
como estratégia de construção da aprendizagem.
Educar neste contexto significa muito mais que desenvolver a técnica, coloca o ênfase
no desenvolvimento de competências dos indivíduos, no “aprender a aprender” ao longo da
vida, como destacam muitos autores, para que se formem indivíduos autónomos, pró-activos,
capazes de mobilizar saberes, de criar novos conhecimentos, de enfrentar criativamente novas
situações e não apenas indivíduos passivos, consumidores da informação. A introdução do
computador e da Internet nas escolas permitem repensar práticas educativas até então
sustentadas na educação tradicional. As TIC alteram a forma de comunicação, os espaços e
tempos em que se desenrolam as acções e a comunidade envolvente. Area (2007) reforça a
ideia de que é relevante o modelo pedagógico com que se usa a tecnologia, o objectivo da
aprendizagem que se está a desenvolver, o tipo de actividade que se realiza com o
computador para desenvolver nos alunos competências cognitivas (saber procurar e
seleccionar informação, analisá-la e divulgá-la) e de tipo atitudinal e axiológico (como podem
adquirir valores éticos na comunidade e utilização da informação), fundamental na formação do
cidadão do século XXI. O desafio actual é o modelo educativo dos futuros cidadãos e o modelo
democrático da nossa sociedade.
Atendendo ao acelerado desenvolvimento tecnológico, os professores têm necessidade
de uma rápida aprendizagem sobretudo na área das novas tecnologias, sem esquecer que a
tecnologia é uma ferramenta e que como ferramenta não garante resultados. É necessário
saber agir sobre a informação na óptica do utilizador desenvolvendo estratégias inovadoras
que qualifiquem o ensino e não apenas receber passivamente informação para agir sobre as
novas tecnologias como se fosse um técnico. Para isso o professor, além de competências

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básicas nessa área, deverá saber criar estratégias pedagógicas inovadoras que actuem sobre
a aprendizagem melhorando o nível de qualidade dos seus alunos.
Relativamente às TIC, segundo o estudo de Jacinta Paiva (2002), os professores
referem, regra geral, atitudes mais positivas do que negativas face às TIC: 48% dos
professores usa o computador para fins pessoais e a Internet é mais usada em casa que em
qualquer outro local. Acresce, ainda, que mais de metade não usa e-mail. Este estudo mostra
também que 77% dos professores que usam o computador elaboram fichas/testes e 44% faz
pesquisa na Internet, percentagem que é mais significativa nos professores que leccionam no
2º e 3º ciclos. A maioria não usa qualquer aplicação informática com os seus alunos e dos que
usam, 32% fazem-no na escrita de textos. Porém, 51% dos professores realizou formação em
TIC e a maioria afirma terem sido positivas. Um estudo realizado por Quadros Flores (2005) no
Concelho de Gondomar refere que os professores têm uma atitude positiva face às TIC sendo
esta a formação mais procurada no Centro de Formação. No entanto, mostra que esta
formação é dirigida ao professor e não ao modo como poderá aplicar a tecnologia na sala de
aula. Assim, as TIC são pouco usadas na sala de aula e os que as usam fazem-no mais na
elaboração de textos, grelhas ou investigação, a maioria não usa o e-mail como meio de
comunicação entre colegas. Relativamente ao uso da Internet Osório & Meirinhos (2006),
afirmam que os professores usam a Internet, embora alguns indicassem que o faziam
raramente, mas já têm um conhecimento razoável na navegação, pesquisa e e-mail. Os
conhecimentos reduzidos e nulos predominam na utilização de ferramentas da Internet menos
usuais como os fóruns, videoconferência e Chats. Este resultado parece coincidir com a
opinião de Ponte (2006) relativamente ao programa Internet@EB1 que contribuiu para
aumentar o uso das TIC nas escolas do 1º Ciclo, mas que os professores ainda têm um longo
caminho a percorrer para as dominarem na sala de aula. Altina & Osório (2007) acentuam as
possibilidades que o projecto CBTIC@EB1 proporcionou aos professores e crianças no
desenvolvimento de competências básicas em TIC no distrito de Braga. Benigno e tal (2007)
refere um estudo a 300 professores italianos sobre as suas opiniões relativas às novas
tecnologias e a inclusão onde mostra que a maioria (75%) reconhece que as ferramentas e
recursos TIC podem ter um grande potencial no incentivo e no reforço das práticas de inclusão
nas escolas. Seja como for, quase todos afirmam ainda precisar de informações específicas e
de orientação sobre como escolher e utilizar os produtos TIC adequados para atingir esses fins.
O contexto aqui traçado é uma montra do que se passa também com os professores em
Espanha, estudo realizado por Pavon (2000) a 1530 docentes (71,8% ensino primário) da
Andaluzia – Espanha, ou estudo realizado por Vidal Puga (2007) que envolve Portugal e
Espanha. Genericamente, vários estudos referem constrangimentos que se concentram
nomeadamente na falta de meios (materiais, humanos e de infraestruturais), na falta de
estímulo para as TIC, na falta de conhecimentos técnicos e pedagógicos de aplicação das TIC
em contextos educativos. É de realçar o estudo de Costa (2007) que mostra que, a
investigação no domínio das tecnologias, tem constatado que os efeitos são positivos, mas
modestos na aprendizagem e que tem havido pouca mudança ao nível da sala de aulas.
Curiosamente Área (2007) afirma que os cursos de informática que estão a dar aos professores
centra-se em excesso na aprendizagem das competências instrumentais da tecnologia sendo

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mais necessário formar os professores para a aplicação pedagógica da tecnologia, isto significa
saber planificar actividades ou unidades didácticas apoiadas no uso das TIC, prever os
objectivos e a natureza da aprendizagem do aluno quando introduzida a tecnologia, organizar
tarefas para a alfabetização digital do aluno, saber agrupar os alunos nas aulas de informática,
seleccionar sítios Web ou actividades na Internet, saber criar materiais didácticos de natureza
multimédia e interactiva, organizar foros de debate ou de colaboração entre alunos de outras
escolas, colaborar com outros professores em projectos a distância. É de relevar que o que o
professor pensa sobre as TIC influi no modo como as utilizar nos seus espaços profissionais. O
projecto E-learning 4 E-inclusion prova que ensinar competências técnicas que impliquem o
uso dum computador ou da Internet são inúteis quando não acompanhadas de motivação ou
de contextualização Sevilla (2007). Acrescenta o autor, que estas práticas serão inviáveis se
não existir um mínimo de infra-estrutura, acesso a um computador e à Internet. O combate
contra a brecha digital deve ser levado em ambas as frentes.
Tendo em conta este cenário, há uma necessidade inequívoca que o professor tem de
“formar” e “formar-se” para responder à sua demanda, pois uma nova forma de ensinar implica
novas aprendizagens; urge uma mudança de posição daquilo que foi, é e será ser professor,
escola e educação.

Uma nova imagem de ser professor?


Para Namo de Mello (2001) as mudanças que as tecnologias da informação produziram
nas formas de distribuir o conhecimento, ao contrário do que se esperava há mais de duas
décadas, não tiveram impacto nas formas de organização pedagógica da instituição escolar.
Acrescenta a autora que o modelo de escola que trouxemos para o novo milénio é, na sua
essência, igual ao que o século XX herdar do século XIX. Estudo realizado por Quadros Flores
(2005), refere que os professores são de opinião que a profissão de professor actualmente é
muito complicada, contraditória e com muita burocracia. Ser professor é muito difícil; é ensinar,
educar, transmitir conhecimentos, ser orientador. Os professores, além de educarem, assumem
um conjunto de funções, algumas das quais da competência dos pais. Detecta assim, quatro
dimensões na concepção de ser professor: a burocrática, a social, a educacional e a formação
e, ainda, quatro vectores fundamentais que definem um professor competente: a pessoal, a
relacional, a pedagógica e a científica, isto é, o professor relaciona-se consigo mesmo, com os
outros, com o saber-fazer e com o conhecimento. Mostra ainda a autora que os professores
consideram-se perfeccionistas ficando sempre com a sensação de que estão aquém das suas
possibilidades, ao espelho vêm os seus erros porque são muito críticos. Os professores
procuram formação por motivos intrínsecos (gostar de fazer um bom trabalho, de se relacionar
com os colegas, pelo prazer do conhecimento) e extrínsecos (subir na carreira e
consequentemente melhor vencimento, para serem melhores profissionais, para valorização
pessoal e social). Destacaram-se três tipos de formação (TIC, Ensinar é Investigar,
Complementos de formação) que mostraram corresponder às necessidades e interesses dos
professores. Definem o professor do futuro como o professor ideal: competente, completo,
disponível, dedicado, responsável, dinâmico, ligado à tecnologia e que goste da profissão.

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Segundo Baillauqués (2001) o grau de coerência entre o modelo pedagógico
memorizado, escolhido e o preferido e aquele que é exercido na realidade quotidiana tem uma
relação estreita com o modo como o professor vive a questão do saber, do grupo, do sucesso
profissional, das representações por ele elaboradas e dos investimentos por elas sustentados.
Continuaremos fechados no âmago de concepções desarticuladas com a actualidade?
O facto é que a actualidade está marcada pelo uso extensivo das novas tecnologias e
comunicação e conhecimento são o enfoque da nova era. A distribuição de conhecimento a um
maior número de pessoas começou com a invenção da escrita, mas não parou. A descoberta
da imprensa, rádio, telefone, televisão, telemóvel, computador, Internet são avanços
significativos e representativos de qualidade, rapidez de transmissão, convergência multimédia,
ampliação de cobertura e criação de espaços online que alteram a noção de tempo, espaço e
relação. Este novo paradigma da comunicação rompe como modelos comunicacionais
unidireccionais. É imperativo agilidade e flexibilidade. A escola deve prepara-se para um novo
espaço virtual, o ciberespaço, como uma instituição aprendente e não ensinante, aberta à
construção colectiva do conhecimento, ao saber como um todo e não apenas aos saberes
curriculares. A aprendizagem, graças às redes de conexão on-line, ao banco de dados de
informação e à potencialidade da interactividade, já não se encontra balizada na sala de aula,
mas trespassa para ambientes que podem abraçar o mundo. A concepção actual de
aprendizagem vem fortalecer a autonomia do professor como facilitador das aprendizagens. A
tecnologia da informação e da comunicação afecta a rapidez de distribuição do conhecimento e
a sua produção, o modo como se aprende e o que se pode aprender, os contextos da
realização das aprendizagens e a forma como nos podemos relacionar com os outros. Isto
implica um redimensionamento da escola, do professor e do aluno. Estamos perante um
desafio organizacional, pedagógico e ético.
Segundo Silva (2006) o professor tem uma nova postura, ele constrói um conjunto de
territórios a serem explorados pelos alunos e disponibiliza co-autoria e múltiplas conexões,
permitindo que o aluno faça por si mesmo, ele é mais que um conselheiro e um estimulador de
curiosidades. Refere ainda três pontos fundamentais que viabilizam a modalidade
comunicacional: o professor disponibiliza aberturas e permite a intervenção do aluno, rompe
com o espaço unidireccional autoritário e viabiliza a comunicação conjunta emissor/receptor,
disponibiliza múltiplas redes de conexões nos tratamentos dos conteúdos curriculares que leva
a combinações livres e criativas. O aluno ocupa o espaço de emissor e de receptor. A sala de
aula perde a monotonia e a rotina e torna-se um espaço colectivo mediado pela socialização,
participação e intervenção. Para o autor, a disponibilidade consciente da interactividade
potencia uma nova competência comunicacional na sala de aula que lança um novo desafio ao
professor, o de modificar a comunicação no sentido da participação-intervenção, da
bidirecionalidade-hibridação e da permutabilidade-potencialidade. Rompe barreira entre
professor e aluno.
Para Moran (2004), Majó y Marqués (2002), entre outros, actualmente vive-se um
redimensionamento do papel do professor, ele é, cada vez mais, um supervisor, um animador,
um incentivador dos alunos na instigante aventura do conhecimento, um guia e tutor, acessor,
prescritor de recursos educativos, motivador, aprendiz junto dos seus alunos, ajudando a

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promover o desenvolvimento cognitivo e pessoal. Marqués (2000) acrescenta que é um
mediador, um especialista, promove a construção de competências para que o aluno goze de
autonomia, regula a aprendizagem, avalia os progressos, facilita a interacção entre materiais e
trabalho colaborativo, fomenta aprendizagens significativas e transmissíveis e a busca de
curiosidade intelectual, originalidade, potencia o sentimento de capacidade, auto-imagem,
ensina o que fazer, como, quando e porquês, partilha experiências de aprendizagem com os
alunos, atende a diferenças individuais e desenvolve atitudes positivas nos alunos.
No ensino tradicional, o professor dá passivamente as suas aulas, recomenda livros e
avalia a reprodução do conhecimento. Actualmente, professores e alunos têm que aprender a
estar on-line, isto é, num espaço de partilha, de colaboração e de construção em rede. Deste
modo, o professor não será o motor de distribuição da informação e do saber, mas sim um
membro do sistema distribuído de informação e conhecimento, que se estabelece e desenvolve
no âmbito da actividade da comunidade de aprendizagem em rede (Dias, 2004). Deixará de ser
um organizador de actividades para a aprendizagem do aluno e assumirá o papel de
companheiro, líder e animador comunitário, concentrando-se não só em conteúdos e técnicas
didácticas, mas na capacidade de mobilizar a comunidade de aprendizes em torno da sua
própria aprendizagem. Por seu lado, o aluno deixa de ser mero receptor de informações ou
assimilador de conteúdos a serem reproduzidos para aprender a “surfar” na Internet ou usar o
correio electrónico. Neste sentido, Bidarra (2004) diz que o estudante torna-se um “navegante”
atravessando canais estabelecidos, um “explorador” porque cria novas conexões para
territórios até então desconhecidos, um “pioneiro” porque se aventura por nós e ligações sem
ter um mapa e um “visionário” porque imagina o inexplorado. Aliás, a Sociedade Internacional
para a Tecnologia Educativa (Codesido, 2007) propõe as competências standard para os
alunos da era digital, competências essas também definidas pela UNESCO e OCDE:
criatividade e inovação, comunicação e colaboração, procura e processamento de dados,
pensamento crítico, resolução de problemas e tomada de decisões, cidadania digital e
conceitos e procedimentos tecnológicos. Neste sentido, é de opinião que educadoras e
educadores possam utilizar as tecnologias de modo a que o aluno aprenda autonomamente e,
em simultâneo, desenvolva actividades de pensamento crítico e de estratégias de análise da
informação.
Muda também o conceito de aula como um espaço e tempo determinado, que cada vez
mais flexíveis são enriquecidos com as possibilidades que as tecnologias interactivas
proporcionam mesmo fora do horário específico da aula: para receber e responder mensagens
dos alunos, criar listas de discussão e debates, pesquisas, etc., há uma possibilidade cada vez
mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e em espaços diferentes.
Assim, no futuro poderá haver menos salas de aula e mais salas ambiente, salas de pesquisa,
de encontro, interconectadas e que a casa e o escritório serão, também, lugares importantes
de aprendizagem (Moran), ou ainda salas virtuais que o Second Life poderá proporcionar. Já
há professores que abriram uma sala no second life . A Georgia State University (e-school
news, 2007) vai gerir um ilha onde vai oferecer instruções sobre a criação de uma aula virtual e
vai mostrar boas práticas oferecendo dicas sobre formas variadas de utilização do Second Life
para a educação. Os alunos neste espaço, podem vivenciar experiências virtuais caras ou

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perigosas no mundo real, mas acessíveis no mundo virtual. Outras Universidades, incluindo
portuguesas, preparam-se para fazer formação neste sentido.
Na escola do futuro, refere Braslavsky (2004) os livros, os computadores e os meios
audiovisuais deverão estar presentes em cada sala de aula, como recursos para a
aprendizagem das diferentes disciplinas e áreas do conhecimento. O computador, conectado
em rede com o professor, permitirá o acompanhamento do trabalho e facilitará o apoio e a
orientação necessária para a aprendizagem do aluno. As redes permitirão a conexão entre
colegas e a resolução de problemas em conjunto. A globalização dos conteúdos produzirá uma
abertura entre instituições nacionais ou internacionais que poderá ser facilitada pela Internet,
videoconferências e outras tecnologias de educação a distância. A videoconferência permite
estabelecer comunicação com lugares remotos compartilhando o vídeo, áudio e dados de
forma sincrónica.
Este retrato mostra que poderá haver de facto uma mudança no ambiente de
aprendizagem. Dias (2001) opina que a aprendizagem no processo tradicional foca a estrutura
do conhecimento e dos processos cognitivos necessários para receber a informação e
proceder à sua integração nas estruturas existentes, modificando-as de modo a acomodar uma
nova informação. Isto é, foca o desenvolvimento das competências e do conhecimento a ser
adquirido pelo aluno, sem ligação evidente ao meio ou ao contexto de construção das
aprendizagens. Este tipo de aprendizagem resulta em conhecimento isolado, inerte com difícil
utilização fora do contexto de aquisição. Porém, a mudança de paradigma nesta nova era vê a
aprendizagem como um processo activo dinâmico do indivíduo na construção individual e
social do conhecimento resultando de um processo de experimentação, discussão, reflexão
colaborativa do indivíduo e da comunidade de aprendizagem. Neste contexto, conhecimento e
aprendizagens são sistemas vivos formados por redes e inter-relações frequentemente
invisíveis. Assim, a aprendizagem centrada no aluno promove a construção do conhecimento
em contexto em que o aluno está inserido e sendo ela participativa envolve actividades
colaborativas da comunidade. Fala-se, então, de inteligência colectiva e de escolas
inteligentes. A aprendizagem tradicional e o modelo de ensino começam a ceder terreno em
favor de modelos de aprendizagens sustentadas nos hipermédia.

Conclusão
A integração da tecnologia na educação disponibiliza uma panóplia de oportunidades
que a escola e os seus representantes não podem descorar. Se por um lado, estende braços à
comunicação permitindo nacionalizar e internacionalizar práticas e relações, por outro lado,
desafia professores, alunos e escolas a praticas inovadoras, contrariando a velha tradição do
que sempre foi ensinar. O acesso fácil à informação, a possibilidade de interagir de modo a
construir do seu próprio conhecimento centra a aprendizagem no estudante que percorre vários
caminhos colaborando e cooperando com os demais. Este contexto exige a mudança de acção
metodológica e estratégica do professor de modo a criar ambientes de trabalho que permitam a
criação, a inovação, a reflexão e a decisão. Redimensiona assim, o perfil do professor do
século XXI. Ser professor já não se limita ao ensinar e transmitir conhecimentos e valores, mas

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ao ajudar os estudantes a “aprender a aprender” de maneira autónoma nesta cultura de
mudança, para que no futuro sejam capazes de se adaptarem a novos perfis. Verificou-se, no
entanto, que os professores ainda têm dificuldade em aplicar a tecnologia em contextos
educativos e isso justifica-se sobretudo porque a formação recebida centrou-se mais na
aprendizagem de competências instrumentais da tecnologia e menos na aplicação pedagógica
da tecnologia. Uma formação capaz é a força para que no século XXI, o século das
possibilidades, professores e alunos, fora da sua sala de aulas, sejam professores e alunos do
mundo.

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