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Finanças públicas

É o estudo da atividade financeira do Estado, mais concretamente, o estudo da aquisição e da utilização de meios
financeiros pelas coletividades públicas. O Estado pretende que sejam satisfeitas determinadas necessidades coletivas
e para tal propõe-se distribuir bens.
Esta distribuição de bens implica despesas. O Estado precisa de obter receitas para cobrir essas despesas, precisa de
meios de financiamento. A atividade financeira é a atividade do Estado proposta à satisfação de atividades coletivas e
concretizada em receitas e despesas. O objeto das finanças públicas é o estudo da aquisição e utilização de meios
financeiros pelas coletividades públicas. O Estado tem as suas finanças porque precisa de fazer despesas com a
produção de bens.

CARACTERÍSTICAS DOS O ESTADO PRODUZ 3


BENS QUE SATISFAZEM CATEGORIAS DE BENS:
NECESSIDADES DE ● Bens que só satisfazem necessidades coletivas;
● Bens que satisfazem além das necessidades
SATISFAÇÃO PASSIVA: coletivas, necessidades individuais gratuitamente ou a
Esses bens têm como características: preço inferior ao custo;
● Bens que satisfazem além das necessidades
● Passividade: Para a necessidade ser satisfeita o coletivas, necessidades individuais por preço igual ao
consumidor não necessita de realizar alguma
custo ou preço superior ao custo, mas inferior ao que
atividade; no mercado se estabeleceria caso a oferta
● Inexcluibilidade: Os consumidores não são excluídos pertencesse a empresas privadas;
por não pagarem um preço, não são suscetíveis de Os bens produzidos pelo Estado que satisfazem
serem utilizados por um só individuo isoladamente, necessidades coletivas são sempre bens públicos. O
traduzindo-se na impossibilidade dessa mesma Estado pretende que sejam satisfeitas determinadas
exclusão ninguém pode ser privado da sua utilização; necessidades coletivas, para tal está disposto a
● Irrivalidade: A utilização por parte de um produzir bens, essa produção de bens implica
consumidor não interfere na utilização por parte de despesas, o Estado para fazer despesa precisa de
outro para usufruir das vantagens da sua utilização obter receitas, são os meios de financiamento do
os sujeitos não entram em concorrência uns com Estado.
os outros;
BENS PÚBLICOS E MEIOS DE FINANCIAMENTO:
● Preço: Os bens que o Estado produz, oferece e
SEMI PÚBLICOS:
vende. O Estado é detentor de um grande
● Os bens públicos são aquele tipo de bens que se património de terrenos, de prédios, de fábricas, e
limitam a satisfazer necessidades coletivas, por por princípio deve administrar como qualquer outro
exemplo é público o serviço da profilaxia das doenças particular, daí resultam rendimentos que podem ser
contagiosas. destinados à cobertura de despesas com a
● Os bens semipúblicos são considerados satisfação de necessidades coletivas;
tecnicamente semipúblicos quando satisfazem
simultaneamente necessidades públicas e ● Receitas dos empréstimos ou creditícias: As
necessidades individuais ou privadas. receitas dos empréstimos, se o Estado recorre ao
Considera-se que um bem é financeiramente crédito tem de lançar mão de outro meio de
semipúblico quando é exigido um preço, uma taxa financiamento para pagar os empréstimos
para a sua utilização. anteriormente contraídos como também os
Desta forma, há bens tecnicamente semipúblicos respetivos juros. Não só o capital desses mesmos
mas financeiramente públicos porque são fornecidos empréstimos, Portugal tem tido por sistema recorrido
gratuitamente. Por outro lado, também há bens ao meio de financiamento das receitas creditícias, não
públicos que financeiramente se tornam semipúblicos tem tido receitas suficientes para cobrir as despesas
porque por eles é cobrada uma taxa. recorrendo para tal ao crédito público/ aos
A definição da natureza de um bem público ou empréstimos;
semipúblico compete às autoridades estaduais, como
o governo e a Assembleia da República, tendo ● Impostos/ receitas tributárias: Grande grosso das
sempre em conta a Constituição da República receitas do Estado são as receitas dos impostos;
Portuguesa. O Estado utiliza o poder de império para obrigar os
cidadãos a contribuir independentemente de qualquer
procura da parte deles, para a satisfação de
necessidades coletivas exigindo aos cidadãos/
FINANÇAS POSITIVAS: contribuintes unilateralmente um preço pela
● As finanças positivas é o estudo da ação prestação de determinados bens, como também os
desenvolvida pelo Estado para a satisfação de cidadãos com maiores rendimentos são os cidadãos
necessidades coletivas. com mais impostos devem pagar a medida do
imposto vai aumentando à medida que aumenta o
rendimento do contribuinte.
FINANÇAS NORMATIVAS:
● As finanças normativas são as finanças que
enunciam as regras, as normas que o Estado deve
subordinar-se para melhor prosseguir os seus fins.
Essas regras ou normas constituem a política
financeira.
POLÍTICA FINANCEIRA: FINANÇAS
● As finanças neutras ou neutrais surgem com o INTERVENCIONISTAS:
triunfo da escola liberal século XIX. Entendeu-se que a ● Pretendem modificar as condições da economia
economia privada, através do mecanismo dos privada, face à expansão do movimento socialista e
mercados, geralmente assegurava o máximo de depois também da depressão de 1929 a 1933 e
produção e a correta distribuição do rendimento, logo também o após a 2ª Guerra Mundial.
o Estado não devia de cobrar receitas e pagar Estas finanças intervencionistas caracterizam-se por
despesas com o fim de alterar a oferta e a procura, três grandes objetivos:
nem corrigir a redistribuição dos rendimentos. Redistribuição do rendimento e da riqueza a favor
O Estado apenas devia de cobrar receitas para dos que têm rendimentos mais pequenos, por isso,
apenas cobrir aquelas despesas com aqueles bens vai o Estado transferir rendimentos dos ricos para os
estritamente indispensáveis cuja produção não tinha pobres ou organizar à custa dos ricos serviços que
em perspetiva o lucro, como também a produção os pobres beneficiem;
daqueles bens que os particulares não Estabilidade económica, isto é, a estabilidade do
demonstrassem interesse. Estas finanças neutras não emprego e do nível dos preços a curto prazo;
modificam as posições relativas dos particulares. O Desenvolvimento económico, isto é, o aumento
Estado devia arrecadar a menor parcela possível dos do rendimento potencial a longo prazo de modo a
impostos e desses mesmos impostos devia criar tanta que se possa aumentar o mais possível o rendimento
utilidade que os particulares sentissem esse mesmo por habitante, o aumento do rendimento per capita;
efeito, essa mesma utilidade para a qual contribuíram. São estes os três objetivos capitais das finanças
A partir dos finais do século XIX o Estado passou a intervencionais perseguidos pelos sucessivos
intervir frequentemente na vida económica com os governos com o maior ou menor grau de sucesso e
seus instrumentos financeiros. cujos objetivos são instrumentos financeiros daí que
hoje se fale frequentemente em vez de finanças
intervencionistas em finanças funcionais para traduzir
ORÇAMENTO DO ESTADO: a ideia de que a escolha desses instrumentos, das
receitas e das despesas públicas, deve basear-se na
● O orçamento de Estado em Portugal é de um ano.
maneira como cada uma delas funciona, isto é, nos
O ano económico coincide com o ano civil. É um
efeitos que exerce sobre a economia nacional ao
documento onde se prevê as receitas e as despesas
contrário das finanças neutras ou neutrais.
públicas, autorizadas para o período financeiro daí a
regra da anualidade orçamental.
O nosso período financeiro é de um ano como na
generalidade ou quase totalidade dos países, começa
a 1 de janeiro e termina a 31 de dezembro, coincide
com o ano civil.
Em Inglaterra, por exemplo, o período financeiro
começa a 1 de abril, e nos EUA começa a 1 de outubro.
ORÇAMENTO DE GERÊNCIA E FUNÇÕES DO ORÇAMENTO
ORÇAMENTO DE EXERCÍCIO: DE ESTADO:
● Depois de definirmos o orçamento de Estado
● O orçamento da gerência é aquele em que se
torna-se importante definirmos as funções.
prevê as receitas que o Estado irá cobrar e as
Relacionação das receitas com as despesas: As
despesas que irá pagar em virtude dos créditos, é,
receitas têm de cobrir as despesas, há que fixar um
portanto, uma previsão de receitas e de despesas na
montante das receitas para cobrir as despesas, na
sua fase terminal de cobranças e de pagamentos.
verdade de que serviria prever receitas se o
● O orçamento do exercício é aquele que se prevê
montante das despesas pudesse variar. O total das
as receitas que o Estado irá cobrar e as despesas que
despesas é a soma das despesas de todos os serviços
irá pagar, em virtude dos créditos e das dívidas que
do Estado de modo que se as despesas de cada uns
irão surgir a seu favor e contra si durante o período
dos serviços estiverem fixados estará fixado o total
financeiro, é portanto uma previsão de receitas e
da despesa. É através do orçamento que se
despesas na sua fase inicial de créditos e de dívidas.
consegue saber as verbas de despesa que são
● O nosso orçamento em Portugal é um orçamento atribuídas a cada serviço e as autorizações de gastar
de gerência. O orçamento de exercício permite-nos que por isso mesmo se chamam créditos.
o confronto entre o montante das dívidas e dos Fixação das despesas: mostra-nos que o
créditos que irão surgir contra e a favor do Estado orçamento das despesas não tem o mesmo
durante o período financeiro, isto é, permite-nos significado, a mesma natureza que o das receitas.
saber as importâncias que o Estado se vai tornar Quanto ao orçamento das despesas as verbas nele
credor são suficientes para cobrir as despesas inscritas correspondem às importâncias que se prevê
enquanto devedor. O orçamento é sempre uma que os serviços precisam de gastar, quer dizer,
previsão, o que distingue da conta porque a conta é enquanto o orçamento das receitas é pura previsão
uma efetivação. de cobranças, o orçamento das despesas é previsão
Quanto se gastará e quanto se receberá diz-nos o de gastos que os serviços não poderão ultrapassar.
orçamento, quanto se gastou e quanto se recebeu Exposição do plano financeiro: O orçamento
diz-nos a conta. Quer isto dizer que o orçamento diz representa o próprio programa financeiro, é nele que
respeito ao futuro e a conta diz respeito ao passado. se concretiza o plano da administração, o
desenvolvimento que se vai adotar ou as restrições
que se vão colocar à atividade dos serviços, bem
como a importância dos recursos que vão transferir-
se do setor privado para o setor público.
REGRAS DA ORGANIZAÇÃO DESPESAS PÚBLICAS:
● As despesas públicas consistem no gasto de
DO ORÇAMENTO:
dinheiro ou no dispêndio de bens por parte de entes
● Regra da unidade: O Art. 9º LEO e o Art. 105º/3 públicos para criarem ou adquirir bens suscetíveis de
CRP dispõem que o orçamento é unitário sendo que satisfazer necessidades públicas (Ex. Pagamento dos
o nº1 deste artigo enuncia não só o princípio ou regra vencimentos dos funcionários públicos e/ou
da unidade como da universalidade. Há depois um construção de uma grande obra pública). Dentro das
único orçamento de Estado que compreende tanto despesas públicas temos:
as receitas e as despesas da administração central e Despesas de investimento: Todas as despesas
do subsetor da segurança social; efetuadas na formação de capital técnico;
● Regra da especificação: (Art. 17º LEO e o Art. Despesas de funcionamento: São as despesas
105º/1/a CRP) As receitas e as despesas devem ser necessárias a garantir o normal funcionamento da
previstas especificamente. Há uma maior máquina administrativa estadual;
preocupação do legislador em especificar as despesas Despesas correntes: São as despesas que o
do que propriamente as receitas, pois quer saber Estado faz em bens consumíveis durante o período
exatamente o que vai gastar. A especificação não financeiro.
pode ser levada às últimas consequências pois se no ● Despesas em bens consumíveis como as
orçamento fossem discriminadamente previstas as despesas com os vencimentos dos funcionários,
mínimas despesas os serviços poderiam perder a sua como também, com a aquisição de objetos como
iniciativa, a possibilidade de se adaptarem às material papel, luz, água, cujo objeto esgota-se no
circunstâncias; decurso do próprio ano;
● Regra do orçamento bruto: As receitas e as Despesas de capital: São as que o Estado faz
despesas devem ser inscritas no orçamento sem em bens duradoiros ou que contribuem para a
qualquer compensação ou desconto, apesar de formação de aforro. Despesas em bens duradoiros
inscritas discriminadamente no mesmo documento como as despesas em aeroportos/ portos de mar,
podem ser orçamentadas pela sua importância edifícios públicos, despesas que contribuem para a
integral sem dedução de qualquer espécie, sem formação de aforro como as despesas com a
qualquer compensação ou desconto (Artigo 15º da lei compra de ações de sociedades ou com o
do enquadramento orçamental); reembolso de empréstimos dado que os
● Regra da não consignação: Segundo a qual as vendedores das ações e os credores dos
receitas devem ser indiscriminadamente destinadas à empréstimos aforram geralmente a maior parte das
cobertura das despesas e não quaisquer receitas importâncias que recebem;
afetadas à cobertura de despesas em especial. Todas Despesas ordinárias e extraordinárias: As
as receitas devem servir para cobrir todas as despesas ordinárias são as despesas que irão
despesas (Artigo 16º da LEO); repetir-se em todos os períodos financeiros,
despesas que constituem como que encargos
permanentes do Estado; as despesas extraordinárias
são despesas em que não é natural repetirem-se
todos os períodos, despesas que geralmente nem
sequer podem prever-se ou orçá-las;
EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL: RECEITAS E DESPESAS
● O orçamento prevê as receitas necessárias para
EFETIVAS:
cobrir as despesas, em sentido contabilístico significa
igualdade entre receitas e despesas inscritas (Artigo ● Despesas que diminuem e receitas que aumentam o
105º, nº4 da Constituição da República). património do Estado.
● O orçamento da gerência é aquele em que se ● O orçamento encerra com a conta, o encerramento
preveem as receitas que o Estado irá cobrar e as da conta em que todas as despesas pagas e todas as
despesas que irá pagar durante o período financeiro, receitas cobradas durante o período financeiro do ano
é, portanto, uma previsão de receitas e de despesas económico que é o ano civil, que é uma conta de
na sua fase terminal de cobranças e de pagamentos. gerência, e à conta de todas as despesas pagas e de
Enquanto que no orçamento do exercício é uma todas as receitas cobradas em virtude das dividas e dos
créditos nascidos durante determinado período é a
previsão de receitas e de despesas na sua fase inicial
conta do exercício. Compete a fiscalização das contas
de créditos e de dívidas.
ao tribunal de contas essa fiscalização prévia das
despesas que consiste em averiguar se os documentos
a ela sujeitos estão conformes com as leis em vigor, e
RECEITAS PÚBLICAS: se os respetivos cabimentos estão conformes a verba
orçamentada estes documentos entram no tribunal de
● Receitas ordinárias ou receitas extraordinárias: As
contas e são submetidos a verificação preliminar da
receitas ordinárias são receitas que o Estado cobra
direção geral do tribunal.
este ano e com quase toda a probabilidade voltara a
● A despesa pública por vários motivos tem vindo a
cobrar nos anos seguintes; as receitas extraordinárias
aumentar nos últimos tempos, o aumento das despesas
são receitas que o Estado obtém este ano e com
públicas segundo a lei de Wagner e a lei do aumento da
toda a probabilidade não voltara a obter nos anos
despesa pública, dizia que os povos com o aumento
seguintes;
progressivo das suas funções iria-se verificar um
● Receitas correntes e receitas de capital: as receitas desenvolvimento da atividade do Estado e das
correntes são as receitas que proveem do administrações locais aumentando não só a importância
rendimento do próprio ano que é o caso das receitas absoluta como a importância relativa dessa mesma
patrimoniais dos impostos e das taxas; as receitas de atividade. Quanto às causas do aumento mais que
capital são as que proveem de aforro que é o caso proporcional das despesas públicas em relação às
dos empréstimos em que os capitalistas concedem despesas privadas seria uma consequência da expansão
ao Estado com dinheiro que pouparam como é o caso das atividades do Estado, essa expansão poderia ser
do produto da venda pelo Estado de títulos de crédito intensiva na área da administração pública, do ensino, da
privados, como por exemplo, as ações e obrigações; investigação cientifica, como também extensiva quando
o Estado empreende novas atividades que
frequentemente acontece com a intervenção em
PROCESSO DE ORÇAMENTO: determinadas atividades e setores da vida económica,
! Art. 32º e 33º/6 LEO: Na primeira fase do como por exemplo, os subsídios de redistribuição dos
processo orçamental o governo envia para a rendimentos relacionados com a segurança social como
comissão europeia a atualização do Programa de também a construção de uma grande obra pública
Estabilidade; como exemplo, uma autoestrada.
! Art. 16º LEO
REGIME DOS DUODÉCIMOS: ENCERRAMENTO DA CONTA
● O regime dos duodécimos em matéria de despesa (CONTA DE GERÊNCIA E
o orçamento apresenta uma particularidade que é a
de rara não ser permitido utilizar, logo de uma vez a
CONTA DE EXERCÍCIO):
totalidade de cada crédito. Definitivamente o artigo 58º ● A 31 de dezembro termina o período financeiro
da lei de enquadramento orçamental manda que a que o orçamento era uma previsão vai ficar-nos uma
realização das despesas obedeça ao princípio da conta.
utilização de duodécimos, salvo as exceções O que fora uma previsão de receitas a cobrar e de
autorizadas pela lei. despesas a pagar vai ficar-nos uma conta de despesas
Significa isto que os encargos devem ser assumidos pagas e de receitas cobradas. Também temos uma
e os pagamentos autorizados por importâncias não conta de gerência e de exercício. Há a conta de todas
excedentes aos duodécimos vencidos. Não pode as despesas pagas e de todas as receitas cobradas
fazer-se em cada mês por conta de determinado durante o período financeiro, é a conta da gerência.
crédito orçamental despesas que somadas às feitas Há a conta de todas as despesas pagas e de todas
por conta desse mesmo crédito nos meses anteriores as receitas cobradas em virtude das dívidas e dos
ultrapassem o produto da duodécima parte do crédito créditos nascidos durante determinado período, é a
pelo número cronológico do respetivo mês. conta de exercício.
Ex. se o crédito orçamental é de 120 milhões de
euros não pode ser utilizado em mais de 10 milhões
de euros até ao fim de janeiro e até ao fim de maio O MULTIPLICADOR E O
não pode ser utilizado mais de 50 milhões de euros,
até ao fim de agosto não pode ser utilizado mais de PRINCÍPIO DO ACELARADOR:
80 milhões de euros. ● O consumo e o efeito de rendimento sobre
determinados bens. Todo o rendimento é consumido
ou aforrado/poupado, daí a propensão ao aforro, isto
EFEITOS ECONÓMICOS DAS é, a relação entre aforro e rendimento. O aforro pode
ser investido ou entesourado, pode ser investido na
DESPESAS: compra de bens ou na transformação do aforro em
● As despesas públicas exercem efeitos económicos bens de produção. O aforro também pode ser
por duas vias: entesourado, o entesouramento é a manutenção do
Através dos serviços que o Estado presta e que aforro em saldos líquidos.
visam satisfazer necessidades coletivas, o Estado ● O investimento é dependente de várias
produz bens consequentemente cria utilidades, no circunstâncias da atividade económica que depende
entanto, as despesas públicas são produtivas. do rendimento, que é por este provocado.
Determinadas despesas públicas são produtivas ao Depende também de outros fatores que não ao nível
criarem utilidades através dos serviços que o Estado do rendimento, como fatores políticos, técnicos ou
presta. populacionais, trata-se de investimento que não
Despesas que se limitam a criar utilidades as quais obedece às variações do nível do rendimento de
são, portanto, despesas meramente produtivas e investimento autónomo.
despesas que também criam capacidade de produção
as quais por isso mesmo são despesas reprodutivas.
● Motivos pelos quais o Estado recorre ao crédito:

CRÉDITO PÚBLICO/ LEI DE WAGNER:


● Segundo Wagner, as despesas públicas revelam
EMPRÉSTIMOS PÚBLICOS: uma tendência para aumentarem nas sociedades
Défice de tesouraria: Este défice de tesouraria
modernas, em razão do aumento das funções do
compreende-se porque a tesouraria apresenta uma
Estado. O alemão Adolfo Wagner, em finais do século
situação deficitária, por vezes falta dinheiro e existem
XIX enunciou a lei do aumento das despesas públicas.
pagamentos para realizar, e por vezes o Estado está a
receber mais tarde, como, por exemplo, tem que pagar Segundo Wagner, nas sociedades saídas da
uma conta dia 15 mas só no final do mês (30/31) é que revolução industrial teriam um desenvolvimento que
recebe o montante que pode ajudar a fazer face ao iria originar o aumento da atividade regular do Estado
pagamento do dia 15, por esse motivo não tem dinheiro e das administrações locais.
imediato logo recorre-se ao crédito a curto prazo. Neste ● Também devido ao aumento da população que
défice de tesouraria sabemos que no orçamento se consequentemente aumentaram as despesas públicas.
previam receitas suficientes para cobrir todas as despesas, Estas aumentaram em maior proporção que o
mas ao longo do período financeiro os montantes das
rendimento nacional e as pessoas passaram a ter um
receitas não coincidem com os montantes dos
menor poder de compra devido à desvalorização da
pagamentos, haverá dias que os cofres públicos terão
moeda, o Estado passa a ter um papel maior
receitas superiores, outros pelo contrário, as receitas serão
inferiores aos pagamentos que nesses dias terão que
intervencionista com o fim de um bem estar social,
realizar-se, daí que o tesouro possa encontrar-se em nomeadamente, com as novas funções como as
determinada altura com fundos insuficientes para recorrer funções da segurança social. Há uma expansão das
para fazer face aos pagamentos. Quando essa situação atividades do Estado nas sociedades modernas face
acontece terá que recorrer-se ao crédito, trata-se de um ao aumento das funções do próprio Estado.
défice passageiro transitório proveniente de se
encontrarem na mesma altura as receitas e as despesas;
Cobertura do défice orçamental: O excesso das O MULTIPLICADOR
despesas efetivas sobre as receitas efetivas e por isso para
equilibrar esse défice o Estado recorre ao crédito a médio
KEYNESIANO:
e a longo prazo;
● É o coeficiente numérico que nos traduz, perante
Esterilização do poder de compra: Se houver muito
o investimento inicial, o aumento verificado do
consumo os preços tendem a aumentar levando à inflação,
produto. É o coeficiente que mede o aumento do
para evitar esta situação o Estado recorre ao crédito
porque a indisponibilidade de dinheiro faz com que não se rendimento impotável ao investimento inicial. O
gaste, por isso, se o Estado recorrer ao crédito retira acelerador é o coeficiente que mede o aumento de
dinheiro aos particulares e estes passam a gastar menos. investimento resultante de despesas iniciais de
O Estado não só recorre ao crédito para financiar despesas consumo. O efeito de multiplicação, esta teoria é
públicas, mas também a ele recorrer por vezes para designada por um aumento provocando um aumento
impedir as despesas privadas, como, por exemplo, de um múltiplo do rendimento. O aumento do investimento
processo inflacionista em que a subida dos preços é suscita um aumento líquido da procura de bens e
impotável à pressão da procura e o Estado afim de reduzir serviços, esse aumento da procura de bens vai
essa mesma procura recorre aos empréstimos, às
exceder a produção desses mesmos bens, daí
poupanças porque de outro modo seriam gastos pelo
compreender-se que se multiplique o rendimento
menos uma boa parte desses mesmos capitais.
criado pelo investimento.
ESPÉCIES DE EMPRÉSTIMOS:
● Os empréstimos contraídos pelo Estado, os ● Os empréstimos temporários podem ser
empréstimos públicos são suscetíveis de várias reembolsáveis à vista, rendas vitalícias, empréstimos
distinções, assim quanto ao lugar podemos distingui-los amortizados por sorteio e empréstimos reembolsáveis
entre empréstimos internos e empréstimos externos.: em data fixa.
● Os empréstimos internos são aqueles empréstimos ● Reembolsáveis à vista: são empréstimos que o Estado
que são contraídos dentro do próprio país. se compromete a pagar quando o credor o pretende,
● Os empréstimos externos são os empréstimos o Estado fica obrigado a pagar quando o particular lhe
contraídos no estrangeiro. exigir o capital, o que naturalmente é difícil
● Os empréstimos contraídos no estrangeiro também compreensão porque o particular pode passados alguns
podem ser voluntários e forçados. dias exigir o capital, mas o Estado só contrai estes
● Os empréstimos voluntários são aqueles empréstimos quando tem a certeza prática de que a
empréstimos que o Estado solicita/pede e quando grande maioria dos credores não lhe exigirá o
solicita quem quer empresta, quem não quer não reembolso antes de decorrido bastante tempo;
empresta. ● Rendas vitalícias: como o próprio nome indica são
● Os empréstimos forçados é quando o Estado exige empréstimos em que o Estado se obriga a pagar uma
e quando o Estado o faz as pessoas emprestam mesmo renda anual enquanto este for vivo e é através da renda
que não queiram, estes empréstimos forçados só que o reembolso se efetua, como por exemplo, alguém
podem ser internos. O Estado obriga os capitalistas a empresta ao Estado 100 milhões de euros com
emprestar-lhe dinheiro porque pretende obter um obrigação de este lhe pagar para toda a vida uma renda
empréstimo a um juro mais baixo do que o do mercado. anual que compreenda além do juro a cota de
● A emissão dos empréstimos está sujeita a uma taxa amortização do capital. A renda será maior ou menor
de juro, quando os empréstimos públicos são consoante for maior ou menor a duração provável do
representados em títulos, estes mesmos títulos têm que credor, consoante ele for mais ou menos idoso, e como
ser emitidos. Emitir títulos de empréstimos públicos é a duração da vida é sempre provável e nunca certa, o
emitir títulos de crédito, esses mesmos títulos de crédito Estado ganha ou perde conforme um credor viva mais
podem ser emitidos e essa mesma emissão pode ser ou menos anos do que aqueles que a sua vida permita
ao par ou abaixo do par.. Os juros porque os esperar;
empréstimos são emitidos podem ser iguais ou ● Empréstimos amortizados por sorteio: o Estado
inferiores ao juro corrente no mercado, a emissão é reembolsa todos os anos um certo número constante
feita ao par ou abaixo do par conforme o preço dos ou variável de títulos erados à sorte de modo que o
títulos, conforme a taxa de juro do empréstimo é igual empréstimo se encontre inteiramente amortizado ao
ou inferior à taxa de juro corrente no mercado. Os fim de certo prazo;
empréstimos podem ser perpétuos e temporários. ● Empréstimos reembolsáveis em data fixa: o Estado
● Os empréstimos perpétuos podem ser remíveis e obriga-se a reembolsar todo o capital do empréstimo
irremíveis. em certa data, aquele empréstimo de um milhão de
● Empréstimos perpétuos remíveis são aqueles em que euros que foi contraído, por exemplo, a 4 de abril de
o Estado fica com a faculdade de efetuar reembolso 2018 terá de ser totalmente reembolsável no dia 4 de
quando quiser. abril de 2028;
● Empréstimos perpétuos irremíveis são aqueles em
que o Estado não goza da faculdade de realizar o
reembolso.
AS VANTAGENS COM ESSA EMISSÃO DOS EMPRÉSTIMOS:
● Essas vantagens podem ser: prémio de reembolso, Garantias contra a desvalorização: A garantia pode
prémios de amortização, garantias de pagamento, ser dada mediante a ligação do empréstimo ao valor
garantias contra a desvalorização e isenção de de um bem ou de um conjunto de bens que
impostos sobre o rendimento. acompanhem de perto as oscilações monetárias, isto
Prémio de reembolso: O Estado atribui é, que suba ou desça aproximadamente na mesma
constantemente vantagens particulares aos seus medida em que a moeda se desvaloriza ou valoriza. O
credores, pelo que esta resulta das emissões abaixo Estado obriga-se assim a pagar os juros e reembolsos
do par, os títulos são emitidos por valor inferior ao que resultar da aplicação.
valor nominal e os credores ficam com o direito a Têm se feito a ligação dos empréstimos públicos
receber mais no futuro do que pagam no presente. ao valor de determinada moeda estrangeira, garantia
A diferença constitui o chamado prémio de de pagamento, como também à chamada clausula de
reembolso; ouro, ou ao valor de uma ou de várias mercadorias
Prémio de amortização: Os empréstimos cuja variação se exprime geralmente através dos
temporários podem ser amortizados por sorteio, o respetivos números índices, liga-se o empréstimo ao
Estado amortiza anualmente um certo número de índice de cotações dos títulos de rendimentos
títulos tirados à sorte, acontece que por vezes o variáveis, como por exemplo, as ações;
Estado paga todos ou alguns dos títulos por mais do Isenção dos impostos sobre o rendimento: Os
que o seu valor nominal, esta diferença é o prémio credores do Estado em alguns países beneficiam da
de amortização; isenção de imposto sobre o rendimento dos títulos,
Garantias de pagamento: O Estado é o mais mas geralmente nunca se trata duma verdadeira
capaz de todos os devedores, mas isso não significa isenção, isto é, de uma situação de privilégio face aos
que o Estado pague sempre, por vezes levantam-se outros credores privados, geralmente, a isenção de
dúvidas quanto ao pagamento do Estado, quando isso impostos envolve a diminuição do juro que o Estado
acontece os credores exigem garantias de paga pelos seus empréstimos, vindo a igualar-se o
pagamento, como por exemplo, a consignação de juro líquido que recebem todos os credores privados
receitas ao serviço de juros e à amortização do ou públicos;
empréstimo;

DÍVIDA PÚBLICA:
● Quando o Estado recorre ao crédito naturalmente
que daí resulte uma dívida. Por conseguinte, dos
empréstimos internos resulta a dívida interna e dos
empréstimos externos a dívida externa. Quando a
dívida é interna o Estado deve aos seus cidadãos, mas
quando a dívida é externa o Estado deve a cidadãos
de outros países.

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