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Cultura Organizacional No Contexto Escolar L Torres PDF
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Resumo Abstract
A partir de um registo sociológico e Organizational culture in
organizacional, procura-se debater as
potencialidades heurísticas da problemá- educational context:
tica da cultura organizacional para a returning to the school as
compreensão do funcionamento quotidi-
ano das organizações escolares, desig- a challenge in the
nadamente a partir da reflexão em torno reconstruction of a
de três dimensões analíticas: as relações
entre a “estrutura” (formal) e “acção” (in- theorical model
formal) e entre o “exterior” (fora) e o “in- From a sociological and organizational
terior” (dentro) da escola; a natureza mul- view we discuss the heuristical
tiforme e dinâmica inerente aos proces- potencialities of the issue of
sos de construção e re- organizational culture to
construção da cultura; a Leonor Lima Torres understand the daily
diferenciação teórica e Doutora em Educação, functioning of the school
conceptual entre “cultura Universidade do Minho, Braga, organizations, namely
Portugal from the analysis of three
escolar” e a “cultura or-
Professora do Curso de Mestrado analytic dimensions: the
ganizacional escolar ”,
em Educação da Universidade relationship between the
enquanto realidades soci-
do Minho
ológicas de alcance e na- “structure” (formal) and
leonort@iep.uminho.pt
tureza distintas. Em traços the “action” (informal)
gerais, convoca-se o mo- and between the
delo teórico construído no âmbito da dis- “external” (outside) and the
sertação de doutoramento (TORRES, 2004) “internal”(inside) the school; the
sobre a problemática da cultura organi- multiform nature and the intrinsical
zacional no contexto da escola pública. dynamic to the processes of construction
Palavras-chave: Cultura organizacional. and reconstruction of culture; the
Cultura escolar. Sociologia das organiza- theorical and conceptual differentiation
ções educativas. Sociologia da acção e da between “school culture” and “school
experiência social e escolar. organizational culture”, as long as
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.49, p. 435-451, out./dez. 2005
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Resumen Introdução
Cultura de la A partir das especificidades organizati-
vas, políticas e institucionais da escola pro-
organización en el curaremos debater as potencialidades heu-
contexto educativo: el rísticas da problemática da cultura organi-
zacional no desvendamento do funciona-
regreso a la escuela como mento quotidiano das organizações. No
desafio en la quadro de um registo predominantemente
crítico e reflexivo, sujeitaremos a debate
reconstrucción de un sociológico uma proposta teórica para a
modelo teórico análise da cultura organizacional em con-
A partir de una visión sociológica y de texto escolar, basicamente organizada em
organización se pretende discutir las torno de três tópicos:
potencialidades heurísticas de la 1. a natureza ontológica da cultura,
problemática de la cultura de la reequacionada quer em termos da sua es-
organización para la comprensión del treita imbricação nas relações clássicas es-
funcionamiento cotidiano de las tabelecidas entre a estrura e a agência hu-
organizaciones escolares, principalmente mana, quer ao nível das transações (cultu-
alrededor de tres premisas analíticas: la rais) estabelecidas entre o dentro/interior e
relación entre la “estructura” (formal) y o fora/exterior do campo organizacional;
la “acción” (informal) y entre el 2. as modalidades e a essência das
“exterior” (fuera) y el “interior” (dentro) configurações culturais, designadamente o
de la escuela; la naturaleza multiform y carácter multiforme, interactivo e dinâmico
dinámica inherente a los procesos de das manifestações culturais;
construcción y reconstrucción de la 3. por último, a distinção teórico-con-
cultura; la diferenciación teórica y ceptual entre “cultura escolar” e “cultura
conceptual entre la “cultura escolar” y la orgnizacional escolar”, assim como o es-
“cultura de la organización escolar”, tatuto epistemológico, teórico e empírico
como realidades sociológicas de alcance que tais designações podem assumir na
y naturaleza distintas. En líneas investigação de realidades escolares con-
generales, se utiliza el modelo teórico cretas.
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Tomando como pano de fundo uma con- A proposta teórica que, neste trabalho,
juntura investigativa em educação, em que apresentaremos, reflectirá algumas destas
se procura uma redefinição dos enfoques so- tensões, desde logo, ao não escapar àquela
bre a escola como objecto de estudo, ou na inspiração magna - recurso a diversas len-
perspectiva de Sarmento (2000, p. 91) pelo tes teóricas -, não obstante se procure nas
duplo empreendimento da “construção do especificidades da organização escolar o
objecto científico escola” e da “desconstru- ponto de partida para repensar criticamen-
ção da organização como noção teórica”1, te na pertinência de algumas perspectivas
a ideia de “crise paradigmática” parece in- de análise.
vadir o campo educativo, não só como re-
sultado de impasses teórico-epistemológicos As especificidades da escola portuguesa
de alcance disciplinar mais restrito, mas tam- desempenharão um importante mecanismo
bém como um importante reflexo das tendên- a mobilizar na vigilância e na regulação da
cias mais globais que têm atravessado a “ci- pertinência das dimensões analíticas a con-
ência pós-moderna”. Julgamos que esta con- siderar, assumindo sobretudo uma função
juntura global de “crise paradigmática”, tão de “mediatização heurística”. Dito de outro
bem desenvolvida por Santos (1987, 1989, modo, a consideração das especificidades
2000), ao reflectir-se no campo da educa- político-ideológicas da instituição escolar
ção, contribui para visibilizar a relação de historicamente construídas por referência a
dependência, e mesmo de alguma submis- contextos locais, regionais, nacionais e trans-
são, por parte da investigação em educação nacionais, condicionará o processo de sele-
em relação a outras matrizes de conhecimento ção das opções teóricas, restituindo-lhes uma
acumulado sobretudo no quadro das ciênci- validade explicativa acrescida. Este proces-
as sociais. A recorrente importação de lentes so de selecção controlado e mediatizado
teóricas para o estudo da escola, grande parte pelas especificidades culturais, políticas e
delas produzidas por referência a outros con- administrativas do sistema educativo (portu-
textos organizacionais, tem constituído a ori- guês), exige do investigador uma postura de
entação investigativa mais frequente na área vigilância crítica permanente ao longo do
da administração educacional. Por isso, ao percurso de construção do modelo teórico.
não vislumbrarmos a construção de teorias e
de modelos teóricos gerados a partir da aná- Entre a estrutura e a
lise das especificidades da escola como or-
ganização, julgamos poder deduzir que a acção: a cultura
“crise paradigmática”, apontada como uma organizacional como
realidade inquestionável para o contexto glo-
bal da ciência pós-moderna, se traduz e re- processo de construção
percute, inevitavelmente, no contexto investi- A rejeição categórica da idéia de anti-
gativo das designadas “ciências da educa- nomia entre estrutura e acção, conduz-nos
ção”. à adopção alternativa de uma perspectiva
1
Como refere Sarmento (2000, p. 91, grifo do autor): “Desconstruir a organização como noção teórica significa proceder à crítica da
concepção reificada dos contextos estruturados onde vivem e trabalham os seres humanos e das suas ‘invariantes’ – estruturas, níveis
organizacionais, regras e dispositivos formais – para restituir aquilo que no plano empírico é dinamismo, interacção, estruturação, troca
simbólica, relações assimétricas de poder, cooperação e competição entre actores sociais em sistemas concretos de acção”.
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vam de processos interactivos que operam apenas quanto à localização da sua ori-
no interior de limites estruturalmente deter- gem), assente numa visão que antagoniza
minados, como da natureza desses proces- e reifica as fronteiras físicas da organiza-
sos internos, não deixando de repercutir as ção, a questão central que se coloca é a
dinâmicas sociais e culturais exteriores à de compreender, para lá dos limites e cons-
escola, seja por via das orientações políti- trangimentos sociais e estruturais impostos,
cas, seja por via da reflexividade dos acto- as possibilidades de autonomia relativa que
res/cidadãos. Esta questão da temporali- se desenvolvem nos contextos organizacio-
dade e da espacialidade remete-nos para nais.
um outro eixo de análise, que a seguir, de-
senvolveremos. Em consequência do que acima foi esbo-
çado, não será no quadro destes pressupos-
“Para além” do “dentro” tos funcionalistas que encontraremos pistas
suficientemente elucidativas para a explora-
e do “fora”: a cultura ção dos processos de construção da cultura
organizacional como organizacional. Será, portanto, no contexto
da “dualidade da estrutura” que nos posici-
processo dinâmico de onaremos teoricamente quanto ao estatuto e
interdependência relevância das categorias “dentro” e “fora”
A relevância heurística contida na ten- na compreensão da cultura organizacional.
são entre o interior e o exterior da organi- Ou então, nas palavras de António Nóvoa
zação para a exploração da cultura orga- (1992, p. 32, grifo do autor):
A totalidade dos elementos da cultura
nizacional em contexto escolar, reside es-
organizacional tem de ser lida ad intra e
sencialmente na capacidade de questionar
ad extra às organizações escolares, isto
a natureza do estatuto ontológico desta pro-
é, estes elementos têm de ser equacio-
blemática. A adopção de uma concepção nados na sua ‘interioridade’, mas tam-
antinómica das categorias dentro-fora per- bém nas inter-relações com a comuni-
mite extrapolar dois tipos distintos de foca- dade envolvente. De facto, se a cultura
lização da cultura organizacional, ambos organizacional desempenha um impor-
inscritos no mesmo registro ontológico: a tante papel de integração, é também um
cultura como produto das influências “ex- factor de diferenciação externa. As mo-
ternas” à organização (cultura como “va- dalidades de interacção com o meio so-
riável independente e externa”) e, contrari- cial envolvente constituem, sem dúvida,
amente, a cultura como resultado de um um dos aspectos centrais na análise da
trabalho de fabricação exclusivamente “in- cultura organizacional das escolas.
terna” (cultura como “variável dependente
e interna”)2. Porque ambos os registos par- Ao atribuirmos um carácter processual
tem do pressuposto de que a cultura é uma e dinâmico à cultura organizacional, invo-
variável que a organização tem e, neste cando a sua estreita imbricação com as
sentido, pertencendo à ordem das coisas relações estrutura-agência humana, esta-
concretas e identificáveis (diferenciando-se mos a postular, correlativamente, a sua
2
Para um desenvolvimento teórico destas focalizações, consultar Linda Smircich (1983).
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3
Para uma análise mais aprofundada sobre a evolução do modelo de administração da educação em Portugal, e das suas
consequências ao nível da democratização da educação, consultar, entre outros, Formosinho (1984, 1986, 1989), alguns dos
trabalhos produzidos por Lima (1992, 1994, 1995, 1998, 1999, 2000), Afonso (1995, 2000), Barroso e Pinhal (1996), Barroso
(1995, 1998, 1999), Estêvão (1998, 2001, 2002), Formosinho e outros (2000).
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Estrutura/
Formal
Acção/
Informal
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DUBET, F. Sociologia da experiência. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. p. 112.
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A pertinência analítica destas três lógi- ral e elementos resultantes do jogo ineren-
cas de acção, no que concerne à compre- tes às lógicas de acção. Do ajustamento e
ensão da cultura organizacional em con- da articulação entre a ordem estrutural he-
texto escolar, reside na capacidade de apro- gemónica e a ordem local podem resultar,
fundamento do conhecimento das condi- pelo menos, dois cenários culturais teori-
ções de produção das manifestações cul- camente diferenciados: o cenário da “cul-
turais. Quase que poderíamos traçar um tura escolar” e o cenário da “cultura orga-
paralelismo, ainda que grosseiro, entre a nizacional escolar ”, cujas balizas fo-
prevalência de determinadas lógicas de ram já sinalizadas num nosso anterior tra-
acção e o tipo de manifestação cultural a balho (TORRES, 1997).
ela associada: à lógica da “integração”
corresponderia uma manifestação “integra- A “cultura escolar” pretende recobrir um
dora” da cultura; a lógica da “estratégia” cenário marcado pela hegemonia de uma
suscitaria uma cultura predominantemente lógica da “integração” e, como tal, desen-
“diferenciadora”; e a lógica da subjectiva- cadeadora de configurações culturais “in-
ção estaria por detrás de manifestações ten- tegradoras”, directamente redutíveis às
dencialmente “fragmentadoras” da cultu- grandes estruturações englobantes. Sobres-
ra5. Despojada do pendor determinista e saiem, desta imagem, comportamentos con-
funcionalista que, aparentemente, apenas, vergentes e reprodutivos da ordem prescri-
parece sustentar, esta associação faz senti- tiva, condutas fiéis às estruturas e “regras
do quando perspectivada a partir de um formais”, enfim, um quadro de valores, de
enfoque que privilegie o seu carácter dia- crenças, de ideologias estabilizadas e co-
léctico e interdependente, ou nas palavras lectivamente partilhadas pelos actores es-
de Friedberg (1995b), que explore o “jogo
colares. Tal cenário, tem o condão de fazer
social” da cooperação e do conflito. E,
sobressair as dimensões culturais historica-
como já o afirmámos repetidas vezes, as
mente institucionalizadas nas organizações
“regras organizacionais” (exógenas e en-
escolares, sob a forma de ritos, rituais, ce-
dógenas) constituem uma ferramenta in-
rimónias legimadoras da acção educativa,
substituível ao desenrolar do “jogo”.
e, por isso, relativamente comuns, genera-
Seguindo este raciocínio, importa per- lizáveis ou ainda observáveis na regulação
ceber, no contexto da escola como organi- do funcionamento de todas as escolas. Esta
zação, como e em que gradações se cons- relação de isomorfismo entre a “estrutura
trói e se manifesta a cultura, tendo como formal” ou “oficial” e as dimensões simbó-
antecâmara teórica a pressuposição de que licas que incorpora e a “estrutura informal”
para além das estruturas e regulações en- reproduzida nas escolas concretas, susten-
globantes, que impõem uma ordem cultu- ta a idéia de uma “cultura escolar” institu-
ral hegemónica, se processa todo um tra- cionalmente imposta e localmente reprodu-
balho de bricolage organizacional, que zida nas periferias escolares, sem que dê
combina, numa disposição original, ele- lugar ao conflito ou à emergência de or-
mentos reproduzidos dessa ordem estrutu- dens (de acção) contraditórias.
5
Para uma síntese das principais focalizações da problemática da cultura organizacional, remetemos o leitor para os nossos
trabalhos (TORRES, 1997, 2004), onde debatemos as várias correntes e perspectivas teóricas em confronto.
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Referências
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COHEN, I. Teorias da acção e da praxis. In: TURNER, B. S. (Ed.). Teoria social. Lisboa:
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organizações escolares em análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote: IIE, 1992.
p. 13-43.
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______. O retorno do actor: ensaio sobre sociologia. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.
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