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01/04/2020 Com 11 milhões de brasileiros com depressão, suicídio já é considerado uma epidemia

Com 11 Milhões De Brasileiros Com


Depressão, Suicídio Já É Considerado Uma
Epidemia

Por Clara Dawn

Este texto é um excerto de “Jovem, não morra na Golden Gate”, artigo de pesquisas
cientificas e de campo, da escritora, psicopedagoga e psicanalista Clara Dawn, que é
especialista em prevenção aos transtornos mentais e ao suicídio na infância e na
adolescência. Ela tem se dedicado ao assunto desde 2014. Por isso, vale ressaltar a
importância de se dedicar um tempo para esta importante leitura e reflexão.

“É como se os suicídios se tornassem invisíveis, por serem um tabu sobre o qual mantemos
silêncio. Os homicídios são uma epidemia. Mas os suicídios também merecem atenção
porque alertam para um sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida”, alerta
Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais (Flacso).

Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio
também cresce no conjunto da população brasileira. A taxa aumentou 60% desde 1980. O
Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio em 2017 – em média, um caso a cada 46
minutos. Nos últimos 5 anos, 48.204 pessoas tentaram suicídio, segundo registros de
entradas em hospitais, mas isto é um ‘subdiagnóstico’, estima-se que esse número é muito
maior. Dados oferecidos pela diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde, Fátima Marinho. Em números absolutos, porém, o Brasil de dimensões continentais

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ganha visibilidade nos relatórios: é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo,
segundo ranking divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2014. (Fonte –
BBC).

A Depressão é um câncer na alma que pode levar ao suicídio


Todas as pessoas que têm depressão cometem suicídio? Não. Mas todas as pessoas que
cometeram suicídio apresentaram algum quadro de enfermidades mentais. A saúde mental
do Brasil está péssima. Cerca de 11 milhões de pessoas foram diagnósticas com depressão,
quase 6% da população. É o número 1 com maior prevalência da doença na América
Latina, o 2 nas Américas, ficando atrás apenas dos estados unidos. A saúde mental precisa
urgentemente ser reconhecida como umas das prioridades nas políticas públicas. Em
muitos países, programas de prevenção do suicídio passaram a fazer parte das políticas de
saúde pública.

Na Inglaterra, o número de mortes por suicídio está caindo em consequência de um amplo


programa de tratamento de depressão. Reduzir o suicídio é um desafio coletivo que precisa
ser colocado em debate. A indiferença, a omissão, o silêncio, não podem ser nossas
respostas. Fazer nada é a pior decisão que podemos tomar sobre qualquer assunto. É
importante ressaltar que os transtornos mentais concomitantes com o uso de
substâncias psicotrópicas (álcool e drogas) torna o suicídio, um risco iminente
(crescente).

Suicídio na adolescência: segunda maior causa de mortes entre 15 e


29 anos
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é a segunda causa de mortes entre
jovens entre 15 e 29 e já é considerado uma epidemia. As meninas são as que mais
tentam. Os meninos são os que mais conseguem. Por isso o índice de suicídio é maior do
que entre os homens.

Acompanhamos a saga de um jovem de 20 anos que sequestrou um ônibus repleto de


pessoas, na ponte Rio-Niterói, depois de 4 horas de negociação, ele foi morto pela polícia.

Não podemos perder a oportunidade de refletirmos sobre a saúde mental de nossas


crianças e adolescentes. Dos 19 aos 27 anos, o cérebro vivencia uma terrível fase de poda
neural, gerando assim conflitos existenciais medonhos. É como ligar um aparelho de 110
numa tomada de 220. O aparelho não tem capacidade para suportar tamanha carga e
entra em colapso.

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Chamo a fase dos 13 aos 27 anos como a Golden Gate da existência. A ponte Golden Gate,
uma das 7 maravilhas do mundo moderno, é o lugar onde cerca de 40 pessoas por ano
escolhem para o autoextermínio.

Com esta triste metáfora da vida real, quero dizer, por meio de pesquisas de campo, e
cientifica, que a adolescência não é o período da “aborrescência”, mas sim da
“adoescência”. Como escreveu o poeta/músico: “há tempos são os jovens que adoecem”.

Com base nesses estudos, faz-se necessária urgência falarmos claramente de saúde mental
na infância e adolescência, numa perspectiva preventiva ao suicídio. O jovem sequestrador
de ônibus na Ponte Rio-Niterói, levava um livro de Bukowski que traz uma reflexão sobre o
sofrimento psíquico e claro que seu gesto foi um tipo de suicídio:

‘Nunca dirijo meu carro por cima de uma ponte sem pensar em suicídio. Quero
dizer, não fico pensando nisso. Mas passa pela minha cabeça: suicídio’, diz trecho
de ‘O capitão’. Minha missão é esta: ajudar os jovens a atravessarem a ponte Golden Gate
de suas vidas, sem desejar a morte.

Por que falar sobre o suicídio é a melhor opção?


Há décadas não se podia falar sobre suicídio, pois compreendiam que ao falar de suicídio
poderia causar o chamado “Efeito Werther” – uma referência a abra de Goethe “Os
sofrimentos do jovem Werther”, publicado em 1774 na Alemanha, e conta a história de um
jovem que optou pelo autoextermínio após uma decepção amorosa.

Ocorre que em 2004, um cineasta chamado Eric Steel chutou o balde e resolveu que não se
prenderia às convenções impostas pelo coletivo. Seu primeiro trabalho como diretor foi A
Ponte, um documentário sobre o monumento público que mais registrou casos de suicídio
na história: a ponte Golden Gate, cartão postal de San Francisco, uma das 7 maravilhas do
mundo moderno. Desde que a ponte foi inaugurada em 1937, mais de 1,4 mil pessoas já se
mataram pulando dela. Em 2013, foi registrado o recorde de 46 suicídios. Eric Steel então
deixou câmeras escondidas ao longo da ponte e por um ano fez o registro de dezenas de
autoextermínios. Revelando com isso, a urgente importância de se falar claramente sobre o
assunto.

Atualmente, estudos mostram que perguntar a indivíduos em risco se eles são suicidas
não aumentam suicídios ou pensamentos suicidas. De fato, estudos sugerem o contrário:
descobertas sugerem reconhecer e falar sobre suicídio pode de fato reduzir em vez
de aumentar ideação suicida.

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Mais de 50% dos adolescentes trans tentam o suicídio

Nós que trabalhamos com prevenção ao suicídio estamos muito preocupados com a
disseminação do ódio às minorias. Mais de 50% dos adolescentes trans tentam o suicídio,
indica estudo feito ao longo de três anos pelo professor Russell B. Toomey, da Universidade
do Arizona-Tucson (EUA). 51% dos adolescentes que se identificaram como transgênero
relataram pelo menos uma tentativa de suicídio. O psicólogo Tiago Zortea – Suicidologista –
atualmente uma das referências internacionais em Prevenção ao suicídio, afirma que “as
experiências de estigma e discriminação vividas pelas pessoas da comunidade LGBT se
mostraram significativamente associadas a todos os três aspectos da tendência suicida. Tais
experiências incluíram fatores de estigma na escola (por exemplo, professores não se
manifestando contra o preconceito, lições negativas sobre minorias sexuais), reações
negativas de familiares e amigos quanto ao processo de revelarem-se LGBT, e assédio
ou experiências criminosas especificamente voltadas à comunidade LGBT.

Por que os suicidologistas são contra a posse de armas?


De acordo com uma recente revisão de 31 artigos científicos sobre suicídio, mais de 90%
das pessoas que se mataram tinham algum transtorno mental como depressão,
esquizofrenia, transtorno bipolar e dependência de álcool ou outras drogas. No Brasil,
porém, persiste a falta de políticas públicas para prevenção do suicídio, com o agravo da
passagem do tempo e do aumento populacional.

Com a posse de armas liberada no Brasil, os estudos indicam que teremos mais suicídios,
mais mortes por acidentes, mais feminicídios… Nos EUA, a maioria das mortes por armas
de fogo acontece dessa forma – incríveis 64,2% dos 37.200 óbitos em 2016. No Brasil,
essa porcentagem é de 4%, ou 1.728 mortes. Se os mesmos 4% da população do Brasil
tiver uma arma (o que representaria 6 milhões de novas armas em casa), o total de
pessoas que tiram a própria vida todo ano, proporcionalmente, passaria dos 16 mil. É como
se 7 Boeings lotados caíssem todo mês.

Estes dados foram analisado por Thomas V. Conti, pesquisador da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas). Entre 2013 e 2017, ele traduziu 48 resumos de pesquisas sobre
armamentos para cravar: 90% delas são taxativas ao dizer que um maior número de
armas aumenta o número de crimes letais e suicídios. (Fonte: Super Interessante)

Reduzir o suicídio é um desafio coletivo que precisa ser colocado em debate. “Nossa
resposta não pode ser o silêncio. Nossas chances de chegar às pessoas que precisam de
ajuda dependem da visibilidade”, fala do psiquiatra Humberto Corrêa no artigo ‘Suicídio

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aumenta no Brasil, mas isso poderia ser evitado’ – publicado na revista Planeta (edição
421, Outubro de 2007).

(Excerto de “Jovem, não morra na Golden Gate”, artigo (prelo) de pesquisas teóricas e de
campo, da romancista e psicopedagoga Clara Dawn, que tem se dedicado ao assunto desde
2014 – É proibida a reprodução parcial, ou total, sem sua prévia autorização. Lei Nº
9.610 de 19 de fevereiro de 1998).

Algumas fontes pesquisas:

Avaliação do risco iatrogênico de programas de rastreamento de suicídio em jovens: um


estudo controlado randomizado.
Organização Mundial de Saúde – Manual de Prevenção ao Suicídio
Manual de bolso de valorização da vida
CVV
Dossiê Armas, Crimes e Violência: o que nos dizem 61 pesquisas recentes

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Clara Dawn
http://www.claradawn.com

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Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente
na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na
adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que
tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O
racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em
sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus
livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: escritoraclaradawn@gmail.com

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