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A Lenda da Ilha de Vigsther

"Quem verdadeira e constantemente sonha, mantém a vida em florescer." Tsá

Sem fronteiras e atemporáis são os sonhos, perpassando e coexistindo com todas as


dimensões do viver em reflexos orgânicos e inorgânicos.

Certo dia, na viagem de Kroforix à Krotallus, Tsa dormia e sonhava, enquanto a


nave-mãe passava ao lado de uma pulsante estrela nebulosa, pura fonte de vida
jorrando no espaço. Na multiplicidade vibracional de seus corpos físico, mental,
onírico e energético Tsa recebeu uma descarga de plasma que a desdobrou para uma
experiência onde literalmente sentia-se enquanto seiva de criação e manutenção de
toda uma floresta, desabrochar criativo e extemporâneo de enorme variedade de
plantas para todos os fins.

Isso acontecia ao mesmo tempo em que seu organismo finalizava um processo digestivo
do dia anterior e clamava o defecar. Concomitantemente, isso em nada diminuiu a
experiência onírica que, de tão forte e ampla, não cessava, só se expandia para
além do mensurável.

Centenas de dias sobrepostos se acumulavam desde que iniciara a longa viagem. Mesmo
com a mente e outros corpos distante, o corpo material de Tsa já sabia
tranquilamente o caminho e os procedimentos para evacuar o digerido, e foi assim
que, semelhando ao dito "cagar e andar", num estado de sonambulismo onírico
pluridimensional Tsa sonhava, sentia e vivênciava todo o inefável criar onírico de
uma floresta ao mesmo tempo em que seu corpo se direcionava ao banheiro. Cagou,
limpou, deu a descarga e voltou a se deitar, sem nada interferir na lisérgica
experiência da sonhadora. Contudo, o contrário se sucedeu.

Intercorreu que Tsa sofreu uma espécie de intoxicação onírica de interferência


nebulosa e nas fezes ficaram impregnados e carimbados, em todas as partículas e
subpartículas, a impressão onírica que se passava nessa experência rara e única, de
mergulho onírico vibracional nas infinitas águas férteis da estrela nebulosa,
essência de pulsão criativa.

Ejetadas no espaço, pelo sistema sanitário de dejetos da nave-mãe (ssdnm), as fezes


flutuaram pelo espaço e foram atraídas pela nebulosa até o seu centro, onde numa
reação misteriosa e inexplicável, talvez química, casual ou divina, ocorreu uma
implosão e visualmente tudo desapareceu. Tsa sentiu essa implosão como se tivesse
absorvido tudo aquilo, tal qual uma pessoa que torna, 'guti-guti', um copo de suco
de melância, com sede e estômago vazio. Mas, na verdade, ela sentiu isso na região
de seu ventre, sentindo ali uma mistura orgástica de transformação, espacialidade,
amplidão, vazio, leveza e criatividade. Acordou, foi ao banheiro, vomitou, com
prazer, um quase infinito rio verde, caudaloso e viscoso, deu a descarga e voltou a
dormir profunda e tranquilamente.

Conhecido, mais tarde, como Rio do Gorfo, esse caudaloso mostruário galático de
todas as possíbilidades cromáticas de verdes foi se alastrando por caminhos
espaciais, sabe-se lá por quanto tempo, até o momento em que se chocou com a quina
de um dos pilares sustentadores do universo, criando, ao mesmo tempo, o estagnar do
correr infinito do rio e uma movimentação atômica de suas partículas, dando origem
ao borbulhante lago Gorfo Verde.

Desde criança Tsa sonhava com esse Rio/Lago e via no reflexo de suas águas as
várias faces que viria a desenvolver e se envolver ao longo de sua vida, sem saber
que essas águas eram reflexo direto de suas almas, antepassadas e antefuturas.
Dentre os inúmeros sonhos, marcante foi aquele, no qual, um enorme ônibus espacial
- repleto de insumos agrículas, carpinteiros do universo, jardineiros espaciais e
agricultores celestes - colidiu com o já rachado pilar de sustenção do universo,
afundando no lago junto com pó de cimento existencial caído desse pilar.

Essa é a história da origem da Ilha de Vigsther, uma ilha flutuante paradisíaca e


repleta das mais inesperadas e variadas florestas, bosques, plantios autônomos,
animais e insetos sintrópicos. Todas as plantas, animais e insetos que Tsa e Arst
tiveram contato em Krotallus existem na Ilha de Vigsther por reflexo dimensional
onírico. Devido ao contato íntimo e troca mental e energética de Tsa com Nick
Andoroso, todas as plantas, animais e insetos que Nick já vivenciou também se
refletem na Ilha de Vigsther, as plantas, animais e insetos que Arst e todas as
pessoas com quem já relacionou e virá a se relacionar, também se refletem lá. A
insersão de novas plantas, animais e insetos sempre se dá de maneira sintrópica,
após breves períodos de adaptação e grande caos.

Isolada no universo, um oásis, apesar de quase desconhecida sua localização é


acessível a qualquer um que chegue lá com boas intenções, respeito e um mínimo
potêncial para se comunicar com os espíritos guardiões da floresta, as plantas.
Autosuficiente e de agricultura autônoma e sintrópica a ilha também possui suas
plantas de autodefesa e uma pessoa que não respeite isso é rapidamente aprisionada
por alguma planta e presa na ilha para sempre ou até o momento em que suas ações e
pensamentos sintonizem consonantemente com a sintropia da ilha. Até hoje ninguém
sabe ao certo porque mas, é proibido falar na ilha, únicos sons permitos, para além
dos naturais do local, são os musicais, se tocados a partir de instrumentos
construidos com bambus da Floresta de Canudos, sementes diversas e pedras. Batuques
no solo e nas águas dos rios e lagos também são permitidos. Por tanto, seres
extrangeiros que se arrisquem por essas terras, por mais bem vindos que sejam,
necessitam criar uma linguagem especial para se comunicar a partir desses elementos
intrínsecos à ilha. A ilha não é xenofóbica, apenas não suporta sons externos que
prejudiquem sua harmonia existencial autosustentável. A ilha está sempre aberta não
apenas a receber visitantes mas também a cocriar com eles, quem conseguir chegar ao
coração da floresta, identificar a Árvore Mãetriz e atravessar os labirintos de
suas raízes chegando ao núcleo da ilha pode criar plantas de acordo com suas
necessidades e criatividade, mas para isso terá de permanecer na ilha durante todo
o período de caos e adaptação da ilha para receber essa nova planta. A ilha também
oferece sementes de todas as espécies para aqueles que oferecerem em troca
oferendas que envolvam sacrifício e sangue. As plantas reproduzidas fora da ilha
através dessas sementes, só se reproduzem por até no máximo 11 gerações, tornando-
se podres, inférteis e extremamente tóxicas e venenosas a partir da 12a geração.

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