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I - DOS FATOS
Ainda segundo o representante, o veículo oficial estaria sendo conduzido pelo filho do
Vereador Clécio Alves, Sr. Dahn Marcel Machado Alves, que estaria retornando de uma festa, na
qual havia ingerido bebida alcoólica, acompanhado de uma amiga, Sra. Cybelle Barbosa Pires.
Ainda, nova reportagem do mesmo jornal veiculada no dia 06 de outubro (fl. 11) cita
que:
Esta Promotoria enviou o ofício requisição n° 477/2010 (fls. 15), endereçado ao Tenente
O Extrato do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar (fls. 24) afirma que a ocorrência
tratava-se de um acidente de trânsito com vítima não fatal, apontando que o Sr. Dahn Marcell
Machado Alves seria o condutor de um dos veículos envolvidos no acidente.
Foram enviadas notificações para tomada de depoimentos dos Srs. Clécio Alves e Dahn
Marcell, além da Sra. Cybelle Barbosa Pires.
Em seu depoimento (fls. 37/39) o Sr. Clécio reconheceu como inverídicas as afirmações
que fez ao Jornal O Popular, alegando que foi movido por “sentimento de pai', no sentido de
proteger o filho. Afirmou ainda que ressarciu a câmara no valor de R$25.000,00 (vinte e cinco
mil reais), com base no valor de mercado do veículo envolvido no acidente. Acrescentou, ainda,
que em função dos fatos foi aberto procedimento na Câmara, tendo sido o vereador apenado com
afastamento de 15 dias de suas atividades e o consequente desconto no valor de 50% de seus
subsídios.
Ainda segundo o laudo de exame pericial, o condutor de V-02 era a pessoa de Danh
Marcell Machado Alves (fls.70).
II - DO DIREITO
O art. 10º, caput, da Lei n. 8429/92, estabelece que “constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei”. No inciso II do mesmo artigo, estabelecesse
a punição ao agente público que “II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
Vê-se, pois, que dos autos resta evidenciado que o primeiro réu foi, no mínimo,
negligente ao permitir que seu filho, segundo réu na ação, tivesse acesso às chaves do veículo e
dele fizesse uso indevido e para fins particulares.
Já conduta do segundo réu, que se utilizou do veículo público para participar de uma
balada noturna, encontra subsunção clara no artigo 9º, especificamente o seu inciso IV. Isso
porque ele declarou que tinha ciência de que o carro pertencia à Câmara Municipal mas mesmo
assim o utilizou para fins particulares, art. 9º, XII, da Lei n. 8.429/92:
O presente caso trata de combater o uso de veículos públicos para fins de uso particular,
de qualquer funcionário ligado ao agente público ou de sua família. Merece, portanto, repulsa
veemente do Judiciário.
Ademais, ao permitir o primeiro réu, por sua negligência, que o seu filho utilizasse o
veículo do município para fins particulares, feriu princípios constitucionais que norteiam a
administração pública, quer sejam: moralidade, impessoalidade, legalidade.
Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo
não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
[...]
No presente caso, verifica-se que houve uso indevido de veículo oficial (Palio NKQ-
9716) pertencente ao Poder Legislativo Municipal de Goiânia, por parte do Sr. Dahn Marcell
Machado Alves, filho do Vereador Clécio Antônio Alves, a quem o veículo estava à disposição.
Conforme se constata das reportagens citadas e anexadas à esta peça e também dos
termos de declaração dos envolvidos, o Sr. Dahn utilizou o veículo para comparecer a uma festa
particular na companhia de uma amiga.
Tais medidas de segurança não foram adotadas, tendo em vista que o veículo foi utilizado
indevidamente pelo filho do Vereador, que acabou por causar um grave acidente que destruiu o
automóvel.
O Sr. Dahn Marcell Machado Alves, malgrado não ser servidor público e não se
enquadrar na definição prevista no Art. 2° da Lei 8.429/92, também responde pelo ato de
improbidade, haja vista ter se beneficiado diretamente da utilização ilícita do veículo, conforme
disposições do art. 3°:
Tudo isso é motivo suficiente para condenar os réus Clécio Antônio Alves e Dahn
Marcell Machado Alves nas disposições da Lei de Improbidade Administrativa, pelos prejuízos
causados ao erário público e à imagem da Administração Pública.
Não obstante ter sido noticiado na mídia que a Câmara Municipal de Goiânia editaria ato
para regular a utilização de sua frota de veículos pelos edis do município, não consta da
documentação encaminhada nada que comprove que a providência tenha sido adotada.
Essa omissão da Câmara Municipal deixa sem regulação a utilização de sua frota própria
de veículos, o que confronta com o princípio da moralidade e eficiência na administração
pública e pode dar causa a novos acidentes com consequências ainda mais sérias, com até mesmo
perda de vidas.
Dessa forma, Excelência, torna-se necessário que o Poder Judiciário adote medidas que
visem resguardar o interesse público na proba utilização da frota, evitando que novos acidentes
ocorram com veículos sob a direção de pessoas que nenhum vínculo detém com a administração
pública, colocando em risco o patrimônio público e as vidas dessas pessoas e de terceiros que
nada tem a ver com essa falta de critério.
Requer o Ministério Público que seja conceda liminar no sentido de determinar à Câmara
Municipal, na pessoa de seu Presidente, que recolha todos os veículos de sua frota à sua
garagem, sempre após findar o expediente às 18h, e que seja terminantemente proibida a
utilização dos veículos por terceiros e para fins que não sejam estritamente os relacionados com
as atividades dos vereadores na Capital, sob pena de multa diária, por cada veículo não
recolhido e/ou utilizado de forma indevida, no montante de R$.1.000,00 (um mil reais), a ser
aplicada ao seu Presidente.
III – DO PEDIDO
1) sejam os réus NOTIFICADOS, nos termos do § 7º1 do artigo 17, na redação que lhe
foi outorgada pela referida Medida Provisória n. 2.180-34, de 24.8.2001, c/c os arts. 221, I, e
222, primeira parte2, do diploma adjetivo civil, PELO CORREIO COM AVISO DE
RECEBIMENTO, para, querendo, fazer suas alegações preliminares antes do juízo de prelibação
a ser exercitado por Vossa Excelência para admissibilidade da presente ação.
1
“Art. 17. (...) § 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber,
o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965 (Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996)”
2
Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965 (Lei da Ação Popular): “Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas
públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que
houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. § 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo,
ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste
artigo. § 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da
avaliação, citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os
responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma. § 3º A pessoas jurídica de direito público ou de
direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado
do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
Termos em que,
Pede e Espera Deferirnento,