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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS


50ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR ___ JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA
FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA

Natureza da Ação: Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa


Autor: Ministério Público
Réus: Clécio Antônio Alves e Dhan Marcell Machado Alves

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu representante em


exercício perante a 50ª Promotoria de Justiça de Goiânia, legitimado pelo disposto no art. 129,
inciso III, da Constituição; art. 1º, inciso IV, c/c. art. 5º, caput, da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de
1.985; art. 21, da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1.985 c/c. art. 83, da Lei n.º 8.078, de 11 de
setembro de 1.990, e com apoio nos documentos anexos, é presente para propor AÇÃO CIVIL
PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em desfavor de CLÉCIO
ANTÔNIO ALVES, brasileiro, vereador em Goiânia, portador do CPF n. 229.175.431-91 com
domicílio na Av. Berlim, AD. 14, Lt. 22 – Parque Industrial João Braz, e DAHN MARCELL
MACHADO ALVES, brasileiro, solteiro, estudante universitário, Carteira de Identidade n.
4.758.051 – SSP-GO, CPF n° 025.029.751-58, residente à Rua São Clemente, n. 272, Apto.
1007, Bloco I, Botafogo, Rio de Janeiro, CEP 22600-000, Rio de Janeiro-RJ, cumulada com
obrigação de fazer, com pedido de liminar em desfavor da CÂMARA MUNICIPAL
DE GOIÂNIA, na pessoa de seu Presidente, Vereador Iram Saraiva, com endereço na Avenida

Edifício Sede do Ministério Público


Rua 23 com Av.B, Qd. 06, Lt. 15/24, Jardim Goiás, Goiânia, tel. 243-8000.
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Goiás, 2001, Setor Central, CEP 74063-900, nesta capital pelos fatos e fundamentos jurídicos
que abaixo se seguem.

I - DOS FATOS

Em 20 de outubro de 2010 foi instaurada nesta Promotoria a portaria n° 002/2010-50°,


que deu origem ao procedimento administrativo autuado sob o n° 2010000100058051 (cópia em
anexo), destinado a apurar os fatos narrados em representação (fls. ) formulada pelo Sr. Augusto
Corrêa de Sousa, que apontava para irregularidades perpetradas pelo filho do vereador Clécio
Antônio Alves no Município de Goiânia.

Segundo o representante, as edições do Jornal O Popular veiculadas nos dias 5, 6 e 7 de


outubro de 2010, trouxeram notícias de que o veículo Fiat Palio, placa NKQ-9716, pertencente à
Câmara Municipal de Goiânia, sob a guarda do Vereador Clécio Antônio Alves, teria se
envolvido em um acidente de trânsito no dia 02 de outubro, por volta das 4h e 30 min, no
cruzamento das avenidas T-63 e C-104, no Jardim América, em Goiânia, colidindo com outro
automóvel Fiat Palio placa NFT-9595.

Ainda segundo o representante, o veículo oficial estaria sendo conduzido pelo filho do
Vereador Clécio Alves, Sr. Dahn Marcel Machado Alves, que estaria retornando de uma festa, na
qual havia ingerido bebida alcoólica, acompanhado de uma amiga, Sra. Cybelle Barbosa Pires.

Através de reportagem veiculada na edição de 05 de outubro de 2010 do Jornal O


Popular (fls.), o Vereador Clécio Alves alega que o veículo estava sob a direção de um motorista
da Câmara Municipal, e que estaria retornando de uma reunião às 5h da manhã no Terminal
Cruzeiro do Sul, em Aparecida de Goiânia.

Na ocasião, declarou o Vereador à reportagem do O Popular:

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Eu viajaria para Caldas Novas logo depois da reunião no terminal e não


havia espaço para a amiga do meu filho ir também, então determinei que
o motorista voltasse com os dois e estacionasse o carro na garagem de
casa até minha volta.
(…)
O motorista do outro carro avançou o sinal. Quase houve uma tragédia,
tenho é que comemorar que ninguém se feriu com gravidade.

Ainda, nova reportagem do mesmo jornal veiculada no dia 06 de outubro (fl. 11) cita
que:

A alegação do Vereador Clécio Alves de que o veículo do parlamentar


envolvido em uma colisão na madrugada de sábado, teria antes o levado
para uma reunião no Terminal Cruzeiro do Sul não encontra respaldo no
depoimento do gestor do terminal. De acordo com Andreval Cursino
Duarte, um dos quatro funcionários encarregados do Terminal Cruzeiro
do Sul e que trabalhou das 19 horas de sexta feira até as 07 horas de
sábado, tal movimentação não foi notada. 'Não houve nenhuma reunião
ou encontro político aqui no terminal nessa data' diz. 'Não constatei a
presença de nenhum político ou candidato nesse horário em questão'
garante.
(…)
Horas antes do acidente, o filho de Clécio Alves, Dhan Marcell Deodato
Machado, de 2 anos, que estava no carro da Câmara com uma amiga,
chamava amigos para uma balada pelo Twitter – a rede social que
permite troca de mensagens com até 140 caracteres. Oestudante de
jornalismo é claro ao convocar amigos para uma noitada regada a muita
bebida no noite de sexta-feira, dia 1°.

A edição de 07 de outubro do O Popular traz as seguintes informações:

O carro da Câmara de Goiânia à disposição do Vereador Clécio Alves


(PMDB), que se envolveu em um acidente a madrugada de sábado, não
estava em uso oficial e era mesmo dirigido pelo filho dele, o estudante de
jornalismo Dahn Marcell Machado Alves, de 21 anos. Quem admitiu
tudo ontem foi o próprio vereador, diante da revelação do POPULAR de
que apenas o jovem e uma amiga estavam no carro. 'Soube pela
reportagem do jornal', afirmou, visivelmente constrangido.

Esta Promotoria enviou o ofício requisição n° 477/2010 (fls. 15), endereçado ao Tenente

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Coronel Marco Antônio de Castro Guimarães, requisitando cópia do boletim de ocorrência
referente aos fatos narrados pela representação da lavra do Sr. Augusto Corrêa.

O Extrato do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar (fls. 24) afirma que a ocorrência
tratava-se de um acidente de trânsito com vítima não fatal, apontando que o Sr. Dahn Marcell
Machado Alves seria o condutor de um dos veículos envolvidos no acidente.

Através do ofício n° 476/2010, requisitou-se ao Presidente da Câmara Municipal, Sr.


Francisco do Valle Júnior, cópia do procedimento administrativo instaurado com a finalidade de
apurar os fatos noticiados.

O Presidente da Câmara Municipal respondeu ao ofício ministerial (fls. 52/54)


encaminhando alguns documentos e solicitando a dilação do prazo para envio da cópia da
sindicância instaurada com a finalidade de apurar suposta malversação de automóvel público por
parte do Vereador, tendo em vista que a sindicância havia sido instaurada em 05/10/2010 e ainda
não havia sido concluída.

Foram enviadas notificações para tomada de depoimentos dos Srs. Clécio Alves e Dahn
Marcell, além da Sra. Cybelle Barbosa Pires.

Em seu depoimento (fls. 37/39) o Sr. Clécio reconheceu como inverídicas as afirmações
que fez ao Jornal O Popular, alegando que foi movido por “sentimento de pai', no sentido de
proteger o filho. Afirmou ainda que ressarciu a câmara no valor de R$25.000,00 (vinte e cinco
mil reais), com base no valor de mercado do veículo envolvido no acidente. Acrescentou, ainda,
que em função dos fatos foi aberto procedimento na Câmara, tendo sido o vereador apenado com
afastamento de 15 dias de suas atividades e o consequente desconto no valor de 50% de seus
subsídios.

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O Sr. Dahn Marcell Machado Alves, em seu depoimento, afirmou que pegou o veículo
Palio, pertencente à Câmara Municipal na sexta feira, dia 1° de outubro, à noite. Afirma que
sabia que tratava-se de um veículo oficial, mas resolveu usá-lo, pois este era o último carro da
garagem, estacionado junto ao portão. Informou que foi a primeira vez que pegou o veículo para
dirigir, e que seu pai o havia proibido em diversas oportunidades de utilizar o veículo.

Em termo de declarações (fls.48) prestadas ao Ministério Público, a Sra. Cybelle Barbosa


Pires afirmou que é amiga de Danh e foi a uma festa com o mesmo na sexta feira, dia 1°. Ainda
segundo a declarante, saíram da festa por volta das quatro horas da manhã de sábado e seguiram
para uma lanchonete da Av. T-63, compraram um sanduíche e pararam em uma rua de frente
para comer o sanduíche e que daí em diante não se lembra de mais nada.

Através do ofício n° 6730-2010-IC (fls.61), o Sr. Walfredo Rangel, Coordenador de


Perícias Internas da Superintendência de Polícia Técnico-Científica encaminhou o Laudo de
Exame Pericial (fls.69/86) de Local de Acidente de Trânsito relacionado ao veículo Palio
pertencente à Câmara Municipal.

Segundo o Laudo, a dinâmica do acidente se deu da seguinte maneira (fls.83):

...de acordo com os dados coletados no local, após analisados e avaliados,


verificamos que o acidente ocorreu da seguinte maneira: os condutores
das unidades de tráfego V-1 (Fiat Palio NFT-9595) e V-2 (NKQ-9716)
demandavam, respectivamente, pela Rua C-104 e Avenida T-63, estando
V-1 trafegando no sentido: Jardim América/Parque Amazonas e V-2 no
sentido: Praça Nova Suiça/Parque Anhanguera, ambos em suas corretas
mãos de direção.
Ao aproximarem-se do cruzamento formado pela referida rua e avenida,
envolveram-se em um acidente de tráfego do tipo: abalroamento
transversal, fato este ocorrido no interior do cruzamento (vide fotografias
números 04 a 06 e desenho esquemático).
O abalroamento se deu em virtude de que o condutor da unidade de
tráfego v-2, ao aproximar do cruzamento avançou o sinal do
semáforo, ali existente, o qual lhe era desfavorável e,

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consequentemente, favorável ao condutor da unidade de tráfego V-1.
Tal afirmação é comprovada por meio das imagens captadas pela
câmara de circuito do posto de combustível, mostrado em fotografia
número 31, o qual abrigou o repouso final de V-2 após o acidente,
imagens examinadas por Perito Criminal”

Ainda segundo o laudo de exame pericial, o condutor de V-02 era a pessoa de Danh
Marcell Machado Alves (fls.70).

As acertadas conclusões constates da investigação realizada pela Superintendência de


Polícia Técnica Científica do Estado de Goiás, Divisão de Perícias Externas indicam como
causa do acidente o fato do condutor do veículo 2, Dhan Marcell Machado Alves, ter adentrado
ao cruzamento dotado do semáforo eletrônico quando não lhe era permitido adentrar (furou o
sinal vermelho), o que de fato obstruiu o livre sentido do tráfego do condutor do outro veículo,
de propriedade de Bruno Souto, inclusive tendo ressalvado que o primeiro condutor colocou em
risco a sua integridade e de outros condutores que trafegavam pela Rua C-10. A certeza da
ocorrência dos fatos é inegável, e portanto o Vereador Clécio Antônio Alves, ao permitir a
utilização de forma indevida de veículo oficial do município e seu filho, real condutor do
mesmo, cometeram ato ímprobo tipificado no art. 10º, inciso II da lei nº 8429/92, devendo sofrer,
dessa forma, a punição cabível pertinente ao caso. Por outro lado, o segundo réu, usou, em
proveito próprio, bem da administração pública e assim sua conduta subsume-se no art. 9º, XII,
da Lei n. 8.429/92. Vejamos.

II - DO DIREITO

O art. 10º, caput, da Lei n. 8429/92, estabelece que “constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei”. No inciso II do mesmo artigo, estabelecesse
a punição ao agente público que “II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica

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privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
aplicáveis à espécie;”.

Vê-se, pois, que dos autos resta evidenciado que o primeiro réu foi, no mínimo,
negligente ao permitir que seu filho, segundo réu na ação, tivesse acesso às chaves do veículo e
dele fizesse uso indevido e para fins particulares.

Já conduta do segundo réu, que se utilizou do veículo público para participar de uma
balada noturna, encontra subsunção clara no artigo 9º, especificamente o seu inciso IV. Isso
porque ele declarou que tinha ciência de que o carro pertencia à Câmara Municipal mas mesmo
assim o utilizou para fins particulares, art. 9º, XII, da Lei n. 8.429/92:

“Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento


ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades
mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
(...)
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei”

O presente caso trata de combater o uso de veículos públicos para fins de uso particular,
de qualquer funcionário ligado ao agente público ou de sua família. Merece, portanto, repulsa
veemente do Judiciário.

Ademais, ao permitir o primeiro réu, por sua negligência, que o seu filho utilizasse o
veículo do município para fins particulares, feriu princípios constitucionais que norteiam a
administração pública, quer sejam: moralidade, impessoalidade, legalidade.

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Nesse sentido, preceitua o o artigo 37, caput, e § 4o, da Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
[...]

§ 4º - os Atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos


políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e graduação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível;

As mesmas regras são repetidas no art. 92, e § 4o da Constituição Estadual.

Art. 92. A Administração Pública direta, autárquica e fundacional e a indireta


dos Estados e Municípios obedecerão aos princípios de legalidade, moralidade,
publicidade e:
[...]
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão perda da função
pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Em decorrência da norma trazida na Constituição Federal, repetida na


Constituição Estadual, coube ao legislador brasileiro especificar os atos de improbidade
administrativa, o que ocorreu com a vigência da Lei nº 8.429/92, conforme se vê de seus artigos
1º, “caput”, 2º, 3ºe 4º. Os quais passamos a transcrever:

Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor

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ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Município, de território,
de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do
patrimônio anual, serão punidos na forma desta lei.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo
não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

[...]

Art. 4º os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar


pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade
e publicidade no trato de assuntos que lhe são afetos.

No presente caso, verifica-se que houve uso indevido de veículo oficial (Palio NKQ-
9716) pertencente ao Poder Legislativo Municipal de Goiânia, por parte do Sr. Dahn Marcell
Machado Alves, filho do Vereador Clécio Antônio Alves, a quem o veículo estava à disposição.

Conforme se constata das reportagens citadas e anexadas à esta peça e também dos
termos de declaração dos envolvidos, o Sr. Dahn utilizou o veículo para comparecer a uma festa
particular na companhia de uma amiga.

Não obstante a utilização do veículos para fins absolutamente diversos do interesse


público, ainda foi constatada a destruição do veículo em virtude de acidente de trânsito
provocado por direção imprudente do Sr. Danh, que avançou o semáforo em momento proibido
quando estava vermelho, causando o acidente muito bem descrito no laborioso Laudo de exame
pericial da Polícia Técnico-Científica (fls. 69/86).

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O Vereador Clécio Antônio Alves era o responsável pelo veículo no momento do
acidente, tendo em vista que o mesmo estava á disposição do edil para que fosse utilizado em
atividades relacionadas ao exercício do mandato de Vereador. Não obstante este fato, logo após
o acidente, o Vereador Clécio Alves prestou declarações inverídicas à imprensa, afirmando que
estava utilizando o carro em uma reunião durante a madrugada. No entanto, alguns momentos
depois o próprio Vereador se desmentiu, reconhecendo que o veículo estava na posse de seu
filho, sendo utilizado para fins particulares, sem a autorização e nem conhecimento do Vereador.

Na condição de responsável pelo veículo oficial, o Vereador teria o dever de cuidado,


tomando todas as medidas necessárias para a correta utilização do bem público colocado à sua
disposição, inclusive evitar que o veículo fosse guardado em sua residência particular, sendo
correto que todos os automóveis utilizados pela Câmara fossem recolhidos ao estacionamento do
órgão após o horário de expediente.

Tais medidas de segurança não foram adotadas, tendo em vista que o veículo foi utilizado
indevidamente pelo filho do Vereador, que acabou por causar um grave acidente que destruiu o
automóvel.

O Sr. Dahn Marcell Machado Alves, malgrado não ser servidor público e não se
enquadrar na definição prevista no Art. 2° da Lei 8.429/92, também responde pelo ato de
improbidade, haja vista ter se beneficiado diretamente da utilização ilícita do veículo, conforme
disposições do art. 3°:

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele


que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática
do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.

Segundo o art. 12, incisos I e II, da Lei 8.429:

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Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas
previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito
a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos
de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor
do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de cinco anos;

Verifica-se que o Vereador Clécio Alves depositou na conta bancária do Poder


Legislativo a quantia de R$25.000,00 a título de ressarcimento do valor de mercado do veículo
avariado (fls.29). Além disso, foi penalizado em procedimento administrativo com a suspensão
por 15 dias e a perda da remuneração referente a esse período.

No entanto, conforme disposição do artigo 12 supratranscrito, as sanções administrativas


não prejudicam a incidência das penalidades previstas pela Lei 8.429/92, tendo em vista que,
mais do que ressarcir o erário, busca-se reparar dano à imagem da Administração Pública frente
á sociedade local. Mais. Houve prejuízo a terceiros que se envolveram no acidente.

Tudo isso é motivo suficiente para condenar os réus Clécio Antônio Alves e Dahn
Marcell Machado Alves nas disposições da Lei de Improbidade Administrativa, pelos prejuízos
causados ao erário público e à imagem da Administração Pública.

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DA OMISSÃO DA CÂMARA MUNICIPAL QUANTO À REGULAÇÃO DA
UTILIZAÇÃO DE SUA FROTA E DA NECESSIDADE DE MEDIDA LIMINAR

Não obstante ter sido noticiado na mídia que a Câmara Municipal de Goiânia editaria ato
para regular a utilização de sua frota de veículos pelos edis do município, não consta da
documentação encaminhada nada que comprove que a providência tenha sido adotada.

Essa omissão da Câmara Municipal deixa sem regulação a utilização de sua frota própria
de veículos, o que confronta com o princípio da moralidade e eficiência na administração
pública e pode dar causa a novos acidentes com consequências ainda mais sérias, com até mesmo
perda de vidas.

Dessa forma, Excelência, torna-se necessário que o Poder Judiciário adote medidas que
visem resguardar o interesse público na proba utilização da frota, evitando que novos acidentes
ocorram com veículos sob a direção de pessoas que nenhum vínculo detém com a administração
pública, colocando em risco o patrimônio público e as vidas dessas pessoas e de terceiros que
nada tem a ver com essa falta de critério.

Requer o Ministério Público que seja conceda liminar no sentido de determinar à Câmara
Municipal, na pessoa de seu Presidente, que recolha todos os veículos de sua frota à sua
garagem, sempre após findar o expediente às 18h, e que seja terminantemente proibida a
utilização dos veículos por terceiros e para fins que não sejam estritamente os relacionados com
as atividades dos vereadores na Capital, sob pena de multa diária, por cada veículo não
recolhido e/ou utilizado de forma indevida, no montante de R$.1.000,00 (um mil reais), a ser
aplicada ao seu Presidente.

III – DO PEDIDO

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Por todo o exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás, por seu representante em
exercício na 50ª Promotoria de Justiça da Comarca de Goiânia, requer:

1) sejam os réus NOTIFICADOS, nos termos do § 7º1 do artigo 17, na redação que lhe
foi outorgada pela referida Medida Provisória n. 2.180-34, de 24.8.2001, c/c os arts. 221, I, e
222, primeira parte2, do diploma adjetivo civil, PELO CORREIO COM AVISO DE
RECEBIMENTO, para, querendo, fazer suas alegações preliminares antes do juízo de prelibação
a ser exercitado por Vossa Excelência para admissibilidade da presente ação.

2) A citação por oficial de justiça da Câmara Municipal de Goiânia, na pessoa de seu


Presidente, Vereador Iram Saraiva, com endereço na Avenida Goiás, 2001, Setor Central, CEP
74063-900, nesta capital, para os fins do disposto no § 3º1 e 2 , do art. 17, da Lei n. 8.429/92, com
a redação que lhe emprestou a Lei n. 9.366/96, ou seja, para que, no caso da improbidade em
face dos dois primeiros réus, opte ou não pela abstenção de contestação do pedido, ou atue ao
lado do autor, neste caso em face do interesse público envolvido;
3) A intimação da medida liminar e concomitantemente a citação por oficial de justiça da
Câmara Municipal de Goiânia, na pessoa de seu Presidente, Vereador Iram Saraiva, com
endereço na Avenida Goiás, 2001, Setor Central, CEP 74063-900, nesta capital, para, no caso da
obrigação de fazer, apresentar, querendo, contestação;

1
“Art. 17. (...) § 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber,
o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965 (Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996)”
2
Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965 (Lei da Ação Popular): “Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas
públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que
houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. § 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo,
ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste
artigo. § 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da
avaliação, citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os
responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma. § 3º A pessoas jurídica de direito público ou de
direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado
do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS


50ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
Ao final, seja a ação julgada procedente, com a condenação do primeiro réu nas disposições
da Lei de Combate à Improbidade Administrativa, em especial o seu art. 12, II, da Lei nº
8.429/92, e do segundo réu, nos termos do art. 12, I, da mesma lei, e da terceira ré na obrigação
de fazer consistente na edição de ato para regular a utilização de sua frota de veículos pelos
vereadores/servidores, confirmando a liminar concedida no sentido de que a determinação de
recolhimento à garagem dos veículos pertencentes à sua frota se dê sempre após o final de
expediente (18h) e que seja terminantemente proibida a utilização dos veículos por terceiros e
para fins que não sejam estritamente os relacionados com as atividades dos vereadores na
Capital.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente o depoimento pessoal dos réus, oitiva de testemunha a serem arroladas no
momento oportuno, perícias, vistorias, juntada de novos documentos, etc.
Dá-se a causa o valor de R$.1.OOO,OO (hum mil reais)

Termos em que,
Pede e Espera Deferirnento,

Goiânia, 28 de dezembro de 2010.

UMBERTO MACHADO DE OLIVEIRA


50º Promotor de Justiça da Comarca de Goiânia

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