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Resumos Literatura Portuguesa 1


Exames 2011

Farsa de Inês Pereira (Gil Vicente)

Desafiado por aqueles que duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma
peça que comprove o provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube".

Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As
didascálicas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada pela
entrada ou saída de personagens. Todas as personagens desta farsa visam a critica social, por
isso são chamadas personagens tipo.

Resumo

As farsas, baseiam-se em temas da vida quotidiana, tendo um enredo cómico e profano. A


Farsa de Inês Pereira parte de um provérbio: «mais quero asno que me leve, que cavalo que
me derrube». Esta farsa censura os «homens de bom saber» que constitui uma referência
direta ao público cortês. Esta era dotada de uma incontornável vertente não só dramática mas
acentuadamente teatral.

Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja
astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento,
incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira Lianor Vaz, no
entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pero Marques, nunca
viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como
mecanismo subliminar o autoelogio da Corte.

Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém que, à
boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como Brás da
Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco menos
sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas o
triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar social, que
acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.

Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido
astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu
moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da Mata,
era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.

Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazeirosa notícia de que o seu marido foi morto
por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Lianor Vaz traz-
lhe a notícia que Pero Marques, continua casadoiro, de resto como este tinha prometido a Inês
aquando do primeiro encontro destes.

Inês casa com ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da
protagonista.

O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser
melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros
até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.

Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema
medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia.

Joana Filipa Calado


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Personagens

Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas
vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu comportamento
impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus
passos.

Lianor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos,
revelando que a base da família está corrompida.

Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se
cúmplice das atitudes dela.

Pero Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por
Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o traía.

Escudeiro: Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa mas ele é morto
por um mouro.

Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.

Ermitão: era o amante de Inês que depois se torna num padre.

Cómico

Encontramos, nesta farsa, cómico de situação ou de personagem em Inês, Pero Marquez e no


escudeiro; de situação na cena de ‘’namoro’’ de Inês com Pero Marquez; de linguagem na
carta e linguagem de Pero Marque e na fala dos judeus casamenteiros. Podemos considerar as
rezas e as pragas (esconjuros) como cómico de linguagem.

Objetivo da crítica vicentina

Gil Vicente critica:

 A mentalidade das jovens raparigas;


 Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
 A selvajaria e ingenuidade de Pero Marquez;
 As alcoviteiras e os judeus casamenteiros;
 Os casamentos por conveniência;
 Os clérigos e os Ermitões.

Estrutura da peça

Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. De assinalar a
importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o paralelismo presente nos
contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e
no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. É através destes
paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês.

Joana Filipa Calado


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Podes esquematizar os 3 atos da seguinte maneira:

Concluindo

Desta ação pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade,
encontrada junto de Pero Marquez. A unidade da ação é dada pelo tema e pela personagem
principal, Inês Pereira

Caracterização das personagens:

Inês Pereira

Inês é a personagem-tipo mais complexa de toda a história. Ao longo da peça, sofre uma
evolução (degradante) e, por isso, vai representar vários tipos sociais.

Inês solteira, é uma rapariga leviana e preguiçosa. Vê no casamento uma forma de se libertar
da mãe e de gozar da sua liberdade. Logo desde o início e ao longo de toda a peça mostra ser
astuta a planear as suas ações, contudo “sai-lhe o tiro pela culatra” quando casa com Brás da
Mata e recusa Pero Marques: julga os pretendentes não pelo caráter, mas pela aparência.

Após o casamento, Inês torna-se a mulher oprimida, porque Brás da Mata não a deixa sair de
casa e recebe alegremente a notícia de que este tinha sido morto na guerra por um mouro.

Decide, então, casar-se com Pero Marques que, apesar da rudeza, mostrava ser ingénuo e
complacente: o marido ideal para Inês poder gozar da sua liberdade há tanto desejada. Nesta
altura, torna-se na mulher adúltera desta história, fase final e mais degradante da
personagem: aproveita-se do pobre marido para a levar de encontro ao seu amante, o
Ermitão, e ainda troça da sua imbecilidade. Revela-se detentora de um caráter imoral e sem-
vergonha.

Por toda a peça, Inês expressa a sua inteligência e ironia no planeamento dos seus passos.

Pero Marques

Pero Marques foi o primeiro pretendente de Inês, sugerido por Lianor Vaz. Inicialmente, esta
personagem representa o camponês rude e sem maneiras, até imbecil. É a personagem mais
ridicularizada da história, através do cómico de personagem, de situação e de linguagem.
Apesar de da primeira vez ter sido recusado por Inês, aceita casar-se com ela e não se
apercebe que está a ser traído por esta. É demasiado complacente com a mulher, deixando-a

Joana Filipa Calado


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ir onde bem entende e ainda carrega-a às costas para ir de encontro com o amante. Nesta
fase, tornasse no marido traído e enganado.

Brás da Mata

Brás da Mata aparenta ser, para Inês, o marido ideal: É um fidalgo discreto e meigo, que sabe
tocar viola. Todavia, a verdade é que não tem onde cair morto e o seu objetivo é o de casar
com uma rapariga rica e aproveitar-se do seu dote, para assim nunca mais ter de trabalhar.

Após o casamento com Inês, revela a sua verdadeira face: não deixa Inês sair de casa, nem
falar com ninguém e manda o Moço vigiá-la: é um marido tirano. Foi morto em combate por
um mouro o que, Inês revela, através da ironia, ter sido um ato covarde.

Brás da Mara é, deste modo, o ‘cavalo’ desta Farsa.

Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco)

Características da novela

 Concentração de episódios conducentes à ação principal e consequente ausência de


episódios colaterais;
 Rapidez do ritmo narrativo;
 Número reduzido de personagens;
 Concentração do espaço e do tempo;
 Quase inexistência de descrição;
 Ausência de digressões;
 Frequência do diálogo como expressão dos momentos de tensão dramática;
 Extensão (menor do que a do romance).

Tempo da história

 A ação decorre nos finais do século XVIII, inicio do século XIX.


 A ação principal dura 6 anos: de 1801 a 1807.
o 1801 – Simão tem 15 anos; Domingos Botelho é corregedor em Viseu;
o 1803 – Teresa escreve a Simão, dizendo-lhe que o seu pai a ameaça de ir para
o convento;
o 1804 – Simão é preso com 18 anos;
o 1805 – 1807 – Simão encontra-se preso, antes de ser degredado;
o 1807 – Simão parte para o degredo, na Índia a 17 de março;
o 1807 – A 28 de março, Simão morre e é lançado, ao mar.

Personagens

 Simão
 Nasce em 1784.
 Tem 15 anos, à data de inicio da ação, em 1801; estuda humanidades em
Coimbra.

Joana Filipa Calado


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 Características hereditárias psíquicas e fisionómicas (anúncio do realismo):


“génio sanguinário”, rebeldia e coragem, inconformismo político – herança de
seu tio paterno, Luís Botelho (que matara um homem, em defesa de seu irmão
Marcos) e de seu avô paterno, Fernão Botelho (que fora encarcerado por
suspeita de uma tentativa de regicídio, em 1758 (cf. Cap. I) e ainda de seu
bisavô Paulo Botelho Correia (que era considerado”o mais valente fidalgo que
dera Trás-os-Montes” (cf. Cap. I). É belo como a sua mãe, ainda que viril.
 Após a visão de Teresa, Simão transforma-se: distancia-se da ralé de Viseu;
torna-se caseiro; cumpre os seus deveres de estudante; passeia pelo campo,
procurando o espaço natural, em detrimento do espaço social.
 Quando Teresa é obrigada a sair da janela, local onde via Simão e,
posteriormente, quando lhe comunica o desejo do seu pai de que ela se case
com o seu primo Baltasar, Simão revela-se de novo rebelde. A par desta
faceta, irá porém surgir uma outra: a sua nobreza de alma, que se manifesta
no momento em que deseja poupar um dos criados de Baltasar, que tentara
matar Simão, pelo facto de o homem se encontrar ferido.
 Surge, entretanto, mais outra faceta de Simão: a de poeta, que se manifesta
nas cartas que escreve a Teresa (cf. Cap. X).
 O seu sentimento exacerbado de honra é também notável – ele manifesta-se
pelo facto de Simão enfrentar sempre aqueles que se lhes opõem, pelo facto
de se ter negado a fugir, depois de ter morto Baltasar, em legítima defesa, e
ainda por recusar qualquer ajuda da família, aceitando a sua condenação à
forca e, depois, ao degredo. O seu código de honra conduzi-lo-á, em última
análise, à sua tragédia. Este sentimento valer-lhe-á a admiração de
personagens como João da Cruz e ainda daquelas que se situam numa esfera
social marcada por valores conservadores, como é o caso do desembargador
Mourão Mosqueira.
 O sentimento de dignidade é, por outro lado, inseparável da possibilidade de
realização do seu amor – é assim que Simão não acede ao pedido de Teresa,
para que cumpra os dez anos de pena, em Portugal, na cadeia, afirmando:
“Quero ver o céu no meu último olhar, não me peças que aceite dez anos de
prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreendes a
tortura dos meus vinte meses.” Com efeito, para Simão o amor associa-se à
liberdade e à sua integridade pessoal. Simão representa o herói romântico
antissocial, por excelência. Ele significa a oposição a uma sociedade podre e
aos seus valores anti-humanos. Na sua última carta a Teresa, incluída no Cap.
XIX, escreve: “Vou. Abomina a pátria, abomina a minha família; todo este solo
está nos meus olhos coberto de forcas, e quantos homens falam a minha
língua, creio que os ouço vociferar as imprecações do carrasco. Em Portugal,
nem a liberdade tem opulência; nem já agora a realização das esperanças que
me dava o teu amor, Teresa!”.
 Morre a 28 de março de 1807, no beliche do navio que o transportava para o
degredo e o seu corpo é lançado ao mar.
 Teresa

Joana Filipa Calado


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 Tem 15 anos.
 Destaca-se pela sua beleza.
 É o paradigma da mulher-anjo, pela sua delicadeza e pela grandiosidade dos
seus sentimentos.
 Revela autonomia, para a época, sobretudo, quando se recusa a casar com
Baltasar.
 É astuta, determinada e orgulhosa.
 Manifesta uma força de vontade e uma desenvoltura viris.
 Esta personagem não tem uma evolução psicológica, pelo que é considerada
uma personagem plana.
 Mariana
 Tem 24 anos.
 O narrador salienta a sua beleza física.
 Caracteriza-se pela sua intuição, pelo poder de predição, enfim, pelo
misticismo popular.
 Apresenta complexidade humana, ao nível das emoções que experimenta e da
esperança que acalenta de poder ser amada por Simão e ficar junto dele.
 Esta personagem apresenta a evolução psicológica, pois o seu amor motiva as
suas esperanças e os seus desalentos, oscilando entre emoções que fazem
vibrar a sua dimensão humana.
 João da Cruz
 É uma personagem que se aproxima bastante do protótipo do homem popular
português.
 Pela antítese das emoções que experimenta e pelas atitudes que apresenta, é
considerado o tipo do “bom bandido”.
 Ele é, simultaneamente, bondoso, grato, corajoso e violento.
 Caracterizam-no, ainda, a sua linguagem de cariz popular, pelo realismo da
expressão.
 Baltasar
 É a personagem que, pelos seus defeitos, se opõe a Simão, fazendo sobressair
as qualidades exemplares do herói.
 É cobarde, mesquinho e vingativo.
 A sua vaidade torna-o incapaz de esquecer o seu orgulho ferido e de
compreender o amor que Simão e Teresa sentem um pelo outro.
 Representa os valores sociais instituídos e fossilizados, contribuindo para a
tragédia final.
 Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho
 Representam o antagonismo motivado pelo preconceito de honra social.
 São inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas
suas conveniências sociais.
 Preferem perder os filhos, reduzindo-os à dimensão de objetos, a perder a
dignidade social.
 D. Rita Preciosa

Joana Filipa Calado


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 Representa a convencionalidade do sentimento materno – age mais por


obrigação familiar do que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o
seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as
atitudes do filho.
Simbologia
 As grades simbolizam, não apenas as grades materiais que aprisionam Simão, mas aos
grilhões sociais que o condenam e motivam a sua clausura.
 A janela, elemento que aparece na história amorosa shakespeariana, Romeu e Julieta,
é o local onde os dois amantes se veem pela primeira vez. Elemento de ligação entre o
interior e o exterior, a janela está conotada simbolicamente com a interioridade de
Simão e de Teresa e com a sociedade. Ela funciona, então, como cisão entre as
personagens e o espaço social em que estas se inserem. Associada aos olhos, órgãos
de perceção (a janela também se liga à recetividade da luz exterior) que, por sua vez,
são “o espelho da alma”; a sua simbologia situar-se-á ainda ao nível de dois outros
espaços presentes na obra, através dos sentimentos das personagens: o aqui (espaço
terreno de hostilidade) que se opõe ao além (espaço da esperança e da ilusão
fecundante).
 O mar. O corpo de Simão é deitado ao mar, fonte de vida e, metaforicamente, local de
renascimento. O mar espelha o céu, o espaço em que os amantes acreditavam como
único local onde poderiam realizar o seu amor puro, mas condenado pelos homens.
 O avental assume, na obra, um valor polissémico – por um lado, associa-se à condição
social de Mariana; por outro, liga-se ao sofrimento, pois é com ele que Mariana limpa
as lágrimas que chora por Simão. Este elemento do traje de Mariana encontra-se,
também, no âmbito da referência ao seu estado de loucura ao saber que Simão ia ser
preso – é assim que, na cadeia da Relação do Porto, Simão tem sobre uma mesa um
caixote de pau-preto que, para além de conter as cartas de Teresa, “ramalhetes secos,
os seus manuscritos do cárcere de Viseu”, guardava igualmente o avental de Mariana,
“o ultimo com que ela, no dia do seu julgamento, enxugou as lágrimas e arrancara de
si no primeiro instante de demência”. Simão, antes, pedir a João da Cruz que cuidasse
de sua filha, pois ela tinha nascido “debaixo da [sua] má estrela”, o que a condenava a
um irremediável sofrimento motivado por um amor que não era correspondido. A
simbologia do avental reúne, deste modo, o trabalho e o martírio, significando o
percurso de Mariana na terra uma forma de purificação. No último capitulo, Mariana
atira-se ao mar para se juntar a Simão e o comandante do navio que transportava
Simão para o degredo viu “enleado no cordame, o avental, e à flor da água um rolo de
papéis que os marujos recolheram na lancha”.

Joana Filipa Calado

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