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História do Sudão

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A moderna República do Sudão foi formada em 1956 e herdou as suas fronteiras
do Sudão Anglo-Egípcio, fundado em 1899. Por vezes antecedendo a 1889, o uso do
termo "Sudão" para o território da República do Sudão é um tanto anacrônico, e também
pode se referir ao conceito mais difuso da região do Sudão.
Desde a sua independência, em 1956, a história do Sudão tem sido assolada por
conflitos internos: a Primeira Guerra Civil Sudanesa (1955-1972), a Segunda Guerra Civil
Sudanesa (1983-2005) - que culminou com a secessão do Sudão do Sul em 9 de
julho de 2011 - e o conflito em Darfur (2003-2010).[1]

Índice
  [esconder] 

 1Antiguidade
 2Sudão no séculos XIX e XX
o 2.1Sudão turco (1821-1885)
o 2.2Estado Mahdista (1885 – 1899)
o 2.3Sudão Anglo-Egípcio (1899 - 1955)
 3História pós-colonial (1956 até o presente)
 4Referências
 5Ligações externas
 6Ver também

Antiguidade[editar | editar código-fonte]

Os três Reinos cristãos do Sudão.

Na Antiguidade floresceram neste território duas civilizações: a Núbia e o Reino de Cuche.


Desde tempos remotos, a história do Sudão confunde-se com a da Núbia, que lhe ocupa
a parte setentrional. Em 1 570 a.C., data em que começou a XVIII Dinastia, aNúbia era
uma província egípcia. Do século XI a.C. ao século IV a.C., a Núbia (norte do Sudão) fez
parte do reino de Cuche, império núbio egipcianizado que governou o próprio Egito de 713
a 671 a.C. Cerca de 350 d.C., Meroé, capital da Núbia desde oséculo VI a.C., foi destruída
pelos etíopes.
No século VI da era cristã, missionários cristãos entraram na Núbia e converteram três
importantes reinos da região; o mais poderoso deles foi o de Macúria, o qual teve fim no
início do século XIV como conseqüência da invasão dos mamelucos egípcios. Esses
reinos cristãos negros coexistiram por vários séculos com seus vizinhos muçulmanos no
Egito, e constituíram bastiões contra o avanço doislamismo. Do século XIII ao século XV,
porém, nômades árabes emigraram do Egito para o Sudão, o que provocou o colapso dos
reinos cristãos.
Por volta de 1500, uma confederação árabe e os Funj (ou Fung) puseram fim ao reino da
Alwa, reino cristão mais meridional do Sudão. Daí em diante, a metade norte do Sudão
abrigaria povos racialmente mesclados, na maioria muçulmanos e árabes. Vastas zonas
foram despovoadas pelo tráfico negreiro. Os Funj, povo que não era nem árabe nem
muçulmano, fundaram um sultanato em Sennar, e governaram grande parte do centro do
Sudão do início do século XVI ao início do século XIX.

Sudão no séculos XIX e XX[editar | editar código-fonte]


Sudão turco (1821-1885)[editar | editar código-fonte]
Próximo ao século XVIII, a falta de entendimento entre as tribos funj debilitou o reinado. Os
exércitos enviados por Mehmet Ali (ou Muhammad Ali), vice-rei do Egito, nessa época uma
província do Império Otomano, ocuparam grande parte da região norte (1821-1823) e
desenvolveram o comércio demarfim e de escravos. O domínio turco-egípcio se manteve
durante 60 anos. No começo do século XIX, o Quediva Ismail Paxá, vice-rei do Egito,
tentou alargar a influência do Egito para sul, incorporando o Sudão a um Estado que
abrangeria toda a bacia do Nilo. Expedições egípcias conseguiram conquistar todo o
Sudão em 1874.

Mahdi Mohamed Ahmed.

Morte do general britânico Charles Gordon em Khartum.

Para estimular o financiamento europeu a seus planos ambiciosos, o Quedíva Ismail Paxá,


vice-rei do Egito, engajou cristãos europeus na destruição do extenso comércio de
escravos que se desenvolveu no oeste e no sudoeste do Sudão. Em 1874, Khedíve Ismail
ofereceu ao general e governador inglês Charles Gordon (1833-1885) o cargo de
governador-geral do Sudão Egípcio. Sua administração antiescravagista não era popular.
Estado Mahdista (1885 – 1899)[editar | editar código-fonte]
Em 1881, Mohamed Ahmed (ou Muhammad Ahmed) declarou-se Mahdi ou Mádi (o
enviado deAlá para restaurar o Islã, de acordo com os ensinamentos islâmicos) e liderou
uma revolta contra os egípcios, destinada a reformar o Islã e a expulsar todos os
estrangeiros do Sudão. Após massacrar uma guarnição militar, o Mahdi e seus seguidores
lançaram-se à reconquista do país.
Os britânicos ocuparam o Egito, em 1882, e invadiram o Sudão. Em 1885, os rebeldes
apoderaram-se de Khartum, onde Gordon foi assassinado. Conseguiram dominar todo o
Sudão e fundaram uma teocracia. O caos econômico e social invadiu o Sudão. Os
mahdistas resistiram às forças anglo-egípcias até 1898, quando o sucessor de Mahdi foi
derrotado por por Kitchener na batalha de Omdurman.

Batalha de Omdurman.

Sudão Anglo-Egípcio (1899 - 1955)[editar | editar código-fonte]


Ver artigo principal: Sudão Anglo-Egípcio
Após o incidente de Fashoda (o ápice de uma série de combates
entre franceses e britânicos em torno de colônias africanas), os governos britânico e
egípcio firmaram um acordo para compartilhar a soberania do Sudão, criando um
condomínio anglo-egípcio para todo o país (1899), sob governo britânico.[2] Na zona
meridional, o controle britânico era menor.
O descontentamento com a união com o Egito se fez mais patente após a Segunda Guerra
Mundial. Em 1946, os dois países iniciaram negociações para revisar os termos do tratado.
O governo egípcio pediu aos britânicos que abandonassem o Sudão, enquanto que estes
propuseram modificações no regime de governo. Foi promulgada
uma Constituição em 1948, mas, em 1951, o rei Farouk do Egito proclamou-se rei do
Sudão.[3] Após sua queda, a Grã-Bretanha e o Egito firmaram, em 1953, um acordo,
mediante o qual se garantia aindependência do Sudão após um período de transição de
três anos. Em 1953, nas eleições para o Parlamento sudanês, o Partido Unionista
Nacional saiu vitorioso. Em 1954, o primeiro governo composto por sudaneses assumiu o
poder e começou uma política de sudanização. Esse programa agravou as diferenças
geográficas, econômicas e sociais entre o norte e o sul; os habitantes do sul se sentiam
excluídos do novo governo. A República do Sudão, independente, foi oficialmente
declarada em 1º de janeiro de 1956. Os anos seguintes seriam de instabilidade política.

História pós-colonial (1956 até o presente)[editar | editar código-


fonte]
Ver artigo principal: Primeira Guerra Civil Sudanesa

Ver artigo principal: Golpe de Estado no Sudão em 1971

Ver artigo principal: Segunda Guerra Civil Sudanesa

Ver artigo principal: Golpe de Estado no Sudão em 1989

Sul do Sudão.
Tensões políticas e religiosas minaram a estabilidade do país e, ainda em 1956, rebentou
a guerra civil, iniciada no sul, contra o domínio do norte. Em causa estavam as rivalidades
seculares entre o Norte, de religião muçulmana, e o Sul, de tradição cristã e animista de
expressão africana. Em 1958, após as primeiras eleições, o novo governo foi derrotado
pelo tenente-general Ibrahim Abboud, o qual dissolveu o Parlamento, suspendeu a
Constituição, declarou lei marcial e se autoproclamou primeiro-ministro.[4] Em 1964, Abbud
foi deposto por uma revolução popular e assumiu o poder um Conselho de Estado. [4]

O ex-presidente sudanês Yaffar al-Nimayri.

Em 1969, um grupo de militares dirigido pelo coronel Yaffar al-Numeiry (Djafar al-Nimayri)


assumiu o poder via golpe militar[4] e, três anos mais tarde, em 1972, negociou um cessar-
fogo com os separatistas do sul, dando-lhes certa autonomia, pondo fim à guerra civil, que
durava havia 16 anos.[4] Numeiry formou um governo de esquerda e, em 1973, proclamou
o Sudão um Estado de partido único. Após várias tentativas de golpes de Estado (como o
de 1971), Numeiry expulsou os conselheiros militares soviéticos (1977) e voltou-se para o
Egito e os Estados árabes conservadores do Ocidente, aos quais solicitou ajuda política e
econômica. Nesse mesmo ano, um acordo de reconciliação nacional permitiu o retorno ao
Sudão dos líderes da oposição islâmica no exílio. Esta nova orientação política permitiu
negociações com a Etiópia, de que resultou um acordo com Addis-Abeba e o aumento da
popularidade do general Numeiry. Na década de oitenta, o Sudão recebia um auxílio
estrangeiro superior a 700 milhões de dólares, mais do que qualquer outro país africano.
O país viria a ser assolado pela seca, que deixou vastas áreas desertificadas. A
estabilidade do país se viu ameaçada pela chegada de um milhão
de refugiados da Eritreia,Uganda, Chade e, principalmente, Etiópia, onde eram vítimas
de fome e de guerra. A economia sudanesa só se tem mantido à custa de subsídios dos
países árabes ricos, daUnião Europeia e dos Estados Unidos. Em 1983, o presidente
Numeiry ganhou as eleições pela terceira vez e tentou consolidar a sua base de apoio
entre os fundamentalistas islâmicos introduzindo a lei islâmica (sharia)[4], com severas
punições sob a forma de açoitamentos, mutilações e enforcamentos. Esta política
desencadeou o reinício das atividades guerrilheiras separatistas no sul do Sudão entre os
não muçulmanos (2ª Guerra Civil Sudanesa).[4] O Exército de Libertação do Povo
Sudanês (ELPS) afundou umbarco no Nilo, causando centenas de mortes e bloqueando o
tráfico fluvial, atacou instalações estrangeiras e minou estradas e linhas-férreas.

GeneralOmar Hassan Ahmad al-Bashir.

Movimentos populares e greves incentivaram a derrubada do governo de Numeiry


pelo exército, liderado pelo ministro da Defesa Siwar el-Dahab, em abril de 1985. Formou-
se um breve governo de coalizão civil, sob a liderança de Sadiq al-Mahdi.[4] A guerra civil,
no entanto, continuou; o Exército de Libertação do Povo Sudanês (ELPS) militarizou
grande parte do sul do país, enquanto a Frente Islâmica Nacional (FIN) fortalecia sua
presença no norte. Em abril de 1986, realizaram-se as primeiras eleições
parlamentares democráticas em 18 anos, as quais colocaram no poder uma coligação de
partidos do Norte que tentou negociar com o Sul, mas viu-se confrontada com gravíssimos
problemas políticos e econômicos.
A instabilidade política e as tentativas frustradas de obter um acordo de paz com o ELPS
levaram o general de brigada Omar Hassan Ahmad al-Bashir, em junho de 1989, a
depôr o primeiro-ministro Sadiq al-Mahdi, declarar estado de emergência e nomear
um Conselho de Estado.[4] O novo governo, que baniu todos os partidos políticos, foi
fortemente influenciado pelo fundamentalismo islâmico e pouco se esforçou para
apaziguar os rebeldes do sul do país.

Coronel John Garang de Mabior, morto em um acidente de helicópteroem julho de 2005.


O regime de Bashir enfrentou, no sul, o Movimento para a Libertação do Povo do
Sudão (MLPS), comandada pelo coronel John Garang. Em maio de 1998, o direito à
autodeterminação dos povos do sul sudanês foi reconhecido, mas não surtiu efeito. O
problema essencial não foi a independência, que as organizações do sul não
reivindicavam formalmente, mas a decisão de aplicar a Lei de  Sharia ao conjunto da
população. Ajudado unicamente pelas organizações não-governamentais, o sul
sudanês continuou devastado pela guerra civil.

General Salva Kiir Mayardit.

O início da década de 90 testemunhou o influxo de alguns milhões de refugiados


da Etiópia e do Chade. NaGuerra do Golfo, em 1990, a decisão de apoiar o Iraque contra
o Kuwait isolou o Sudão não só do Ocidentecomo também de seus vizinhos árabes. Em
meados da década de 1990, a guerra civil, a seca e as inundações haviam provocado
centenas de milhares de refugiados e feito um número equivalente de vítimas da fome e
da carência geral. A população sudanesa tem suportado uma desastrosa gestão
econômica do país onde a escassez de alimentos não pára de se agravar, assim como um
clima de constante tensão e instabilidade política. 20% do PIB é gasto em despesas
de guerra e, em 1995, a inflação foi de 85%.
Em 1996, o general al-Bachir foi confirmado na chefia do Estado por eleição (reeleito em
2000). Desde 2003, em Darfur a violenta repressão de movimentos de insurreição por
milícias locais, apoiadas pelo Exército, provocou uma catástrofe humanitária (Conflito de
Darfur). Em 2005, o governo sudanês e a rebelião sulista assinaram um acordo de paz,
pondo fim ao conflito travado desde 1983. O general Salva Kiir (sucessor de J. Garang,
morto acidentalmente em julho) tornou-se primeiro vice-presidente da República. Foi
instituído um governo de união nacional.
Em janeiro de 2011, em referendo previsto pelo acordo de paz de 2005, quase 99% dos
sulinos votaram pela separação em relação ao norte. Em 9 de julho de 2011, aRepública
do Sudão do Sul, com capital em Juba, declarou sua independência.

Referências
1. Ir para cima↑ «Sudan profile». BBC
2. Ir para cima↑ «A Country Study: Sudan - THE ANGLO-
EGYPTIAN CONDOMINIUM, 1899-1955». Library of
Congress
3. Ir para cima↑ «A Country Study: Sudan - The Road to
Independence». Library of Congress
4. ↑ Ir para:a b c d e f g h «Cronologia da história do Sudão». BBC
News. 26 de outubro de 2013

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