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PRECONCEITO LINGÜÍSTICO
1. INTRODUÇÃO
Este livro trás os primeiros resultados das reflexões que Bagno vem
fazendo sobre o Tema “Preconceito Lingüístico”, pois, o mesmo está ligado, em boa
parte, à confusão que foi criado no curso da história entre a língua e a gramática
normativa, e os capítulos seguintes Bagno tem uma tarefa urgente que é de
desfazer essa confusão.
“Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a
lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles não tem
nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que são apenas o resultado
da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica”. (p.13)
“Não sei quem foi a primeira pessoa que proferiu essa grande bobagem,
mas a realidade é que até hoje ela continua sendo repetida por muita gente por ai,
inclusive gente culta que não sabe que isso é apenas um mito sem nenhuma
fundamentação científica(...) Esse mito nasceu, mais uma vez, da velha posição de
subservência em relação ao português de Portugal”. (p.46)
“É difícil encontrar alguém que não concorde com a declaração acima. Ela
vive na ponta da língua da grande maioria dos professores de português e está
formulada em muitos compêndios gramaticais, como a já citada Gramática de Cipro
e Infante, cujas primeiríssimas palavras são: “A gramática é instrumento
fundamental para o domínio do padrão culto da língua”. (p.62)
“Este mito, que vem fechar nosso circuito mitológico, tem muito que ver
com o primeiro, o mito da unidade lingüística do Brasil. Esses dois mitos são
aparentados porque ambos tocam em sérias questões sociais. É muito comum
encontrar pessoas muito bem-intencionadas que dizem que a norma padrão
conservadora, tradicional, literária, clássica é que tem de ser mesmo ensinada nas
escolas porque ela é um “instrumento de ascensão social” (...) ora, se o domínio da
norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na sociedade, os
professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política
do país, não é mesmo?” (p.69).
“Esse círculo vicioso se forma pela união de três elementos que, sem
desrespeitar meus amigos teólogos, costumo denominar ‘Santíssima Trindade’ do
preconceito lingüístico. Esses três elementos são a gramática tradicional, os
métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos”. (p.73)
“Por mais que isso nos entristeça ou irrite, é preciso reconhecer que o
preconceito lingüístico está ai, firme e forte. Não podemos ter a ilusão de querer
acabar com ele de uma hora para outra, porque isso só será possível quando houver
uma transformação radical do tipo de sociedade que, para existir, precisa da
descriminação de tudo o que é diferente, da exclusão da maioria em beneficio de
uma pequena minoria, da existência de mecanismo de controle, dominação e
marginalização”. (p. 139-140)
“É fácil mostrar de que modo essa oposição à ciência lingüística está viva
e ativa no Brasil nos dias de hoje(...) Como se sabe, a noção de ortodoxia foi
inventada – pouco depois da instituição do cristianismo como religião oficial do
império romano – para definir os dogmas oficiais da Igreja”. (p. 154 – 156)
COMENTÁRIO CRÍTICO