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Capítulo 2
O PODER PELA VIOLÊNCIA:'
A REINVENÇÃO DO
EXTREMISMO ISLÂMICO
Abbas Amanat
M ASPECTO AINDA surpreendente dos atentados de 11 de
setembro é que nenhum indivíduo ou grupo tenha assu-
mido explicitamente sua autoria.* Os perpetradores, tanto
suicidas quanto sobreviventes, não chegaram ao ponto de con-
fessar seu crime ou receber o crédito pelo golpe heróico que
acreditavam ter desfechado contra os símbolos do poderio fi-
nanceiro e militar da América. E como se preferissem que o
terror e a carnificina falassem por si. Quando uma entrevista
gravada de Osama Bin Laden foi ao ar na televisão no dia 7 de
outubro, dia do início dos ataques aéreos das forças america-
nas e britânicas contra alvos afegãos, o líder da Al-Qaeda limi-
tou-se a louvar os mártires por terem atingido os Estados Uni-
dos com a "espada do islã", como punição pela ocupação das
terras santas muçulmanas por americanos e israelitas.
Para este autor, um historiador do Oriente Médio que cres-
ceu naquela parte do mundo, a mensagem de violência de Bin
Laden chega como um grave lembrete do que se tornou a re-
gião — e não só porque uma atrocidade de magnitude sem
precedentes foi cometida por alguns de seus habitantes contra
2.
A desconfiança com relação ao Ocidente recrudesceu em de-
corrência da maneira problemática como o Oriente Médio
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3.
Não é de admirar que as sensações de desespero com relação
aos regimes repressivos que vigoravam no âmbito interno e de
desamparo no tocante à consolidação do Estado sionista vizi-
nho tenham engendrado um novo espírito de solidariedade
islâmica — radical na política, monolítico na abordagem e re-
belde em relação ao Ocidente.
A transformação decisiva não foi deflagrada dentro do
mundo árabe, mas pela revolução iraniana de 1979. A funda-
ção de uma república islâmica, sob a intransigente liderança
do Aiatolá Khomeini, evocou, em todo o mundo muçulmano,
o há muito acalentado desejo de criar um regime genuinamen-
te islâmico. Conquanto fosse pregado por um clero Shi'a radi-
cal, que cometeu enormes atrocidades contra seu próprio povo,
o modelo iraniano de islã revolucionário foi visto como um
indicador do caminho para um islã "autêntico" e universalista.
Valendo-se de fitas cassete e passeatas, os revolucionários ira-
nianos conseguiram derrubar o Xá e o poderoso regime Pahlevi,
a despeito de seu vasto arsenal militar, programa de seculari-
zação e sustentação ocidental. A retórica antiimperialista da
revolução foi uma fonte de poder ainda maior..
Depois que seus seguidores sitiaram a embaixada america-
na e fizeram seus funcionários reféns, em 1980-81, Khomeini
rotulou os Estados Unidos de Grande Satã por seu apoio aos
poderes "faraônicos" — uma referência ao xá e governantes
conservadores dos demais países da região — e por reprimi-
rem os "deserdados" da TerraH
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4.
C )sama Bin Laden, o ardente e carismático voluntário, foi mais
convincente e eficaz que qualquer envelhecido e relutante prín-
O PODER PELA VIOLÊNCIA f> ?
5.
Q u e a Al-Qaeda é eficaz em comunicar-se com um público
amplo que vai muito além de seu círculo extremista, não resta
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