Você está na página 1de 28

FICH A C A T A L O G R Á F IC A

(P reparad a pelo Centro de Catalogação-na-fonte,


Câmara Brasileira do Livro, SP)

Métodos de pesquisa nas relações sociais |por|


M 552 Sellüz |e outros] ed. revista e nova tradução de
D ante Moreira Leite. São Paulo, E .P.U ., l£ü.
da Universidade de São Paulo, 5.a R eim pres­
são, 1975
p. X IX , 687 (C iên cias do Com portam ento).
Bibliografia.
1. Pesquisa social I. Selltiz, Claire. II. Série.
73-0679 C D D -3 0 0 .72

índices para o catálog o sistemático:


1. Pesquisa social : C iências sociais 3 0 0 .7 2
2. Pesquisa social : Planejam ento : Ciências
sociais 3 0 0 .7 2
3. Planejamento : Pesquisa social : Ciências
sociais 3 0 0 .7 2
SELLTÍZ / JAHODA / DEUTSCH / COOK

MÉTODOS DE PESQUISA
NAS RELAÇÕES SOCIAIS
E d i ç ã o Revista e n o v a tradução cie
D ANTE M O R E IR A L E IT E

5^ Reim pressão

E .P .U . — Editora Pedágógica e Universitária L td a.


E P U S P — Editora da Universidade de São Paulo
São Paulo 1 9 7 5
F reqticn tn iw n tf, </ fm nmliiçdo da um p r o b l e m a é
v x ain cx\'0it('lnl </(/»' ></./ l ô l u ç â o .

A. I . i s . u i s e L. Inkej-d

Escolha clc um Tópico jxira Pesquisa

a m p litu d e DK ióiMt ns i*oii .eiv r; |).ira pesquisa so­

A cial é tão ampla qm m to o eornportamento social.


N atu ralm en te, é muilo innim .1 amplitude de tópicos
que foram, de fato, escolhidos N o entanto, mesmo em um a
área de pesquisa — por exempli», nas lelaçrtes entre grupos de
diferentes origens étnicas ou lelígiosas as pesquisas ab ran ­
gem um g ran d e cam po, onde se m< luem estudos a resp eito da
maneira p ela qual os grupos ajjem , pensam e sentem com
relação, aos ou tros; como cliferem em suas tradições, cren ças,
personalidades e cultura; com o Irafam suas crian ças; com o
chegam a ser o que são; como lespondem às tentativas para
mudar sua re la çã o com outro gru p o, e assim por diante. Tais
pesquisas fo ram realizadas em m uitas partes do m un do; atin ­
giram pessoas de muitos grupos étnicos e religiosos, em
muitos aspectos de sua vida.
Como já notam os no C ap ítu lo 1. o tópico geral de um
estudo pode ser sugerido por algum interesse p rático ou por
algum interesse intelectual ou cien tífico J Uma gran d e diver­
sidade de interesses práticos p od e apresentar tóp icos para
pesquisa A P o r exem plo, é possível desejar inform ação, com o
base para sab er se existe n ecessid ade de algum novo serviço
ou alguma nova instalação. Assim , o diretor de um d ep ar­
tamento e stad u al ou municipal d e saúde e b em -estar pode
desejar um lev antam ento de tod as as pessoas com m ais de 65
anos de id ad e, a fim de verificar se há necessidade d e outros
serviços püira esse grupo o, sO isso ocorrer, qual o tip o de
serviço — auxílio financeiro mais am plo, serviços d e estudos
de caso, cen tros sociais e de d ivertim ento, residências espe­
ciais, hospitais, etc. ------------ ______ ___ ______
34 M JÉTO D O S DE PE SQ U L SA NAS RELAÇÕES S O C IA I S

F o d e-se desejar urna avaliação dos efeitos de um pro­


gram a de uma instituição de recuperação na saúde mental de
seus participantes, os efeitos de cam panha de folhetos em
eleições, os efeitos, nas atitudes com relação aos negros, do
uma fita sobre Jackie Robinson.
O u tro tipo de questão p rática que pode conduzir à pes­
quisa é aquele em que a inform ação sobre as prováveis con­
seqüências de vários cam inhos de ação seria útil p ara decidir
entre alternativas já propostas. Assim, no fim da Segunda
G rande Guerra, o exército dos Estados Unidos realizou um
amplo levantam ento, entre seus soldados,-a fim de verificar
qual seria o sistema de dispensa considerado, de m odo geral,
com o justo.
|Um interesse prático ligeiram ente diverso exige a predi­
ção cTcT certa séq ü èn cia_íutu ra de acontecim entos, a fim de
planejar ação adequada.j P o r exemplo, em 194-5 o Tesouro
dos E stad o s Unidos sõltCitou um estudo que perm itisse a pre­
dição do andamento de resgates de apólices de guerra no
ano seguinte, como orien tação para program a e ação quanto
aos problem as de controle da inflação. Uin construtor que
considera a construção de um conjunto residencial em que
as casas serão vendidas sem consideração da ra ça do com pra­
dor, p ode desejar uma estim ativa do m ercado provável e da
extensão em que este será influenciado pelo ca rá te r ínterracial
do cpnjunto.
[_Os interesses científicos ou intelectuais podem sugerir
um a am plitude igualm ente grande de tópico p ara pesquisa.
T alvez a principal diferença en tre tópicos sugeridos por inte­
resses práticos e os indicados por interesses científicos seja
o fato de estes últimos terem menos probabilidade de incluir
o estudo de uma situação específica como objetivo fimda-
m ental de obter conhecim ento a respeito de tal situação.] Os
interesses intelectuais e científicos tendem a conduzir a ques­
tões gerais e voltar-se p a ra situações específicas como
exemplos de classes gerais de fenômenos, e não com o objeto
de interesse intrínseco.
O pesquisador que tern curiosidade científica pode estar
interessado na exploração d e algum -objeto geral a respeito do
qual p ou co se sabeT) P or exem plo, quando P ia g e t começou
seus estudos sobre o p ensam ento das crianças, essa era uma
área relativam ente inexplorada.
D e outro lado, pode interessar-se por fenôm enos que, até
certo ponto, já foram estu d ad os; neste caso, ten d e a interes­
ESCO LH A E FO RM U LA ÇÃ O DE UM PROBLEM A DE P E S Q U IS A 35

sar-se, p or exemplo, p or especificação m ais exata das condi­


ções em que determ inados fenômenos o correm , ou como
podem ser influenciados p or outros fatores. Por exemplo,
digam os que esteja interessado em saber a té que ponto os
julgam entos de indivíduos são influenciados pelas opiniões
apresentadas por seus companheiros. E s ta é um a questão
a respeito da qual já se fizeram muitos trab alh os; já se veri­
ficou, de maneira bem cla ra , que os julgam entos dos indiví­
duos são, freqüentem ente, influenciados pelos julgamentos
apresentados pelos outros. O pesquisador pode desejar veri-
ficÊLr diferenciações nessa verificação geral. Por exemplo,
pode desejar perguntar: será que os julgam entos sobre ques­
tões p a ra as quais não existe um a resposta “co rreta” e única,
b asead a em fatos, tendem a ser mais ou m enos influenciados
pelas opiniões apresentadas pelos outros do que os julgamen­
tos sob re questões p ara as quais existe um a resposta objetiva­
m ente correta? Com o exem plo do prim eiro tipo de questão,
poderia pedir que os sujeitos dissessem se, com o dramaturgo,
consideram Tennesse W illiam s melhor ou pior que Arthur
M iller; com o exemplo do segundo, poderia p ed ir que julgas­
sem o comprimento d e linhas. Seu problem a de pesquisa
seria respondido pela co m p a ra çã o da influência exercida, nas
duas situações, pelos julgam entos dos outros sobre os julga­
m entos dos sujeitos.
Se trabalha num cam p o em que existe um sistema teórico
m uito desenvolvido, o pesquisador pode d esejar verificar pre­
dições específicas, b asead as nessa teoria. Assim, ílu n t
( 1 9 4 1 ) , interessado na v erificação experim ental d a teoria psi-
can alítica, decidiu verificar a predição de q u e a privação na
infância provoca com p ortam en to de “pãodurism o” no adulto.
Criou três grupos de ra to s: um era norm alm ente alimentado
d u ran te o período de desenvolvim ento; o segundo era alimen­
tado norm alm ente na in fância, mal alim en tado durante o
p eríod o da pré-puberdade, e depois norm alm ente alimentado;
o te rce iro era mal alim entado n a infância, m as adequadam ente
alim en tad o nos períodos posteriores. N a vid a adulta, todos
os grupos foram subm etidos à privação de alim ènto; o que
tinha sido privado de alim en to na infância reagiu acumulando
aliniento.
l_Cpm essa variedade d e ;fontes que podem sugerir tópicos
para pesquisa, comr ■é-qnp um investigador seleciona u m .pro-
E n tr e os fatores im portantes que deter­
3o M ÉTOD O S DE P E S Q U IS A NAS RELA ÇÕ ES S O C IA IS

minam sua escolha^estão suas inclinações pessoais e seus


julgamentos d e valor.j Nas p alavras de W hitehead:
Os juízos de valor n ão fazem parte da estru tu ra da
ciên cia tísica, mas fazem p a rte do motivo de sua criação.
( . . . ) E xiste escolha con scien te das partes dos campos
científicos que devem ser cultivados, e esta escolha
con scien te envolve juízos de valor. (C itado em Cantril,
Ames, H astorf e Ittelson, 1 9 4 9 ).

N q en tan to, nem sem pre se reconhece o papel q u e os


valora.<^inevitãy^ m e n te 7rdésèm p en h am na escolha de assunto
para p esquisa. A respeito, C oo k (1 9 4 9 ) relata o seguinte
incidente:
C e rta vez descrevi, p a ra outro psicólogo, u m estudo
em qu e nossa equipe te n ta v a avaliar o eteito de deter­
m in ad a experiência para a m udança de atitudes de não-
-judeus com relação a judeus. No entanto, esse psicó­
logo n ão pensava que tais atitudes devessem ser m uda­
das. M eu interesse pela m ensuração do êxito d e esfor­
ços p a ra p rovocar m udança, segundo se tom ou evidente,
significava, p ara ele, ap ro v a çã o de um objetivo de que
d iscord ava violentamente. Além disso, esse psicólogo
lem b rou a possibilidade d e que meu apoio fosse inter­
pretado p o r outros como apoio dos psicólogos em geral
(o itálico n ão é do o rig in a l).

Se neste caso se reconhecesse o fato de que os valores se


incluem na escolh a de qualquer tóp ico de pesquisa, n ão teria
surgido o m ed o de que os valores que conduzem à escolha
de um estudo pudessem ser considerados comô valores comuns
aos psicólogos em geral. Se se reconhece que to d o pesqui­
sador, em sua escolha de um tó p ico para pesquisa .(a respeito
de precon ceito racial ou religioso ou do desenvolvimento dos
conceitos espaciais das c ria n ç a s ), exprime seu julgam ento ou
sentimento qu an to ao que é im portante estudar, a grande
variedade de pesquisas realizadas torna claro que nenhum
estudo rep resen ta um acordo com u m dos cientistas sociais
quanto às acen tu ações adequadas de pesquisa.
Cientistas sociais com diferentes valores escolhem , para
pesquisa, tóp icos diferentes. O cientista social que sab e quais
as suas p referên cias pessoais q u e entraram na cscolh a de seu
ESC O LH A E FO R M U LA Ç Ã O Hl HM P U O H I.K M A Í)E P E S Q U IS A 37

assunto, será mais capaz d«- ev itar o viés que p od eriam intro-
'Sifzir^em sua pesquisa do qu e aquele que trab alh a com a
ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas.
Como o s v alo res pessoais inevitavelm ente influem n a escolha
de um assunto, o único meio cie manter a racionalidade do
processo científico é tei con sciên cia de como e on d e inter­
ferem tais valores.
No en tan to, seria errado supor que os valores pessoais são
ou podem ser o único d eterm inante da escolha de um tópico
de pesquisa. Não apenas as condições sociais sob as quais
se realiza a ciência conforinani, de màneira sutil e freq ü en te­
mente im perceptível, as preferências (los pesquisadores, mas
também existem vários incentivos intensos e explícitos para
que se realize pesquisa sobre um assunto e não sob re outro.
Diferentes sociedades dão recom pensas a trabalho sobre dife­
rentes tópicos. A pesquisa so b ie eAncer pode d ar m ais pres­
tígio que a tentativa de e n co n h a r uma cura o a ra o resfriado
comum; é possível que haja mais recursos para experim entos
não-polêm icos com animais q u e p ara a pesquisa d e tópicos
que podem te r repercussões políticas;, pode h av er posições
com m elhor rem uneração para o pesquisador de m ercad o que
para o psicólogo educacional. Existem poucos cientistas
sociais qu e possam dar*se ao luxo de desprezar prestígio,
recursos p ara pesquisa e rendim ento pessoal. E ssa situação
tende a p ro v o ca r uma redução da efetiva liberdade d e esco­
lher tópicos d e pesquisa, a não ser que diferentes instituições,
com diferentes interesses, opiniões e valores, apóiem as pes­
quisas, de form a que o pesquisador possa escolher en tre elas.
Nos E stad o s Unidos, atualm ente, em bora seja b em grande o
número d e diferentes fontes de recursos para pesquisa, uma
grande p ro p o rção do dinheiro disponível p ara pesquisa se
concentra em poucas agências governamentais e algum as
grandes fundações. Por isso, em grande parte tais organ iza­
ções determ in am os problemas a respeito dos quais se deve
fazer pesquisa. Isso é verdade ta n to para as ciências físicas
quanto p a ra as ciências sociais

Formulação do Problema de Pesquisa


A escolha de um tópicò p a ra pesquisa não co lo ca o inves­
tigador im ed iatam en te numa p o sição de com eçar a considerar
os dados qu e coligirá, quais os m étodos a em pregar e com o
38 M ÉTOD O S DE P E S Q U IS A NAS RELAÇÕ ES S O C IA IS

analisará tais dados. Antes de in iciar tais etapas, / p recisa


formular uin problem a específico qu e possa ser pesquisado
por processos científicos] Infelizm ente, não poucas vezes
ocorre que um pesquisaaor ten ta saltar, im ediatam ente, da
escolha de um tópico para a co le ta de observações. No
melhor dos casos, isso significa que, depois da coleta de dados,
enfrentará a ta re fa de formular tim problema; no p ior dos
casos, significa que não realizará q u alq u er pesquisa científica.
(P o r q u e ) é uma opinião extrem am ente superficial
dizer q u e a verdade é en co n tra d a através do estudo
dos fatos. É superficial p o rq u e nenhuma pesquisa
pode c o m e ça r a não ser que se p erceba certa dificuldade
numa situ ação prática ou te ó rica . É a dificuldade, ou
problem a, que orienta nossa b u sca de alguma ordem
entre os fatos , em função d a q ual a dificuldade possa
ser a fastad a (C oh ec e N agel, 1 9 3 4 ).

A pesquisa científica é u m a atividade voltada p a ra a-


soluçao de problem as. O prim eiro passo na form u lação da
p esquisa é to m a r o probiem a co n cre to e explícitõj
Em bora a escolha de um tó p ico de pesquisa possa ser
determinada por outras considerações, além das cien tíficas,
a formulação d o tópico em um p roblem a d e _pesquisa é a
primeira e ta p a na busca cien tífica a, como tal, d eve ser
influenciada, fundam entalm ente, pelas exigências do p roces-
sõ cíentíficõr (N o entanto,[pão existe um a regra infalível p ara
orientar o pesquisador na form u lação -d e questões significati­
vas em d eterm in ad a área de pesquis^. 1 Aqui, têm im p ortân ­
cia fundam ental o treinamento e os dotes do indivíduo
Segundo C oh en e Nagel ( 1 9 3 4 ) :
A cap acid ad e para p e rce b e r, em alguma exp eriên ­
cia b ru ta, a ocorrência de um problem a, e, sob retu d o, de
um p rob lem a cuja solução se relaciona com a solução
de outros problemas, n ão é talento comum e n tre os ,
homens. ( . . . ) É um sinal do gênio cien tífico ser
sensível a dificuldades onde pessoas menos d otad as não
se p ertu rb am com dúvidas.

en tan to, é possível en u m erar algumas condições que,


o m o stra a experiência, conduzem à form u lação de
significativos. E n tre tais condiçõçs, estão as se-
IS C O L H A E FO RM U LA Ç Ã O DE UM PRO BLEM A DE P E S Q U I S A 39

guintei: im ersãò sistemática, através de observação sistem á-


/tica, no objeto; estudo jda literatura e x is te n te : discussão com
'7 pessoas q ae acu m u laram muita e x p e riência prática no c a m p o
de estudo.)1 P o r mais importantes q u e «essas condições sejam
para a fo im u lação de um projeto de pesquisa, co n tém um
perigo. N a ciê n cia social, com o em qualquer dom ínio, os
hábitos de pensam ento podem in terferir na d escob erta do
n ov o e inesperado, a não ser que a observação direta e p reli­
minar, a leitura e a discussão sejam conduzidas com u m a dis^
posj^ãQ_£ilücaJ_ de curiosidade e j e imaginação^
l/p O prim eiro passo na form ulação é a descoberta de um
.proüíema que precisa ser ^solucionado. Sem esse passo, a
pesquisa não p od e caminhar, com o se vê pelo episódio seguin­
te. Todos os verões, um a^m stituição educacional n o rte -a m e ­
ricana reúne, por seis semanas, aproxim adam ente duzentos
moços e m oças de todas as categorias sociais. São re p resen ­
tadas todas as regiões do país, tod as as crenças e tod as as
raças. Alguns dos jovens ião operái-ios ou camponeses; outros
são em pregados de escritório ou estudantes, São selecio n a­
dos para esse cu rso de verão por ca u sa dos indícios d e lid e­
rança que m ostraram em seus sindicatos, suas organ izações
sociais ou cursos universitários. A instituição p atro cin ad o ra
pretende d ar a esses jovens in form ação a respeito do m u ad o
cm que vivem , u m a experiência da vid a em grupo, bem com o
capacidades qu e permitam a ca d a um enfrentar, de m an eira
ainda mais eficien te, as exigências d e um papel de lid eran ça
em sua esfera de vida. Os organ izad ores desse em p reen d i­
mento voluntário convidaram um a eq u ip e de cientistas sociais
a lim de discu tir a possibilidade de realização de pesquisa na
escola. A ra z ã o p ara o convite e ra a mesma que faz com
que muitas instituições procurem o auxílio de cien tistas
sociais — a in stitu ição desejava e s ta r' certa do valor do p ro ­
grama e estava convencida de que a ciência poderia v e rific a r,
isso de m aneira indiscutível. P o rta n to , o tópico da pesquisa
prevista era, evidentem ente, o valor do empreendim ento pidtir..
caííiüQâl. O objetivo da discussão en tre patrocinadores e
cientistas sociais e ra transformar esse tópico, etapa por e ta p a ,
num problem a d e pesquisa.

1 Ver o C apítulo 3 para, vima discussão minuciosa de p lan eja­


mentos de estudo q u e envolvem tais processos. O valor fu nd am ental
do tais pesquisas exploratórias é o fato de poderem conduzir à propo­
sição dc perguntas mais significativas que as possíveis de outro modo.
M ÉTODO S DE P E S Q U IS A MAS RELAÇÕ ES S O C IA IS

•’•
C om o é usual em tais discussões, os cientistas sociais
com eçaram com a seguinte pergunta: o que é q u e vocês gos- (
tariam de descobrir em seu empreendimento? E s ta foi s e g u i ^ ^
da pela pergu n ta contrária, tam bém usual: o q u e é que os
cientistas sociais nos podem dizer a respeito? O resto da
sessão m ostrou, aos dois grupos, as dificuldades d a formula­
ção da pesquisa.
Su p erad o o obstáculo inicial, os representantes da insti­
tuição explicaram , m inuciosam ente, os seus objetivos finais.
Já tinham considerável conhecim ento a respeito dos problemas
típicos e dos efeitos im ediatos de seu esforço pioneiro, mas
seus elevados objetivos e sua visão educacional os impedia de
aceitar, com o medida ad eq u ad a de èxito, o evidente prazer
que os jovens tinham com a experiência. P rocu ravam algo
que se m ostraria fora dos lim ites da situação educacional e
na vida posterior de cad a participante. A parentem ente, os
problemas imediatos da adm inistração da escola — convocação
de alunos, program a, organ ização, etc. — estavam bem con­
trolados.
E m b o ra a discussão de efeitos finais fosse m u ito interes­
sante, concordou-se que a pesquisa de tais efeitos não seria
possível a não ser em program a de pesquisa de vinte anos, o
que a instituição e os cientistas sociais não poderiam , no
momento, considerar. T od os concordaram tam bém que a
com petência e a experiência dos educadores era m elhor guia
para um program a voltado p a ra objetivos finais do que os
resultados de esforços de pesquisa em questões secundárias.
Em outras palavras: em bora houvesse um tópico, não foi pos­
sível form ular um projeto, realizável sobre os efeitos finais do
trabalho da escola; se houvesse interesse pelo estudo de efeitos
imediatos, o resultado seria indiscutivelmente diverso. No
entanto, ap esar do resultado em grande parte n egativo, a dis­
cussão apresentou um subproduto valioso, em bora inesperado
sob a form a de esclarecim ento dos objetivos e suposições-
subjacentes ao programa da instituição.
E m b o ra este exemplo dem onstre que nem todo tópico
pode ser facilm ente transform ado, em projeto realizável de •
pesquisa, felizm ente é atíp ico quanto à im possibilidade de
chegar a qualquer base a p artir da qual a pesquisa poderia
■ser iniciada. Mais freq ü en tem en te é possível identificar
algum asp ecto que pode ser formularjo numa q u estão espe­
c í f i c a de pesquisa a ser in vestigad a com os recursos disponí-
Svéis.
ESC O LH A E FO RM U LA ÇÃ O Hl UM 1'IIOIU i m ,\ |>j.; P E S Q U IS A 41

C om o exemplo do processo de formulação, dentro de


uma área geral, de um problema do pesquisa, consideremos
um estudo de Morris e Davidson (ainda não publicado) sobre
estudantes estrangeiros nos Kstados Unidos. Ao decidir que
desejavam estudar algum aspecto da experiência de estudo
em país estrangeiro, os pesquisadores tinham selecionado um
tópico geral. No entanto, grande número de questões especí­
ficas poderia ser pesquisado nessa área. Os estudos explora­
tórios já realizados tinham dado algumas indicações interes­
santes. Por exemplo, sugeriam a possibilidade de que os
estudantes, num país estrangeiro, passam por um a seqüência
uniforme de estádios <1<• ajustamento, que com eçam por uma
fase de “espectador” e term inam com uma fase de preparação
para a volta ao país de origem. Outra idéia derivada do
período de preparação era a possibilidade dr..quer-em-grand©'
parte, a atitude do estinhm tr diaiiU* do país estrangeiro- seja-"
colorida pela posição que ocupa em seu país, combinada
com a atitude geraF diante do país esTíangeiro manticla por
vários grupos em seu país. Outra sugestão retirada ~3esses
estudos in iciais'era a idéia chi que a atitude do estudante
com relação ao país estrangeiro possa ser muito influenciada
por sua avaliação da estima, a seus país de origem , por parte
dos m em bros do país que visita.
Evidentem ente, não seria possível considerar, nos limites
de um único estudo, todas essas possibilidades. Portanto, um
dos prim eiros passos seria selecionar mn tópico que apresen­
tasse u m a tarefa realizável. E ste é, muitas vezes, um passo
necessário nas primeiras etapas da formulação de problema.
O tóp ico escolhido para pesquisa — seja^ _ayajja ç ã o do pro-
gram a d e um a instituição, um levantamento p a ra d ia g n ó stico
de atitudes e opiniões com relação a questões internacionais, o
desenvolvim ento de coop eração em pequenos grupos — tem,
geralm ente, um a amplitude tal que nem todos os aspectos do
problem a podem ser pesquisados simultaneamente. A tarefa
precisa ser reduzida a um asp ecto que possa ser tratad o em
um único estudo, ou dividido em algumas subquestões que
possam ser tratadas em estudos separados.

2 Para uma pequena discussão de um dos estudos que conduziram


a essa últim a sugestão, ver o £ a p ítu lo 11, pág. 450s.
M ÉTO DO S d e p e s q u is a n as RÊLAÇO ES S O C IA IS
*»'•- :•fi: •■ ■

M orris e Davidsen resolveram focalizar a seguinte ques­


tão: saber com o as atitudes dos estudantes com relação, ao
país estrangeiro sãó influenciadas por sua percepção d a esti­
ma, por p a rte dos membros desse país, a seu pais de origem.
Depois de ter limitado o problem a a uma questão que poderia
ser tratadar~Tazoaiveímente em um único estudo, passaram a
várias etapas interrelacionadas: formulação de hipóteses; es­
clarecim ento e definição form al dos conceitos usados no
estudo; especificação dos tipos de provas que poderiam servir
corno indicadoras dos vários conceitos (isto é, estabelecim ento
do “definições para o trabalho” ); consideração dos métodos
ara ligar esse estudo a outros, que usaram conceitos seme-
Ê íantes, d e form a que fizesse a maior contribuição possível ao
conhecim ento geral nesse cam po.
Tais etapas estão tão intimamente ligadas q u e não é
possível trab alh ar separadam ente com elas. Q uando um
pesquisador formula suas hipóteses, precisa definir os con­
ceitos aí incluídos, e nesta definição tende a considerar a
relação de seus estudos com outros e com um conjunto geral
de conhecim ento. Apesar disso, para clareza da apresentação,
as várias etapas precisam ser ^discutidas separadam ente, e
dentro d e ce rta ordem. C om eçarem os com a form ulação de
hipóteses — não porque este seja o aspecto que sem pre recebe
atenção em primeiro, lugar, m as porque, quando é possível
com eçar por esse aspecto, ele apresenta muita orien tação para
as outras etapas.

Formulação de Hiptfteses <{. .

U m a hipótese é “uma proposição, cóiidição o u princípio


que se supõe, talvez sem acréd itar nêle;^a^m ~ d e cnegar às
suas conseqüências lógicas e , p o r esse méfodò, verificar„Q^eu.
acordo co m . fato s. conhecidos oyi que podèrri s e r i e i ificádõs”
(W ebster's N ew Intemationalf DTctimafy of the—English
Language, segunda edição, não-resumida. 1 9 5 6 ). papel
das hipóteses na pesquisa cien tífica é_sugerir explicações para
determ inados fatos e orienta r \/a pesquisa ~ae c ‘
ínãpÕHrtãncíãT dás hipóteses p a ra aí pesquisa foi acen
CóJhen e N agel (1 9 3 4 ), q u e afirmam:
/ N ão podemos d ar um único passo ad ian te
q u er pesquisa, se não com eçarmos com um a

I
i£ & M .
>■
ESCO LH A E FO RM U LAÇÃ O DE UM PRO BLEM A DE P E S Q U IS A 43

ou solu ção sugeridas p a ra a dificuldade q u e p rovocou a


p e s q u is a ./ Tais explicações provisórias nos são sugeri­
das por algo no objeto e p or nosso conhecim ento ante­
rior. Q uando formuladas com o proposições,, são deno­
m inadas hipóteses.
— ^A _fungão de uma hip ótese é orientar nossa b u sca de
ordem en tre os fatos, [^ s sugestões fornTúTãdãs'~nãr
hipótese podem ser as soluções para, o p ro b lèm aJ Saber
se o são é a tarefa da pesquisa, é necessário que
q u alq u er das sugestões co n d u za ao nosso objetivoi E ,
freqüentem ente, algum as das sugestões são incom patí­
veis en tre si, de form a q u e nem todas podem ser solu­
ções p a ra o mesmo problem a*}1“—

P arece-n os que essa é Uma apresentação "precisa da


natureza e do valor de hipóteses na pesquisa cien tífica, mas
acreditam os que seja excessivam ente ampla em su a afirm a­
ção de que a pesquisa não p o d e com eçar antes d a form ulação
de uma hipótese. Como m rem os m ãís tardé^ u m tip o muito
im portante de pesquisa tem , com o objetivo, a fo rm u lação de
hipóteses significativas a resp eito de determ inado assunto.
U m a hipótese pode afirm ar que algo oco rre em deter­
minado caso; que um objeto, u m a pessoa, um a situ ação ou
um acon tecim en to específicos tê m certa ca ra cte rística. Por
exemplo, o livro de Freud, M oisés e o Monoteísmo, com eça
com a h ip ótese de que M oisés era, na realidade, egípcio, e
não judeu. D e outro lado, u m a hipótese p od e refe rir-se à
freqüêiuikL--já&-^GCmtexAmGnto^ ou è ligação e n tre variáveis.
Pode afirm ar que algo o corre e m determ inada p ro p o rçã o do
tempo, o u-.q u e. algo ten d e..a. ser-acp n ip anhado p o r algum a
outra coisa,u,ou que,.algo. é geralm ente,jüaior;„au_ m e n o r-q u e
'algum a o u tra coisa^_Jvíuitas pesquisas de ciên cia social se
refèrém “à ' 'íãís^Üpoteses. P o r exem plo, os psicólogos pesqui­
saram a Correlação entre diferen tes tipos de ca p a cid a d e ; os
sociólogos estudaram a ecologia de crime, e de d o e n ça men­
tal; os antropólogos pesquisaram a relação entre cren ças reli­
giosas, costum es m atrim oniais è outras p ráticas d e um a
sociedade. t *
O utras lilpóteses afirm am qu e um aco n tecim en to ou
característica específica é u m dos fatores q u e determ inam
outra caracte rística ou ou tro acontecim ento. P o r exem plo, a
teoria psicanalítiCa inclui a h ipótése de que as experiências
44 M ÉTODOS DE P E S Q U IS A NAS H ELA ÇÕ ES S O C IA IS

na primeira infância são im portantes determinantes <1 i perso­


nalidade a d u lta. As hipóteses d este tipo são denom inadas
hipóteses d e relação causal ou apenas hipóteses causais. Se­
rão discutidas mais m inuciosam ente no Capítulo 1.
As h ip óteses pQdem-ser cria d a s a partir dc várias fontes.
XJma.., hipótese p ode...hasfiar-se apenas, num .“p alp ite.” Pode
basear-se em resultados-d e outroL.au o utros estuejos, «• na ex­
pectativa He q u e uma relação sem elhante entre duas ou mais
vanaveis o co rra n o novo estua o . Pod^decO rreT cTe um coií-~
"ju n to j^ J:e o ria que, por um p ro cesso de dedução lógica, con­
duza à p reáição . cíê que. so p lB êterm inadas condições, decor­
rerão determ inados resultados. Quaisquer que sejam as
fontes de um a" h ij^ téseT esta re a liz a uma im portante £tinção
no estudo: serye, c omo um guia p a ra ( D o tipo de dados que
precisam ser coligidos, a fim d e responder à questão da pes­
quisa^ e. ( 2 ) a maneira de organizá-los de m aneira mais efi­
ciente na análise. ......
L* No en tan to, as fontes da. hipótese do estudo têm uma
relação im p ortan te com a n a tu re z a da contribuição que a
pesquisa fa rá ao conjunto geral d o conhecimento. U m a hipó­
tese que su rge apenas da intuição ou do “palpite” pode, final­
mente, fazer u m a contribuição im portante para a ciên cia. No
entanto, q u an d o foi^verificada em apenas, um estudo, existem
duas lim itações à sua utilidade. E m primeiro lu gar, não
existe g aran tia vde que um a re la çã o entre duas variáveis»
encontrada em determinado estudo, seja en con trad a em
outros. V o ltan d o áao estudo d e M orris e Davidsen — supo­
nha-se q u e os investigadores ten h am apenas tido o “palpite”
de que os estudantes estrangeiros que acreditam que os
norte-am ericanos têm idéias m u ito favoráveis aos seus países
de origem ten d em a ter atitudes m ais favoráveis aos Estados
Unidos do q u e os estudantes q u e acreditam que os norte-
-americanos desprezam seus p aíses de origem. M esm o que
se prove q u e isso ocorre em seu estudo, não h av eria forma
de julgar se as diferenças nas atitudes, entre os dois grupos
de estudantes, realm ente d e co rre m d e diferenças em sua per­
cepção d e atitu d es dos norte-am ericanos com relação aos seus
países de origem ou, ao co n trá rio , se algum ou tro fator na
situação exp lica a diferença. E m segundo lugar, u m a hipó­
tese b asead a apenas em “p a lp ite” tende a não esta r rela-

3 No C ap ítulo 11 discute-se a im portância das hipóteses no pla­


nejamento da análise-d e iim estudo. '
v. * Ov;'vv:'
ESC O LH A E FOHM lM ,a < \«> ............................ DE » 'K S Q U 1 S A 45

cionada com outro coiiIm i im< ni<> ou outra teoria. P or isso,


os resultados de um r-.iudo In .. ido muna hipótese desse tipo
não têm ligação clai.i <om .. lon ju n ío mais am plo d e conhe­
cimento de ciência snniil I\mI«-ih propor questões interes­
santes, podem estiiniil.ii m iii.r. pesquisas, podem ser poste­
riormente integrado*. <m irou .i explicativa. M as, a não ser
que ocorram tais dr<rm olvim entos, tendem a perm anecer
como partes isoladas de m lo im açao.
üm u icn l«; de i r . u11ud^ .de^utrQ_s^tudQ§.
_está^^atgjcertí> ixintu. Inn d.i niim eira dessflfi lim itações. Se
a Bípótesçj. so n a.eu cm i< .uíi.idos do outros estudos, e se.{
o estudo atual coiiliiin.i .1 hipótese, q rus.ultado -auxilia-—a,
demonstrar que a iel.i<t.m .« i<pete 1 ogularine^tc. P a ra con­
tinuar cdni nosso exemplo - dois ou mnis estudos verificam
uma re lação entre ;i pen ep< .n» *l.i opinião dos norte-am eri­
canos, a respeito do país <l< oiigem <1«; uma pessoa, e as
atitudes dessa pessoa com h Li^.io mis Estados U nidos, temos
maior confiança na afirm açao do que a p ercep ção do estu­
dante estrangeiro da estima d<> . noite americanos p o r seu país
de origem tem influenein em >11.ts atitudes com re lação aos
Estados Unidos. Reduz-so em bora evidentem ente não se
elimine — a possibilidade do q u e u aparente relação se deva
a alguma condição específica n u determinada situ ação.,
{ U m a h ipót&se_dgcprrciHo nao apenas de resultados de
um_ estudo a nterior, mas tam bém d<; teoria ap resen tad a em
termos m ais gerais* está livro da .segunda lim ita çã o j— a de .
‘'est^3© l^ã^a.Id(0..a«n çoujunto mais amplo de_conKeçijnentq.„..
Suponha-se, por exemplo, que Morris e D àvidsen tenham
baseado sua predição em um a teoria dc estratificação social,
segundo a qual os indivíduos quo ascendem em seu status 1
tendem a ser favoráveis a indivíduos e objetos vistos conto
auxílios p a ra seu movimento ascendente, enquanto que os
que perdem status tendem a ser desfavoráveis a indivíduos e
objetos vistos como colaboradores de seu m ovim ento des­
cendente. A fim de estabelecer um a relação entre seu estudo
e a teoria geral, precisam ser cap azes de demonstrar, d e forma
convincente, que suas m edidas podem ser consideradas como
indicadores de mudança de statu s e que se pode inferir, do
maneira razoável, que os estu d an tes vêem os norte-am erica­
nos com o, colaboradores dessa m u d an ça. 4 Se a lig ação entre
os dados d o estudo e a teoria g e ra l for satisfatoriam ente esta-

v 4 Nas págs. 48s discyte-se mais minuciosamente a maneira pela


qual os pesquisadores desenvolveram esse argumento.
46 M ÉTODOS ÜE P E S Q U IS A N A S ' lU iL A Ç Õ ü S S O C IA IS

belecida dessa m aneira, e se as resultados do estudo con fir­


m arem a predição, os pesquisadores terão feito uma dupla
contribuição. D e um lado, os resultados do estudo ajudam
a confirmar a teoria geral, ao dem onstrar que é válida nessa
situação, bem co m o em outras em qu e já foi aplicada. 1)«*
outro lado, a a p licação da teoria g eral ao caso específico
ajuda-nos a com p reen d er como a p ercep ção , pelos estudantes
estrangeiros, das opiniões dos norte-am ericanos a respeito dc
seu país de origem , influi na atitude dos primeiros com re la ­
ção aos Estados U n id o s .5
No caso do estudo de Morris e D avidsen, os pesquisado­
res puderam utilizar tanto resultados d e pesquisas anteriores
quanto a teoria sociológica para a form ulação de suas hipó­
teses específicas, a principal das quais era uma versão mais
complexa da ap resen tad a nos parágrafos anteriores. O fato
do haver resultados significativos d e pesquisa e uma teoria
significativa sim plificou a tarefa da form ulação de hipóteses;
o fato de ter form ulado hipóteses simplificou a tarefa do
planejamento dos tipos de dados a serem coletados e da sua
análise. A principal hipótese foi .confirm ad a pelos resultados
do estudo. Á re la ç ã o ...com..pesquisas anteriores a u m e n to u a
confiança na o corrên cia cçnstanto d a relação entre avaliaçao
das opini.Qes dos norte-am ericànos a respeito do país de ori
gerrí de uma pessoa e as atitudes dessa pessoa com relação
aos Estados U nidos. O fato de o estu d o ter sido planejado
em função de um a teoria sociológica sob re os efeitos dc m obi­
lidade ascendente e descendente d e status significa q u e os
resultados contribuíram para a confirm ação da teoria geral.
Ao mesmo tem po, a teoria apresentava um a explicação dos
resultados do estudo, com o um caso d e processos psicológicos
m ais gerais, apresentados na teoria.
O fato de a n atu reza das relações previstas poder ou não
ser apresentada explicitam ente — isto é, se podem ou não
ser apresentadas com o hipóteses no estágio de formulação de
um a pesquisa — depende, em grande p arte, da situação do
conhecimento n a á re a a ser pesquisada. Jl A pesquisa científica
pode com eçar co m hipóteses bem form uladas, ou pode fo r­
m ular hipóteses com o o produto final d a pesqu isaj
Nem é preciso dizer que a form ulação e verificação de
hipóteses constituem um objetivo d a pesquisa científica.

' 5 Para discussão mais minuciosa da relação entre pesquisa em pí­


rica e teoria, ver o Capítulo 14.
ESC O LH A E FO RM U LA ÇÃ O DE UM PRO BLEM A DE FESQ U LSA 47

Apesar disso, n ão existe, atalho p ara esse objetivo. E m m uitas


áreas de relações sociais, r.ão existem hipóteses significativas.
Por isso, é n ecessário fazer m uitas pesquijáas exploratórias,
antes de ser possível formular hipóteses. Esse trabalho^expío-
ratório é u m a e ta p a inevitável no progresso científico.
Por exem plo, ainda não se sab e m uita coisa a respeito
da influência de comunidades p lan ejad as no com portam ento,
nos sentim entos e na visão geral das pessoas que aí vivem .
Quando M erton e seus colegas ( em trabalho ainda não publi­
cad o) p ro cu raram pesquisar esse tóp ico, 110 caso de co n ­
juntos residenciais públicos nos E stad o s Unidos, não havia
ainda hipóteses bem estabelecidas com as quais pudessem
iniciar o estudo. Nessa época, h avia poucos estudos d escri­
tivos que perm itissem a form ulação de hipóteses aplicáveis
a esse novo fenôm eno na paisagem física e social dos E stad os
Unidos. Os estudos de M erton foram concebidos em base
ampla; form ulou-se um a série co m p le ta de problemas in ter­
relacionados d e pesquisa é> foi fe ita a previsão de diferentes
formas pelas quais se m anifestaria o im pacto de residências
públicas.
Um desses problem as referia-se à amplitude de p a rtici­
pação política. Os locatários de. residências públicas têm ,
geralmente, u m a oportunidade p a ra participar da resp on sa­
bilidade da adm inistração dos conjuntos e p ara eleger
representantes locais, mais ou m enos com o ocorre no governo
municipal. N a e ta p a de form ulação do problema, p o u co se
sabia a respeito desse aspecto do com portam ento e d e suas
conseqüências. P areciam igualm ente possíveis dois efeitos
opostos da p a rticip a çã o na ad m in istração dos conjuntos resi­
denciais. D e u m lado, o interesse pelo autogoverno poderia
lsvar os locatário s a ficarem tão absorvidos pelos pequenos
problemas do conjunto residencial q u e não se interessassem
por questões políticas niais am plas. D e outro lado, a p a rti­
cipação no g ov ern o de uma p eq u en a comunidade, on d e a
atuação de fo rças políticas poderia ser facilmente observaxla,
poderia servir co m o treinamento e, d essa forma, p ro v o car um
maior interesse e m aior com preensão das forças políticas no
plano nacional.
No en tan to, com o não se sab ia sequer se os locatários
utilizariam a oportunidade de p a rticip a r no autogoverno, ;ou
até que ponto o fariam , seria p rem atu ro que os pesquisadores
baseassem o p lan o de seu trab alh o em qualquer hipótese
48 W ETODO S DE P E S Q L 'IS \ NAS RELAÇÕ ES SOCIA LS

referente aos efeitos da participação. D urante a pesquisa,


tom ou -se evidente q u e a participação era a regra. Além
disso, ejn dois conjuntos residenciais m uito diferentes, v eri­
ficou-se que o interesse pela política local não substituía,
m as, ao contrário, iniciava e fortalecia o interesse pelos p ro ­
blem as nacionais. D ian te dessa prova, agora é possível
co m eçar uma pesquisa em conjunto residencial público — ou,
sob esse aspecto, ern qualquer outra situação — a fim d e
verificar essa h ipótese em diferentes circunstâncias.
D e outro lado, no cam po do p reconceito, onde já se reali­
zaram muitas pesq u isas, é possível realizar investigações
com hipóteses form uladas antecipadam ente. Isso foi dem ons­
trad o no estudo de residências públicas (D eutsch e Collins,
1 9 5 1 ) , discutido no C apítulo 1. C om o se recorda, nesse
estudo o problem a era o impacto de p ad rão de residência
nas relações en tre locatários brancos e negros. A partir
d e pesquisas anteriores, os investigadores foram capazes de
form ular, an tecipadam ente, algumas hipóteses interrelaciona­
das a respeito dos efeitos dos padrões de residência nas atitu ­
des dos locatários.
Tais exemplos dem onctram que não tem sentido consi­
d erar, como mais “científico,” um estudo que começa com
hipóteses do que aq u ele que term ina com hipóteses. O
tem p o para a form u lação de hipóteses varia com a natureza
do problem a e a am plitude de conhecim ento anterior a re s­
p eito. A form ulação e reformulação d e problemas de p es­
quisa é um processo contínuo. Segundo M ax Weber, soció­
logo alemão, “toda realização científica p rop õe novas questões;
deseja ser superada e ultrapassada.”-

Dcf.r*-ç?o de Conceitos

Qualquer pesquisador, a fim de o rgan izar seus dados de


form a a perceber relações entre eles, p recisa empregar co n ­
ceitos. Um conceito é um a abstração a p artir d è aconteci­
m entos percebidos, ou, sogundo M cC lelland (1 9 5 1 ), “um a
representação resum ida de uma diversidade de fatos. Seu
objetivo é simplificar o pensamento, ao co lo car alguns aco n ­
tecim entos sob um m esm o título geral/\ Alguns conceitos
estão múito próximos dos objetos ou fatos que representam.
esc o lh a e fo r m u la ç ã o nr um rn o n i em a de p e s q u is a 40

Por exemplo, o sentido do conceito cão pode ser facilm ente


exemplificado através da indieuç&o d e cães específicos. O
conceito é uma a b s t r a i o dns cara cte rística s que todos os
cães têm em com u m emnctei ísticas que são facilm ente
observáveis ou facilm ento nuMisuráveis. No entanto, outros
conceitos não podem sei t.lo facilm ente ligados aos fenôm enos
que pretendem re p re se n ta i; por exem p lo, é isso que ocorre
com atitudes, aprendi 'nycm, jhijh’1 n motivação. São inferên­
cias, em nível mais elevado do ab stração , a partir de a c o n te ­
cimentos concretos, e seu sentido não pode ser facilm ente
transmitido através da inuicaçfto de objetos, indivíduos ou
acontecimentos específicos. Às v e /e s, essas abstrações de
nível mais elevado são d e n o m in a d a s <onstrtições, uma vez que
são construídas a p artir do conceitos d«- nível inferior de ab s­
tração.
tpjiantQ m aiõr a distânriu.j:iiUi- os q jiictitQs .e os fatos
em píricos a que pretendem Ia/çr i <'I n r n ria, maior a possi­
bilidade de tais con ceitos serem m al co m p reendidos ou m al
empregados, e maior„.Q..£uidado nci'câjáiii> pm:a sua d elin ição]
D evem ser definidos em termos ab stratos, dando-se o sentido
geral que devem transm itir, bem c o m o e m termos das o p e ra ­
ções através das quais serão represenlados no estudo e sp e ­
cífico. O prim eiro tipo de definição o necessário para ligar
o estudo ao conjunto d e conhecimentos qu e empregam c o n ­
ceitos semelhantes. O segundo é um passo essencial p ara a
realização de q u alq u er pesquisa, pois os dados devem ser
coligidos através d e fatos observados.
Como exem plo, podemos voltar ao estudo de M orris e
D avidsen sobre estu d an tes estrangeiros. Sua hipótese referia-
-se aos efeitos, em suas atitudes co m relação aos E stad o s
unidos, da av aiiação d o estudante q u a n to à estima dos norte-
-am ericanos com re la çã o ao seu país de origem . Na realidade,
com o já notamos, a hipótese era mais com plexa. Incluía os
conceitos de “o b te n çã o de status n acio n al" e “perda de status
nacional”, através d e viagem aos E sta d o s Unidos. O “status
nacional” era definido com o “a relativa valorização atribuída
a o próprio país, n u m a escala in tern acion al de com paração.”
A hipótese incluía u m a distinção e n tre duas avaliações de
status nacional: “o statu s nacional p e rce b id o ” — isto é, a a v a ­
liação, feita pelo estu d an te, de seu p aís; “status nacional p e r­
50 M ÉTODO S DE P E SQ X JISA N'AS REJL.A Ç Ó ES SO C IA IS

cebido como atribuído” — estim ativa, feita pelo estudante, da


avaliação do sou país pelos norte-am ericanos. 6 A diferença
entro essas duas avaliações dava um a medida de “discropAn
eia tio .tatus nacional.” Esse co n ceito estava ligado à teoria
do estratificação social e m obilidade de status, através da
suposição de q u e um estudante qu e acreditasse que os n o r t e
•americanos d avam ao seu país um a avaliação superior ã quo
elo próprio atribuía, tinha experiência de “elevação de status
nacional”, enquanto aquele que acred itava que os n orte-am e­
ricanos davam um a avaliação inferior à que ele próprio atri­
buía, tinha urna experiência de “red u ção de status nacional”.
Ivsses conceitos básicos eram form alm ente definidos através
do sentido de elevação de status e perda de status n a teoria
sociológica geral. Para esse estudo específico fez-se um iníeio
do definição de trabalho, definindo-se elevação d e status n
redução de status nacional através d e uma com paração entio
duas avaliação feitas pelo estudante — sua avaliação pessoal
da posição de seu país e sua estim ativa^das avaliações dos
norte-americanos. Consideremos, agora, como foram nuiLs
desenvolvidas as definições de trabalho. 7

Estabelecimento de Definições de Trabalho 11

Qualquer q u e seja a sim plicidade ou complexidade tia


definição form al de seus conceitos, o pesquisador, para reali­
zar qualquer pesquisa, precisa en con trar alguma f o r m a do
traduzi-los em acontecimentos observáveis. N;io ó p o s s ív e l
estudar “elevação” ou “redução' d e status nacional” com o ta is,

6 O “status nacional real atribuído” — a avaliação realm ente feita


pelos norte-americanos — foi também considerado, como verificação da
percepção dos estudantes.
7 Na realidade, alguns outros conceitos foram também incluídos
nesto estudo; entre eles, o de iden tificação e o de atitude. Como nos
interessamos pelo estudo apenas como exemplo, não consideraremos a
forma de definir esses outros termos.
8 O leitor pode observar uma sem elhança entre nosso conceito
do definição d e trabalho e o termo mais freqüentemente usado, isto é,
definição operacion al. Evitamos esse term o mais usual porque traz
consigo algumas conotações filosóficas que não desejamos discutir aqui.
ESC O LH A E FO RM U LA Ç Ã O DE UM P R O Iil.K M A l»l r i.H Q U I S A 51

pois esses conceitos não têm com plem entos (Liretos em acon­
tecimentos observáveis. O pesquisador preoisa criar algumas
operações qu e provoquem resultados < possa a ce ita r como
um indicador de seu conceito. ICsto estágio da form ulação
do projeto p od e exigir muita habilidade, sobretudo se os con­
ceitos estão muito distantes dos acontecim entos cotidianos e
:>o foram realizadas poucas pesquisas com tais conceitos.
No caso do estudo do estudantes estrangeiros, em bora
tivesse havido muitas pesquisas a respeito de perda e eleva­
ção de statu s em outros con texto s, nenhum estudo anterior
irinha lidado sistematicam ente co m o conceito de “p erd a ou
elevação de status nacional”; por isso, não tinham sido criadas
operações q u e constituíssem definições de trabalho desses
termos. Morris o Davidsen já tin h am começado sua defini­
ção de trabalho, quando d ecid iram que sua m edida básica
«eria a discrep ân cia entre a a v a lia çã o de seu país feita pelo
estudante e sua estimativa das avaliações dos norte-am erica­
nos. No en tan to, em que term os deveriam ser feitas tais
avaliações? S erá que os estu d an tes poderiam apenas rece­
ber uma lista de países e distribuí-los de acordo co m a sua
avaliação d e c a d a um deles? E s s a tarefa parecia excessiva­
m en te am b ígu a; a partir de suas reações pessoais, os pes­
quisadores concluíram que os países serão classificados de
forma d iferen te, de acordo co m diferentes critérios. Fin al­
mente, estab eleceram três critérioá, através dos quais os países
deveriam ser avaliados: nível d e vida, padrões cu ltu rais e
padrões p olíticos. A partir d e tais avaliações, seria cons­
truído um ín d ice de “status n acio n al.”1 ( É óbvio, a p a rtir deste
exemplo, q u e o passo do estabelecim ento de definições de
trabalho está m uito ligado a d ecisões a respeito de instrum en­
tos de coleta de dados e do p a d rã o de análise. E s te é outro
aspecto da m an eira pela q ual as etapas iniciais determ inam
as posteriores, bem como d a necessidade de p red izer, nas
etapas iniciais, as etapas p o ste rio re s).
As definições de trabalho sã o adequadas se os instru­
mentos ou processos neles b asead os obtêm dados q u e cons­
tituam indicadores satisfatórios dos conceitos que pretendem
representar. Saber se esse resu ltad o foi conseguido é., fre­
qüentem ente, u m a questão de opinião. Um pesquisador pode
>ensar que seus dados apresentam indicadores razoavelm ente
Í >ons de seus conceitos; um crítico d o estudo pode p en sar que
i:3so não o co rre. Freqüentem ente acontece d e o pesquisador
52 M ÉTOD O S DE P E S Q U IS A NAS H ELAÇÕ iCH S O C IA IS

estar ciente de q u e seus dados constituem apenas um reflexo


muito limitado do conceito que tem em mente, mas, sobre­
tudo nos estágios iniciais da pesquisa de um problema, pode
não ser cap az de criar um conceito mais satisfatório. De
qualquer form a, em bora geralmente o pesquisador relate seus
resultados através de conceitos abstratos, a fim de ligá los
mais facilmente a outras pesquisas e à teoria, ele e seus leitores
devem lembrar que, na realidade, encontrou uma relação entre
dois conjuntos de dados que, segundo pyetende, representam
seus conceitos. Assim, o que M orris e Davidsen realm ente
verificaram foi qu e a discrepância en tre as duas avaliações do
país de origem estava ligada às respostas a Certas perguntas
sobre os Estad os Unidos. Em bora possam , com propriedade,
interpretar isso com o indício de u m a relação entre elevação
ou perda de status nacional por p a rte do estudante estran ­
geiro e sua atitu d e diante dos E stad o s Unidos, deve-se lem ­
brar que essa interpretação depende da suposição d e que
as respostas às perguntas da en trevista são adequadas d efi­
nições de trab alh o aos conceitos elevação de status nacional,
perda de status nacional e atitude com relação ao país em que
estuda.

Ligação dos Resultados com Outros Conhecimentos

A pesquisa científica é um em preendim ento com unitário,


embora estudos isolados sejam realizados por pesquisadores
que trabalham sozinhos. C ada estu d o depende dos anteriores
e apresenta a b a se para futuros estudos. Quanto m aior o
número de relações que puderem ser estabelecidas entre d eter­
minado estudo e outros estudos ou u m conjunfo teórico, m aior
a contribuição provável.
Existem duas maneiras principais para ligar determ inado
estudo a um conjunto mais am plo de conhecimento. Um
deles é, evidentem ente, examinar a pesquisa e as reflexões já
feitas sobre determ inado problema ou problemas de pesquisa
a ela ligados, e planejar o estudo de form a que este se ligue,
no maior núm ero possível de pontos, com o trabalho existente.
O segundo é form ular o problema de pesquisa em nível sufi­
cientemente a b strato , de forma q u e os seus resultados possam
ser ligados aos d e outros estudos referentes aos mesmos co n ­
ceitos.
ESCO LH A E FOIVMIM.AC, A.................... ' i m.iiii i 'U m P E S Q U IS A 53

O estudo de estudante-. « 11 m f - " ° • q,ie estam os consi­


derando foi form ulado mi mv« I m m to « levado de a b stração ,
e assim poderia ser lanlm. ui< lidado com outros estudos de
status, em diferentes ■11■....... . ........ diferentes populações.
Em estudos que dccoriem <1« <l< l< unina la questão cien tífica,
geralmente não é dilieil !......... I n <» pioblcma de pesquisa em
nível útil de abstra^ao. pol-, .1 . «|»i< . i*». . eientíficas, p or sua
natureza, tendem a sei upicseui.nl.r. em termos gerais. No
entanto, os estudos que Mirrem <lu neeessidade de resp o sta a
uma questão p rática podem peim unceei em nível tão e sp e ci­
fico que não apresentem ronli ílnii«,.10 ícal ao conhecim ento, a
menos que o pesquisadoi « e-.loi ce paia transpor a questão
a um nível mais elevado de .»1»•.11 . « . i<»
Consideremos o exemplo d< um p esq u isad o i q u e , a p ed i­
do de uma instituição Inicie-, ..id a p e l a melhoria de relações
intergrupais, realiza um le v a n ta m e n to e o m o o b je tiv o d e a v a ­
liar, a eficiência de uma série d e d e s e n h o s sobre p recon ceito.
Se propõe o problem a de lo u n a q u e mio possa g en eralizar
além dos desenhos e sp ecífico s, 11 .ic.r.-..n a, tanto na ta re fa p rá ­
tica quanto n a teórica. Os d e s e n h o s q u e se propõe investigar
são produtos únicos e, até certo p o n to , diferentes de todos
os outros, tan to em conteúdo qu an to e m forma. Se c o m e ç a o
processo de pesquisa a fim do verificar a eficiência desse
pequeno n ú m ero de desenhos, q u e podem ser hoje atu ais, m as
esquecidos logo depois, envolve se e m tarefa que p recisará
começar n ovam ente, logo depois d e terminá-la. P o r exem plo,
se descobre que um desenho esp ecífico atrai e d iverte p arte
de sua audiência, mas é incom preendido pela m aioria, p ou co
aprendeu q u e m ereça ser classificado como conhecim ento
científico. N em podem tais resultados apresentar m u ita
orientação p a ra o criador dos desenhos. A fim d e afa sta r
essa lim itação de seu trabalho, o pesquisador, antes d e co m e­
çar a coleta d e dados, precisa reform u lar seu problem a co n ­
creto, de fo rm a que, finalmente, lh e permita chegar a co n clu ­
sões a respeito dos aspectos m ais gerais do desenho e das
respostas das pessoas que o vêem . E m outras p a lav ras: seu
interesse, nessa etap a da form ulação de problema, d eve voltar-
-se à possibilidade de generalização de seus resultados. N ão
é suficiente p ergu n tar se determ inado desenho é co m p reen ­
dido, nem quem o compreende. P a ra ser capaz de resp on d er
à primeira p a rte da pergunta, p recisa analisar os aspectos
gerais do desenho. Precisa ch e g a r a algumas categorias, tais
como “sátira”, “legenda necessária p a ra a com preensão”, etc.
34 M ÉTODOS DE P E S Q U IS A NAS RELAÇÕ ES S O C IA IS

S c depois puder dem onstrar, através de sua análise, que <",^c


tipo de desenho é incompreendido p o rq u e é aceito literal
m ente, e não satíricam en te, está em condições de aconselhai
o artista a experim entar desenhos não-satíricos ou formas p.ira
tornar mais clara a sátira.
Apenas quan d o um problema está formulado em termos
com sentido geral é q u e o cientista social p od e ter a espei im, i
ile transferir, para outros problemas, o conhecimento obtido
corn o estudo de um único acontecimento. A generaliza^ i«»
.i partir de estudo de acontecimentos únicos exige que o
problema de pesquisa seja formulado em termos mais a b s ­
tratos do que os necessários se houvesse interesse em respon­
der a uma pergunta a respeito do acontecimento único.
E\ identemente, todo acontecimento na vida humana, quando
visto ern sua total con creção, é único. N o entanto, por mais
raro e atípico q u e seja, torna-se um p ro b lem a legitimo p u a
a pesquisa científica, s e se e s p ecificam os processos >(//;/"
ce n te s q u e p o d e m o c o r r e r cm outras c o m b in a ç õ e s tdiubt iii
únicas. Neste sentido, um tremor de terra, o bombardeio de
Hiroshima, ou a e x e c u ç ã o de Mussolini por italianos i nl i ne
eidos — acontecim entos únicos em todos os sentidos eme.
tituem objeto para pesquisa, 9 desde q u e o problema .<■ja
formulado em termos q u e se refiram aos processos put* u> ial
m ente observáveis em outras ocasiões.
A formulação, dessa maneira, de um problem.i de p e s ­
quisa, permite a rep etição de estudos sob diferentes eondições
únicas. Esse processo de repetição é conhecido como a
r e p r o d u ç ã o da pesquisa. Esta é essencial para o aumento da
confiança nos resultados da pesquisa. Por exemplo, a veri­
ficação de Morris e Davidsen, segundo a qual existe uma
relação entre elev ação ou redução de status nacional c
atitude para com o país em que o jovem estuda, é interessante
e sugestiva; sua c o e rê n c ia com a teoria geral de mobilidade
de status permite m aio r confiança no resultado. No entanto,
só pode ser aceita com o geralmente verdadeira depois de ter
sido repetida com outros estudantes, q u e freqüentam d iferen ­
tes universidades, q u e estudam em outros países, além dos
Estados Unidos. Fin alm en te, esSa rep rod ução da pesquisa

9 Evidentemente, uma dificuldade básica para a pesquisa d<- tuis


acontecimentos é conseguir estar numa posição em que se possa obter
informação fidedigna sobre o acontecimento, as condições que o inicia­
ram, bem como suas conseqüências.
I

[ISC O L H A E K U B M I X a Ç !■') Z'z CM r ü ü B L K M .v DI-; P E S Q U IS A 55

mostrará se o processo subjacente qm' o cientista social tinha


em mente explicava a r e la ç ã o n it r e os dois conjuntas de
acontecimentos observados, ou se n a explicável por outras
condições, ainda não conhecida v que caracterizavam o estu d o
específico. E m b o r a seja essencial b u scar processos mais
gerais, o pesquisador precisa ui.mtei um equilíbrio cuidadoso
entre sua atenção à configura., âo uuica e aos aspectos gerais
de suas observações. O desprezo da configuração única pode
conduzir a generalizações falvis e prem aturas; o desprezo dos
aspectos gerais pod e conduzir à impossibilidade de criar
princípios qite possam sei usados para a compreensão de
outras condições, diferentes das condições específicas e s tu ­
dadas.

R esu m o

Muilas considerações — e nmitas dificuldades — surgem


na escolha de um tóp ico de pesquisa e na sua form ulação
com o um projeto d e pesquisa. B asicam en te, tais processos
exigem que o c ien tis ta social tenha con sciência das escolhas
possíveis e co m p re en d a as regras que governam a form ulação
do problema.
A formulação de um projeto de pesquisa passa por várias
etapas.
Em primeiro lugar, o prvhlcnta (/iic ex ig e solução ])recisa
scr p e r c e b id o na área circunscrita pelo tópico escolhido.
Em segundo lugar, a tarefa d c }>cs(/uisa precisa scr r e d u ­
z id a a ui)i ta m a n h o c iá v c l ou dividida em algumas subtarefas,
c a d a uma das q uais possa ser realizada em um único estudo.
A seguir, existem algumas etapas tão estreitamente r e l a ­
cionadas que sua ordem não pode ser especificada. S e h á
conhecimento sign ificativ o referente ao problem a de pesquisa,
a formulação con terá h ip óteses, tanto c o m o guia para a c o le ta
e análise de dados, q u a n to como meio para relacionar o estudo
a outros estudos ou a um conjunto de teoria. Se não existe
suficiente con h ecim en to para dar uma b ase para o e s ta b e le ­
cim ento de hipóteses* nessa etapa, a form ulação do problem a
indicará as áreas em q u e um estudo exploratório procu ra
estabelecer hipóteses.
Haja ou não h ipóteses estabelecidas nessa etapa, o estudo
exigirá a d e fin iç ã o d e conceitos, q u e serão usados na o r g a ­
56 M ÉTO DO S DE P E S Q U IS A NAS RELAÇÕ ES S O C IA IS

nização dos dados. Tais definições incluirão definições for-


maisy destinadas a ap resen tar a natureza geral do processo
011 fenôm eno pelo qual o pesquisador se interessa, bem como
sua relação com outros estudos e com a teoria existente de
ciên cia social. Incluirão tam bém definições d e trabalho, que
perm item a coleta de dados que o pesquisador acoita como
indicadores de seus conceitos.
E m todos esses processos, haverá interesse pela possi­
bilidade de generalização dos resultados e sua relaçiio com
outros conhecimentos. Isso exije estudo , cuidadoso de tra­
balhos já realizados no cam po, bem com o a formulação
do problem a de pesquisa em termos suficientem ente gerais
p ara que esteja clara sua relação com outros conhecimentos
e perm ita a reprodução da pesquisa.
Ao formular o problem a de pesquisa, as etapas subse­
qüentes no processo d e pesquisa precisam ser previstas, a fim
de haver certeza de que o problema pode ser estudado atra­
vés das técnicas existentes. Tal previsão deve incluir as
etapas científicas e práticas.
, '

PLANEJAMENTO DE 1’ESQUISA

I. Estudos Exploralórios i- Descritivos

Estudos Formuladorcs ou Exploratórios

Estudos Descritivos

Resumo

Você também pode gostar