Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1.
Da mesma forma, a distinção entre atitude dogmática e atitude zetética pode nos
orientar, se nos interessa diferenciar os campos temáticos das teorias jurídicas em estado
prático (ciências jurídicas em sentido estrito). A Teoria Geral do Direito e a Filosofia
Política também.
Como o próprio Tercio assinala, são duas categorias que podem servir a nós para
uma mudança do modelo de ensino do direito.
2.
A Dogmática Jurídica cumpre uma dupla função: serve para legitimar certos
tipos de decisões e para produzir regras de derivação não demonstrativas para os
raciocínios jurídicos. Por seu intermédio, se construíram as condições retóricas para a
formulação de expressões com sentido, dentro das diferentes linguagens da atividade
prática dos juristas.
3.
A Zetética dentro do pensamento Tópico, é uma investigação que sai, por assim
dizer, em busca de novas opiniões, que transplanta para o direito o conhecimento
acumulado em outros domínios, dogmatizando-os. Ou seja, convertendo-os em
premissas táticas de novas derivações falaciosas. A Zetética ensina a argumentar
contemporaneamente. Ela só aumenta as garantias retóricas mas não estabelece as
condições de um pensamento científico.
A investigação zetética deve dizer “não” ao saber anterior. Um “não” que nos
ajude a buscar novas problemáticas. A Zetética deve realizar-se na tentativa de
constituir um novo objeto de conhecimento. A Superação dos limites de um saber nunca
pode estar condicionada a uma atualização no interior do conhecimento acumulado.
Esse é um ponto de vista diferente da Zetética tópica. A função zetética é redefinida a
partir dessa distinção epistemológica. Uma concepção diferente sobre a produção do
conhecimento origina outro programa de realização para a zetética.
O espírito zetético deve tomar o sabe acumulado e dogmatizado para tentar sua
objetivação; quer dizer, para teorizar sobre os obstáculos epistemológicos do
conhecimento produzido. A dogmática sempre produz obstáculos epistemológicos e
degenera variáveis. A Zetética deve revitalizar todas essas variáveis mortas. Desde o
ponto de vista do espírito científico, a dogmática é um pensamento por inércia. A
zetética deve tentar superar esse ponto epistemológico morto. Ela é um pensamento que
deve sempre explicitar o que é silenciado e ocultado pela dogmática.
Estou quase seguro que Tercio concordaria com grande parte dessa estipulação
efetuada. As noções por ele trabalhadas têm muito em comum com as nossas. Parece-
me, sem embargo, importante alertar sobre os perigos de uma zetética demasiadamente
comprometida com a metafísica do idealismo. E também que não basta para
desdogmatizar a dogmática, enriquecê-la com a contribuição do que em outros domínios
se chama ciência. Eles têm sua razão comprometida; os compromissos da razão
constituem a questão zetética fundamental.