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Acórdão Nº 1235244
EMENTA
2. Nos termos do Enunciado de Súmula n. 188 do Supremo Tribunal Federal, “o segurador tem ação
regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato
de seguro”.
3. A obrigação da necessária precaução do veículo que circula na via secundária e adentra na via
principal está descrita em diversos dispositivos no Código de Trânsito Brasileiro, a saber: artigos 29,
§1º; 34; 36; 38 e 44.
4. O fato de haver um caminhão estacionado na via principal exige maior atenção do veículo que está
na via secundária e intenta adentrar na via principal, notadamente porque não há visibilidade total da
pista na qual se pretende trafegar.
5. Para a aferição da extensão do dano, a seguradora trouxe aos autos orçamentos e notas fiscais. O
simples cotejamento das imagens do veículo avariado com os itens constantes nos orçamentos e nas
notas fiscais permite verificar que não há evidência de desproporção ou excessos. Desta forma, caberia
ao réu trazer outros orçamentos para fundamentar sua alegação de desproporção, conforme distribuição
do ônus da prova estabelecida pelo artigo 373, II, do Código de Processo Civil.
6. Preliminar de nulidade por cerceamento de defesa rejeitada. Apelo conhecido e desprovido. Fixados
honorários recursais.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
a) condenar a parte requerida a indenizar a parte requerente por danos materiais, deles credora por
regresso, no valor de R$ 10.020,60, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) a. m. a contar
do acidente (03/11/2018) e a serem atualizados desde a data do desembolso (08/11/2018) até a data
do efetivo ressarcimento;
b) condeno o requerido igualmente nas custas e honorários de sucumbência, que fixo em 10% (dez por
cento) do valor da condenação (art. 85, § 2º, do CPC). Suspendo a cobrança das rubricas de
sucumbência em relação ao requerido, porque a ele foram deferidos os benefícios da gratuidade de
justiça (art. 98, § 3º, do CPC).
Em consequência, resolvo o mérito da lide, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.”
Nas razões recursais (ID 13234180), o apelante/réu suscita preliminar de nulidade por cerceamento de
defesa diante do indeferimento da prova pericial requerida. Afirma que a prova pericial poderia ser
realizada de forma indireta com a finalidade de esclarecimento acerca da dinâmica do acidente, bem
como de quais peças foram efetivamente avariadas na colisão e se o orçamento apresentado é coerente.
Aduz que a sentença baseou-se unicamente nas notas fiscais apresentadas pela seguradora, ora
apelada/autora, para a determinação da extensão do dano, admitindo assim como verdadeira a prova
apresentada pela seguradora. Questiona os valores do orçamento.
Ao final, requer o conhecimento e provimento do recurso, para que seja reconhecida a preliminar de
nulidade da sentença, e, no mérito, reconhecida a culpa exclusiva do segurado, ou, ainda, a culpa
concorrente.
É o relatório.
VOTOS
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da apelação interposta pela parte ré e a recebo nos
efeitos devolutivo e suspensivo, conforme estabelece o artigo 1.012, caput, do Código de Processo
Civil.
No caso, o juiz sentenciante entendeu que o conserto do veículo tornou impraticável a verificação
pretendida, indeferindo a prova pericial com fundamento no artigo 464, §1°, III, do Código de
Processo Civil.
Frisou ainda o juiz sentenciante que “as questões de fato e de direito relevantes à resolução da lide se
encontram devidamente delineadas e debatidas e prescindem de incursão na fase de dilação
probatória, eis que se cuida de matéria prevalentemente de direito ou mesmo sendo fática e jurídica,
a prova documental é suficiente para a formação do convencimento do julgador, o que determina a
incidência do comando normativo do art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil – CPC” (ID
13234176 - Pág. 2).
Assim, a existência dos documentos acostados aos autos foi suficiente para formar sua convicção,
reputando inadequada a produção da prova pericial para averiguar a caracterização de circunstâncias
que pudessem interferir em seu convencimento.
(Acórdão 204594, 20030310112486APC, Relator: ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, data
de julgamento: 25/10/2004, publicado no DJU SEÇÃO 3: 16/12/2004. Pág.: 74)
DO MÉRITO
Versa o presente recurso sobre a culpa pelo acidente e a consequente responsabilização pelos danos
materiais.
Primeiramente importa asseverar que, nos termos do Enunciado de Súmula n. 188 do Supremo
Tribunal Federal, “o segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que
efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato de seguro”. A relação estabelecida entre
segurador e segurado está demonstrada por meio dos dados da apólice ao ID 13234127.
No que concerne à dinâmica dos fatos, embora o apelante/réu alegue a ocorrência de culpa exclusiva
do veículo segurado em razão da ultrapassagem na contramão sem o devido cuidado (artigos 33 e 34
do Código de Trânsito Brasileiro), não é esta a evidência que se extrai das provas que guarnecem os
autos.
Verifico que restou incontroverso que o veículo conduzido pelo segurado estava na via principal,
enquanto o veículo conduzido pelo apelante/réu inicialmente estava em uma via secundária e adentrou
a via principal (local do acidente).
Segundo a própria descrição do apelante/réu e o croqui por ele trazido na contestação (ID 13234159 -
Pág. 2) não há que se falar em culpa exclusiva ou sequer culpa concorrente do condutor segurado.
Isto porque, o apelante/réu elucida que havia um caminhão estacionado na via principal (do lado
oposto ao supermercado) - ID 13234159 - Pág. 2. Tal fato exigia maior atenção do apelante/réu na
realização da manobra que pretendia (adentrar na via principal), notadamente porque não possuía
visibilidade total da pista na qual intentava trafegar.
Destaco, ainda, que na imagem ao ID 13234160 - Pág. 1 e 13234161 - Pág. 1 é possível notar, por
meio da faixa amarela tracejada, que a ultrapassagem era permitida na via principal. Motivo que
reforça a necessidade de que o apelante/réu deveria agir com atenção ante a probabilidade de
ultrapassagem do veículo segurado, principalmente diante da presença do caminhão que estava
estacionado na via principal (previsibilidade).
Friso, por outro lado, que a tese de que o veículo segurado não agiu com o dever de cuidado durante a
ultrapassagem não se sustenta, pois, em simples análise do local dos fatos por meio do Google Maps,
ou mesmo do croqui apresentado pelo apelante/réu, não haveria como o condutor do veículo segurado
ter visibilidade de possível veículo que estivesse na via secundária (já que esta via secundária estava
coberta pelo caminhão, considerando a posição do caminhão e a posição que o condutor de se senta no
veículo - lado esquerdo).
Enfim, a dinâmica dos fatos restou devidamente esclarecida nos autos, inclusive nas descrições
contidas na própria contestação e local das avarias no carro do segurado, aferíveis por meio das fotos
ao ID 13234133 (predominantemente na parte frontal esquerda).
Desta forma, a sentença impugnada apresenta-se em conformidade com as provas dos autos, uma vez
ser possível verificar que a conduta do apelado/réu de entrada na via principal sem observância dos
cuidados necessários colocou em risco a segurança do trânsito, vindo a ocasionar o acidente (artigos
34, 36 e 44 do Código de Trânsito Brasileiro).
A mera alegação do apelante/réu de que o veículo segurado estava em alta velocidade é insuficiente
para afastar as conclusões descritas com base no local do acidente afirmado pelo próprio apelante/réu.
Reforço também que a necessária precaução do veículo que circula na via secundária está novamente
descrita nos artigos 29, §1º e 38, todos do Código de Trânsito Brasileiro.
Assim, resta evidenciado que não houve culpa exclusiva do condutor do veículo segurado ou culpa
concorrente, mas sim culpa exclusiva do apelante/réu para a ocorrência da colisão.
Para a aferição da extensão do dano, a seguradora, ora apelada/autora, trouxe aos autos orçamentos e
notas fiscais ID 13234129 - Pág. 1/5 e ID 13234132 - Pág. 1/6. O simples cotejamento das imagens do
veículo avariado (ID 13234133) com os itens constantes nos orçamentos e nas notas fiscais permite
verificar que não há evidência de desproporção ou excessos.
Desta forma, caberia ao apelante/réu trazer outros orçamentos para fundamentar sua alegação de
desproporção, conforme distribuição do ônus da prova estabelecida pelo artigo 373, II, do Código de
Processo Civil.
Destarte, não há razões para modificação dos termos estabelecidos na sentença, motivo pelo qual ao
apelo deve ser negado provimento.
DO DISPOSITIVO
Em relação aos honorários advocatícios recursais, majoro em 2% (dois por cento) os honorários
fixados na sentença, nos termos do artigo 85, §11, do Código de Processo Civil, observada a
suspensão da exigibilidade decorrente da gratuidade de justiça concedida.
É o meu voto.
DECISÃO