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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0723801-65.2019.8.07.0001


APELANTE(S) WERNNER MACIEL DE PONTES
APELADO(S) PORTO SEGURO COMPANHIA DE SEGUROS GERAIS
Relator Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO

Acórdão Nº 1235244

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. VEÍCULO SEGURADO.


PRELIMINAR. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. ACÃO REGRESSIVA.
SEGURADORA. CAUSADOR DO DANO. CULPA EXCLUSIVA. VEÍCULO QUE TRAFEGA
PELA VIA SECUNDARIA. DEVER DE ATENCÃO AO ENTRAR NA VIA PRINCIPAL.
EXTENSÃO DO DANO. ORÇAMENTOS E NOTAS FISCAIS COMPATÍVEIS. ALEGAÇÃO
DE DESPROPORÇÃO. ONUS DA PROVA DO RÉU.

1. É pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de que o julgamento antecipado da lide não


implica cerceamento de defesa, na hipótese em que as provas requeridas são prescindíveis para o
julgamento da lide, ou ainda estando os autos devidamente aparelhados com todos os elementos de
convicção necessários para o julgamento do feito. Ademais, a prova pericial requerida foi indeferida
por ser considerada impraticável a verificação pretendida, com fundamento no artigo 464, §1°, III, do
Código de Processo Civil.

2. Nos termos do Enunciado de Súmula n. 188 do Supremo Tribunal Federal, “o segurador tem ação
regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato
de seguro”.

3. A obrigação da necessária precaução do veículo que circula na via secundária e adentra na via
principal está descrita em diversos dispositivos no Código de Trânsito Brasileiro, a saber: artigos 29,
§1º; 34; 36; 38 e 44.

4. O fato de haver um caminhão estacionado na via principal exige maior atenção do veículo que está
na via secundária e intenta adentrar na via principal, notadamente porque não há visibilidade total da
pista na qual se pretende trafegar.

5. Para a aferição da extensão do dano, a seguradora trouxe aos autos orçamentos e notas fiscais. O
simples cotejamento das imagens do veículo avariado com os itens constantes nos orçamentos e nas
notas fiscais permite verificar que não há evidência de desproporção ou excessos. Desta forma, caberia
ao réu trazer outros orçamentos para fundamentar sua alegação de desproporção, conforme distribuição
do ônus da prova estabelecida pelo artigo 373, II, do Código de Processo Civil.
6. Preliminar de nulidade por cerceamento de defesa rejeitada. Apelo conhecido e desprovido. Fixados
honorários recursais.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ARQUIBALDO CARNEIRO - Relator, JOSÉ DIVINO - 1º Vogal e VERA
ANDRIGHI - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI, em
proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO,
DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 04 de Março de 2020

Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de apelação interposto por WERNNER MACIEL DE PONTES (apelante/réu) em


face da r. sentença (ID 13234176), que, nos autos da ação de indenização por danos materiais ajuizada
por PORTO SEGURO COMPANHIA DE SEGUROS GERAIS (apelado/autor), julgou procedentes
os pedidos, nos seguintes termos:

“Ante o exposto, julgo procedente o pedido para:

a) condenar a parte requerida a indenizar a parte requerente por danos materiais, deles credora por
regresso, no valor de R$ 10.020,60, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) a. m. a contar
do acidente (03/11/2018) e a serem atualizados desde a data do desembolso (08/11/2018) até a data
do efetivo ressarcimento;

b) condeno o requerido igualmente nas custas e honorários de sucumbência, que fixo em 10% (dez por
cento) do valor da condenação (art. 85, § 2º, do CPC). Suspendo a cobrança das rubricas de
sucumbência em relação ao requerido, porque a ele foram deferidos os benefícios da gratuidade de
justiça (art. 98, § 3º, do CPC).

Em consequência, resolvo o mérito da lide, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC.”

Nas razões recursais (ID 13234180), o apelante/réu suscita preliminar de nulidade por cerceamento de
defesa diante do indeferimento da prova pericial requerida. Afirma que a prova pericial poderia ser
realizada de forma indireta com a finalidade de esclarecimento acerca da dinâmica do acidente, bem
como de quais peças foram efetivamente avariadas na colisão e se o orçamento apresentado é coerente.

No mérito, defende culpa exclusiva do condutor do veículo segurado em razão da ultrapassagem na


contramão sem o devido cuidado em ofensa aos artigos 33 e 34 do Código de Trânsito Brasileiro.
Expõe que adentrou na via principal em baixa velocidade e com atenção, o que demonstra seu respeito
às regras de trânsito. Admite, no mínimo, a existência de culpa concorrente.

Aduz que a sentença baseou-se unicamente nas notas fiscais apresentadas pela seguradora, ora
apelada/autora, para a determinação da extensão do dano, admitindo assim como verdadeira a prova
apresentada pela seguradora. Questiona os valores do orçamento.

Ao final, requer o conhecimento e provimento do recurso, para que seja reconhecida a preliminar de
nulidade da sentença, e, no mérito, reconhecida a culpa exclusiva do segurado, ou, ainda, a culpa
concorrente.

Sem preparo diante do deferimento de gratuidade de justiça ao ID 13234169.

Contrarrazões ao ID 13234183, requerendo que seja negado provimento ao apelo.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO - Relator

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da apelação interposta pela parte ré e a recebo nos
efeitos devolutivo e suspensivo, conforme estabelece o artigo 1.012, caput, do Código de Processo
Civil.

Passo à análise da questão preliminar.

PRELIMINAR DE NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA

Alega o apelante/réu ocorrência de cerceamento de defesa diante do indeferimento da prova pericial


requerida, sob a alegação de que poderia ser realizada de forma indireta com a finalidade de
esclarecimento acerca da dinâmica do acidente, bem como de quais peças foram efetivamente
avariadas na colisão e se o orçamento apresentado é coerente.

Entretanto, o princípio do convencimento motivado ou da persuasão racional, consagrado pelo artigo


371 do Código de Processo Civil, estabelece que o juiz é livre para apreciar as provas, podendo
indeferi-las na hipótese de entender serem desnecessárias para o deslinde da questão.

No caso, o juiz sentenciante entendeu que o conserto do veículo tornou impraticável a verificação
pretendida, indeferindo a prova pericial com fundamento no artigo 464, §1°, III, do Código de
Processo Civil.

Frisou ainda o juiz sentenciante que “as questões de fato e de direito relevantes à resolução da lide se
encontram devidamente delineadas e debatidas e prescindem de incursão na fase de dilação
probatória, eis que se cuida de matéria prevalentemente de direito ou mesmo sendo fática e jurídica,
a prova documental é suficiente para a formação do convencimento do julgador, o que determina a
incidência do comando normativo do art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil – CPC” (ID
13234176 - Pág. 2).

Assim, a existência dos documentos acostados aos autos foi suficiente para formar sua convicção,
reputando inadequada a produção da prova pericial para averiguar a caracterização de circunstâncias
que pudessem interferir em seu convencimento.

Colaciono julgados deste Tribunal de Justiça no mesmo sentido:

“APELAÇÕES CÍVEIS. PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR


DANOS MORAIS. RECURSO DA 2ª RÉ NÃO CONHECIDO. INTEMPESTIVIDADE. PRELIMINAR
DE CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. INVIABILIDADE DA PERÍCIA TÉCNICA.
DESERÇÃO DO RECURSO. INOCORRÊNCIA. PAGAMENTO DENTRO DO PRAZO RECURSAL.
PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO ADESIVO. REJEIÇÃO. SUCUMBÊNCIA
MATERIAL. INTERESSE RECURSAL. ACIDENTE DE CONSUMO. VEÍCULO "ZERO
QUILÔMETRO". DEFEITOS DE FÁBRICA REPORTADOS AO FORNECEDOR. OMISSÃO NA
SOLUÇÃO DO PROBLEMA. INCÊNDIO DO VEÍCULO NOVO. QUEIMADURAS NO
CONSUMIDOR. DANO MORAL CONFIGURADO. DANO DIRETO E REFLEXO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA DOS FORNECEDORES. RECURSO DA
CONCESSIONÁRIA. NÃO PROVIMENTO. RECURSO DOS AUTORES. PROVIMENTO.
MAJORAÇÃO DOS DANOS MORAIS. VALOR EQUIVALENTE PARA AMBOS OS AUTORES. (...) 2.
Não há que se falar em cerceamento de defesa quando constatado, na espécie, que a perícia
requerida no veículo, ainda que indireta, revelou-se impossível e inviável de ser realizada, seja por
não mais existir o objeto a ser periciado, seja porque não foi demonstrada a necessidade da perícia
indireta em fotografias ou no local do evento, sobretudo em razão do tempo decorrido desde a data
do acidente. (...)”.

(Acórdão 1194066, 07087022620178070001, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 7ª Turma


Cível, data de julgamento: 14/8/2019, publicado no DJE: 28/8/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

“INDENIZAÇÃO - ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - DANOS MATERIAIS - PEDIDO JULGADO


PROCEDENTE EM PARTE - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA - AGRAVO RETIDO. (...)
03. A prova pericial indireta não se mostra, in casu, hábil para dirimir a controvérsia, eis que os
elementos de que os peritos teriam que se valer seriam exatamente os mesmos de que dispunha o d.
magistrado, ou seja, a prova testemunhal. Aliás, a decisão que indeferiu a produção probatória,
respeitou os princípios norteadores do processo e, encontra-se devidamente fundamentada. 04. A
pretensão deve ser provida no referente às verbas sucumbenciais, eis que o Autor restou vencido em
cerca de 80% (oitenta por cento) dos pedidos deduzidos. 05. Apelação parcialmente provida.
Unânime.”

(Acórdão 204594, 20030310112486APC, Relator: ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, data
de julgamento: 25/10/2004, publicado no DJU SEÇÃO 3: 16/12/2004. Pág.: 74)

Desta forma, REJEITO a preliminar de nulidade por cerceamento de defesa.

Ausentes outras questões preliminares ou prejudiciais, passo à análise do mérito recursal.

DO MÉRITO
Versa o presente recurso sobre a culpa pelo acidente e a consequente responsabilização pelos danos
materiais.

Primeiramente importa asseverar que, nos termos do Enunciado de Súmula n. 188 do Supremo
Tribunal Federal, “o segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que
efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato de seguro”. A relação estabelecida entre
segurador e segurado está demonstrada por meio dos dados da apólice ao ID 13234127.

No que concerne à dinâmica dos fatos, embora o apelante/réu alegue a ocorrência de culpa exclusiva
do veículo segurado em razão da ultrapassagem na contramão sem o devido cuidado (artigos 33 e 34
do Código de Trânsito Brasileiro), não é esta a evidência que se extrai das provas que guarnecem os
autos.

Verifico que restou incontroverso que o veículo conduzido pelo segurado estava na via principal,
enquanto o veículo conduzido pelo apelante/réu inicialmente estava em uma via secundária e adentrou
a via principal (local do acidente).

Segundo a própria descrição do apelante/réu e o croqui por ele trazido na contestação (ID 13234159 -
Pág. 2) não há que se falar em culpa exclusiva ou sequer culpa concorrente do condutor segurado.

Isto porque, o apelante/réu elucida que havia um caminhão estacionado na via principal (do lado
oposto ao supermercado) - ID 13234159 - Pág. 2. Tal fato exigia maior atenção do apelante/réu na
realização da manobra que pretendia (adentrar na via principal), notadamente porque não possuía
visibilidade total da pista na qual intentava trafegar.

Destaco, ainda, que na imagem ao ID 13234160 - Pág. 1 e 13234161 - Pág. 1 é possível notar, por
meio da faixa amarela tracejada, que a ultrapassagem era permitida na via principal. Motivo que
reforça a necessidade de que o apelante/réu deveria agir com atenção ante a probabilidade de
ultrapassagem do veículo segurado, principalmente diante da presença do caminhão que estava
estacionado na via principal (previsibilidade).

Friso, por outro lado, que a tese de que o veículo segurado não agiu com o dever de cuidado durante a
ultrapassagem não se sustenta, pois, em simples análise do local dos fatos por meio do Google Maps,
ou mesmo do croqui apresentado pelo apelante/réu, não haveria como o condutor do veículo segurado
ter visibilidade de possível veículo que estivesse na via secundária (já que esta via secundária estava
coberta pelo caminhão, considerando a posição do caminhão e a posição que o condutor de se senta no
veículo - lado esquerdo).

Enfim, a dinâmica dos fatos restou devidamente esclarecida nos autos, inclusive nas descrições
contidas na própria contestação e local das avarias no carro do segurado, aferíveis por meio das fotos
ao ID 13234133 (predominantemente na parte frontal esquerda).

Desta forma, a sentença impugnada apresenta-se em conformidade com as provas dos autos, uma vez
ser possível verificar que a conduta do apelado/réu de entrada na via principal sem observância dos
cuidados necessários colocou em risco a segurança do trânsito, vindo a ocasionar o acidente (artigos
34, 36 e 44 do Código de Trânsito Brasileiro).

A mera alegação do apelante/réu de que o veículo segurado estava em alta velocidade é insuficiente
para afastar as conclusões descritas com base no local do acidente afirmado pelo próprio apelante/réu.

Reforço também que a necessária precaução do veículo que circula na via secundária está novamente
descrita nos artigos 29, §1º e 38, todos do Código de Trânsito Brasileiro.

Colaciono julgados deste Tribunal de Justiça proferidos em casos semelhantes:


“CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. INGRESSO NA VIA PRINCIPAL. DESRESPEITO À
PREFERÊNCIA DO VEÍCULO EM CIRCULAÇÃO NA VIA PRINCIPAL. LESÕES CORPORAIS.
ACIDENTE DE CONSUMO. CONSUMIDOR BYSTANDER. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. INDENIZAÇÃO. DOSIMETRIA, REDUÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
RECURSAIS. MAJORAÇÃO. 1. Para realizar ingresso em via principal, a partir de via de retorno,
faz-se necessário que o condutor do veículo proveniente de via secundária redobre as cautelas e se
cerque de todas as precauções para empreender a manobra segura (CTB, art. 29, § 1º e 38). 2. Se,
pela dinâmica dos fatos e pela narrativa das partes, depreender-se que as referidas cautelas não
foram tomadas, deve o condutor responder pelos danos causados ao veículo atingido, em face de sua
conduta culposa. (...) 7. Recurso conhecido e parcialmente provido.”

(Acórdão 1020187, 20150710158096APC, Relator: CARLOS RODRIGUES, 6ª TURMA CÍVEL, data


de julgamento: 10/5/2017, publicado no DJE: 30/5/2017. Pág.: 526/557)

“CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


INGRESSO NA VIA PRINCIPAL. IMPRUDÊNCIA AO REALIZAR MANOBRA DE CONVERSÃO.
INOBSERVÂNCIA DAS CAUTELAS EXIGIDAS. CULPA EVIDENCIADA. ART. 36 DO CTB. ÔNUS
DA PROVA. INDENIZAÇÃO. VALOR. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO NO MOMENTO
OPORTUNO. 1. De acordo com o art. 36 do Código de Trânsito Brasileiro "o condutor que for
ingressar numa via, procedente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência aos veículos e
pedestres que por ela estejam transitando". 2. No caso sub judice, incontroverso que a colisão
ocorreu quando o Réu/Apelante, saindo de via secundária, pretendeu ingressar na via preferencial
pela qual a Segurada já trafegava, de maneira inoportuna e sem as cautelas exigidas por manobra
dessa natureza. 3. Uma vez demonstrados os fatos constitutivos do direito da Autora/Apelada,
incumbia ao Réu/Apelante o ônus de provar os fatos modificativos, impeditivos ou extintivos,
consoante dicção estabelecida no artigo 373, inciso II, do novo Código de Processo Civil. 4.
Considerando que a Autora/Apelada instruiu a petição inicial com o orçamento e a nota fiscal do
serviço referente ao conserto do veículo caberia ao Réu/Apelante impugná-los no momento oportuno,
conforme dicção dos artigos 336 e 341 do novo Código de Processo Civil. 5. Recurso improvido.”

(Acórdão 970607, 20140111665763APC, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 6ª TURMA


CÍVEL, data de julgamento: 21/9/2016, publicado no DJE: 13/10/2016. Pág.: 421/459)

Assim, resta evidenciado que não houve culpa exclusiva do condutor do veículo segurado ou culpa
concorrente, mas sim culpa exclusiva do apelante/réu para a ocorrência da colisão.

Para a aferição da extensão do dano, a seguradora, ora apelada/autora, trouxe aos autos orçamentos e
notas fiscais ID 13234129 - Pág. 1/5 e ID 13234132 - Pág. 1/6. O simples cotejamento das imagens do
veículo avariado (ID 13234133) com os itens constantes nos orçamentos e nas notas fiscais permite
verificar que não há evidência de desproporção ou excessos.

Desta forma, caberia ao apelante/réu trazer outros orçamentos para fundamentar sua alegação de
desproporção, conforme distribuição do ônus da prova estabelecida pelo artigo 373, II, do Código de
Processo Civil.

Nesse sentido, trago a baila os seguintes arestos deste Tribunal de Justiça:

“Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS Gabinete da Desembargadora Maria de Lourdes Abreu Número do processo:
0739611-51.2017.8.07.0001 Classe judicial: APELAÇÃO CÍVEL (198) APELANTE: CARLOS
ALBERTO BARBOSA APELADO: ELAINE NOGUEIRA DA SILVA E M E N T A PROCESSO
CIVIL. ACIDENTE DE VEÍCULO. REPARAÇÃO. DANOS MATERIAIS. ÔNUS DA PROVA.
PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. 1. Nos termos do inciso II, do artigo 373,
do Código de processo Civil, incumbe ao réu o ônus probatório quanto aos fatos modificativos,
impeditivos ou extintivos do direito do autos. 2. A apreciação das provas coligidas aos autos está
sujeita ao princípio do livre convencimento motivado ou da persuasão racional, o que possibilita ao
magistrado verificar dentre os orçamentos, apresentados por ambas as partes, aquele que mais se
adequa aos reparos necessários para retornar o veículo a estado em que se encontrava antes do
acidente, desde que fundamente seu entendimento. 3. Apresentados os orçamentos de reparo
fornecidos por rede autorizada, incumbiria ao réu o ônus da prova quanto à alegada desproporção
entre a mão de obra e os materiais referentes ao conserto, em comparação com as avarias sofridas
pelo automóvel. 4. Os orçamentos realizados com base em projeção de custos derivada da análise de
fotografias do veículo e dos orçamentos trazidos pela autora não são suficientes para afastar a
necessidade de substituição de peças e o valor do serviço decorrente de análise presencial do veículo,
meio adequado para se atestar a necessidade ou não de troca de peças e a extensão do dano causado
pelo acidente. 5. Recurso conhecido e desprovido.”

(Acórdão 1213457, 07396115120178070001, Relator: MARIA DE LOURDES ABREU, 3ª Turma


Cível, data de julgamento: 30/10/2019, publicado no DJE: 13/11/2019. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.


VEÍCULO SEGURADO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RECONHECIMENTO DE CULPA.
DEDUÇÃO DE FRANQUIA. INOVAÇÃO RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. PROVA DOS
GASTOS COM O CONSERTO. NOTA FISCAL. PAGAMENTO PELA SEGURADORA. VALORES
COBRADOS. COMPATIBILIDADE (...)2. Sub-rogando-se no direito do lesado após o desembolso de
valores para a indenização do segurado ou do respectivo conserto do veículo sinistrado, na forma do
art. 786 do Código Civil, possui a seguradora o direito de cobrar o ressarcimento pelo dano material
ocorrido junto ao efetivo causador do prejuízo, desde que demonstrado o dispêndio daqueles valores.
3. Nos termos da Súmula 188 do STF: "O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano,
pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro." 4. A alegação de
incompatibilidade do valor cobrado com os reparos necessários não escapa ao plano da abstração,
pois não demonstrado que os reparos realizados em função do acidente seriam menores do que os
valores indicados no orçamento e nas notas fiscais apresentadas na inicial. 5. O ônus probatório
quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor incumbe ao réu,
nos termos do artigo 373, inciso II do CPC. 6. Recurso parcialmente conhecido e não provido.”

(Acórdão 1212835, 07000427220198070001, Relator: ANA CANTARINO, 5ª Turma Cível, data de


julgamento: 29/10/2019, publicado no PJe: 8/11/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

“APELAÇÃO. CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO DE VEÍCULOS. ARTS. 28, 34 E 36 DO


CTB. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO PROPOSTA POR
SEGURADORA. CONTRATO DE SEGURO DE VEÍCULO. SUB-ROGAÇÃO. DIREITO DE
REGRESSO CONTRA O CAUSADOR DO DANO. VALOR DO CONSERTO. SOBREPREÇO. NÃO
CONSTATAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 34 do CTB, o
"condutor que queira executar uma manobra deverá certificar-se de que pode executá-la sem perigo
para os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão cruzar com ele, considerando sua
posição, sua direção e sua velocidade". De seu turno, o art. 36 estabelece que o "condutor que for
ingressar numa via, procedente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência aos veículos e
pedestres que por ela estejam transitando". 2. O segurador sub-roga-se na proporção exata da
indenização paga ao segurado, consoante prescrevem o art. 786 do Código Civil e o enunciado n.
188 da Súmula do excelso Supremo Tribunal Federal. Essa sub-rogação advém, portanto,
diretamente da lei, que faculta à seguradora o exercício do direito de regresso contra o causador do
dano. (...) 4. Se a seguradora lastreou sua pretensão de ressarcimento em orçamento e notas fiscais
que detalham os serviços realizados e as peças utilizadas na reparação do veículo do segurado, não
há falar em sobrepreço no reportado conserto, máxime se as provas colacionadas aos autos são
insuficientes a demonstrar o aludido excesso. 5. Recurso conhecido e desprovido. Honorários
majorados.

(Acórdão 1203047, 07273502020188070001, Relator: SANDRA REVES, 2ª Turma Cível, data de


julgamento: 18/9/2019, publicado no DJE: 3/10/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Destarte, não há razões para modificação dos termos estabelecidos na sentença, motivo pelo qual ao
apelo deve ser negado provimento.

DO DISPOSITIVO

Ante o exposto, CONHEÇO do recurso, REJEITO a PRELIMINAR de nulidade por cerceamento


de defesa, e, no mérito, NEGO PROVIMENTO ao apelo, mantendo-se incólume a r. sentença.

Em relação aos honorários advocatícios recursais, majoro em 2% (dois por cento) os honorários
fixados na sentença, nos termos do artigo 85, §11, do Código de Processo Civil, observada a
suspensão da exigibilidade decorrente da gratuidade de justiça concedida.

É o meu voto.

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO, DESPROVIDO. UNÂNIME.

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