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Resumo
Este artigo se propõe a examinar o infográfico como subgênero jornalístico que ocupa
um lugar cada vez mais destacado na imprensa. Para isso, discute o papel do infografista
como co-autor de uma reportagem narrada graficamente para a visualização de um fato ou
evento. Como uma ferramenta, estrutura uma interação que pressupõe transmissão de idéias,
conceitos, mensagens. Como mediador da transmissão da informação o infografista formula
uma versão visual do mesmo, para outro sujeito: o leitor. Esta mediação não é neutra: as
escolhas formais e a sua abordagem influenciam a comunicação, seu conteúdo e a valoração
dos elementos em jogo.
Abstract
This article aims to examine the infographic as journalistic subgenre that occupies an
increasingly prominent in the press. For this, discusses the role of the infographic as co-
author of a story narrated to graphically display a fact or event. As a tool, an interaction
structure which requires transmission of ideas, concepts, messages. As mediator of
transmission of information the computer graphics experts formulates a visual version of the
same, to another subject: the reader. This mediation is not neutral: the formal choices and
influence their approach to communication, content and valuation of the elements in play.
1. Introdução
2. Objetivos
3. O que é um Infográfico?
Figura 01: Três versões do infográfico sobre o acidente do vôo TAM JJ 3054 (Rubens Paiva).
Fonte: acervo dos autores.
3.1. Origem
Não deixa de ser sintomático que a repulsa às imagens retorne com furor e
intolerância em nosso tempo. Denominarei essa nova investida contra as imagens de o
quarto iconoclasmo. Felizmente, ao menos por enquanto, tal como na sociedade grega
antiga, apenas no plano do pensamento filosófico, ou seja, nesse terreno que
poderíamos definir como sendo o do neoplatonismo. Hoje, a visão das massas
reunidas ao redor dos aparelhos de televisão é considerada, por um número bastante
expressivo de nossos intelectuais, tal qual aquela atribuída por Moisés ao povo judeu
reunido em torno do bezerro de ouro: uma insuportável manifestação da iconofilia e
da idolatria, um culto ao demônio, que se deve a qualquer preço combater.
(MACHADO, 2001, p.15).
Para Machado (2001), os pensadores franceses Guy Debord, com a sua “Sociedade do
Espetáculo”, e Jean Baudrillard são os que representantes do atual iconoclasmo. Para
Baudrilard, a mídia eletrônica e digital produz uma hiperrealidade, uma ficção de realidade
alucinatória e alienante, uma “desrealização fatal”. A isso Debord chama “a civilização das
imagens”. Ainda segundo o autor, esse delírio interpretativo já foi devidamente questionado e
superado, pois o papel da mídia não está definido a priori, nem é uma fatalidade histórica
intransponível, mas sim um processo negociado de sentido entre signos (mensagens
culturais), as realidades de que eles tratam e seus intérpretes (que lhes dão sentido).
Machado (2001) cita Fançois Dagognet, cuja obra considera a pintura e a imagem em
geral como necessários à ciência, como alicerce do pensamento rigoroso e complexo. O
desenho, segundo Dagognet, encontra-se de forma plenamente constituída no trabalho
iconográfico dos cientistas ”semióticos”, para os quais o registro gráfico desempenha papel
heurístico e metodológico (quando não ontológico) na investigação científica. Também Costa
(1998) evidencia a importância da visualização tecnocientífica. Para ele, o meio determina a
mensagem e seus modos de relação com os indivíduos.
Segundo De Pablos (1999), sempre houve infografia. Quando apareceu a imprensa
informativa a infografia se somou, porque o binômio imagem/texto é facilmente entendido
por qualquer leitor, e o jornalista de ontem e de hoje sempre teve claro que seu impresso deve
chegar ao maior número possível de leitores. Entretanto, as origens da visualização estão nos
diagramas geométricos, nas tabelas de posição das estrelas e nos mapas.
Figura 02: Infográficos históricos de William Playfair, Charles Joseph Minard e Florence Nightingale.
Fonte: The Economist.
Entre 1800 e 1849 temos o início da infografia moderna. William Playfair usou um
gráfico de barras e de linhas com dados econômicos na Inglaterra. O mesmo Playfair criaria
também um gráfico em forma de pizza, comparando proporções de um todo, fórmula visual
presente hoje em softwares de edição de texto e de apresentações. Em 1861, Charles Joseph
Minard representou graficamente a campanha russa na guerra de 1812 ilustrando a relação
número de soldados x queda das temperaturas. Outro nome importante é o de Florence
Nightingale, que além de ser considerada pioneira na área da enfermagem moderna, era
membro da Sociedade Real de Estatística da Inglaterra. Ela elaborou um gráfico que ilustra as
causas principais de mortalidade durante a guerra, o que contribuiu para a melhoria do
atendimento nos hospitais militares, ao mostrar que muitos soldados morreram de causas
evitáveis (figura 02).
A primeira metade do século XIX foi responsável por uma explosão no crescimento de
gráficos estatísticos e de mapeamento temático, graças às inovações obtidas no século
anterior. Grande parte das formas dos gráficos estatísticos conhecidos hoje foi desenvolvida
nesta época.
Ao longo dos tempos, desde Gutenberg, o hábito da leitura cresceu continuamente até
transformar-se em uma habilidade indispensável ao homem. Um sem-número de atividades
passou a depender da leitura. A necessidade crescente de informação aumentou sua
velocidade. Com seu advento e sua evolução técnica, a fotografia é incorporada aos diários –
à medida que a tecnologia de impressão assim o permite – o que aumentou seu caráter tanto
informativo como documental. A experiência visual com um fato antes apenas narrado sob
forma de texto era um avanço inquestionável. O surgimento das mídias audiovisuais e sua
popularização afetaram a maneira como os jornais diários noticiam, buscando uma linguagem
cada vez mais rápida, telegráfica, e acessível às novas massas de leitores.
Mas foi com o surgimento do computador pessoal, mais especificamente do Macintosh
da Apple, em 1985, que a infografia se assenta como um dos pilares dos periódicos
contemporâneos. Começava uma pequena revolução visual, sacudindo e renovando a letargia
reinante no meio editorial através de uma quebra generalizada de regras, que, se não foram de
todo institucionalizadas, resultaram em reformas cujo centro pode ser expresso numa grande
valorização da expressão visual.
Tendo percorrido toda uma trajetória evolutiva que o dotou de uma grande agilidade
de leitura ao mesmo tempo em que o municiou de um arsenal de códigos visuais bem mais
abrangente, o leitor médio estava pronto para um salto em temos de narrativas informacionais.
Hollywood, as histórias em quadrinhos e a televisão, além da imprensa, criaram uma
população não apenas ávida por todo e qualquer tipo de informação, mas muito mais
preparada para o consumo desta através das imagens. O modernismo, com uma profusão de
escolas e estilos nunca vistos até então, inaugurava uma era caleidoscópica onde a informação
algum modo estar conectado a um banco de dados onde o assunto possa estar expandido ou
desenvolvido.
Figura 03: Exemplos de diagramas, em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: ilustrativos (Nigel
Holmes), estatísticos (Trevor Bounford), relacionais (John Grimwade), organizacionais (Nigel Holmes) e
temporais (Trevor Bounford).
Fonte: Bounford (2000).
Para Souza (2005) a suposta neutralidade propalada pelo design modernista é uma
ilusão: apresentar, descrever, desvelar o mundo (e não apenas seu conteúdo) participa dos
processos de interpretar e representar o mundo, de consentimento social e pessoal. Obedecer
apenas aos princípios do utilitarismo ou servir apenas para chamar a atenção é um
reducionismo não só do papel do design como do jornalismo: sua missão e vocação é
interpretar ativamente o cotidiano e esclarecer o leitor.
O caráter “vivo” e pouco abstrato do imbricamento entre texto e imagem seria
responsável pela facilidade de aquisição, retenção e recordação da informação. Porém, a
infografia, como de resto toda informação editorial, não é dispositivo neutro que
invariavelmente expõe dados de forma inequívoca e precisa. Pode reforçar modelos de poder
e dominância pela ênfase em determinados assuntos ou classes sociais e pela reprodução de
estereótipos para representar sinteticamente determinados elementos ou situações denotadores
de status. Um empresário, por exemplo, tende a ser sempre representado por um homem
branco de terno e valise. Sua origem na informação militar é sintomática. Quando lhe
atribuem um caráter documental eles podem se tornar particularmente persuasivos.
De acordo com Peltzer (1992) podemos considerar a existência de vários gêneros
dentro do jornalismo infográfico, que corresponderiam a subsistemas formais e artificiais de
imposição de alguma ordem à realidade ou de antecipação das experiências dessa realidade.
Porém, esses gêneros, além de se combinarem nos infográficos mistos (que constituem, aliás,
a maioria dos infográficos) não têm fronteiras rígidas.
Ainda segundo o autor, são quatro os fatores decisivos para a adoção do infográfico ter
se dado de maneira definitiva: transmissibilidade, editabilidade, difusão e armazenamento. A
informação gráfica tem seus limites, como qualquer outra. Fora os limites naturais da mera
informação, a principal delas é que a mensagem da qual dispomos possa ser transferida
através da linguagem visual.
A transferência visual é a capacidade que uma notícia tem de, como todas, ser
comunicada de forma exclusivamente literária, mas que também poderá ser
apresentada, total ou parcialmente, de forma gráfica, não analógica mas sim
desenhada, criada pelo artista, para evidenciar seu conteúdo e facilitar sua
comunicação. (DE PABLOS, 1999, p.30)
7. Considerações Finais
8. Referencias Bibliográficas