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PRIMEIRA AMOSTRA DOCUMENTAL

HÉLADE

1. DUAS MODALIDADES DE TRABALHO COMPUSÓRIO

Os habitantes de Quios foram os primeiros a usar escravos depois dos tessálios e dos
lacedemônios, mas não os adquiriram da mesma maneira que estes últimos. Com efeito,
lacedemônios e tessálios [...] constituíram o seu grupo servil a partir de gregos que viviam antes
deles nas regiões que agora ocupam, [...] Aqueles chamaram hilotas os povos reduzidos à
servidão; estes, penestes. Quanto aos habitantes de Quios, fizeram dos bárbaros servidores, e o
fizeram pagando para tal um preço.

(Fragmento do capítulo XVII das Filípicas de Teopompo, reproduzido no Banquete dos


Sofistas de Ateneu, VI, 265, b-c)

2. SERVIDÃO POR DÍVIDAS

Mais tarde sobreveio a discórdia entre os nobres e a massa do povo por muito tempo.
De fato a sua constituição era em tudo oligárquica e, além disso, os pobres eram escravos dos
ricos: eles, os filhos e as mulheres. Eram chamados pelatas (pelátai) e hectêmoros1, já que, por
tal arrendamento, trabalhavam os campos dos ricos. Toda a terra estava repartida por uns
poucos. E, se não pagavam as rendas, eram reduzidos à servidão, eles e os filhos. E as dívidas,
todos as apagavam com a sua própria pessoa até ao tempo de Sólon, o primeiro que se
converteu em chefe do povo. De fato, para a maioria, o mais penoso e amargo dos males do
regime era sem dúvida a servidão.

(Aristóteles, Constituição de Atenas, 2, 1-3)

3. DESCONTENTAMENTO NOS FINAIS DO SÉCULO VII ANTES DA ERA CRISTÃ

Terminada a perturbação, devido à tentativa de Cílon, e exilados, como ficou dito, os


“sacrílegos”, os atenienses renovaram as antigas lutas pelo governo do Estado, dividindo-se a
sociedade em tantas facções quantas eram as partes do território. Os diácrios (diakriói) eram os
mais convictos defensores da democracia e os pedieus (pediakoi) da oligarquia; o terceiro
grupo, os parálios (parálioi), preferindo uma forma de governo de certo modo intermédia e
mista, constituía um obstáculo a uns e a outros e impedia que um deles predominasse. Como
nessa altura a disparidade entre ricos e pobres tinha, por assim dizer, atingido o vértice, a cidade
atravessava uma situação crítica ao extremo e parecia que apenas conseguiria estabilidade e
cessaria as desordens pelo estabelecimento de uma tirania. De fato, todo o povo estava
sobrecarregado de dívidas aos ricos: trabalhavam a terra entregando-lhes a sexta parte do
produto – e por isso se chamavam hectêmoros e tetas – ou contraíam empréstimos com garantia
da sua pessoa. Ficavam assim na dependência dos credores, uns servindo-os como seus escravos
e outros vendidos no estrangeiro. Muitos se viam forçados a vender os próprios filhos – pois
nenhuma lei o proibia – e fugir da cidade, devido à dureza dos credores. A maioria, porém, os
mais corajosos, associavam-se e exortavam-se mutuamente a não ficarem quietos, mas a
escolher como dirigente um homem de confiança que libertasse os devedores insolventes,
procedesse a uma nova repartição da terra e reformasse por completo a constituição.

(Plutarco, Sólon, 13)

1
Hectémoroi, “ o homem da sexta parte”. Segundo uns o rendeiro ficava com 1/6 da colheita, segundo
outros dava 1/6 ao proprietário da terra.
4. A VIDA CÍVICA E O COMPORTAMENTO TIRÂNICO

HÉMON Não o afirma o povo de Tebas.


CREONTE E é a pólis que me vai dizer o que devo ordenar?
HÉMON Vês que respondes como se fora uma criança?
CREONTE É, pois, outro, e não eu, que deve governar este país?
HÉMON Nenhuma pólis é pertença de um só homem.
CREONTE Não se considera que a pólis é de quem manda?
HÉMON Sozinho, numa terra deserta, é que governas bem.

(Sófocles, Antígona, vv. 733-739)

5. A EXTENSÃO IDEAL DE UMA CIDADE

Quanto aos bons amigos, será preferível ter o maior número possível, ou convém
guardar uma certa medida na quantidade, como acontece com o de cidadãos na pólis? É que
nem dez homens constituem uma pólis, nem com cem mil existe já uma pólis. A medida, no
entanto, não é por certo um número determinado, mas um conjunto dentro de certos limites.

(Aristóteles, Ética a Nicômaco, 9. 10, 1170b 29-35)

ROMA

6. DA REALEZA À REPÚBLICA

Mas os romanos, atentos quer na guerra quer na paz, apressavam-se, preparavam-se,


uns aos outros, marchavam de encontro aos inimigos, protegiam com as armas a liberdade
(libertas), a pátria e os parentes. Depois, quando pelo seu valor haviam repelido os perigos,
prestavam auxílio aos amigos e aliados, e contraíam amizades mais por conferirem benefícios,
que por receberem. O poder (imperium) legítimo que tinham era denominado realeza; homens
escolhidos, cujo corpo estava debilitado pelos anos, mas cujo engenho valia pela sabedoria,
eram os conselheiros do Estado (res publica), esses, ou pela idade, ou pela semelhança do seu
desvelo, chamavam-se patres. Depois, quando o poder real, que de início servira para conservar
a liberdade (libertas) e fazer prosperar o Estado (res publica), se converteu em orgulho e
prepotência, alteraram os costumes, criando um governo anual, com dois chefes; desse modo
pensavam eles que o espírito humano seria menos capaz de se tornar insolente por excesso de
liberdade (libertas).

(Salústio, A Conjuração de Catilina, VI, 4-7)

7. O ÓDIO À REALEZA

Passados então esses duzentos e quarenta anos de realeza (ou um pouco mais com os
interregnos), e depois da expulsão de Tarquínio, foi tal o ódio que o povo romano tomou ao
título de rei, quanto a saudade que sentira depois da morte, ou melhor, da partida de Rômulo. De
tal modo que, tal como então não poderia estar privado de um rei, agora, após a expulsão de
Tarquínio, não podia ouvir o nome de rei.

(Cícero, A República, II.30.52)

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