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DIFERENTES SADHANAS DE YOGA

O Yoga se constitui, antes de tudo, em um caminho de auto-realização para o


indivíduo. Fundamentalmente, fornece um objetivo existencial, um critério para
todos os nossos comportamentos.

Sendo assim, compreende um vasto corpo teórico que abrange diferentes


métodos, cujo objetivo é levar as pessoas à sua auto-realização.

Esses métodos são apenas “bengalas”, apoios e não são por si só suficientes
para que se atinja a meta do Yoga, isto porque, como para qualquer caminho
de realização, ele tem necessidade que o homem coloque seu aspecto volitivo
(a sua vontade, perseverança) à disposição desta meta.

Como se dá a auto-realização no Yoga?

Transcendendo-se a si mesmo. Ultrapassando nossos invólucros exteriores.

A transcendência do nosso eu, é a reintegração na essência das coisas do


Universo. Neste momento, ultrapassamos o limiar da nossa individualidade,
sem que, no entanto, a percamos.

Samadhi - é um permanente estar dentro da essência. Anulação da


individualidade, porém acordado, ou seja, consciente da diferença que existe
entre o eu e o objeto.

Os diferentes métodos de realização, que compõem o corpo teórico e prático


do Yoga, levam em conta as diferenças de personalidade e disposições dos
indivíduos, procurando propor assim, diferentes caminhos para se atingir o
mesmo fim.

Os nomes Hatha, Rāja, Bhakti, Jñāna, etc, estabelecem o conjunto de adjetivos


que vão identificar qual aspecto que vai ser mais enfatizado dentro deste
objetivo comum que é o Yoga. (Pois que a palavra Yoga aparece ligada
sempre a qualquer um desses objetivos).

Deste ponto de vista, não se pode, portanto, falar em uma escola inferior ou
superior em relação ao Yoga. Todas, sem exceção, pretendem o mesmo alvo
que é a reintegração do homem com a Essência Universal.

Muitas diferenças metodológicas devem-se ao próprio desenvolvimento do


Yoga, enquanto sistema filosófico, desde o seu nascimento nas Śrutis
(Revelações) até seu gradual desenvolvimento nos diferentes textos védicos e
da influência que recebeu também do Tantrismo. Esta influência é mais ou
menos marcante conforme a escola ou a prática espiritual (sadhana) que se
tem em vista.

Os Sutras (fios condutores) ou aforismos do Yoga, de autoria atribuida a um


sábio de nome Patañjali, foI a obra fundamental do sistema filosófico do Yoga.

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Não se sabe a data precisa da sua redação original, (entre o II século a.C.e o
IV d.C.) Patanjali compilou o Yoga, ou seja, reuniu todo o conhecimento
existente a respeito do Yoga no seu famoso “Os Yogasutras de Patañjali”. Esta
obra resume aquilo que se convencionou chamar: Rāja Yoga.

No entanto, “Os Yogasutras de Patañjali” não se resume no único texto de


Yoga existente. Outro, como o Bhagavad Gitā descreve outros sistemas como
o Karma Yoga e o Bhakti Yoga.

Em sua mais antiga forma conhecida, o Yoga parece ter sido a prática da
introspecção disciplinada ou da concentração meditativa, associada aos rituais
de sacrifício. È sobre esta forma que o Yoga se nos apresenta nos Quatro
Vedas, os primeiros e mais preciosos textos sagrados do Hinduísmo.

Essas quatro coletâneas de hinos contêm o conhecimento revelado da


civilização védica, cujos ritos sacerdotais tinham que ser cumpridos com
perfeita exatidão e exigiam a máxima concentração fazendo com que os
depositários do conhecimento sagrado tivessem uma disciplina mental
rigorosa.

Essa foi a raiz que deu origem, cerca de dois mil anos mais tarde, nos
ensinamentos esotéricos dos Yogas das Upanishads, a um conjunto imenso de
práticas e explicações mais ou menos elaboradas acerca da transcendência
humana. (A palavra Upanishad é composta de três palavras: upa + ni + shad.
Upa quer dizer “próximo”, ni “atentamente” e shad “sentar”. Assim o termo
descreve a situação na qual estes textos inigualáveis foram transmitidos. Os
estudantes ou discípulos sentavam perto do mestre realizado e escutavam
atentamente suas experiências e seu entendimento da realidade última).

O legado yogue foi passado de mestre a discípulo por transmissão oral. O


termo sânscrito que designa essa transmissão do conhecimento esotérico é
Paramparā, que significa literalmente “um após o outro’’, ou ‘’ sucessão”.

Com o tempo, muitas coisas foram acrescentadas e muitas outras descartadas


ou modificadas, porém cada um desses sistemas que encontramos nos
diferentes tratados têm o mesmo objetivo e diferem, apenas, quanto à
metodologia da prática. E, mesmo em relação a esta, há muitos pontos em
comum, que fazem com que não obstante, a diversidade metodológica, o Yoga
forme um sistema único de auto-realização e não uma “colcha de retalhos”,
como se poderia supor no início.

No contexto do Hinduismo seis grandes formas de Yoga adquiriram


proeminência: Rajā Yoga, Hatha Yoga, Jñāna Yoga, Bhakti Yoga, Karma Yoga
e o Mantra Yoga. A esses devem acrescentar o Laya Yoga e o Kundalini Yoga,
que estão intimamente ligados ao Hatha Yoga. Estes dois últimos também se
integram ao Tantra Yoga.

Uma das primeiras perguntas que se faz, então, é: como se dá o processo de


realização no Yoga? Qual o instrumento para isto?

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O instrumento somos nós mesmos, em todos os aspectos que integram a
nossa humanidade, isto é: aspecto, físico, mental, emocional e espiritual.

O homem constitui-se no instrumento e no próprio objetivo dentro do Yoga,


pois é, através dele e nele que irá realizar-se. É pelo corpo, utilizando o seu
potencial físico, psicológico e mental que poderá voltar-se para dentro de si
mesmo, realizando-se plenamente enquanto homem, através de uma vivência
pessoal e íntima específica de cada indivíduo, e não de algo exterior a ele.
Este processo é extremamente ativo e nunca passivo como pode parecer à
primeira vista.

Também a simples execução de práticas de meditação, prānāyāmas ou āsānas


não são suficientes para atingir este objetivo, a menos que o discípulo
realmente esteja empenhado em realizar-se através do Yoga.

O que ocorre na maioria das vezes é o fato das pessoas se aterem a esses
exercícios (que são apenas bengalas, apoios) como se eles se estabelecessem
no objetivo por si só. É nesse momento que ocorre o engano. Despido de seu
significado real, o Yoga passa a se constituir numa técnica apenas.

Assim, por exemplo, no Ocidente o Yoga é encarado como uma forma de


treinamento físico, terapia médica, psicológica, de emagrecimento, etc. Enfim,
encontramos o Yoga interpretado como um sistema de técnicas cujo objetivo é
o de ser um corpo teórico a serviço de quem tiver sido colocado.

Muitas vezes algumas dessas bengalas são até dispensáveis para


determinados discípulos. No entanto, dentro da nossa mentalidade tecnocrata,
andamos sempre atrás de técnicas ou de maneiras fáceis de atingir um
objetivo.

Esta é uma das principais razões do afã pelas quais as pessoas procuram e se
atiram aos métodos do Yoga buscando desesperadamente encontrar a
“Grande técnica” que as conduzirá à realização, ao invés de buscar a própria
realização.

É assim, que comumente, as discussões se organizam em torno de técnicas e


não ao redor do que é a verdadeira meta do Yoga, pois buscamos um método
ou um meio que nos leve facilmente ao nosso objetivo sem que exija de nós
muito esforço.

Por essas razões a escolha de um sistema de sadhana dentro do yoga deve


basear-se unicamente em nossa própria maneira de ser, ou seja, dentro
daquele que nos adaptamos melhor.

Sendo assim, a discussão sobre que escola é superior, qual a hierarquia


existente entre elas, é indiferente dentro do objetivo do Yoga. Quando falamos
de diferentes escolas ou tipos de práticas espirituais, na verdade estamos
falando de diferentes metodologias dentro de um mesmo corpo teórico.

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Todos os ramos do Yoga têm em comum o fato de estarem ligados a um
estado de ser ou de consciência extraordinário; a auto-transcendência.

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