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Tradições Religiosas

Aula 5: A História das religiões indianas: Hinduísmo e Budismo

Apresentação
Na Ásia, mais especificamente na Índia, existe uma das formas religiosas mais antigas do mundo — o Hinduísmo, que é
uma forma de religião complexa, com correntes de pensamentos religiosos que nasceram milhares de anos antes de
Cristo. O Hinduísmo é a terceira maior religião do mundo, com aproximadamente um bilhão de seguidores. 

Você sabia que foi na Índia que o Budismo nasceu? No Budismo não existe a figura de um deus, mesmo assim o Budismo
é visto como uma religião, a quinta maior do mundo. 

Nesta aula, descobriremos o que significa o nobre Caminho do Óctuplo no Budismo, bem como estudaremos as tradições
religiosas dessas duas religiões de origem indiana e como elas influenciam diretamente no comportamento social dos
indivíduos que as praticam.

Bons estudos!

Objetivos
Reconhecer a experiência e a religiosidade indiana, a partir das tradições religiosas que a estruturam;

Analisar as tradições religiosas do Hinduísmo como sendo a base de ordenamento social;

Esclarecer a filosofia religiosa budista.

Primeiras palavras
A Ásia sempre encantou e despertou o desejo do Ocidente pelas suas riquezas. Alguns deuses greco-romanos foram
importados de lá, como Dionísio (ou Baco). As mercadorias mais valorizadas pelos ocidentais também vinham de lá. Como
você sabe, até nossos índios são chamados de índios porque os portugueses erraram o caminho para das Índias e chegaram
aqui.

Além da riqueza material, a Ásia também possui uma riqueza religiosa capaz de fascinar qualquer estudioso das tradições
religiosas — e a Índia é o principal centro irradiador dessas tradições.
 Estatueta de Ganesha | Fonte: Content_creator / Shutterstock

O Hinduísmo, a principal religião da Índia, é vista no Ocidente como uma religião homogênea, mas não é. O Hinduísmo possui
diversas tradições, e é tão complexo, que não é possível defini-lo como uma única religião.

Você sabe como foi criada a palavra Hinduísmo?

A palavra Hinduísmo não foi criada pelos indianos, quem a criou foram os ingleses em uma tentativa de descrever as
expressões religiosas e a religiosidade das comunidades que foram dominadas por eles no século XIX. Os ingleses usavam a
palavra hindu como sinônimo de indiano em clara demonstração de etnocentrismo. Na Índia existem cristãos, islâmicos,
budistas e muitas outras religiões. 

O que se convencionou chamar de Hinduísmo é um conjunto de tradições religiosas que possuem uma origem comum ou
parecidas, mas não são iguais. Isso acontece porque o conjunto de tradições que compõem o Hinduísmo nasceram de
ensinamentos escritos. Existem várias escrituras compiladas de ensinamentos anteriormente transmitidos de forma oral, que
são interpretadas, com variações diferentes, pelas escolas de pensamento hindu.

Hinduísmo
 Budismo

Apesar de ter origem nas escrituras sânscritas como o Hinduísmo, o Budismo se diferencia do Hinduísmo e das outras
religiões por não crer na existência de um deus supremo ou deuses.

Como existe uma religião sem Deus ou deuses?

O budista acredita que se seguir um conjunto de regras específicas chegará à iluminação. Quem consegue chegar à
iluminação travou uma luta contra os desejos e instintos humanos e venceu, deixou o plano físico e passou ao plano
espiritual, vivendo a plenitude da serenidade.

 Estátua de Buda | Fonte: Mai111 / Shutterstock


Vamos agora discutir essas duas religiões e suas tradições religiosas.

Hinduísmo
O Hinduísmo é uma das culturas religiosas mais importantes do mundo. Não só pela pluralidade de seus ritos, deuses e gênios.
Isso a distingue das outras, mas o mais importante é o papel que o Hinduísmo desempenha na estruturação da sociedade
indiana.

O Hinduísmo é formado por um conjunto de tradições e costumes que servem de guia para os crentes. Apesar de haver
inúmeras tradições internas que diferenciam as expressões religiosas hindu, a estruturação social é pautada em um princípio
chamado Dharma. É esse princípio que organiza a vida social e o comportamento social do hindu.
O que é o Dharma?

O Dharma possui várias regras que devem ser obedecidas — e vividas pelo crente — que torna seu entendimento difícil para
quem não foi criado dentro da cultura hindu. Essa complexidade é um dos motivos para o preconceito ocidental.

A tradução de Dharma, ao pé da letra, significa ordem, mas também é


chamado de Caminho Eterno. Ele define qual o comportamento correto e
quais rituais devem ser praticados pelo indivíduo quando se relaciona com
os deuses ou divindades, com sua família e com a casta da qual faz parte. O
Dharma normatiza como o indivíduo deve se comportar em sociedade e
como deve cultuar as divindades. Ele pode ser definido como a verdade
religiosa.

O hindu acredita que todas as coisas têm seu Dharma, sua ordem dentro do Cosmo. Nada é aleatório. Todas as coisas são
regidas por uma lei, por um dever eterno. É essa certeza que manteve durante milênios — e ainda mantém — a religiosidade do
hindu.

Isso é bom? Não sendo etnocêntrico, apenas analisando os fatos à luz da racionalidade ocidental, essa organização social,
constituída a partir de princípios religiosos, ajuda a perpetuar situações de exploração ou exclusão social. As tradições
religiosas hindus têm na sociedade de casta um de seus pilares de sustentação.

Você sabe o que são castas?

Leia o texto “A sociedade de castas” para entender o que são castas.


A sociedade de castas


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A sociedade de castas
Elas são uma forma de divisão social que nasceu na Índia, segundo alguns estudos, em 1500 a.C. Na origem, o
sistema não era hereditário. A casta do indivíduo era determinada pela sua aptidão em vida. Uma pessoa justa,
possuidora de grandes virtudes morais e espirituais, faria parte da casta sacerdotal, os Brâmanes. Pessoas que
demonstrassem aptidão para governar ou para a guerra eram indicadas para a casta Xátria. Quem possuía tino para
os negócios pertencia à casta Vaishyas. Todos os outros pertenciam à casta Shudra, que incluía os fazendeiros e
artesãos etc.

Entretanto, depois da criação de um código de conduta chamado Manusriti, por volta do século IV d.C, os sistema foi
institucionalizado. Quem o escreveu retirou da religiosidade indiana seu argumento legitimador e tornou o sistema de
casta hereditário.

A divisão da sociedade indiana em castas surgiu da crença de que a alma do universo, também chamada de Purusha,
foi morta pelos deuses para criar o mundo. De sua cabeça teriam nascido os Brâmanes, de seus braços teriam
nascidos os Xátrias, de suas coxas haviam nascido os Vaishyas e dos seus pés teriam nascido os Shudra.

Há uma ordem hierárquica na sociedade de castas. Brâmanes (cabeça), Xátrias (braços), Vaishyas (coxas) e Shudra
(pés). Quem não pertence a nenhuma dessas castas é chamado de Dálit (pessoas consideradas sem direitos e
impuras).

Desse modo, a alma do universo foi usada como argumento para legitimar a discriminação e exclusão social nascida
da sociedade de casta. A religiosidade dos hindus legitima a estratificação social e a exclusão das pessoas que “não
descendem da alma do universo”.

Os deuses e avatares

Se você for estudar os Vedas verá que existem 33 divindades principais que habitam o céu, o ar e a terra. Esses deuses são
descritos como seres ou forças da natureza e podem se apresentar de diversas formas, mas os mais importantes são Brahma,
Shiva e Vishnu, a trindade hindu. Eles são responsáveis, respectivamente, pela criação, manutenção e destruição do mundo.
Vamos conhecê-los.

Brahma Vishnu Shiva


É considerado a força criadora do É o deus responsável pela Apesar de ser chamado de
universo. Ele criou tudo e está manutenção, proteção e destruidor, é também o deus
presente em tudo que existe. sustentação do universo e sua associado à renovação e
imagem também possui todo um transformação — na mitologia hindu
simbolismo. ele destrói para reconstruir.
Leia o texto “A trindade hindu” para conhecer um pouco mais sobre esses deuses.


A trindade hindu


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A trindade hindu
Brahma

Sua imagem carrega todo um simbolismo:

Os quatro rostos recitam os quatro Vedas;


A barba significa sabedoria;
As quatro mãos significam autoconfiança, o ego, a meditação, e o intelecto;
A flor de lótus representa a natureza e a essência de todos seres vivos;
O livro significa conhecimento.

Vishnu

A imagem de Vishnu possui alguns simbolismos:

A concha possui os cinco elementos que criaram o universo: ar, fogo, água, terra e o éter, a quinta-essência;
O disco representa o controle dos sentimentos e é uma arma usada contra demônios;
A flor de lótus representa a verdade e a pureza que não podem ser escondidas por ilusões ou mentiras;
O cajado simboliza a força que dá origem a todas as outras forças que existem.

Na tradição hindu, é o deus Vishnu que reencarna em animais e homens todas as vezes que o mundo fica em perigo.
Ele é o responsável por manter a harmonia e a paz criada por Brahma.

Shiva

Os hindus associam sua imagem ao fogo que destrói para renovar, à fertilidade, à ioga, à passagem do tempo natural,
à água e sua importância para a vida.

Os livros sagrados
É difícil entender o Hinduísmo se você não nascer dentro da cultura hindu, porque são muitos deuses e muitas tradições.
Existem alguns livros sagrados que orientam as tradições religiosas hinduístas. Eles não foram escritos por pessoas santas
nem ditados por um deus, mas explicam o surgimento do mundo, dos deuses, dos rituais sagrados e dos sacrifícios que devem
ser feitos pelo crente.

Esses livros dividem-se em duas categorias:

Os que tratam da verdade revelada Os que tratam da tradição

 
Livro dos vedas Upanixades
Mas, existem outros livros:

1 2

Smritis Ramayana
Tratam da moral e doutrina. Transmite a forma correta de agir e do dever do indivíduo.

3 4

Mahabharata 18 Puranas
Contém o Bhagavadguitá, ou a mensagem filosófica de Discutem mitologia, normas legais, formas de rituais,
Krishna. encarnação e a trindade hinduísta: Brahma, Vishnu e Shiva.

Também há os Dharma Sastras, Agamas, Tantra, os Vedangas. Os livros sagrados formam a base da religião, dos ritos e da
filosofia hindu, pois lhes dão forma.

Leia o texto “Livro dos Vedas e Upanixades” para conhecer as categorias de livros.


Livro dos Vedas e Upanixades


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Livro dos Vedas e Upanixades
Vedas

Como mencionamos, são os livros que tratam da revelação, do divino. São um conjunto de quatro livros que se
subdividem em vários outros.

1. O Rig-Veda, o primeiro livro dos Vedas, é formado por dez livros que descrevem o mundo e suas três esferas: a
terra, o céu e ar — cada uma habitada por vários deuses;
2. O segundo livro, Sama-Veda, ensina e explica como cada canção deve ser recitada para homenagear os deuses;
3. O terceiro livro, Yajur-Veda, é uma coletânea de cânticos e fórmulas mágicas que devem ser realizadas nos rituais
de sacrifícios;
4. O quarto livro, o Atharva-Veda, é uma compilação de cantos e fórmulas mágicas criadas por sacerdotes.

Cada livro dos Vedas é dividido em duas partes:

A Samhita, em que são lidos os cantos ou mantras;


Os Brahmanas, que são os comentários das partes lidas ou cantadas.

Dica

A parte mais antiga dos Vedas, escrita milênios antes de Cristo, trata de uma religião específica, usualmente chamada de
Bramanismo. Os outros livros foram unidos aos antigos entre os séculos VII e III a.C. Só depois da incorporação é que o
Hinduísmo como conhecemos passou a ser caracterizado.

Upanixades

Como falamos, são os livros que tratam da tradição. São 108 textos que pregam a reflexão e a busca pelo seu princípio
divino, Brahman, que é a eterna unidade do Universo. Ele não é um deus; é a alma do Universo e a essência da vida.

Dica

Não confunda Brahman com o deus Brahma. Os nomes são parecidos, mas não significam a mesma coisa. Brahma é o deus
que criou o universo, Brahman é o princípio divino, a essência das coisas.

O Brahman existe em todas as coisas, e os textos dos Upanixades pregam a busca pela unidade do homem com o
universo. Paramatman (alma do mundo) e Jivatman (alma humana) devem se tornar uma só, devem se fundir. Para se
chegar a esse estado pleno, o indivíduo deve viver em contemplação e evoluir para um estado de repouso absoluto.
Caso consiga chegar a esse estágio, o espírito se desliga do mundo terreno e evolui para o nirvana.

A tradição hindu diz que o objetivo final do indivíduo é ser absorvido pelo absoluto, é voltar para a origem de tudo. Mas,
para que isso aconteça, a pessoa tem que evoluir, deve se desapegar de tudo o que é material, pois a matéria é a
origem de toda dor e sofrimento.

A tradição diz que todos os indivíduos vivem em um ciclo eterno de morte e renascimento (Samsara) porque não
conseguem perceber que o mundo temporal é uma ilusão, que quanto mais se vive nele, mais distante se fica do
Brahman. A evolução acontece quando a pessoa começa a compreender isso.

A contemplação e a meditação levam à sabedoria, que leva à libertação, que leva à evolução, que põe fim ao ciclo de
nascimento e morte, que torna o indivíduo uno ao Cosmo, que o leva ao nirvana.

Na tradição religiosa hindu a busca pela evolução do espírito rumo ao absoluto é uma realidade que deve ser vivida
pelo crente. Para alcançar esse objetivo, o crente deve tentar, durante toda a sua vida, alcançar quatro objetivos.
Ele deve buscar sempre a retidão no comportamento e assim diminuir a quantidade de reencarnações que ele viverá,
até que elas acabem. Quando ele conseguir alcançar essa retidão no comportamento, o ciclo de reencarnações
acabará e ele vai se unirá ao ser absoluto.

Essa busca pelo infinito é a base da ética hindu. Já estudamos que Dharma é o Caminho Eterno, o guia que ordena a
sociedade hindu. Para que o hindu se una ao Absoluto (chegue ao Nirvana), ele deve parar de reencarnar (sair do ciclo
de Samsara). Para que isso aconteça, ele deve buscar uma vida onde os apelos da vida terrena devem ser renegados
(acabar com os Karmas). No dia em que conseguir fazer isso ele se libertará do ciclo de reencarnações (Moksa) e se
harmonizará com o universo, com o absoluto, com o Brahman.

Os rituais
A religião tem nos rituais sua expressão maior. Os deuses devem receber sacrifícios para poderem exercer seus poderes.  

Os sacrifícios podem ser feitos de várias formas: banquetes, em que são oferecidos bolos, arroz, leite e até animais mortos em
homenagem ao deus. Também é necessário que haja danças e música para animar os deuses.

Exemplo

Os rituais são uma forma de expressar a devoção e a fé do crente, e ainda há na Índia rituais e sacrifícios que chocam o
Ocidente. A maioria é proibida hoje em dia, mas são praticados pelos crentes como forma de devoção e fé.

O Sati é um deles. Neste ritual, a esposa viúva, para provar sua devoção ao marido, joga-se na pira em que o marido está sendo
queimado.

Outro ritual proibido ainda praticado é o sacrifício de pessoas em nome da deusa Kali.

Nos rituais, os hindus pedem proteção contra doenças, demônios e inimigos; pedem boa colheita, riqueza, honra, filhos, vida
longa, expiação de culpas. É nos rituais que a experiência com o sagrado se realiza e o praticante chega ao êxtase religioso.

A meditação é uma outra maneira dos hindus vivenciarem a experiência com o sagrado. Eles acreditam que o ato de meditar
ao seu dharma dá conhecimento, e o faz viver o êxtase religioso, por meio da redenção espiritual. 

Tanto nos rituais como na meditação há a entoação de mantras para se chegar ao êxtase religioso e para que a experiência
religiosa seja vivida de forma plena.

O que é um mantra?

Um mantra é um som, a repetição de sílabas que carregam em si um poder cósmico (shakti). É um pensamento manifestado
em uma sequência de sons. Ele não precisa ter um significado verbal, o que importa é o som.

Atividade
1 - O Hinduísmo, como nós conhecemos, nasceu no século XIX, em uma tentativa do Ocidente de entender as diversas formas
religiosas que existiam na Índia. Dito isso, explique o que é o Hinduísmo moderno.

2 - Os rituais sempre foram parte importante da experiência religiosa e da religiosidade hindu. No passado, e ainda hoje, a
dança e o ato de fazer oferendas ainda fazem parte dos rituais. Atualmente, as oferendas se restringem à oferta de comida,
perfumes e outras coisas comezinhas, no entanto, até o século XIX, o sacrifício de animais e a imolação de pessoas em rituais
ainda eram praticadas. Sabendo disso, faça uma pesquisa sobre as práticas ritualísticas hindus, mais especificamente, sobre
os rituais em que havia o sacrifício de animais e/ou pessoas, explicando qual a finalidade do sacrifício. 


Budismo

O Budismo é uma religião, ou filosofia religiosa, que nasceu mais ou menos no século V a.C., na Índia. O Budismo
possui a mesma origem do Hinduísmo, o livro dos Vedas, entretanto, nasceu como uma religião que se opôs aos
sacerdotes Brâmanes e suas visões sobre a religião Brâmane.

Ao contrário do Hinduísmo, o Budismo tem um fundador, Sidarta Gautama, um príncipe que abandonou a realeza para
viver de forma ascética, mendigando e passando por diversos sofrimentos físicos, na busca pela compreensão das
causas do sofrimento e da dor.

 Estátua de buda | Fonte: Vectorx2263 / Shutterstock


A base da filosofia budista é a certeza de que a salvação e o fim do ciclo de Samsara (reencarnações sucessivas) só ocorrem
por meio da iluminação. Essa forma de entender a religião hindu pregada por Sidarta foi de encontro a diversos ensinamentos
existentes no livro dos Vedas e defendidos pelos sacerdotes brâmanes.

Leia o texto “Pontos divergentes entre o Hinduísmo e o Budismo” para conhecer as diferenças entre essas religiões.


Pontos divergentes entre o Hinduísmo e o Budismo


Clique no botão acima.

Pontos divergentes entre o Hinduísmo e o Budismo


Observe outros pontos divergentes entre o Hinduísmo e o Budismo:

Rejeição da autoridade dos Vedas


Os budistas rejeitaram o que os Vedas definiam como revelação e criaram sua própria tradição (Upanixades). Essa
nova tradição, ou forma de interpretação da religião hindu, criticava o sacrifício como base para os rituais e também o
culto a divindades específicas.

Negação da sociedade de castas


O primeiro Buda era da casta dos xátrias, não dos brâmanes. Esse fato, e a aceitação dele como algo natural, colocava
em cheque a afirmação brâmane de que o valor espiritual da pessoa estava diretamente ligada à sua casta.

Iluminação independe do Cosmo


Você se lembra de que a tradição é uma das bases da religião hindu? Os budistas criaram sua própria tradição e ela se
chocou com o que era ensinado nos primeiros livros Upanixades. Neles é dito que a libertação da alma, a iluminação
do ser acontece quando a essência do indivíduo se une com o absoluto, com o Cosmo. Os budistas discordavam em
parte, pois afirmavam que a libertação, a iluminação ocorre quando o indivíduo entende que não é possível existir essa
união perene e eternamente feliz com o Cosmo.

Poder restrito das divindades


Os budistas não negam a existência de divindades hinduístas; eles afirmam que elas são seres poderosos, mas ainda
estão presos ao ciclo de Samsara. Elas fazem parte da crença budista, mas possuem posição inferior no credo. Na
percepção budista, elas podem ajudar o crente a resolver problemas do dia a dia, como matar a fome, mas não podem
ajudá-lo a trilhar o caminho para a libertação.

A mensagem do Buda ou as quatro nobres verdades

A tradição budista diz que Buda deixou uma mensagem para seus seguidores. Ele teria dito que todos que buscam o Caminho
da Libertação devem praticar “o nobre caminho do óctuplo” para acabar com a dor e chegar à iluminação.  

O primeiro Buda chegou à iluminação ao abdicar de sua posição social, viver mendigando e passar por sofrimentos físicos.
Essa experiência o fez definir o caminho que o crente deveria seguir para chegar à libertação.

De acordo com os ensinamentos budistas, os quatro passos desse caminho são:

Identificar o sofrimento
Ele deve perceber que o nascimento, a velhice, a doença, a morte, os desejos e os apegos são fontes de
sofrimento.

Encontrar a origem do sofrimento



Como: querer viver, ter prazer e alegrias. Buscar isso prende o indivíduo no ciclo de reencarnações.

Renunciar aos prazeres mundanos para escapar do sofrimento


Caso ele consiga fazer isso, o sofrimento e a dor são neutralizados.

Deve viver buscando a santidade por meio da prática de ações que elevem e libertem a alma

Depois da neutralização da dor e do sofrimento, o crente deve viver de forma a evitar qualquer fonte de
sofrimento

O Óctuplo Caminho

O budista deve seguir um restrito código moral e buscar a transformação espiritual por meio do controle da mente, da
meditação e da busca por sabedoria. O budista deve trilhar o nobre Óctuplo Caminho.

O que é trilhar o Óctuplo Caminho?

Ter uma visão; intenção ou vontade; fala; ação; vida; esforço; consciência; e
concentração ou meditação corretas.

Leia o texto “Óctuplo Caminho” e conheça as características de cada etapa desse caminho.


Óctuplo Caminho


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Óctuplo Caminho
Ter uma visão correta é conseguir perceber as quatro verdades e entender que o Óctuplo Caminho é o único
meio de acabar com a dor e o sofrimento;
A intenção ou vontade correta ligam-se ao próprio caminho a ser trilhado, pois é uma constante indagação sobre
o porquê do crente se dedicar. Submeter-se a trilhar o nobre Óctuplo Caminho;
Ter uma fala correta é saber se expressar de modo a demonstrar sabedoria e renegar a mentira, a malícia, a
ofensa e a criação de boatos;
A ação correta significa se abster de práticas negativas: matar, roubar, ter conduta sexual imprópria e “dar vazão
ao prazer de forma imoderada”.
Ter uma vida correta é buscar sempre realizar e otimizar as práticas que levam a essência do Budismo: a busca
pela iluminação.
O esforço, a meditação e a consciência são complementares, pois a combinação dos três otimiza a condição do
despertar.

Saiba mais

Na Tradição budista, o Óctuplo Caminho é apresentado de forma separada, para facilitar o entendimento, mas deve ser vivido e
praticado de forma una, pois só assim é possível acabar com o sofrimento e a dor e sair do ciclo de reencarnação e chegar à
iluminação.


Atividade
3 - O Budismo é uma religião com base filosófica montada no desapego das coisas mundanas e na perspectiva de libertação
da alma do ciclo de reencarnações. Para que isso aconteça, o budista deve compreender quais as coisas que o prendem ao
mundo material e como deve agir para se desprender. Feita essa afirmativa, construa um texto analisando as quatro nobres
verdades.

Referências

Notas
COSTA, FLORÊNCIA. Os Indianos. São Paulo: Contexto, 2012.

FLOOD, Gavin. Uma Introdução ao Hinduísmo. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2014, 426p.

FERREIRA NETO, Edgard Leite. Da civilização do Indo ao Império Maurya: novas abordagens no estudo da Índia Antiga. Rio de
Janeiro: Sette Letras, 1999.

GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

OLIVEIRA, Arilson. Max Weber e a Índia. O vaishnavismo e seu yoga social em formação. São Paulo: Blucher, 2009.

OLIVEIRA, Arilson. O vaishnavismo e seu Yoga social em formação: da ortodoxia brahmânica na Índia antiga à ética vaishnava
de Caitanya sob o olhar weberiano. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP.

ZIMMER, Heinrich. Filosofias da Índia. São Paulo: Palas Athena, 1997.


Próxima aula

Religião judaica, origem, ritos, crenças e tabus;

Islã — Uma cultura pautada em ensinamentos religiosos que define seus seguidores como mulçumanos,
independentemente de sua etnia;

Islamismo e suas tradições religiosas.

Explore mais

Leia o livro
Conhecendo o Hinduísmo, de Vasudha Narayanan. O livro faz uma análise dos livros sagrados do Hinduísmo e dos rituais e
cerimônias hinduístas.

Assista ao filme
PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, Inverno e… Primavera. Dir.: Ki-duk Kim. Coreia do Sul e Alemanha, 2003. 103 min.

O filme narra a história de dois monges: um mestre ancião e um jovem aprendiz. O enredo trata do processo de
amadurecimento do jovem monge. Desde a infância ele é ensinado a praticar “o nobre caminho do óctuplo” para acabar com a
dor, nascidas das necessidades mundanas e chegar a iluminação.

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