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A REVOLUÇÃO ENERGÉTICA DO GÁS DE XISTO

Daniel Baruch Kipper Acher, Filipe Felbinger e Mônica Matschinske

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o cenário de gás de xisto mundial,
contemplando o seu histórico, principais produtores e perspectivas futuras, e,
igualmente, inquirir sobre os impactos sociais e ambientais decorrentes de sua
produção. O gás de xisto encontra-se em um momento de valorização devido ao
aprofundamento de pesquisas que tem resultado em novas tecnologias de extração,
tecnologias as quais indicam menores riscos à saúde e ao ambiente. Este novo cenário
de exploração faz com que o - também assim chamado - “shale gas” surja como uma
potencial alternativa energética aos países que possuem a sua matriz energética
dependente dos gases combustíveis. Entretanto, apesar dos avanços nos âmbitos
ambientais o gás de xisto permanece em desvantagem comparativa quando relacionado
a outras alternativas energéticas, o que coíbe os avanços da sua exploração,
especialmente em território europeu.
1. Introdução

O gás de xisto, mais conhecido internacionalmente como “shale gas”, trata-se de um gás
natural não convencional, semelhante ao gás natural. Encontra-se preso dentro de
formações xistosas, formadas por rochas sedimentares de granulação fina, que podem
ser ricas em recursos nomeadamente petróleo e gás natural. Este gás e o seu método de
extração por fraturação hidráulica, foram talvez as grandes evoluções energéticas do
século XXI, e têm causado uma autêntica revolução ao nível energético e grande
contestação em todo o mundo. A contestação existente relativa à extração do gás de
xisto por fraturação hidráulica, deve-se, sobretudo aos danos ambientais que poderão
ocorrer durante e após a realização do processo. É nos Estados Unidos da América que
se verifica a grande revolução do gás de xisto, sendo este país líder de produção do
mesmo. A exploração deste recurso foi por muitos considerada a salvação econômica do
país, pois levou a:

- Criação de postos de trabalho;


- Descida do custo do gás;
- Redução da importação de gás natural liquefeito;
- Crescimento da indústria.

No ano 2000, o gás de xisto representava apenas 1% da produção total de gás natural.
Atualmente, o gás de xisto representa 44% da produção total de gás de natural nos
Estados Unidos. O governo americano previa que em 2035 o gás de xisto produzido
representasse 45% do total produzido. Um relatório da U.S.Energy Information
Administration datado de 2010, fazia essa previsão.

Analisando a imagem apresentada, percebemos que, poucos anos passados entre


realização dos relatórios, a produção do gás de xisto cresceu substancialmente. Será de
esperar que a produção de gás de xisto atinja os 45% do total de produção antes do
previsto. Estes fatos preocupam fortemente outros países, nomeadamente fora do
continente americano, pois podem perder indústria para os Estados Unidos devido ao
custo da energia. Comparando por exemplo com a Europa, onde os preços da energia
estão em constante subida, o preço do gás é cerca de três vezes menor nos Estados
Unidos. Isto faz com que países de todos os continentes tenham já realizado estudos
relativos à possibilidade de utilizarem este recurso energético, de modo a perderem a
dependência energética perante outros e se tornarem países sustentáveis. Apesar de o
gás de xisto ser uma fonte de rentabilidade, outros países vêem este gás de outra
perspectiva. No caso da China, recorrer ao gás de xisto deve-se ao fato de ser uma fonte
de energia mais limpa que o carvão, uma vez que o país tem graves problemas de
poluição do ar devido à utilização do carvão como fonte de energia. A mudança para o
gás de xisto significaria uma mudança para uma fonte de energia mais limpa reduzindo,
deste modo, o problema da poluição. Outra forte aposta dos Estados Unidos, passa pelo
óleo de xisto, proveniente das mesmas bacias / formações que o gás de xisto. Nesta área
verifica-se um crescimento de cerca de 56% desde 2008, sendo expectável que os
Estados Unidos ultrapassem Rússia e Arábia Saudita na produção de petróleo tornando-
se assim o maior produtor de petróleo do mundo.

O grande entrave para que a exploração de gás de xisto e óleo de xisto sejam realizadas
por todo o mundo deve-se ao processo de fraturação hidráulica. Este processo implica a
perfuração vertical do solo como no método convencional de extração de gás e petróleo,
e a perfuração horizontal do solo, que é feita orientando a broca para uma posição
horizontal quando a perfuração vertical se aproxima da formação de xisto; como
demonstra a figura 3; posteriormente dá-se a injeção, a alta pressão, do fluido de
fraturação, podendo essa pressão por vezes atingir os 1000 bar; o fluido de fraturação é
constituído por água, areia e aditivos químicos para a libertação dos recursos. Em certos
casos, este processo provoca (i) microssismos na ordem de 1 a 3 na escala de Richter,
(ii) contaminação de água com fluido de fraturação hidráulica, águas residuais/lamas e
(iii) libertação de gases com efeito de estufa. Como tal, em prol da sustentabilidade,
alguns países como o caso da França, baniram este método e qualquer outro que seja
prejudicial para o ambiente.

No Reino Unido protestos são realizados constantemente pela população, para que se
recorra a fontes de energia renováveis e não a este tipo de energias. Porém, existem
países que, devido aos benefícios econômicos, estão tentados a recorrer ao gás de xisto
como fonte de energia. Tendo isso em conta, a Comissão Européia pretende que os
Estados-membros da União Européia sigam alguns princípios mínimos para a extração
do gás de xisto e óleo de xisto, entre os quais, por exemplo, a utilização de químicos
não nocivos ao Ambiente.
1.1. Gás de Xisto no mundo

Em todo o mundo verifica-se a existência de formações / bacias de xisto tal como


demonstra a figura seguinte.

Figura 1 - Bacias de Gás de Xisto no mundo

Fonte: ZUÑEDA, 2014

Para melhor compreensão, apresenta-se a seguinte tabela indicando os países onde se


verifica a existência de formações/bacias de xisto, incluindo Portugal. Existem outros
países abrangidos por bacias / formações, mas cujo potencial não é significativo ou não
tencionam explorar o seu território, por essa razão não são representados na Tabela 1.

Tabela 1 - Relação dos países com reservas de xisto


América Europa
Continentes América América África Ásia Europa Europa Oceania
do Norte do Sul Oriental Ocidental
Arábia
Áustria
Saudita
Argentina Bulgária Alemanha
China
Bolívia Argélia Hungria Dinamarca
Índia
Brasil Egito Lituânia Espanha
Canadá Indonésia
Chile Líbia Moldávia França
Países México Jordânia Austrália
Colômbia Marrocos Polônia Holanda
EUA Mongólia
Paraguai Tunísia Romênia Noruega
Paquistão
Uruguai África do Sul Rússia Portugal
Síria
Venezuela Ucrânia Reino Unido
Tailândia
Suécia
Turquia

Fonte: (LIMA, 2014)


Da tabela anterior retira-se que a maior reserva, tanto de gás de xisto como de óleo de
xisto, se encontra no continente americano. Daí não ser surpresa o sucesso dos Estados
Unidos na exploração destes recursos. Esta tabela serve para demonstrar o total de gás
de xisto e óleo de xisto recuperáveis; nem tudo o que existe numa bacia e formação
pode ser extraído. (ZUÑEDA, 2014)

Tabela 2 - Recurso recuperável em Gás (bilhões m³)

País Quantidade de Gás


EUA 32,88
China 31,60
Argentina 22,68
Argélia 20,02
Canadá 16,20
México 15,43
Austrália 12,37
África do Sul 11,02
Rússia 8,07
Brasil 6,94
Outros 43,68

Fonte: (LIMA, 2014)


Tabela 3 - Recurso recuperável em Óleo (bilhões m³)
País Quantidade de Óleo
Rússia 11,86
EUA 7,58
China 5,12
Argentina 4,29
Líbia 4,13
Austrália 2,77
Venezuela 2,35
México 2,08
Paquistão 1,45
Canadá 1,40
Outros 10,14

Fonte: (LIMA, 2014)

No seguimento deste estudo e sempre que possível será discriminado, país a país, o
existente e o recuperável dos recursos nas várias bacias/formações. Como é possível ver
na tabela anterior, onde se verifica a maior existência de gás de xisto é nos Estados
Unidos, sendo estes atualmente os maiores produtores de gás de xisto. Verifica-se
também que as maiores reservas se encontram no continente americano tal como visto
anteriormente. Quanto à Europa, a Rússia tem a maior reserva de gás de xisto mas de
momento não faz qualquer tipo de exploração. No que diz respeito ao óleo de xisto, o
país com a maior reserva não são os Estados Unidos, apesar de estar perto de se tornar o
maior produtor de petróleo, mas sim a Rússia. Rússia e Estados Unidos têm as maiores
reservas de óleo de xisto e acredita-se que a Rússia poderá explorar este recurso para
que os Estados Unidos não se tornem o líder na área do petróleo e não causem danos
econômicos, por comercializarem um recurso mais barato. (LIMA, 2014)

1.2. Gás de Xisto nos Estados Unidos da América

Os Estados Unidos são os impulsionadores da exploração do gás de xisto e óleo de


xisto, tendo mesmo a nível mundial as maiores reservas de gás de xisto e a segunda
maior reserva de óleo de xisto. A exploração destes recursos fez dos Estados Unidos os
líderes de produção de gás de xisto e óleo de xisto. A primeira extração de gás a partir
de formações de xisto ocorreu em Fredonia, Nova Iorque, em 1820. Mas o uso desse
gás era limitado a pequenas operações; por esta altura o gás de xisto não tinha grande
impacto no consumo americano de energia. O processo de fraturação hidráulica era
utilizado em 1940 nos Estados Unidos para a extração de gás natural proveniente do
calcário e arenito. Na década de 70, os Estados Unidos passavam por uma crise de
produção de gás natural. Sabendo do potencial de gás existente nas suas terras, nos
finais dos anos 70 os Estados Unidos aplicam o processo de fraturação hidráulica às
formações de xisto. O sucesso deste processo só se viria a verificar anos mais tarde
devido a inovações tecnológicas aplicadas. Apenas no ano 2000 ocorreu a produção de
gás de xisto em larga escala, ou seja, para fins comerciais, em BarnettShale e nas bacias
FortWorth e Permian. Devido ao sucesso verificado outras empresas começaram de
imediato a explorar novos territórios. No ano 2000 o gás de xisto representava apenas
1% da produção de gás natural. Em 2010, a sua produção era superior a 20%, tendo o
governo definido a meta de atingir os 45% em 2035; e como visto anteriormente essa
meta poderá ser atingida num futuro mais próximo. Relativamente ao óleo de xisto,
também foi visto que nos Estados Unidos houve um crescimento de cerca de 56% desde
2008, prevendo-se mesmo que os Estados Unidos se tornem os maiores produtores de
petróleo do mundo, ultrapassando a Arábia Saudita e Rússia. O sucesso dessas
explorações levou à revolução que hoje conhecemos, não só nos Estados Unidos mas no
mundo. (LIMA, 2014)
1.3. Gás de Xisto no Brasil

O Brasil tem cerca de 18 bacias pouco exploradas em terra; existem apenas dados
geológicos para 3 bacias e 3 formações de xisto. O Brasil é o oitavo país que mais
consome energia no mundo, sendo grande parte dessa energia de proveniente de fontes
renováveis. Até à data apenas é realizado o estudo das bacias, não havendo ainda
previsão para a exploração das mesmas. Na Figura 2 é possível ver a localização das
principais bacias e formações no Brasil. (ABREU, 2014)

Figura 2 - Localização das principais bacias/ formações no Brasil

Fonte: ???

Tabela 4 - Quantidades de gás e óleo nas bacias brasileiras


Estimativa de recurso existente no
Recurso tecnicamente recuperável
Bacias Formações local
Gás (bilhões m³) Óleo (bilhões m³) Gás (bilhões m³) Óleo (bilhões m³)
Ponta
Paraná 12,74 17,01 2,27 0,68
Grossa
Solimões Jandiatuba 9,15 1,11 1,84 0,05
Amazonas Barreirinha 14,36 3,02 2,83 0,13

Fonte: (LIMA, 2014)

2. Gás de Xisto e suas aplicações

Dada a semelhança da composição química do gás de xisto com o gás natural, a


exploração e produção do gás de xisto têm como finalidade substituir o gás natural
convencional, visto ser mais barato no mercado da energia. As suas aplicações serão as
mesmas que as do gás natural convencional, sendo que para já as suas principais
aplicações são nos sectores doméstico, industrial e de geração de energia elétrica. Como
já referido em capítulos anteriores, os Estados Unidos recorreram ao gás de xisto para
sua independência energética e crescimento econômico. Este crescimento deveu-se
sobretudo ao baixo custo desta energia em comparação com o gás natural convencional.
Uma das fortes aplicações do gás natural é a produção de energia elétrica; os Estados
Unidos, ao utilizarem o gás de xisto na produção de energia elétrica, conseguiram
reduzir o seu preço como se pode verificar no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Evolução dos preços a nível do utilizador final da eletricidade para a indústria, excluindo
imposto (2005 = índice 100)

Como se pode verificar pelo gráfico acima, os custos da eletricidade para a indústria nos
Estados Unidos têm vindo a descer ao contrário do que se verifica nos restantes países.
A produção de gás de xisto nos Estado Unidos tem vindo a aumentar ao longo dos anos,
o que leva também ao aumento da sua aplicação, nomeadamente na indústria. No
gráfico da figura 58 é possível verificar esse fato, pois com o passar dos anos o preço da
energia elétrica nos Estados Unidos tem vindo a reduzir ao contrário dos outros países
que utilizam o gás natural convencional e os preços da sua energia elétrica aumentam.

3. A Questão Econômica

O processo de extração de gás por fraturação hidráulica é um processo mais dispendioso


que a e extração de um gás convencional, isto porque a extração de gás convencional
envolve apenas perfuração vertical de um poço, enquanto na extrcção de gás de xisto,
além da perfuração vertical, existe ainda a perfuração horizontal e a fracturação
hidráulica.
A título de exemplo, a bacia de Marcellus nos Estados Unidos, a perfuração vertical do
poço custou 663 000 $, cerca de 500 000 €, enquanto a perfuração horizontal do poço
custou 1 214 000 $, cerca de 907 000 €. A perfuração horizontal de um poço e a sua
fracturação é um processo que, dependendo de poço para poço, demora cerca de duas a
três semanas, e que custa entre 3 500 000 $ a 4 500 000 $, aproximadamente 2 600 000
€ a 3 400 000 €. Nestes valores estão incluídos os custos de fluido utilizado para a
perfuração do poço e para a fraturação hidráulica. No caso da bacia de Marcellus foi
utilizado um volume total de água de 14 687 m por poço. Correspondendo 303 m 3 por
poço ao volume de água utilizada para as perfurações e 14 384 m 3 por poço ao volume
de água utilizada para a fraturação hidráulica. Os custos da exploração de uma bacia vão
para além dos valores das perfurações e fraturação hidráulica mencionados
anteriormente. (LIMA, 2014)O desenvolvimento de um poço passa por várias etapas.
Mantendo como exemplo a bacia de Marcellus e os Estados Unidos algumas das etapas
necessárias que envolvem custos são:
- Arrendamento dos minerais / Aquisição e Permissão - neste passo é negociado com o
proprietário do terreno o seu aluguer, e após a aquisição do mesmo é necessária a
autorização do estado para avançar com o projecto;
- Construção do local - envolve toda a logística de construção de acessos, fornecimento
de águas, local a perfurar, etc.;
- Perfuração - esta fase pode demorar 23 a 35 dias por poço, estando incluído o tempo
de preparação de equipamento, perfuração e recolha dos resíduos de perfuração;
- Fraturação hidráulica - injeção do fluido de fraturação como visto neste capítulo;
- Conclusão - recolha do fluido, reciclagem do mesmo;
- Produção - extração do gás, sistema de armazenamento e conduta, manutenção do
poço. Todas estas etapas do processo de extracção do gás de xisto têm um custo, que
para o caso da bacia de Marcellus foi de aproximadamente 7 600 000 $, cerca de 5 700
000 €. A Tabela 5 detalha os custos de cada etapa para melhor percepção dos custos.
Tabela 5 - Custos por etapa da produção

Descrição Custo
Aluguel e Aquisição 1.640.000 €
Permissão 7.500 €
Construção do local 299.000 €
Perfuração Vertical 495.200 €
Perfuração Horizontal 907.000 €
Fraturação hidráulica 1.870.000 €
Conclusão 150.000 €
Produção 353.000 €
Fonte: (LIMA, 2014)

O processo de extração de gás de xisto por fraturação hidráulica permite recuperar cerca
de 95% de gás existente numa formação. Um poço pode produzir até 10 anos, sendo por
vezes necessário, apesar de não usual, nova fraturação para que este continue a produzir
o gás. No caso da Europa, as etapas a seguir podem ser diferentes, bem como os custos
associados. O processo de extração de gás de xisto na Europa poderá ser mais
dispendioso, podendo mesmo os custos serem o dobro dos verificados nos Estados
Unidos devido à imaturidade da indústria nesta área, pelo que será necessário importar
equipamentos e equipas experientes no processo. (LIMA, 2014)

3.1. Oferta, Demanda e Preço do Gás nos Estados Unidos

Com o advento das novas tecnologias, as novas projeções para oferta, demanda e preço
mudaram as perspectivas de comércio de gás natural nos Estados Unidos. Nas próximas
décadas, os EUA poderão estar entre os maiores exportadores de gás, alterando a
geopolítica mundial que tem a Rússia como principal fornecedor. (ABREU, 2014)

Antigos terminais que foram produzidos para regaseificação, já que o produto


importado se encontra em forma líquida e armazenamento estão sendo transformados
em unidades de liquefação, tamanha oferta existente. Oferta esta que é fornecida em
grande maioria pelo aumento da produção acarretado pelo gás de xisto, como podemos
verificar no gráfico abaixo:
Gráfico 2 - Produção de Gás de Xisto

Fonte: EIA

Com relação às projeções de demanda, verifica-se que a maior parte terá como destino a
energia, em função, principalmente, das novas regulações ambientais relacionadas à
emissão de gases do efeito estufa na geração de energia somadas à perspectiva de preços
baixos do gás natural. Para a indústria consumidora de gás como matéria prima também
gerará um aumento de oferta. Com preços mais atrativos, a indústria poderá produzir
mais com um valor menor, abrindo possibilidades para a exportação de produtos.
Já os preços médios de gás natural dos Estados Unidos mantiveram-se relativamente
baixos ao longo dos últimos anos, como resultado da disponibilidade de abundantes
recursos internos e da aplicação de tecnologias de produção melhoradas para fornecer os
suprimentos necessários para atender ao crescimento do consumo de gás natural e a um
aumento das exportações.
O preço de gás natural americano, Henry Pub, teve uma queda brusca em relação ao
preço do gás natural internacional. A principal queda ocorreu em 2008 e desde lá os
preços mantiveram-se baixos, isso graças ao aumento da exploração de gás de xisto. Já
os preços internacionais acabaram se elevando. (LIMA, 2014)
3.2. Oferta, Demanda e Preço do Gás no Brasil

Nos últimos anos, o gás natural vem aumentando a sua participação na matriz energética
brasileira, tendo alcançado em 2012 o valor de 11,5% da oferta interna de energia, de
acordo com o BEN2013. As perspectivas para os próximos anos indicam que essa
participação será ainda maior. A entrada de novas áreas produtoras e de mais um
terminal de regaseificação de gás na Bahia, e a necessidade de atender ao aumento das
demandas, tantos das não termelétricas quando das termelétricas, resultará em maiores
volumes de gás natural produzidos, importados, transportados e comercializados.
(ZUÑEDA, 2014)

A indústria de gás está passando por uma fase de expansão, porém ainda é
complementada pelas importações da Bolívia e da Argentina. Em relação à Bolívia,
foram iniciadas em 1999, sob contrato entre os governos com duração de 20 anos com
opção de renovação, ocorrendo através do gasoduto GasBol, com extensão de 3.150
Km, custo de US$ 2 bilhões e que em 2013 exportou média de 31,8 milhões de m3 por
dia. Já a produção nacional alcançou em 2013 o valor de 77,2 milhões de m3 por dia. As
importações da Argentina ocorrem através do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre e é um
ponto de escape para atender ao mercado de termelétricas do Rio Grande do Sul,
complementando as operações do GasBol.

Em 2012, o consumo total de gás natural foi de 33,6 bilhões de m3, dos quais 13,2
bilhões de m3 referentes a gás importado, 25,8 bilhões de m3 gás nacional e 5,4 bilhões
de m3 a variações de estoque, perdas e ajustes. Apesar de não ser o mais utilizado, tem
parcela significativa na geração energética, já que é mais utilizado em casos de
emergência pelas térmicas, quando há excesso de demanda ou quando o nível das
hidrelétricas está baixo.
Gráfico 3 - Percentual de energia consumida no Brasil

Fonte: Elaboração própria com dados do Ministério de Minas e Energia

Nesse mesmo ano, o setor industrial consumiu 12,19 bilhões de m3 de gás. O segmento
teve participação de 8% no consumo deste ramo. O gás natural é utilizado como matéria
prima da indústria química, por exemplo, em diversos processos. Para o caso de resinas
termoplásticas, onde entram os polietilenos, o principal insumo utilizado é a nafta.
Pode-se utilizar o gás natural para incrementar sua competitividade, quando há uma
baixa de preços, como visto no caso americano e que vem fazendo com que os preços
destas resinas baixem.

Em relação ao preço final, este deriva do somatório dos custos de produção, da


distribuição e do transporte, incluindo impostos, devendo remunerar todos os agentes
participantes do processo até a chegada no consumidor final. De acordo com um
trabalho da Firjan, o preço da commodity representa cerca de 44% do preço total,
enquanto a margem de transporte 16%, a margem de distribuição 18% e os imposto
22%. Vale ressaltar a grande diferença de preço entre os valores praticados no Brasil e
nos EUA. Neste último, o gás chega a ser quatro vezes mais barato em algumas
situações.
Tabela 6 - Preço¹ do gás importado e nacional por região brasileira e EUA

Brasil Tipo Preço (US$/MMBTU)


Nordeste Gás nacional 12,1036
Sudeste Gás nacional 11,7845
Centro-Oeste Gás importado 10,0039
Sudeste Gás importado 10,005
Sul Gás importado 11,265
Estados Unidos Henry Hub 3,44

¹Preços Petrobras para distribuidora sem desconto (isento de tributos e encargos).


Fonte: Elaboração própria com dados do Ministério de Minas e Energia

4. Impacto Ambiental

Tem sido dada extrema atenção ao gás de xisto sobretudo devido aos impactos
negativos que a fraturação hidráulica tem sobre o ambiente. Casos de poluição do ar,
contaminação da água e terremotos são atribuídos à extração do gás de xisto. Por isso,
na Europa existe tanta hesitação em avançar com a exploração do gás de xisto. São
vários os riscos e preocupações com a extrcção do gás de xisto por fracturação
hidráulica. Alguns riscos que podem ocorrer e preocupações da população e Governos
são: (ABREU, 2014)
- Contaminação de lençóis de águas subterrâneas;
- Poluição devido ao metano e o seu impacto na alteração do clima;
- Poluição do ar;
- Exposição a químicos tóxicos;
- Explosões devido a explosão do gás;
- Eliminação de resíduos;
- Grande volume de água utilizada em regiões com falta da mesma;
- Ocorrência de terremotos;
- Segurança de equipamentos e trabalhadores;
- Degradação de infra-estruturas.

4.1. Impacto na Saúde Humana

Os efeitos que se possam verificar na saúde humana são sobretudo devido ao impacto
das emissões atmosféricas e na água. Segundo estudos realizados, 75% dos químicos
utilizados ao longo do processo afetam olhos, pele, órgãos sensoriais, bem como
sistema respiratório e sistema gastrointestinal. Cerca de 40% a 50% pode afetar o
sistema nervoso, o sistema cardiovascular e os rins; 37% pode afetar o sistema
endócrino e 25% pode provocar cancro e mutações. O principal sintoma são dores de
cabeça existindo depois outros sintomas a longo prazo devido à exposição aos
compostos orgânicos voláteis (COV´s). O contacto com águas contaminadas é também
perigoso. Por exemplo, crianças lavadas com essas águas podem ter problemas de saúde
e alergias. Poços de águas residuais e de fluidos não controlados são motivo de
preocupação em caso de exposição cutânea. (ABREU, 2014)

4.2. Benefícios Ecológicos

Apesar de todos os riscos e poluição causada pelo processo de fraturação hidráulica, são
esperados alguns benefícios sobretudo caso sejam tomadas medidas para melhorar
constantemente o processo. O processo de múltiplas perfurações horizontais e
fraturação hidráulica permite a redução da pegada ecológica, pois apenas é criada uma
plataforma de extração num local, enquanto em outros processos são necessárias varias
plataformas em vários locais, o que leva a uma logística completamente diferente
envolvendo mais acessos, mais veículos, etc. Espera-se que, caso ocorra a substituição
do petróleo e do carvão pelo gás de xisto as emissões de gases com efeito de estufa
reduzam, visto a extração de gás de xisto provocar menor emissão de gases com efeito
de estufa do que o carvão e o petróleo ao longo de todo o processo de produção de
combustível. O risco de poluição e de ocorrer acidentes em grande escala comparado
com a extração de petróleo é reduzido. (ABREU, 2014)

5. Conclusão

Analisando as externalidades do tema, entendemos que o gás de xisto terá uma maior
concorrência predatória com o carvão e a gasolina, mesmo ainda sendo um pouco cedo
para avaliar os riscos que o gás representa para os renováveis.

O mundo passa por uma grande revolução energética. Há poucos anos, pensava-se que
tinha chegado a vez dos renováveis, porém há quem acredite que o gás natural vai ser
uma espécie de força motriz da terceira revolução industrial, visto que o gás de xisto
deprime o preço do velho carbono, que se torna mais competitivo do que é hoje. Sendo
assim, acredita-se que o gás de xisto irá aumentar a necessidade de se conquistar
competitividade de custo para as energias limpas. O cenário é de preservar fontes
alternativas em multiplicidade de ofertas, de acordo com as especificidades de cada
país. (DENNY)
O gás natural de maneira geral, deve ter impacto, mas não irá inviabilizar o mercado
para os combustíveis limpos. Um exemplo são as novas usinas de energia americanas,
que se submetem a limites de emissão, devido ao CO2 ser considerado um poluente, e
de haver um teto aplicável ao transporte veicular, obrigando uma porcentagem mínima
de fontes renováveis na energia elétrica de 30 dos 50 estados americanos. (DENNY)

Há ainda a pontuação de que o gás natural é melhor do que o carvão, assim o preço
baixo da exploração do de xisto pode contribuir para que as plantas movidas a carvão
sejam fechadas mais rapidamente, e por esse lado seria um ganho ambiental. Mas há
outras externalidades a serem consideradas como o metano liberado durante a extração e
o potencial comprometimento da qualidade dos recursos hídricos.

Atualmente, apenas EUA e Canadá exploram comercialmente o gás de xisto, mas


Rússia, China e o próprio Brasil possuem grandes reservas, sendo o potencial brasileiro
superior a 6,4 trilhões de metros cúbicos, ou seja, está entre as 10 maiores reservas do
mundo.

6. Bibliografia

ABREU, M. S. D. A exploração de gás de xisto e a ameaça ambiental: discurso e poder


no sistema energético. Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos,
Florianópolis, v. 3, n. 2, fev. 2014.

DENNY, D. Gás de Xisto ameaça renováveis. Ambiente Legal - Legislação, Meio


Ambiente e Sustentabilidade. Disponivel em: <http://www.ambientelegal.com.br/gas-
de-xisto-ameaca-renovaveis/>. Acesso em: jun. 2015.

EIA - U.S. ENERGY INORMATION ADMINISTRATION. Natural Gas. Disponivel


em: <http://www.eia.gov/dnav/ng/ng_prod_shalegas_s1_a.htm>. Acesso em: jun. 2015.

LIMA, C. F. O. D. Caracterização do Mercado Global de Xisto. Instituto Superior de


Engenharia do Porto. [S.l.]. 2014.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Publicações e Indicadores. Disponivel em:


<http://www.mme.gov.br/web/guest/publicacoes-e-indicadores>. Acesso em: jun. 2015.

ZUÑEDA, L. A revolução energética e econômica do Gás de Xisto (Shale Gas):


influências na indústria petroquímica brasileira. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre. 2014.

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