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AS AREIAS BETUMINOSAS DO CANADÁ

As areias betuminosas nada mais são do que uma combinação de areia, argila, água e
betume, um petróleo bruto, pegajoso e espesso que não pode ser usado para combustão e, a
menos que seja aquecido, se solidifica. Essa forma de petróleo é de baixa qualidade e requer
diluição com hidrocarbonetos menos pesados para que ele esteja adequado ao transporte por
oleoduto. Todavia, este processo requer numerosos procedimentos químicos, em geral
tóxicos, para diluir o betume viscoso suficientemente (FINKEL, 2018). Esse tipo de
reservatório enquadra-se na categoria de não-convencionais, uma vez que a rocha geradora do
petróleo também é a rocha reservatório e, em razão de sua baixa permeabilidade, ainda se
configura enquanto rocha capeadora. (SILVA FILHO, 2020).

A província de Alberta, no Canadá, é a terceira maior detentora de reservas de petróleo


no mundo, tendo posse de aproximadamente 168 barris em uma área de 142,200 km2
(SOARES, 2018). O crescimento das areias petrolíferas e do petróleo pesado, no Canadá, teve
início no final da década de 1990 e foi extremamente rápido e significativo globalmente
(WESTMAN, 2019).

Figura 1 - Areias betuminosas no Canadá

Fonte: Petronotícias

Nesse contexto, observa-se que a facilidade de recuperação de óleo nos reservatórios


convencionais provém não apenas da baixa densidade do óleo, bem como da alta
permeabilidade dos reservatórios em que se fazem presentes, havendo, então uma livre
movimentação do óleo que flutua por um poço vertical. Por outro lado, para as areias
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betuminosas, as restrições de recuperação são advindas da alta viscosidade com que os


hidrocarbonetos se dispõem. Nesse tipo de reservatório, a alta viscosidade impede a
movimentação do óleo pelo meio poroso, o que torna sua extração difícil. À vista disso, foram
desenvolvidos diferentes métodos de extração sejam térmicos ou a frio, sejam baseados em
solventes (BRITO et al, 2013).

Na região de Alberta, cerca de 20% do óleo presente nas reservas de areias


betuminosas encontra-se próximo à superfície, viabilizando a recuperação por meio da
mineração convencional. Sob essa perspectiva, instrumentos com pás escavadeiras e
caminhões são essenciais para a escavação e transporte da areia petrolífera rumo à área de
tratamento mais próxima. Inicialmente, o tratamento consiste em separar o betume dos
minerais, areia e argila, um processo que caracteriza-se pela adição de água a elevadas
temperaturas e, com a agitação da mistura, resulta em uma lama densa que libera uma espuma
o betume está contido. Tal espuma é coletada, diluída e levada para o próximo tratamento com
o objetivo de retirar a água e os resíduos sólidos. Por fim, transporta-se o betume que pode,
eventualmente, ser utilizado para a produção de um petróleo equivalente ao convencional, o
chamado “óleo sintético”. Desse modo, o processo de extração descrito oferece uma
recuperação do betume da ordem de 90% do reservatório, diferentemente dos reservatórios
convencionais de petróleo onde há uma recuperação em torno de 35% (BRITO et al, 2013).

Ademais, o suprimento de óleo a partir das areias betuminosas canadenses para os


Estados Unidos é uma questão de extrema relevância global. Isso, dado que a maior parte da
produção de Alberta é explorada pelos estadunidenses, e, mediante uma rede densa de
oleodutos, quase dois milhões de de barris são importados diretamente do Canadá, sendo 75%
oriundos das areias betuminosas. O aumento da produção petrolífera canadense é, para os
Estados Unidos, uma forma de aumentar a própria segurança energética nacional
diversificando os seus fornecedores. Os Estados Unidos diminuíram, gradativamente, as
importações da Arábia Saudita, em volume e participação, dando mais atenção ao Canadá. A
estratégia em questão, conhecida como “política hemisférica” consiste em aproximar-se dos
vizinhos geográficos, de modo a diminuir os custos de transporte e aumentar a confiabilidade
do suprimento vindo dos seus parceiros tradicionais (BRITO et al, 2013).

É válido ressaltar, ainda, que são necessários três barris de água para processar um
único barril de petróleo, tendo como resultado a água processada de areias betuminosas
(APAB). A APAB é moderadamente alcalina e salina, e, em geral, provém do betume e sua
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composição destaca-se pelo alto teor de uma complexa mistura natural de ácidos carboxílicos
alifáticos e alicíclicos conhecida como ácidos naftênicos (ANs). Os ácidos naftênicos,
juntamente aos seus derivados, são tóxicos aos animais, à biota aquática e aos seres humanos,
podendo causar toxicidade dérmica, pele e olhos irritados, tosse e comprometimento da
fertilidade de organismos em desenvolvimento, além de causar a corrosão em unidades de
refinaria e tubulações. Por essas razões, a Alberta Environmental Protection and
Enhancement Act e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA tornaram proibida a produção
de grandes volumes de APAB, sendo permitida uma concentração máxima de 1 a 5 mg/L de
ANs (SOARES, 2018).

Sendo assim, constata-se que as areias betuminosas são de grande importância para
economia global, mas também deve ser discutida no que tange à contaminação de água, citada
acima, e à poluição. Pode-se identificar três principais restrições ambientais à produção de
petróleo proveniente das areias petrolíferas canadenses: a emissão de gases de efeito estufa
(GEE), a escassez de água, e a poluição local. Os processos de extração e produção do
petróleo consomem uma alta quantidade de gás natural, não apenas para o calor do processo,
mas também como fonte de hidrogênio para adição ao betume (MALAGUETA, 2009). Logo,
movimentos a favor da exploração moderada e preservação da qualidade de vida do país
fizeram-se presentes nos últimos anos, como forma de participação e sensibilização civil
quanto às questões referentes à exploração pautada ao longo da pesquisa.
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REFERÊNCIAS

BRITO, Thiago Luis Felipe et al. Reservas não convencionais de petróleo e segurança
energética: a relação entre Alberta (Canadá) e os Estados Unidos. 2013. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/Thiago-Brito-3/publication/318431608_Non-conventio
nal_oil_reserves_and_energy_security_the_relationship_between_Alberta_Canada_and_the_
United_States/links/59691025a6fdcc18ea6f1c2b/Non-conventional-oil-reserves-and-energy-s
ecurity-the-relationship-between-Alberta-Canada-and-the-United-States.pdf>. Acesso em: 10
de novembro de 2023.

FINKEL, Madelon L. The impact of oil sands on the environment and health. Current
Opinion in Environmental Science & Health, v. 3, p. 52-55, 2018. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2468584417300648?via%3Dihub#:~:
text=https%3A//doi.org/10.1016/j.coesh.2018.05.002>. Acesso em: 10 de novembro de 2023.

LINS DA SILVA FILHO, P. S.; ALVIM, R. G. Análise dos principais reservatórios não
convencionais do mundo: resultados definitivos. SEMPESq - Semana de Pesquisa da Unit -
Alagoas, [S. l.], n. 8, 2020. Disponível em:
https://eventos.set.edu.br/al_sempesq/article/view/13790. Acesso em: 10 de novembro de
2023.

MALAGUETA, Diego Cunha. A Dimensão Ambiental na Delimitação das Reservas de


Óleos Não Convencionais–Os Casos do Canadá e do Ártico. 2009. Tese de Doutorado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/diego_cunha.pdf>. Acesso em: 10 de novembro
de 2023.

PETRONOTÍCIAS. Produção em areias betuminosas no Canadá volta ao nível pré-covid,


mas com crescimento em ritmo mais lento. 2021. Disponível em:
<https://petronoticias.com.br/producao-em-areias-betuminosas-no-canada-volta-ao-nivel-pre-
covid-mas-com-crescimento-em-ritmo-mais-lento/>. Acesso em: 10 de novembro de 2023.

SOARES, Jordan Lima. Tratamento de ácidos naftênicos em água derivada do


processamento de areias betuminosas. 2018. Disponível em:
<https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/35194/3/2018_tcc_jlsoares.pdf>. Acesso em: 10 de
novembro de 2023.

WESTMAN, Clinton N.; JOLY, Tara L. Oil sands extraction in Alberta, Canada: A review
of impacts and processes concerning Indigenous peoples. Human Ecology, v. 47, p.
233-243, 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s10745-019-0059-6>. Acesso em: 10
de novembro de 2023.

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