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2021
INTRODUÇÃO
O petróleo é a fonte energética mais utilizada no mundo e, apesar de ser um
recurso não renovável, vem sendo explorado cada vez mais. A demanda e a oferta do
petróleo aumentaram exponencialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o
desenvolvimento marítimo e os avanços tecnológicos proporcionaram a fabricação de
petroleiros cada vez maiores e mais produtivos (Neiva, 1993; Favrod, 2012).
Fonte: The International Tanker Owners Pollution Federation –ITOPF, (2021) (adaptada)
Infelizmente, diversos acidentes ocorreram na última década e causaram grande
impacto, tais como o derramamento do Golfo do México em 2010 onde vazaram mais
de 500 mil toneladas, ou o acidente no Golfo da Pérsia quando um petroleiro afundou
com seu cargo de mais de 1.000 toneladas de óleo, em 2018 (ITOPF, 2021). Os
vazamentos ocorridos no Brasil, comparativamente com os internacionais, em relação à
volume, são consideravelmente menores e as principais causas são operações de carga e
descarga e alguns encalhes ou colisões (Bícego et al., 2008). No Brasil, particularmente,
existem registros de alguns derramamentos de óleo ao longo da costa, mas, em geral,
estes se concentram nas regiões sul e sudeste nas quais existe maior exploração de
petróleo. O primeiro registro de um acidente envolvendo óleo no Brasil foi em 1977, no
qual um petroleiro sofreu um acidente perto da Ilha de Trindade/ES, derramando
aproximadamente 62.000toneladas de petróleo no mar (CETESB, 2021). Nos anos
2000s, outros acidentes no Rio de Janeiro e no Paraná ocorreram, vazando em conjunto
aproximadamente 10.000 toneladas de óleo e outros contaminantes. O histórico de
acidentes no Brasil, acompanha a mesma tendência mundial: registros frequentes de
acidentes com grandes volumes foram, ao longo do tempo, sendo substituídos por
eventos mais esporádicos com menores volumes derramados (CETESB, 2021).
O petróleo é composto quase que totalmente por hidrocarbonetos (97%), que são
compostos formados exclusivamente por hidrogênio e carbono. Em geral, são apolares e
suas características variam com sua estrutura molecular. Os hidrocarbonetos são
divididos em dois grandes grupos: alifáticos e aromáticos. Os hidrocarbonetos alifáticos
são mais abundantes no petróleo (cerca de 85%), mas apesar da maior concentração, são
de baixa reatividade, são biodegradados mais facilmente e possuem menor toxicidade,
quando comparados aos aromáticos (Kolesnikova et al., 2009). Os hidrocarbonetos
aromáticos, por outro lado, perfazem cerca de15% dos hidrocarbonetos totais, mas
possuem alta reatividade e potencial tóxico maior (Neff, 1979; NRC, 2003).
Diversos fatores estão relacionados com o potencial tóxico do óleo, tais como
suas características físico-químicas e o grau de intemperização, bem como o meio onde
está inserido (Bícego et al, 2008). Características como solubilidade, coeficiente de
partição octanol-água (KOW) estão diretamente relacionadas com a biodisponibilidade
da substância. Quanto maior a solubilidade do composto, mais biodisponível será para a
biota. O KOW reflete a lipofilicidade de um composto, ou seja, sua tendência em
acumular em gorduras, representando o potencial de bioconcentração do composto
(Silva et al., 2003). Os HPA de maior peso molecular são menos solúveis (se depositam
nos sedimentos) e mais lipofílicos (se concentram nos organismos) e, portanto, tendem
a ser mais tóxicos, principalmente para a comunidade bentônica. Por outro lado, os
HPA mais leves causam mais danos aos organismos pelágicos, por sua maior
solubilidade e, consequentemente, sua biodisponibilidade na coluna d’água (Bícego et
al., 2008). Outros trabalhos também apontam que a biodegradabilidade dos HPA é
inversamente proporcional ao número de anéis aromáticos e sua toxicidade (Hamdi et
al., 2006; Juhasz; Naidu, 2000; Quantin et al., 2005).
Esse desastre foi considerado o maior acidente com óleo no Brasil e um dos mais
extensos no mundo. Apesar de não apresentar uma faixa de costa muito vasta, o litoral
de Pernambuco foi bastante afetado pelo derramamento, em particular a parte sul do
Estado. Extensas manchas foram avistadas em ecossistemas altamente sensíveis, tais
como recifes, manguezais, estuários e prados (IBAMA, 2020). Os impactos negativos,
decorrentes desse acidente, ainda não foram totalmente contabilizados e somente os
estudos que estão sendo realizados poderão identificá-los. Como efeito cabe ressaltar
que estão inclusos os impactos sócio-econômicos e ecológicos, observados sobre as
comunidades biológicas e teias tróficas dos ecossistemas atingidos, bem como sobre as
populações ribeirinhas que usam estes produtos para sua sobrevivência e/ou
comercialização. O objetivo desse estudo, dada a relevância e impactos decorrentes de
tal vazamento, foi quantificar a contaminação por HPA em Suape após o derramamento
de óleo.
Figura 3. Localidades atingidas pelo misterioso óleo ao longo da costa do Brasil (2019)
METODOLOGIA
Área de estudo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
TEL – ThresholdEffectLevel; PEL – ProbableEffectLevel; BPM – Baixo peso molecular; APM – Alto
peso molecular; <LQ = <0,05 ng g-1; ND = não detectado
A ∑HPA de baixo peso molecular (ΣBPM) variou de 0,30 a 16,7 ng g-1, e de alto
peso molecular (ΣAPM) variou entre 0,28 e 69,2 ng g-1 (Tabela 2). A razão
ΣBPM/ΣAPM resultou em valores <1 em todos os pontos, exceto nos pontos 4 e 7,
sugerindo que o aporte prevalente dos HPA é proveniente de processos de combustão.
Nos pontos 4 e 7 as razões foram de 1,08 e 0,83 respectivamente; tais valores são
próximos à 1, indicando uma possível mistura de fontes (petrogênicas e pirolíticas).
Além disto, são as menores concentrações, com vários HPA ausentes, o que dificulta a
interpretação de razões que considerem a somatória dos compostos.
CONCLUSÃO
Cabe ressaltar que este estudo foi realizado aproximadamente quatro meses após
as manchas de óleo terem aportado na região, e não se sabe se foi tempo suficiente para
sua total deposição. Portanto, um monitoramento contínuo, abordando aspectos
químicos e outros parâmetros oceanográficos da região, deve ser realizado a fim de
entender a dinâmica destes contaminantes (diluição, dispersão e transporte). Desta
forma, o conjunto de informações poderão subsidiar as decisões das agências
responsáveis pela mitigação e/ou prevenção de desastres na região.
DIFICULDADES ENCONTRADAS
REFERÊNCIAS
ZHANG, W.; ZHANG, S.; WAN, C.; YUE, D.; YE, Y.; WANG, X. Source diagnostics
of polycyclic aromatic hydrocarbons in urban road runoff, dust, rain and canopy
throughfall. Environmental Pollution, 153(3), 594-601p. 2008.