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UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA REMOÇÃO DE


1
POLUENTES PRESENTES EM ÁGUA PRODUZIDA DE PETRÓLEO.

Jéssica Priscila C. de Medeiros2


João Paulo Linhares3
Fábio Pereira Fagundes4

RESUMO

Um dos maiores desafios da indústria petrolífera atualmente é o tratamento e


descarte da água produzida. A problemática consiste na dificuldade de degradação
de todos os compostos presentes na mesma, até um nível adequado que permita o
descarte seguro no meio ambiente. Por esta razão, o uso de materiais
biodegradáveis tem sido considerado como uma das principais alternativas para o
tratamento da água produzida. Em especial, o bagaço da cana-de-açúcar torna-se
uma matéria-prima de alto potencial, em virtude de apresentar uma elevada área
superficial capaz de remover contaminantes oriundos do petróleo, além de
representar um material adsorvente de baixo custo e biodegradável, contribuindo
assim, para a redução dos níveis de poluição ambiental. Nesse contexto o presente
estudo tem como objetivo otimizar o processo de remoção de contaminante via
utilização do bagaço da cana como material adsorvente. Cinéticas de adsorção têm
sido construídas a fim de otimizar o processo de adsorção, avaliando as principais
variáveis de processo. Um planejamento fatorial (STATISTICAL 7.0) foi adotado a
fim de otimizar e avaliar qual parâmetro teria maior influência na cinética de
adsorção do contaminante na superfície do adsorvente. Superfícies de respostas
foram geradas de forma a otimizar as melhores condições para remoção dos
contaminantes. De acordo com os resultados obtidos fica evidenciada a
possibilidade de uso do bagaço como adsorvente para tratamento de água
produzida de petróleo em virtude dos altos valores de remoção atingidos (95%).
Palavras-chave: Água produzida. Bagaço da cana-de-açúcar. Adsorção.

1
Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia de Petróleo e Gás.
2
Graduanda em Engenharia de Petróleo e Gás pela Universidade Potiguar – jesikpri@hotmail.com.
3
Graduando em Engenharia de Petróleo e Gás pela Universidade Potiguar – jplinhares@hotmail.com.
4
Orientador. Doutor em Química (UFRN). Professor da Universidade Potiguar fabiofagundes_unp@yahoo.com.br
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1 INTRODUÇÃO

Desde que ocorreu a implementação e consolidação do petróleo como matriz


energética mundial, a indústria do petróleo procura aperfeiçoar os seus processos
com objetivo da manutenção do lucro e do meio ambiente. Apesar dos imensos
avanços ocorridos no setor petrolífero quanto à inovação de seus processos
tecnológicos, ainda existem alguns gargalos preocupantes. Um exemplo disso
refere-se à água produzida, a qual consiste em toda água contaminada presente na
exploração e produção de hidrocarbonetos por metais pesados, óleo e gás
emulsionado, além de outros compostos. O tratamento e descarte dessa água tem
se tornado um dos maiores desafios da indústria do petróleo atual. (AHMADUN
et.al., 2014).
Essa água é o principal efluente proveniente das instalações de produção de
petróleo e gás, sendo que as plataformas de gás tendem a produzir menores
quantidades, porém com maiores concentrações de contaminantes orgânicos, e as
plataformas de óleo tendem a produzir grandes volumes desse efluente, uma vez
que o volume de água produzida tende a aumentar com o tempo. Em campos
maduros o volume de água pode exceder 10 vezes o volume de óleo produzido
(INFORMAÇÃO TÉCNICA ELPN/IBAMA N° 001, CONAMA, 2006).
A água de produção possui elevado teor de sal com vários poluentes nocivos e
tóxicos em sua composição, podendo ocasionar possíveis danos na tubulação e em
materiais metálicos. Como consequência, a geração de altos volumes de água
produzida a serem jogados nos cursos d’água, causando grandes impactos
ambientais indesejados. O tratamento e descarte dessa água, tem se tornado fonte
de preocupação, e foco de inúmeros estudos com a finalidade de minimizar esse
impacto e trazer alternativas para o seu descarte (referência).
Um dos maiores custos associados ao tratamento de efluentes é a importação
de substâncias químicas de tratamento, uma solução seria utilizar materiais não
convencionais localmente disponíveis, sendo um deles o bagaço da cana de açúcar.
A presença de polímeros derivados da celulose torna em potencial o uso dessa
matéria-prima como um inovador material adsorvente para a remoção de diversos
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contaminantes presentes na água produzida de petróleo. Diante do exposto, o


presente estudo tem por objetivo propor a utilização do bagaço da cana-de-açúcar
como material adsorvente para a remoção de contaminantes oriundos da água
produzida de petróleo.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 ÁGUA PRODUZIDA

A água produzida (AP) é a água aprisionada nas formações subterrâneas que


é trazida à superfície juntamente com petróleo e gás durante as atividades de
produção desses fluidos. Entre os aspectos que merecem atenção estão os seus
elevados volumes e a complexidade da sua composição. Esses aspectos fazem com
que o gerenciamento da AP requeira cuidados específicos, não apenas relacionados
com aspectos técnicos e operacionais, mas, também, os ambientais. Como
consequência, o seu gerenciamento resulta em custos consideravelmente elevados
e que representam um percentual significativo dos custos da produção. (AMINI et al.,
2012).
A água produzida é gerada como subproduto da produção de petróleo e gás,
as alternativas usualmente adotadas para o seu destino são o descarte, a injeção e
o reuso. Em todos os casos, há necessidade de tratamento específico a fim de
atender as demandas ambientais, operacionais ou da atividade produtiva que a
utilizará como insumo. Um dos objetivos do tratamento é a remoção de óleo, que
pode estar presente na água sob as seguintes formas; livre, em emulsão (ou
emulsionada) e dissolvido. Dessas três, o óleo sob a forma emulsionada é a que
mais preocupa, devido ao elevado grau de dificuldade encontrado para a sua
remoção. (MOTTA et al.,2013).

2.1.1 Características de água produzida

Os componentes presentes na água produzida podem variar de formação para


formação, de poço para poço, podendo uma água ter ou não determinados
constituintes. O crescente volume resultante constitui-se em um perigo potencial
para o meio ambiente. No geral a água produzida inclui: compostos orgânicos (óleo
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solúvel e emulsificado e óleo insolúvel); compostos inorgânicos (sais e metais);


bactérias; sólidos totais dissolvidos (grãos de rochas de formação); gases
dissolvidos (dióxido de carbono, oxigênio e sulfeto de hidrogênio). Podendo também,
apresentar materiais radioativos no caso de ocorrência natural destes elementos na
rocha reservatório. Os riscos ambientais relacionados a AP podem variar de acordo
com as características do local. (VIEIRA et al.,2011).

2.2 PROBLEMAS ASSOCIADOS À ÁGUA PRODUZIDA

No que diz respeito à água produzida, esta possui características específicas,


visto que é o resíduo associado ao óleo extraído do reservatório. A água produzida
constitui um dos principais problemas associados à atividade de extração de
petróleo, a qual é o efluente que resulta dos processos de separação nas estações
coletoras e de tratamentos dos campos de produção de petróleo. Portanto, é
pertinente o correto manejo e disposição da água produzida, que compõe a maior
parte do volume gerado na E&P de petróleo e gás, sendo levada à superfície em
emulsão, junto com óleo e gás (JERÔNIMO, 2012).
Na indústria do petróleo vários segmentos podem agredir ao meio ambiente.
No segmento representado pela Extração do Petróleo, o poluente mais relevante,
particularmente pelo volume envolvido, é a água produzida juntamente com o
petróleo. Esta água contém geralmente alta salinidade, partículas de óleo em
suspensão, produtos químicos adicionados nos diversos processos de produção,
metais pesados e por vezes alguma radioatividade. Isto a torna um poluente de
difícil descarte agravando-se pelo expressivo volume envolvido. O descarte
inadequado de efluentes implica em efeitos nocivos ao meio ambiente, na
repercussão negativa indesejada, penalidades diversas e um custo elevado com
ações corretivas e mitigadoras (SILVA, 2000).
Os riscos ambientais associados à água produzida podem variar em função
da composição da água, das características do local em que ela ocorre e da sua
disposição final. A água produzida pode ser a existente no reservatório de óleo
desde a sua formação, a que chamamos Água Conata, ou a sua mistura com a água
subterrânea que pode estar sendo utilizada em processos de recuperação
secundária denominada de Água de Injeção. A Água Conata pode conter alta
salinidade e presença de metais pesados em percentuais variados. A água
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produzida pode também conter uma grande variedade de componentes orgânicos


dissolvidos. Na formação do reservatório, água e óleo permaneceram em contato
por longos períodos geológicos, propiciando a solubilidade de orgânicos. A
composição da água produzida é então variável assim como a sua toxicidade. Isso
precisa ser considerado ao ser-lhe dado um destino, assim como ao avaliar
possíveis impactos ao meio ambiente (SILVA, 2000).
Outro grande problema é gerado na própria produção do petróleo associado
sendo o que se chama de incrustações, pela precipitação de sais inorgânicos,
principalmente de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+). A incrustação provoca depósitos
em dutos e equipamentos afetando a produção de petróleo e aumentando a
necessidade de manutenção desses. Associado a presença dos íons Ca2+ e Mg2+
está a dureza, que é uma característica adquirida pela água devido à presença de
sais alcalino-terrosos, e serve como indicativo da capacidade de gerar incrustações
(GALVÃO et. al., 37a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química.)

2.3 PROCESSOS DE TRATAMENTO DA ÁGUA PRODUZIDA

A água produzida é o maior fluxo de resíduos gerados nas indústrias de


petróleo e gás. É uma mistura de diferentes compostos orgânicos e inorgânicos.
Devido ao crescente volume de resíduos em todo o mundo na década atual, o
desfecho e do efeito da descarga de água produzida no ambiente recentemente se
tornou uma questão importante de preocupação ambiental. A escolha do tipo de
processo a ser adotado para o tratamento da água produzida em uma instalação,
depende dos compostos que se deseja remover, e da sua destinação final: descarte
ou reinjeção. Outros fatores também podem influenciar no processo de tratamento,
tais como; localização da base de produção, viabilidade técnica, custos, legislação e
disponibilidade de infraestrutura e de equipamentos. (FAKHRU’L-RAZI et al., 2009).
O tratamento dessa água pode ser feito com os seguintes objetivos: remoção
de óleo sob as formas dispersas; remoção de compostos orgânicos solúveis;
desinfecção, para remoção de bactérias e algas; remoção de SS (Compostos á base
de enxofre??), turbidez e areia; remoção de gases dissolvidos, como gases de
hidrocarbonetos leves, CO2 e H2S; dessalinização, para remoção de sais dissolvidos,
sulfatos, nitratos e agentes de incrustação; abrandamento, para remoção de dureza
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em excesso. Para remoção dos compostos citados, são usados vários processos
físicos, químicos e biológicos (referência).
Diversos tipos de tratamentos estão empregados na indústria do petróleo para
o tratamento da água produzida e outros em fase de pesquisas, visando remover a
maior quantidade possível de óleos e graxas associadas à água. Dentre os
tratamentos utilizados podemos destacar: flotação, filtração, hidrociclones e os
separadores gravitacionais. Por outro lado, esses processos apresentam
desvantagens, como o elevado tempo de residência requerido, a utilização de
produtos químicos especiais e de alto custo, a geração de resíduos sólidos e baixas
eficiências (referência).
Oliveira e colaboradores (2000) identificaram que, para atingir níveis
satisfatórios de remoção de poluentes e tendo o tempo como variável predominante,
é preciso o uso de técnicas em forma conjunta e sinérgica. Nesse contexto,
diferentes estratégias de remoção são utilizadas, dentre as quais se destacam:
membranas por filtração, ultrassom e raios ultravioleta, processos eletroquímicos,
processos oxidativos avançados (POAs) e processos de adsorção. Esse último vem
recebendo uma maior atenção em virtude de seu caráter renovável e a possibilidade
de uso do adsorvente “in natura”. Em paralelo, métodos alternativos oriundos de
biomassa vêm sendo estudados devido ao baixo custo operacional, a alta eficiência
no processo, biodegradabilidade e produção em grande escala.

2.4 FENÔMENO DE ADSORÇÃO

Adsorção é uma operação de transferência de massa do tipo sólido fluido na


qual se explora a habilidade de certos sólidos em concentrar na sua superfície
determinadas substâncias existentes em soluções liquidas ou gasosas, o que
permite separá-las dos demais componentes dessas soluções (GOMIDE, 1987).
Este fenômeno depende muito do sólido que será usado como adsorvente.
Um bom adsorvente deve ter uma área específica alta (como, por exemplo, sílica gel
que pode ter de 340 m² /g a 800 m² /g e isso só pode ser encontrado em sólidos
altamente porosos (RUTHVEN, 1984)
O número de moléculas que podem acumular sobre a superfície depende de
vários fatores, dentre os quais destacam-se a temperatura, concentração de
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adsorvente e adsorbato, pH, concentração de sais e tipo e quantidade de grupos


funcionais presentes na superfície do suporte [referência]. Uma vez que, em geral, o
processo é reversível, uma baixa concentração no fluido cobrirá a superfície do
adsorvente apenas até o ponto em que a pressão exercida pela fase adsorvida é
igual à que é ditada no fluido. Assegurada uma concentração suficiente no fluido, as
forças de adsorção física podem continuar a ter influência até se terem acumulado
sobre a superfície várias camadas de moléculas, talvez cinco ou seis. Se a
superfície existir em poros estreitos, nesse caso o número máximo de camadas
pode estar restringido pelas dimensões do próprio poro (COULSON et al, 1982).
Com o propósito de reduzir o alto custo dos processos de separação por
adsorção, principalmente devido ao elevado valor de alguns adsorventes, como o
carvão ativo (ALSINA et. al., 2006), vários métodos alternativos têm sido estudados;
entre estes, pode-se citar a bioadsorção.

2.4.1 Bioadsorventes
A utilização de biomassas para tratamento de efluentes contaminados através
de adsorção vem ganhando espaço no campo das pesquisas. Isto se deve ao fato
de tratamentos convencionais possuírem um custo elevado, comparando com a
biomassa, principalmente em países como o Brasil, que possuem como atividade
predominante a agricultura, gerando assim, grandes quantidades de resíduos como
é o caso da palha de milho e o bagaço de cana-de-açúcar (SANTOS, 2006).
Várias técnicas têm sido amplamente úteis usando essas biomassas,
principalmente quando se trata da remoção de compostos orgânicos altamente
tóxicos, esses métodos utilizam coagulação, filtração, precipitação dessas
substâncias que são dispensadas em águas que fazem parte do ecossistema, assim
como em águas residuais. Essas técnicas são estudadas para limitar os altos custos
operados para tratamento de água, aplicados na atualidade. A técnica de adsorção
também é um, a dessas que vem sendo amplamente estudada na atualidade
(MAGDA et. al., 2014)
Dentre as biomassas empregadas como bioadsorventes encontram-se as
plantas aquáticas, as fibras de algodão, a serragem da madeira, bagaço da
cana-de-açúcar, o sabugo de milho, o coco babaçu e coco da praia, entre outros.
Estes materiais, tanto podem ser utilizados como suporte para novos adsorventes ou
serem utilizados in natura como tal, representando assim uma grande redução nos
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custos (SANTOS e colaboradores 2003). Sendo o bagaço da cana uma das matérias
primas mais utilizadas na produção brasileira, devido a sua grande extensão
territorial e variedade de espaços ricos para o cultivo da agricultura. Que estes
possuem propriedades altamente hidrofóbicas, somadas à elevada porosidade,
desenvolvendo uma força capilar no sentido da adsorção de óleos.
Por esta razão, o uso de materiais porosos em associação com radiações UV
tem sido considerado como uma das principais alternativas para o tratamento da
água produzida. Dentre os inúmeros materiais utilizados para a remoção de
contaminantes, os de origem renovável tem chamado bastante atenção, tendo em
vista, a redução dos níveis de poluição ambiental.

2.4.2 Cana de açúcar: bagaço

O Brasil é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo com


mais de 650 milhões de toneladas em 2012/2013. Esse fato torna a sacarose uma
matéria-prima de baixo custo, quando comparada ao custo de outros países
produtores. No entanto, o insumo gerado (bagaço da cana) é, ainda, um resíduo
pouco explorado pelas indústrias. O bagaço in natura é composto,
aproximadamente, por 44.5% de fibras lignocelulósicas, 50% de umidade, 2.5% de
sólidos solúveis em água e 3% de teor de cinzas (PANDEY et al., 2000).
A presença de polímeros derivados da celulose torna em potencial o uso
dessa matéria-prima como um inovador material adsorvente para a remoção de
diversos contaminantes, presentes na água produzida derivada de poços de
petróleo. A maioria dos trabalhos tem explorado o mecanismo de adsorção em
diferentes meios porosos, tentando associar a sorção do contaminante nos suportes
através das interações físicas e químicas, em que tanto os microporos quanto as
propriedades ácido-base da superfície tem papel essencial no mecanismo do
processo (ZHANG et al, 2006; GUILARDUCI et al., 2000).
Nesse contexto, a cana de açúcar tem recebido cada vez mais destaque no
cenário mundial por ser matéria-prima de grande eficiência na produção de
biocombustíveis, sem mencionar que o seu resíduo é responsável pela remoção de
metais pesados no tratamento de efluentes.
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3 METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO PETRÓLEO

O petróleo utilizado possui 22º API, de acordo com a tabela de classificação


para medir a densidade relativa dos fluidos é considerado um óleo médio, possui
densidade absoluta de 920,97 kg/m³, medido com temperatura à 25º C no
equipamento DMA 4200 M.

3.2 PRÉ-TATAMENTO DO ADSORVENTE: BAGAÇO IN NATURA

O bagaço de cana in natura foi lavado com água com água destilada,
objetivando a remoção dos materiais indesejáveis como: pedaços de palha, areia ou
madeira e/ou simplesmente contaminantes solúveis em água que pudessem causar
interferência nos resultados experimentais. Após a lavagem, o bagaço foi seco em
estufa à temperatura de 105 ºC por 12 horas.

3.2.1 Distribuição do tamanho da partícula

A distribuição relativa do tamanho das partículas dos grãos oriundos da


trituração do bagaço da cana foi realizada através de peneiração a seco. A amostra
foi submetida à vibração, durante 15 minutos, em um conjunto de peneiras de
aberturas previamente escolhidas (100 mesh) em função do material, empregando,
para essa finalidade, um agitador mecânico. O adsorvente sendo utilizado de forma
micronizada possibilitou uma maior superfície de contato entre as moléculas em
solução e a superfície adsorvente, de maneira que o equilíbrio possa ser atingido
mais rapidamente.

3.3 PURIFICAÇÃO DO BAGAÇO DA CANA DE AÇÚCAR

O insumo derivado da cana-de-açúcar foi purificado usando o método


desenvolvido por Rodrigues e colaboradores (2000). De acordo com os autores,
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uma quantidade pré-estabelecida do bagaço foi mantida sob agitação constante em


solução aquosa de hidróxido de sódio (0,25 M) por 24 horas. Posteriormente, essa
mistura foi filtrada e lavada com água destilada a fim de remover as impurezas
solúveis em óleo. Após esse processo, o bagaço foi lavado com água destilada e
seco à 105 ºC por 12 horas. Alíquotas foram removidas durante o processo de
lavagem para serem avaliadas em um espectrofotômetro de UV-visível (340 nm)
como indicativo que todas as impurezas presentes foram removidas da superfície do
bagaço.

3.2 CONSTRUÇÃO DE CURVAS DE CALIBRAÇÃO

Soluções com concentrações pré-estabelecidas do contaminante (petróleo)


foram utilizadas para a preparação das curvas de calibração. Os ensaios foram
realizados em um espectrofotômetro de absorção na região do UV-visível, Digital
Micro processado, modelo Q898U2M da QUIMIS (Equipamento disponível na
instituição – Universidade Potiguar). A quantidade de contaminante removido do
meio aquoso, assim como o efeito de cada variável de processo, será feita através
da construção de cinéticas de adsorção. Através da integração de medidas dos
espectros de UV, registrados a partir da amostra inicial, será possível avaliar o
percentual do contaminante.

3.3 DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE PETRÓLEO/HEXANO

Uma solução de petróleo/hexano (25 ml de hexano e 0,4 ml de petróleo) foi


preparada e submetida a agitação constante por 30 minutos. Posteriormente, em
tempos pré-estabelecidos foi retirada uma alíquota dessa mistura e realizada sua
leitura em um espectrofotômetro UV-Visível (340 nm).

3.4 DETERMINAÇÃO DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO

Os testes de adsorção do petróleo na superfície do bagaço foram realizados


com o adsorvente antes e após o tratamento, em diferentes concentrações de
adsorbato/adsorvente. Foi adotado um tempo de 30 minutos para a realização da
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cinética de adsorção, tendo em vista que, em testes preliminares, foi verificado um


máximo de adsorção após o tempo de 15 minutos.

3.5 OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE ADSORÇÃO POR MODELAGEM FATORIAL

Superfícies de respostas são utilizadas para examinar as relações entre uma ou


mais variáveis e um conjunto quantitativo de fatores experimentais. Esses métodos
estatísticos são empregados após uma triagem dos fatores importantes, que
geralmente é realizada previamente por um planejamento fatorial. Após isso, é
preciso encontrar um dos níveis de fatores que otimizem a resposta. Para estudar a
otimização das variáveis do processo de adsorção de contaminantes (petróleo) na
superfície do adsorvente (bagaço da cana), a quantidade de adsorvente e adsorbato
foram avaliadas. O planejamento fatorial de 32 foi utilizado: três níveis com dois
efeitos principais associados à concentração do contaminante (%) e concentração
do adsorvente (bagaço), além da interação das variáveis, conforme pode ser
visualizado na Tabela 1.

Variáveis estudadas Níveis

Concentração de adsorbato (µL/25 mL 400 (-1) – 800 (0) – 1200 (+1)


de hexano)

Concentração de adsorvente (g/25 mL 0,5 (-1) – 1,25 (0) – 2 (+1)


de hexano)

Tabela 1 - Planejamento fatorial adotado para a determinação dos efeitos.


Fonte: Autor

Os níveis dos fatores foram codificados como -1 (baixo), 0 (ponto central) e 1


(alto). Para tratamento dos dados, o programa estatístico Statistical Software versão
7.0 foi empregado para obtenção dos efeitos, coeficientes e desvio padrão dos
coeficientes, gráficos dos efeitos padronizados, gráfico de pareto e as superfícies de
respostas e de outros parâmetros estatísticos dos modelos ajustados. Após realizar
uma triagem dos fatores com o planejamento fatorial, uma análise de superfície de
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resposta empregando planejamento composto central foi realizada para se obter o


máximo percentual de adsorção do petróleo na superfície do adsorvente.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PURIFICAÇÃO DO BAGAÇO DA CANA.

Após o processo de lavagem do bagaço, o sobrenadante foi removido para


leitura no espectrofotômetro (comprimento de onda 340 nm) com o intuito de avaliar
a eficiência da purificação. Os resultados indicaram que após o contato com NaOH
seguido de lavagens com água destilada foi obtido absorbância próxima de 0,
indicando, portanto, a eficiência do processo.

4.2 CURVAS DE CALIBRAÇÃO

O gráfico 1 mostra a curva de calibração (absorbância em função da


concentração de petróleo) para o sistema petróleo/hexano utilizado.

Gráfico 1 – Absorbância em relação a concentração do adsorvente (CORRIGIR É


CONCENTRAÇÂO DE PETRÓLEO).
Fonte: Autor
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De acordo com o resultado, a curva de calibração de absorbância versus


concentração do petróleo mostrou um coeficiente de regressão linear próximo de 1
(R2) para o sistema utilizado, evidenciando, portanto, a possibilidade de
quantificação desse poluente durante o processo de adsorção.

4.3 Testes de estabilidade do sistema

Antes de iniciar os testes de adsorção, foi avaliada estabilidade do


contaminante (petróleo) em hexano em função do tempo. A cada 30 minutos foi
retirada uma amostra dessa mistura e logo feita a sua leitura utilizando um
espectrofotômetro na região UV-Visível (Comprimento de onda 340 nm). O gráfico 2
mostra a concentração do contaminante (g/L) em função do tempo (sistema: 25 mL
de hexano + 400 µL de petróleo).

Gráfico 2 – Concentração em função do tempo (minutos) para o sistema 400 µL de petróleo + 25 ml


de hexano.
Fonte: Autor

De acordo com os dados obtidos do gráfico 2, pode-se observar que a


concentração é praticamente constante e não há interferências externas no
resultado do processo, caracterizando a estabilidade da solução e implicando no fato
que qualquer alteração na concentração do sobrenadante se dará em função da
interação com o suporte.
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4.4 INFLUÊNCIA DO PROCESSO DE PURIFICAÇÃO NA EFICIÊNCIA DE


REMOÇÃO DOS CONTAMINANTES.

Com o objetivo de avaliar a eficiência de remoção de contaminantes utilizando


o suporte in natura e purificado, foi realizada uma modelagem fatorial onde foi
possível avaliar o efeito das interações dessas variáveis (Concentração de
adsorbato, concentração de adsorvente in natura e purificado) na eficiência do
processo de remoção do contaminante do meio. ATabela 4 mostra os resultados do
planejamento fatorial adotado (32) para o processo de adsorção do petróleo na
bagaço in natura e purificado.

C. do contaminante (mL) Absorbância


400 0,544
800 1,116
1200 1,736

Tabela 2 – Concentração de 25 ml de hexano mais variação da quantidade do contaminante.


Fonte: Autor

  C. do bagaço (g) C. do contaminante (mL) Abs. In Natura Abs. Purificado


EXP1 0,5 400 0,214 0,111
EXP2 0,5 800 0,257 0,107
EXP3 0,5 1200 0,433 0,271
EXP4 2 400 0,237 0,149
EXP5 2 800 0,511 0,294
EXP6 2 1200 0,848 0,491
EXP7 1,25 400 0,227 0,112
EXP8 1,25 800 0,444 0,216
EXP9 1,25 1200 0,645 0,317

Tabela 3 - variações da quantidade do adsorvente (bagaço da cana) em função das variações da


quantidade do contaminante. (ADICIONAR UMA COLUNA PRA COLOCAR AS ABSORBÂNCIAS
INICIAIS e retirar a tabela 2)
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Fonte: Autor

Os gráficos a 3,4 e 5 mostram os resultados da eficiência de remoção do


contaminante em função das diferentes concentrações do bagaço in natura e
purificado.

Gráfico 3 – Porcentagem de remoção para 0,5 g de bagaço.


Fonte: Autor

Gráfico 4 – Porcentagem de remoção para 1,25 g de bagaço.


Fonte: Autor
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Gráfico 5 – Porcentagem de remoção para 2 g de bagaço.


Fonte: Autor

A interação do contaminante com o bagaço da cana purificado foi maior


comparado ao bagaço não purificado nas concentrações de contaminante e
adsorvente estudadas, como pode ser visualizado nos gráficos 3,4 e 5. A presença
de impurezas presentes na superfície do bagaço não purificado, provavelmente, foi
responsável pela competição das moléculas do contaminante com as impurezas
presentes, dificultando assim, o processo de quimiossorção e fisiossorção das
moléculas na superfície do suporte. Além disso, observa-se que o aumento da
eficiência de remoção do suporte não é proporcional ao aumento de sua
concentração no meio (Ver gráficos 3, 4 e 5). Isso pode ser explicado,
provavelmente, devido ao efeito competitivo das partículas de bagaço que tendem a
ficar cada vez menos dispersas no meio e, assim, promover uma maior interação
interpartículas com redução de área superficial, o que certamente reduzirá o
percentual de remoção. De acordo com os dados apresentados o sistema contendo

800 μL de contaminante + 0.5 g de bagaço purificado foi responsável por uma

eficiência de 95% de remoção.


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4.3 OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE ADSORÇÃO POR MODELAGEM FATORIAL

A aplicação prática da MSR envolve necessariamente a construção de um


modelo de aproximação para a melhor superfície de resposta. O modelo de
aproximação baseia-se nos dados observados do sistema ou processo,
constituindo-se no modelo empírico. Em geral, foi assumido, inicialmente, um
modelo de regressão polinomial de baixa ordem (primeira ordem), em que a relação
entre a(s) variável(eis) xi e a resposta y pode ser escrita como:

Caso haja interação entre os fatores, pode-se aplicar o modelo:

Onde: β0, β i, βii, e βij são parâmetros dos polinômios estimados pelo método dos
mínimos quadrados.
De acordo com o diagrama de Pareto, os parâmetros em avaliação possuíram
efeitos lineares sobre a eficiência de remoção do contaminante do meio. Quanto aos
efeitos quadráticos, não foi apresentada significância estatística.

Gráfico de Paretto
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Através da modelagem fatorial foi possível mapear o efeito das interações das
variáveis (Concentração de adsorbato e adsorvente ideal) na eficiência do processo
de remoção do contaminante do meio. As figuras 6 e 7 mostram as superfícies de
resposta do percentual de remoção (%) em função da concentração de
contaminante versus concentração do bagaço da cana-de-açúcar in natura e
purificado, respectivamente .

Gráfico 6 – A superfície de resposta do percentual de remoção (%) em função da concentração de


contaminante versus concentração do bagaço da cana-de-açúcar in natura.
Fonte: Autor
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Gráfico 7 – A superfície de resposta do percentual de remoção (%) em função da concentração de


contaminante versus concentração do bagaço da cana-de-açúcar purificado.
Fonte: Autor

5 CONCLUSÃO

Com base nesse estudo e dados apresentados, observa-se que o bagaço da


cana de açúcar purificado tem uma porcentagem maior de redução de
contaminantes em relação ao bagaço da cana in natura, considerando assim um
potencial promissor para a remoção de contaminantes presentes em águas
contaminadas, especialmente, a água produzida. Estudos vêm sendo realizados a
fim de aperfeiçoar a cinética de adsorção desses contaminantes em materiais
porosos através de modelagem fatorial (STATISTICAL 7.0), de forma a determinar
as principais variáveis que governam a cinética de adsorção.
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UTILIZATION OF SUGARCANE BAGASSE FOR REMOTION OF POLLUENTS


FROM PRODUCED WATER OF OIL WELLS

ABSTRACT

One of the biggest challenges of the oil industry is currently the treatment and
disposal of produced water. The problem is the difficulty of degradation of all the
compounds present in it until an adequate level that allows for safe disposal into the
environment. For this reason, the use of porous materials has been considered as
one of the main alternatives for the treatment of produced water. In particular, sugar
cane bagasse becomes a raw material of high potential, due to a high surface area
capable of removing contaminants from oil, besides to representing an adsorbent
material of low cost and biodegradable, thereby contributing, to reduce environmental
pollution. Therefore, this study aims to optimize the process of removing
contaminants through the use of sugarcane bagasse as adsorbent material.
Adsorption isotherms have been built in order to optimize the adsorption process,
assessing the major process variables. A factorial design (STATISTICAL 7.0) was
adopted in order to optimize and evaluate which parameter would have greater
influence on the contaminant adsorption kinetics in the removal process. Response
surfaces were generated in order to optimize the best conditions for removal of
contaminants.
Keywords: Produced water. Sugarcane bagasse. Adsorption.
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