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Processo n° 0709655-65.2019.8.07.0018
SENTENÇA
Vistos etc.
Trata-se de ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, ajuizada pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, por meio da Promotoria de Justiça de
Defesa do Patrimônio Público e Social, em desfavor do DISTRITO FEDERAL, em razão de ato do
Tribunal de Contas do Distrito Federal.
Narrou que, no dia 15 de dezembro de 2016, foi eleita Presidente do TCDF a Conselheira Anilcéia Luzia
Machado. Ao fim do mandato, contudo, ela se lançou novamente candidata e foi reeleita em 13/12/2018
para o biênio 2019/2020.
Aduziu que o ato é ilegal, pois a Conselheira sequer poderia ter concorrido à reeleição.
Relatou que o próprio Ministério Público junto ao TCDF ofertou representação questionado o ato de
reeleição, contudo a Corte suspendeu o feito originado da representação para aguardar a conclusão da
ADPF 593.
Afirmou que projeto de lei de iniciativa do próprio TCDF, no ano 2000, eliminou do art. 67 da LOTCDF
a possibilidade de reeleição ao cargo em comento.
Segundo o Ministério Público, a Lei Orgânica da Magistratura não só não prevê a possibilidade de
reeleição, como a veda, taxativamente, dispondo que referidos mandatos diretivos sejam exercidos por,
apenas, 02 (dois) anos, conforme redação do art. 102.
Por determinação do Juízo, o Distrito Federal foi intimado a se manifestar quanto ao pedido de tutela de
urgência, o que foi realizado por meio da petição de ID 46555584.
Citado, o réu apresentou contestação, na qual postulou a improcedência dos pedidos (ID 55056973).
Réplica ao ID 60113758.
Procedo ao julgamento antecipado de mérito, pois, nos termos do art. 355, I, do Novo Código de Processo
Civil, não há necessidade de produção de outras provas.
Observo que estão presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. Constato, ainda, que esta
ação foi regularmente processada, com observância dos ritos e formalidades previstas em lei, razão por
que não há nulidade ou irregularidade a ser sanada por este Juízo.
Com efeito, o art. 73 da Constituição Federal dispõe que os Ministros do Tribunal de Contas da União
terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do
Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes
do art. 40.
Por sua vez o art. 75 da Carga Magna estende aos tribunais de contas dos estados e do Distrito Federal, no
que couber, o regime constitucional aplicável ao TCU. Com fundamento nesse dispositivo, a Lei Orgânica
do Distrito Federal, ao dispor sobre o Tribunal de Contas do Distrito Federal, estabeleceu no art. 82, § 4º,
que:
Fundado nessas premissas, o autor requer seja aplicado ao TCDF a vedação estabelecida no art. 102 da
Lei Orgânica da Magistratura (LOMAN) quanto à reeleição aos cargos diretivos, segundo o qual:
Ocorre que a regra que veda a reeleição para cargos de direção de Tribunais não é de reprodução
obrigatória aos Tribunais de Contas. Isso porque, conforme ressaltado na decisão que indeferiu a tutela de
urgência, a extensão das regras da magistratura aos Tribunais de Contas diz respeito apenas às garantias,
prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens conferidas aos ocupantes dos cargos de
Conselheiro de Contas, e não às Cortes de Contas.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal indeferiu medida cautelar em Ação Direta de
Inconstitucionalidade ao argumento de que os artigos 93 e 102 da Lei Orgânica da Magistratura são
inaplicáveis às Cortes de Contas (ADI 3377 MC/RJ, Tribunal Pleno, Relator Min. Marco Aurélio,
Julgamento 14/04/2005, Publicação 20/05/2005).
Ademais, o fato de a Lei Orgânica do TCDF não prever expressamente a possibilidade de recondução ao
cargo de Presidente da referida Corte não pode, por si só, ser considerada vedação à referida
possibilidade, uma vez que a norma deve ser interpretada sistematicamente.
A mera alteração do artigo 67 da citada lei, ocorrida em 2000 por meio da LC 339/00, com a exclusão da
previsão de reeleição para os cargos de direção da Corte de Contas, não induz à conclusão de que há
vedação à recondução, pois o artigo é silente quanto à hipótese. Com efeito, a atual redação encontra-se
assim redigida:
Art. 67. Os Conselheiros elegerão o Presidente e o Vice-Presidente do Tribunal, para mandato de dois
anos, com início a 1º de janeiro dos anos ímpares.
Não há se falar em silêncio eloquente, como diz o autor, porque o que o Parquet pretende é a criação de
uma norma restritiva, de uma cláusula de barreira, não prevista pelo legislador. Se o legislador quisesse
poderia, por ocasião da referida alteração legislativa, ter reproduzido integralmente o art. 102 da
LOMAN, mas não o fez. Foi escolha do órgão compete para legislar sobre a matéria a exclusão da
previsão de proibição de reeleição contida na lei da magistratura.
Logo, não há como o Poder Judiciário, que não tem função legislativa, criar vedação não estabelecida
pelo Legislador ou pelo órgão ao qual foram conferidas prerrogativas de autonomia administrativa e
autogoverno, sob pena de violação do princípio da separação de atribuições.
Assim, compete às Cortes de Contas a iniciativa de lei que dispõe sobre sua organização interna e
funcionamento. Se o próprio Poder Legislativo, que é democraticamente eleito, não pode iniciar leis a
respeito da organização e funcionamento de Tribunais de Contas, menos ainda o Poder Judiciário poderia
atuar por analogia não estabelecida pela Constituição para suprir omissão do órgão competente para a
proposição legislativa.
Dispositivo
Declaro resolvido o mérito da demanda, com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de Processo
Civil.
Juiz de Direito
pbb