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RELATÓRIO
É o relatório.
VOTO
2. Não merece prosperar o recurso, uma vez que não incorreu o acórdão
embargado em nenhuma omissão, haja vista que foi consignada a completa falta de provas
tendentes a demonstrar a presença do vigilante no local, sendo certo que o ônus de tal prova,
em sede de relação consumerista, é do fornecedor.
Confira-se a seguinte passagem do voto condutor:
O Tribunal, por seu turno, asseverou a completa falta de provas tendentes
a demonstrar a permanência na cena do segurança do shopping; a
inviabilidade de se levar em conta prova formada unilateralmente pela ré -
que, somente após intimada, apresentou os vídeos do evento, os quais
ainda foram inúteis em virtude de defeito; bem como enfatizou ser o local em
que se encontra a cancela para saída do estacionamento uma área de alto
risco de roubos e furtos, cuja segurança sempre se mostrou insuficiente (fls.
141-142):
Para caracterização da responsabilidade objetiva da empresa ré, deve
restar comprovado o dano, o nexo de causalidade e a inexistência de
excludente de responsabilidade. Ora, o fato narrado, ou seja, a tentativa
de assalto dentro do estacionamento da apelada restou comprovada
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pelos depoimentos das testemunhas e até mesmo pelo reconhecimento
da ré, que comprova também o nexo de causalidade existente.
Quanto a primeira excludente, é preciso que se advirta que, apesar do
magistrado de primeiro grau ter narrado em sua sentença que o fato do
vigilante que se encontrava no local do ocorrido não ter fugido no
momento da tentativa de assalto, e que tudo não passava de
invencionice da apelante, não deve ser levado em consideração.
Primeiro, porque se trata de uma prova produzida unilateralmente pela
apelada, pois apenas suas testemunhas confirmaram que o vigilante não
se evadiu do local, segundo porque apesar de ser público e notório que
nas proximidades da saída do Manaíra Shopping em direção a Glacê
Recepções é uma área problemática em relação a furtos e assaltos, já
tendo inclusive havido no local o assassinato de um engenheiro, mesmo
assim, pode ser verificado que o número de seguranças naquela área é
sempre o mínimo não passando de um ou dois funcionários.
Ainda para comprovar a precariedade da segurança do estacionamento
da apelada, pode ser demonstrado através do acórdão nº
001.2006.031702-9/001, de relatoria do juiz convocado Rodrigo Marques
Silva Lima, em que a Sra. Isabele de Oliveira Barbosa passou por
verdadeiros momentos de terror nas mãos de um assaltante que a
abordou no interior do aludido estacionamento.
Frise-se ainda que não há que se falar no caso em comento de fortuito
externo como salientou o juízo a quo. Fortuito externo ou força maior,
são fatos da natureza tais como enchentes, raios, terremotos, etc, e que
se caracterizam por serem imprevisíveis e inevitáveis.
De acordo com o professor Pablo Stolze, a diferença entre caso fortuito
interno e externo é aplicável, especialmente, nas relações de consumo.
O caso fortuito interno incide durante o processo de elaboração do
produto ou execução do serviço, não eximindo a responsabilidade civil do
fornecedor. Já o caso fortuito externo é alheio ou estranho ao processo
de elaboração do produto ou execução do serviço, excluindo a
responsabilidade civil.
Sendo de consumo a relação entre as partes, presume-se a
hipossuficiência da autora em relação ao shopping center, e é
exatamente por causa dessa vulnerabilidade do consumidor que se
aplica a responsabilidade objetiva.
Ora, é evidente o descompasso existente entre a situação econômica do
Manaíra Shopping e da autora e, além disso, o que normalmente se
espera de um estacionamento de shopping é a segurança e a empresa
ré não comprovou, em momento algum, que não houve dano. Além disso,
como se verifica dos autos há verossimilhança nas alegações da autora,
o que torna perfeitamente cabível a indenização por dano material.
No que pese o magistrado de primeiro grau ter entendido que não houve
dano, não resta dúvida que este ocorreu sim, afinal um ser humano que
tenha uma arma apontada para si, passando por momentos de profunda
agonia, tem-se como inacreditável que não fique abalado
psicologicamente, havendo um distanciamento abissal de tal momento
para um simples aborrecimento do dia a dia.
Arrematando a fundamentação até aqui exposta, é de bom alvitre frisar
que a exibição do vídeo com o acontecimento dos fatos ocorridos nas
dependências do apelado seria de muita valia para demonstrar a
coragem imputada a seu segurança, e, ainda, que de fato a apelante
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sofreu não um dano, mas um mero aborrecimento. Contudo, mesmo
intimado para apresentar os DVDS/CDS no prazo do despacho saneador
(fl. 46/47), ou seja, 10 (dez) dias antes da aludida audiência, e com o
agravante do mencionado material não ter qualquer serventia, tendo em
vista que os aludidos discos graváveis estavam com defeito. Ressalve-se
que tal defeito poderia ter sido evitado se o demandado tivesse
obedecido o prazo estipulado pelo magistrado de primeiro grau, pois
assim, poderia testar os mencionados DVDS/CDS, fato este que não
ocorreu exclusivamente por culpa do recorrido que desobedeceu o
prazo que lhe foi conferido. Logo, se há alguém que não conseguiu
provar aquilo que alega, este não foi a demandante, até porque seria
impossível para esta exibir a aludida filmagem.
Nessa quadra, com base na carga dinâmica da prova, cuja
principiologia está a indicar que o ônus da prova cabe àquela parte que
dispõe de melhores
condições — estruturais, funcionais, econômicas, fáticas e jurídicas,
enfim — de fazê-lo, mormente em se tratando de relações de
consumo. Nesse diapasão, o CDC não destoa, e estatui, no art. 6°, inc.
VIII, que é direito básico do consumidor "a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências".