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A propósito da nova Lei do Centro de Estudos Judiciários pode afirmar-se que o que sobrou
aos decisores políticos relativamente à vontade de mudar o sistema de formação nalguns aspec-
tos pontuais, faltou na disponibilidade para uma profunda discussão acerca do modelo de magis-
trado para o futuro.
Neste artigo, o Autor centra a sua atenção naquilo que é verdadeiramente essencial para o
futuro da judicatura nacional e lança o debate com um interessante desafio: Que magistrados
queremos a administrar a Justiça em nome do Povo que somos?
Para além de um conhecimento profundo de vários ramos do saber que interferem com a
administração da justiça, nos dias de hoje é indiscutível que a aposta passa pelo fomento nos
futuros magistrados de uma cultura judiciária de cariz democrática, de cidadania e de proximi-
dade com os cidadãos, de responsabilidade, de isenção e de ética e, em particular, de salvaguarda
intransigente dos direitos humanos. É assim imperioso que o Centro de Estudos Judiciários se
transforme numa verdadeira Escola de Educação para o Exercício de Funções Soberanas e
não seja apenas uma entidade formadora de técnicos especializados na aplicação prática do
Direito.
A leitura do texto permite compreender quais foram as modificações mais significativas em
relação ao modelo anterior que o tempo se encarregará de confirmar se são as soluções mais ade-
quadas para conseguir o objectivo a que a lei se propõe.
1 Estatuto que, no âmbito do mesmo modelo de organização do Estado, não poderá variar ao
sabor da vontade de maiorias político — partidárias conjunturais.
2 Não se desconhece que o processo que conduziu à profunda alteração da Lei 16/98, de 8 de
Abril, acolheu parcialmente o relevante contributo da Direcção e dos docentes do Centro de
Estudos Judiciários e que a Associação Sindical dos Juízes Portugueses e o Sindicato dos
Magistrados do Ministério Público foram chamados a pronunciar-se sobre a matéria. No
entanto haverá que reconhecer que a Proposta de Lei 156/X, não reflectiu as posições, nal-
guns casos radicalmente opostas, de tais contributos, nem adoptou, ela própria, uma matriz
clara e assumidamente diferente do perfil de magistrado para o futuro.
3 A que chamaremos via profissional em contraponto à via académica baseada apenas na titu-
laridade de determinados graus académicos.
4 Prof. Doutora Anabela Miranda Rodrigues, em entrevista ao jornal “Justiça e Democracia”.
8 E em especial nas fases de formação inicial junto dos Tribunais e na formação contínua.
9 E é um facto que no modelo português a lei atribui aos conselhos superiores responsabilidade
em matéria de selecção (por exemplo ao nível da constituição dos júris) e de formação.
10 Salienta-se que no Conselho Geral seis dos seus quinze membros integram os Conselhos Supe-
riores das Magistraturas.
11 Existem, por outro lado, informações sobre o desempenho dos magistrados recolhidas pelos
Conselhos Superiores através do seu corpo de inspectores cujo conhecimento pelo Centro de
Estudos Judiciários permitiria reflectir sobre a qualidade da formação ministrada e a necessidade
de introdução de eventuais alterações.
O que tudo vem a significar, sem embargo do que atrás fica dito, que, a
nosso ver, o Centro de Estudos Judiciários — com o nível de exigência, rigor
e isenção que lhe é reconhecido — deve continuar a ser a única entidade res-
ponsável pela organização do processo de selecção e formação de magistrados
e pela definição dos respectivos parâmetros pedagógicos.
12 Esse compasso de espera era, em verdade, maioritariamente utilizado pelos futuros candidatos
para realizarem estágio de advocacia, uma das áreas conexas com a administração da jus-
tiça que podem vir a ser consideradas relevantes.
13 Os requisitos das várias alíneas do artigo 5.º da Lei 2/2008, de 14 de Janeiro, são cumula-
tivos, sem prejuízo da transitoriedade da excepção contida no artigo 111.º que excepciona a
exigência do grau de mestre ou doutor na via das habilitações académicas nas condições ali
expressas.
14 Os restantes 50% das vagas serão preenchidos indistintamente por candidatos de qualquer
das vias, de acordo com a lista de graduação dos candidatos aprovados referida no artigo 26.º
da Lei 2/2008, de 14 de Janeiro.
15 Conceito que, em todo o caso, carece de densificação por forma a ultrapassar as dificulda-
des que a referência legal a áreas conexas trará.
17. A partir de agora, porém, vai ser possível proporcionar aos magis-
trados formadores melhores condições para o exercício das suas funções.
O artigo 89.º da Lei 2/2008, de 14 de Janeiro, comete ao Centro de
Estudos Judiciários a promoção da formação de docentes e formadores junto
dos tribunais, colmatando uma lacuna que vinha sendo objecto de crítica
fundada.
Janeiro de 2008