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KENZO HOKAZONO

Eletrorretinograma de padrão reverso (PERG) de


campo total na esclerose múltipla e na neuromielite
óptica e PERG multifocal na atrofia em banda do nervo
óptico : correlação com os achados da tomografia de
coerência óptica e da perimetria computadorizada

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo para obtenção do título
de doutor em Ciências

Programa de Oftalmologia

Orientador: Prof. Dr. Mário Luiz Ribeiro Monteiro

(Versão corrigida. Resolução CoPGr 6018/11, de 1 de novembro de 2011. A versão


original está disponível na Biblioteca da FMUSP)

São Paulo
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Hokazono, Kenzo
Eletrorretinograma de padrão reverso (PERG) de campo total na esclerose
múltipla e na neuromielite óptica e PERG multifocal na atrofia em banda do nervo
óptico : correlação com os achados da tomografia de coerência óptica e da
perimetria computadorizada / Kenzo Hokazono. -- São Paulo, 2014.
Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Programa de Oftalmologia.
Orientador: Mário Luiz Ribeiro Monteiro.

Descritores: 1.Eletrorretinografia 2.Esclerose múltipla 3.Neuromielite óptica


4.Atrofia óptica/diagnóstico 5.Quiasma óptico/patologia 6.Tomografia de
coerência óptica

USP/FM/DBD-043/14
Este trabalho recebeu em parte suporte financeiro da CAPES (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) – número: BEX 9806/1-2 – e do CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) – número:

142462/2011-0.
DEDICATÓRIA

À minha esposa Janaina Medeiros de Souza pelo apoio, companhia e


extrema compreensão demonstrada durante todo o trajeto para
concretização dessa etapa.

Aos meus pais Terezinha Iolanda Hokazono e Takeji Hokazono por


terem provido todas as condições para realização dos meus objetivos.

Ao Prof. Mário Luiz Ribeiro Monteiro, exemplo de dedicação às


atividades acadêmicas e excepcional oftalmologista, por todo
ensinamento, disciplina e determinação. Sinto-me privilegiado de ter
tido contato com uma pessoa tão inspiradora e levarei por toda minha
vida seu exemplo.
AGRADECIMENTOS

Aos pacientes, sem os quais esse projeto não seria possível.

À Dra. Maria Kiyoko Oyamada pelo grande apoio e incentivo na preparação dessa tese

em todas as suas etapas e por ter me ensinado as bases da eletrofisiologia.

À Regina Ferreira Almeida por ter me guiado e ajudado através de todo esse período,

exemplo de dedicação ao serviço de pós-graduação.

Ao Prof. Donald Hood, pela imensurável ajuda na finalização desse trabalho. Muito

além do conhecimento que possui, as formas gentil e acolhedora com que trata seus

alunos me serviram como exemplo para as etapas futuras.

Ao Ali Raza companheiro de longas discussões que contribuíram para esse trabalho.

Às ortoptistas Patrícia Mucedola, Sílvia Bernardoni e Clarice Ikedo pelo apoio e

colaboração nesse projeto.

A todos os profissionais e colegas da Clínica Oftalmológica da FMUSP que de alguma

forma contribuíram com esse projeto. Em especial amigos inspiradores da época em que

fiz a residência médica e a pós-graduação, Leonardo Provetti Cunha, Frederico Castelo

Moura, Sônia Hae Sun Lee, Celso Morita e Mariana Yamaguishi.


SUMÁRIO

Lista de Abreviaturas
Lista de Figuras
Resumo
Summary

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 6

3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 8


3.1 AFECÇÕES DA VIA ÓPTICA ANTERIOR .................................................... 9
3.1.1 Doenças Desmielinizantes ...................................................................... 9
3.1.1.1 Esclerose Múltipla .................................................................... 9
3.1.1.2 Neuromielite Óptica................................................................ 14
3.1.2 Doenças Compressivas da Via Óptica Anterior ................................... 20
3.2 ELETRORRETINOGRAMA DE PADRÃO REVERSO ................................ 24

4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 30
4.1 DESENHO DO ESTUDO ................................................................................ 31
4.2 PARTICIPANTES............................................................................................ 31
4.2.1 Pacientes ............................................................................................... 31
4.2.2 Grupo Controle ..................................................................................... 33
4.3 ELETRORRETINOGRAMA DE PADRÃO REVERSO ................................ 34
4.3.1 Campo Total ......................................................................................... 34
4.3.2 Multifocal.............................................................................................. 37
4.4 TOMOGRAFIA DE COERÊNCIA ÓPTICA .................................................. 40
4.5 EXAME DE CAMPO VISUAL ....................................................................... 42
4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................... 45

5 RESULTADOS .......................................................................................................... 46

6 COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS .......................................................................... 83

7 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87
LISTA DE ABREVIATURAS

AB Atrofia em Banda

AQP4 Aquaporina do tipo 4

CCG Camada de células ganglionares

CCG+ Camada de células ganglionares mais a camada plexiforme interna

CD/M2 Candelas por metro quadrado

CFNR Camada de fibras nervosas da retina

CGR Células ganglionares da retina

DTL Eletrodo – do inglês, Dawson, Trick and Litzkow

EM Esclerose Múltipla

FD Domínio Fourier - do inglês, Fourier Domain

GEE Equações estimativas generalizadas – do inglês, Generalized Estimating


Equations

IRM Imagem por ressonância magnética

ISCEV Sociedade Internacional de Eletrofisiologia Clínica da Visão – do inglês,


International Society for Clinical Eletrophysiology of Vision

L Lambert

LCR Líquido céfalo-raquidiano

LMLE Lesão medular longitudinal extensa

MTA Mielite transversa aguda

MTALE Mielite transversa aguda longitudinal extensa

NMO Neuromielite óptica

NO Neurite óptica

ONTT Estudo do tratamento da neurite óptica – do inglês, Optic Neuritis Treatment


Trial

PERG Eletrorretinograma de padrão reverso – do inglês, pattern electroretinogram


PERGmf Eletrorretinograma de padrão reverso multifocal

SITA Algoritmo limiar interatico sueco – do inglês, Swedish interactive threshold


algorithm

TCO Tomografia de coerência óptica

ROC Característica operacional do receptor – do inglês, receiver operating


characteristic
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação do padrão de distribuição dos axônios da camada de


fibras nervosas da retina a partir de sua origem na camada de células
ganglionares da retina em direção ao nervo óptico ................................... 23
Figura 2 – Representação do padrão de estimulação do PERG, com quadrados
pretos e brancos alternantes em forma de tabuleiro de xadrez .................. 34
Figura 3 – À esquerda: posicionamento dos eletrodos (referência: canto lateral;
terra: região glabelar). Meio: posicionamento do eletrodo ativo (DTL).
À direita: desenho esquemático da visualização do estímulo de campo
total ............................................................................................................ 35
Figura 4 – Exemplo das respostas obtidas no exame de PERG de campo total
(controle). Ondas à esquerda representam olho direito; e à direita, olho
esquerdo. As duas acima representam ondas obtidas com estímulo 48’
de arco e as duas abaixo com 14’ de arco ................................................... 36
Figura 5 – Exemplo esquemático do estímulo utilizado para obtenção do PERG
multifocal ................................................................................................... 37
Figura 6 – Exemplo da obtenção do exame de PERG multifocal em paciente real ... 38
Figura 7 – Exemplo das respostas obtidas no exame de PERG multifocal
(controle) ................................................................................................... 39
Figura 8 – Exemplo da TCO captada ao redor do nervo óptico para obtenção da
camada de fibras nervosas da retina .......................................................... 40
Figura 9 – Exemplo esquemático de um corte realizado através da mácula para
cálculo das diferentes camadas internas da retina na análise dos
pacientes com esclerose múltipla e neuromielite óptica. CFNR:
camada de fibras nervosas da retina; CCGR: camada de células
ganglionares da retina; CPI: camada plexiforme interna; CNI: camada
nuclear interna; CPE: camada plexiforme externa .................................... 41
Figura 10 – Exemplo da TCO captada na região macular utilizado na análise dos
pacientes com compressão quiasmática .................................................... 42
Figura 11 – A. Representação esquemática dos pontos do gráfico do Total
Deviation (área sombreada) utilizados para cálculo do defeito central
médio obtido através dos 16 pontos centrais. B. Mesma área,
esquematicamente sobreposta ao fundo de olho. Note que a área
corresponde, aproximadamente, à área estimulada pelo PERG de
campo total e estudada através da TCO macular ....................................... 44
Figura 12 – Representação esquemática dos pontos do gráfico Total Deviation
(área sombreada) para cálculo do defeito temporal médio ........................ 44
RESUMO
Hokazono K. Eletrorretinograma de padrão reverso (PERG) de campo total na
esclerose múltipla e na neuromielite óptica e perg multifocal na atrofia em banda do
nervo óptico : correlação com os achados da tomografia de coerência óptica e da
perimetria computadorizada [tese] – São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
de São Paulo; 2014. 98p.

OBJETIVO: avaliar a capacidade do eletrorretinograma de padrão reverso de campo total


(PERG) e multifocal (PERGmf) de detectar alterações funcionais da retina em pacientes
com afecções desmielinizantes e compressivas da via óptica anterior; estudar a correlação
entre as amplitudes do PERG e PERGmf com as espessuras das camadas internas da retina
obtidas pela tomografia de coerência óptica (TCO) e com a perda de campo visual avaliada
pela perimetria computadorizada padrão (PCP). MÉTODOS: cento e cinquenta e dois olhos
de 28 pacientes com esclerose múltipla (EM), 38 com espectro da neuromielite óptica
(NMO) com ou sem neurite óptica (NO) prévia e 30 olhos de 26 controles normais foram
submetidos ao PERG, à TCO para avaliação da camada de fibras nervosas da retina
(CFNR) peripapilar e camadas internas da retina na mácula e à PCP. Os olhos estudados
foram divididos em 4 grupos: grupo 1. EM com NO; grupo 2. EM sem NO; grupo 3. NMO;
grupo 4. Mielite transversa longitudinal extensa. Os achados foram comparados utilizando-
se as equações de estimativas generalizadas. As correlações entre os achados do PERG, da
TCO e da PCP foram avaliadas pela correlação de Pearson ou Spearman e pela análise de
regressão linear. Para avaliação dos pacientes com doenças compressivas da via óptica
anterior, foram estudados 25 olhos de pacientes com defeito campimétrico temporal e
atrofia em banda (AB) do nervo óptico decorrente de compressões quiasmáticas já tratadas
e 25 olhos de 25 controles normais pelo PERGmf, a TCO e a PCP. As comparações entre
olhos com AB e controles foram feitas usando análise de variância (ANOVA). As
correlações entre achados do PERGmf, da TCO e da PCP foram avaliadas pela correlação
de Pearson ou Spearman e pela análise de regressão linear. RESULTADOS: comparado
com controles, as amplitudes do PERG foram significativamente reduzidas em olhos de
pacientes com NMO e EM com NO, mas não mostraram diferenças significativas em olhos
de pacientes com EM sem NO e mielite transversa longitudinal extensa. Correlações
significantes foram encontradas entre os valores de amplitude de N95, a espessura da
camada de células ganglionares da retina e a espessura da CFNR peripapilar. As reduções
de amplitudes do PERG também foram significativamente associadas à perda de
sensibilidade do campo visual. Na avaliação de pacientes com AB do nervo óptico, as
amplitudes do PERGmf foram significativamente reduzidas nos quadrantes temporais
quando comparados com controles. Não houve diferenças de amplitude nos setores nasais.
Correlações significativas foram encontradas entre as amplitudes do PERGmf, a espessura
macular total e a CFNR peripapilar no setor temporal e a perda de sensibilidade do campo
visual. CONCLUSÕES: O PERG foi capaz de detectar perda funcional em pacientes com
EM e NMO com NO prévia e suas amplitudes foram significativamente correlacionadas
com a espessura das camadas internas da retina e camada de fibras nervosas peripapilar. As
amplitudes do PERGmf foram capazes de demonstrar perda funcional em pacientes com
AB do nervo óptico e apresentaram correlações significantes com a perda de sensibilidade
do campo visual e as medidas de espessura macular total e da CFNR peripapilar.

Descritores: 1.Eletrorretinografia 2.Esclerose múltipla 3.Neuromielite óptica 4.Atrofia


óptica/diagnóstico 5.Quiasma óptico/patologia 6.Tomografia de coerência óptica
SUMMARY

Hokazono K. Pattern-reversal electroretinogram (PERG) full field in multiple sclerosis and


optic neuromyelitis and multifocal PERG in band atrophy of the optic nerve: correlation
with the findings of optical coherence tomography and computerized perimetry [thesis] –
São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2014. 98p.

PURPOSE: To evaluate the ability of full-field and multifocal (mf) pattern


electroretinogram (PERG) parameters to detect functional changes of the retina in patients
with demyelinating and compressive diseases of the anterior visual pathway; to study the
relationship between the PERG (full field and multifocal) amplitudes, optical coherence
tomography (OCT)-measured inner retinal layers measurements and visual field sensitivity
loss on standard automated perimetry (SAP). METHODS: one hundred fifty-two eyes of 28
patients with multiple sclerosis (MS), 38 with neuromyelitis optica (NMO) spectrum with
or without previous episodes of optic neuritis (ON) and 30 eyes of 26 normal controls
underwent PERG, OCT macular and peripapillary retinal nerve fiber layer measurements
and SAP. The eyes of the patients were divided into 4 groups: group 1. EM with ON; group
2. EM without ON; group 3. NMO; group 4. Longitudinally extensive transverse myelitis
(LETM). The findings were compared using the generalized estimating equations (GEE).
The correlations between the findings of the PERG, OCT and SAP were assessed by
Pearson correlation coefficients or Spearman’s rank correlation coefficients and linear
regression analysis. For evaluation of patients with compressive diseases of the anterior
visual pathway, 25 eyes of patients with temporal visual field defect and band atrophy (BA)
of the optic nerve due to chiasmal compression and 25 eyes of 25 normal controls were
studied by mfPERG, OCT and SAP. Comparisons between BA and control eyes were
made using variance analysis (ANOVA). The correlations between the findings mfPERG,
OCT and SAP were evaluated by Pearson correlation coefficients or Spearman’s rank
correlation coefficients and linear regression analysis. RESULTS: compared to controls,
PERG amplitudes were significantly reduced in eyes of patients with MS with ON and
NMO, but not in eyes with MS without ON and longitudinal extensive transverse myelitis.
Significant correlations were found between N95 amplitudes values, OCT-measured
macular ganglion cell layer thickness, total retinal thickness, and temporal peripapillary
RNFL thickness.The reduced mfPERG amplitudes were also significantly associated with
loss of visual field sensitivity. In the evaluation of patients with BA of the optic nerve,
mfPERG amplitudes were significantly reduced in the temporal quadrants when compared
with controls. There were no differences in the amplitudes values in the nasal sectors.
Significant correlations were found between mfPERG amplitudes, OCT-measured total
macular thickness and peripapillary RNFL in the temporal sector and the loss of sensitivity
of the visual field. CONCLUSIONS: full-field PERG measurements were able to detect
functional loss in patients with MS and NMO with previous episodes of ON and PERG
amplitudes were significantly correlated with inner retinal layers thicknesses and
peripapillary RNFL. Multifocal PERG amplitudes were able to demonstrate functional loss
in patients with BA of the optic nerve and showed significant correlations with visual field
sensitivity loss and OCT-measured total macular and peripapillary RNFL thickness.

Descriptors: 1.Electroretinography 2.Multiple sclerosis 3.Neuromyelitis optica


4.Optic atrophy/diagnosis 5.Optic chiasm/pathology 6.Optical coherence tomography
1 INTRODUÇÃO
Introdução 2

As afecções que acometem a via óptica anterior são as doenças mais frequentes e

importantes em neuroftalmologia e incluem lesões compressivas, inflamatórias,

isquêmicas, tóxicas, carenciais, degenerativas e traumáticas. O dano da via óptica anterior

pode ocasionar perda das funções visuais, as quais incluem acuidade visual, visão de

cores, sensibilidade ao contraste e campo visual(1). O prejuízo das funções visuais é

resultante da lesão dos axônios das células ganglionares da retina (CGR) que formam a

camada de fibras nervosas da retina (CFNR). Dessa forma, a avaliação clínica de tais

afecções implica na investigação das alterações funcionais bem como das alterações

estruturais decorrentes da lesão da via óptica na sua porção anterior.

A avaliação estrutural da retina interna, particularmente da CFNR, pode ser

realizada de forma objetiva pelo exame oftalmoscópico, apresentando-se como palidez

de disco decorrente do dano difuso ou sectorial da CFNR(2). A avaliação da CFNR

também pode ser obtida por meio da retinografia com uso da luz anerita (3). Apesar da

sua importância histórica, esses métodos são qualitativos, dependentes do examinador e

não quantitativos. Com a evolução dos exames de imagem como a polarimetria de

varredura a laser e, em especial, a tomografia de coerência óptica (TCO), a avaliação

estrutural da retina interna tornou-se quantitativa e reprodutível(4, 5). Vários estudos tem

demonstrado a importância desses instrumentos na avaliação do dano neural da via

óptica anterior(6-9) e atualmente a aplicação clínica desses métodos já está consagrada.

Por outro lado, a avaliação funcional da camada de células ganglionares (CCG)

e de seus axônios pode ser realizada através de exames eletrofisiológicos, dentre eles o
Introdução 3

eletrorretinograma de padrão reverso (PERG). O PERG é um teste eletrofisiológico em

que um potencial elétrico é gerado quando um estímulo de padrão reverso (semelhante a

um tabuleiro de xadrez ou barras) com luminância total constante é visto(10). Acredita-se

que a resposta seja originada das estruturas internas da retina, refletindo principalmente a

função das CGR(11, 12)


. Embora o PERG seja um método concebido em 1964, só

recentemente teve uma maior aplicação no que se refere à quantificação da perda neural

em doenças do nervo óptico(13-19). Não obstante a associação entre o PERG e a função

das CGR seja aceita, ainda existe debate quanto à sua capacidade de avaliar danos às

CGR. Estudando pacientes com glaucoma, alguns autores questionaram a sua aplicação

alegando que o PERG pode ser normal em pacientes com dano neural detectado através

do campo visual(18) e do potencial visual evocado multifocal(17).

Nas doenças da via óptica anterior é extremamente importante a avaliação tanto

estrutural quanto funcional das CGR e seus axônios. Através desses estudos e da

correlação entre achados funcionais e estruturais, podemos obter mais acuradamente o

diagnóstico e entender melhor a evolução dessas doenças(20). Nos últimos dez anos, esse

grupo tem se dedicado a estudar a capacidade do PERG de detectar dano neural em

pacientes com doenças da via óptica anterior, avaliar sua correlação com danos estruturais

e confrontar seus resultados com outros autores. A capacidade da TCO de detectar dano

neural em pacientes com atrofia em banda (AB) do nervo óptico foi amplamente estudada

e comparada à polarimetria de varredura a laser(21-23). Tanto com a tecnologia Time-

domain quanto a mais recente Fourier-domain, a TCO foi capaz de detectar dano da

retina interna peripapilar e macular em pacientes com compressão quiasmática e atrofia

em banda do nervo óptico(21, 24). O padrão peculiar de perda das fibras nervosas da retina

ao redor do nervo óptico, em pacientes com compressão prévia do quiasma óptico e


Introdução 4

defeitos de campo visual, serviu como importante modelo para avaliar um instrumento

que realizasse medidas mais precisas da perda das CGR. Recentemente, a TCO também

se demonstrou útil em detectar dano da retina interna tanto macular quanto peripapilar em

pacientes com doenças desmielinizantes do nervo óptico(25).

Na avaliação funcional das doenças da via óptica anterior, o PERG foi capaz de

detectar dano das CGR em pacientes com AB(19), porém as correlações entre PERG e TCO

foram apenas moderadas(26). Nesses pacientes, a utilização da técnica multifocal poderia

apresentar melhores resultados para a correlação estrutura-função. A técnica de estimulação

multifocal da retina foi desenvolvida por Sutter e Tran no início da década de 90(27),

inicialmente com uso para obtenção do eletrorretinograma. A utilização dessa técnica para

obtenção do PERG multifocal (PERGmf) tem sido pouco explorada até o momento a

despeito de, teoricamente, ser capaz de detectar danos pequenos e localizados na retina

interna. Dois estudos demonstraram a capacidade do PERGmf de detectar perda neural em

pacientes com neuropatia óptica glaucomatosa, porém os autores não conseguiram

correlacionar os defeitos de campo visual com redução localizada nas amplitudes

do PERG(28, 29)
. Assim, PERGmf ainda carece de estudos de uma forma geral e em

particular em pacientes com AB e em outras neuropatias ópticas não glaucomatosas.

Outro grupo de afecções da via óptica anterior que tem sido avaliado pelo PERG

são as doenças desmielinizantes. A perda axonal decorrente da degeneração retrógrada

nesse grupo de doenças tem sido estudada através do PERG em pacientes com esclerose

múltipla (EM), porém não ainda em pacientes com neuromielite óptica (NMO).

Nos últimos anos a NMO tem se demonstrado um grupo distinto da EM clinicamente

e laboratorialmente. A neurite óptica (NO) decorrente da NMO é geralmente mais

recorrente e grave comparada com EM, e pacientes com NMO frequentemente apresentam
Introdução 5

auto-anticorpo NMO-imunoglobulina G(30, 31)


. Uma proteína de canal de água

encontrada em astrócitos do sistema nervoso central (nervo óptico e medula espinhal) -

além de outras células de suporte como as de Muller retinianas - é alvo do autoantígeno

na NMO(32). Estudos envolvendo PERG e EM demonstram que as amplitudes são

reduzidas em pacientes acometidos por NO e apresentam uma boa correlação com

CFNR peripapilar(33) ou volume total macular(34), usando a técnica Time-domain.

As correlações do campo visual com PERG nesses pacientes ainda não foram avaliadas.

Também, até o presente momento, ainda não foram avaliadas as correlações de amplitudes

do PERG com camadas específicas da retina macular como, por exemplo, a de células

ganglionares estudadas através da técnica Fourier-domain para obtenção da TCO.

A avaliação precisa da CCG da retina e do PERG, ao realizar a correlação desses dois

métodos, pode ajudar a entender melhor a fisiopatologia da EM e NMO.


2 OBJETIVOS
Objetivos 7

Com base nos conceitos e conhecimentos acima descritos, observamos que

utilizando PERG de campo total seria possível avaliar a redução da função das células

ganglionares da retina nas doenças desmielinizantes da via óptica anterior. Também,

que aplicando a técnica multifocal para captação do PERG, podem-se detectar

objetivamente perdas funcionais localizadas e discretas das células ganglionares da

retina nas doenças compressivas da via óptica anterior. Assim, os objetivos desse

trabalho foram:

1. Avaliar o desempenho diagnóstico do PERG de campo total em diferenciar

olhos normais daqueles com EM e NMO, com ou sem NO prévia, e avaliar a

correlação estrutura-função entre achados do PERG de campo total, campo

visual e TCO nesses pacientes.

2. Avaliar o desempenho diagnóstico do PERG multifocal em diferenciar olhos

normais daqueles com AB do nervo óptico e sua correlação com a perda de

sensibilidade do campo visual.

3. Avaliar a correlação entre achados do PERG multifocal e medidas de

espessura macular e da CFNR peripapilar obtidas pela TCO em pacientes

com AB do nervo óptico.


3 REVISÃO DE LITERATURA
Revisão de literatura 9

3.1 AFECÇÕES DA VIA ÓPTICA ANTERIOR

3.1.1 Doenças Desmielinizantes

3.1.1.1 Esclerose Múltipla

Esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica inflamatória do sistema nervoso

central, caracterizada por inflamação multicêntrica e desmielinização, cujas manifestações

clínicas são heterogêneas, incluindo disfunções motoras, cognitivas e sensoriais.

Apesar da NO ter várias etiologias, sua associação com a esclerose múltipla é aquela

que é mais bem estabelecida(35). A incidência anual média de EM é de aproximadamente

5 para cada 100.000 indivíduos, e a prevalência é de 115 por 100.000 habitantes(36).

Porém, a doença apresenta uma frequência irregular pelo mundo, sendo que a

prevalência varia de <5 casos por 100.000 nas áreas tropicais e, na Ásia, até >100-200

casos por 100.000 nas áreas de clima temperado, como o nordeste da Europa, Estados

Unidos e Canadá(37).

A incidência e prevalência da EM aumentam proporcionalmente com o aumento

das latitudes(38, 39). Entretanto, essa distribuição segue um padrão irregular, pois existem

áreas quentes de alta frequência de EM - como no sul do Mediterrâneo e a Sardenha(39) -

e áreas de baixa incidência, como as remotas e frias do norte do Canadá(39). A maioria

dos pacientes acometidos pela EM situa-se entre os 20 e 50 anos de idade, com idade

média de acometimento de 31,8 anos segundo o Optic Neuritis Treatment Trial (ONTT).
Revisão de literatura 10

Nesse estudo, 77% dos pacientes eram mulheres e 85% brancos(35). Vários estudos tem

demonstrado um aumento da incidência no sexo feminino nas últimas décadas. No

Canadá, por exemplo, a relação de incidência sexo feminino/sexo masculino aumentou

de 1.9, para casos nascidos entre 1931-1935, para 3.21 para aqueles nascidos entre

1976-1980(38).

A causa primária da EM é desconhecida. É provável que a EM seja resultado de

complexas interações entre fatores ambientais e genéticos(40, 41)


. Estudos em gêmeos

idênticos demonstram susceptibilidade genética com índice de concordância de 25-

30%(42). A patogênese da NO é a desmielinização inflamatória, com quebra da barreira

hemato-cerebral, bloqueio da condução nervosa e destruição da mielina(43). Acreditava-

se que a lesão desmielinizante poupasse os axônios e que a perda de volume poderia se

dar devido à perda de mielina por si só. Porém, Trapp et al.(44) demonstraram que dano e

perda axonal estão presentes em lesões associadas à EM especialmente em lesões

crônicas. Além disso, o autor demonstrou que existe degeneração retrógrada das fibras

que passam por uma lesão aguda, a qual determinaria perda axonal em uma região

distante da lesão inflamatória. A perda axonal que ocorre na EM é responsável pela

persistente deficiência neurológica e disfunção visual, e sua avaliação poderia ser útil

para monitorar a evolução da doença.

As manifestações clínicas da EM são amplamente variáveis incluindo: fadiga,

alterações na marcha e coordenação motora, disfunção urinária e sexual, tonturas,

disfunções cognitivas, depressão e espasticidade(1). Dentre as manifestações mais

comuns da EM está a NO. Aproximadamente 20% dos pacientes com EM apresentam NO

como manifestação inicial, e 60% a apresentam em algum momento no curso da

doença(35). A NO é caracterizada clinicamente por baixa da acuidade visual unilateral,


Revisão de literatura 11

que evolui em um período de poucos dias associada à dor periocular que piora com a

movimentação dos olhos, alteração da visão de cores e sensibilidade ao contraste,

defeitos de campo visual focais (centrais, cecocentrais, arqueados), defeito pupilar aferente

relativo e fundo de olho geralmente normal(1). Na fase aguda da doença, o nervo óptico

apresenta-se edemaciado em 35,3% dos pacientes enquanto os restantes 64,7%

demonstram nervo óptico normal(35).

A gravidade da perda da função visual varia de leve defeito de campo visual à

perda importante da acuidade visual central (3% dos participantes do ONTT não tinham

percepção luminosa). Perdas da visão de cores e da sensibilidade ao contraste estão

presentes em quase todos os casos de NO, frequentemente fora de proporção à acuidade

visual(45). A perda de sensibilidade no campo visual é muito variável podendo ser difusa

(48%) ou focal (52%)(46). Apesar da acuidade visual usualmente retornar a níveis

normais, as outras funções visuais como sensibilidade ao contraste (Pelli-Robson charts)

e acuidade visual com letras de baixo contraste (low-contrast Sloan letter charts)

apresentam resultados piores em pacientes que já apresentaram NO decorrente de

esclerose múltipla do que em pacientes normais(47).

O diagnóstico de NO desmielinizante é realizado através da história clínica, dos

sinais e dos sintomas descritos acima. Testes diagnósticos como imagem por ressonância

magnética (IRM), análise do fluido cérebro-espinhal e sorologias sanguíneas são

realizados para descartar outras causas de neuropatia óptica como, por exemplo, doenças

infecciosas, causas inflamatórias não idiopáticas e doenças compressivas(38, 48-50). Além

disso, a IRM e a análise do fluido-cérebro espinhal são importantes para avaliar o

prognóstico e o risco para desenvolvimento da EM clinicamente definida em casos

monossintomáticos(50, 51). Portanto, pacientes que apresentam episódio de NO devem ser


Revisão de literatura 12

submetidos à IRM com supressão de gordura e injeção de gadolíneo para confirmação

diagnóstica, e principalmente à pesquisa da presença de outras lesões do sistema nervoso

central. Pacientes que apresentam duas ou mais lesões na substância branca tem risco de

51% para desenvolvimento de EM clinicamente definida, contra apenas 16% daqueles

que não demonstram lesões na IRM(52, 53).

Nos casos de NO, a IRM classicamente mostra lesões hiperintensas em T2 com

supressão de gordura e após administração de gadolíneo. Aproximadamente 60% dos

pacientes que apresentam NO isolada têm lesões hiperintensas desmielinizantes em T2 que

se localizam principalmente na substância branca periventricular e no corpo caloso(54).

Enquanto a IRM é importante para demonstrar as lesões características da EM e

predizer a possibilidade de conversão em pacientes com evento desmielinizante isolado(38,


50)
, a análise do líquido céfalo-raquidiano (LCR) também pode ajudar no diagnóstico de

inflamação do sistema nervoso central nesses pacientes(51). Nos pacientes portadores de

EM, o LCR apresenta características próprias demonstrando produção de

imunoglobulinas intratecais que podem ser detectadas através das bandas

oligoclonais(38, 48, 49). É importante ressaltar que a presença de bandas oligoclonais não é

exclusiva da EM, pois elas podem estar presentes em várias outras doenças

inflamatórias e infecciosas do sistema nervoso central(55). A frequência das bandas

oligoclonais apresenta grande variação entre as populações, a qual é determinada por

fatores genéticos e diferentes técnicas de análises empregadas(56, 57).

A desmielinização inflamatória dos axônios é o processo patológico característico

da esclerose múltipla que leva à atrofia do nervo óptico e, por consequência, à disfunção

visual. A perda axonal que ocorre na EM é responsável pela persistente deficiência

neurológica e disfunção visual, e sua avaliação poderia ser útil para monitorar a

evolução da doença(44).
Revisão de literatura 13

Para avaliação da perda axonal em pacientes com EM in vivo, várias técnicas de

imagem forneceram evidências indiretas de degeneração axonal e neuronal no sistema

nervoso central. Por exemplo, mudanças no volume do cérebro com áreas focais de

atrofia demonstradas por IRM servem como um marcador de perda axonal. Uma vez

que o nervo óptico é composto por 1,2 milhão de axônios provindos da CFNR, a

diminuição de sua área média transversal demonstrada na IRM em pacientes com

história de NO secundária à EM também poderia servir como um marcador de perda

axonal(58). Porém, existem algumas limitações do uso da IRM para monitorar perda

axonal nesses pacientes. Inicialmente, a atrofia do nervo óptico pode decorrer também

da desmielinização e não só da perda axonal. Além disso, apenas a atrofia de nervo

óptico em estágios avançados pode ser detectada por meio da IRM, a qual não é útil

para monitorar os estágios iniciais e o avanço da doença.

Outra técnica baseada na ressonância nuclear magnética que pode ser utilizada é

a espectroscopia, que é capaz de medir mudanças patológicas baseada na localização e

concentração de determinados metabólitos. O principal metabólito detectável no cérebro

é o N-acetil-aspartato, um marcador de integridade neuronal e axonal. Filippi et al,

demonstraram através da espectrografia por ressonância magnética que as

concentrações do N-acetil-aspartato foram significativamente menores em pacientes

com esclerose múltipla inicial comparados com controles saudáveis(59).

Apesar de essas técnicas de IRM demonstrarem perda axonal em pacientes com

EM, elas são caras, demandam tempo, não medem exclusivamente a perda axonal, além

do que necessitam ser padronizadas e demonstrar reprodutibilidade.

Em razão da camada de fibras nervosas da retina ser formada por axônios não

mielinizados das células ganglionares retinianas e poder ser diretamente visualizada in


Revisão de literatura 14

vivo e avaliada clinicamente, sua espessura poderia avaliar, exclusivamente, perda

axonal em pacientes com EM e servir como um biomarcador da doença(60). A medida da

CFNR pode ser realizada através da TCO de forma rápida e reprodutível, tornando essa

técnica uma forma de avaliar perda axonal em pacientes com esclerose múltipla tanto na

fase inicial como na doença avançada. Além de, monitorar a evolução da doença e

também, possivelmente, o impacto do tratamento nesses pacientes.

3.1.1.2 Neuromielite Óptica

A neuromielite óptica (NMO) é uma doença grave imunomediada, inflamatória,

desmielinizante, necrotizante e idiopática que, predominantemente, envolve o nervo

óptico na forma de NO e a medula espinhal na forma de mielite transversa(61). Por muito

tempo houve controvérsia se a NMO é uma doença distinta ou apenas um subgrupo da

EM(62). No entanto, hoje há muitas evidências indicando que são doenças diferentes(63, 64).

Tradicionalmente o termo NMO era aplicado a pacientes com um evento

monofásico consistindo de NO bilateral, que ocorria simultaneamente ou muito próximo

temporalmente ao quadro de mielite aguda, resultando em paraplegia e cegueira. No

entanto, atualmente sabe-se que existe um espectro de NMO que também inclui

pacientes com quadro recorrente com NO unilateral ou bilateral e aqueles nos quais a

mielite ocorre com intervalo de semanas ou mesmo anos para com a NO(62).

Casos de NMO já foram descritos por todo o globo e raças, porém a doença tem

predileção por áreas com negros e asiáticos, locais onde a prevalência de EM é

classicamente baixa(65, 66). Na Ásia e na África a EM é pouco vista(67). Na África do Sul,

de 8 pacientes negros com doença desmielinizante 7 apresentavam NMO. No Japão,

num estudo com 270 doentes com lesões desmielinizantes, 175 casos apresentavam
Revisão de literatura 15

NMO e 66 EM convencional(68). No Brasil(69), um estudo com 67 pacientes com doença

desmielinizante mostrou que 8 (12%) apresentavam NMO. Outro estudo(70) avaliou 24

pacientes com NMO em que 14 eram negros.

Existem casos descritos de NMO nas mais diversas idades, desde crianças(71, 72)

até idosos(73). Em estudos realizados na clínica Mayo a média de idade variava com

a forma da NMO, sendo de 41 anos no caso da forma recorrente e de 29 na forma

monofásica(63).

A NMO é mais comum em mulheres que em homens assim como na EM, porém

naquela em proporções ainda mais altas que nesta. No estudo brasileiro a relação foi de

5:1(70) e no estudo da clínica Mayo foi de 1:1 na forma monofásica e de 5:1 na forma

recorrente.

Histologicamente a NMO se caracteriza por extensa desmielinização do nervo

óptico e da medula espinhal, associado com áreas de necrose, cavitação, perda axonal e

de mielina, aumento dos vasos perilesionais com espessamento de suas paredes e

hialinização. Na fase aguda, as lesões apresentavam infiltração de macrófagos,

linfócitos B e T, além de presença importante de imunoglobulinas, principalmente IgM

e de complemento num padrão característico em roseta.

Várias evidências indicam se tratar de uma doença autoimune em que a

imunidade humoral tem ação primordial. Em favor dessa corrente de pensamento, pode-

se citar o grande número de autoanticorpos presentes nesses pacientes(74-80), o fato de haver

melhora naqueles pacientes tratados com plasmaferese(81, 82)


e uma melhor resposta a

imunossupressores do que a imunomoduladores normalmente utilizados na EM. Esse

acúmulo de evidências da importância da resposta humoral levou a uma procura por um

anticorpo específico da doença. Investigadores japoneses estudaram a sensibilidade e a


Revisão de literatura 16

especificidade de um novo(32) teste usando células humanas que continham aquaporina-

4 (AQP4) como substrato de um ensaio de imunofluorescência indireta. A sensibilidade

do teste foi de 91% nos pacientes com NMO e de 85% nos pacientes com alto risco para

NMO, e a especificidade foi de 100% em ambos os grupos. Mudanças na positividade do

teste foram encontradas ao longo dos anos nos pacientes com história clínica típica e

exames de imagem sugestivas da doença(83). Os títulos do anti AQP4 não têm correlação

com a duração, número de recaídas ou efeitos dos imunoterápicos, porém têm

correlação inversa com a escala expandida do estado de incapacidade.

A aquaporina-4 é uma proteína que regula o transporte de água presente no

cérebro, medula espinhal, retina, e normalmente presente em células de suporte, como

as células de Muller retinianas, e nos astrócitos relacionados à barreira hematoencefálica.

A distribuição das áreas ricas em AQP4 no SNC está em acordo com os locais típicos

de lesão na NMO(84-86). Estudos recentes(87-89) têm demonstrado perda de AQP4 nas

lesões medulares dos pacientes com NMO, ao contrário daqueles com EM em que essa

proteína pode estar até aumentada.

A NMO se manifesta classicamente com a ocorrência de um episódio de NO e

mielite transversa aguda (MTA) simultaneamente ou separadamente num intervalo de

tempo indeterminado. Em caucasianos não há predileção pelo evento inicial(63, 90)


,

enquanto em pacientes de origem africana a NO foi o evento inicial mais frequente.

Um trabalho italiano(91) estudou 34 pacientes com NMO, onde o evento inicial foi neurite

unilateral em 37%, bilateral em 19,6% e neurite e mielite simultânea em 4,5% dos casos.

A crise pode ocorrer uma única vez, monofásica, ou se apresentar na forma

recorrente, com novos episódios de neurite e/ou mielite. A forma recorrente está mais

associada ao sexo feminino, idades mais avançadas, maior intervalo entre os eventos
Revisão de literatura 17

iniciais, menor dificuldade motora após a primeira crise de mielite, maior associação

com autoanticorpos(91).

O envolvimento do nervo óptico se dá na forma de crise aguda de NO unilateral

ou bilateral, com baixa visual importante. A presença de cegueira foi de 50% na forma

monofásica e de 28% na forma recorrente(91). A perda visual decorrente da NO na NMO

é mais grave que na EM e menos responsiva à corticoterapia(92).

O envolvimento da medula espinhal se dá na forma de MTA com paraparesia,

perda sensorial bilateral e disfunção esfincteriana(63). Sintomas neurológicos com

exceção do nervo óptico e da medula espinhal estão presentes em 15% dos pacientes(63).

Alterações endócrinas, tais como hiperprolactinemia, diabetes insipidus,

hipotireoidismo(93), hipersonolência, hiponatremia e hipotermia(94), associado a crises de

MTA e NO estão descritas na literatura.

A NMO também está associada à doenças autoimunes variadas, tais como Lúpus

Eritematoso Sistêmico, Síndrome de Sjogren, Miastenia Gravis, entre outras.

Wingerchuck e Weinshenker(63) relataram que 36% dos pacientes com a forma

recorrente apresentavam doenças autoimunes, enquanto apenas 4% dos doentes

monofásicos também as apresentavam.

Apesar de o evento inicial ser mais grave na forma monofásica do que na

recorrente, nesta última o acúmulo de crises levam-na a ter pior prognóstico. Em estudo

da clínica Mayo, em acompanhamento de 5 anos, o grupo que apresentava recorrência

tinha 50% dos seus pacientes incapazes de andar sem assistência e 32% foram à óbito

por insuficiência respiratória(63). De acordo com outro estudo, 14% dos pacientes

permanecem com deficiências graves e 16% morrem na fase aguda da doença.


Revisão de literatura 18

A análise do líquido cérebro-espinhal mostra anormalidades, tais como pleocitose,

caracteristicamente em altas concentrações(63) e aumento das proteínas, em especial as

citocinas IL-17 e IL-8(95). Provavelmente a função da análise liquórica é mais bem

aproveitada na diferenciação entre NMO e EM. Na primeira, a pleocitose normalmente

é maior que 50 leucócitos/mm3, o que raramente ocorre na EM, além do que as bandas

oligoclonais estão presentes em mais de 90% dos casos na EM e em menos de 20% dos

casos de NMO(63).

A IRM tem papel fundamental no contexto da NMO mostrando a lesão medular

típica e as lesões cerebrais assintomáticas. É importante ressaltar que ela é capaz de

demonstrar a lesão medular longitudinal extensa (LMLE), um dos elementos requeridos

para diagnóstico da NMO, além de ajudar na diferenciação com a EM onde a LMLE

quase nunca está presente. A IRM da medula espinhal usualmente mostra lesão em

diversos segmentos vertebrais realçados com gadolínio, além de edema medular(85, 96).

Diferentemente do que se pensava anteriormente, hoje é notório o fato de a

NMO poder se apresentar com alterações no SNC à ressonância magnética(93, 94, 97) além

daquelas típicas da NO e da medula espinhal. Pittock et al.(86) mostrou que apesar das

lesões da NMO serem inespecíficas, o hipotálamo e o tronco cerebral tipicamente

demonstram alterações.

Definidos por Wingerchuck et al.(63) em 1999 e posteriormente revistos em

2006(62) de forma a englobar todas as possíveis formas clínicas, laboratoriais e de

imagem, foram criados critérios diagnósticos para a NMO que consistem em: quadro

clínico de NO e MTA com qualquer intervalo de tempo entre ambas, associados ao

menos a dois dos três critérios de suporte que são: 1- IRM demonstrando lesão da
Revisão de literatura 19

medula espinhal de ao menos três segmentos vertebrais contíguos; 2- IRM que não

preencha critério de EM; 3- positividade para o anti NMO.

É importante ressaltar também o grupo de pacientes que não contempla os

critérios necessários para o diagnóstico de NMO por ter apresentado episódio isolado de

NO ou de mielite transversa aguda longitudinal extensa (MTALE) em que outras causas

foram afastadas. Em 2004, Pirko et al.(98) avaliou 72 pacientes com NO recorrente por 5

anos e demonstrou que 12,5% dos pacientes converteram para NMO e 14,4% para EM.

Em 2008, Jacob e Weinshenker(99) publicaram revisão na qual consideram o grupo de

pacientes com MTALE como um subgrupo com características clínicas, radiológicas e

prognósticas homogêneas e específicas e sugere a necessidade da realização do

anticorpo anti NMO, colocando essa entidade como parte do espectro da NMO, com

necessidade de terapêutica agressiva. A positividade para o anti NMO aumenta as

chances dos pacientes que tiveram apenas um dos eventos índices converterem para

NMO. Matiello et al.(100) demonstrou que dentre 12 pacientes com neurite e anti NMO

positivo 50% apresentou episódio de MTA após seguimento de 8 anos, enquanto que de

19 com neurite e negativos para o anticorpo apenas 1 paciente apresentou quadro de

acometimento medular que sequer preenchia critérios para NMO. Weinshenker e

Wigerchuck(101) estudaram pacientes com MTALE constatando que 14 não

apresentavam o anti NMO, e desses, nenhum apresentou recorrência da MTA ou NO,

enquanto que dos 9 pacientes que apresentavam positividade do anticorpo 5

apresentaram ou recorrência da MTA ou NO. Baseado nas evidências mostradas acima

cunhou-se o termo alto risco para NMO para denominar aqueles pacientes com

episódios únicos ou recorrentes de apenas um evento índice, sendo estes doentes

positivos ou não para o anti NMO.


Revisão de literatura 20

3.1.2 Doenças Compressivas da Via Óptica Anterior

As afecções que acometem a via óptica anterior são as doenças mais comuns em

neuroftalmologia e incluem lesões compressivas, inflamatórias, isquêmicas, tóxicas,

carenciais, degenerativas e traumáticas(1). As lesões compressivas da via óptica anterior

são aquelas que acometem o nervo óptico em toda sua extensão e o quiasma óptico.

Lesões compressivas intraorbitárias causam perda crônica e unilateral da acuidade visual

associada ao edema do nervo óptico ipsilateral e frequentemente à proptose. Dentre essas

lesões se destacam os tumores (gliomas, meningiomas do nervo óptico e hemangiomas

orbitários) e lesões inflamatórias (pseudotumor orbitário e oftalmopatia distireoideana).

Quando a via óptica é acometida por lesões localizadas posteriormente na órbita, dentro

do canal óptico ou intracranialmente frequentemente não ocorre edema do nervo óptico

associado à perda da acuidade visual. Nesses casos, o nervo óptico pode estar normal ou

apresentar grau variável de palidez, dependendo do tempo de acometimento(1).

Lesões compressivas são as que mais comumente acometem o quiasma óptico,

destacando-se particularmente os tumores suprasselares como os adenomas hipofisários,

o craniofaringioma e o meningioma suprasselar(102).

Os tumores hipofisários, quase sempre adenomas, representam 7 a 17,8% dos

tumores intracranianos e, pela sua frequência, merecem destaque entre as afecções que

acometem a via óptica(102). Adenomas pituitários com diâmetro maior que 10 mm são

denominados macroadenomas e podem apresentar, além do quadro endócrino, sinais e

sintomas oftalmológicos decorrentes da compressão quiasmática(103). Os adenomas

hipofisários podem acometer pessoas de qualquer faixa etária, com maior incidência entre

a terceira e quarta décadas de vida. As manifestações clínicas sistêmicas dos adenomas


Revisão de literatura 21

hipofisários dependem deles serem secretantes ou não de hormônios. Apenas os

secretantes costumam causar sintomas sistêmicos, os quais são, comumente, amenorreia,

galactorreia, impotência sexual e infertilidade, já que a maioria deles são produtores de

prolactina ou também chamados prolactinomas(104). Dentre as manifestações

oftalmológicas, destacam-se a perda de campo visual e a atrofia do nervo óptico(102).

As lesões que comprimem o quiasma óptico comumente levam à disfunção visual

em ambos os olhos. Dentre as funções visuais acometidas, merece destaque o campo

visual, tanto para diagnóstico, como também para seguimento da doença. O defeito

campimétrico característico das afecções quiasmáticas é a hemianopsia bitemporal, que

pode ser completa ou incompleta. Apesar de importante na avaliação das afecções

quiasmáticas, o exame de campo visual por si só não permite, num único exame, a

diferenciação entre lesão quiasmática ativa (tumor ainda comprimindo o quiasma) e

sequelar (sequela de compressão prévia já tratada). Pacientes com defeito de campo

decorrentes de compressão ativa da via óptica podem melhorar a disfunção visual se

tratados. Por outro lado, defeitos sequelares não melhoram a despeito de tratamento

clínico ou cirúrgico. A informação quanto à reversibilidade ou não da disfunção visual é

de fundamental importância do ponto-de-vista clínico, pois é um parâmetro importante na

decisão terapêutica.

Atualmente, os métodos neuro-radiológicos são os mais importantes entre os

métodos objetivos para saber se a compressão quiasmática é ativa ou sequelar(105). Essa

diferenciação pode também ser feita por avaliação de campos visuais seriados(106).

Quando se observa melhora progressiva do campo após terapia, acreditamos que o

defeito tenha sido decorrente de uma compressão ativa, e quando não, a despeito de um

tratamento adequado, pode-se concluir que o defeito era sequelar.


Revisão de literatura 22

Embora os exames de neuroimagem possibilitem a diferenciação entre

compressão ativa e sequelar na maioria dos casos, isso nem sempre ocorre. Pacientes

com tumores recidivados ou incompletamente ressecados podem demonstrar lesões que

se aproximam do quiasma óptico. Em muitos desses casos é difícil saber se uma nova

intervenção possibilitará melhora visual ou se o defeito visual já é sequelar, decorrente

de uma compressão maior prévia. Uma forma objetiva de se estimar a possibilidade de

melhora visual após o tratamento de um paciente com lesões compressivas de quiasma

óptico é pela observação fundoscópica do disco óptico e da CFNR. Logo, a presença de

atrofia óptica e perda importante da CFNR são indicações de perda neural

irreversível(107, 108). Nessa análise sabemos que a estimativa da CFNR é mais acurada do

que a mensuração da palidez de papila(9, 21)


. Sendo assim, é importante conhecer a

disposição geral da CFNR em indivíduos normais e nas afecções da via óptica anterior.

A organização geral da CFNR tem três características principais. A primeira é que

as fibras do feixe papilomacular contêm as fibras que se originam na área foveal. Aquelas

que são do setor nasal da mácula projetam-se diretamente do disco óptico enquanto que

aquelas da mácula temporal arqueiam-se em torno das primeiras. A segunda característica é

que as fibras da retina temporal à mácula arqueiam-se em torno das fibras maculares

originadas mais precocemente durante o desenvolvimento embrionário (o feixe

papilomacular se forma mais cedo). Estas fibras da retina temporal periférica ou da média

periferia entram, portanto, nos polos superior e inferior do disco óptico. Uma linha de

transição na retina temporal (chamada rafe) se desenvolve e delimita as fibras que vão

arquear por cima daquelas que seguirão trajeto inferior. Esta rafe estabelece uma separação

anatômica e fisiológica entre a retina temporal superior e a inferior. A terceira característica

é a distribuição radial das fibras que entram no setor nasal do disco óptico.
Revisão de literatura 23

A divisão naso-temporal da retina (e do campo visual) é uma linha vertical que

passa pela fóvea e não pelo disco óptico. As fibras que se originam das células

ganglionares localizadas nasalmente à fóvea decussam no quiasma óptico, enquanto as

demais temporais não cruzam. As fibras da retina temporal que não cruzam no quiasma

penetram o disco óptico apenas pelos polos superior e inferior, enquanto as fibras

originárias na retina nasal e que cruzam no quiasma penetram o disco óptico em toda

sua volta (Figura 1). O conhecimento dessa particularidade anatômica é de fundamental

importância para compreensão das alterações observadas clinicamente em diversas

afecções da via óptica.

Figura 1 – Representação do padrão de distribuição dos axônios da camada de fibras


nervosas da retina a partir de sua origem na camada de células ganglionares da retina
em direção ao nervo óptico

Nas afecções quiasmáticas de longa duração, a observação fundoscópica revela

uma palidez do disco óptico “em banda”, ou seja, nos setores nasal e temporal do disco

óptico, além de uma diminuição do aspecto estriado da CFNR nos mesmos setores.

Esses achados ocorrem devido à presença de fibras nasais decussadas no quiasma óptico
Revisão de literatura 24

que ocupam, principalmente, os setores nasal e temporal do disco óptico. Além disso,

embora ocorra a preservação das fibras da hemirretina temporal que penetram o disco

óptico pelas arcadas superior e inferior, ocorre também diminuição da CFNR nessas

arcadas uma vez que parte das fibras desses setores também se origina da hemirretina

nasal acometida nas afecções do quiasma óptico. Em razão da importância da avaliação

da CFNR, formas objetivas de sua análise foram desenvolvidas, como a documentação

fotográfica utilizando filme branco e preto(109). No entanto, essa técnica depende da

experiência do examinador para sua obtenção, reprodutibilidade e interpretação. Com

isso, a cada dia aumenta a busca por métodos que permitam avaliar objetivamente a

CFNR com máxima precisão.

3.2 ELETRORRETINOGRAMA DE PADRÃO REVERSO

A seguir apresentaremos um artigo de revisão da literatura que aborda os

principais aspectos a respeito da utilização do eletrorretinograma de padrão reverso no

diagnóstico e avaliação das doenças que acometem a via óptica anterior(110).


Revisão de literatura 25

Artigo de revisão
Revisão de literatura 26
Revisão de literatura 27
Revisão de literatura 28
Revisão de literatura 29
4 METODOLOGIA
Metodologia 31

4.1 DESENHO DO ESTUDO

Foi realizado estudo observacional, transversal, descritivo e prospectivo, no qual

foram incluídos olhos de pacientes com EM, NMO - ambos com e sem NO – e de

pacientes com AB do nervo óptico, com defeito de campo temporal sequelar decorrente

de compressão do quiasma óptico. O estudo seguiu os critérios da Declaração de

Helsinki e obteve aprovação do comitê de ética de projetos de pesquisa (CAPPesq) da

diretoria clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade

de São Paulo em 8 de setembro de 2010 (0545/10).

4.2 PARTICIPANTES

4.2.1 Pacientes

Todos os pacientes selecionados para o estudo foram avaliados no ambulatório

de Neuroftalmologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo (HC-FMUSP). Consentimento livre e esclarecido foi obtido dos participantes do

estudo.

Todos os pacientes foram submetidos ao exame oftalmológico completo incluindo:

medida da acuidade visual corrigida, exame refracional dinâmico, pesquisa das reações
Metodologia 32

pupilares, exame ocular externo, exame da motilidade ocular extrínseca, biomicroscopia

do segmento anterior, medida da pressão intraocular com tonômetro de aplanação de

Goldman e exame fundoscópico utilizando lente de 78 dioptrias.

Os seguintes critérios de inclusão foram utilizados no grupo de pacientes com

diagnóstico de doenças inflamatórias da via óptica anterior:

1. Diagnóstico de EM através dos critérios clínicos e de imagem de McDonald(50)

ou diagnóstico de NMO com critérios previamente estabelecidos(62);

2. Idade entre 18 e 65 anos;

3. Acuidade visual melhor que 20/400 no(s) olho(s) a ser(em) estudado(s);

4. Ausência de anormalidades oculares a não ser por erros de refração menores

que seis dioptrias esféricas e três dioptrias cilíndricas;

5. Ausência de crise de NO nos últimos 6 meses antes do estudo;

6. Boa colaboração para os exames clínicos e exame campimétrico confiável.

Para os pacientes com atrofia em banda do nervo óptico, os seguintes critérios

de inclusão foram utilizados:

1. Idade acima de 18 anos;

2. Acuidade visual melhor que ou igual a 20/30 no(s) olho(s) estudado(s);

3. Defeito campimétrico restrito ao hemicampo temporal;

4. Ausência de anormalidades oculares a não ser por erros de refração menores

que seis dioptrias esféricas e três dioptrias cilíndricas;

5. Ausência de glaucoma, opacidades de meios ou anomalias de papila;

6. Boa colaboração para os exames e exame campimétrico confiável.


Metodologia 33

4.2.2 Grupo Controle

Para inclusão no grupo controle, indivíduos normais foram recrutados entre

pacientes do ambulatório de triagem, acompanhantes voluntários e funcionários do

HC-FMUSP. Todos os indivíduos do grupo controle foram submetidos à avaliação

oftalmológica semelhante àquela do grupo de pacientes. Os critérios de inclusão foram

os seguintes:

1. Indivíduo apresentando idade pareada com o respectivo paciente do grupo em

estudo com desvio de mais ou menos 5 anos;

2. Acuidade visual de 20/20 e erro refracional dentro de cinco dioptrias esféricas

e três dioptrias cilíndricas;

3. Pressão intraocular menor que 21mmHg;

4. Exame de campo visual automatizado confiável e normal definido como

MD (do inglês Mean Deviation) e CPSD (do inglês Corrected Pattern

Standard Deviation) dentro de 95% da normalidade;

5. Aspecto normal do nervo óptico e da mácula à fundoscopia;

6. Ausência de doença ou cirurgia ocular prévia e ausência de doenças sistêmicas;

7. Boa colaboração para realização dos exames de campo visual, eletrorretinográficos

e tomografia de coerência óptica.

Para a realização dos procedimentos tanto para pacientes quanto para controles

foi seguida a seguinte ordem de avaliação: exame oftalmológico seguido de campo

visual, PERG e TCO.


Metodologia 34

4.3 ELETRORRETINOGRAMA DE PADRÃO REVERSO

4.3.1 Campo Total

O eletrorretinograma de padrão reverso (PERG - RETIscan SystemTM,

Roland Consult, Wiesbaden, Germany, 2006) transiente de campo total foi realizado no

grupo de pacientes com doenças inflamatórias e desmielinizantes da via visual e em

todos os controles. O PERG transiente foi obtido de acordo com o protocolo de

aquisição recomendado pela International Society for Clinical Eletrophysiology of

Vision (ISCEV). O estímulo consistiu de um padrão alternado de quadrados brancos e

pretos apresentado em um monitor retangular de 21 polegadas em uma sala semiescura,

acusticamente isolada (Figura 2).

Figura 2 – Representação do padrão de estimulação do PERG, com quadrados pretos e


brancos alternantes em forma de tabuleiro de xadrez

O estímulo em tabuleiro de xadrez, quando visualizado a uma distância de um

metro, subentendeu um ângulo visual de 23° na horizontal e 17° na vertical. Dois tamanhos

de quadrados foram utilizados para estimular a retina medindo 0.8° (48 minutos de arco) e
Metodologia 35

0.23° (14 minutos de arco). Esses quadrados apresentaram luminância média de 80cd/m2 e

contraste de 97%. Esse estímulo teve taxa de reversão de 8.6 reversões por segundo (4.3Hz)

com tempo de análise de 180ms. Um filtro de banda de passagem foi configurado entre 5 e

50 Hz e a rejeição de artefatos online em 100µV. Quando necessário, aplicamos um filtro

off-line que é fornecido pelo programa e está incluso no equipamento (RETIport32,

Rolando Consult) para melhorar o sinal.

Durante a aquisição do exame, todos os indivíduos receberam correção para

erros refracionais e foram instruídos a fixar um alvo em ‘X’ no centro da tela.

Varreduras contaminadas pelo ato de piscar ou movimentos grosseiros dos olhos foram

automaticamente rejeitadas. A fixação da mira central foi constantemente monitorada

pelo examinador, e o paciente foi orientado a manter a fixação central. Dois tipos de

eletrodos foram utilizados para captação do registro do exame. O eletrodo de fibra tipo

DTL (do inglês, Dawson, Trick and Litzkow) foi utilizado como eletrodo ativo e

posicionado acima da margem palpebral inferior. Os outros dois eletrodos foram do tipo

disco de ouro e colocados no rebordo lateral do olho examinado (como referência) e na

região glabelar (como terra). A conjuntiva foi anestesiada com colírio de tetracaína.

Não foram utilizados colírios mióticos ou midriáticos (Figura 3).

Figura 3 – À esquerda: posicionamento dos eletrodos (referência: canto lateral;


terra: região glabelar). Meio: posicionamento do eletrodo ativo (DTL). À direita:
desenho esquemático da visualização do estímulo de campo total
Metodologia 36

Para cada forma de estímulo, a reposta média de 200 reversões livre de artefatos

foi gravada para cada teste com um mínimo de 2 ondas para atestar a reprodutibilidade.

A aquisição de cada onda demandou aproximadamente 3 minutos. Para todas as

aquisições, as amplitudes e tempos de pico em P50 e N95 foram medidos relativos à

linha de base e início do estímulo (Figura 4).

Figura 4 – Exemplo das respostas obtidas no exame de PERG de campo total (controle).
Ondas à esquerda representam olho direito; e à direita, olho esquerdo. As duas acima
representam ondas obtidas com estímulo 48’ de arco e as duas abaixo com 14’ de arco
Metodologia 37

4.3.2 Multifocal

O eletrorretinograma de padrão reverso multifocal (PERGmf, RETIScan System

versão 3.20.30, Roland Consult, Wiesbaden, Germany) foi realizado no grupo de

pacientes com AB do nervo óptico com compressão quiasmática sequelar e em todos os

controles. O estímulo utilizado para aquisição do PERGmf consistiu em um padrão de

19 retângulos, cada um formado por 12 quadrados alternados brancos e pretos num

padrão em tabuleiro de xadrez (Figura 5).

Figura 5 – Exemplo esquemático do estímulo utilizado para obtenção do PERG


multifocal

O estímulo foi apresentado em um monitor de 21 polegadas subentendendo um

ângulo visual de 30° quando visto a 26 cm em uma sala semiescura, acusticamente

isolada. O tamanho dos retângulos e quadrados dentro deles, aumentou com a

excentricidade em um fator de 1.4. A alternância preta e branca foi induzida por uma
Metodologia 38

sequência binária m modificada com uma probabilidade on/off de 0.5.

Foram apresentados 4 ciclos com duração total de 6 minutos. O contraste permaneceu

constante em 98%, com luminância média de 180cd/m2 e índice de reversão de 4.65 Hz.

Todos os pacientes receberam a melhor correção da acuidade visual, e o estímulo

foi monocular após a oclusão do outro olho. O paciente era instruído a fixar um alvo

em forma de cruz no centro da tela, e a fixação era monitorada pelo examinador.

Eletrodos DTL foram utilizados como eletrodos ativos 1 a 2 mm abaixo do limbo,

enquanto eletrodos de disco de ouro foram colocados como referência no rebordo lateral

da órbita e terra na região glabelar (Figura 6).

Figura 6 – Exemplo da obtenção do exame de PERG multifocal em paciente real

A duração do exame foi de aproximadamente 6 minutos divididos em 4 sessões

de 90 segundos cada. Filtros de banda de passagem foram configurados entre 5 e 50 Hz

com amplitude de 100µV.


Metodologia 39

A onda obtida através do PERGmf transiente é caracterizada por um pequeno

componente negativo (N1) seguido de um grande e amplo componente positivo ao

redor de 50ms (P1) e um grande e amplo componente negativo ao redor de 95ms (N2).

P1 e N2 foram medidos da deflexão precedente ao pico ou vale da onda. O tempo de

pico de ambas as ondas também foi medido (Figura 7).

Figura 7 – Exemplo das respostas obtidas no exame de PERG multifocal (controle)


Metodologia 40

4.4 TOMOGRAFIA DE COERÊNCIA ÓPTICA

Todos os pacientes e controles estudados submeteram-se ao exame de tomografia

de coerência óptica Fourier-domain (FD-OCT) com escaneamento da região da cabeça do

nervo óptico e da área macular através de um equipamento comercialmente disponível

(3D OCT-1000, Topcon Corp, Tokyo, Japan). O protocolo consistiu da aquisição de um

grupo de 3 imagens de alta definição da cabeça do nervo óptico e da mácula num padrão

de rastreamento cobrindo uma área de 6x6 mm com uma densidade de 512x128 pixels em

3.5s (27.000 scans A por segundo). Todas as imagens foram revisadas pelos autores com

respeito à sua qualidade objetiva e subjetiva das imagens.

A espessura da CFNR peripapilar foi automaticamente calculada pelo programa

incluindo média de 360° e a espessura em cada um dos 12 segmentos ao redor do nervo

óptico com as posições de 3 horas, 6 horas, 9 horas e 12 horas indicando as posições

nasal, inferior, temporal e superior respectivamente (Figura 8).

Figura 8 – Exemplo da TCO captada ao redor do nervo óptico para obtenção da camada
de fibras nervosas da retina
Metodologia 41

A região macular foi analisada de forma diferente para os grupos estudados.

Nos pacientes que apresentavam doenças inflamatórias e desmielinizantes da via óptica, as

imagens da TCO foram segmentadas em um programa escrito no MatLab (MathWorks,

Natick, MA, USA). Os limites de cada camada foram automaticamente calculados e

corrigidos manualmente quando necessário. Para cada scan foram segmentados 128 B scans

e obtida a espessura de cada camada, incluindo quatro medidas separadas correspondendo à

camada de fibras nervosas macular, camada de células ganglionares associada à plexiforme

interna, camada nuclear interna e espessura total da retina (Figura 9).

Figura 9 – Exemplo esquemático de um corte realizado através da mácula para cálculo


das diferentes camadas internas da retina na análise dos pacientes com esclerose
múltipla e neuromielite óptica. CFNR: camada de fibras nervosas da retina; CCGR:
camada de células ganglionares da retina; CPI: camada plexiforme interna; CNI:
camada nuclear interna; CPE: camada plexiforme externa

Nos pacientes que apresentaram compressão de quiasma sequelar e AB do nervo

óptico, a região macular foi estudada através da sua espessura total obtida através do

programa incluso no aparelho. Nesses casos, a região macular foi dividida em 36 pequenos

quadrados que foram subsequentemente agrupados em 18 quadrados na hemirretina nasal e

18 quadrados na temporal (Figura 10). Posteriormente, esses mesmos quadrados foram


Metodologia 42

agrupados em quadrantes constituídos de 9 quadrados cada: nasal superior, nasal inferior,

temporal superior e temporal inferior.

Figura 10 – Exemplo da TCO captada na região macular utilizado na análise dos


pacientes com compressão quiasmática

4.5 EXAME DE CAMPO VISUAL

O campo visual automatizado foi obtido através do perímetro de HumpreyTM

(Carl Zeiss Meditec, Dublin, CA, EUA; modelo HFA II 750), com correção apropriada

para perto, utilizando-se teste tipo limiar com estratégia 24-2 SITA Standard. Essa

estratégia examina os 52 pontos dentro de 24 graus centrais e dois pontos na periferia

nasal utilizando estímulo de tamanho III de Goldman apresentados em um plano de


Metodologia 43

fundo com luminância de 10cd/m2 (31.5 apostilb). Para inclusão no estudo, os pacientes

e controles tiveram de apresentar campos visuais confiáveis definidos como índices de

perda de fixação, falsos positivos e falsos negativos menores que 30%.

Nos pacientes com doenças inflamatórias da via visual, a sensibilidade do

campo visual central foi obtida através da média do desvio da normalidade da região

central (CMD, do inglês central mean deviation) que corresponde à média dos 16

pontos centrais do campo visual automatizado, uma área que se aproxima da testada

pelo PERG de campo total (Figura 11). Nos pacientes com atrofia em banda do nervo

óptico, a perda de sensibilidade do campo visual foi baseada em quadrantes específicos:

defeito temporal médio (22 pontos, excluindo os dois pontos imediatamente acima e

abaixo da mancha cega), defeito nasal médio (26 pontos, excluindo os dois pontos

nasais mais periféricos), os quadrantes súpero-nasal e ínferonasal (13 pontos em cada) e

os súpero-temporal e ínferotemporal (11 pontos cada) (Figura 12).

Para todos os pacientes e controles, cada ponto testado no campo visual,

representa a diferença em decibéis (dB) entre a luminância limiar para aquele indivíduo

e de um indivíduo normal pareado pela idade. Para todas as análises, o desvio do

normal em cada ponto testado foi convertido de dB para 1/Lambert unidade dividindo o

valor em dB por 10 e deslogaritimizando o quociente através da seguinte fórmula:

1/L=10^(dB/10). Isso significa transformar os valores dos pontos testados no campo visual

de uma escala logarítmica (dB) para uma escala linear (1/L). Dessa forma, seguimos

sugestões da literatura que demonstram existir uma correlação linear e contínua entre o

número de células ganglionares da retina e a perda de sensibilidade no campo visual

expressa pela unidade 1/L.


Metodologia 44

Figura 11 – A. Representação esquemática dos pontos do gráfico do Total Deviation


(área sombreada) utilizados para cálculo do defeito central médio obtido através dos 16
pontos centrais. B. Mesma área, esquematicamente sobreposta ao fundo de olho. Note
que a área corresponde, aproximadamente, à área estimulada pelo PERG de campo total
e estudada através da TCO macular

Figura 12 – Representação esquemática dos pontos do gráfico Total Deviation (área


sombreada) para cálculo do defeito temporal médio
Metodologia 45

4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Na avaliação dos pacientes com EM e NMO, com e sem história prévia de NO,

as amplitudes e latências do PERG de campo total e as espessuras das camadas

retinianas internas maculares e da CFNR peripapilar foram comparadas entre os grupos

utilizando a análise das equações estimativas generalizadas (GEE, do inglês

“Generalized Estimating Equations”). Curvas ROC (Receiver Operating Characteristic)

foram utilizadas para descrever a habilidade diagnóstica dos parâmetros do PERG e da

TCO em distinguir olhos nos diferentes grupos estudados de olhos de controles sadios.

O método de DeLong et al.(111) foi então utilizado para comparação das áreas sob a

curva ROC. Os coeficientes de correlação de Pearson ou Spearman foram usados para

avaliar possíveis associações entre os parâmetros do PERG, da TCO e do campo visual.

Na avaliação dos pacientes com AB do nervo óptico, os parâmetros do PERGmf

e da TCO foram comparados com controles sadios usando análise de variância simples

(ANOVA). Curvas ROC foram utilizadas para descrever a habilidade diagnóstica dos

parâmetros do PERGmf em distinguir pacientes com AB de controles normais.

O método de DeLong et al.(111) foi usado para comparação das áreas sob a curva ROC.

O coeficiente de correlação de Pearson foi calculado para determinar o grau de associação

entre as amplitudes do PERGmf, da TCO e perda de sensibilidade do campo visual.


5 RESULTADOS
Resultados 47

Os resultados dessa tese foram objeto de três publicações. No primeiro trabalho

foram estudadas a capacidade do PERG de campo total de detectar perda neural em

pacientes com EM e NMO com e sem NO e sua correlação com a tomografia de

coerência óptica e perda de campo visual(112) – Artigo 1. O segundo trabalho avaliou a

capacidade do PERGmf de detectar perda neural e a correlação entre PERGmf e a perda

de campo visual em pacientes com compressão de quiasma(113) – Artigo 2. O terceiro

trabalho descreveu a correlação entre PERGmf e a tomografia de coerência óptica com

relação às espessuras macular e da CFRN ao redor do nervo(114) – Artigo 3.


Resultados 48

Artigo 1
Resultados 49
Resultados 50
Resultados 51
Resultados 52
Resultados 53
Resultados 54
Resultados 55
Resultados 56
Resultados 57
Resultados 58
Resultados 59
Resultados 60
Resultados 61
Resultados 62
Resultados 63

Artigo 2
Resultados 64
Resultados 65
Resultados 66
Resultados 67
Resultados 68
Resultados 69
Resultados 70

Artigo 3
Resultados 71
Resultados 72
Resultados 73
Resultados 74
Resultados 75
Resultados 76
Resultados 77
Resultados 78
Resultados 79
Resultados 80
Resultados 81
Resultados 82
6 COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS
Comentários Conclusivos 84

O estudo da integridade da retina e do nervo óptico é importante na avaliação de

várias doenças da via óptica anterior. Métodos de medida estruturais e funcionais têm sido

empregados particularmente para determinar o dano na camada de células ganglionares da

retina e em seus axônios que formam a CFNR.

O diagnóstico clínico do dano estrutural e funcional das células ganglionares da

retina pode ser realizado através de exames da acuidade visual, do defeito pupilar

aferente relativo, da atrofia da CFNR ao fundo de olho, dos defeitos de campo visual e

da diminuição da visão de cores. Entretanto, o diagnóstico clínico é subjetivo, depende

da experiência do examinador e frequentemente pode ser feito apenas quando o dano já

está estabelecido. Desse modo, exames complementares que avaliam objetivamente a

estrutura e função da CCG são muito importantes. O PERG tem sido utilizado para

avaliação da função da CCG e de seus axônios em várias doenças da via óptica anterior.

Baseados nesses conceitos, estudamos a capacidade do PERG de campo total de

detectar a perda funcional da CCG em pacientes com EM e NMO que tiveram episódios

de NO e que não apresentaram esse evento. Além disso, determinamos a capacidade do

PERG multifocal de detectar defeitos localizados em pacientes com compressão de

quiasma sequelar. Em ambos os estudos, avaliamos a relação entre as medidas de

latência e amplitudes obtidas com o PERG e as medidas estruturais obtidas pela TCO e

a perda de sensibilidade do campo visual.

Os resultados desse estudo possibilitaram as seguintes conclusões:


Comentários Conclusivos 85

1. As amplitudes do PERG de campo total foram significativamente reduzidas

em pacientes com EM e NMO que apresentaram evento prévio de NO comparado com

controles. Isso ocorreu particularmente para as ondas P50, N95 e para a soma P50+N95.

É importante ressaltar que não foram encontradas diferenças estatísticas entre as

amplitudes de pacientes com EM que apresentaram NO e de pacientes com NMO.

Portanto, o PERG de campo total não apresentou um padrão específico de diferenciação

entre essas duas doenças.

2. O PERG de campo total foi incapaz de demonstrar estatisticamente perda

subclínica da função da CCG em paciente com EM sem NO e em pacientes com Mielite

Longitudinal Transversa Extensa.

3. Houve correlação significativa entre a amplitude de N95 do PERG de campo

total e a espessura da CCG+ (camada de células ganglionares da retina associada à

camada plexiforme interna) macular (R=0.50), corroborando o conceito de que a CCG é

a principal geradora da porção N95 e a camada mais gravemente afetada em pacientes

com EM e NMO. Além disso, houve também uma significativa correlação entre a

espessura da CFRN ao redor do nervo óptico e a amplitude de N95.

4. Por outro lado, apenas uma fraca correlação foi encontrada entre as amplitudes do

PERG e a perda de sensibilidade do campo visual central no estudo de pacientes com

doenças desmielinizantes e inflamatórias da via visual anterior. Provavelmente, pequenos

defeitos de campo visual não detectados pela estratégia utilizada (24-2 SITA) em uma

região central com maior densidade de CGR podem ter ocasionado importantes reduções de

amplitudes no PERG, dificultando a correlação entre esses métodos.

5. As amplitudes do PERG multifocal foram significativamente reduzidas nos

pacientes com atrofia em banda do nervo óptico quando comparado com controles. Além
Comentários Conclusivos 86

disso, a redução de amplitude nos parâmetros do PERG multifocal ocorreu nos setores

temporais; entretanto, não houve diferenças entre controles e pacientes para os setores

nasais. Isso demonstra a capacidade do PERG multifocal de demonstrar danos localizados

da retina neural. As medidas de amplitude do PERGmf do setor temporal apresentaram

valores de área sob a curva ROC entre 0.75 e 0.88, o que aponta uma boa capacidade de

discriminação e suportam a capacidade dessa técnica de detectar perdas localizadas.

6. A redução de amplitude do PERG multifocal nos setores temporais

apresentou uma forte correlação com a perda de sensibilidade no campo visual temporal

(R=0.69). Isso difere de um estudo anterior que foi incapaz de demonstrar essa

correlação com o PERG de campo total, corroborando a hipótese de que o PERG

multifocal pode detectar perdas menores e localizadas da função das CGR.

7. Além disso, as amplitudes do PERGmf apresentaram significativas

correlações entre as medidas de espessura macular e medidas da CFRN ao redor do

nervo óptico obtidas pela TCO. Principalmente, as mais fortes correlações ocorreram

entre áreas correspondentes dessas duas técnicas como, por exemplo, amplitude de P1

no quadrante inferotemporal e espessura macular súpero-nasal (R=0.66). Esses

resultados corroboraram nossas expectativas devido à distribuição da CCG, desde que a

retina nasal é a área mais afetada nos pacientes com atrofia em banda do nervo óptico.

Os achados desse estudo confirmam a capacidade do PERG de campo total e

multifocal de detectar a perda de função das CGR em pacientes com doenças

desmielinizantes e inflamatórias e compressivas da via visual anterior. Além disso,

também suportam uma boa correlação entre a perda funcional demonstrada pelo PERG

e a estrutural pela TCO. Esses estudos são importantes para o melhor conhecimento da

relação estrutura-função nas doenças da via óptica anterior.


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