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All content following this page was uploaded by Andre Cezar Medici on 06 September 2015.
André Medici
Introdução
No último dia 13 de junho, o prêmio nóbel de economia, Joseph Stiglitz, deu uma
conferência em Washington no Auditório do International Finance Corporation – IFC
(o braço do Banco Mundial dedicado a apoiar o setor privado) sobre o Preço da
Desigualdade. Stiglitz mostrou como aumentou a desigualdade nos últimos anos, não
apenas nos Estados Unidos, mas ao nível mundial. Ele mencionou que nos Estados
Unidos, o percentual mais rico da população detém 40% de toda a riqueza nacional e
que o salário médio atual de um homem com emprego de tempo integral é menor do
que era em 1968 em termos reais. Um em cada sete norte-americanos recebe o benefício
público de alimentação (food stamps) e a maior parcela do crescimento da renda nos
últimos anos tem sido absorvida pelo percentual mais rico da população. Para ele, a
desigualdade da riqueza nos Estados Unidos atingiu níveis nunca antes vistos desde a
Grande Depressão de 1929 e o país é o mais desigual entre as economias desenvolvidas
nos dias de hoje.
Para Stiglitz, somente uma melhor distribuição da riqueza poderia ajudar o país a sair
mais rapidamente da crise econômica que se iniciou em 2008. A legislação existente
permite maior remuneração e menor tributação para o capital especulativo, inibindo
iniciativas para o capital produtivo. Com isso, investimentos em áreas como pesquisa,
educação e saúde, que durante muito tempo foram a chave da inovação e do crescimento
econômico, passaram indiretamente a ser desestimuladas.
economia norte-americana, parece ter sido relegado a um plano inferior. Stiglitz citou o
Brasil como um país que desde a metade dos anos noventa, tem gerado políticas sociais
inclusivas e permitido algum progresso na distribuição de renda facilitando a
mobilidade social e o crescimento econômico.
Saúde e Desigualdade
O aumento da desigualdade nos Estados Unidos tem sido certamente um dos fatores
que fazem com que o país tenha uma das menores expectativas de vida entre os países
da OECD ao gerar resultados assimétricos no estado de saúde das populações ricas e
pobres. Independentemente dos programas que atuam para proteger riscos catastróficos
para os idosos (MEDICARE) ou mecanismos de proteção social em saúde para os mais
pobres (MEDICAID), uma parcela crescente da população, especialmente durante a
crise, tem enfrentado grandes dificuldades para manter sua saúde em bom estado entre
o conjunto da população norte-americana. Atualmente, mais de 50 milhões de norte-
americanos declaram não ter cobertura de saúde.
Em sociedades onde a parcela de gastos em saúde que provém diretamente das familias
é alta (como a brasileira), o efeito da desigualdade sobre a saúde pode ser ainda pior,
dado que a forma gasto direto domiciliar não é a forma mais eficiente de gastar em
saúde. As estratégias que permitem risk-pooling em saúde (como os seguros privados ou
mesmo seguros públicos) levam a uma melhor eficiência do gasto e permitem amplificar
os efeitos positivos do gasto em saúde sobre as famílias, ao mesmo tempo em que
servem de colchão amortecedor aos efeitos catastróficos da saúde sobre a renda das
famílias, nos momentos de crise.
Mas além dos efeitos positivos de uma melhor distribuição da renda pessoal sobre a
saúde individual, alguns economistas afirmam que do ponto de vista macroeconômico, a
saúde da população tende a ser pior em sociedades que são mais desiguais, em função
de efeitos negativos da desigualdade que se propagam coletivamente, tais como doenças
transmissíveis, violência, ambientes insalubres, stress e outras mazelas associadas à
pobreza e a concentração de renda. Assim, a desigualdade de renda per se pode ser
prejudicial para a saúde pública, acentuando ainda mais a concavidade da curva renda
/saúde.
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lugar, uma renda melhor distribuida leva os mais pobres a gastarem mais com saúde.
Em segundo lugar, aumetna seu acesso aos planos e outros meios de proteção à sua
saúde. Em terceiro lugar, mesmo quando utilizam o setor público (SUS), uma melhor
distribuição de renda traz melhores informações aos mais pobres sobre que serviços
buscar, que medicamentos adquirir e que meios procurar no caso de seu acesso ser
dificultado ou negado.
Mas o fato da correlação positiva ser decrescente, mostra que existem limites de
melhoria de saúde em função da renda, e que gastar mais, a partir de um determinado
ponto, não levaria a melhorias no estado de saúde. Mas o que se deve ressaltar é que, de
um lado, uma melhor distribuição de renda traz maiores benefícios para a saúde dos
pobres e de outro, que os mais ricos também não perderiam tanto em suas condições de
saúde se a renda fosse melhor distribuida.
Notas
(1) Ver Subramanian, S. V. & Kawashi, I. Income inequality and Health: What we have
learned so far? In Epidemiological Review, 2004; 26:78-91, Ed. Johns Hopkins
Bloomberg School of Public Health, Baltimore (MD), USA.
(2) De acordo com Subranian e Kawashi, a relação entre distribuição de renda e saúde
geraria o chamado efeito concavidade, numa alusão à curva que surge do cruzamento
entre renda média e condição de saúde. Se a relação entre renda média e saúde fosse
linear (não concava) a melhoria da distribuição de renda não levaria a melhoria do
estado de saúde, dado que ganhos na saúde dos mais pobres seriam compensados por
perdas na saúde dos mais ricos. Mas, como a existe a concavidade, se poderia dizer,
desta forma, que a correlação entre renda percapita e condições de saúde poderia
assumir a tendência de um modêlo genérico, onde Yi = Axi + B, onde Yi e Xi são a renda
percapita e o estado de saúde do individuo i; A é a relação (não linear) que representaria
a concavidade da relação entre Yi e Xi e B seria a um termo de disturbância
querepresentaria as variações não explicadas pela renda per-capita na melhoria da
saúde de uma dada população.
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(3) Para as pessoas com idade inferior a 10 anos foi considerada a avaliação de saúde
dada pela mãe ou responsável.