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08/01/2020 Venda à vista ou venda a vista?

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Quarta-feira, 8 de janeiro de 2020


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Gramatigalhas
por José Maria da Costa

Venda à vista ou venda a vista?


quarta-feira, 18 de abril de 2007

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dúvida do leitor envie sua dúvida

Ene Maia Timo envia-nos a seguinte mensagem:

"'Venda à vista', ou 'venda a vista'? Se digo 'venda a prazo', e não 'venda ao prazo', fiquei em
dúvida. Luzes, por favor..."

1) Normalmente, diz-se haver crase quando se fundem duas vogais idênticas. Nos casos que
despertam maior problema, um a (preposição) se encontra com outro a (artigo, pronome ou o início
do pronome demonstrativo aquele, aquela, etc.). Seu símbolo é o acento grave. Exs.:

a) "Vou à cidade" (preposição + artigo);

b) "Esta situação é semelhante à anterior" (preposição + pronome);

c) "Dediquei-me àquela tarefa" (preposição + início do pronome aquele ou similar).

2) Esclareça-se, por oportuno: o acento não é a crase, mas apenas o indicador de que ali ocorreu
esse fenômeno. Por isso, o usuário não emprega a crase, mas o acento que representa sua
ocorrência. Porém, por facilidade, costuma-se dizer que se "usa a crase", e não que se "usa o acento
indicador de ocorrência do fenômeno da crase”, embora tal seja tecnicamente o que ocorre.

3) É óbvia a afirmação de que, por via de regra, o acento indicador da crase tem sua razão de
ocorrência, e já se agruparam regras para a crase obrigatória, crase proibida, crase facultativa...

4) No que interessa para o caso da consulta, todavia, há um caso excepcional, em que não se usa a
crase por motivos técnicos, e seu acento indicador não reflete a existência de uma contração de
vogais idênticas, mas ele é utilizado apenas para evitar a ambigüidade, a duplicidade de sentido.

5) Assim, escreve-se:

I) "Matar à fome" (deixar sem comer) para diferenciar de “Matar a fome” (dar de comer);

II) "Receber à bala" (receber atirando) para diferenciar de "Receber a bala" (ganhar uma
guloseima);

III) "Pintar à mão" (pintar com a mão) para diferenciar de "Pintar a mão" (passar tinta na mão);

https://www.migalhas.com.br/Gramatigalhas/10,MI38011,31047-Venda+a+vista+ou+venda+a+vista 1/2
08/01/2020 Venda à vista ou venda a vista? - Gramatigalhas
IV) "Cheirar à gasolina" (exalar o cheiro de gasolina) para diferenciar de "Cheirar a gasolina"
(aspirar o cheiro da gasolina).

6) Em todos esses casos, uma análise técnica demonstra que não existe o fenômeno da crase, e a
justificativa de seu emprego se explica exclusivamente pelo argumento de afastar a ambigüidade, a
duplicidade de sentido.

7) É também desse rol um exemplo como "Venda à vista" (venda em parcelas), em que também se
dá a inexistência de motivos técnicos para crase, e basta a substituição por um substantivo
masculino para verificar essa realidade: "Venda a prazo" (e não Venda ao prazo). Mas, analisando
melhor o exemplo "Venda a vista", vê-se como possível a ambigüidade, por se poder entender vista
como substantivo e alvo da própria venda.

8) Em outras palavras: é de fácil percepção a possibilidade de duplo sentido na expressão. Daí a


justificativa para uso da crase, que – repita-se – não é empregada por motivos de técnica e de real
existência de duas vogais idênticas, mas apenas e tão-somente para evitar ambigüidade.

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José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro


colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e
Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do
Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de
Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da
OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-
fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de
Advogados.

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