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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE BELAS ARTES

ARTES VISUAIS

Crítica de Arte

PROF.: Pitty

RAFAEL HENRIQUE GOMES CARDOSO

O público enquanto material estético

Sugiro aqui uma reflexão inicial que conta com poucos elementos além dos extraídos dos
textos “Situação da vanguarda no Brasil” (proposta 66) de H.O. e “ El arte de los significados”
de Leon Ferrari. Esta deve vir a somar se ao oceano existente de reflexões sobre o alcance e as
limitações da arte no processo de transformação social.

O artista a partir do modernismo passa a gozar de liberdades de criação e expressão sem


precedentes, na raiz desta liberdade está a idéia da autonomia da arte em relação às
contingências sociais, como teorizou Jean Paul Sartre. A liberação do compromisso social
proposta por Sartre tem origem inequívoca na noção burguesa de autonomia das artes, esta
autonomia de que goza o artista pode converter se em arma política ate então desconhecida,
uma vez que pode posicionar-se de maneira independente como livre pensador.

Leon Ferrari propõe entre outras coisas analisar o desenvolvimento das artes como uma
incorporação continua de matérias primas.

“ Si consideramos a la obra de arte como uma organización de materiales estéticos


seleccionados por su autor y realizada siguiendo reglas inventadas por el autor o
tomadas prestadas, podemos comprobar que lo que la vanguardia ha hecho ha sido
ampliar constantemente la lista de matérias primas usables em arte y renovar
constantemente las leyes que las organizan.”( FERRARI, Leon. El arte de los significaddos,
p.26)

Ferrari afirma também que os significados claros bem como os conteúdos políticos ficaram
de fora deste movimento de incorporação, ou pelo menos foram marginalizados, por serem
considerados antiestéticos. Sustenta ainda que a tarefa do artista seria:

“ (...) buscar materiales estéticos e (sic.) inventar leyes para organizarlos alrededor de
los significados, de su eficácia de ransmission, de su poder persuasivo, de su claridad, de
su carácter ineludible, de su poder de obligar a los médios de difusión a publicar la
denuncia, de su característica de foco difusor de escândalo y perturbación.” (FERRARI,
Leon. El arte de los significaddos, p.27)

Dois anos antes em seu texto manifesto Proposta 66 Hélio Oiticica afirmaria:

“A participação do espectador é fundamental aqui, é o principio do que se poderiam


chamar de ‘proposições’ para criação, que culmina no que formulei como antiarte. Não
se trata mais de impor um acervo de idéias e estruturas acabadas ao espectador, mas de
procurar, pela descentralização da ‘arte’, pelo deslocamento do que se designa como
arte, do campo intelectual racional, para o da proposição creativa existencial, ou seja,
vivencial; dar ao homem, ao individuo de hoje, a possibilidade de “ experimentar a
criação”, de descobrir pela participação, participação esta de diversas ordens, algo que
para ele possui significado”

Muito embora algumas obras de H.O. e partidários tivessem significados claros e


relativamente iniludíveis, como por exemplo, a Caixa 33 Bólide “homenagem a Cara de
Cavalo”, os conceitos de ambiência, de arte vivencial não dão garantias de uma experiência
possuidora de significados relevantes. Pensando-se o abismo existente entre o artista
intelectual (que mesmo nas proposições estabelece as regras) e o espectador - participe (não
familiarizado com desenvolvimento das artes, estas que acabaram por torná-lo colaborador)
qual o saldo pedagógico para este último, no sentido de sua emancipação, sendo que o
primeiro colhe a alcunha de vanguarda.

Tendo em vista o alcance limitado, no que pese a construção de significados, e de acordo


com a lista de aquisições de materiais estéticos proposta por Ferrari, não seria incorreto
afirmar que a arte vivencial proposta por H.O. não fez mais que incorporar mais um elemento
à relação de materiais até então considerados estéticos: o espectador participe.

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