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Universidade Estadual Paulista – UNESP, Instituto de Química - Departamento de Físico-Química - Grupo de
Biomateriais – Araraquara – SP – aherrera@iq.unesp.br
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Universidade Federal de Campina Grande – UFCG – Departamento de Engenharia de Materiais – Campina Grande
– PB
As propriedades Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular - PEUAPM tornam este polímero o material de
escolha para a confecção de biomateriais para a reposição de articulações, contudo seu caráter bioinerte impede sua
interação direta com o tecido ósseo, sendo a principal causa de falhas do implante. A utilização de biomateriais porosos
revestidos com material bioativo tem se apresentado como uma alternativa efetiva para a obtenção de uma ligação
segura entre tecido e implante e sua completa vascularização. Scaffolds porosos bioativos de PEUAPM foram
desenvolvidos utilizando-se NaCl como agente porogênico e o método biomimético com o emprego de solução SBF
modificada para a obtenção de recobrimento bioativo de fosfato de cálcio. Os materiais desenvolvidos apresentaram
porosidade superior a 65% com a presença de poros interconectados e com diferentes tamanhos, inclusive superiores a
100µm, e recobrimento bioativo de composição semelhante à fase mineral do osso, podendo ser considerados
adequados para a utilização como biomaterial para reposição e regeneração óssea.
Palavras-chave: Biomateriais, Scaffolds porosos, Polietileno de ultra alto peso molecular, Recobrimento bioativo,
Método Biomimético.
Introdução
A utilização de materiais porosos têm se apresentado como uma alternativa efetiva para a
confecção de biomateriais para a substituição óssea, pois permite a obtenção de uma ligação segura
entre tecido e implante. A presença de poros e canais interconectados possibilita o crescimento e a
penetração de novas células ósseas por todo o implante e sua completa vascularização, reduzindo a
migração do implante após a implantação e o risco de infecções [Saiz, 2006; Otsuki, 2006].
Um dos critérios que deve ser considerado na concepção de biomateriais porosos inclui o
tamanho e a interconectividade dos poros, pois apresentam crucial influência no crescimento ósseo.
Um tamanho ideal de poros na faixa de 100 a 400µm foi estabelecido como critério importante para
um crescimento continuado do osso no interior dos poros, devido ao tamanho das células,
necessidades de migração e transporte de nutrientes [Otsuki, 2006; Jones, 2007; Jones, 2009]. Além
do tamanho dos poros, o tratamento superficial e a estrutura do implante também apresentam papel
importante no crescimento ósseo. A diferenciação celular e o crescimento ósseo são acelerados
quando a superfície do implante poroso é revestida por um material bioativo, o que induz o
crescimento de novo tecido para o interior dos poros [Otsuki, 2006; Saiz, 2007].
O Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular – PEUAPM é o material de escolha para a
confecção de biomateriais para a reposição de articulações, tais como próteses de ombro, joelho e
quadril devido às suas propriedades, tais como, módulo de elasticidade semelhante ao osso, baixo
coeficiente de atrito, reduzida perda de volume por abrasão e excelente biocompatibilidade.
Contudo, seu caráter bioinerte, decorrente de sua baixa reatividade química, apresenta-se como
desvantagem quando este material entra em contato com o osso, sendo reportado como o principal
responsável por falhas no implante [Knoch, 2005, Baker, 2007; Reggiani, 2005; Yang, 2007]. Com
a crescente demanda por implantes ortopédicos pela população mundial e o aumento da utilização
de tais implantes por pacientes cada vez mais jovens e ativos, os problemas apresentados pelas
próteses convencionais necessitam ser urgentemente resolvidos.
Uma forma de otimizar a interação do PEUAPM com o tecido ósseo é pela utilização do
polímero poroso e sua associação com biocerâmicas bioativas de fosfatos de cálcio, tornando a sua
superfície bioativa e incentivando o crescimento e a penetração de novas células ósseas no interior
do implante.
Neste trabalho desenvolveu-se scaffolds porosos bioativos de PEUAPM para a utilização
como biomaterial para a reposição e regeneração óssea. A estrutura porosa e a composição da fase
bioativa foram escolhidas mediante à similaridade com o tecido ósseo.
Materiais e Métodos
Preparação de scaffolds porosos de PEUAPM:
Scaffolds porosos de PEUAPM foram obtidos utilizando-se NaCl como agente porogênico
na concentração de 70% (m/m) e com tamanho de partículas na faixa de 175-500µm. Os
componentes em pó (PEUAPM UTEC 6541 e NaCl de grau analítico) foram misturados em
almofariz e então moldados por compressão utilizando-se prensa uniaxial e molde metálico de
1,2cm de diâmetro, aplicando-se pressão de 5,0 toneladas. Após moldadas, as amostras foram
submetidas a tratamento térmico a 160ºC por 2 horas, com taxa de aquecimento e resfriamento de
5ºC/minuto, e então lavadas em água destilada quente para promover a lixiviação das partículas de
NaCl. Os scaffolds porosos obtidos foram analisados por Microscopia Eletrônica de Varredura –
MEV e a porosidade (P0) foi determinada pela medida das dimensões e da massa das amostras,
aplicando-se as equações de 1 a 3 [Karageorgiou, 2005; Hou, 2003]:
Os scaffolds porosos foram mantidos em SBF modificada a 37ºC pelo período de 7 dias,
efetuando-se a troca da solução a cada 48 horas. Após o período de imersão, os scaffolds porosos
com superfície bioativa foram secos ao ar e analisados utilizando-se as técnicas de Microscopia
Eletrônica de Varredura – MEV, Microanálise Semi-quantitativa por Energia Dispersiva de Raios X
– EDX, Difratometria de Raios X – DRX e Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de
Fourier– FTIR.
Resultados e Discussões
Os scaffolds poliméricos porosos obtidos apresentaram porosidade superior a 65% com a
presença de poros interconectados e de diferentes tamanhos, figura 1(a), inclusive superiores a
100µm, figura 1(b), tamanho este considerado adequado para o crescimento continuado do osso no
interior do implante. Pal et al. [2008] obtiveram amostras porosas de PEUAPM aplicando-se o
mesmo método utilizado neste trabalho com 60 e 70% de porosidade, porém com a presença de
poros isolados e de mesmos tamanhos.
O emprego do método biomimético com solução SBF modificada para o recobrimento dos
scaffolds porosos resultou na formação de recobrimento denso presente tanto na superfície como no
interior dos poros, figura 2(a). Tal recobrimento foi composto por pequenas partículas esféricas,
figura 2(b), de razão molar Ca/P 1,40, figura 2(c), sendo caracterizado por DRX como
hidroxiapatita carbonatada deficiente em cálcio, fase esta de composição semelhante à parte mineral
do tecido ósseo, figura 2(d). O espectro de FTIR, figura 2(e), confirmou o resultado, pois
apresentou bandas características dos grupos PO4 (565 cm-1), indicando que a substituição pelo íon
CO32- não foi completa, e P-OH (880 e 1020 cm-1), apatita carbonatada do tipo B (1412 e 1465 cm-
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) e da fase amorfa de fosfato de cálcio (602 cm-1), indicando baixa cristalinidade. As bandas em
1640 e 3500 cm-1 são referentes às moléculas de água [Silverstein, 1994; Stoch, 2000].
(c)
1,1
HAD
0,9
300
880
Transmitância (%)
0,8
1640
1412
HAD/CB
1465
0,7
Intensidade
200 0,6
HAD/CB
602
3500
HAD
0,5
565
HAD/CB
HAD/CB
0,4
CB HAD
100
CB D
HA
HAD
HAD
HAD
0,3
CB
1020
0,2
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
10 20 30 40 50 60 70
-1
Número de Onda (cm )
2 Theta
(d) (e)
Figura 2: Recobrimento bioativo dos scaffolds porosos de PEUAPM: (a) MEV 100X, (b) MEV
2000X, (c) espectro de EDX, (d) DRX e (e) espectro de FTIR.
Conclusão
Os scaffolds porosos bioativos de PEUAPM desenvolvidos neste trabalho podem ser
considerados adequados para a utilização como biomaterial para reposição e regeneração óssea,
pois apresentaram características de interconectividade e tamanho de poros considerados ideais para
um crescimento continuado do osso no interior do implante, e a presença de material bioativo de
composição semelhante à fase mineral presente no tecido ósseo.
Agradecimentos
Os autores agradecem a FAPESP (processo nº 06/60436-3) pelo suporte financeiro.