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Introdução

Conforme Antonio Candido, em Literatura e cultura de 1900 a 1945, a


dialética do localismo (afirmação do nacionalismo literário que resulta na criação de
uma língua diferente do português brasileiro) e do cosmopolitismo (conformismo e
imitação dos padrões europeus) rege os programas de literatura e cultura brasileiros
- a nossa evolução espiritual -. Por outro lado, no plano psicológico - maior
responsável pela produção das obras - , há um menor afastamento entre os dois
extremos. Quando há equilíbrio ideal entre ambos, a obra resulta em uma
conciliação entre a expressão e o padrão universal e caracteriza-se pela perfeição.
Tal processo dialético consiste na integração progressiva da experiência
literária e espiritual através da tensão entre o dado local (conteúdo da expressão) e
os moldes europeus (forma de expressão). Além disso, é resultante do processo de
dilaceramento do intelectual brasileiro diante das particularidades de raça, meio e
história, fato o qual é representado pelo “diálogo com Portugal”. A rebeldia
brasileira, revestida de autoafirmação em contexto de Independência política e
nacionalismo literário, abrange, ao mesmo tempo, a dependência do Brasil com
relação a Portugal, enquanto o posterior diálogo amistoso entre ambos - a quebra
da tensão - resulta na morte da influência portuguesa.
De 1900 a 1922
Há dois momentos decisivos para a inteligência nacional: o Romantismo
(1836-1870) - particularismo literário de rebeldia contra Portugal - e o Modernismo
(1922-1945).- particularismo literário contra o academicismo em momento de
diálogo amistoso com Portugal -. Ambos inspiram-se nos moldes europeus. Tendo
isso em vista, a literatura brasileira do século XX divide-se em três etapas: de 1900
a 1922 (período pós-romântico); de 1922 a 1945; de 1945 em diante.
A primeira etapa caracteriza-se pela literatura de permanência, a qual
conserva e elabora traços desenvolvidos depois do Romantismo. É “uma literatura
satisfeita, sem angústia formal, sem rebelião nem abismos” cujas preocupações são
“não parecer de todo européia” e o academicismo (alcance do equilíbrio por meio da
cópia). No romance, há um Naturalismo “enlanguescido” (sem a forte convicção
determinista de Aluísio Azevedo). Desse modo, “o produto típico do momento é o
romance ameno, picante, feito com alma de cronista social para distrair e embalar o
leitor”. Quanto ao Regionalismo, o qual é um importante meio de autodefinição da
consciência local desde o início do romantismo brasileiro, transforma-se no “conto
sertanejo”: um “gênero artificial e pretensioso” que representa um ponto de vista
europeu e cosmopolita diante da realidade brasileira, tropical e mestiça. Já o
Parnasianismo, apesar de apresentar uma poesia com maior regularidade plástica,
tende à retórica, “aproximando-a do tipo de expressão prosaica e ornamental”.
Também influencia Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, obra de poesia
academicista. Por fim, o Simbolismo, com suas manifestações espiritualistas, surge
como contraposição ao Naturalismo acadêmico do “encantamento plástico”
parnasiano, oriundo da fase 1880-1900.
Apenas as obras de Alphonsus de Guimaraens, Augusto dos Anjos, Euclides
da Cunha e Lima Barreto são dissonantes com relação aos outros escritores da
primeira fase. Em crítica literária, identificamos o amparo da crítica nacionalista nos
três mestres da fase de 1880-1900 — Sílvio Romero, Araripe Júnior e José
Veríssimo —, de modo que são destacados o esgotamento de tal fruto da
estética romântica relativista e ciosa de fatos históricos, bem como a incapacidade
dos críticos dessa fase de alcançar a inclinação estética pretendida. Pode-se inferir,
portanto, que “a crítica se acomodara em fórmulas estabelecidas pelos
predecessores”.

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