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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTOS

ACADÊMICOS ARQUITETURA E URBANISMO


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARCUS VINÍCIUS SANTOS SCAPIN

FAZENDA VERTICAL URBANA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA
2018
MARCUS VINÍCIUS SANTOS SCAPIN

FAZENDA VERTICAL URBANA

Trabalho de Conclusão de Curso de


Graduação, apresentado ao Curso
Superior de Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – UTFPR, como
requisito parcial para obtenção do título de
Tecnólogo.
Orientador: Profs. Rogério Shibata e
Hermínio Pagnoncelli

CURITIBA
2018
Ministério da Educação
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Campus Curitiba - Sede Ecoville

PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo

Curso de Arquitetura e Urbanismo

TERMO DE APROVAÇÃO

Fazenda vertical urbana

Por

MARCUS VINICIUS SCANTOS SCAPIN

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 21 de novembro de 2018 como


requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo
assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Pedro Sunye


FACULDADES CAMPO REAL

Prof. Marcia Prestes


UTFPR

Prof. Rodrigo Ramon


UTFPR

Prof. Herminio Pagnocelli (orientador)


UTFPR
AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, principalmente meus pais, Lourenço e Irene, por


todo o apoio e suporte oferecido.
Aos meus amigos, tanto os que a faculdade me proporcionou a oportunidade
de conhecer e os que compreenderam minhas ausências durante este período, Bruna,
Gabriela, Lucas, Amanda, Karina, Fallconny, Alexandre, Laiane, Tandara, Cattarine,
Stephanie e Guilherme.
Agradeço ao meu orientador, pelo auxilio e pela sua dedicação e apoio
durante o desenvolvimento deste trabalho e também sua família, por compreender
seus momentos de ausência.
Agradeço ainda a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela
oportunidade de desenvolver este trabalho e pelo conhecimento adquirido.
Por fim, todos que auxiliaram no desenvolvimento desta pesquisa.
RESUMO

SCAPIN, Marcus. Centro de Agricultura Urbana em Curitiba, 2017. 93. Trabalho de


Conclusão de Curso (Bacharelado Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

Este trabalho busca desenvolver o projeto de um Centro de Agricultura Urbana em


Curitiba, tendo como foco a produção agrícola no contexto urbano. Pretende-se criar
um edifício multifuncional que dê suporte as práticas de cultivo de uma fazenda
vertical, contendo também ambientes pedagógicos e um mercado público. A pesquisa
se desenvolveu por meio de análises de referenciais teóricos, com o objetivo de
compreender os conceitos de segurança alimentar, como a agricultura urbana ocorre
e seu desenvolvimento histórico, os métodos de cultivo utilizados e quais os aspectos
necessários para realizar o cultivo em edifícios, embasando-se também em estudos
de caso para este fim. Após esta análise, busca-se entender o contexto da agricultura
urbana em Curitiba e em qual realidade urbana este edifício será inserido,
estabelecendo onde será a área de implementação do projeto. Por fim, foram
estabelecidas as diretrizes projetuais, levando em consideração todos os aspectos
analisados no decorrer da pesquisa.

Palavras-chave: Agricultura Urbana; Arquitetura; Fazenda Vertical; Hidroponia;


ABSTRACT

SCAPIN, Marcus. Urban Agriculture Center in Curitiba, 2017. 93. Undergraduate


Thesis (Bachelor of Architecture and Urbanism) - Technological Federal University of
Paraná. Curitiba, 2017.

This paper reaches the goal to develop the project of an Urban Agriculture Center in
Curitiba, focusing on agricultural production in the urban context. It is intended to create
a multifunctional building that supports the practices of cultivating a vertical farm, also
containing pedagogical environments and a public market. The research was
developed through analyzes of theoretical references, with aiming to understand the
concepts of food safety, how urban agriculture occurs and its historical development,
the methods of cultivation used and what aspects are necessary to carry out the
cultivation in buildings, based on case studies. After this analysis, it is sought to
understand the context of urban agriculture in Curitiba and in what urban reality this
building will be inserted, establishing where will be the area of implementation of the
project. Finally, the project guidelines were established, taking into account all the
aspects analyzed in the course of the research.

Keywords: Urban Agriculture; Architecture; Hydroponics; Vertical Farm.


LISTA DE ILUSTRAÇÔES

Figura 1: Sege do grupo Pasona emTokyo ............................................................... 38


Figura 2: Detalhe da vedação da sacada .................................................................. 39
Figura 3: Tipos de cultivo no edifício. ........................................................................ 40
Figura 4: Planta do pavimento térreo setorizada. ...................................................... 41
Figura 5: Planta do pavimento tipo setorizada. ......................................................... 43
Figura 6: Edifício Agro-Main-Ville, ABF-Lab. ............................................................. 44
Figura 7: Esquema do escalonamento da forma para otimizar a insolação. ............. 45
Figura 8: Planta do pavimento térreo setorizada. ...................................................... 47
Figura 9: Possibilidade de flexibilização do uso dos pavimentos superiores. ........... 48
Figura 10: Planta do segundo pavimento setorizada. ............................................... 49
Figura 11: Aspectos sustentáveis da edificação. ....................................................... 50
Figura 12: Esquema do reaproveitamento de águas pluviais na edificação. ............. 51
Figura 13: Edifício sede da Growing Power. ............................................................. 52
Figura 14: Setorização do edifício. ............................................................................ 53
Figura 15: Setorização do subsolo. ........................................................................... 54
Figura 16: Setorização do térreo. .............................................................................. 54
Figura 17: Setorização do primeiro pavimento. ......................................................... 55
Figura 18: Setorização do segundo pavimento. ........................................................ 56
Figura 19: Setorização do terceiro pavimento. .......................................................... 56
Figura 20: Setorização do quarto pavimento. ............................................................ 57
Figura 21: Distribuição dos pontos atendidos pelo programa Lavoura. ..................... 61
Figura 22: Localização do Bairro Rebouças em Curitiba. ......................................... 67
Figura 23: Dados de densidade e área. .................................................................... 68
Figura 24: Relação da faixa etária e gênero dos habitantes. .................................... 69
Figura 25: Habitantes por veículo. ............................................................................. 70
Figura 26: Localização do terreno em Curitiba. ......................................................... 71
Figura 27: Localização do terreno com relação ao entorno. ..................................... 72
Figura 28: Condicionantes naturais do terreno. ......................................................... 73
Figura 29: Pontos de interesse no entorno................................................................ 74
Figura 30: Mapa de usos do entorno. ........................................................................ 75
Figura 31: Pontos de ônibus e ciclovias. ................................................................... 76
Figura 32: Possíveis pontos de abastecimento no entorno. ...................................... 77
Figura 33: Fluxograma. ............................................................................................. 84
Figura 34: Proposta de implantação. ......................................................................... 85
Figura 35: Corte esquemático setorizado. ................................................................. 86
Figura 36: Vista aérea. .............................................................................................. 86
Figura 37: Estudo de insolação. ................................................................................ 87
Figura 38: Localização do terreno.............................................................................. 89
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Determinantes de segurança alimentar e nutricional de acordo com sua


escala. ....................................................................................................................... 19
Quadro 2: Níveis de situação de segurança alimentar e nutricional. ......................... 20
Quadro 3: Possibilidade de Localização do Cultivo Urbano. ..................................... 24
Quadro 4: Sugestão de procedimento para produção hidropônica de hortaliças de
frutos. ........................................................................................................................ 33
Quadro 5: Sugestão de procedimento para produção hidropônica de hortaliças de
folhas. ........................................................................................................................ 34
Quadro 6: Necessidade de solução nutritiva exigida por planta. ............................... 34
Quadro 7: Distribuição das áreas por usos e pavimentos. ........................................ 58
Quadro 8: Área cultivada e produção de alimentos nos programas lavoura e Nosso
Quintal. ...................................................................................................................... 62
Quadro 9: Parâmetros para ocupação do solo na ZR4. ............................................ 72
Quadro 10: Linhas de ônibus em um raio menor que 1km. ....................................... 76
Quadro 11: Dimensionamento das áreas de cultivo. ................................................. 80
Quadro 12: Dimensionamento dos tanques de solução nutritiva. ............................. 81
Quadro 13: Programa de Necessidades. .................................................................. 82
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Quantidade de Iniciativas por tipo de atividade de Agricultura Urbana


desenvolvida em 11 Regiões Metropolitanas. ........................................................... 27
Gráfico 2: Porcentagem total das Iniciativas por tipo de atividade de Agricultura
Urbana nas Regiões Metropolitanas. ........................................................................ 28
Gráfico 3: Percentual das áreas do pavimento térreo. .............................................. 42
Gráfico 4: Percentual das áreas do pavimento tipo. .................................................. 42
Gráfico 5: Percentual das áreas do pavimento térreo. .............................................. 48
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

a.C. – Antes de Cristo AU


– Agricultura Urbana
BIS - Department for Business Innovation and Skills
CIC – Cidade Industrial de Curitiba
Cm - Centímetros
CNN – Cable News Network
EMATERPR – Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
EUA – Estados Unidos da América
FAAC – Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba
FAO - Food and Agriculture Organization
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
L - Litros
M² - Metros Quadrados
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social
ONU – Organização das Nações Unidas
ONU-HABITAT - Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos
PDP – Plano Diretor Participativo
PNSAN - Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PR – Paraná
PUC – Pontifícia Universidade Católica
RMC – Região Metropolitana de Curitiba
S/A – Sociedade Anônima
SISAN - Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SMAB – Secretaria Municipal de Abastecimento
SMMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SOFA –The State of Food and Agriculture
TKWA – The Kubala Washatko Architects
UFPR – Universidade Federal do Paraná
URBS – Urbanização de Curitiba
UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
WMR – World Migration Report
WRI – World Ressources Institute
ZR – Zona Residencial
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15
1.1 PROBLEMA ....................................................................................................... 15
1.2 HIPÓTESE ......................................................................................................... 15
1.3 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 15
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 16
1.5 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 16
1.6 METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................... 17
2. AGRICULTURA URBANA................................................................................... 19
2.1 AUMENTO DA POPULAÇÃO GLOBAL, URBANIZAÇÃO E CONCEITO DE ... 19
SEGURANÇA ALIMENTAR ...................................................................................... 19
2.2 CONCEITO DE AGRICULTURA URBANA ........................................................ 22
2.3 HISTÓRICO DA AGRICULTURA URBANA ....................................................... 25
2.3.1 Contexto Histórico Global ................................................................................ 25
2.3.2 Contexto Histórico Nacional ............................................................................ 27
2.4 FAZENDAS VERTICAIS .................................................................................... 29
3. MÉTODO DE CULTIVO ....................................................................................... 31
3.1 CULTURA HIDROPÔNICA DE HORTALIÇAS .................................................. 32
3.2 DESEMPENHO TÉRMICO ................................................................................ 35
4. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................... 38
4.1 PASONA URBAN FARM, KONO DESIGNS (2010) ........................................... 38
4.2 AGRO-MAIN-VILLE, ABF-LAB (2016) ............................................................... 43
4.3 FAZENDA VERTICAL GROWING FARM, THE KUBALA WASHATKO ........... 51
ARCHITECTS – TKWA (2010).................................................................................. 51
5. CONTEXTO DA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA ............................... 58
5.1 PLANO MUNICIPAL DE CONTROLE AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO .. 58
SUSTENTÁVEL ........................................................................................................ 58
5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO À AGRICULTURA URBANA .............. 59
5.3 CENSO OFICIAL DA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA ....................... 65
6. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE .................................................................. 67
6.1 CONTEXTO DO BAIRRO REBOUÇAS ............................................................. 67
6.1.1 Histórico .......................................................................................................... 67
6.1.2 Dados Estatísticos ........................................................................................... 68
6.2 ÁREA DE INTERVENÇÃO ................................................................................. 70
6.2.1 Análise do Entorno .......................................................................................... 73
6.2.2 Acesso ao Transporte ..................................................................................... 75
6.2.3 Relação com o Abastecimento ........................................................................ 77
7. DIRETRIZES DE PROJETO ................................................................................ 79
7.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES ................................................................... 80
8. PROPOSTA ......................................................................................................... 94
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 94
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 95
APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO ......................................................... 100
15

1. INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMA

De acordo com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos


Humanos (ONU-HABITAT) (2006), a expansão da população urbana tende a se
acelerar até o ano de 2050, principalmente nos países em desenvolvimento, devido à
altas taxas de natalidade e à imigração da população das áreas rurais para áreas
urbanas em busca de empregos, segurança e alimento, consequentemente, haverá
um aumento dos habitantes em condições irregulares de moradia, com altos níveis de
desemprego e em condição de insegurança alimentar. O pouco conhecimento sobre
a produção agrícola em meio urbano, em conjunto com o desalinhamento entre
políticas públicas e ações individuais, dificultam a difusão da prática do cultivo
sustentável dentro do perímetro urbano de Curitiba, que cresceu 10% nos últimos 10
anos (IBGE, 2016).

1.2 HIPÓTESE

O desenvolvimento de um espaço que permita a prática da Agricultura Urbana,


suporte às atividades de cultivo, permite a troca de informações sobre o tema e
fortalece a relação entre os consumidores e produtores pode melhorar a difusão de
conhecimento sobre o assunto, favorecendo a alimentação saudável e incentivando a
prática de Agricultura Urbana.

1.3 OBJETIVO GERAL

Planejar o projeto de um edifício multifuncional, que dê suporte às funções de


uma fazenda vertical urbana na região central de Curitiba, com áreas de apoio que
incentivem a produção, consumo e propagação da cultura de alimentos orgânicos em
meio urbano que foram cultivados em uma produção local, utilizando-se uma
propriedade que deixou de cumprir sua função social.
16

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar os dados de futuro aumento da população mundial,


principalmente em meio urbano, a falta de áreas de cultivo de alimentos e o conceito
de segurança alimentar
• Identificar como ocorre a prática da agricultura em meio urbano, suas
definições, sua evolução histórica em um contexto global e nacional;
• Identificar os diferentes métodos de cultivo utilizados, identificando a
opção mais viável;
• Estudar os aspectos técnicos necessários para que uma edificação
possa possuir uma produção de alimentos em Curitiba;
• Identificar uma propriedade subutilizada em áreas centrais de Curitiba,
que não cumpra a sua função social;
• Analisar estudos de caso;
• Propor a construção de um centro de agricultura urbana em Curitiba.

1.5 JUSTIFICATIVA

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) considera


que o desenvolvimento da agricultura urbana faz parte das políticas de
desenvolvimento humano sustentável. Estima-se que até o ano de 2050, a população
mundial chegará aos 9 bilhões e dois terços dessa população residirá nos centros
urbanos e, para satisfazer a demanda alimentícia desta população, a Food and
Agriculture Organization - FAO projeta que a produção de alimentos deve aumentar
em pelo menos 60%, sendo que, atualmente, cerca de 80% das terras adequadas
para a produção já estão sendo utilizadas.
De acordo com o Departamento de Negócios, Inovações e Habilidades do
Reino Unido – BIS – (2011) a produção mundial de alimentos deve ter um aumento de
40% nas próximas duas décadas. Pensar nesta produção em termos de área rural é
pensar também em desmatamentos e maiores distâncias para levar a comida aos
centros urbanos, além da inevitável geração de resíduos. Menor oferta de alimentos e
maiores distâncias para trazer os mesmos gera aumento nos preços, o que se reflete
para as populações de baixa renda em insegurança alimentar, baixa diversificação na
alimentação e comprometimento de grande parte da renda com alimentação
17

Segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a


Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de um bilhão de toneladas de alimentos
produzidos no mundo são desperdiçados a cada ano, incluindo nos processos de
plantio, colheita e transporte, além do manuseio.
Despommier (2010) afirma que é necessária uma área de cultivo equivalente
ao território do Brasil para que se possa alimentar a população mundial. Mesmo
partindo do pressuposto que toda esta área seja usada para a agricultura, esta safra
não está totalmente garantida, pois ainda está sujeita à ação do clima, solo e agentes
externos. Se incluirmos nesta equação o percentual de alimentos que estragam
durante o transporte (estudos indicam que nos Estados Unidos um produto agrícola é
manuseado 33 vezes antes de chegar ao consumidor, teremos ainda menos alimentos
disponíveis. Uma alternativa para esta situação é a edificação de fazendas verticais
em ambientes controlados dentro dos centros urbanos.
Frente aos diversos problemas delineados acima, temos a agricultura urbana
como tentativa de sanar em parte muitos deles, e mais do que isso, trazer benefícios
que promovam a sustentabilidade, muitas vezes ignorados pela falta de conhecimento
a respeito do tema.

1.6 METODOLOGIA DA PESQUISA

O desenvolvimento da pesquisa possui um caráter exploratório e descritivo


quanto à compreensão do funcionamento das práticas de agricultura urbana e os
métodos de cultivo. A pesquisa acontece em quatro momentos de análise e reflexão,
sendo:
• Conceituação temática;
• Interpretação da realidade;
• Estudos de caso;
• Diretrizes projetuais.
Os processos metodológicos adotados foram:
• Levantamento de informações bibliográficas por meio de artigos
científicos, dissertações, livros e webgrafia para oferecer um referencial
teórico na conceituação do tema estudado;
18

• Interpretação dos estudos de caso escolhidos como referências


arquitetônicas para a elaboração do projeto;
• Entendimento da realidade existente no local, por meio do
levantamento e análise de dados e informações relevantes;
19

2. AGRICULTURA URBANA

2.1 AUMENTO DA POPULAÇÃO GLOBAL, URBANIZAÇÃO E CONCEITO DE


SEGURANÇA ALIMENTAR

De acordo com o relatório “Perspectivas da População Mundial: A Revisão de


2015” da Organização das Nações Unidas, o mundo deve atingir a quantia de 7,3
bilhões de habitantes até o ano de 2030, e de 9,7 bilhões em 2050. Se o crescimento
populacional continuar neste ritmo, a população mundial deve atingir a marca de 11,2
bilhões de seres humanos no ano de 2100, um aumento de 53% com relação ao
presente.
No World Migration Report – WMR - Relatório sobre a Migração Mundial de
2015 da Organização Internacional para as Migrações, a população que vive em
cidades corresponde a 54% de todos os habitantes do mundo. Grande parte do
crescimento populacional previsto para as próximas décadas (cerca de 2,5 bilhões)
deverá se concentrar em áreas urbanas, principalmente de países em
desenvolvimento com altas taxas de fertilidade, especialmente na África e na Ásia.
As diferenças regionais apresentam uma influência grande no grau da
urbanização. Enquanto a África foi um continente predominantemente rural no século
XX, atualmente as cidades da África subsaariana estão crescendo a um ritmo de pelo
menos 5% ao ano, e para o ano de 2020, pelo menos a metade dos habitantes desta
região estará urbanizada (WRI 1999). Esta urbanização apresenta um grande desafio
para o futuro próximo, para alimentar cidades do porte de São Paulo ou Cidade do
México, é necessário a importação de pelo menos 6.000 toneladas de alimentos por
dia (FAO-SOFA, 1998).
Belik (2003) afirma que o conceito de segurança alimentar ganhou destaque
após a 2ª Guerra Mundial, com o continente europeu sem condições de produzir seu
próprio alimento. Este conceito leva em conta três aspectos principais: quantidade,
qualidade e regularidade no acesso aos alimentos.
Para Kepple (2010), a disponibilidade de alimento é a oferta de alimentos para
toda a população, fator que depende da produção, importação, armazenamento e
distribuição. O acesso é a capacidade de obter alimentos de qualidade em quantidade
suficiente, tendo também uma relação com a política de preços e da renda familiar. A
utilização biológica é o aproveitamento dos nutrientes, sendo esta afetada pelas
20

condições de preparo e produção do alimento e pela situação sanitária nas quais as


pessoas vivem. Além da disponibilidade, do acesso e da utilização, há a estabilidade,
que envolve a sustentabilidade social, econômica e ambiental, e demanda o
planejamento de ações pelo poder público e pelas famílias ante eventuais problemas
que podem ser crônicos, sazonais ou passageiros.
O Quadro 1 permite visualizar os determinantes da segurança alimentar e
nutricional a partir do cruzamento dos fatores em suas escalas, micro
(domiciliar/individual), meso (comunitário/regional) e macro (nacional/internacional) com
as quatro dimensões descritas acima.

Nível Macro Meso Micro

Disponibilidade Inserção na rede de Proximidade aos


Políticas agrícolas –
distribuição de pontos de venda de
incentivos e subsídios; alimentos – transporte; alimentos e
Competição com abastecimento dos
Produção local.
atividades agrícolas não mesmos;
alimentares; Produção para
Preços no mercado
autoconsumo.
internacional;
Desastres ambientais e
guerras.

Acesso Apoio à agricultura Empregos e salários; Renda/estabilidade


familiar; Preços dos alimentos financeira
Geração de renda; e de outras Inserção numa rede
Políticas econômicas, necessidades básicas. social;
sociais e assistenciais; Participação em
Preços internos. programas
assistenciais.

Utilização Políticas nacionais de Saneamento básico e Saúde dos moradores


saneamento básico e vigilância sanitária; Práticas de higiene
vigilância sanitária; Disponibilidade de
Acesso ao
Políticas de Educação serviços de saúde
saneamento básico e
Alimentar e Nutricional Educação Alimentar e
água potável
Nutricional. Educação Alimentar e
Nutricional

Estabilidade Mecanismos Renda/estabilidade Emprego formal;


internacionais e nacionais financeira Seguro-desemprego;
para manter estabilidade Inserção numa rede Capacidade de
econômica; social; armazenar alimentos;
Leis trabalhistas; Participação em Vagas na creche
Sustentabilidade social, programas
econômica e ambiental assistenciais.
de políticas.
Quadro 1: Determinantes de segurança alimentar e nutricional de acordo com sua escala. Fonte:
Kepple, 2010.
21

A Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, cria o Sistema Nacional de


Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) e a Política Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (PNSAN), que define a segurança alimentar e nutricional como
a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e
socialmente sustentáveis.
A segurança alimentar pode ser classificada em níveis, de acordo com o seu
grau, havendo a segurança alimentar, a insegurança leve, moderada e grave,
conforme o Quadro 2 (IBGE, 2009).

Situação de Descrição
Segurança Alimentar

Segurança Alimentar
Os moradores dos domicílios têm acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais

Insegurança
Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro;
Alimentar leve qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam
não comprometer a quantidade de alimentos

Insegurança Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos


Alimentar moderada padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos

Insegurança Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos


Alimentar grave padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre as
crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de
dinheiro para comprar alimentos)
Quadro 2: Níveis de situação de segurança alimentar e nutricional.
Fonte: IBGE (2009).

De acordo com o IBGE (2004), também pode ser definido como domicílio com
insegurança alimentar aquele em que nos últimos três meses ocorreu pelo menos uma
das quatro situações:
1. Um ou mais moradores ficaram preocupados por não terem certeza de
que os alimentos disponíveis durariam até que fosse possível comprar ou receber
mais comida que constituía a sua alimentação habitual;
2. A comida disponível para os moradores acabou antes que tivessem
dinheiro para comprar mais alimentos que constituíam as suas refeições habituais,
22

sem considerar a existência dos alimentos secundários (óleo, manteiga, sal, açúcar,
etc.), uma vez que sozinhos não constituem a alimentação básica;
3. Os moradores da unidade domiciliar ficaram sem dinheiro para ter uma
alimentação saudável e variada;
4. Os moradores da unidade domiciliar comeram apenas alguns alimentos
que ainda tinham porque o dinheiro acabou.

2.2 CONCEITO DE AGRICULTURA URBANA

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura


(2011), não há uma definição precisa para o que é agricultura urbana, sendo o conceito
relacionado a práticas de produção agrícola dentro de cidades ou em seu entorno, que
contribuem efetivamente com a oferta e ao acesso de alimentos. A maioria das
definições se refere à fase produtiva da agricultura, enquanto as definições mais
recentes incluem também o processamento e a comercialização, além das interações
entre todas essas fases. Na agricultura urbana, todas as fases, desde a produção,
processamento e venda, tendem a estar mais inter-relacionadas no tempo e no espaço
do que em produções rurais, em consequência da proximidade geográfica e ao fluxo
mais rápido das mercadorias (MOUGEOT, 1998).
A escala das produções agrícolas urbanas geralmente é subestimada, de
acordo com as estimativas mais aceitas, cerca de 200 milhões de pessoas habitantes
de zonas urbanas participam de algum tipo de produção agrícola, oferecendo
alimentos para 800 milhões de pessoas, enquanto as estimativas mais conservadoras
sugerem que entre 15 e 20% do alimento produzido mundialmente em 1993 era
produzido em áreas urbanas (NELSON, 1996).
Para Veenhuizen (2006), a agricultura urbana é compreendida desde a
produção do alimento como subsistência a nível doméstico até a produção voltada
completamente para o comércio. A atividade é praticada por pessoas com diferentes
níveis de renda, para os muitos pobres, ela significa uma forma de garantir o acesso
a alimentação de boa qualidade, para os pobres e aqueles de renda média, pode
significar também uma fonte extra de renda ou o retorno de um investimento em um
imóvel urbano, enquanto para empresários pode representar um negócio rentável,
buscando a venda para centros de distribuição, supermercados, hotéis e restaurantes
(NASR, RATTA E SMIT, 2001).
23

Os pobres são mais dependentes da produção urbana para sua nutrição e


renda. Em um contexto rural, é natural imaginar que a população se alimenta
majoritariamente de sua própria produção, enquanto na produção urbana, seja de
pessoas ricas ou pobres, dificilmente alguém poderia obter a maior parte dos
micronutrientes e calorias necessárias em seus próprios jardins (NUGENT, 2001).
Para Comasseto et al. (2011), as discussões mais recentes sobre os danos
causados à saúde pelos agrotóxicos incentivam um novo perfil de praticantes da
agricultura urbana: pessoas que buscam um estilo de vida mais saudável, que utilizam
terrenos vazios e espaços comunitários de associações e igrejas para a produção de
seu alimento, seguindo práticas de agricultura orgânica, que visam facilitar o acesso
à alimentos livre de agrotóxicos, que normalmente teriam um preço elevado, ou para
simplesmente produzirem parte de seu alimento, resgatando uma característica que
se perdeu com a evolução da sociedade.
Nasr, Ratta e Smit (2001) e Mougeot (2000a) afirmam que a agricultura urbana
comumente é classificada apenas por sua localização, estando ela inserida no meio
urbano ou em seu entorno (chamada neste caso de agricultura periurbana), porém,
podem ser considerados muitos outros aspectos quanto a este assunto, como o tipo
de produto produzido (vegetal, animal, alimentícios ou não); os estágios de produção
existentes (desde a produção, até a comercialização); a escala da atividade (quintais
até maiores propriedades de terras); o que motiva a atividade (alimentação da família
até abastecimento de supermercados e hotéis); a legalidade da área onde ocorre
(áreas públicas ou privadas, cessão, usufruto, arrendamento etc.) e os grupos
envolvidos na produção (programas incentivados pelo governo, atividades
relacionadas a organizações não governamentais).
Para Santandreu e Lovo (2007) a agricultura urbana pode ser dividida em
cinco categorias:
1. Produção, que pode ser dividida em agrícola (cultivo de hortaliças,
plantas medicinais, aromáticas, frutíferas e ornamentais) e pecuária (animais de
pequeno, médio e grande porte, peixes e agroextrativismo) ou produção de insumos
como sementes, mudas, reuso de água e reaproveitamento de resíduos sólidos.
2. Transformação, processo de fabricação artesanal que aplicará a
produção como matéria-prima, transformando-a em outro produto em pequena
agroindústria familiar ou comunitária.
3. Comercialização dos produtos, sendo eles transformados ou não.
24

4. Autoconsumo, doações e trocas com a população ou espaços


institucionais.
5. Prestação de serviços em pesquisas, capacitação, geração de
tecnologias, assessorias, créditos locais, entre outros.
Para Mougeot (2000b), as agriculturas urbanas e rurais possuem muitos
destes aspectos em comum, mas a principal diferença entre ambas é a integração no
sistema econômico e ecológico urbano.
Santandreu e Lovo (2006) apresentam uma tabela (Quadro 3) apresentando
as tipologias possíveis para a agricultura urbana, conforme o lugar onde ela ocorre,
podendo ela ser em: espaços privados, espaços públicos, verdes urbanos,
institucionais, não edificáveis, unidades de conservação e áreas de tratamento.
25

Tipologia Espaços Característicos


Espaços Privados Lotes Vagos;
Terrenos baldios particulares ou com dúvidas sobre a propriedade;
Lajes e tetos;
Quintais ou pátios;
Áreas periurbanas;
Áreas verdes em conjuntos habitacionais.
Espaços Públicos Terrenos de propriedade Municipal, Estadual e Federal com espaços
possíveis de utilização de acordo com a caracterização feita nas linhas
abaixo:
Verdes Urbanos Praças e Parques.

Institucionais Escolas e creches;


Posto de Saúde;
Hospitais;
Presídios;
Edifícios Públicos e privados.
Não Edificáveis Laterais de vias férreas;
Laterais de estradas e avenidas;
Margens de cursos d’água;
Áreas inundáveis;
Faixas sob linhas de alta tensão;
Ambientes aquáticos (rios e lagoas).
Unidades de Áreas de proteção ambiental;
Conservação Reservas ecológicas;
Outras unidades desde que seja permitido o manejo e uso de
potencialidades
Áreas de Aterro sanitário;
Tratamento Lagoas de oxidação.

Quadro 3: Possibilidade de Localização do Cultivo Urbano.


Fonte: Santandreu e Lovo, 2007.

2.3 HISTÓRICO DA AGRICULTURA URBANA

2.3.1 Contexto Histórico Global

Para Bairoch (1985), historicamente sempre houve um componente agrícola


presente nas cidades, desde a formação dos primeiros assentamentos humanos do
Neolítico até as cidades modernas, sendo este um fenômeno de grande amplitude,
que foi negligenciado pelo poder público no século XX.
Foi por meio da agricultura que o ser humano se estabeleceu em territórios
específicos, abandonando o nomadismo, formando os primeiros núcleos urbanos, e
criou trabalhadores especializados na produção de alimentos para a comunidade onde
26

vivem, sendo estes chamados de agricultores, camponeses, lavradores, entre outros


nomes (MAZOYER E ROUDART, 2010).
Nos 8.500 anos que se seguiram, os agricultores desenvolveram a prática
agrícola por forma de tentativa e erro, conseguindo eventualmente melhorar a
qualidade de sua produção. Durante as Idades do Bronze e Ferro (cerca de 5.00 a.c.
a 2.000 a.c.), as ferramentas de pedra e madeira foram substituídas por metais mais
fortes e eficientes, porém, a agricultura ainda era uma atividade manual que exigia
cerca de 80% da população mundial (MAZOYER E ROUDART, 2010).
Até os séculos XVIII e XIX, a agricultura sempre esteve relacionada com o
contexto urbano, porém, com a Revolução Agrícola, esta deixou de ser uma atividade
relacionada com o contexto urbano, com o aperfeiçoamento do desenho do arado, a
invenção da primeira semeadora mecânica por Jethro Tull e a colheitadeira puxada
por cavalos por Cyrus McCormick, que causou alterações no espaço exigido para a
atividade, o que segregou definitivamente o campo e a cidade (MAZOYER E
ROUDART, 2010).
No final do século XX, devido a uma grande escassez alimentícia e interrupção
das importações da União Soviética, Cuba se destaca com uma iniciativa de produção
de alimentos em meio urbano. Os cidadãos cubanos apropriaram-se de sacadas,
terraços, pátios e terrenos baldios, para o plantio de feijões, tomates, bananas e
qualquer alimento em um local que estivesse disponível. Em um espaço de dois anos,
levantaram-se jardins e granjas em todos os bairros de Havana (WARWICK, 2001).
O governo colaborou com a iniciativa popular, incentivando o cultivo e criou o
Departamento de Agricultura Urbana, que tomou decisões como adaptar a normativa
incorporando o planejamento do Usufruto, tornando não somente legal, mas também
livre para adaptar terrenos sem uso e públicos a disposição de potencial território
produtivo; treinou uma rede de agentes de extensão, membros da comunidade que
monitoram, educam e incentivam a construir hortas comunitárias nos bairros; criou
“seed houses” (casas de sementes) para prover recursos/informação; e estabeleceu
uma infraestrutura de venda direta de Mercados Agrícolas para tornar estas hortas
rentáveis (WARWICK, 2001).
"Companheiros, já faz algum tempo que venho insistindo na
importância de desenvolvermos nossa agricultura urbana. Estou convencido
de que esses são os primeiros produtos nos quais seremos autossuficientes
e que representaram um importante fator na solução gradual dos problemas
27

de alimentação da população". Raúl Castro, Ministro das Forças Armadas


Revolucionárias,1998.

2.3.2 Contexto Histórico Nacional

Desde o período colonial, houve uma valorização de espaços de produção


nas residências. Os lotes eram caracterizados por testadas estreitas que passavam a
impressão de uma cidade muito adensada, porém, haviam grandes quintais nos
fundos da construção, área comumente dedicada ao cultivo de hortas e pomares
(SILVA, 2004).
Segundo Silva (2004), devido a uma forte influência urbanística europeia
durante o século XVIII, a estética se tornou um elemento mais importante que a
funcionalidade da casa, também houve a diminuição da quantidade de processos
produtivos realizados no domicílio, com a ascensão do comércio de bens
industrializados e, com diminuição dos tamanhos dos lotes e a delimitação da natureza
permissível da ocupação. Com isto, as hortas foram substituídas por jardins com
plantas ornamentais na frente da casa.
Estas transformações ocorreram em diferentes contextos no país, com
velocidades e tempos distintos, mas ainda há traços presentes da vida voltada a
produção doméstica, como o hábito de cultivar alimentos nos quintais, prática que
jamais deixou de ser praticada mesmo em grandes centros influenciadores, como São
Paulo e Rio de Janeiro, onde este fenômeno ocorreu primeiro. Conforme as mudanças
que ocorreram no contexto urbano, a produção agroalimentar se adaptou de acordo
(SILVA, 2004).
A prática da Agricultura Urbana volta a ganhar espaço no final do século XX e
início do século XXI, com novas funcionalidades e características produtivas, tendo
destaque como um método estratégico de segurança política e econômica a fim de
melhorar a qualidade de vida da população e garantir a segurança alimentar
(FENIMAN, 2014).
Santandreu e Lovo (2007) analisaram a produção agrícola urbana em 11
aglomerados metropolitanos organizados em 5 regiões. Foi constatado que a maior
produção incide nas capitais (Gráfico 1). No contexto nacional, os maiores produtores
em meio urbano são Curitiba, Brasília e Belo Horizonte, com predominância na
produção vegetal e Brasília também se destacando por sua intensa produção animal
e comercialização. No Gráfico 2, observa-se a porcentagem total de atividades
28

praticadas e é possível perceber que a produção vegetal tem o maior destaque,


seguida por comercialização, serviços, produção animal, transformação e produção
de insumos.

Gráfico 1: Quantidade de Iniciativas por tipo de atividade de Agricultura Urbana desenvolvida em 11


Regiões Metropolitanas.
PV = Produção Vegetal; PA = Produção Animal; PI = Produção de Insumos; C = Comercialização; T
= Transformação; S = Serviços.
Fonte: Santandreu e Lovo, 2007.

Gráfico 2: Porcentagem total das Iniciativas por tipo de atividade de Agricultura Urbana nas Regiões
Metropolitanas.
PV = Produção Vegetal; PA = Produção Animal; PI = Produção de Insumos; C =
Comercialização; T = Transformação; S = Serviços. Fonte:
Santandreu e Lovo, 2007.
29

Estes dados demonstram que a Agricultura Urbana é uma atividade praticada


em todo o contexto nacional, além de ser uma realidade que abarca uma grande
diversidade de contextos, apresentando uma ampla capacidade de expansão e muitas
possibilidades de consolidar-se como uma atividade permanente e multifuncional na
escala local (SANTANDREU E LOVO, 2007).

2.4 FAZENDAS VERTICAIS

Como visto, a agricultura é um aspecto inseparável e necessário para o ser


humano, estando presente em nossa realidade há milhares de anos. No entanto, as
áreas disponíveis para cultivo estão gradualmente diminuindo, devido ao aumento
contínuo da população global e o clima anômalo de determinadas regiões, como a
falta de luz solar, precipitação inconstante e temperaturas anormalmente altas ou
baixas por causa do aquecimento global. Além disso, o declínio e envelhecimento dos
agricultores tem causado riscos à estabilidade da cadeia de produção e seus preços.
Neste cenário, as fazendas verticais se apresentam como uma alternativa
(DESPOMMIER, 2008).
As fazendas verticais são um sistema contínuo de produção que cultiva a
colheita sem a intervenção humana, utilizando controles automatizados em espaços
adequados para o crescimento das plantas, com níveis apropriados de iluminação,
temperatura, umidade e nutrientes (DESPOMMIER, 2011).
Segundo Pati & Abelar (2015), ao permitir que os ambientes tradicionalmente
agrícolas se revertam ao seu estado natural e evitar o custo energético necessário
para o transporte dos alimentos para os consumidores, já que eles são cultivados em
ambientes urbanos próximos a população, as fazendas verticais podem aliviar as
mudanças climáticas causadas pelo excesso de carbono na atmosfera, além de
diminuir as perdas com o processo de transporte, que são estimadas em 30% devido
ao apodrecimento e infestações de pragas.
Críticos desta teoria afirmam que ao criar as condições necessárias para o
cultivo em um ambiente controlado, o gasto energético na verdade se torna maior que
o do transporte da safra. No entanto, estudos publicados no Journal of Agricultural
Engineering and Biotechnology provam que a utilização de painéis solares e métodos
de reuso das águas pluviais, além de refletores metálicos para fornecer luz solar para
as plantas, são medidas que tornam o sistema viável (PATI & ABELAR, 2015).
30

Diferente dos métodos de cultivo tradicionais em áreas não tropicais, o cultivo


em ambientes internos pode produzir colheitas durante o ano todo, isto multiplica a
produtividade da área, dependendo da safra, por um fator de 4 a 6 vezes, com algumas
safras, como morangos, sendo até 30 vezes mais produtivas (DESPOMMIER, 2008).
Despommier (2009) afirma que a utilização de fazendas verticais, em conjunto
com outras práticas tecnológicas e socioeconômicas, permite à uma cidade expandir,
porém, manter-se autossuficiente no quesito produção de alimentos. Isto possibilitaria
o crescimento de grandes centros urbanos, sem a destruição de áreas consideráveis
de vegetação nativa para alimentar sua população. E a indústria das fazendas verticais
ainda geraria empregos nestes centros urbanos, diminuindo o desemprego.
O projeto piloto da primeira fazenda vertical do mundo foi instalado no
Paignton Zoo Environmental Park, no Reino Unido. Na base do edifício, havia um
laboratório para o desenvolvimento de pesquisas sobre a produção urbana de
alimentos. A produção é utilizada para alimentar os animais do zoológico. Em 2010,
iniciou-se o projeto para implementação de fazendas verticais em Israel (FREDIANI,
2010).
Governos e cidades de diversos países já demonstraram interesse sério na
implementação de fazendas verticais, como: Incheon (Coreia do Sul), Abu Dhabi
(Emirados Árabes Unidos), Dongtan (China), Paris (França), Bangalore (India), Dubai
(Emirados Árabes Unidos), Shanghai e Nova Iorque, Portland, Los Angeles, Las
Vegas e Seattle nos Estados Unidos. A empresa Sky Greens Farms instalou sua
primeira unidade na Singapura, em 2012, e desde então já realizou a implantação de
mais de 100 torres na região (CNN, 2013).
31

3. MÉTODO DE CULTIVO

As tendências de aumento populacional trazem consigo um grande desafio:


como produzir mais alimentos, sem perder a qualidade. É com este objetivo que são
desenvolvidos avanços tecnológicos, como o aprimoramento genético de sementes,
aprimoramento dos sistemas de cultivo e pós-colheita. A utilização de estufas no
século XIX revolucionou o sistema comum de plantio, com ambientes controlados que
permitem a produção durante o ano todo, porém, elas são salinizadoras de solos,
aproximadamente 60% da água utilizada na irrigação se perde por evaporação ou no
solo e nem todos os nutrientes são efetivamente absorvidos pelo sistema radicular
das plantas (Alberoni, 1997).
Como alternativa, surge no início do século XX, o cultivo hidropônico, método
de plantio em que as plantas não entram em contato com o solo, sendo produzidas
em soluções nutritivas. Este sistema possui os benefícios de evitar desperdícios de
água e nutrientes no solo ou por evaporação, permite uma regulagem maior dos
nutrientes necessários para a planta, diminui os gastos com pesticidas e lavagem e
apresenta um rendimento maior que o plantio comum, mesmo em estufas. O sistema
ainda apresenta alguns aspectos negativos como um alto custo inicial de implantação
e necessidade de tecnologias mais avançadas no seu acompanhamento, mas estes
custos se compensam a longo prazo quando considerado o rendimento elevado do
cultivo (Resh,1995).
Na segunda metade do século XX, foi desenvolvido o sistema de aeroponia,
onde as plantas são suspensas no ar e é utilizada uma névoa no ambiente com a
solução nutritiva, sendo as vezes classificada como um tipo de hidroponia por também
utilizar uma solução nutritiva para alimentar as plantas. A cultura no ar possui os
mesmos benefícios da hidroponia e ainda permite o desenvolvimento livre das raízes
que, em contato com oxigênio e gás carbônico, realizam mais trocas gasosas e,
consequentemente, potencializa o crescimento das plantas, além de reduzir
drasticamente a possibilidade de pragas (STONER E CLAWSON, 1998). Porém, este
sistema ainda possui um alto custo de implementação e um acompanhamento técnico
de especificidade elevada, o que torna a prática da aeroponia economicamente
inviável em comparação com a hidroponia.
32

3.1 CULTURA HIDROPÔNICA DE HORTALIÇAS

Segundo Martinez e Barbosa (1996), o ato de cultivar plantas fora do solo


utilizando uma solução nutritiva, conhecido como hidroponia, já é altamente difundido
em países como Holanda, Estados Unidos, França, Japão e Israel. No Brasil, apesar
de haver uma grande procura pelo cultivo hidropônico, ainda há pouca informação
disponível sobre esta técnica. Os cultivos hidropônicos no Brasil têm apresentado
maior destaque nos cinturões verdes de São Paulo (Vargem Grande e Mogi das
Cruzes), Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Segundo Teixeira (1996), há produção hidropônica em todos os estados do
Brasil, principalmente no entorno de capitais e grandes regiões metropolitanas. Entre
os principais cultivos de hortaliças, destacam-se a alface e o tomate, consideradas as
hortaliças mais importantes na alimentação do brasileiro, por ser refrescante, de sabor
agradável e de fácil preparo, o que assegura à cultura expressiva importância
econômica, seguidos pelas produções de abobrinha e pepino. Outras hortaliças estão
restritas a pequenas áreas experimentais, sem muita representatividade no mercado,
como é o caso do agrião, salsinha, couve, pimentão, morango e melão.
O plantio hidropônico de hortaliças no Brasil tem ganhado cada vez mais
destaque nos últimos anos, apesar da prática ainda ser pouco difundida com os
agricultores tradicionais, o que gera resistência e insegurança ao adotar este sistema
de produção. Porém, esta prática tem apresentado ser uma técnica promissora para
atender um mercado cada vez mais exigente com a qualidade de seus alimentos,
apresentando vantagens como o controle dos nutrientes; antecipação da colheita;
homogeneidade da oferta e qualidade dos produtos pelo ano todo; dispensar a
necessidade de rotação das culturas, propiciando ao produtor um nível alto de
especialização; menor incidência de pragas e doenças; utilização de menos mão-
deobra; racionalização do uso de água e de energia. Porém, ainda apresenta certas
desvantagens como o custo inicial alto para a implantação e exigir um grau alto de
tecnologia e acompanhamento técnico do sistema e a dependência do sistema
nutritivo e da energia elétrica (Faquim & Furlani, 1999).
Segundo Martinez e Barbosa (1996) a hidroponia tem se tornado uma prática
promissora para a diversificação do agronegócio, por gerar um produto diferenciado,
de boa qualidade e de grande aceitação no mercado, além de apresentar benefícios
como o maior rendimento por área de cultivo, maior facilidade de execução de tratos
33

culturais, ciclos mais curtos em decorrência do controle ambiental, redução das perdas
por adversidades climáticas por se tratar de um ambiente controlado, o que garante
maior segurança de produção na entressafra, além de proporcionar o aproveitamento
de áreas relativamente pequenas (Zatarin, 1997).
As espécies vegetais são irrigadas com uma solução nutritiva, sendo
colocadas em canais de cultivo, também chamados de perfis hidropônicos, que devem
variar seu tamanho e disposição conforme a espécie vegetal e o grau de crescimento
em que este se encontra (Faquim & Furlani, 1999). O Quadro 4 apresenta as medidas
e os espaçamentos dos canais de cultivo conforme a espécie de hortaliça de frutos,
além dos espaçamentos entre as plantas. O tamanho do canal pequeno possui 2,5cm
de profundidade e 5cm de largura; o tamanho médio apresenta 5cm de profundidade
e 10cm de diâmetro e o tamanho grande apresenta 15cm de profundidade e 15cm de
diâmetro. O Quadro 5 apresenta as medidas referentes para hortaliças de folhas.

Cultura Fase de Tamanho do Espaçamento (em cm) entre Número de


crescimento canal plantas por 10m²

Linhas Células

Melão
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Grande 75,0 - 100,0 30,0 33 - 44

Morango
Muda 1 Pequeno 10,0 - 15,0 5,0 - 7,5 450 - 1000

Produção Médio 25,0 - 35,00 25,0 - 35,0 82 - 160

Pepino
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 50,0 - 75,0 50,0 - 75,0 18 - 40

Pimenta
Muda 1 Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 75,0 - 100,0 50,0 - 75,0 13 - 27

Pimentão
Muda 1 Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Grande 75,0 - 100,0 50,0 - 75,0 13 - 27

Tomate
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 75,0 - 100,0 50,0 - 75,0 13 - 27


Quadro 4: Sugestão de procedimento para produção hidropônica de hortaliças de frutos.
Fonte: Faquim & Furlani, 1999.
34

Cultura Fase de Tamanho do


Espaçamento (em cm) entre Número de
crescimento canal
plantas por
Linhas Células 10m²

Agrião
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 12,5 - 20,0 12,5 - 20,0 250 - 640

Alface
Muda 1 Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Muda 2 Médio 10,0 - 15,0 10,0 - 15,0 450 - 1000

Produção Médio 25,0 - 35,0 25,00 - 35,0 80 - 160

Almeirão
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 10,0 - 20,0 10,0 - 20,0 250 - 1000

Chicória
Muda 1 Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Muda 2 Médio 10,0 - 15,0 10,0 - 15,0 450 - 1000

Produção Médio 30,0 - 35,0 30,0 - 35,0 80 - 110

Couve
Muda 1 Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Muda 2 Médio 10,0 - 15,0 10,0 - 15,0 450 - 1000

Produção Grande 50,0 - 100,0 50,0 - 100,0 80 - 110

Rúcula
Muda Pequeno 5,0 - 7,5 5,0 - 7,5 2000 - 4000

Produção Médio 10,0 - 20,0 10,0 - 20,0 250 - 1000


Quadro 5: Sugestão de procedimento para produção hidropônica de hortaliças de folhas.
Fonte: Faquim & Furlani, 1999.

Após determinada a quantidade total de plantas, tendo em mente a área de


produção e os dados contidos nos Quadros 4 e 5, deve-se estabelecer o tamanho do
tanque da solução nutritiva, com a relação contida no Quadro 6:

Fase de crescimento Necessidade de L/planta


Muda 1 0,10 – 0,20
35

Muda 2 0,25 – 0,50


Produção (folhas) 0,75 – 1,00
Produção (frutos) 4–5
Quadro 6: Necessidade de solução nutritiva exigida por planta.
Fonte: Faquim & Furlani, 1999.

3.2 DESEMPENHO TÉRMICO

Um aspecto relevante a ser considerado é o regime térmico do ambiente, pois


isto afeta diretamente a absorção dos nutrientes e de água pelo sistema radicular,
além de afetar o crescimento radicular e também da parte aérea das plantas, por isto
destaca-se a importância do material a ser escolhido para a cobertura da bancada e
das vedações da edificação de modo geral, com o intuito de condicionar a temperatura
do ar da canaleta de circulação e da solução nutritiva que alimenta as plantas
(SCHMIDT, 1998).
A energia contida no meio corresponde, de maneira simplificada, a temperatura
do ar expressada no ambiente (OMETTO, 1981) e isto está ligado ao balanço de
energia do ambiente, influenciado por vários fatores. No caso da produção hidropônica
comum em estufas, estes fatores seriam o tamanho da estufa (SEEMAN,
1979; BURIOL et al., 1993), as propriedades óticas da cobertura (SEEMAN, 1979;
ROBLEDO DE PEDRO, 1987; ROBLEDO DE PEDRO e VICENTE, 1988; MOUGON
et al., 1989; BURIOL et al., 1993) e as condições meteorológicas do local de cultivo
(BURIOL et al., 1993; FARIAS et al., 1993). Segundo CERMEÑO (1990), os fatores
que influenciam a temperatura do interior da estufa são os tipos de materiais utilizados
na cobertura externa, luminosidade, vento e a temperatura do ambiente externo.
Segundo Schmidt (1998), por se tratar de um sistema de cultivo sem a
utilização de solo, há necessidade de estruturas de sustentação e fixação das plantas
sobre as bancadas de produção. O material da estrutura, além de fixar as plantas,
diminui a quantidade de água perdida por evaporação, previne a absorção direta da
radiação solar sobre a solução nutritiva e o sistema radicular da planta e impede a
entrada de poeira sobre os canais de cultivo. Os materiais mais utilizados para a
cobertura da bancada de produção são as placas de isopor, pedra britada, filme
plástico de dupla face e o Tetra-Pak®, manta composta de camadas de filmes de
polietileno-alumínio-polietileno-papel-polietileno.
36

Cermeño (1997), afirma que a temperatura ideal para o crescimento da


maioria das hortaliças é entre 15-20ºC, sendo que a temperatura máxima nos
momentos mais quentes deve variar entre 18 e 24ºC e a temperatura nos momentos
mais frios deve variar entre 10 e 16ºC, sendo que algumas espécies podem suportar
variações maiores Alberoni (1998).
Segundo K.M.C. MATTOS et al (2001), tanto a temperatura do ar das
canaletas como a da estufa devem ser consideradas no estudo do efeito das
condições ambientais sobre o crescimento de hortaliças em sistema hidropônico. O
material que apresenta o melhor desempenho como cobertura das bancadas de
produção é o Tetra-Pak®, constatando-se um crescimento até 30% maior da área
foliar de alface com relação à produção revestida com outros materiais ou sem
revestimento. O Tetra-Pak® também foi o material que garantiu a menor temperatura
do ar no interior das canaletas por onde passava a solução.
Um dos elementos mais importantes é a definição do sistema das vedações,
de forma que permita a entrada de luz solar e calor nos ambientes. Normalmente, o
material utilizado é o vidro, por ser um material durável, não combustível e possui
pouca dilatação térmica com a variação de temperaturas. Com os avanços
tecnológicos, há novos tipos de vidros com camadas ou revestimentos que melhoram
a insolação e diminuem a perda de calor (Smith, 2003).
Entre os materiais de vedações disponíveis no mercado, ainda há também o
policarbonato, um plástico rígido. O uso deste material pode ser visto na Holanda,
onde há estufas de paredes duplas de policarbonato da GE Plastics, que aumenta o
nível de transmissão da luz em comparação com o vidro comum, especialmente em
horários onde a incidência solar é reduzida e fora das estações de pico, enquanto
garante a retenção de calor. Suas propriedades térmicas são semelhantes à de
paredes com duas camadas de vidro, onde o material consegue reter 45% mais calor
que o vidro comum e um custo reduzido de energia de até 40%, dispensando sistemas
ativos de aquecimento. O material também é resistente aos raios ultravioletas do
exterior, possui propriedades anti-condensação e é 50% mais leve que o vidro (GE
Plastics, 2006).
Fachadas com revestimento duplo consistem em duas camadas de material
com um espaço contendo ar entre elas. Este espaço pode ser ventilado naturalmente
ou artificialmente, a ventilação natural é preferencial em áreas com climas mais frios
e a ventilação artificial é mais recomendada para climas mais quentes. A ventilação
37

natural ocorre quando o ar quente sobe e o ar frio desce, até o ar quente ser
dispersado por uma abertura no topo da camada exterior. O sistema de dupla pele de
vidro pode ser implementado em diferentes elementos, desde janelas até panos de
múltiplos andares, sendo ideal para climas frios, com o colchão de ar funcionando
como uma barreira térmica, apesar da necessidade de ventilar esta camada para
evitar o superaquecimento do edifício (Aksamija, 2013).
38

4. ESTUDOS DE CASO

4.1 PASONA URBAN FARM, KONO DESIGNS (2010)

Localizado no centro de Tokyo, a sede do grupo Pasona é um edifício de nove


andares com aproximadamente 20.000m², que se apropriou de um edifício existente
para estabelecer seu escritório. Esta referência foi escolhida para análise das suas
áreas de cultivo, como ela se relaciona com os locais onde a comida é servida dentro
do próprio edifício e as estratégias projetuais que possibilitam o cultivo de plantas no
edifício (Figura 1).

Figura 1: Sege do grupo Pasona emTokyo


Fonte: Kono Designs, 2010.

O projeto possui escritórios, um auditório, cafeterias, um jardim no terraço e


instalações de agricultura urbana integradas em seu interior. As áreas verdes ocupam
cerca de 4.000m², 20% da área total, com 200 espécies de plantas que incluem frutas,
vegetais e arroz, que são todos colhidos, preparados e servidos nas cafeterias
existentes no prédio. É o maior caso de produção direto para a mesa existente no
Japão.
O edifício possui uma fachada verde com uma película dupla, onde há flores
sazonais e laranjeiras plantadas em um espaço de 90cm, como visto na Figura 2.
39

Estas plantas são cultivadas com o clima natural do ambiente externo e criam uma
parede viva e dinâmica para o público. Para um edifício corporativo, esta metragem
utilizada foi uma perda significante, porém, a empresa acredita nos benefícios das
áreas verdes para engajar o público e providenciar um ambiente de trabalho melhor
aos seus funcionários. Estas sacadas ainda auxiliam no sombreamento e na
renovação do ar, com janelas manuais, diminuindo a necessidade de controle térmico
ativos em temperaturas amenas. A fachada ainda possui aletas verticais distribuídas
por toda sua extensão, dando profundidade, volume e ordenação para a parede verde.

Figura 2: Detalhe da vedação da sacada


Fonte: Kono Designs, 2010.

Para o cultivo, são utilizadas tanto técnicas de plantio comum em solo quanto
a hidroponia, como visto na Figura 3, criando espaços compartilhados entre os
trabalhadores e as plantações. As culturas que não possuem iluminação natural o
40

suficiente são equipadas com lâmpadas halógenas de vapor metálico, lâmpadas


fluorescentes e LED, além de sistemas automáticos de irrigação. Apesar do custo
energético elevado, é utilizado um sistema de controle de umidade e temperatura para
garantir um ambiente controlado confortável durante o horário de trabalho e
temperaturas que otimizam o crescimento dos vegetais em outros horários.

Figura 3: Tipos de cultivo no edifício.


Fonte: Kono Designs, 2010.

No pavimento térreo (Figura 4), a área de aproximadamente 2.350m² está


divido entre áreas de cultivo (600m²), as áreas de apoio ao cultivo, que incluem
depósitos e armazenamento de materiais (255m²), duas cafeterias (140m²), circulação
vertical (255m²), sanitários (46m²) e circulação (770m²). As áreas verdes e seus apoios
ocupam a maior parte do térreo, somando 36,38%, enquanto a circulação ocupa
32,75%, cafeteria e área de estoque, juntos somam 8,75%, as áreas técnicas
correspondem a 2,8% das áreas e os sanitários 1,9% (Gráfico 3).
Neste caso, não há uma área específica para a transformação e
beneficiamento da produção colhida, uma vez que ela se destina inteiramente ao
atendimento das cafeterias do próprio edifício, logo, a única área necessária fora a
área de cultivo em si e suas áreas de apoio com intuito de armazenamento de
materiais, é a área de depósito, que está localizada junto as cafeterias, local onde será
realizado o seu preparo.
41

Figura 4: Planta do pavimento térreo setorizada.


Fonte: Kono Designs, 2010; adaptado pelo autor
42

Proporção das Áreas

3%3%2%
6%
33%
11%

17%

25%

Circulação Cultivo Apoio ao cultivo Circulação vertical


Cafeteria Armazenamento Áreas Técnicas Sanitários

Gráfico 3: Percentual das áreas do pavimento térreo.


Fonte: Criação do autor.

O pavimento tipo (Figura 5) possui menos áreas verdes que o térreo, com
apenas 306m², enquanto a maioria das áreas é ocupada pelos escritórios, que
correspondem a 782m², ou 40% da área total (Gráfico 4). Também há uma diminuição
das áreas de cafeterias, com espaços menores voltados para atender os indivíduos
daquele andar especifico.

Proporção das Áreas

3% 4%
4%
4%
5%
40%
9%

15%

16%

Escritórios Cultivo Circulação


Cafeteria Áreas de convivencia Apoio ao cultivo
Áreas Técnicas Sanitários Armazenamento cafeteria

Gráfico 4: Percentual das áreas do pavimento tipo.


Fonte: Criação do autor.
43

Figura 5: Planta do pavimento tipo setorizada.


Fonte: Kono Designs, 2010; adaptado pelo autor

4.2 AGRO-MAIN-VILLE, ABF-LAB (2016)


44

Este estudo de caso foi escolhido por ser uma edificação com uso e porte
semelhantes ao pretendido com a implantação do Centro de Arquitetura Urbana em
Curitiba e nele serão analisadas estratégias projetuais adotadas para a otimização da
produção, quanto a insolação, ventilação e questões térmicas e ainda a setorização
das áreas de recepção, sanitários, áreas administrativas, câmara fria e destinação de
resíduos.
O projeto participou de um concurso de projetos para uma fazenda vertical na
cidade de Romainville, França, com um porte de 2.000m² divididos em áreas de
produção agrícola e espaços pedagógicos (Figura 6).

Figura 6: Edifício Agro-Main-Ville, ABF-Lab.


Fonte: ABF-LAB, 2016.
Os arquitetos buscaram projetar o edifício de forma que a horta alcançasse
todo o seu potencial produtivo com alimentos de qualidade e diversidade, desta forma,
a edificação foi toda pensada voltando-se para o Sol, de forma a evitar o uso de
45

iluminação artificial. Também foi levado em conta a possibilidade de flexibilização e


transformação do espaço, caso seja convertido para uso residencial no futuro.
A fazenda vertical foi projetada com 2 conceitos recorrentes: otimizar a
volumetria (Figura 7), de forma que as bandejas com as produções fiquem voltadas
para o sol para otimizar sua produção; antecipar na estrutura da edificação a
possibilidade de acomodar habitações, como uma medida de precaução.

Figura 7: Esquema do escalonamento da forma para otimizar a insolação.


Fonte: ABF-LAB, 2016.

O pavimento térreo da edificação (Figura 8) possui um total de 465,50m²,


divididos entre áreas privadas e áreas públicas. Nas áreas de acesso público há uma
recepção (16m²), espaço de ateliê pedagógico (158m²), estufa pedagógica (49m²),
depósito de materiais para o ateliê (26m²) área de vendas (23m²), circulação (22 m²),
circulação vertical (5 m²) e sanitários (18 m²). Nas áreas de acesso privado, há um
escritório para administração (13 m²), depósito de materiais (24 m²), sala para resíduos
(16 m²), sala para armazenamento de legumes de inverno (24 m²), câmara fria (25
m²), antecâmara (1,5 m²), circulação (18,48 m²) e sanitários (20 m²).
Os fluxos foram separados para os usos privados e públicos, de forma que ao
acessar a recepção da área pública, o indivíduo pode ser direcionado ao setor
pedagógico, a área de vendas de produtos ou acessar os outros pavimentos, onde
encontra-se a área de cultivo de alimentos, enquanto os setores administrativos,
câmara fria, área para destinação de resíduos e depósitos possuem uma entrada
separada, mas ainda podendo ser acessados pela circulação geral. As áreas de
46

depósito de materiais e sala de resíduos possuem acessos individualizadas, para


facilitar a remoção dos dejetos sem que haja uma possível contaminação em outros
ambientes.
No Gráfico 5, podemos observar a proporção das áreas existentes no térreo,
entre os usos públicos, que incluem os setores pedagógicos (ateliê, estufa e depósito),
recepção, área de vendas, sanitários, e os usos privados, que são os setores
administrativos e áreas de apoio a atividade de cultivo (depósitos, câmara fria, sala de
resíduos).
Nos outros pavimentos, a área destina-se quase exclusivamente às áreas de
cultivo, com um vão que pode ser ocupado possibilitando a flexibilização do uso do
edifício para outro fim, a estrutura foi dimensionada para suportar a ampliação da laje
existente, desta forma, há a possibilidade da ocupação com apartamentos, conforme
visto na Figura 9. A planta do segundo pavimento (Figura 10) possui área de circulação
vertical (10m²), circulação horizontal (59,60m²) e áreas de cultivo (52m²).
47

ESCALA 1:200
Figura 8: Planta do pavimento térreo setorizada.
Fonte: ABF-LAB, 2016; adaptado pelo autor.
48

Proporção das áreas

20%

3%
2%
50%
9%

8%
5% 3%

Setor Pedagógico Recepção Área de Vendas Sanitários


Circulação Circulação Vertical Setor Administrativo Áreas de Apoio

Gráfico 5: Percentual das áreas do pavimento térreo.


Fonte: Criação do autor.

Figura 9: Possibilidade de flexibilização do uso dos pavimentos superiores.


Fonte: ABF-LAB, 2016; adaptado pelo autor.
49

ESCALA 1:200

Figura 10: Planta do segundo pavimento setorizada.


Fonte: ABF-LAB, 2016; adaptado pelo autor.
50

O projeto busca melhorias na qualidade de vida da população e no meio


ambiente, promovendo a produção de alimentos locais, saudáveis e de qualidade, com
custos reduzidos, sem necessidade de utilização de combustíveis fósseis para o
processo de transporte e beneficiamento, reduzindo custos e buscando diminuir as
emissões de CO2 da edificação, desde o seu projeto e concepção, onde o material
escolhido para a estrutura foi a madeira, até o seu funcionamento, com a instalação
de painéis solares, utilização da compostagem para produção de calor, se aproveitar
das condicionantes naturais como ventilação, insolação e águas pluviais para diminuir
custos que o projeto acarretaria; tornando a experiência de um edifício agrícola na
cidade uma maneira de conscientizar e mudar comportamentos para maior
responsabilidade ambiental e social.

Figura 11: Aspectos sustentáveis da edificação.


Fonte: ABF-LAB, 2016; adaptado pelo autor.
51

Figura 12: Esquema do reaproveitamento de águas pluviais na edificação.


Fonte: ABF-LAB, 2016; adaptado pelo autor.

4.3 FAZENDA VERTICAL GROWING FARM, THE KUBALA WASHATKO


ARCHITECTS – TKWA (2010)

O foco da análise desta referência é a setorização de suas áreas, sua


distribuição, e como o espaço foi articulado, de forma a garantir a melhor insolação
possível para as áreas de produção, com a fachada voltada para o Sul por se tratar
dos Estados Unidos, e as áreas educacionais se integrando próximo ao cultivo. Este
estudo de caso apresenta a distribuição das áreas mais semelhante ao que é
pretendido na implantação do Centro de Agricultura Urbana de Curitiba.
A Growing Power é uma organização sem fins lucrativos sediada na cidade de
Milwaukee, nos Estados Unidos, com o objetivo de possibilitar o acesso igualitário à
alimentos saudáveis, de alta qualidade e por um preço acessível. Atualmente a
organização funciona em um lote de 8.000 metros quadrados onde possui uma
produção hidropônica.
52

A nova unidade para operações do grupo possui cerca de 4.200m², contando


com espaços pedagógicos, salas de conferência, cozinhas para demonstrações, área
para processamento e armazenamento de alimentos, freezers e docas para carga e
descarga, onde escritórios administrativos, voluntários e a equipe poderão estar
conectados com a área de produção e as áreas educacionais, permitindo a
observação e participação.

Figura 13: Edifício sede da Growing Power.


Fonte: TKWA, 2010.

As áreas de processamento e armazenamento foram pensadas no pavimento


térreo e subsolo, de forma que o beneficiamento e a exportação ficam facilitadas, com
um elevador, posicionado na região menos valorizada pela insolação, para o
transporte da produção do pavimento mais alto, concentrando as atividades em um
setor da edificação, aproveitando a região térrea que fica próxima ao alinhamento
predial para a área de venda. A edificação é escalonada, buscando otimizar as áreas
com insolação natural e as áreas pedagógicas foram aproximadas, buscando uma
integração com a área de produção (Figura 14).
53

Figura 14: Setorização do edifício.


Fonte: TKWA, 2010.

No Subsolo, concentraram as áreas de armazenamento (412,4m²), câmaras


frias (86,4m²) e freezer (22m²), além do vestiário dos funcionários (35m²) (Figura 15).
No térreo, a maior parte foi destinada ao mercado (338,4m²), com um pé direito duplo,
e sua administração (16m²), somando 354,4m² tornando-se um ponto de referência
para a comunidade. A área de processamento (282m²) e a área de preparo para
transporte (30m²) são os outros setores que ocupam a maior área do térreo, que ainda
possui as circulações verticais (74m²), uma oficina para equipamentos e manutenção
(75m²) e um acesso para serviços (20m²) (Figura 16).
54

Figura 15: Setorização do subsolo.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.

Figura 16: Setorização do térreo.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.
55

O primeiro pavimento possui uma área destinada a eventos (496m²), com uma
capacidade para até 600 ocupantes, onde podem ser realizadas exposições e
apresentações (Figura 17). A partir do segundo pavimento, começam a existir áreas
de cultivo que aumentam em cada andar. No segundo pavimento encontra-se o setor
pedagógico, com três salas de aula (202m²) e uma cozinha para demonstrações
(91,4m²), uma sala destinada a uma incubadora tecnológica em parceria com uma
universidade local (45m²) e a área de cultivo (325m²) (Figura 18).
No terceiro pavimento, localizam-se as áreas administrativas, com escritórios
(41,3m²), reprografia (12,4m²), sala de reuniões (45m²), diretoria (36m²) e um espaço
de recepção e secretaria (50m²), somando 184,7m², além de um pequeno depósito
(6m²), circulações horizontais e verticais (145m²), sala de descanso e convivência para
funcionários (31m²) e a área de plantações (274m²) (Figura 19). O último pavimento
foi destinado completamente a plantação (Figura 20).

Figura 17: Setorização do primeiro pavimento.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.
56

Figura 18: Setorização do segundo pavimento.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.

Figura 19: Setorização do terceiro pavimento.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.
57

Figura 20: Setorização do quarto pavimento.


Fonte: TKWA, 2010; adaptado pelo autor.

O Quadro 7 apresenta as áreas distribuídas pelos seus usos em seus


respectivos pavimentos. Observa-se que em todo o edifício, a área mais expressiva é
destinada à atividade fim, o cultivo de plantas, somando 1.037,5m² (aproximadamente
um quarto da área total da edificação), que pode ser considerado uma área pequena,
porém, por utilizar sistemas de cultivo de alto rendimento, a produção é alta.
58

Uso Área em m²
Subsolo Térreo 1º 2º 3º 4º Pav Total
Pav Pav Pav
Armazenamento 412,4 13 6 431,4
Câmara Fria 86,4 86,4
Freezer 22 22
Vestiário 35 35
Circulação 111 135 85 331
Circ. Vertical 60 74 74 60 60 46 448
Mercado 338,4 338,4
Adm. Mercado 16 16
Processamento 282 282
Oficina 75 75
Entrada Serv. 20 20
Transporte 30 30
Sanitários 30 30 30 30 120
Eventos 496,3 496,3
Cultivo 325 274 438,5 1.037,5
Salas de Aula 202 202
Cozinha 91,4 91,4
Incubadora 45 45
Reprografia 12,4 12,4
Recepção 50 50
Descanso 31 31
Reuniões 45 45
Diretoria 36 36
Escritórios 41,3 41,3
Total 726,8 865,4 600,3 865,4 670,7 484,5 4.213,1
Quadro 7: Distribuição das áreas por usos e pavimentos.
Quadro X: Fonte: criação do autor.

5. CONTEXTO DA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA

5.1 PLANO MUNICIPAL DE CONTROLE AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba – SMMA elaborou no


ano de 2008, após ter tido sua criação definida no Plano Diretor Participativo de 2004,
o plano setorial de Controle Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, com os
seguintes objetivos para alcançar o desenvolvimento sustentável:
59

• Ampliar, aperfeiçoar e criar novos serviços de abastecimento e


segurança alimentar a serem oferecidos pela Prefeitura Municipal de Curitiba
• Implementar programas que incentivem a prática de agricultura urbana.
• Promover acesso regular e permanente ao alimento saudável, de
qualidade e em quantidade suficiente, tendo como base à promoção de práticas
alimentares promotoras de saúde, que respeitam a diversidade cultural, o aspecto
social, econômico e ambiental.
• Estabelecer uma política de integração metropolitana de abastecimento
alimentar e nutricional.
• Promover articulações e parcerias com os municípios da região
Metropolitana de Curitiba, a fim de facilitar o acesso da população ao alimento de
primeira necessidade e a produtos de higiene e limpeza.
• Estimular a adoção de sistemas de produção e comercialização de
produtos agropecuários na RMC, que contemplem os princípios de sustentabilidade
econômica, social e ambiental.
Com o intuito de atingir estes objetivos, foram determinadas as seguintes
ações:
1 – Promover o desenvolvimento urbano em equilíbrio com o meio
ambiente;
2 – Diálogo com as metas do milênio;
3 – Inovação e disseminação das boas práticas;
4 – Gestão pública compartilhada;
5 – Descentralização da execução das políticas públicas e
ambientais;
6 – Criação de incentivos para a gestão ambiental compartilhada;
7 – Geração e disseminação de informações para a prática de
ações diferenciadas.

5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO À AGRICULTURA URBANA

A Secretaria Municipal de Abastecimento – SMAB de Curitiba deu início aos


programas de incentivo a agricultura urbana na década de 80, com o intuito de
aproveitar vazios urbanos ou lotes próprios/particulares, permitindo a produção e
acesso à alimentos.
60

Foram criadas parcerias com a SMAB afim de possibilitar estas ações, a


EMATERPR e o Curso de Agronomia da UFPR, que fornecia estagiários para prestar
assistência técnica aos produtores, com o atendimento sendo realizado conforme as
demandas da população interessada nas atividades agrícolas, por meio da associação
de moradores. Eram entregues materiais e equipamentos para a população,
principalmente sementes de hortaliças, distribuídas quando ocorriam as visitas
técnicas ou em reuniões realizadas com a comunidade.
O programa se desenvolveu no final da década de 1980 e início da década de
1990, com a obtenção de dois tratores agrícolas pela PMC em 1988 para a
mecanização das áreas cultivadas e, em 1990, foi criado o Fundo de Abastecimento
Alimentar de Curitiba – FAAC, que financia os gastos com insumos agrícolas e os
serviços utilizados nos programas. Com a demanda da população participante, foi
necessária uma restruturação da secretaria, com a realização de concurso público
para aumentar a equipe técnica e a contratação de técnicos agrícolas e um engenheiro
agrônomo para atuar nos programas nosso quintal e lavoura, além da alocação de
veículos utilizados com exclusividade para as assistências técnicas, como ocorre até
hoje.
A iniciativa de agricultura urbana da PMC divide-se em dois programas. O
Programa Lavoura é caracterizado pelo uso de grandes áreas de cultivo, como vazios
urbanos e pequenas propriedades particulares remanescentes da agricultura familiar.
Existe em Curitiba desde 1986, reconhecido como um dos programas de agricultura
urbana pioneiros no Brasil. Já o programa Nosso Quintal, iniciado também em 1986,
é realizado em quintais de residências, escolas e instituições. Os pontos atendidos
pelo programa Lavoura encontram-se na Figura 21.
61

Da prática realizada apenas em vazios urbanos e pequenas propriedades, a


agricultura urbana passou a ser realizada também em quintais de escolas e entidades
beneficentes, em todos os casos com o predomínio de produção para o autoconsumo.
Apenas no caso das pequenas propriedades é comum a comercialização da produção
ou apenas do seu excedente em mercados locais.

Figura 21: Distribuição dos pontos atendidos pelo programa Lavoura.


Fonte: Secretaria Municipal de Abastecimento, 2010.
62

O Quadro 8 traz dados da área cultivada assim como a produção de alimentos


nos programas lavoura, desde 1986, e nosso quintal, desde 1988.

Indicador Área de cultivo da Produção de Produção de alimentos


Agricultura Urbana alimentos da da Agricultura Urbana
(Programa Agricultura Urbana (Programa Nosso
Lavoura) (Programa Lavoura) Quintal)
1986 146,6 215 -
1987 251,7 485 -
1988 335,4 632 2.616
1989 435 702 3.106
1990 447 817 4.556
1991 380 759 15.460
1992 341 651 31.691
1993 362 648 9.607
1994 355,4 658 11.656
1995 313 3.085 10.627
1996 338 3.730 12.375
Ano 1997 3.688 3.506 2.088
1998 273 3567 2.372
1999 269 4.465 2.573
2000 381 8.835 2.309
2001 434 2.300 2.300
2002 647 153.766 28.796
2003 682 161.315 33.863
2004 1.110 98.300 47.996
2005 2.775 23.148 50.653
2006 2.209 26.149 46.331
2007 2.229 29.111 38.581
2008 2.098 30.267 73.228
2009 1.470 15.638 38.695
Quadro 8: Área cultivada e produção de alimentos nos programas lavoura e Nosso Quintal.
Fonte: Secretaria Municipal de Abastecimento, 2010.

Atualmente, a SMAB estabelece, em conjunto com associações comunitárias


e empresas parceiras, critérios para a utilização dos espaços, fazendo com que o
63

processo seja mais dinâmico e funcional. Existe um conjunto de atividades articuladas


a outras políticas municipais – notadamente nas áreas de segurança alimentar,
assistência social, meio ambiente e educação – que juntas garantem o sucesso da
ação.
A atividade iniciada com a finalidade de resolver problemas relacionados à
ocupação irregular da terra, saúde e criminalidade tomou outras proporções e hoje é
caracterizada por inúmeros benefícios, entre eles: a valorização do cidadão, o
fortalecimento da socialização e da convivência entre as pessoas, a integração entre
teoria e prática nas escolas, o resgate da cultura dos agricultores na cidade e a
realização de atividades físicas e terapêuticas.
Ambos os programas realizam atividades de produção, comercialização e
transformação dos alimentos, abrangendo a oferta de serviços. No que se refere a
produção, além dos alimentos, é produzido também o adubo orgânico, tanto para a
comercialização quanto para a doação a outros agricultores urbanos.
Para a comercialização dos produtos existem serviços de microcréditos para
a agricultura familiar e ainda serviços de certificação participativa para produtos
orgânicos – estes produzidos ainda em número pequeno.
Entre as pessoas que participam do programa, 50% dedicam-se
principalmente às hortas. A maioria é composta por idosos, aposentados e
desempregados, organizados em associações de bairros ou por lideranças locais,
além de entidades assistenciais, entidades beneficentes e pequenos agricultores.
Mais de 14 mil pessoas participam do programa por mês, distribuídas em 1.294 hortas
e 225 hectares. Destas pessoas 80% são do sexo feminino.
Para a concretização dos programas, a SMAB disponibiliza técnicos agrícolas
e agrônomos para a realização de treinamentos práticos e teóricos, assistência técnica
e fornecimento de insumos e equipamentos agrícolas. Segundo a própria secretaria,
“o acompanhamento técnico sistêmico (visitas e reuniões) adotado pelos programas
de Agricultura Urbana, possibilita o contato direto com as pessoas e entidades durante
todo o ano e, permite colher informações sobre as mudanças e benefícios obtidos”.
Conforme a SMAB (2010), a ação está pautada na busca da autossuficiência
dos grupos, possibilitando o acesso ao alimento, educação alimentar, recuperação de
áreas degradadas, proteção ambiental com redução de impermeabilização do solo
urbano, terapia ocupacional e atividade física para grupos de idosos e pacientes em
clínicas de recuperação de saúde, desenvolvimento social e lazer. Proporciona ainda,
64

a valorização do cidadão, fortalece a socialização e convivência das pessoas nas


comunidades, integra a prática e teoria nas escolas em diferentes disciplinas e resgata
a cultura dos agricultores na cidade.
De acordo com a análise dos resultados obtidos pela SMAB, houve ainda
aumento na renda dos participantes, importante sobretudo para aqueles que se
enquadram na linha de baixa renda ou que não possuem renda. A comercialização
dos alimentos agregou à renda mensal valores entre 70 e 100 reais, e a economia
com gastos na alimentação ficou entre 10 e 15%. Deve ser lembrado também, que
houve redução de gastos com medicamentos, incluindo os antidepressivos, uma vez
que as atividades nas hortas proporcionam a prática de exercícios físicos e
terapêuticos. (SMAB, 2010)
Os participantes também julgaram relevante a redução do vandalismo
praticado em áreas ociosas que antes eram utilizadas como depósitos de lixo e onde
eram praticadas atividades ilícitas. As áreas que se encontravam quase sempre em
estágio avançado de degradação receberam mutirões de pessoas para recolhimento
do lixo, preparo do solo e plantio, revitalizando as áreas e melhorando seu aspecto
ambiental.
O Programa Lavoura acontece sob linhas de alta tensão em parceria com a
Eletrosul que iniciou em 2003, em Curitiba, o programa hortas comunitárias em
parceria com a Prefeitura Municipal. Hoje o programa existe em outras cidades em
parcerias com associações comunitárias, escolas, empresas de pesquisa, empresas
privadas e colônias penais agrícolas. São utilizadas as faixas de servidão das linhas
de transmissão próximas aos centros urbanos com objetivos que beneficiam tanto a
empresa como o cidadão.
Para a Eletrosul a manutenção das linhas de transmissão se torna mais fácil
e é dificultada a ocorrência de ocupações irregulares, diminuindo a demanda de ações
judiciais para retiradas de invasores. Já para as comunidades é uma oportunidade de
inclusão social através da produção de produtos primários de boa qualidade e de baixo
custo, que incrementam a alimentação e a renda de muitas famílias.
A empresa, além de disponibilizar as áreas para cultivo das hortas, investe em
cercas, água para irrigação e insumos quando necessário. Segundo informações do
relatório de sustentabilidade da empresa do ano de 2010, foram investidos quase 90
mil reais no programa.
65

Em Curitiba, já foram produzidas mais de 215 toneladas de alimentos nas


faixas de servidão e 25,4% das famílias atendidas estão nesta cidade (Ministério do
Desenvolvimento Social, 2011).

5.3 CENSO OFICIAL DA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA

Comparada à produção agrícola total do estado, a produção da RMC não é


expressiva, porém, é uma das principais produtoras de hortifrútis do Paraná,
correspondendo por cerca de um terço das hortaliças e 23% das frutas. O cultivo
destes produtos no chamado Cinturão Verde gera renda para os pequenos municípios
e os 6 mil produtores, em média, plantam principalmente tangerina, morango, maçã,
uva, caqui, ameixa, pêssego e banana. Já no que se refere às hortaliças, plantadas
em cerca de 37 mil hectares da região, os principais produtos são a batata e a cebola,
produzidas em Araucária, Lapa, Contenda e Mandirituba, e as folhosas, como alface,
couve, repolho e couve chinesa, em São José dos Pinhais e Colombo (Gazeta do
Povo, 2012).
No início de 2009 a Secretaria Municipal de Abastecimento realizou em
Curitiba o Censo agrícola com o objetivo de identificar e mapear os remanescentes da
população que possuem atividade agrícola e pecuária no município. Apenas através
da identificação o poder público pode promover ações de auxílio aos agricultores.
Com a definição de um questionário básico foram realizadas entrevistas em
propriedades de todas as regionais da cidade – Bairro Novo, Boa Vista, Boqueirão,
Cajuru, CIC, Pinheirinho, Portão e Santa Felicidade – com destaque para as áreas
limítrofes aos municípios vizinhos que possuem atividade agrícola mais relevante,
como Almirante Tamandaré, Araucária, Campo Largo e Campo Magro.
O preenchimento dos questionários contemplou a identificação das principais
atividades: área em hectares (ha) com lavoura, pastagem, fruticultura, produção
animal (aves, caprinos, ovinos, bovinos, eqüinos, suínos, piscicultura), benfeitorias,
etc. O tipo de imóvel (individual, cooperativa/associação, condomínio familiar,
empresa privada, instituição religiosa, governo, outras), tratores e implementos
agrícolas, número de famílias residente nos imóveis, empregados com registro,
caseiros, diaristas, destino da produção, assistência técnica. (SMAB, 2009)
A secretaria levantou 275 imóveis, em maior concentração nos bairros
Umbará, Colônia Augusta e Caximba. Juntos, representam 1.616,934 hectares, 3,74%
66

da área de Curitiba. Destes imóveis, 216 possuem algum tipo de população animal,
com predominância de ovinos, bovinos, equinos e caprinos.
Dos imóveis 248 são ocupados por moradores, distribuídos em 488 famílias e
1.586 pessoas. Existem 221 propriedades individuais e 39 possuem caráter de
condomínio familiar.
Quanto à assistência técnica, 86 imóveis recebem algum tipo de ajuda, sendo
que destes 48 são atendidos pela SMAB. Já no que se refere à área, a maioria dos
imóveis, 31,27%, tem entre um e três hectares e a maior proporção de área acontece
entre os imóveis de cinco a dez hectares.
Em relação ao uso do solo, predominam as áreas verdes (31,89%), depois as
pastagens (18,14%), seguidas das lavouras (16,85%) e da olericultura (5,73%). Estes
números explicam a existência de equipamento agrícolas em 78 imóveis e a presença
de empregados em 79. Este último dado mostra que a agricultura urbana em Curitiba
não é apenas familiar.
Segundo a SMAB (2009), “ficou explicitado que ainda há alguns bairros com
atividades agrícolas e pecuárias, bem como famílias que sobrevivem dessa atividade”.
E ainda “que a troca de informações com essa população trouxe novas perspectivas
de ação para o setor, uma vez que muitas das pessoas entrevistadas gostariam de
continuar com a atividade de maneira sustentável, porém com maiores incentivos”.
67

6. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

Este capítulo busca realizar uma análise regional e analisar as condicionantes


do bairro e da população como um todo. Para a proposta de implantação da edificação,
foi escolhido um terreno no bairro Rebouças, no município de Curitiba. Serão
analisadas as características do município e do bairro, seu contexto histórico,
conexões com outros bairros, aspectos socioeconômicos e demográficos.

6.1 CONTEXTO DO BAIRRO REBOUÇAS

Figura 22: Localização do Bairro Rebouças em Curitiba.


Fonte: IPPUC, 2017; adaptado pelo autor.

6.1.1 Histórico
68

O bairro Rebouças recebe seu nome em homenagem aos engenheiros


Antônio Pereira Rebouças e André Rebouças, que realizaram notáveis obras, como a
construção da estrada de ferro que conectou Curitiba ao porto de Paranaguá e a
fundação da Companhia Florestal Paranaense, e simbolizavam o progresso e a
modernidade para Curitiba no final do século XIX. Nele se localizou o primeiro polo
industrial de Curitiba, próximo à Estação Ferroviária construída na década de 1880,
que possibilitou a chegada de matéria-prima e o escoamento da produção.
Nas décadas de 1930/40/50 diversas indústrias de grande porte se
destacavam no que era o polo industrial de Curitiba, Cia. Fiat Lux, Almoxarifado da
CTN, depósito da água Ouro Fino, Indústria Metal Mecânica Langer, Quartel da
subsistência com supermercado para atender a família dos militares, Depósito de
Material de Construção Cruzeiro, beneficiamento de erva mate Fontana, Matte Leão,
entre outras.

6.1.2 Dados Estatísticos

O bairro Rebouças encontra-se na porção Centro-Norte do território municipal,


com uma área equivalente à 2,79 km², ocupando 0,68% da área da cidade. Sua
densidade demográfica é de 50,19 habitantes por hectare, sendo esta uma densidade
pouco maior que a densidade média curitibana, que é de 40,30 habitantes por hectare
(Figura 23).

Figura 23: Dados de densidade e área.


Fonte: IPPUC, 2010.

A população residente no bairro é de 14.888 habitantes e a taxa média de


crescimento anual foi negativa entre os anos de 2000 e 2010, com uma diminuição de
0,48% do número de habitantes. A maior parte da população é de mulheres,
representando 53,61% do total. A faixa etária predominante é de indivíduos entre 20
e 24 anos, com destaque também para o intervalo entre 25 e 29, somando um total de
69

24,63% da população, e os indivíduos considerados dependentes (acima de 60 anos


e abaixo de 15) somam um total de 27,1% (Figura 24).

Figura 24: Relação da faixa etária e gênero dos habitantes.

Fonte: IPPUC, 2010.

O bairro concentra apenas 0,25% das áreas verdes municipais, mesmo que
possua cerca de 0,85% da população, com uma distribuição de 17,37m² por habitante,
enquanto a média para Curitiba é de 58m² por habitante, valor quase quatro vezes
maior. O Rebouças possui 2 praças, 2 largos, 1 jardinete e 1 eixo de animação.
Quanto aos aspectos socioeconômicos, no Rebouças a atividade majoritária
é o setor terciário, as atividades de comércio e serviços juntas somam 90,13% dos
estabelecimentos ativos, além disso, analisando os dados da Regional Matriz, a qual
o Rebouças faz parte, há atividade econômica dedicada ao cultivo de alimentos,
representando cerca de 1% da atividade econômica total da Regional.
A renda mensal por habitante no Rebouças é de R$2.164,24, valor maior que
a renda média de Curitiba em R$739,64. Quanto à segurança, o bairro é mais perigoso
que a média da cidade, com uma média de 47,02 homicídios para cada 100.000
habitantes, enquanto a média municipal é de 42,81 homicídios para cada 100.000
habitantes.
O bairro Rebouças é muito bem conectado com os bairros do entorno, por ser
limítrofe com o centro, encontra-se próximo dos eixos estruturais Sul e Leste-Oeste,
além de possuir várias linhas troncais que saem do Centro para outros bairros do
70

município, há também as linhas Interbairros I e V, além de possuir pontos de diversas


Linhas Diretas que conectam os bairros periféricos. O fato de possuir uma estrutura
adequada, contribui para a frota de veículos reduzida dos habitantes, com apenas 0,42
indivíduos por veículo, enquanto Curitiba apresenta uma média de 1,42 indivíduos por
veículo (Figura 25).

Figura 25: Habitantes por veículo.

Fonte: IPPUC, 2010.

6.2 ÁREA DE INTERVENÇÃO

Tendo como base o estudo da região central, foi definida a área de


intervenção. Foram examinados terrenos subutilizados no bairro Rebouças, tendo em
mente sua proximidade com possíveis pontos de abastecimento e a facilidade de
acesso para um número maior da população, segundo a URBS, pelo menos 90 linhas
troncais saem do centro em direção aos bairros, sem contar as linhas da zona central.
71

Figura 26: Localização do terreno em Curitiba.


Fonte: IPPUC, 2017, adaptado pelo autor.

O terreno escolhido possui 4.400m², na Rua Engenheiro Rebouças, 1190-


1230, entre as Ruas Iapó e Conselheiro Laurindo, no Rebouças, Curitiba-PR,
80215900 (Figura 27). O terreno pertencia à um grupo de lotes onde funcionava a
Indústria Química Melyane S/A, fundada em 1940 e conhecida como produtora de
pelo menos 15 produtos de limpeza, declarou falência em 1999, mas seguiu suas
atividades até julho de 2016.
72

Figura 27: Localização do terreno com relação ao entorno. Fonte:


Autor, 2017.

A área escolhida está inserida no zoneamento ZR4 - Zona Residencial 4, que


permite uma taxa de ocupação do solo de no máximo 50% com um coeficiente de
aproveitamento igual a 2, que possibilita um total de 8.800m² de área construída. O
recuo mínimo do alinhamento predial é de 5m e os afastamentos dos lotes vizinhos é
facultado para até 2 pavimentos e acima disso, é necessário que o afastamento seja
o equivalente a um sexto da altura da edificação, atendendo um distanciamento
mínimo de 2,5m (Quadro 9).

Coefic. Taxa Ocup. Altura Recuo Min. Taxa Afast. Divisas


Aprov. Máxima (%) Máxima Alin. Predial Permeab.
(Pav) (m) Min. (%)
Até 2 pav. =
facultado
Acima de 2 pav. =
2 50% 6 5m 25%
H/6, atendido o
mínimo de 2,5m
Quadro 9: Parâmetros para ocupação do solo na ZR4.
Fonte: Prefeitura de Curitiba, 2015.
73

Figura 28: Condicionantes naturais do terreno.


Fonte: IPPUC, 2017; adaptado pelo autor.

6.2.1 Análise do Entorno

O bairro Rebouças possui uma grande diversidade de instrumentos e usos,


sendo possível observar que em um raio de 3km do terreno diversos pontos de
interesse relevantes para o projeto, espaços públicos como as praças Ouvidor
Pardinho e Rui Barbosa, universidades como UTFPR, PUCPR, Unicuritiba, entre
outras, além de grandes empresas, shopping, áreas de lazer, escolas, e terminais de
transportes (Figura 29).
74

A região onde se encontra o terreno escolhido possui uma predominância de


usos residenciais e institucionais, devido à várias edificações das instituições
estaduais SANEPAR e IAP (Figura 30).

Figura 29: Pontos de interesse no entorno. Fonte:


IPPUC, 2017; adaptado pelo autor.
75

Figura 30: Mapa de usos do entorno.


Fonte: Autor, 2017.

6.2.2 Acesso ao Transporte

O terreno possui fácil acesso para a população, por se encontrar em um bairro


limítrofe com o Centro, encontra-se próximo dos eixos estruturais sentido Sul
(Marechal Floriano Peixoto) e Leste-Oeste, além de concentrar parte das vias do Anel
Viário. Analisando a região com um raio de 1km em volta do terreno, distância que
resultaria em uma caminhada de no máximo 15 minutos, observam-se 57 linhas de
ônibus, além das linhas especiais Circular Centro e Turismo (Quadro 10).

Linha Convencionais Linhas Interbairros


76

160 JD. MERCÊS / 475 CANAL BELÉM 010 INTERBAIRROS I


GUANABARA (HORÁRIO)

560 ALFERES POLI 011 INTERBAIRROS I


(ANTIHORÁRIO)
165 UNIVERSIDADES 561 GUILHERMINA

175 BOM RETIRO / PUC 594 MENONITAS 050 INTERBAIRROS V

180 ÁGUA VERDE/ 661 LINDÓIA Expresso Ligeirão


ABRANCHES
662 DOM ÁTICO 500 LIGEIRAO BOQUEIRAO

265 AHÚ / LOS ANGELES 663 V. CUBAS 550 LIGEIRÃO - PINHEIRINHO / C.


GOMES
285 JUVEVÊ / ÁGUA 665 V. REX
VERDE
666 NOVO MUNDO Expresso

378 INTER-HOSPITAIS 670 SÃO JORGE 203 STA. CÂNDIDA / C. RASO

385 CRISTO REI 671 PORTÃO 302 CENTENÁRIO / RUI


BARBOSA

461 STA. BARBARA 673 FORMOSA 303 CENTENÁRIO / C.


COMPRIDO

462 PETRÓPOLIS 675 NSA. SRA. DA LUZ 503 BOQUEIRÃO

463 SOLITUDE 701 FAZENDINHA Alimentadores

464 A. MUNHOZ / J. 703 CAIUÁ 216 CABRAL / PORTÃO


BOTÂNICO
760 STA. QUITÉRIA 614 FAZENDINHA / PUC

465 ERASTO GAERTNER 761 V. IZABEL Linhas Diretas

466 ESTUDANTES 762 V. ROSINHA 256 BARREIRINHA/GUADALUPE

467 V. MACEDO 777 V. VELHA 505 BOQUEIRÃO / C. CÍVICO

468 JD. CENTAURO 778 COTOLENGO 507 SÍTIO CERCADO (HORÁRIO)

470 GUABIROTUBA Linhas Especiais 508 SÍTIO CERCADO


(ANTIHORÁRIO)
471 V. SÃO PAULO 002 CIRCULAR
CENTRO (ANTI-
472 UBERABA HORÁRIO) 705 FAZENDINHA/GUADALUPE

474 JD. ITIBERÊ 979 TURISMO

Quadro 10: Linhas de ônibus em um raio menor que 1km.


Fonte: URBS, 2017.
77

Figura 31: Pontos de ônibus e ciclovias.


Fonte: IPPUC, 2017; adaptado pelo autor.

6.2.3 Relação com o Abastecimento

Conforme visto na Figura 32, a prática de Agricultura Urbana não é praticada


na Regional Matriz, ocorrendo principalmente nas Regionais CIC e Bairro Novo. A
Matriz é a regional de maior visibilidade no contexto urbano e possui diversos pontos
de abastecimento em potencial, que possibilitariam a comercialização de produtos
além do espaço físico da edificação.
78

Figura 32: Possíveis pontos de abastecimento no entorno.


Fonte: IPPUC, 2017; adaptado pelo autor.
79

7. DIRETRIZES DE PROJETO

Após análise dos conceitos teóricos, estudos de caso e dos dados levantados,
foi possível adquirir as percepções que definem as diretrizes que nortearão o
desenvolvimento do projeto arquitetônico do Centro de Agricultura Urbana de Curitiba.
As informações obtidas no decorrer deste trabalho influenciaram a forma de ocupação
do espaço, a setorização e as áreas do programa.
O objetivo é a criação de um espaço de uso misto, com foco na produção
agrícola em meio urbano, mas também integrando espaços pedagógicos, de forma
que o edifício incentive a disseminação do conhecimento sobre boas práticas agrícolas
e alimentares, além de promover as relações com o ecossistema urbano. O público
alvo pretendido são os habitantes da cidade como um todo, de todas as idades e
classes, incentivando a interação entre diferentes grupos e seu interrelacionamento,
potencializando a cultura de Agricultura Urbana.
A escolha do terreno no bairro Rebouças tem o objetivo de aumentar a
variação dos usos e das tipologias das edificações, além de estar inserido na região
do Vale do Pinhão, denominação dada ao Ecossistema de Inovação de Curitiba,
composto por atores que tem como objetivo o desenvolvimento de inovação, como
universidades, aceleradoras, incubadoras, fundos de investimento, centros de
pesquisa & desenvolvimento (PMC, 2017). Que, além do próprio programa proposta,
atrairia simpatizantes dos ideais e possíveis consumidores, permitindo que o edifício
se relacione com seu entorno e seja um ponto de referência para a população.
O projeto possui quatro grandes áreas determinantes para o desenvolvimento
de seu programa de necessidades:
1. Espaço de produção de alimentos, com as seguintes características:
1.1.Área de cultivo intensiva de culturas variadas, utilizando a
produção hidropônica para potencializar o cultivo, com o melhor
aproveitamento de recursos hídricos e do espaço disponível, evitando
desperdícios e a geração de resíduos.
1.2.Abrangência de todos os aspectos da produção, desde o
cultivo, transformação, processamento e comercialização.
1.3.Estimular a economia local, visando a suficiência alimentar
da região central.
80

1.4.Uso de práticas sustentáveis na produção, como a coleta


de águas pluviais e uso de energia solar, e reutilizando os resíduos
orgânicos com compostagem como uma forma de produção de calor
para manter o ambiente de cultivo aquecido, quando necessário.
2. Espaço de eventos, com as seguintes características:
2.1.Espaço destinado a eventos e feiras destinados a
comercialização de produtos, possibilitando a relação entre produtores
e consumidores.
2.2.Possibilidade de realizações de eventos da comunidade,
associações e ONGs.
3. Espaço pedagógico, com as seguintes características:
3.1.Espaço com salas de aula para a realização de cursos e
workshops voltados para a população.
3.2.Uma cozinha demonstrativa para o preparo de receitas e o
preparo de alimentos utilizando a produção local.
3.3.Canteiros experimentais para que a população
inexperiente tenha um contato inicial com a prática da agricultura.
3.4.Um auditório que possa receber palestrantes externos para
que a disseminação de informações alcance um maior número de
pessoas.
4. Espaço de mercado público, com as seguintes características:
4.1.Área de quiosques destinados a restaurantes e venda da
produção colhida, que atraia os consumidores e estimule o interesse
na agricultura urbana.

7.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O terreno escolhido possui uma área de 4.400m², uma taxa de ocupação de


50% e um coeficiente de aproveitamento de 2, permitindo um total de 8.800m² de área
construída, com uma altura máxima de 6 pavimentos e uma projeção máxima 2.200m².
O programa de necessidades foi desenvolvido buscando dividir a área máxima
permitida integrando todos os aspectos da cadeia produtiva em um único edifício.
A atividade principal é a produção de alimentos, que necessita também de
espaços para a separação e armazenamento, mas ainda há outras atividades que
81

também serão desenvolvidas no edifício, como uma área de mercado público, com
quiosques destinados a venda dos produtos colhidos, lanchonetes e restaurantes,
uma área de exposição de como o cultivo é realizado, que atraia a atenção da
população para a agricultura urbana e possibilite a relação entre produtores e
consumidores. Há ainda áreas pedagógicas, de eventos e exposições, onde as
pessoas podem se inscrever e participar de cursos, oficinas e workshops sobre
assuntos relacionados a agricultura urbana, preparo de alimentos e alimentação
saudável e organizações externas podem realizar eventos com temas em comum.
Também é necessária uma área administrativa para gerenciar o cultivo e todas as
atividades desenvolvidas no edifício, além de um espaço para os funcionários da área
de cultivo.
Baseando-se no caso da Growing Plants, um quarto da área total do edifício
foi destinado para a área de cultivo, buscando esta proporção, estima-se a seguinte
proporção para o cultivo: para mudas de hortaliças de folhas, considera-se uma média
de 2.000 unidades para 10m², logo, em 90m², existem 18.000 mudas, que necessitam
de uma área de 900m² quando adultas e em estágio de produção. Para mudas de
hortaliças frutíferas, considera-se uma média de 4.000 unidades para 10m², que
necessitam de 1.600m² quando adultas e em estágio de produção (Quadro 11). Estes
dados referem-se apenas a distribuição horizontal das plantas e dos perfis
hidropônicos, considerando que eles também podem ser distribuídos verticalmente, o
cultivo total é estimado em 8 vezes estas quantidades (Alberon, 1997).
Considerando estes dados, são necessários 4 tanques para soluções
nutritivas, correspondente a cada estágio de crescimento dos diferentes tipos de
hortaliças, o cálculo dos tanques está representado no Quadro 12, somando um total
de 57m³.

Fase de crescimento Plantas por 10m² Quantidade de Área necessária


plantas (m²)
Muda (folhas) 3.000 30.000 60
Muda (frutos) 4.000 4.000 10
Produção (folhas) 200 30.000 900
Produção (frutos) 25 4.000 1.600
Quadro 11: Dimensionamento das áreas de cultivo.
Fonte: Faquim & Furlani, 1999.
82

Fase de crescimento Necessidade de Quantidade de Volume


L/planta plantas Necessário
(L)
Muda (folhas) 0,25 – 0,50 18.000 9.000
Muda (frutos) 0,25 – 0,50 4.000 2.000
Produção (folhas) 0,75 – 1,00 18.000 18.000
Produção (frutos) 4–5 4.000 20.000
Quadro 12: Dimensionamento dos tanques de solução nutritiva.
Fonte: Faquim & Furlani, 1999; adaptado pelo autor.

Todos os setores levantados foram analisados buscando compreender as


suas necessidades especificas, resultando no Quadro 13:

Ambiente Acesso Quantidade Área (M²) Total


Mercado Público

Vendas Público 1 250 250


Restaurante Público 4 80 320
Sanitário Feminino Público 1 20 20
Sanitário Masculino Público 1 20 20
Cultivo Expositivo Público 1 30 30
Administração do mercado Privado 1 20 20
Subtotal 660

Processamento e Beneficiamento

Separação Privado 1 60 60
Lavagem Privado 1 50 50
Empacotamento Privado 1 80 80
Docas Privado 1 40 40
Subtotal 230

Armazenamento

Câmara Refrigerada Privado 3 40 120


Depósito Privado 4 100 400
Freezer Privado 2 15 30
Resíduos Privado 1 40 40
Vestiário Masculino Privado 1 30 30
Vestiário Feminino Privado 1 30 30
Subtotal 650
83

Eventos

Auditório Público 1 250 250


Exposição e Feiras Público 1 200 200
Sanitário Masculino Público 1 20 20
Sanitário Feminino Público 1 20 20
Subtotal 490
Pedagógico

Salas de aula Público 4 35 140


Cozinha demonstrativa Pública 2 45 90
Sanitário Masculino Público 1 15 15
Sanitário Feminino Público 1 15 15
Secretaria Público 1 12 12
Subtotal 272
Administrativo

Secretaria Público 1 40 40
Escritórios Privado 2 30 30
Diretoria Privado 1 30 30
Sala de Reuniões Privado 1 40 40
Sanitário Masculino Privado 1 15 15
Sanitário Feminino Privado 1 15 15
Copa Privado 1 30 30
Convivência Privado 1 30 30
Almoxarifado Privado 1 10 10
Subtotal 240
Cultivo

Cultivo de Mudas (folhas) Privado 1 60 60


Cultivo Produtivo (folhas) Privado 1 900 900
Cultivo de Mudas (frutas) Privado 1 10 10
Cultivo Produtivo (frutas) Privado 1 1.600 1.600
Sala de Tanques de Solução Nutritiva Privado 1 50 60
Depósito Materiais Privado 2 30 60
Armazenamento Privado 2 30 60
Subtotal 2.740
TOTAL 5.282
Somando 50% para áreas de paredes e circulações 7.923
Desconto da área de armazenamento no subsolo – não computável 7.273
Quadro 13: Programa de Necessidades.
Fonte: Criação e cálculo do autor, 2017.
84

A soma das áreas ocupa um total de 7.923m², com a área de armazenamento


localizada no subsolo do edifício, respeitando o limite de 8.800m². Como é necessária
uma taxa de permeabilidade do terreno de 25% e apenas 50% pode ser ocupado, 25%
da área (1.100m²) será destinada para os estacionamentos e acesso dos veículos de
carga até as docas. O fluxograma para a edificação proposta encontra-se na Figura
33.
85

Figura 33: Fluxograma.


Fonte: Criação do autor, 2017.

A partir dos dados levantados e o estudo dos fluxos entre as diferentes áreas,
foi criada uma proposta de implantação para o Centro de Agricultura Urbana de
86

Curitiba (Figura 34). Buscou-se uma setorização de forma que os usos públicos fiquem
localizados no térreo e nos primeiros pavimentos e também foi feito um escalonamento
da forma, para otimizar a insolação, conforme visto nos estudos de caso analisados.

Figura 34: Proposta de implantação.


Fonte: Criação do autor, 2017.
87

Figura 35: Corte esquemático setorizado.


Fonte: Criação do autor, 2017.

Figura 36: Vista aérea.


Fonte: Criação do autor, 2017.
88

Figura 37: Estudo de insolação.


Fonte: Criação do autor, 2017.
89

8. PROPOSTA

A partir desta pesquisa, cujo foco foi a agricultura urbana e fazendas verticais, além
da contextualização da agricultura no município de Curitiba, foi desenvolvido o desenho
arquitetônico do edifício fazenda vertical, com áreas de mercado público, restaurantes,
pedagógicas, estacionamento, cultivo e administrativas.
Ao desenvolver o projeto, constatou-se que o terreno inicialmente escolhido no
decorrer da pesquisa não se adequaria às necessidades da edificação e seu programa,
principalmente por estar em uma região com características históricas e com um entorno
de edificações de gabarito predominante baixo. Com o intuito de preservar a
homogeneidade da paisagem histórica do bairro São Francisco, buscou-se um terreno
que se adequaria melhor às necessidades do programa.
O novo terreno escolhido para o desenvolvimento do projeto arquitetônico do
edifício fazenda vertical, encontra-se no centro de Curitiba, uma região de maior destaque
e visibilidade para a edificação proposta. Localizado na esquina da Avenida Visconde de
Guarapuava e da Rua Desembargador Westphalen, o terreno possui 2.652m², onde
atualmente funciona um estacionamento privado.

Figura 38: Localização do terreno.


Fonte: Criação do autor, 2018.

Por ser localizado em um setor estrutural com potencial construtivo de 5, sem


limites quanto à verticalização, permite a construção de 13.260m² computáveis, o que
90

possibilita um aumento das áreas previstas inicialmente no programa de necessidades.


Além de estar próximo do anel viário, o que possibilita uma maior facilidade na distribuição
dos produtos cultivados na região central, o terreno se encontra próximo a vias estruturais
e setoriais, com fácil acesso para a região Sul do município pela Rua Desembargador
Westphalen.

Figura 39: Relação com o sistema viário.


Fonte: Criação do autor, 2018.
91

Por ser localizado em um setor estrutural com potencial construtivo de 5, sem


limites quanto à verticalização, permite a construção de 13.260m² computáveis, o que
possibilita um aumento das áreas previstas inicialmente no programa de necessidades.
Além de estar próximo do anel viário, o que possibilita uma maior facilidade na distribuição
dos produtos cultivados na região central, o terreno se encontra próximo a vias estruturais
e setoriais, com fácil acesso para a região Sul do município pela Rua Desembargador
Westphalen.

Figura 40: Pontos de interesse no entorno.


Fonte: Criação do autor, 2018.
92

Figura 41: Usos do entorno imediato.


Fonte: Criação do autor, 2018.

Com a mudança de terreno, houve um aumento da área disponível para a


edificação, o que levou a um ajuste do programa de necessidades. O novo programa
possui uma área construída total de 16.200m², mas apenas 13.180m² de área construída
computável, segundo o código de obras e posturas municipal de Curitiba, respeitando o
93

limite previsto na lei de zoneamento, que é de 13.260m². Os usos e setores inicialmente


previstos para a edificação foram mantidos, com um aumento das áreas utilizadas.
A atividade principal do edifício continuou sendo o cultivo de alimentos, que
incluem as áreas de apoio para a separação, beneficiamento e armazenamento, mas
ainda há outros usos. No térreo localizam-se os usos com maior relação com o público,
possuindo fácil acesso para as áreas de mercado e restaurantes, e também as áreas de
docas para distribuição do cultivo.

Figura 42: Programa de necessidades atualizado.


Fonte: Criação do autor, 2018.
94

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou analisar o processo histórico evolutivo da agricultura


urbana e como ela se apresenta atualmente no contexto global, nacional e local, de
forma a propor um centro de produção agrícola na cidade de Curitiba
Após estes estudos, percebe-se que as iniciativas de produção intensiva em
meio urbano estão se tornando uma tendência global, devido ao aumento populacional
que requer cada vez mais áreas de cultivo e vários países estão aderindo a esta
prática e fomentando o debate sobre o assunto, desenvolvendo novas pesquisas e
tecnologias otimizando a produção e seu rendimento, como visto nos estudos de caso.
A partir da análise dos estudos de caso, observa-se os aspectos necessários
para viabilizar este tipo de construção, as estratégias de conforto ambiental utilizadas,
quais as áreas de apoio necessárias e como a incidência solar se mostra um dos
aspectos mais relevantes para o projeto.
É proposto um edifício multifuncional que possua uma produção agrícola de
nível local, buscando a sustentabilidade e a redução dos poluentes e perdas causados
pelos processos de beneficiamento e transporte. Este espaço busca também
disseminar o conhecimento e ampliar o debate sobre o tema, pois apesar de existirem
referências em uma escala global, como a sede da organização Growing Plant e
outros casos, o tema ainda é novidade no contexto nacional, não existindo nenhum
edifício com o mesmo objetivo, outro motivo para estar inserido no Vale do Pinhão,
região que incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação.
Os resultados obtidos com a pesquisa são aplicados para o desenvolvimento
de uma proposta de implantação de centro de agricultura urbana, que será
posteriormente desenvolvido na segunda etapa deste trabalho, logo, as áreas
apresentadas e estratégia de implantação apresentados poderão sofrer adequações,
buscando manter a coerência do projeto e sempre visando a forma mais eficiente de
alcançar o objetivo da proposta.
95

REFERÊNCIAS

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Regulamenta a Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar
o direito humano à alimentação adequada, institui a Política Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelece os parâmetros para a
elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e dá outras
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Brasília, DF, 2010.

BURIOL, G.A.; SCHNEIDER, F.M.; ESTEFANEL, V.; ANDRIOLO, J.L.; MEDEIROS


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100

APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO


AGRICULTURA URBANA PROGRAMA DE NECESSIDADES
AU é a prática de cultivo, beneciamento e comercialização de A atividade principal do edifício é o cultivo de alimentos, que necessita de espaços para a
plantas que ocorre dentro do perímetro urbano , sendo considerada separação, beneciamento e armazenamento, mas há outras atividades que também serão
pela ONU uma política essencial para o desenvolvimento sustentável, desenvolvidas, no térreo, uma praça relaciona os usos de mercado e restaurante.
utilizando recursos, serviços e produtos locais, abastecendo a região urbana.
Há ainda áreas pedagógicas, com um auditório, espaço para cursos, eventos e exposições, onde
as pessoas podem se inscrever e participar de cursos, ocinas e workshops , também disponível
DESAFIOS para que organizações externas possam realizar eventos com temas em comum.
Também é necessária uma área administrativa para gerenciar o cultivo e todas as ati vidades
Estima-se que a população mundial irá crescer para 9 bilhões até o ano de desenvolvidas no edifício, além de um espaço para os funcionários da área de cultivo.
2050 e dois terços desta população residirá nos centros urbanos.
Pedagógico
Para atender esta demanda, a produção de alimentos deve aumentar em 60%, Restaurante Cultivo Auditório
sendo que 80% das áreas adequadas para a agricultura já foram Hall acesso Circulação Hall para eventos
Área de mesas Vestiários funcionários Sanitários
utilizadas, o que torna a prática agrícola tradicional insustentável. Sanitários Sanitário funcionários DML
Gerência Docas
Mesmo sendo um país com um território extenso, o Brasil enfrenta graves Docas Recepção mudas
Copa
Apoio
problemas ambientais causados pelo desmatamento, motivado principalmente Recepção/higienização Separação Salas de Aula
Administração Armazenamento
pela agricultura e pela pecuária, ameaçando os biomas frágeis. Cozinha Demonstrativa
Armazenagem Câmara fria Armazenamento
Câmara fria Cultivo hidropônico produtivo Crculação
Circulação Tanque de solução nutritiva Almoxarifado
A FAZENDA VERTICAL Pré-preparo
Separação resíduos
Depósito de materiais
Lavagem
Sanitários funcionários
Sanitários
Cocção Higienização utensílios Coordenação
Espaço que permita as atividades de cultivo em um ambiente controlado, Montagem de pratos Beneficiamento Secretaria
Distribuição Acondicionamento
garantindo uma homogeneidade da oferta e qualidade dos produtos pelo Higienização
Mercado Público
Administrativo Hall
ano todo, e que ainda incentive a prática da AU, dissemine informações, Vestiários funcionários Recepção Caixas
Sanitário funcionários
permita a aproximação da população com os agricultores e cultivadores, Circulação Sanitários
Garagem DML
servindo a cidade, proporcionando uma melhora na qualidade dos produtos Guarita Escritórios
Área de Produtos
Separação de Resíduos
alimentícios oferecidos. Além de conscientizar a população sobre Acesso Veículos Sanitários Estoque
os impactos ambientais causados pela prática agrícola desenfreada, pregando Estacionamento Diretoria Circulação
Circulação Copa Recepção de alimentos
a sustentabilidade na cadeia produtiva, com uma pegada de carbono Sanitários Sanitário diretoria Separação
reduzida, sistema de reutilização das águas pluviais, aproveitamento Casa de máquinas Sala de Reuniões Docas
Contenção de cheias Almoxarifado
da luz solar, sistema de manejo de resíduos e sem uso de agrotóxicos. Cisterna
Sanitários funcionários
Administração
.

LOCALIZAÇÃO
LEGENDA

SISTEMA VIÁRIO
Shopping ESTRUTURAL
PRIORITÁRIA
Estação UTFPR SETORIAL
COLETORA

Praça PONTOS DE INTERESSE


TERMINAIS DE TRANSPORTE
Eufrásio Correia UNIVERSIDADES
len

MERCADOS
pha

FEIRAS
Avenida V
is conde de MERCADO MUNICIPAL
Guarapua
est

CENTROS EDUCACIONAIS - GASTRONOMIA


va
or W

ÁREA DE INTERVENÇÃO
gad

MISTO
COMERCIAL
bar

RESIDENCIAL
INSTITUCIONAL
sem

SERVIÇOS
Praça PRAÇAS
De

Rui Barbosa ESTACIONAMENTO


Rua

SEM USO

Pontos de Interesse no Entorno e Relação com


Relação dos Usos
A escolha do terreno no Centro se deve ao fato de proporcionar maior o Sistema Viário
visibilidade ao edifício, que se destaca ainda mais por ser um lote de esquina, e também pela
facilidade de acesso e de escoamento da produção, devido à proximidade com a porção Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Sul do anel viário. Além dos parâmetros construtivos, que permitem a verticalização
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 01
e uma área construída total de 13.260m². Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
AL. DR. MURICY
AV. VISCONDE GUARAPUAVA
A

0
.0
00
0
.0
80
R. DESEMBARGADOR WESTPHALEN

08
.0
B 0 B

i=8% i=8%

0
.0
85
0
.5
00

04
08

.0
.0

0
0

AV. SETE DE SETEMBRO

IMPLANTAÇÃO
ESCALA 1:500

Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 02
Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
0
.0
00
A

ACESSO PEDESTRES

ACESSO PEDESTRES

01

B
B

02 03
ACESSO PEDESTRES

13 12 06 04
10 05
09 11
06
14
04
15 15 05 15 06
Desce
Sobe

23
1 22
21

15
2

15 3 20
19
23E(0,17 m)
22P(0,30 m)

4
5
6
7
18
17
16
06 06
8 15
9 14
10 13

15
12

06 06
11

06 06

04
15 15 06 06
16 08
04

16 06 06 08
ACESSO GARAGEM

04
i=18%
20,00 % 20,00 % 07
01. Praça
02. Área de mesas
03. Mercado
04. Estoque
05. Depósito
06. Sanitários
ACESSO CARGA
E DESCARGA

07. Carga e descarga


08. DML
09. Higienização louças
10. Pré-peparo
11. Cocção
0

12. Montagem
.5
00

13. Distribuição
A 0 1 2 3 5 14. Separação de resíduos
15. Vestiário
16. Controle de acesso

PLANTA PAVIMENTO TÉRREO


ESCALA 1:150
Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 03
Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
A

B
B

02

08

04

09 03

01
04

09 03

07 06
05

03 06

01. Praça
02. Recepção
03. Sanitários
04. Escritórios
05. Copa
06. Beneciamento
07. Diretoria
08. Sala de reuniões
09. DML

0 1 2 3 5

PLANTA SEGUNDO PAVIMENTO


ESCALA 1:150
Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 04
Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
A

B
B
02
6
5
4
3
2
1
6
5
4
3
2
1

05
03

04
01

06 07

07 07 07
Desce
Sobe

18
17
1
16
2
18E(0,17 m)
17P(0,30 m)

15
3
14
4
13

08 5
6
7
12
11
10
08
8
9

11
10 10

09

07 07

12

01. Hall
02. Auditório
03. Apoio
04. Secretaria
05. Copa
06. Coordenação
07. Sanitários
08. Sala de aula
09. Depósito de materiais
A 10. Cozinha demonstrativa
11. Praça
0 1 2 3 5 12. Horta experimental

PLANTA TERCEIRO PAVIMENTO


ESCALA 1:150
Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 05
Trabalho de Conclusão de Curso
10
onalVersion

Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2


A

B
B

Águas pluviais e águas recicladas são


coletadas em um reservatório superior

Água é direcionada para uma torre de


cultivo, onde os pers hidropônicos são rotativos
07 07 de forma a garantir pelo menos 2 horas de
insolação direta para as plantas
Desce
Sobe

18
17
1
16
2
18E(0,17 m)
17P(0,30 m)

15

01
3

01
14

07 07
4
13
5
12
6
11
7
10
8
9

08

02 05 03 03 06 04
Água é redirecionada para o
reservatório superior, por meio de
uma bomba alimentada
pelo gerador

Água é reciclada, fornecendo


energia a um gerador

01. Cultivo
02. Depósito de materiais
03. Sanitários
04. Tanques de solução nutritivas
0 1 2 3 5 05. DML
06. Separação de resíduos
A 07. Processamento e separação
08. Armazenamento temporário

PLANTA PAVIMENTO TIPO (4º AO 15º)


ESCALA 1:150
Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 06
Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
A

B
B

01

20,00 % 20,00 %

02

04 05 03
MALHA ESTRUTURAL
0 1 2 3 5

SUBSOLO
A

ESCALA 1:150
01 ESTACIONAMENTO
02 BACIA DE CONTENÇÃO DE CHEIAS
03 CISTERNA
04 CASA DE MÁQUINAS
05 COMPOSTEIRA

Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 07
Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
GSEducationalVersion
80,00 80,00

74,00 74,00

68,00 68,00

62,00 62,00

56,00 56,00

50,00 50,00

44,00 44,00

38,00 38,00

32,00 32,00

26,00 26,00

20,00 20,00

14,00 14,00

8,00 8,00

4,00 4,00

0,00 0,00

ELEVAÇÃO DA R. DES. WESTPHALEN ELEVAÇÃO DA AV. VISCONDE DE GUARAPUAVA Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Curso de Arquitetura e Urbanismo 08
Marcus Vinícius Santos Scapin
ESCALA: 1:150 ESCALA: 1:150 Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli
Trabalho de Conclusão de Curso
2018.2 10
80,00

80,00

74,00

74,00

68,00

68,00

62,00

62,00

56,00

56,00

50,00

50,00

44,00

44,00

38,00

38,00

32,00

32,00

26,00

26,00

20,00

20,00

14,00

14,00

8,00

8,00
4,00

4,00
0,00

-3,00
0,00

CORTE BB Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná


-3,00
CORTE AA
Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 09
ESCALA 1:150 ESCALA: 1:150 Trabalho de Conclusão de Curso
Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
Cimento queimado 5mm

Manta cortiça 8mm

Painel wall 250x125x4mm

Perfil u dobrado 250x150mm

Cantoneira 150x110 com nervura


de reforço a cada 50cm

Viga i 400x800
20,00

Esquadria de alumínio
com dupla camada
de policarbonato e
colchão de ar

Perfil i em vista

DETALHE DE FIXAÇÃO DO PAINEL WALL


ESCALA: 1/20

14,00

DETALHE ISOMÉTRICO DA FIXAÇÃO DO PAINEL WALL


SEM ESCALA

SUSTENTABILIDADE
Com o objetivo de tornar a edicação mais sustentável,
8,00
o projeto prevê o aproveitamento da insolação natural,
uso de painés solares em sua cobertura para diminuir
o gasto energético necessário para manter um ambiente
adequado ao cultivo, um sistema de reaproveitamento
das águas pluviais para o cultivo e uma composteira
com biorreatores, responsáveis por diminuir os resíduos
produzidos pelos diferentes setores da edicação.

Brise em madeira

Trilho de fixação 4,00

Parede cortina móvel

0,00

Fazenda Vertical Urbana Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Marcus Vinícius Santos Scapin
Curso de Arquitetura e Urbanismo 10
Trabalho de Conclusão de Curso
CORTE SETORIAL Orientador: Hermínio Antonio Pagnoncelli 2018.2 10
ESCALA 1:50

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