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SANEAMENTO I –
TRATAMENTO E USO
DE ÁGUAS
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3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - Saneamento Ambiental
5 2.1 Case para reflexão

7 2.2 Implicações e resultados do saneamento ambiental

8 2.3 A Lei nº 11.445/07

12 UNIDADE 3 - Ciclo Hidrológico


16 UNIDADE 4 - Tratamento de Água para Consumo Humano
21 UNIDADE 5 - Contaminantes Orgânicos em Mananciais

SUMÁRIO
28 UNIDADE 6 - Presença de Microrganismos
28 6.1 Definições e características dos microrganismos

35 6.2 Remoção de protozoários

37 6.3 Remoção de cianobactérias e cianotoxinas

39 6.4 Remoção de agrotóxicos

45 6.5 Remoção de gosto e odor

51 UNIDADE 7 - Manejo de Águas Pluviais Urbanas


54 7.1 Tipos de sistemas de controle não convencionais

57 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 - Introdução

Não há frase mais curta e ao mesmo mento.


tempo mais real do que “a água é fonte de
Saneamento ambiental são ações para a
vida”! Ela é essencial para que a vida acon-
sociedade, com o objetivo de fazer com que
teça e percorra todo seu ciclo da melhor
todos tenham acesso ao abastecimento de
maneira possível. Desde os primórdios da
água potável, coleta e disposição sanitária
civilização na história da evolução humana
de resíduos sólidos e líquidos, disciplina sa-
e demais seres vivos, a água esteve pre-
nitária de uso do solo, drenagem urbana,
sente.
controle de doenças transmissíveis, para
Para algumas espécies, a água é meio de proteger e melhorar as condições de vida
vida, para outras, a sua falta compromete da população.
todo desenvolvimento como na maioria
Como a falta de ações e obras de sanea-
das culturas vegetais. O excesso, a dispo-
mento são um problema sério para toda a
nibilidade ou a falta de água também com-
sociedade, torna-se mister ao Engenheiro
prometem a qualidade de vida e dão o tom
Ambiental, conhecer as técnicas de sane-
da riqueza de determinadas regiões.
amento ambiental, visando à solução de
Historicamente, as cidades se desenvol- problemas básicos para a melhoria da qua-
veram próximas aos cursos de água, com a lidade ambiental.
preservação das calhas principal e secun-
Especificamente ele deve identificar as
dária dos rios, não por consciência ambien-
unidades constituintes e as formas de fun-
tal, mas pelas dificuldades operacionais
cionamento dos sistemas de abastecimen-
e construtivas de retificação de rios exis-
to de água e esgotamento sanitário; iden-
tentes na época. Com o desenvolvimento
tificar as etapas constituintes do sistema
urbano e tecnológico, o crescimento das
de limpeza urbana, relacionando-as com
cidades impôs um sistema de malha viária
a necessidade de melhoria dos problemas
que, aos poucos, exerceu pressão e viabili-
causados pelos resíduos sólidos e suas in-
dade econômica de investimentos que pro-
terferências na qualidade ambiental; iden-
movessem o saneamento das áreas ribeiri-
tificar as unidades constituintes de um
nhas e a execução de obras de retificação
sistema público de drenagem urbana; apli-
de canais, pavimentos, pontes e, conse-
car os métodos de controle sanitário dos
quentemente, da ocupação parcial ou total
alimentos; utilizar tecnologias apropriadas
da calha secundária de trechos dos cursos
na área de saneamento ambiental para
de água ou de áreas de alagamentos natu-
melhoria da qualidade de vida da popula-
rais (RIGHETTO; MOREIRA; SALES,2009).
ção (BRASIL, 2004).
Vimos que, de acordo com o MEC, siste-
Ressaltamos em primeiro lugar que em-
mas hidráulicos e sanitários são disciplinas
bora a escrita acadêmica tenha como pre-
do curso de Engenharia Ambiental. Apro-
missa ser científica, baseada em normas e
fundaremos o tratamento e uso de águas
padrões da academia, fugiremos um pouco
que passa necessariamente pelo sanea-
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às regras para nos aproximarmos de vocês


e para que os temas abordados cheguem
de maneira clara e objetiva, mas não me-
nos científicos. Em segundo lugar, deixa-
mos claro que este módulo é uma compila-
ção das ideias de vários autores, incluindo
aqueles que consideramos clássicos, não
se tratando, portanto, de uma redação ori-
ginal e tendo em vista o caráter didático da
obra, não serão expressas opiniões pesso-
ais.

Ao final do módulo, além da lista de re-


ferências básicas, encontram-se outras
que foram ora utilizadas, ora somente con-
sultadas, mas que, de todo modo, podem
servir para sanar lacunas que por ventura
venham a surgir ao longo dos estudos.
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UNIDADE 2 - Saneamento Ambiental

Vamos iniciar o estudo do saneamento fazem parte do cotidiano do Engenheiro


ambiental com um caso ocorrido nos EUA, Ambiental.
contado por Vesilind e Morgan (2011)
ilustrando a pesquisa, a identificação e 2.1 Case para reflexão
solução de problemas ambientais que

SURTO DE HEPATITE NO HOLY CROSS COLLEGE


Logo depois do jogo realizado em Dartmouth, em 1969, todos os integrantes do
time de futebol americano do Holy Cross College ficaram doentes (Morse, 1972). Ti-
veram febre, náuseas e dores abdominais, além de apresentarem pele amarelada
– sintomas característicos da hepatite infecciosa. Nos dias que se seguiram, quase
90 pessoas – entre jogadores, treinadores, técnicos e outras pessoas – que faziam
parte do programa de futebol da instituição também adoeceram. O colégio cance-
lou o restante da temporada e tornou-se alvo de um mistério epidemiológico. Como
explicar que um time inteiro tivesse contraído hepatite infecciosa?

Sabe-se que a doença é transmitida basicamente de pessoa para pessoa. Embora


epidemias possam ocorrer, isso quase sempre se deve à contaminação da água ou
de frutos do mar. Há vários tipos de vírus da hepatite com drásticas consequências
para o ser humano. O menos mortal é o da hepatite A que ocasiona mal-estar du-
rante várias semanas, mas raramente deixa sequelas duradouras. As hepatites B
e C, todavia, podem provocar graves problemas, em especial no fígado, e durar por
anos. Na ocasião da epidemia no Holy Cross College, o vírus da hepatite ainda não
havia sido isolado e muito pouco se sabia sobre sua etiologia ou suas consequên-
cias.

Quando o colégio teve ciência da seriedade da epidemia, pediu e recebeu aju-


da dos governos estadual e federal, que enviaram epidemiologistas até a cidade
de Worcester. Em princípio, esses especialistas coletaram todo tipo de informação
sobre os integrantes do time de futebol: com quem haviam estado e o que haviam
comido e bebido. O objetivo era encontrar pistas que os levassem a descobrir como
surgiu a epidemia, e obtiveram os seguintes dados:

uma vez que o período de incubação da hepatite é de cerca de 25 dias, a infec-


ção deve ter ocorrido em algum momento antes do dia 29 de agosto;

os jogadores que deixaram o time antes desse período não foram infectados;

jogadores da equipe principal que chegaram atrasados, depois do dia 29 de


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agosto, também não foram infectados;

jogadores do time de calouros que chegaram no dia 3 de setembro também não


tiveram a doença;

tanto os jogadores do time de calouros como os do time principal usaram o


mesmo refeitório, e, como nenhum calouro foi infectado, descartou-se a hipótese
de que o refeitório fosse a causa da doença;

um dos técnicos que desenvolveu hepatite não havia usado o refeitório do co-
légio;

não havia nenhum indício de que os jogadores tivessem comido frutos do mar
em algum restaurante, o que poderia dar uma dica sobre onde poderiam ter contra-
ído o vírus;

os jogadores consumiram uma bebida preparada pelo colégio, cuja composição


era açúcar, mel, gelo e água (a versão caseira do Gatorade). No entanto, como os
funcionários da cozinha provaram da bebida antes e depois do jogo, e nenhum deles
desenvolveu a doença, a possibilidade de a bebida ter sido a causadora da doença
foi descartada.

Como não encontravam respostas para o fato, os epidemiologistas se concentra-


ram no fornecimento da água. O colégio recebe água da cidade de Worcester e uma
tubulação subterrânea traz a água da Rua Dutton – que é sem saída – até o campo
de treinamento de práticas esportivas, onde há um bebedouro que os jogadores
utilizam durante os treinos.

Amostras da água foram colhidas do bebedouro e não apresentaram nenhuma


contaminação.

A ausência de contaminação durante a amostragem não descartou, entretanto,


a possibilidade de transmissão da doença através da tubulação, que cruzava o cam-
po por meio de um medidor de água e várias caixas de sprinklers enterradas no solo,
colocadas em todo o campo para regar o gramado.

Duas outras informações foram cruciais. Soube-se que, em uma das casas na Rua
Dutton, moravam crianças que haviam contraído hepatite. Durante o verão, elas
brincavam com água dos sprinklers, espirrando umas nas outras e formando poças
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no gramado. No entanto, como a água dessas poças – caso as crianças a tivessem


contaminado – teria ido parar na tubulação, já que os canos de água eram mantidos
sempre sob pressão positiva?

A última peça do quebra-cabeça se encaixou quando os epidemiologistas des-


cobriram que havia ocorrido um grande incêndio em Worcester, durante a noite do
dia 28 de agosto, que durou até a manhã do dia seguinte. A demanda de água para
o incêndio foi tão grande que todas as casas da Rua Dutton ficaram sem água da
rua, ou seja, os bombeiros bombearam a água em tal quantidade que a pressão no
encanamento ficou negativa.

Esses dados levaram à seguinte conclusão: as crianças esqueceram algumas


das válvulas dos sprinklers abertas, o que certamente provocou a contaminação
da água ao redor do sprinkler. Então, o vírus da hepatite entrou no encanamento
da água potável. Na manhã seguinte, a pressão da água foi restabelecida no enca-
namento, e a água contaminada foi parar no final do ramal da tubulação, ou seja,
no bebedouro do campo de futebol – todos os jogadores, treinadores, técnicos e
quaisquer outras pessoas que beberam daquele bebedouro foram infectados com
hepatite.

Esse caso ilustra a clássica conexão cruzada, ou seja, o contato físico entre a água
potável tratada e a contaminada e as consequências potencialmente graves dessas
conexões.

Um dos objetivos da engenharia am- em um contexto político, legal e institu-


biental é projetar sistemas para proteger cional no que participam diversos atores
a saúde pública. No caso de encanamen- do âmbito nacional, regional e local. O es-
tos, os engenheiros precisam projetar tudo ressalta que este conjunto de ações
sistemas que evitem qualquer possibili- mantém uma inter-relação permanente
dade de ligações cruzadas, embora, como entre a gestão do saneamento básico e a
o incidente de Holy Cross College de- saúde pública.
monstra, seja quase impossível prever
Entende-se por saúde pública a ciência
todas as possibilidades.
e a arte de promover, proteger e recupe-
rar a saúde, através de medidas de alcan-
2.2 Implicações e resultados ce coletivo e de motivação da população.
do saneamento ambiental É importante que estas ações este-
Segundo OPAS (2007), saneamento jam integradas às ações de organização
básico é o conjunto de ações que se exe- territorial, do meio ambiente e moradia.
cutam no âmbito do ecossistema huma- A articulação destes setores com a área
no para o melhoramento dos serviços de da saúde é fundamental para o alcance
abastecimento de água, coleta de esgo- do desenvolvimento sustentável (LIMA;
to, o manejo dos resíduos sólidos, a higie- LIMA; OKANO, 2010).
ne domiciliar e o uso industrial da água,
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O direito à água potável não se alcan- de mortalidade infantil em menores de 5


çará somente com enfoques econômicos, anos.
mas requer também uma forte convicção
O impacto econômico decorrente das
moral com respeito a três valores funda-
intervenções em saneamento básico
mentais: liberdade, equidade e solidarie-
pode representar redução dos casos de
dade com os menos privilegiados (OPAS,
doença ou morte proporcionando econo-
2007).
mias em relação a necessidade de trata-
mento para o setor da saúde e também
Água e esgotamento para os pacientes; valores relacionados
sanitário às mortes evitadas e ao tempo econo-
mizado como também pela não necessi-
É inegável a compreensão de que a
dade de assistência médica de tempo de
melhoria da gestão do saneamento bá-
ausência em escola, trabalho, entre ou-
sico proporciona melhoria para a saúde
tros (LIMA; LIMA; OKANO, 2010).
e é essencial para a redução da mortali-
dade infantil. A gestão adequada do sa- Vale destacar que os investimentos
neamento básico melhora as condições em saneamento têm um efeito direto na
de saúde da população em especial das redução dos gastos públicos com serviços
crianças que vivem nas regiões mais po- de saúde. Segundo Melo (2005), estudos
bres das cidades onde as moradias são da OMS – Organização Mundial de Saúde
mais precárias e as condições do local são mostram que R$ 1,00 (um real) aplicado
insalubres, aumentando a exposição das em Saneamento gera R$ 2,50 (dois reais
crianças a inúmeras ameaças. Segundo e cinquenta centavos) de economia em
dados dos Indicadores e Dados Básicos saúde.
– Brasil – IDB (2008), a mortalidade atri-
buível a diarreias agudas em crianças me- 2.3 A Lei nº 11.445/07
nores de 5 anos foi de 3,9% (média na- A Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de
cional), sendo que a região nordeste foi 2007, estabeleceu diretrizes nacionais
a mais afetada com 6,5% e a região sul para o saneamento básico, e determina
apresentou o menor índice com 1,5%. que os municípios elaborem seus planos
No Brasil, as doenças diarreicas e as de saneamento dentro de uma visão in-
parasitoses estão entre as principais tegrada com a participação da sociedade.
causas de morbidade em menores de 5 Estes planos devem abranger os serviços
anos. Existe uma relação entre a oferta de abastecimento de água, esgotamen-
dos serviços de saneamento básico, Ín- to sanitário, drenagem urbana, limpeza
dice de Desenvolvimento Humano – IDH urbana e manejo dos resíduos sólidos, a
(engloba três dimensões: riqueza, educa- serem realizados de formas adequadas
ção e esperança média de vida e saúde). atendendo a saúde pública e a proteção
Locais com maior oferta de abastecimen- do meio ambiente sob os seguintes prin-
to de água potável e coleta de esgoto cípios:
apresentam melhores níveis de IDH que
são inversamente proporcionais à taxa Universalidade
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Esse princípio visa garantir que todos e quantidade suficientes para a promo-
tenham acesso aos serviços de sanea- ção da saúde pública e controle da polui-
mento básico, dentro do menor prazo ção ambiental.
possível.
Promoção da Educação
Integralidade das ações Sanitária e Ambiental
Deve-se contemplar o conjunto de ser-
Contemplar ações de educação sani-
viços de saneamento básico, atendendo
tária e ambiental, de forma a disseminar
a população conforme suas necessidades
comportamentos mais positivos quanto
e objetivando obter o máximo de eficácia
ao meio ambiente, e incorporar progra-
das ações e resultados.
mas de comunicação social para atendi-
mento ao cidadão.
Equidade
O princípio da equidade enseja que to- Orientação pelas Bacias
dos recebam os serviços com o mesmo
nível de qualidade sem que haja qualquer
Hidrográficas
restrição ou discriminação, exceto quan- Buscar a integração das infraestru-
do se priorizar o atendimento à popula- turas e serviços de saneamento básico,
ção de menor renda. com a gestão dos recursos hídricos pelas
bacias hidrográficas do município. Esse
Integração princípio visa a melhoria da qualidade
dos corpos d’água e a integração homem,
Integrar os diferentes setores afins
meio ambiente.
da área de saneamento tais como: de-
senvolvimento urbano; a saúde pública;
áreas ambientais e de recursos hídricos;
Sustentabilidade
entendida como indispensáveis para se As tecnologias devem ser apropriadas
atingir o pleno êxito das ações. a cada realidade do ponto de vista socio-
cultural e ambiental, de forma a se ob-
Participação e controle ter eficácia na utilização e operação das
obras e serviços implantados e eficiência
social no processo de implementação com rela-
Garantir a participação popular como ção aos custos e ao cronograma físico e
requisito indispensável para tornar legí- financeiro.
tima a consolidação das políticas públicas
de saneamento. Proteção ambiental
Garantir que os recursos hídricos terão
Promoção da Saúde Públi- capacidade de atender a demanda para
ca o abastecimento de água da população,
sem comprometer a manutenção dos
Garantir que os serviços que integram
ecossistemas locais.
o saneamento básico tenham qualidade
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Informação tecnológica preservação de cursos de água;

Incorporar temas que apresentem via- preservação de mananciais superfi-


bilidade técnica e operacional, concilian- ciais;
do a gestão eficiente e economicamente preservação de mananciais subter-
viável. râneos;

Gestão pública expansão sustentável das áreas ur-


banas;
Desenvolver gestão pública que con-
temple ações que envolvam a questão plano de manejo integrado ecológi-
intersetorial e de entrelaçamento, bem co-econômico nas áreas de mananciais.
como a adoção de políticas públicas es- 2) Com relação a drenagem urba-
pecíficas incluindo uma abordagem in- na e recuperação ambiental, deve-se
terdisciplinar. considerar:
De acordo com a lei é de competência recuperação de cursos de água;
do titular a elaboração do Plano Munici-
pal de Saneamento Básico – PMSB que recuperação de áreas degradadas;
poderá ser específico para cada serviço, medidas de controle de enchentes;
desde que haja a consolidação e compa-
tibilização dos planos específicos de cada identificação de famílias vivendo em
serviço que deverão ainda ser compatí- áreas de risco socioambiental;
veis com o Plano de bacias hidrográficas mitigação de riscos de inundação;
em que estiverem inseridos.
mitigação de riscos de deslizamento;
O PMSB deve refletir as necessidades
e os anseios da população, devendo, para Mitigação de riscos de desabamen-
tanto, resultar de um planejamento de- to.
mocrático e participativo para que atinja 3) Com relação à água e esgota-
sua função social. O planejamento dos mento sanitário, deve-se considerar:
serviços integrantes do saneamento bá-
sico tem por finalidade a valorização, a universalização do Sistema de Cole-
proteção e a gestão integrada, assegu- ta de Esgotos com incentivos para Liga-
rando a compatibilização com o desen- ções Intradomiciliares;
volvimento local e regional. implantação e ampliação de Coleto-
Principais aspectos que devem ser res, Interceptores e Estações de Trata-
englobados e/ou compatibilizados pelo mento de Esgoto;
PMSB: universalização do Sistema de Abas-
1) Com relação a preservação am- tecimento de Água;
biental deve-se considerar: implantação e ampliação de Redes,
preservação de nascentes; Reservatórios, Elevatórias e Regulado-
res de Pressão;
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gestão eficaz dos recursos naturais teça através de vários atores, cada qual
minimizando as perdas e otimizando a cumprindo seu papel, seja ele o cidadão,
distribuição da água; e, a comunidade ou o Estado.

qualidade dos efluentes de esgoto. O Saneamento Ambiental carrega na


sua essência uma pluralidade de funções,
4) Com relação ao Planejamento
pois ao mesmo tempo em que se trata de
e Gestão de Resíduos Sólidos, deve-se
uma ação de saúde pública e proteção
considerar:
ambiental constitui-se também como
implantação de Programa de Coleta bem de consumo coletivo, um serviço
Seletiva de Resíduos Sólidos; essencial ao ser humano e consequente-
mente um direito do cidadão e um dever
inventário de Geradores de Resíduos
do Estado.
Sólidos;
Assim, visto por esse ângulo, as ações
implantação de Plano de Gerencia-
de saneamento se enquadram nas polí-
mento de Resíduos da Construção Civil;
ticas públicas e sociais e sua promoção
programa de racionalização da gera- deve ser fruto de ações conjuntas entre
ção e destinação de resíduos, incluído os a sociedade e o estado (LIMA; LIMA; OKA-
de Tratamento de Água e Esgoto; NO, 2010).

mecanismos de Desenvolvimento
Limpo – MDL e Cogeração de Energia;

implantação de Aterros Sanitários,


Estações de Transbordo e Centrais de Re-
ciclagem;

plano de Recuperação de Lixões e


Aterros Controlados;

estudo de Tecnologias para Resídu-


os Sólidos e Efluentes;

integração com Programas de In-


teresse Social de Habitação, Emprego e
Renda.

Qualquer ação no campo do Sane-


amento Ambiental deve ser encarada
como sendo uma ação social e coletiva,
pois atende a população socializando
seus efeitos positivos que são usufruí-
dos por todos.

Por essa natureza social e coletiva, é


fundamental que sua promoção acon-
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UNIDADE 3 - Ciclo Hidrológico

Sabemos que a disponibilidade de água possível.


para sociedade é uma prioridade para con-
Enquanto Hidrologia é a ciência que es-
tinuação da vida na Terra! Ser a água tra-
tuda a água na Terra e procura responder
tada também é condição essencial para a
à pergunta sobre o que ocorre com a água
qualidade de vida para evitar epidemias
da chuva uma vez que atinge a superfície,
dentre outras justificativas.
a Engenharia Hidrológica é a aplicação
Na contramão dessas assertivas, te- dos conhecimentos da Hidrologia para re-
mos o aumento da população em propor- solver problemas relacionados aos usos
ções preocupantes, pessoas vivendo em da água, que muitos subsídios oferece ao
condições sub-humanas em várias partes trabalho do Engenheiro Ambiental.
do planeta, uso ainda irracional dos recur-
Relembremos rapidamente o ciclo hi-
sos naturais. Pois bem, neste momento,
drológico (ilustração abaixo) que é ponto
nosso objetivo é justamente analisar o
de partida útil para o estudo do forneci-
tratamento de águas para que sejam ofe-
mento da água.
recidas à população com toda qualidade
Ciclo Hidrológico

A água precipita das nuvens, infiltra-se uma determinada região é geralmente


no solo, escoa para correntes de águas su- útil para estimativas de disponibilidade de
perficiais, segue-se a evaporação e trans- água.
piração, voltando para atmosfera.
A evaporação e a transpiração são
Precipitação é o termo aplicado para duas formas pelas quais a água retorna à
todas as formas de umidade originais na atmosfera.
atmosfera que caem no solo (por exemplo,
A evaporação acontece a partir de
chuva, granizo e neve). A precipitação é
fontes de águas superficiais livres, e a
registrada com medidores em milímetros
transpiração é a perda de água das plan-
de água. A quantidade de precipitação em
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tas para a atmosfera. Os mesmos fatores Segundo Collischonn e Tassi (2011), os


meteorológicos que influenciam a eva- usos da água são normalmente classifica-
poração também influenciam o processo dos em consuntivos e não consuntivos.
de transpiração: os raios solares, a tem-
Usos consuntivos alteram substan-
peratura ambiente, a umidade e a velo-
cialmente a quantidade de água disponí-
cidade do vento, assim como a quantida-
vel para outros usuários. O uso da água
de de umidade do solo disponível para as
para irrigação é um uso consuntivo, por-
plantas – todos esses elementos causam
que apenas uma pequena parte da água
impacto sobre a taxa de transpiração.
aplicada na lavoura retorna na forma de
Por ser tão difícil medir a evaporação e a
escoamento. A maior parte da água uti-
transpiração separadamente, são geral-
lizada na irrigação volta para a atmosfe-
mente combinadas em apenas um termo,
ra na forma de evapotranspiração. Esta
a evapotranspiração, ou seja, a perda to-
água não está perdida para o ciclo hidro-
tal de água para a atmosfera, tanto por
lógico global, podendo retornar na forma
um processo como pelo outro (VESILIND;
de precipitação em outro local do planeta,
MORGAN, 2011).
no entanto, não está mais disponível para
A água da superfície da Terra exposta à outros usuários de água na mesma região
atmosfera é chamada de água superficial, em que estão as lavouras irrigadas.
que inclui rios, lagos, oceanos, etc. Atra-
Usos não-consuntivos alteram
vés do processo de percolação, algumas
pouco a quantidade de água, mas po-
águas superficiais (especialmente du-
dem alterar sua qualidade. O uso de água
rante a precipitação) são absorvidas pelo
para a geração de energia hidrelétrica,
solo e se tornam águas subterrâneas; am-
por exemplo, é um uso não-consuntivo,
bas podem ser utilizadas como fontes de
uma vez que a água é utilizada para mo-
abastecimento para as comunidades.
vimentar as turbinas de uma usina, mas
Dentre os usos e importância da sua quantidade não é alterada. Da mesma
água, podemos citar: forma a navegação é um uso não-consun-
tivo, porque não altera a quantidade de
abastecimento humano; água disponível no rio ou lago.
irrigação;
Os usos de água também podem ser di-
dessedentação animal;
vididos de acordo com a necessidade ou
geração de energia elétrica; não de retirar a água do rio ou lago para
navegação; que possa ser utilizada. Alguns usos da
diluição de efluentes; água que podem ser feitos sem retirar a
pesca; água de um rio ou lago são a navegação,
recreação e paisagismo; a geração de energia hidrelétrica, a recre-
ação e os usos paisagísticos. Alguns usos
a manutenção dos ecossistemas exis-
da água que exigem a retirada de água,
tentes em rios, lagos e ambientes margi-
ainda que parte dela retorne, são o abas-
nais aos corpos d’água, como banhados e
tecimento humano e industrial, a irrigação
planícies sazonalmente inundáveis.
e a dessedentação de animais.
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Temos ainda as águas subterrâneas e fonte de água, pois fica presa às partícu-
superficiais. las do solo por forças capilares e não pode
ser imediatamente liberada.
A água subterrânea é importante tan-
to como fonte direta como indireta para o Abaixo da zona de aeração está a zona
abastecimento de água, uma vez que uma de saturação, na qual os poros estão
grande fração do fluxo para correntes de cheios de água, em geral conhecida como
água é derivada das águas que estão abai- água subterrânea. Uma camada que con-
xo da superfície. A água está presente tém uma quantidade substancial de água
tanto em locais próximos como afastados subterrânea é chamada de aquífero, e a
da superfície do solo. superfície dessa camada saturada é co-
nhecida como lençol freático. Se o aquí-
Na região perto da superfície da Ter-
fero estiver em cima de uma camada im-
ra, os poros (porosidade) do solo contêm
permeável, é chamado de aquífero livre. E
água e ar. Essa região é conhecida como
se a camada contendo água estiver entre
zona de aeração, ou zona vadosa. Ela pode
duas camadas impermeáveis, é conhecido
apresentar espessura zero em áreas pan-
como aquífero confinado. Este, às vezes,
tanosas e pode chegar a ter algumas cen-
pode estar sob pressão, assim como em
tenas de metros de espessura em regiões
tubulações, e caso um poço esteja dentro
mais áridas. A umidade da zona de aera-
de um aquífero confinado sob pressão,
ção não pode ser aproveitada como uma
tem-se um poço artesiano.

As fontes de águas superficiais não gradável por várias fontes de poluição. A


são confiáveis como as de águas subter- variação no fluxo da corrente ou curso de
râneas, pois as quantidades geralmente água pode ser tão grande que mesmo uma
variam muito durante um período de um pequena demanda pode não ser atendida
ano ou mesmo uma semana, e a qualida- durante tempos de seca; portanto, devem
de das águas superficiais é facilmente de- ser construídos reservatórios para arma-
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zenar a água durante a época de chuva


para que possa ser utilizada nos períodos
de escassez. O objetivo é construir esses
reservatórios suficientemente grandes
para garantir fontes de água confiáveis
(VESILIND; MORGAN, 2011).
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UNIDADE 4 - Tratamento de Água
para Consumo Humano
Fazendo um recorte na história e nos si- - captação
tuando em 1840, nessa época já havia re- - adução
ferência que as epidemias de febre tifoide - estação de tratamento
e de cólera em Londres estavam relacio-
- reservação
nadas com águas de má qualidade. Até o
início do século XX não havia padrões de - redes de distribuição
qualidade para a água potável. - ligações domiciliares

Um dos tratamentos mais antigos e A seleção da fonte abastecedora de


eficazes é a fervura da água, porém, do água é processo importante na constru-
ponto de vista prático, restrita a aplicação ção de um sistema de abastecimento.
no âmbito das unidades residenciais. Em Deve-se, por isso, procurar um manancial
1870, e durante alguns anos posteriores, com vazão capaz de proporcionar perfei-
o uso de filtros de areia e de outras técni- to abastecimento à comunidade, além de
cas de tratamento ainda visava melhorar o ser de grande importância a localização da
aspecto estético da água, eliminar o odor fonte, a topografia da região e a presença
e melhorar o sabor. O avanço do conheci- de possíveis focos de contaminação.
mento deu então lugar ao tratamento da
A captação pode ser superficial ou sub-
água com vistas a proteção à saúde.
terrânea. A superficial é feita nos rios, la-
De todo modo, a construção de um sis- gos ou represas, por gravidade ou bombe-
tema completo de abastecimento de água amento. Se por bombeamento, uma casa
requer muitos estudos e pessoal alta- de máquinas é construída junto à capta-
mente especializado. ção. Essa casa contém conjuntos de mo-
tobombas que sugam a água do manancial
Para iniciarem-se os trabalhos, é e a enviam para a estação de tratamento.
necessário definir-se:
A subterrânea é efetuada através de
a população a ser abastecida; poços artesianos, perfurações com 50 a
a taxa de crescimento da cidade; e, 100 metros feitas no terreno para cap-
tar a água dos lençóis subterrâneos. Essa
suas necessidades industriais. água também é sugada por motobombas
Com base nessas informações, o siste- instaladas perto do lençol d’água e en-
ma é projetado para servir à comunidade, viada à superfície por tubulações. A água
durante muitos anos, com a quantidade dos poços artesianos está, em sua quase
suficiente de água tratada. totalidade, isenta de contaminação por
bactérias e vírus, além de não apresentar
Um sistema convencional de abas- turbidez.
tecimento de água é constituído das
O tratamento da água envolve o empre-
seguintes unidades:
go de diferentes operações e processos
17

unitários para adequar a água de diferen- de separação por membranas (microfiltra-


tes mananciais aos padrões de qualidade ção, ultrafiltração, nanofiltração e osmo-
definidos pelos órgãos de saúde e agen- se reversa).
cias reguladoras.
Enfim, técnicas mais sofisticadas para
As exigências de qualidade da água a detecção e quantificação de substân-
evoluíram e prosseguem, em processo cias e organismos diversos se mantêm em
contínuo, acompanhando os avanços do constante e rápida evolução. A detecção e
conhecimento técnico e científico. Os pa- quantificação de concentrações cada vez
drões de qualidade tornam-se gradati- menores de contaminantes capazes de
vamente mais exigentes. As tecnologias resultar em efeitos crônicos para a saú-
convencionais de tratamento, visando a de, bem como o reconhecimento de novos
clarificação e desinfecção da água, foram patógenos de veiculação hídrica, tendem
sendo aprimoradas, incorporando novas a diversificar e tornar mais rigorosos os
técnicas ou variantes, tais como a flota- padrões de potabilidade, impondo, con-
ção, a filtração direta, a filtração em múl- comitantemente, o desafio da inovação
tiplas etapas, além do emprego de novos tecnológica no tratamento da água para
desinfetantes (e, por conseguinte, a ge- consumo humano (CEBALLOS; DANIEL;
ração de novos produtos secundários de BASTOS, 2009).
desinfecção).
Abaixo temos a ilustração de uma típica
Em paralelo, o desafio da remoção de instalação para tratamento de água, onde
substâncias químicas e, mais recente- por uma série de reatores ou operações
mente de microcontaminantes, impôs o unitárias, a água vai fluindo de um para
emprego/desenvolvimento de outras téc- outro e atinge seu objetivo final que é a
nicas de tratamento como a adsorção em água tratada (esquemas Sabesp-SP e Co-
carvão ativado, a oxidação, a precipitação pasa-MG).
química e a volatilização, e de processos

Estação de tratamento de água – esquema Sabesp

Fonte: Sabesp
18

Estação de tratamento de água – esquema COPASA

Fonte: Copasa-MG

Dentre os processos de tratamento zadas como fonte de água potável. Essa


de água de captação superficial te- dureza é causada por cátions multivalen-
mos: tes ou “minerais” como o cálcio, magnésio
e ferro.
a) Redução da dureza da água
b) Coagulação e floculação
Em algumas águas (tanto superficiais
quanto subterrâneas) é necessário redu- Substâncias coagulantes são adicio-
zir sua dureza para que possam ser utili- nadas na água com a finalidade de redu-
19

zir as forças eletrostáticas de repulsão, ção, com o mesmo objetivo de separação


que mantém separadas as partículas em das partículas floculentas da água em tra-
suspensão, as coloidais e parcela das dis- tamento. Certos flocos (principalmente
solvidas. Desta forma, eliminando-se ou quando formados a partir de águas com
reduzindo-se a “barreira de energia” que alta concentração de algas ou de substân-
impede a aproximação entre as diversas cias orgânicas de origem natural, conheci-
partículas presentes, criam-se condições das como substâncias húmicas), podem
para que haja aglutinação das mesmas, manifestar baixa velocidade de sedimen-
facilitando sua posterior remoção por se- tação, inviabilizando tal procedimento.
dimentação e/ou filtração. Os coagulantes Geralmente, para melhorar o rendimento
mais utilizados são o sulfato de alumínio e do processo de flotação, agregam-se aos
o cloreto férrico, sais que, em solução, li- flocos, microbolhas de ar que aumentam a
beram espécies químicas de alumínio ou força de empuxo sobre os mesmos, facili-
ferro com alta densidade de cargas elé- tando sua ascensão e posterior remoção
tricas, de sinal contrário às manifestadas por rodos raspadores instalados na super-
pelas partículas presentes na água bruta, fície da unidade.
eliminando, assim, as forças de repulsão
e) Filtração
eletrostática originalmente presentes na
água bruta. É o processo que remove as impurezas
presentes na água bruta (filtração lenta);
A floculação é o processo físico que
na água coagulada ou floculada (filtração
promove a aglutinação das partículas já
rápida direta); ou na água decantada (fil-
coaguladas, facilitando o choque entre as
tração rápida) pela passagem destas em
mesmas devido à agitação lenta imposta
um meio granular poroso, geralmente
ao escoamento da água. A formação de
constituído de camadas de pedregulho,
flocos de impurezas facilitam sua poste-
areia e antracito (este último, comum nos
rior remoção por sedimentação sob ação
filtros rápidos).
da gravidade, flotação ou filtração. A flo-
culação pode ocorrer por processos hi- Em relação ao sentido de escoamento
dráulicos ou mecanizados e à velocidade com que a água atravessa
a camada de material filtrante, a filtração
c) Sedimentação ou Decantação
pode ser caracterizada como lenta, rápida
É o processo no qual a força da gravi- de fluxo ascendente ou rápida de fluxo
dade é utilizada para separar as partículas descendente. A filtração direta tem sua
de densidade maior que a da água, depo- denominação relacionada com a inexis-
sitando-as em uma superfície ou zona de tência de unidade prévia de remoção de
armazenamento. Os principais tipos de impurezas.
decantadores são os laminares ou de alta
f) Desinfeção
taxa e os convencionais de escoamento
horizontal Tem por finalidade a destruição de mi-
crorganismos patogênicos ou não presen-
d) Flotação
tes na água. As principais técnicas em-
É o processo inverso ao da sedimenta- pregadas são a cloração, ozonização e a
20

exposição da água à radiação ultravioleta.

g) Correção de pH
Método preventivo de corrosão dos
encanamentos por onde a água tratada é
veiculada até os consumidores. Consiste
na alcalinização da água para remover o
gás carbônico livre e para provocar a for-
mação de uma película de carbonato na
superfície interna das canalizações.

h) Fluoretação
Aplicação de compostos de flúor na
água de abastecimento público, em teo-
res controlados, função da temperatura
ambiente. O flúor é eficiente na redução
da incidência de cáries.

A água captada através de poços pro-


fundos, na maioria das vezes, não precisa
ser tratada, bastando apenas a desinfec-
ção com cloro. Isso ocorre porque, nesse
caso, a água não apresenta qualquer tur-
bidez, eliminando as outras fases que são
necessárias ao tratamento das águas su-
perficiais (COPASA-MG, 2013).
21
UNIDADE 5 - Contaminantes Orgânicos
em Mananciais
O avanço tecnológico ocorrido a partir ao longo da cadeia trófica, com conheci-
da 2ª Grande Guerra Mundial colocou no dos problemas para os animais superio-
mercado uma ampla variedade de subs- res (BAIRD, 2002).
tâncias ou compostos químicos utiliza-
Segundo Singer (1949 apud MIERZWA;
dos para os mais variados usos como, por
AQUINO, 2009), o primeiro efeito eviden-
exemplo, na formulação, ou como inter-
ciado sobre a saúde humana, associado
mediários, de muitos produtos utilizados
aos compostos organoclorados, foi a con-
em nosso dia-a-dia, contribuindo de for-
tagem reduzida de espermas nos pilotos
ma significativa para a melhoria da qua-
de aviões pulverizadores de Diclorodife-
lidade de vida do ser humano (MIERZWA;
niltricloroetano (DDT).
AQUINO, 2009).
Outro exemplo de impacto antrópi-
O desenvolvimento de medicamentos,
co sobre o meio ambiente é associado
produtos de higiene pessoal, defensivos
à produção de detergentes sintéticos,
agrícolas e aditivos alimentares, entre
que contêm em sua formulação polifos-
outros, trouxe muitos benefícios para os
fato de sódio, cuja função é complexar
seres humanos. Contudo, um aspecto que
íons (Ex. Ca2+ e Mg2+) que diminuem a
deve ser considerado é que após o seu
formação de espuma. Os polifosfatos,
uso, ou mesmo nas etapas associadas à
ao serem lançados no meio ambiente
sua produção, esses acabam atingindo o
juntamente com o esgoto sanitário, são
meio ambiente, seja na forma de resídu-
hidrolisados, liberando no meio o íon fos-
os sólidos, efluentes líquidos, emissões
fato (P043-), que pode ser prontamente
gasosas e, até mesmo, durante a sua uti-
assimilado pelas algas, cujo crescimento
lização ou pelo lançamento acidental ou
no meio aquático é geralmente limitado
indiscriminado no meio ambiente.
pela ausência de nitrogênio e fósforo. A
Muitos dos produtos e substâncias abundância destes nutrientes no meio
químicas utilizadas pelos seres humanos, aquático causa um desequilíbrio conhe-
quando presentes no meio ambiente, cido como eutrofização, que pode con-
são potencialmente prejudiciais à fauna, duzir à proliferação excessiva de algas
à flora e ao próprio Homem, o que cons- (MIERZWA; AQUINO, 2009).
titui um grande fator de risco. Um exem-
Além da preocupação com os compos-
plo clássico refere-se ao uso de compos-
tos organoclorados, nas duas últimas dé-
tos organoclorados que, nas décadas
cadas se observa um crescente interesse
de 1940 e 1950, foram sintetizados em
científico e debates públicos sobre os po-
grandes quantidades para utilização
tenciais efeitos adversos causados pela
como inseticidas. Devido à sua estabilida-
exposição a um grupo de produtos quími-
de química e baixa solubilidade em água,
cos que são capazes de alterar o funcio-
tais compostos se acumulam em tecido
namento normal do sistema endócrino
adiposo levando à sua bioconcentração
da fauna silvestre e, potencialmente, dos
22

seres humanos (DAMSTRA, 2002 apud nantes, como os APEO e seus produtos
MIERZWA; AQUINO, 2009). de degradação, os ftalatos e os estradi-
óis são desreguladores endócrinos, ou
Harrison, Holmes e Humfrey (1997
seja, são capazes de mimetizar ou anta-
apud MIERZWA; AQUINO, 2009) relata-
gonizar hormônios naturais, interferindo
ram que muitos estudos de laboratório
assim no funcionamento normal do siste-
indicaram que compostos químicos pre-
ma endócrino de animais superiores.
sentes no meio ambiente podem inter-
ferir no sistema endócrino uma vez que Dos contaminantes orgânicos apre-
têm potencial de causar alterações no sentados na tabela, apenas alguns são
equilíbrio hormonal dos seres humanos, listados na Portaria MS n° 518/2004,
resultando em uma série de problemas destacando-se os pesticidas clorados,
de saúde. que totalizam 13 dos 22 agrotóxicos lis-
tados no padrão de potabilidade brasilei-
Estes relatos mostram a relevância
ro. Vale ressaltar que algumas substân-
dos efeitos potenciais na saúde humana
cias listadas na tabela, como é o caso dos
em decorrência da presença de determi-
PCBs, dioxinas, HPAs e ésteres itálicos, e
nadas substâncias químicas no ambiente.
que não compõem o padrão de potabili-
A tabela abaixo apresenta algumas clas-
dade brasileiro, são incluídas no padrão
ses de contaminantes orgânicos que po-
de potabilidade de algumas instituições
dem ter acesso aos mananciais de água
de referência como a Organização Mun-
superficial e subterrânea. Alguns des-
dial da Saúde (OMS), União Europeia (EU),
tes contaminantes, como os PCB, HPA,
Agência Ambiental Norte-Americana
PCDD, PCDF e pesticidas clorados são sa-
(USEPA) e Conselho Nacional da Saúde e
bidamente carcinogênicos, sendo alguns
Pesquisa Médica Australiano (NHRMC).
deles potenciais mutagênicos ou terato-
gênicos (BAIRD, 2002). Outros contami-

Classificação de alguns contaminantes orgânicos


de interesse sanitário
23

Os alquilfenóis polietoxilados e seus domésticos que decorre dos seus empre-


produtos de degradação (Ex.: nonilfenol gos em fármacos, produtos de limpeza e
e octilfenol), bem como os hormônios es- higiene pessoal.
tradiol, natural e etinilestradiol, sintético
Vale ressaltar que o padrão de po-
não são listados nos padrões de potabili-
tabilidade brasileiro refere-se a outros
dade brasileiro ou das principais agências
compostos orgânicos (Ex.: benzeno, clo-
internacionais (OMS, USEPA, União Euro-
rofenóis, clorobenzeno, cloroalcanos e
peia, Health Canada, NHRMC). Contudo,
cloroalcenos), não listados na tabela, que
tais compostos estão listados na tabela
podem estar presentes na água tratada
devido à elevada prevalência ambiental,
devido à contaminação de mananciais
resultante de sua presença nos esgotos
24

pelo descarte de efluentes industriais ou tos na legislação brasileira que trata dos
devido à sua formação durante a clora- padrões de qualidade da água de abaste-
ção da água (MIERZWA; AQUINO, 2009). cimento – Portaria 518 do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2004).
A situação passa a ser mais preocu-
pante quando se analisa a questão dos Defensivos agrícolas são substâncias
grandes centros urbanos, isto porque químicas utilizadas no controle de espé-
a variedade e quantidade de produtos cies indesejáveis e doenças de plantas.
químicos utilizados diariamente são sig- Englobam substâncias químicas e algu-
nificativas, tendo como destino final os mas de origem biológica, podendo ser
cursos d’água próximos, seja através dos classificados em função do tipo de espé-
esgotos tratados nas estações ou pelo cies que controlam, da estrutura quími-
lançamento direto. Por esta razão, é ne- ca das substâncias ativas e dos efeitos à
cessário avaliar as implicações da pre- saúde e ao ambiente.
sença de certas substâncias químicas
Quanto à sua toxicidade, os defensi-
no meio ambiente, principalmente nos
vos agrícolas podem ser classificados em
mananciais de água que recebem esgo-
função da dose letal para 50% da popu-
tos tratados, ou in natura, drenagem de
lação do grupo de teste (DL50). Essa clas-
águas pluviais e efluentes industriais e
sificação é fundamental para o conheci-
que ainda são utilizados para abasteci-
mento da toxicidade de um produto, com
mento público.
relação ao efeito agudo.
Um dos primeiros grupos de contami-
Na Tabela abaixo são apresentadas as
nantes a ser estudado com relação aos
classes dos defensivos agrícolas em fun-
riscos para a saúde humana foi o dos
ção da DL50.
defensivos agrícolas, sendo que, atual-
mente, são listados 22 desses compos-
Classificação toxicológica de defensivos
agrícolas em relação a DL50

Fonte: ONU (2005 apud MIERZWA; AQUINO, 2009).


25

Os defensivos agrícolas podem desen- Por se tratar de um tema relativamen-


cadear efeitos variados na saúde huma- te novo, os principais estudos sobre a
na, agudos, subagudos ou crônicos. Os presença em mananciais de contaminan-
sinais e sintomas podem variar de even- tes orgânicos com potencial de causar
tos bem nítidos e objetivos, como espas- perturbações no sistema endócrino limi-
mos musculares, convulsões, náuseas, tam-se aos países com maior disponibi-
desmaios, vômitos e dificuldades respi- lidade de recursos. Em alguns trabalhos
ratórias; subjetivos e vagos, como dor de disponíveis são apresentados dados mui-
cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estô- to pontuais sobre o Brasil e que a avalia-
mago e sonolência; a manifestações tar- ção se restringiu à análise de amostras
dias, como os de natureza carcinogênica, de esgoto bruto e tratado (MIERZWA;
mutagênica e neurológica. AQUINO, 2009).

Embora a questão dos defensivos Como no Brasil os serviços de cole-


agrícolas ainda seja relevante, atualmen- ta e tratamento de esgotos ainda são
te uma nova classe de contaminantes precários e as atividades agrícolas são
presentes no meio ambiente tem des- intensas, pode-se concluir que além da
pertado a preocupação de profissionais presença de compostos orgânicos da
e pesquisadores das áreas: ambiental, classe dos desreguladores endócrinos
de tratamento de água e saúde, a qual nos mananciais de água, os níveis de con-
é denominada de desreguladores, per- centração podem ser significativamente
turbadores ou disruptores endócrinos. maiores daqueles observados nos países
Um desregulador endócrino é uma subs- desenvolvidos.
tância ou mistura exógena que altera as
Com base no conceito de múltiplas
funções do sistema endócrino e conse-
barreiras, os sistemas de tratamento de
quentemente causa danos em um orga-
água para abastecimento se constituem
nismo sadio, em seus descendentes ou
na barreira final para assegurar a produ-
em outros grupos de organismos vivos
ção de uma água adequada do ponto de
(DAMSTRA, 2002 apud MIERZWA; AQUI-
vista de saúde pública. Por se tratar de
NO, 2009).
compostos orgânicos, as tecnologias tra-
Os desreguladores endócrinos são dicionalmente utilizadas para tratamento
substâncias exógenas, que causam dis- de água apresentam capacidade limitada
funções endócrinas em animais superio- para possibilitar a remoção ou destruição
res como, por exemplo, hermafroditismo de desreguladores endócrinos, e apre-
e feminilização. sentam ainda o potencial de geração de
subprodutos com maior toxicidade, prin-
Pesquisadores de diversas institui-
cipalmente nas etapas de pré-oxidação
ções do mundo têm voltado suas aten-
ou desinfecção (OKUN, 2003 apud MIER-
ções para os efeitos destes compostos
ZWA; AQUINO, 2009).
na saúde humana, bem como para as tec-
nologias mais eficientes para sua remo- Com o crescente interesse pelo tema
ção. de desreguladores endócrinos, vários es-
tudos sobre a eficiência de sua remoção
26

em sistemas de tratamento de água têm por parte de pesquisadores e profissio-


sido desenvolvidos, mostrando que o sis- nais que atuam na área de abastecimento
tema convencional apresenta limitações, de água. Salienta-se que pouco se sabe
sendo necessária a utilização de proces- sobre a eficiência das operações unitá-
sos alternativos ou complementares. rias e processos químicos comumente
usados no tratamento convencional de
Conforme USEPA, 2005; USEPA, 1999
água na remoção de tais compostos.
(apud MIERZWA; AQUINO, 2009), nos
EUA, a preocupação com a qualidade da Assim, é importante que se desenvol-
água para abastecimento público, tanto vam pesquisas para avaliar a capacidade
em relação aos organismos patogênicos destas tecnologias de tratamento para
como com os subprodutos da desinfec- a remoção desta nova classe de conta-
ção e seus precursores, resultou em uma minantes, ressaltando-se também a im-
série de trabalhos e regulamentações re- portância do desenvolvimento de méto-
lacionadas às tecnologias de tratamen- dos analíticos que possibilitassem a sua
to da água para abastecimento público, detecção nos níveis que se encontram
sendo indicadas como mais adequadas: presentes no ambiente. Além disso, de-
ve-se considerar que o tema sobre com-
uso de dióxido de cloro, cloraminas e
postos orgânicos presentes no ambiente
ozônio;
em microquantidades, comumente deno-
radiação ultravioleta; minados microcontaminantes, requer o
desenvolvimento de estudos epidemio-
coagulação aprimorada;
lógicos, para avaliar a sua relevância e, se
micro, ultra e nanofiltação; necessário, estabelecer padrões de qua-
lidade específicos, para a água de abas-
filtração de segundo estágio; tecimento.
adsorção em carvão ativado granu-
lar; Tendências para o futuro
gerenciamento dos mananciais. Mantendo-se os atuais níveis de de-
senvolvimento e urbanização, a pressão
As opções apresentadas não contem- sobre os recursos hídricos tenderá a ser
plam especificamente os desreguladores mais intensa. Com os assentamentos ur-
endócrinos, mas sim microrganismos es- banos cada vez mais próximos dos ma-
pecíficos e subprodutos da desinfecção. nanciais utilizados para abastecimen-
Como a maioria das estações de trata- to público, os baixos índices de coleta e
mento de água para abastecimento pú- tratamento de esgotos sanitários atual-
blico no Brasil é baseada no sistema con- mente observados e a ampliação da ofer-
vencional, a potencial presença de uma ta de novas substâncias e compostos
ampla gama de compostos orgânicos na químicos, o abastecimento de água para
água potável não pode ser desprezada, as populações desses centros será um
principalmente nos grandes centros ur- desafio.
banos, o que requer uma maior atenção Para que seja possível enfrentar os po-
27

tenciais problemas relacionados à quali- que são as medidas preventivas, deven-


dade da água para abastecimento, o que do-se atuar na proteção dos mananciais,
já se verifica nos dias atuais, é necessário o que exige ações coordenadas, política,
o investimento em pesquisas para avalia- econômicas e sociais.
ção dos impactos que os compostos or-
Estar consciente dos principais pro-
gânicos presentes em microquantidades
blemas sobre a qualidade da água para
nos mananciais apresentam sobre a saú-
abastecimento público e das opções dis-
de humana e como eles se comportam
poníveis para enfrentá-los talvez seja o
nos sistemas de tratamento.
maior desafio que deve ser superado pe-
Além disso, a colaboração entre ins- los profissionais e pesquisadores ligados
tituições de pesquisa e companhias de à área de saneamento básico (MIERZWA;
abastecimento de água é de extrema AQUINO, 2009).
importância para garantir que não sejam
consolidadas posições extremas em rela-
ção a essa nova classe de contaminantes
que, em última análise, não atende aos
interesses da sociedade como um todo.
Conforme mencionado anteriormente,
não se deve superestimar e muito me-
nos negligenciar os riscos potenciais que
podem estar associados a esta ampla va-
riedade de substâncias e compostos quí-
micos que atingem os nossos mananciais
e, consequentemente, a água que consu-
mimos.

O desenvolvimento tecnológico trou-


xe grandes benefícios para a humanida-
de, com inovações em várias áreas do co-
nhecimento, inclusive para o tratamento
de água. Assim, os desafios atuais devem
ser enfrentados com todas as ferramen-
tas disponíveis.

No caso das tecnologias de tratamen-


to de água, em muitas situações, as con-
vencionais são a opção mais adequada
para possibilitar a obtenção de uma água
segura para o consumo humano, enquan-
to em outros casos a melhor opção são as
tecnologias avançadas. Além da questão
tecnológica, não se pode deixar de lado o
princípio básico do tratamento de água,
28

UNIDADE 6 - Presença de Microrganismos

6.1 Definições e caracterís- apresentar complexos ciclos biológicos


envolvendo, inclusive, diferentes modos
ticas dos microrganismos e mecanismos de transmissão.
Protozoários e cianobactérias são con-
A transmissão de protozoários pato-
siderados organismos emergentes em
gênicos via água de consumo é há muito
sistema de abastecimento de água para
tempo conhecida e consolidada na comu-
consumo humano e nosso foco neste mo-
nidade técnica e científica. Como exem-
mento.
plos, citam-se a associação entre Giardia
Microrganismos emergentes são aque- sp e água com qualidade imprópria ao
les para os quais a atenção e/ou preocu- consumo humano e, mais recentemente,
pação de médicos, especialistas e/ou epi- Cryptosporidium spp., responsável por
demiologistas tem se voltado a partir de parasitose de caráter emergente, tanto
períodos mais ou menos recentes. Assim, pela sua ampla distribuição (cosmopolita)
podem constituir espécies recém-des- quanto pela ocorrência de diversos surtos
cobertas ou organismos já conhecidos/ e infecções esporádicas registradas em
identificados, porém que apenas agora se várias partes do mundo. Também se so-
descobriu serem capazes de infectar e se- mam a essa lista Cyclospora cayetanensis
rem patogênicos para seres humanos (BE- e Toxoplasma gondii, com menor incidên-
VILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). cia, mas com alguns surtos registrados em
diferentes países (KARANIS; KOURENTI;
A emergência dos organismos acima
SMITH, 2007 apud BEVILACQUA, AZEVE-
está relacionada não ao fato de serem es-
DO, CERQUEIRA, 2009), inclusive no Brasil
pécies recém-descobertas, mas ao fato
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
de que, recentemente, em diferentes
países, tem-se registrados surtos ou epi- Protozoários patogênicos são alvo de
demias de doenças em que os mesmos fo- preocupações, tanto das autoridades
ram identificados como os agentes etioló- de saúde pública quanto da comunidade
gicos envolvidos e onde o abastecimento científica, devido à transmissão compro-
de água, mesmo tratada, foi incriminado vada de cistos de Giardia sp. e oocistos de
como a fonte da exposição. Cryptosporidium spp. por meio do consu-
mo de água tratada e distribuída por sis-
Os protozoários constituem um grupo
temas de abastecimento (LeCHEVALLIER;
de organismos que inclui seres de vida li-
NORTON; ATHERHOLT, 1997 apud BEVI-
vre e parasitas, que se caracterizam por
LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009).
apresentar diferentes formas, tipos de
Esse fato alerta que populações que con-
metabolismos e locais de ocorrência. O
somem água tratada apenas pelo proces-
ser humano e diferentes espécies animais
so de desinfecção (cloração), ou que con-
constituem os hospedeiros obrigatórios
somem água de estações de tratamento
ou acidentais dos protozoários patogê-
que não realizam um controle rigoroso
nicos, sendo que alguns desses podem
29

da eficiência do processo de filtração e/ significa selecionar de uma lista de orga-


ou apresentam deficiências operacionais, nismos aquele que melhor reúne infor-
podem estar sob maior risco de infecções mações que possam representar o grupo
por esses agentes. como um todo. As informações normal-
mente utilizadas na seleção, com o obje-
A crescente preocupação com a trans-
tivo último de proteção à saúde pública,
missão de protozoários via abastecimen-
incluem aspectos relacionados à remo-
to de água para consumo humano envolve
ção/inativação no tratamento da água e
ainda as seguintes dificuldades na busca
aqueles associados a impactos à saúde,
de equacionamento do problema: (i) as
tanto no âmbito individual como coletivo.
limitações dos processos convencionais
Usualmente, havendo informação dispo-
de tratamento de água na remoção/ina-
nível, a escolha recai sobre o organismo
tivação de cistos de Giardia e oocistos
mais difícil de ser removido/inativado e
de Cryptosporidium; (ii) a insuficiência do
que apresenta os mais importantes im-
controle tradicional da qualidade da água
pactos à saúde. Uma vez feita a seleção,
tratada por meio do emprego de bactérias
se o sistema de abastecimento cumpre os
do grupo coliforme ou outros indicadores;
requisitos de forma a produzir água com
(iii) as limitações analíticas dos métodos
qualidade adequada considerando o “pa-
disponíveis de pesquisa de protozoários
tógeno referência”, significa que também
em amostras de água; (iv) a dificuldade de
atinge aqueles necessários para o grupo
estimar riscos à saúde associados à pre-
de patógenos como um todo (WHO, 2006
sença de cistos de Giardia e oocistos de
apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEI-
Cryptosporidium em águas de consumo
RA, 2009).
humano, principalmente quando em nú-
meros reduzidos; (v) o conhecimento da A introdução do termo “patógeno refe-
participação de reservatórios animais na rência” muito se deve ao reconhecimento
manutenção dessas parasitoses em nos- de que a avaliação da qualidade da água,
so meio, haja vista o potencial zoonótico utilizando os indicadores microbiológi-
de ambas. cos tradicionais (coliformes e Escherichia
coli), não é adequada quando se quer ava-
Devido aos diferentes aspectos rela-
liar a presença/ausência de protozoários
cionados aos organismos patogênicos e à
em amostras de água. Sendo assim, essa
ampla variedade existente dos mesmos,
referência tem sido particularmente apli-
não é necessário nem possível conside-
cada a esse grupo específico de organis-
rar todos os patógenos com o objetivo de
mos patogênicos, os protozoários.
projetar e/ou operar sistemas de abas-
tecimento garantindo o fornecimento de Os protozoários Cryptosporidium spp. e
água segura, ou mesmo em procedimen- Giardia duodenalis são os mais significati-
tos de avaliação de risco de sistemas de vos, uma vez que provocam sintomas mo-
abastecimento de água para consumo derados e os casos de doença são comuns
humano. Nesse sentido, a Organização na população; além disso, já foram asso-
Mundial de Saúde (OMS) introduz o termo ciados a epidemias/surtos envolvendo o
“patógeno/organismo referência”, o que consumo de água. Também se destacam
30

pelo fato de persistirem por longos perío- Também é importante mencionar al-
dos no ambiente e apresentarem elevada guns aspectos relacionados ao ciclo de
resistência aos processos usuais de de- vida desses agentes que contribuem para
sinfecção da água. que a transmissão dos protozoários Cryp-
tosporidium e Giardia via água de consu-
A informação relativa à ocorrência de
mo seja mais provável. Esses organismos
surtos/epidemias é particularmente im-
apresentam potencial zoonótico, ou seja,
portante, uma vez que demonstra que
outras espécies de animais (domésticos e
o organismo foi capaz de atravessar di-
selvagens) podem ser seus hospedeiros
ferentes barreiras, alcançar a população
e os hospedeiros infectados (humano ou
consumidora e produzir doença, eventu-
animal), normalmente, eliminam grandes
almente com grande impacto, como a inci-
quantidades de formas infectantes (cis-
dência elevada de casos e/ou a ocorrência
tos e oocistos). Esses aspectos são signi-
de casos graves/fatais.
ficativos, uma vez que um maior e mais
Karanis, Kourenti e Smith (2007 apud diversificado número de indivíduos é ca-
BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, paz de disseminar grandes quantidades
2009), em um trabalho de revisão das epi- dos agentes no ambiente. Adicionalmen-
demias/surtos causadas por protozoários te, são eliminados dos hospedeiros já em
patogênicos em todo o mundo, verifica- suas formas infectantes, não necessi-
ram que de 325 registros, em 32% a epi- tando, assim, de um período no ambiente
demia/surto esteve associada com a água para causarem novos casos de infecção.
de consumo contaminada ou presumivel- Nessas circunstâncias, a transmissão en-
mente contaminada com Giardia duode- tre indivíduos também é possível. E, final-
nalis e, em 23,7%, com Cryptosporidium mente, são protozoários monoxenos, ou
spp. seja, completam seu ciclo de vida em ape-
nas um hospedeiro.
Por outro lado, outros protozoários
também vêm, mais recentemente, adqui- Outro aspecto relevante em relação aos
rindo importância relativa, principalmen- protozoários de transmissão fecal-oral,
te devido à emergência de epidemias/ incluídos o Cryptosporidium e a Giardia, é o
surtos relacionados ao abastecimento de fato de serem eliminados, frequentemen-
água. Destacam-se o Toxoplasma gon- te, em grandes quantidades nas fezes dos
dii e o Cyclospora cayetanensis, onde, hospedeiros infectados, podendo, assim,
somada a importância à saúde, chamam ocorrer em elevado número no ambiente.
atenção as características que envolvem Por outro lado, requerem doses infectan-
as dificuldades de controle de ambos, ou tes relativamente baixas para causar no-
seja, são protozoários que também pos- vos casos de infecção/doença.
suem elevada resistência no ambiente e
A tendência mundial é considerar o
aos processos usuais de desinfecção da
Cryptosporidium como o “protozoário re-
água. Entretanto, Cryptosporidium e Giar-
ferência” em se tratando da transmissão
dia ainda são apontados como os de maior
de protozooses via abastecimento de
importância e significado.
água para consumo humano. A atenção e
31

preocupação em relação a esse protozo- pública desse protozoário, tanto no que


ário são observadas tanto no meio cien- diz respeito à transmissão envolvendo o
tífico, como alvo de pesquisas e inves- contato primário/recreação, como devido
tigações, quanto nos serviços de saúde ao consumo de produtos marinhos, princi-
pública e de saneamento, como uma das palmente crus.
referências à produção de água segura à
A detecção de oocistos em água do mar
população. Além das características já ci-
ou de estuários é documentada na litera-
tadas, Cryptosporidium spp. é objeto de
tura (JOHNSON et al., 1995; FERGUSON et
maior preocupação devido às dificulda-
al. 1996; LIPP et al., 2001 apud (BEVILA-
des de controle, uma vez que apresenta
CQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), en-
oocistos de menor tamanho, sendo mais
tretanto, a grande maioria dos relatos, em
dificilmente removidos da água, conside-
diferentes partes do mundo, refere-se ao
rando os processos tradicionais de clarifi-
isolamento/identificação de oocistos em
cação; também são mais persistentes no
moluscos aquáticos (ostras, mexilhões e
meio ambiente e mais resistente aos pro-
mariscos). Esses animais podem desem-
cessos usuais de desinfecção da água de
penhar importante papel na transmissão
consumo.
do Cryptosporidium, uma vez que, pela
A definição de possíveis organismos forma de alimentação dos mesmos (filtra-
que possam ser utilizados como “pató- ção da água), podem reter oocistos infec-
genos referência” também é importante tantes em seus tecidos.
para a aplicação da metodologia de Avalia-
O comportamento da Giardia em con-
ção Quantitativa de Risco Microbiológico
dições de laboratório e no ambiente e se-
(AQRM), sendo necessária a existência de
melhante ao do Cryptosporidium, porém,
dados sobre dose-resposta à exposição
normalmente, a sobrevivência de cistos é
ao microrganismo, os quais são normal-
menor que a dos oocistos. A temperatura
mente obtidos em estudos experimentais
também é um fator que interfere na ma-
com voluntários humanos ou animais ou
nutenção da infectividade dos cistos. No
constituem evidências epidemiológicas,
solo, os cistos apresentam períodos varia-
usualmente levantadas em investigações
dos de sobrevivência (OLSON et al., 1999
de surtos/epidemias. Essas informações
apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEI-
estão mais bem estabelecidas e sistema-
RA, 2009).
tizadas para Cryptosporidium e Giardia,
reforçando a escolha do primeiro como Considerando os mananciais super-
“patógeno referência” (BEVILACQUA, ficiais, trabalhos registram que, dentre
AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). outras características, o grau e o tipo de
ocupação da bacia, a existência de cober-
Outro aspecto que vem adquirindo im-
tura vegetal, o lançamento de efluentes
portância é a capacidade de sobrevivên-
industriais e domésticos, além da pluvio-
cia dos oocistos em águas estuarinas e
sidade são fatores que contribuem para o
marinhas e a possibilidade de contamina-
aumento de (oo)cistos nesses mananciais
ção de espécies animais desses ambien-
(Le CHEVALLIER; NORTON; LEE, 1991;
tes, aumentando o significado de saúde
ATHERHOLT et al., 1998; KISTEMANN et
32

al., 2002; BASTOS et al., 2004; HACHICH a pouca gravidade, não são identificados
et al., 2004; DIAS et al., 2008 apud BEVI- e, por conseguinte, não são notificados;
LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). ou ainda, quando as concentrações são
suficientes para desencadear processos
As águas subterrâneas podem apre-
de infecção, resultando em casos de giar-
sentar níveis de contaminação menores
diose e/ou criptosporidiose, os sintomas
ou quase nulos devido ao processo na-
podem ser atribuídos a outros agentes.
tural de filtração da água por meio das
camadas do solo, entretanto, este poder Se, por um lado, a identificação de oo-
filtrante pode ser afetado pela profundi- cistos na água tratada não revela a condi-
dade do aquífero, presença e concentra- ção de viabilidade/infectividade, limitan-
ção das contaminações nas proximidades do a definição do real risco microbiológico
desses e nas águas contribuintes. Poços à saúde da população, por outro, são indi-
localizados perto de rios que recebem es- cadores incontestes da ocorrência de fa-
gotos não tratados podem potencialmen- lhas no processo de tratamento e/ou no
te apresentar impactos na qualidade de controle da qualidade da água.
sua água devido a essa proximidade. Adi-
No Brasil, não são conhecidos dados
cionalmente, de forma geral, a frequência
devidamente documentados que compro-
de mananciais contaminados com cistos
vem a ocorrência de surtos de giardiose
de Giardia é menor do que com oocistos
e criptosporidiose associados ao consu-
de Cryptosporidium. Ainda há que se re-
mo de água. Predominantemente, as for-
gistrar que os estudos que demonstram
mas de transmissão dos surtos descritos
a presença de (oo)cistos em mananciais
em nosso país se referem a contatos in-
subterrâneos normalmente apontam que
terpessoais, notadamente envolvendo
características do aquífero, fluxo da cor-
crianças em creches (BEVILACQUA, AZE-
rente e características sobre a construção
VEDO, CERQUEIRA, 2009).
dos poços indicaram a existência de con-
taminação por águas superficiais (BEVI- Ainda que seja tarefa difícil a associa-
LACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). ção inequívoca entre a ocorrência de sur-
tos/epidemias e a água consumida pela
A ocorrência de (oo)cistos em águas
população, alguns registros exemplifi-
tratadas e em sistemas de abastecimento
cam de modo mais ou menos consistente
não determina, necessariamente, com-
a participação da água de consumo como
prometimentos da saúde da população
veículo de transmissão de agentes pato-
consumidora. Em princípio, os (oo)cistos
gênicos.
identificados podem não ser viáveis/in-
fectantes e/ou as concentrações obser- De maneira geral, observa-se que al-
vadas não são suficientes para determinar guns surtos estiveram associados ao
processos de infecção e/ou os processos abastecimento de água sem tratamento,
infecciosos que ocorrem não implicaram entretanto, outros ocorreram em popu-
em quadro sintomático. Adicionalmente, lações onde a água consumida recebia
há que se considerar o fato de que po- algum tipo de tratamento, inclusive fil-
dem ocorrer casos eventuais que, devido tração. Alguns aspectos normalmente
33

indicados como as possíveis causas da sas, podendo crescer em suspensão na


presença de (oo)cistos na água distribuída coluna d’água, sendo então caracteriza-
e, consequentemente, origem do surto/ das como organismos fitoplanctônicos, ou
epidemia incluem: (i) contaminação dos aderidas à superfícies, o que leva à iden-
mananciais de abastecimento (principal- tificação de algumas espécies como ben-
mente superficiais) por esgoto doméstico tônicas (quando estão aderidas a substra-
ou água residuária provenientes de insta- tos no fundo dos ambientes aquáticos),
lações de produções animais; (ii) aumento ou, ainda, podem ser epífitas (quando es-
súbito da contaminação dos mananciais tão aderidas a substratos localizados em
(principalmente superficiais) após inten- profundidades diferentes nos ambientes
sas chuvas ou degelo; (iii) existência de aquáticos, como macrófitas flutuantes ou
assentamentos humanos e/ou explora- submersas, por exemplo). As cianobacté-
ções agropecuárias na área da bacia hi- rias apresentam a reprodução assexuada
drográfica do manancial; (iv) falhas nos como único tipo de reprodução e cresci-
processos de tratamento (humanas e/ou mento de sua população, que se dá pela
instrumentais); (v) tratamento da água divisão de células vegetativas.
por técnicas e processos inadequados
A capacidade de crescimento nos mais
aos níveis de poluição dos mananciais de
diferentes meios é uma das caracterís-
abastecimento; e/ou, (vi) recontamina-
ticas marcantes das cianobactérias. En-
ção da água na rede de distribuição (in-
tretanto, ambientes de água doce são os
filtração de esgotos/águas residuárias).
mais favoráveis, visto que a maioria das
Adicionalmente, registra-se que, de modo
espécies apresenta melhor crescimen-
geral, a qualidade da água tratada nor-
to em águas neutro-alcalinas (pH 6-9),
malmente atendia aos requisitos exigidos
temperatura entre 15 a 30°C e alta con-
nas legislações específicas (BEVILACQUA,
centração de nutrientes, principalmente
AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009).
nitrogénio e fósforo (PAERL, 2008 apud
As cianobactérias são microrganismos BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA,
aeróbicos fotoautotróficos. Seus proces- 2009).
sos vitais requerem somente água, dióxi-
As espécies de cianobactérias unicelu-
do de carbono, substâncias inorgânicas e
lares apresentam diâmetro compreendi-
luz. A fotossíntese é seu principal modo
do na faixa de 0,4 µm até 40 µm e podem
de obtenção de energia para o metabolis-
apresentar variação de volume celular
mo; entretanto, sua organização celular
num fator de 3x105. Algumas espécies fi-
demonstra que esses microrganismos são
lamentosas apresentam diâmetro de até
procariontes e, portanto, muito seme-
100 µm, mas normalmente essas células
lhantes, bioquímica e estruturalmente, às
apresentam diâmetro pequeno, o que
bactérias.
lhes confere volumes celulares menores
As cianobactérias formam um grupo do que os usualmente encontrados para
bastante diverso de microrganismos pro- espécies unicelulares (WHITTON; POTTS,
carióticos fotossintetizantes. Elas podem 2000 apud BEVILACQUA; AZEVEDO; CER-
ser unicelulares coloniais ou filamento- QUEIRA, 2009).
34

As cianobactérias são consideradas San’Anna et al. (2008), já foram identifica-


como o primeiro grupo de organismos que dos no Brasil 32 espécies de cianobacté-
foi capaz de realizar fotossíntese oxigêni- rias comprovadamente produtoras de to-
ca. Esse fato permitiu o início da acumula- xinas. Entretanto, é importante destacar
ção de oxigênio na atmosfera, que se deu que a produção de toxinas por essas espé-
entre 3,5 a 2,8 bilhões de anos, represen- cies é altamente variável, tanto em uma
tando fato crucial na evolução da vida na mesma floração como entre florações dis-
Terra (WHITTON; POTTS, 2000 apud BE- tintas, podendo, assim, variar tanto espa-
VILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). cialmente como temporalmente.

As cianobactérias são atualmente re- Cabe esclarecer que utilizamos o termo


conhecidas como um grupo de bactérias floração como definição de uma coloração
Gram-negativas incluídas no grupo Eubac- visível da água de um referido manancial,
teria. Apesar do sistema de classificação devida à presença de elevado número de
utilizado para se fazer o agrupamento células, filamentos ou colônias de ciano-
taxonômico das cianobactérias não ser bactérias em suspensão. Também, mui-
consenso entre os especialistas, recentes tas vezes, com a subsequente formação
revisões propõem aproximadamente 124 de uma nata verde na superfície da água,
gêneros de cianobactérias e 2 mil espécies decorrente da acumulação desses micror-
(53 gêneros de organismos unicelulares e ganismos na superfície, em períodos de
coloniais e 71 gêneros de organismos fila- pouca ou nenhuma movimentação da co-
mentosos). De forma geral, aceita-se que luna d’água.
a descrição das espécies baseada nas ca-
As toxinas de cianobactérias, que são
racterísticas morfológicas por microsco-
conhecidas como cianotoxinas, consti-
pia ainda é o método mais acessível. Duas
tuem grande fonte de produtos naturais
breves revisões sobre esse tema, adapta-
tóxicos produzidos por esses microrganis-
das às necessidades nacionais da área de
mos e, embora ainda não estejam devida-
saneamento podem ser encontradas em
mente esclarecidas as causas da produ-
San’Anna et al (2006) e Cybis et al (2006).
ção dessas toxinas, tem-se assumido que
Dentre as espécies são encontradas esses compostos tenham função proteto-
linhagens produtoras ou não produtoras ra contra herbivoria, como acontece com
de toxinas e, de acordo com Apeldoorn alguns metabólitos de plantas vasculares
et al (2007 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, (CARMICHAEL, 1992 apud BEVILACQUA,
CERQUEIRA, 2009), pelo menos 40 gêne- AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Uma visão
ros distintos incluem espécies com linha- mais inovadora encara as cianotoxinas
gens tóxicas já identificadas. Entretanto, como potenciais moléculas mediadoras
de maneira geral, as espécies tóxicas mais em interações de cianobactérias com ou-
comumente identificadas estão incluídas tros componentes do habitat, como bac-
nos gêneros: Anabaena, Aphanizomenon, térias heterotróficas, fungos, protozo-
Cylindorspermopsis, Lyngbya, Microcystis, ários e algas (PAERL; MILLIE, 1996 apud
Nostoc, Oscillatoria e Planktothrix. BEVILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA,
2009).
De acordo com uma recente revisão de
35

Algumas dessas toxinas, caracteriza- hemodiálise em uma clínica da cidade de


das por sua ação rápida, causando a mor- Caruaru (PE), passaram a apresentar qua-
te de mamíferos por parada respiratória dro clínico compatível com grave hepato-
após poucos minutos de exposição, têm toxicose. Desses, 60 pacientes vieram a
sido identificadas como alcalóides ou or- falecer até dez meses após o início dos sin-
ganofosforados neurotóxicos. Outras tomas. As análises confirmaram a presen-
atuam menos rapidamente e são identifi- ça de microcistinas e cilindrospermopsina
cadas como peptídeos ou alcalóides hepa- no carvão ativado utilizado no sistema de
totóxicos. purificação de água da clínica, e de micro-
cistinas em amostras de sangue e fígado
No Brasil, as florações de cianobacté-
dos pacientes intoxicados (AZEVEDO et
rias vêm aumentando em intensidade e
al., 2002). Além disso, as contagens das
frequência e, atualmente, é possível se
amostras do fitoplâncton do reservató-
visualizar um cenário de dominância des-
rio que abastecia a cidade demonstraram
ses organismos no fitoplâncton de mui-
dominância de gêneros de cianobactérias
tos ambientes aquáticos, especialmente
comumente relacionados com a produção
durante os períodos de maior biomassa
de cianotoxinas (BEVILAQUA; AZEVEDO;
e/ou densidade (AZEVEDO, 2005). Essa
CERQUEIRA, 2009).
dominância é marcante, sobretudo, em
reservatórios e, em vários deles, tem sido
observado o predomínio de cianobacté-
6.2 Remoção de protozoá-
rias durante grande parte do ano (BOUVY rios
et al., 1999; HUZCAR et al., 2000 apud BE- Vamos falar de algumas técnicas analí-
VILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). ticas de detecção e quantificação de (oo)
As intoxicações de populações huma- cisto de Cryptosporidium spp. e Giardia sp.,
nas pelo consumo oral de água contamina- mas já justificando que devido á extensão
da por cepas tóxicas de cianobactérias já do assunto, falaremos superficialmente
foram descritas em países como Austrália, e deixamos nas referências, opções para
Inglaterra, China e África do Sul (HILBORN maiores aprofundamentos.
et al., 2008). Em nosso país, o trabalho de Os métodos de detecção e recuperação
Teixeira et al. (1993) descreve forte evi- de protozoários na água envolvem três
dência de correlação entre a ocorrência passos fundamentais:
de florações de cianobactérias, no reser-
vatório de Itaparica, na Bahia, e a morte concentração da amostra de água
de 88 pessoas, entre as 200 intoxicadas, com a finalidade de recuperar ou capturar
pelo consumo de água do reservatório, (oo)cistos;
entre março e abril de 1988. purificação dos (oo)cistos; e,
Contudo, o primeiro caso confirmado de identificação e confirmação.
mortes humanas no Brasil causadas por
cianotoxinas ocorreu no início de 1996, Basicamente, a primeira etapa é rea-
quando 130 pacientes renais crônicos, lizada por meio da filtração de volumes
após terem sido submetidos a sessões de variados, centrífugo-concentração ou
36

eluição dos microrganismos. A etapa de riormente aplicada em amostras de água


purificação tem sido amplamente estu- bruta. Consiste na captura dos (oo)cistos
dada e pode ser obtida por meio de gra- através da filtração em membranas de
dientes de sacarose ou pela separação acetato de celulose, seguida de eluição
imunomagnética. A etapa de identifica- por dissolução em acetona e etanol. A
ção e confirmação geralmente é obtida turbidez da água é o maior fator limitan-
através de visualização em microscopia te, pois pode ocorrer rápida obstrução da
com imunofluorescência direta e prova malha filtrante, com consequente redu-
confirmatória da morfologia por meio de ção do volume filtrado. O método sofre
microscopia de contraste de fase seguida influência do processo de eluição nas eta-
de enumeração dos (oo)cistos. pas de dissolução em acetona e pode alte-
rar a infectividade dos (oo)cistos. A média
Musial et al. (1987 apud BEVILACQUA;
de recuperação da metodologia de mem-
AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009) desenvol-
brana filtrante pode chegar a 70,5%. Um
veram um método para detecção e re-
protocolo alternativo foi desenvolvido no
cuperação de (oo)cistos de protozoários
Brasil por Franco, Cantusio Neto e Branco
através de filtros de cartucho de polipro-
(2001), no qual a recuperação dos (oo)cis-
pileno com porosidade de 1µm. Segundo
tos é feita por extração mecânica, fazen-
essa técnica, grandes volumes de água
do-se raspagem e lavagem da superfície
(100 L a 1.000 L) podem ser filtrados e a
da membrana, evitando assim as perdas
etapa de purificação é obtida com o uso
de infectividade.
de sacarose-Percol ou solução de cloreto
de sódio e a visualização, mediante a imu- Com a ocorrência de surtos de criptos-
nofluorescência (BEVILACQUA; AZEVEDO; poridiose veiculados pela água de consu-
CERQUEIRA, 2009). mo, surgiu a necessidade de desenvolver
um novo método para detectar os pató-
A técnica de floculação química com
genos na água, no entendimento de que
carbonato de cálcio foi proposta como
as técnicas até então utilizadas apresen-
método de concentração de volumes de
tam desvantagens em comum como: (i)
10 L de água por precipitação (VESEY et
baixa eficiência de recuperação; (ii) taxas
al., 1993 apud BEVILACQUA; AZEVEDO;
elevadas de falsos positivos e falsos ne-
CERQUEIRA, 2009). O sedimento obtido é
gativos e (iii) baixa precisão. Em 1997, a
extremamente rico em material particula-
USEPA desenvolveu o método 1622 para a
do, interferindo na leitura de imunofluo-
detecção de oocistos de Cryptosporidium
rescência, podendo resultar em falso-po-
na água através de filtração, separação
sitivos. Esse método possui eficiência de
imunomagnética (IMS) e imunofluores-
recuperação entre 30% a 40% (FRICKER;
cência. O método era inovador e apresen-
CRABB, 1998 apud).
tava as seguintes vantagens: (i) novo fil-
A técnica de filtração em membranas, tro aumentando a eficiência da captação
proposta por Aldom e Chagla (1995 apud e da eluição dos oocistos; (ii) incorpora-
BEVILACQUA; AZEVEDO; CERQUEIRA, ção da separação imunomagnética re-
2009), foi desenvolvida para detecção de duzindo falsos positivos e interferências
(oo)cistos em água tratada, sendo poste- inespecíficas; (iii) uma etapa adicional na
37

confirmação e identificação dos oocistos no ambiente, resultando assim em me-


com inclusão do corante 4,6-Diamidino- didas preventivas que visem a minimiza-
-2-fenilindol (DAPI) e prova confirmatória ção do risco de transmissão. Os estudos
da morfologia através de microscopia de moleculares apresentam como vantagem
contraste de fase (CID) e (iv) incorporação a genotipagem com vistas a desvendar a
de medidas de controle de qualidade (Mc- espécie do patógeno, indicando a origem
CUIN; CLANCY, 2003 apud BEVILACQUA; dos microrganismos eventualmente iso-
AZEVEDO; CERQUEIRA, 2009). lados. No entanto, as técnicas não forne-
cem informações sobre a infectividade do
Posteriormente, o método 1623 foi de-
(oo)cistos. Além disso, não dispensam as
senvolvido visando a detecção conjunta
etapas anteriores de concentração e pu-
de (oo)cistos Giardia e Cryptosporidium
rificação (BEVILACQUA; AZEVEDO; CER-
utilizando as mesmas etapas do anterior.
QUEIRA, 2009).
Comprovadamente, a IMS é uma alterna-
tiva superior às técnicas da flutuação com
gradientes de sacarose para isolar oocis-
6.3 Remoção de cianobacté-
tos em amostras ambientais. As porcen- rias e cianotoxinas
tagens da recuperação das amostras de Dentre os sistemas convencionais, para
água bruta variam de 19,5 a 54,5% para efetiva remoção de células de cianobac-
oocistos de Cryptosporidium e 46,7 a 70% térias nos processos de separação sólido-
para cistos de Giardia (McCUIN; CLANCY, -líquido adotados no tratamento de água
2003 apud BEVILACQUA; AZEVEDO; CER- (sedimentação, flotação, filtração rápida),
QUEIRA, 2009). as etapas de coagulação e floculação de-
Uma limitação comum a todas as técni- vem ser otimizadas (BASTOS; BRANDÃO;
cas citadas é a incapacidade de fornecer CERQUEIRA, 2009).
informações sobre a espécie, viabilidade Os mecanismos de desestabilização
e infectividade dos (oo)cistos. A viabilida- (coagulação) das microalgas e cianobac-
de pode ser avaliada por ensaio de excis- térias, segundo Benhardt e Clasen (1991
tamento in vitro, inclusão ou exclusão de apud BASTOS; BRANDÃO; CERQUEIRA,
corantes fluorogênicos e/ou observação 2009), são os mesmos que atuam no caso
microscópica da morfologia dos (oo)cis- de partículas inorgânicas, mas são depen-
tos. Entretanto, atualmente, as técnicas dentes da estrutura desses organismos.
mais aceitas e aplicadas para definição de Esses autores relatam que, ao passo que
viabilidade e infectividade são o ensaio microalgas e cianobactérias que são mais
com camundongos e o cultivo celular. ou menos esféricas e com superfícies sua-
As metodologias moleculares têm sido ves podem ser desestabilizadas pelo me-
utilizadas, mais recentemente, na etapa canismo de adsorção e neutralização de
confirmatória da pesquisa de protozo- cargas, estruturas não esféricas, grandes
ários. O principal objetivo é a avaliação ou filamentosas necessitam de dosagens
de fatores associados ao ambiente e ao elevadas de coagulante, resultando na
hospedeiro que possam auxiliar no en- predominância do mecanismo de varredu-
tendimento da dinâmica dos patógenos ra. Benhardt e Clasen (1991 e 1994 apud
38

BASTOS; BRANDÃO; CERQUEIRA, 2009) algas superior a 99% (remoção de 93%


ressaltam que para que a agregação das foi obtida sem aplicação de ozônio e de
células de microalgas e cianobactérias 95,3% usando apenas ozônio). Apesar
seja efetiva, estas devem possuir estru- dos bons resultados, os autores concluí-
tura geométrica adequada e que exclua ram que a aplicação da filtração direta na
a interação estérica. Entretanto, devido remoção de microalgas e cianobactérias
à grande variedade de formas de células, deve ser restrita a situações específicas,
não é possível satisfazer tal requisito para sempre precedida por estudos em escala
todas as espécies de microalgas e ciano- piloto.
bactérias e, por essa razão, os referidos
A filtração lenta é citada na literatura
autores sugerem que mais investigações
como o primeiro processo de tratamento
sejam conduzidas sobre a influência das
de água efetivamente projetado por cri-
estruturas das células na coagulação e
térios de engenharia. A dominância dos
separação desses organismos.
mecanismos biológicos na remoção de
Dentre as diferentes variantes das se- impurezas e de organismos patogênicos,
quências de tratamento que envolvem a assim como a possibilidade de ser usada
coagulação química, a filtração direta é a de forma combinada com outros proces-
que maiores problemas operacionais en- sos, fizeram com que a filtração lenta,
frenta ao tratar águas com elevada den- apesar do tempo, nunca fosse de todo
sidade de fitoplâncton. De modo geral, abandonada como alternativa de trata-
nessa condição de água bruta, os estudos mento. Mais recentemente, tanto a filtra-
realizados (SENS et al., 2002, 2003, 2006; ção lenta como os chamados processos de
Di BERNARDO et al., 2006; entre outros) biofiltração (que incluem a filtração em
indicam que para melhorar o desempenho margem, além da filtração em carvão bio-
dessa técnica faz-se necessário a intro- logicamente ativado e filtração biológica
dução de etapa de pré-oxidação, o que, induzida pela oxidação em filtros de taxas
por sua vez, causa preocupação relativa à mais elevadas), tem assumido grande re-
geração de subprodutos potencialmente levância em função da capacidade de re-
prejudiciais à saúde humana. mover também micropoluentes comple-
xos, como fármacos e toxinas.
Mouchet e Bonnélye (1998 apud BAS-
TOS; BRANDÃO; CERQUEIRA, 2009) des- Embora existam vários relatos positi-
tacam que a remoção de microalgas e vos quanto a eficiência da filtração lenta
cianobactérias na filtração direta varia na remoção de microalgas e cianobacté-
consideravelmente (10 a 70%) em função rias, os textos clássicos frequentemente
da espécie presente na água e das carac- apontam limitações na capacidade dessa
terísticas de projeto e operação do filtro. técnica de filtração para tratar águas com
Os autores relatam que a pré-oxidação, elevada concentração de fitoplâncton.
combinando peróxido de hidrogênio com Elevadas concentrações de microalgas ou
ozônio, foi capaz de promover melhora cianobactérias na água bruta podem pro-
apreciável no desempenho da filtração vocar rápida colmatação do meio filtrante,
direta, resultando em remoção de micro- exigindo a remoção da camada biológica
39

superficial. Por sua vez, essa operação re- nobactérias e cianotoxinas.


duz a capacidade de remoção de substân-
cias orgânicas dissolvidas em função da 6.4 Remoção de agrotóxicos
redução da capacidade de biodegradação A exposição do homem aos agrotóxicos
do meio filtrante não amadurecido biolo- ocorre por três tipos de vias: oral; respira-
gicamente. No entanto, estudos recentes tória e cutânea. Segundo a Organização
sugerem que o problema da colmatação Mundial de Saúde (OMS), a contaminação
dos filtros lentos pode ser contornado dos alimentos pelos agrotóxicos é a via de
com a adoção de unidades de pré-trata- exposição mais importante. As avaliações
mento, entre as quais se destacam: a pré- dos riscos atribuem 90% da exposição
-filtração em pedregulho e a pré-oxidação a alimentação, 9,5% a água e uma parte
(BASTOS; BRANDÃO; CERQUEIRA, 2009). menor ao ar. Faltam estudos dos efeitos
A filtração em margem tem se mostra- através da via cutânea em populações ex-
do um processo promissor para remoção postas. Uma vez no organismo, os agro-
de gama de microcontaminantes orgâni- tóxicos se acumulam no tecido adiposo e
cos e já é praticada em diversos países, a toxicidade difere segundo a substância
com destaque para Alemanha. Na filtra- ativa que o compõe. A acumulação dos or-
ção em margem, durante a passagem pelo ganoclorados é importante, no homem,
solo, as impurezas podem ser removidas no tecido adiposo, no fígado e nos múscu-
da fase aquosa por filtração, biodegrada- los (SENS et al., 2009).
ção (que faz com que esse processo seja Depois de serem aplicados sobre o solo
considerado um processo biológico), ina- e/ou plantas, os agrotóxicos são submeti-
tivação, adsorção, sedimentação e por dos a uma série de complexos processos
diluição resultante da mistura com águas biológicos e não biológicos que podem
subterrâneas. Os mecanismos de remo- implicar na degradação ou transporte
ção são complexos e a eficiência depen- através da atmosfera, dos solos, dos or-
de de vários fatores, particularmente as ganismos e particularmente da água. O
características do solo e a velocidade de caminho e a extensão deste transporte
percolação. Esses aspectos são discutidos são diferentes em função do composto
por Sens et al. (2006). (GICQUEL, 1998 apud SENS et al., 2009).
Certa similaridade com a filtração len- As áreas agrícolas são fontes potenciais
ta, os bons resultados relatados na litera- de contaminação de águas subterrâneas e
tura em relação à remoção de patógenos superficiais por fontes difusas, decorren-
emergentes e microcontaminantes orgâ- te do uso de grande quantidade de fertili-
nicos complexos, como fármacos, pesti- zantes e agrotóxicos, tais como ametrina,
cidas, compostos aromáticos sintéticos, diuron, tebutiuron, hexazinona, metribu-
além dos resultados favoráveis encontra- zin, halosulfuron, clomazone, ametrina,
dos em estudos laboratoriais em escala 2,4-D, imazapic, fluazifop-p-butil, que por
de bancada e em colunas de sedimentos e serem facilmente lixiviadas no solo, ofe-
solos, demonstram o grande potencial da recem riscos de contaminação das águas
filtração em margem na remoção de cia- (JACOMINI, 2006; SILVA, 2004).
40

Para o controle de agrotóxicos em água O certo é que altas concentrações po-


de abastecimento, faz-se necessário co- dem acarretar em hemólise e redução
nhecer quais os princípios ativos utiliza- na capacidade de carrear oxigênio, pela
dos, além de suas propriedades físicas e formação de metahemoglobina, com o
químicas, tais como: solubilidade, grau aparecimento de sintomas como ciano-
de adsorção no solo (Koc), meia-vida no se, fraqueza e respiração curta. Os estu-
solo (DT50) e taxa de volatilização. Estas dos crônicos em animais com hexazinona
propriedades, associadas a diferentes fa- mostraram que pode ocorrer perda de
tores ambientais, caracterizam os agro- peso, aumento no peso do fígado, alte-
tóxicos do ponto de vista de persistência rações nas medidas químicas do sangue,
que os relaciona aos riscos ambientais, aumento na atividade enzimática e danos
toxicidade associada aos efeitos na saú- patológicos hepáticos. Dentre os herbici-
de humana e bioacumulação. Em trabalho das comercializados no país, o glifosato
realizado por Pessoa et al. (2007), foram e o 2,4-D também se encontram entre os
avaliados 145 princípios ativos mais utili- mais utilizados.
zados no país com relação à sua presença
A seleção da tecnologia de tratamento
em mananciais, levando em conta o seu
de água depende de fatores como a na-
potencial de transporte, avaliando-se so-
tureza dos poluentes, sua concentração,
lubilidade, Koc, DT50, dados estes obtidos
volume a tratar e toxicidade. Existem di-
em literatura nacional e internacional.
ferentes métodos físicos, químicos e bio-
Entre os princípios ativos estudados, lógicos que são usados para a remoção de
encontram-se o glifosato, que apresen- pesticidas, sejam independentes ou asso-
tou alto potencial de transporte em água, ciados, tais como: oxidação química, foto-
associado ao sedimento e dissolvido em degradação, combinação de ozônio com
água; o 2,4-D, que apresentou baixo po- radiação UV, degradação pelo reagente
tencial de transporte em água, associado de Fenton, degradação biológica, coagu-
ao sedimento e médio potencial de trans- lação e adsorção em carvão ativado. Nas
porte dissolvido em água; o diuron e a he- Figuras abaixo são apresentados os flu-
xazinona, que apresentaram médio po- xogramas das tecnologias de tratamento
tencial de transporte em água associados de água para remoção e transformação de
ao sedimento e alto potencial de trans- agrotóxicos.
porte dissolvidos em água; e o carbofu-
rano (inseticida e nematicida), que apre-
sentou médio potencial de transporte em
água associado ao sedimento e alto po-
tencial de transporte dissolvido em água.
O carbofurano apresentou provável po-
tencial de lixiviação para água subterrâ-
nea, enquanto o 2,4-D e diuron ficaram na
faixa chamada de transição com relação à
lixiviação para água subterrânea (SENS et
al, 2009).
41

Fluxograma das tecnologias de oxidação, adsorção e separação em


membranas para tratamento de águas subterrâneas contaminadas por
agrotóxicos

Fonte: Sens et al. (2009, p. 202)

Fluxograma das tecnologias com filtração em margem e filtração lenta para


tratamento de água superficial contaminada com agrotóxico

Fonte: Sens et al. (2009, p. 202)


42

Fluxograma da tecnologia de filtração direta para água superficial


contaminada com agrotóxico

Fonte: Sens et al. (2009, p. 203)


43

Fluxograma da tecnologia convencional para tratamento de água


contaminada com agrotóxico

Fonte: Sens et al. (2009, p. 204)


44

No Brasil, em torno de 50% das esta- húmicas, fenóis, agrotóxicos, solventes


ções de tratamento de água empregam clorados, hidrocarbonetos aromáticos,
a tecnologia de tratamento convencio- benzeno, tolueno, entre outros. Os pro-
nal, que consiste em uma sequência de dutos químicos normalmente utilizados
processos que incluem a coagulação, flo- como oxidantes são cloro, dióxido de clo-
culação, sedimentação (ou flotação), fil- ro, peróxido de hidrogênio, permangana-
tração, fluoração, cloração e correção de to de potássio, oxigênio, ozônio e produ-
pH. Por apresentar algumas limitações na tos de decomposição do ozônio, como o
remoção de determinados agrotóxicos radical hidroxila (SENS et al, 2009).
(LAMBERT; GRAHAM, 1995 apud SENS et
A adsorção com carvão ativado é a tec-
al., 2009), são propostas algumas asso-
nologia mais utilizada no tratamento de
ciações, tais como: adição de polímeros,
águas contaminadas por pesticidas e ou-
pré-oxidação, inter-oxidação, adsorção
tros compostos químicos que oferecem
em carvão ativado pulverizado e carvão
risco a saúde. O carvão ativado pode ser
ativado granular ou associação destes.
empregado em pó ou granular. Existe na
A filtração direta por si só não remove literatura referência a estes dois tipos de
agrotóxicos. Sens, Dalsasso e Hassemer aplicação, sendo recomendado pela OMS
(2004) estudaram a remoção de carbofu- como tecnologia para remoção da maio-
rano na filtração direta (FD) e na FD com ria dos compostos orgânicos, entre eles
pré-oxidação com ozônio. A água bruta os agrotóxicos. O uso de carvão ativa-
continha em torno de 70 µg/L de carbofu- do em pó em estações de tratamento de
rano, e no primeiro tratamento a remoção água é comum em situações de acidente
foi de apenas 2,5% e no segundo trata- ou quando um contaminante é detecta-
mento, acrescentando-se a pré-ozoniza- do na água bruta e possui características
ção, a remoção foi de 95% para uma apli- de sazonalidade. Em algumas estações
cação de 4 mg/L de 03. Evidentemente de tratamento de água o uso é feito de
que a remoção se deu principalmente pela forma contínua. Este é o método mais co-
oxidação e não pela filtração, mas os auto- mum, porque seu uso pode ser adequado
res queriam observar se não haveria des- em instalações já existentes sem investi-
prendimento do agrotóxico acumulado no mentos significativos (USEPA, 2001 apud
lodo no meio filtrante durante a carreira SENS et al., 2009).
de filtração. O desprendimento não acon-
Segundo Di Bernardo e Dantas (2005),
teceu nem mesmo sem a pré-ozonização.
a maior parte das substâncias que causam
O item a seguir trata da oxidação de forma
sabor e odor, cor, mutagenicidade e toxi-
geral para remoção de agrotóxicos.
cidade, incluindo agrotóxicos, geosmina,
A oxidação química tem sido utilizada MIB e cianotoxinas, em geral, podem ser
em tratamento de água e tratamento de adsorvidas em carvão ativado (CA).
efluentes industriais e domésticos. A tec-
Coelho e Di Bernardo (2003) estuda-
nologia encontra-se estabelecida no Bra-
ram a filtração lenta com camada de areia
sil e tem sido empregada para oxidar con-
(FLA) e camada intermediária de carvão
taminantes refratários como substâncias
ativado granular (CAG), precedida ou não
45

de pré-oxidação com ozônio associado ao tes, subprodutos da oxidação e desinfec-


peróxido de hidrogênio, para avaliação da ção e para melhorar a qualidade gustativa
remoção de atrazina presente em manan- da água potável.
ciais abastecedores da cidade de São Car-
A natureza do material da membrana
los (SP).
(poliamida, amida, acetato de celulose) in-
No filtro lento com camada única de fluencia o mecanismo de retenção.
areia, a remoção de atrazina variou entre
A presença de matéria orgânica (MO)
35 e 89% para valores no afluente en-
favorece a remoção de certos agrotóxi-
tre 53 e 101 µg/L; no filtro lento de areia
cos, como a atrazina e a simazina. O fenô-
com camada intermediária de carvão ati-
meno de adsorção dos agrotóxicos sobre
vado granular (FLA-CAG), no entanto, fo-
a MO se faz por fisiosorçãoe por quimio-
ram observados valores da concentração
sorção (BOUSSAHEL; BAUDU; MONTIEL,
desse agrotóxico, inferiores a 2 µg/L. Por
2000 apud SENS et al., 2009).
outro lado, no FLA-CAG foram observados
valores da concentração de atrazina infe- Os sistemas de nanofiltração não re-
riores a 2 µg/L para relação 03/H202 supe- movem completamente todos os agrotó-
rior a 0,5. xicos. A eficiência de remoção depende de
vários fatores e necessita-se de estudos
A tecnologia de filtração em margem
de todas as famílias de agrotóxicos sobre
(FM) pode ser uma alternativa de remo-
os diferentes tipos de membranas. Para
ção de contaminantes das águas, poden-
garantir, durante todo o tempo de trata-
do mesmo, em muitos casos, torná-las
mento, que a água atenda os padrões de
potável. A FM pode remover vários con-
qualidade em relação aos agrotóxicos, um
taminantes, como agrotóxicos, microal-
tratamento suplementar (adsorção em
gas, toxinas, metais pesados, fármacos,
CAG) pode ser necessário.
patógenos, entre outros. A remoção dos
contaminantes orgânicos, na FM, ocorre A prática da nanofiltração necessita de
em torno da interface manancial-aquí- pré-tratamentos físicos e químicos per-
fero por processos físicos e bioquímicos. feitamente adaptados para assegurar a
Entretanto, os processos biológicos, res- perenidade das membranas e reduzir os
ponsáveis pela sua eliminação, ocorrem riscos de perda de desempenho. Como
predominantemente nos primeiros me- para as aplicações a base de CAP, faz-se
tros de leito filtrante. Por sua vez, a fração necessário uma reflexão com relação aos
biodegradável da matéria orgânica pode rejeitos (o concentrado pode representar
ser degradada por bactérias, enquanto a até 15% da vazão de alimentação) (SENS
fração refratária pode ser removida por et al., 2009).
adsorção na fase sólida (MARMONIER et
al., 1995 apud SENS et al., 2009). 6.5 Remoção de gosto e
As técnicas que utilizam membranas odor
para tratar água de abastecimento são Gosto e odor na água potável podem
notadamente eficazes para reduzir a tur- ter origem no manancial de abastecimen-
bidez, microrganismos, microcontaminan- to, no tratamento e no sistema de distri-
46

buição da água potável. No manancial, a 2) desinfetantes adicionados para ga-


origem pode ser natural ou antropogêni- rantir um residual até os pontos de consu-
ca. No tratamento e na distribuição, com- mo, podendo haver, também, formação de
postos que conferem gosto e odor a água subprodutos;
podem ser introduzidos ou formados (BE-
DETTI; DE LUCA; CYBIS, 2009).
3) substâncias lixiviadas de materiais
usados na rede de distribuição ou que re-
Muitos compostos químicos de origem sultam da corrosão de metais.
industrial podem contribuir diretamente
Em geral, a presença de gosto e odor na
para gosto e odor na água. Por outro lado,
água potável é considerada um problema
esgotos domésticos, efluentes indus-
estético, não trazendo, necessariamen-
triais e águas de drenagem urbana e agrí-
te, riscos à saúde da população. Este en-
cola contêm nutrientes que estimulam o
foque se reflete nos padrões de potabili-
crescimento de organismos planctônicos
dade para gosto e odor estabelecidos por
e outras formas de matéria orgânica. Pro-
vários países e pela Organização Mundial
dutos metabólitos de microrganismos e
da Saúde (OMS). Contudo, alguns conta-
decomposição de matéria orgânica pre-
minantes podem ser, ao mesmo tempo,
sentes em mananciais de abastecimento
tóxicos e causarem gosto e odor.
são fontes comuns de compostos causa-
dores de gosto e odor na água potável. De acordo com Jardine, Gibson e Hru-
Cianobactérias, microalgas e actinomi- dey (1999 apud BEDETTI; DE LUCA; CYBIS,
cetos produzem substâncias químicas 2009), há evidências de que a presen-
como trans-1,10-dimetil-trans-9-decalol ça de odores anormais na água potável
(geosmina) e 2-metilisoborneol (2-MIB) seja um indicador também da presença
que apresentam limiares de detecção da de substâncias que podem trazer riscos à
ordem de ng/L. Geosmina e 2-MIB estão saúde dos consumidores. Esses autores
entre os principais responsáveis pela pre- acreditam que não há uma base confiável
sença de odores de terra e mofo em água para se assumir que a detecção de odores
potável. ocorrerá sempre a níveis inferiores aos de
proteção à saúde. Desta forma, a detec-
Compostos químicos adicionados ou
ção de odores na água potável deve ser
formados no tratamento e na rede de dis-
considerada como evidência da presença
tribuição de água também podem originar
de compostos indesejáveis. A conclusão
alterações nas características organolép-
de que não há riscos à saúde somente
ticas da água. Os compostos classificam-
poderá ser feita após a identificação dos
-se em três categorias (THOMPSON et
compostos responsáveis.
al., 2007 apud BEDETTI; DE LUCA; CYBIS,
2009): A orientação da OMS (WHO, 2004 apud
BEDETTI; DE LUCA; CYBIS, 2009) é que
1) substâncias que resultam da adição
ocorrências de gosto e odor na água po-
de compostos químicos usados para coa-
tável sejam investigadas, porque elas po-
gulação e desinfecção da água, conferin-
dem indicar a presença de alguma forma
do gosto e odor diretamente ou através
de poluição ou mal funcionamento das
de formação de subprodutos;
47

operações de tratamento e distribuição variam entre as pessoas (APHA; AWWA;


da água, podendo ser indicativo da pre- WEF, 2005 apud BEDETTI; DE LUCA; CY-
sença potencial de compostos prejudiciais BIS, 2009).
à saúde.
A OMS não apresenta recomendações
A rejeição à água potável apresenta um quantitativas para constituintes que cau-
efeito indireto sobre a saúde, pois os indi- sem gosto e odor na água sem que haja
víduos podem reduzir a quantidade inge- comprovação de efeitos diretos adversos
rida a um valor menor do que o necessário sobre a saúde. Nos Estados Unidos, indi-
para a satisfação das suas necessidades cadores que apresentam efeitos classifi-
fisiológicas. Para elaboração das guias de cados como estéticos (gosto e odor, cor e
qualidade da água, a OMS considera um formação de espumas), cosméticos (des-
consumo médio de dois litros de água por coloração de pele e dentes) e técnicos
dia, por adulto (WHO, 2004 apud BEDET- (corrosão, deposição e incrustação) são
TI; DE LUCA; CYBIS, 2009). Também, uma recomendados como padrões secundários
água que contenha odores e gosto ofen- de qualidade da água (USEPA, 1992 apud
sivos origina efeitos psicossomáticos, BEDETTI; DE LUCA; CYBIS, 2009). Isto sig-
como dores de cabeça, estresse e distúr- nifica que os contaminantes relacionados
bios estomacais (JARDINE; GIBSON; HRU- a estes efeitos têm seus padrões atendi-
DEY, 1999 apud BEDETTI; DE LUCA; CYBIS, dos de maneira voluntária.
2009). Esses efeitos afetam de maneira
Izaguirre e Devall (1995 apud BEDETTI;
especial certos grupos de pessoas dentro
DE LUCA; CYBIS, 2009) sugerem quatro
do conjunto da população, não devendo
componentes para o controle na fonte de
ser minimizados pelas autoridades res-
problemas de gosto e odor.
ponsáveis pela saúde pública.
1) Definição do problema: nesta
A qualidade da água potável no Brasil
etapa investiga-se se o problema tem ori-
é regulada pela Portaria MS n° 518/2004
gem na fonte de abastecimento, na esta-
(BRASIL, 2004). Esta portaria estabelece
ção de tratamento ou no sistema de dis-
padrões microbiológicos, de turbidez, de
tribuição. Também, se o gosto e odor são
potabilidade para substâncias químicas
de origem biológica ou podem estar rela-
que apresentam risco à saúde, de radio-
cionados a despejos industriais. Procura-
atividade e de aceitação para consumo
-se identificar o composto envolvido.
humano. Gosto e odor estão enquadra-
dos na categoria de padrões de aceitação, 2) Inspeção sanitária: a inspeção sa-
sendo seus valores máximos permitidos nitária na área de drenagem do manancial
(VMP) representados pela expressão de abastecimento de água tem a finali-
“não objetável”, de acordo com o “critério dade de identificar fontes de emissão de
de referência”. Todavia, este critério de contaminantes que possam contribuir, di-
referência não é estabelecido pela por- reta ou indiretamente, para a ocorrência
taria. A expressão não objetável pode ter de episódios de gosto e odor.
diferentes interpretações, uma vez que
os limiares de detecção de gosto e odor
3) Estratégias de controle: este
componente do programa envolve a defi-
48

nição de medidas a serem tomadas para o ORE; WATSON, 2007 apud BEDETTI; DE
controle das causas de gosto e odor. LUCA; CYBIS, 2009).

4) Monitoramento: um programa de A filtração em meio granular objetiva


monitoramento regular é essencial para remover material particulado da água,
acompanhamento da qualidade da água, tais como precipitados de alumínio ou fer-
para avaliação das medidas de controle ro usados na coagulação, partículas de ar-
e para alertar com antecedência sobre o gila, silte e microrganismos. Dessa forma,
surgimento de condições propícias para o compostos dissolvidos odoríferos têm re-
desenvolvimento de episódios de gosto e moção apenas residual na filtração granu-
odor. lar. No caso particular de filtros lentos de
areia, desenvolve-se, junto à superfície,
Os processos de tratamento usados
uma camada biológica que pode contribuir
para remoção de gosto e odor se classifi-
para a oxidação de compostos odoríferos.
cam em duas categorias: (1) os que des-
troem ou modificam os compostos res- Os processos de oxidação química e
ponsáveis pelo problema; e, (2) os que biológica objetivam a conversão de com-
removem os compostos da água (HOEHN; postos indesejáveis presentes na água,
MALLEAVILLE, 1995 apud BEDETTI; DE em outros de características mais aceitá-
LUCA; CYBIS, 2009). veis.

Processos de oxidação enquadram-se Adsorção em carvão ativado em pó


no primeiro grupo, enquanto aeração e (CAP) ou granular (CAG) é consistente-
adsorção em carvão ativado pertencem mente citada como um dos processos
ao segundo. Processos biológicos incluem indicados para a remoção de compos-
mecanismos que envolvem transforma- tos causadores de gosto e odor na água.
ção e remoção, desta forma classificam- Adsorção envolve a acumulação de uma
-se em ambas as categorias. substância que se encontra dissolvida na
água na interface com o sólido.
A escolha dos processos mais adequa-
dos, assim como os pontos de adição de MWH (2005 apud BEDETTI; DE LUCA;
produtos químicos, é otimizada por meio CYBIS, 2009) cita as vantagens e desvan-
de ensaios em planta piloto e jartestes, tagens da adição de carvão ativado em
uma vez que as características da água de pó em quatro pontos do sistema de tra-
abastecimento tem grande influência na tamento de água: (1) junto à tomada de
efetividade dos processos de tratamento água; (2) no tanque de mistura rápida; (3)
(Di BERNARDO; DANTAS, 2005). na entrada do filtro; e, (4) em reator de
contato entre a suspensão de carvão em
Os processos de tratamento constitu-
pó e água bruta, precedendo a mistura
ídos por coagulação, floculação, decan-
rápida. Destes, o menos indicado é a en-
tação, filtração e pós-cloração são pouco
trada do filtro, pois há a possibilidade de
eficientes na remoção de muitos compos-
passagem do carvão pelo meio granular,
tos que causam gosto e odor na água (HO-
comprometendo a qualidade do efluente.
EHN; MALLEAVIALLE, 1995; DUGUET et
Baseados em estudos realizados, Graham
al., 1995; WESTERHOFF et al., 2005; MO-
49

et al. (2000 apud BEDETTI; DE LUCA; CY- A aplicação de sistemas de membranas


BIS, 2009) recomendam que a aplicação ao tratamento de água teve início no co-
de CAP seja feita antes da coagulação. meço da década de 1960, com o uso de os-
mose reversa para dessalinização de água
A performance da filtração em carvão
do mar. Nas décadas seguintes, iniciaram-
ativado granular é influenciada pela dis-
-se aplicações da nanofiltração para re-
tribuição do tamanho de partículas, pela
moção de dureza de águas subterrâneas
lavagem em contracorrente e pela carga
no Estado da Flórida, EUA, e remoção de
hidráulica. O tamanho de partículas in-
cor de águas de abastecimento originadas
fluencia a taxa de adsorção e a perda de
de regiões de turfas, na Noruega.
carga no filtro. A lavagem de filtros de
carvão diminui sua eficiência e desinte- Em algumas ocasiões a fonte de abas-
gra a zona de transferência de massa do tecimento poderá experimentar altera-
filtro (ZTM é a extensão do leito granular ções intensas na qualidade da água. A in-
necessária para a transferência do conta- tensidade e a frequência destes episódios
minante do líquido para o carvão). A carga devem ser cuidadosamente estudadas,
hidráulica afeta a perda de carga no filtro. reportadas e armazenadas pela conces-
O CAG deve ser usado após a filtração gra- sionária dos serviços de saneamento, pois
nular convencional, devendo receber so- ajudarão nas decisões futuras quando es-
mente águas de baixa turbidez. tes eventos se repetirem.

Aeração e dessorção gasosa são pro- A variação na qualidade da água do ma-


cessos físicos aplicados com as finalidades nancial poderá se estender ou não à água
de absorção ou remoção de gases para/ou potável, dependendo da capacidade dos
da água. Esses processos têm várias apli- processos de tratamento existentes em
cações no tratamento de água, tais como remover os contaminantes ao nível con-
a absorção de 03 e Cl2 e a dessorção de siderado seguro para consumo. No caso
CO2 e H2S. de episódios de gosto e odor causados
por compostos como 2-MIB e geosmina, o
A tecnologia de separação por membra-
mais usual é que a água seja rejeitada mais
nas e suas aplicações no tratamento de
por razões estéticas do que pela presença
água é apresentada por Mierzwa (2006).
de compostos que tragam risco imediato
Dependendo da capacidade e da forma de
à saúde. Desta forma, é muito importan-
separação dos contaminantes, e do tipo
te que os serviços de saneamento esta-
e intensidade da força motriz utilizada,
beleçam planos de emergência para os
os processos são classificados em micro-
períodos críticos de qualidade da água
filtração, ultrafiltração, nanofiltração,
do manancial. Estes planos devem conter
osmose reversa e eletrodiálise. Nos qua-
protocolos para avaliação e diagnóstico
tro primeiros, a pressão hidráulica força
da qualidade da água para subsidiarem to-
a passagem do líquido pelas membranas,
madas de decisão com o objetivo de con-
ficando retidas partículas com tamanhos
trolar o problema. Estas medidas devem
que excedam o diâmetro dos poros. Na
se inserir no contexto do Plano de Segu-
eletrodiálise, a força motriz de separação
rança da Água do sistema de abasteci-
é a corrente elétrica.
50

mento (BEDETTI; DE LUCA; CYBIS, 2009). pela situação, sem que haja a desconti-
nuidade do serviço de abastecimento de
A variação de qualidade da água do ma-
água potável (BEDETTI; DE LUCA; CYBIS,
nancial poderá ser devida a compostos
2009).
originados do metabolismo dos microrga-
nismos ou por compostos químicos espe-
cíficos descartados de maneira irregular
por indústrias.

Também é possível que haja acidentes


que causem derramamentos de substân-
cias indesejáveis na água. Estes aciden-
tes podem ocorrer em plantas industriais,
em estações de tratamento de águas re-
siduárias ou em vias de transporte rodo-
viário, ferroviário e hidroviário. Boleda et
al. (2007 apud BEDETTI; DE LUCA; CYBIS,
2009) relatam episódios de contaminação
de fontes de água superficial e subterrâ-
nea da cidade de Barcelona, na Espanha,
por despejos de creosoto, 2-EDD, diacetil
e diciclopentadienos. Estudos cromato-
gráficos permitiram identificar a origem
dos despejos como sendo de indústrias de
preservação de madeira, de resinas quí-
micas, de papel e descarte de gasolina no
solo, respectivamente.

A determinação da causa do evento de


gosto e odor é importante, pois muitas
substâncias, além de conferirem estas
características à água, também são tóxi-
cas. No caso de substâncias tóxicas es-
tarem presentes em concentrações que
colocam em risco à saúde da população,
deverá ser tomada uma decisão de inter-
romper o suprimento de água potável de
modo temporário até que o corpo d’água
volte a apresentar qualidade segura. Para
o caso de compostos que causem rejeição
à água, mas que não sejam tóxicos aos ní-
veis presentes no manancial, as conces-
sionárias deverão encontrar alternativas
para minimizar os transtornos trazidos
51
UNIDADE 7 - Manejo de Águas Pluviais
Urbanas
Segundo Righetto; Moreira e Sales real, em função de anomalias inevitáveis
(2009), o manejo das águas pluviais ur- naturais ou geradas em função da dinâmi-
banas se inicia pelo levantamento e co- ca de ocupação do espaço urbano.
nhecimento do estado atual de uma sub-
Relativo ao aspecto de qualidade das
-bacia hidrográfica urbana. Qual é ou era
águas pluviais, o manejo deve ser realiza-
o sistema natural de drenagem da área e
do quanto à utilização das águas pluviais
quais interferências ocorreram ao longo
como recursos hídricos e seu aprovei-
do tempo com relação ao uso e ocupação
tamento no abastecimento de água, na
do solo? Como as edificações e pavimen-
recarga de aquífero, em jardinagem, na
tações foram executadas e que cuidados
limpeza pública, etc. A separação das pri-
existem ou existiram com relação à gera-
meiras águas superficiais geradas pelas
ção de deflúvios superficiais durante as
chuvas, em áreas urbanas, é um mecanis-
ocorrências de chuvas intensas?
mo promissor quanto à real utilização das
A segunda etapa se volta ao diagnós- águas de chuvas captadas pelas bacias hi-
tico da infraestrutura de drenagem exis- drográficas urbanas.
tente, do espaço construído e planejado,
As vazões de cheia produzidas na ba-
de diretrizes estabelecidas pelo Poder Pú-
cia hidrográfica ou localmente no espaço
blico e da eficácia quanto ao cumprimento
urbano podem ser bastante alteradas em
das leis e normas associadas à ocupação
função de um manejo eficiente do contro-
do solo e aos impactos ambientais relacio-
le dos deflúvios em suas fontes geradoras
nados ao saneamento básico da cidade.
e de pequenas estruturas de controle em
Duas vertentes de trabalho dão conti- determinados pontos da bacia, particular-
nuidade às atividades voltadas ao mane- mente próximos às vias públicas e fundos
jo das águas pluviais urbanas. A primeira de vale.
trata da infraestrutura, dos elementos hi-
O controle da geração de deflúvios em
dráulicos estruturais, das práticas de con-
lotes e condomínios habitacionais pode
tenção e transporte das águas pluviais,
ser eficientemente realizado por meio de
tanto nas fontes geradoras de deflúvios
um paisagismo que integre adequada-
superficiais, como lotes, praças e parques,
mente as áreas impermeabilizadas com as
quanto no sistema viário, dos sistemas de
áreas verdes. Cisternas e micro reserva-
micro e macrodrenagem, dos sistemas de
tórios de infiltração são componentes hi-
transposição, do carreamento e deposi-
dráulicos eficazes para reduzir os efluen-
ção de sedimentos e resíduos sólidos, etc.
tes pluviais de áreas urbanizadas, e estes
A segunda trata dos dispositivos legais
podem ser amplamente implementados
e de administração da infraestrutura de
mediante incentivos do Poder Público com
drenagem, envolvendo a operacionalida-
relação a abatimentos no Imposto Predial
de do sistema, a manutenção, a fiscaliza-
e Territorial Urbano (IPTU), em função da
ção e medidas de remediação em tempo
redução da contribuição de deflúvios e,
52

consequentemente, da atenuação das das contra alagamentos (RIGHETTO; MO-


cheias no sistema de macrodrenagem. REIRA; SALES, 2009).
Evidentemente, de nada vale essas im-
O transporte de sedimentos em siste-
plementações se não houver mecanismos
mas de drenagem é um indicador signi-
sistemáticos de divulgação, de fiscaliza-
ficativo da contaminação das águas plu-
ção e de manutenção continuada.
viais, pois revela a capacidade erosiva e
Sabe-se que as vias públicas são gran- de transporte dos deflúvios superficiais e
des geradoras de deflúvios decorrentes a incorporação de contaminantes deposi-
da elevada impermeabilização do terreno tados nas superfícies dos terrenos e vias
e de descompensações de declividades, públicas.
ora elevadas, ora inexistentes. Nos bai-
Nos baixios, as canalizações de drena-
xios, formam-se alagamentos inconve-
gem podem se tornar rapidamente obs-
nientes ao trânsito de veículo e pedestre,
truídas, podendo comprometer seriamen-
e a inadequação de topografia local, mui-
te a capacidade de drenagem da área. Em
tas vezes de fácil solução, é ignorada pelo
regiões litorâneas, as baixas declividades
órgão público responsável. A introdução
sempre reinantes obrigam a se dimensio-
de trincheiras de infiltração no calçamen-
nar galerias de grandes dimensões. No
to e um possível sistema de recalque re-
entanto, não ocorrendo a manutenção
solveriam de imediato um problema local,
e a limpeza frequente dessas galerias, a
gerador de insatisfação aos moradores
obstrução por depósitos de sedimentos
locais e transeuntes. É um exemplo típi-
pode, dramaticamente, ocasionar gran-
co de ausência da prática de manejo das
des alagamentos pela incapacidade de
águas pluviais urbanas.
veiculação das águas pelas galerias e pela
Quanto à infraestrutura de drenagem falsa confiabilidade de funcionamento do
existente, torna-se imprescindível a ava- sistema.
liação continuada da capacidade do siste-
Estudos e pesquisas em hidrologia ur-
ma frente ao avanço de ocupação do es-
bana são essenciais para o conhecimento
paço urbano, ao uso e ocupação do solo,
em maior profundidade dos problemas
às impermeabilizações de terrenos, à
de águas urbanas. Além do levantamen-
inexistência de medidas compensatórias,
to de parâmetros, observações de even-
etc. Dependendo da magnitude e comple-
tos hidrológicos e pesquisas com caráter
xidade da bacia de drenagem e do avan-
de inovação buscam novas abordagens e
ço insatisfatório de regulamentações e
novos questionamentos que possibilitem
fiscalizações, é preciso adequar a infra-
prosseguir na evolução do entendimen-
estrutura de drenagem existente com a
to do espaço urbano, com aplicações de
introdução de elementos hidráulicos que
novas tecnologias e conceituações atu-
permitam minimizar os efeitos danosos
alizadas face à evolução tecnológica e
das enchentes, procurando-se ampliar os
às complexidades sempre crescentes do
períodos de retornos a partir dos quais o
uso e ocupação no ambiente urbano. Um
sistema se torna inadequado, pondo em
sistema de monitoramento hidrológico
risco as áreas circunvizinhas desprotegi-
automático devidamente protegido é um
53

desafio ainda ausente na imensa maioria difusa.


das cidades brasileiras com problemas de
Nas ultimas décadas, a crescente ne-
drenagem.
cessidade de enfrentar os problemas da
Pelas facilidades sempre crescentes de água pluvial no meio urbano fez surgir o
uso de sistemas de geoprocessamento, conceito de sistemas não convencionais
não se concebe, atualmente, uma cidade de controle na fonte, com ênfase no ma-
de porte médio ou grande que não possua nejo sustentável da água de drenagem.
um cadastro informatizado atualizado de Esses sistemas compreendem medidas
todo o espaço urbano, integrando os sis- que estabelecem soluções práticas para
temas: viário; de abastecimento de água; o problema dos deflúvios urbanos, com
de esgotamento sanitário; de drenagem a implantação de sistemas de controle
urbana; da distribuição de eletricidade; da próximo do local de geração do deflúvio,
logística de coleta dos resíduos sólidos, e ainda envolvem medidas estruturais e
etc. não estruturais. As medidas não estrutu-
rais envolvem ações operacionais e edu-
A evolução tecnológica e a qualidade
cacionais, além de medidas de controle.
de vida da cidade são fortemente senti-
Integram um conjunto de ações locais es-
das a partir de uma base de dados confi-
pecíficas, visando promover a retenção e
ável e suficientemente abrangente. Com
infiltração do escoamento, com o controle
essa base de dados, as discussões e as
dos impactos da urbanização na drena-
formulações dos problemas da cidade são
gem (RIGHETTO; MOREIRA; SALES, 2009).
muito mais claramente evidenciadas, e as
soluções a serem desenvolvidas passam O objetivo dos sistemas de controle na
facilmente pela compreensão dos técni- fonte é preservar as condições hidrológi-
cos, dos políticos e da população em geral. cas da bacia pré-urbanizada, reduzindo os
impactos para um nível aceitável. Assim,
O manejo da água pluvial no meio urba-
o estabelecimento de um sistema de con-
no deve proporcionar qualidade de vida
trole não convencional reflete as condi-
aos cidadãos, reduzindo a um nível aceitá-
ções físicas do local, procurando observar
vel os riscos de inundação oriundos da im-
os seguintes aspectos:
permeabilização do solo. Ao mesmo tem-
po, o uso sustentável da água envolve a disponibilidade de espaço físico para
elaboração de políticas de uso e ocupação implantação dos dispositivos, aspecto im-
do solo, com cenários de desenvolvimen- portante especialmente no caso de áreas
to e planejamento estratégico de médio e densamente urbanizadas;
longo prazo.
definição dos dispositivos mais ade-
Nesse contexto, a concepção de sis- quados em função dos tipos de poluentes
temas destinados a reduzir os efeitos da presentes no escoamento, com a verifica-
urbanização na quantidade e qualidade da ção continuada da eficiência de funciona-
água escoada tem como objetivo aumen- mento;
tar o armazenamento, reduzindo o lança-
o comportamento do lençol freático
mento de deflúvios e da carga de poluição
na estação chuvosa – informação impor-
54

tante no caso de sistemas de infiltração; Os sistemas não estruturais utilizam


tem influência direta na capacidade de ar- meios naturais para reduzir a geração do
mazenamento; escoamento e a carga poluidora; não con-
templa obras civis, mas envolve ações de
levantamento do perfil litológico do
cunho social para modificar padrões de
local; solos com alta capacidade de perco-
comportamento da população, tais como
lação são necessários ao funcionamento
meios legais, sanções econômicas e pro-
de sistemas de infiltração da água no solo;
gramas educacionais; são denominados
análise dos custos de implantação e sistemas de controle na fonte, pois atuam
manutenção da estrutura; considerar a no local ou próximo das fontes de escoa-
disponibilidade de material no local, facili- mento, estabelecendo critérios de con-
dade de manutenção, eficiência de remo- trole do uso e ocupação do solo nessas
ção de poluentes; disponibilidade e trei- áreas.
namento de pessoal técnico. (RIGHETTO;
Os sistemas estruturais, por sua vez,
MOREIRA; SALES, 2009).
englobam obras de engenharia destina-
Observa-se, assim, que a adoção de das à retenção temporária do escoamen-
um determinado dispositivo de controle to, podendo-se promover o tratamento da
do escoamento exige o estabelecimento água. Esses sistemas permitem o controle
de critérios de ordem prática. A sua im- qualiquantitativo da vazão gerada na ba-
plantação tem o objetivo de absorver os cia, seja pelo armazenamento temporário
impactos negativos de uso e ocupação do do volume escoado, seja pela redução da
solo na bacia. Assim, a solução adotada carga poluidora.
deve atender às necessidades locais, con-
Em anos recentes, vem aumentando a
siderando os prós e contras das tecnolo-
importância das medidas preventivas de
gias disponíveis.
caráter não estrutural, tanto pela efici-
ência em solucionar o problema na fonte
7.1 Tipos de sistemas de como pela pulverização dos custos com
controle não convencionais obras de drenagem, evitando a necessi-
Um sistema não convencional de con- dade de implantação de obras mais caras
trole é usado como solução frente ao au- no futuro.
mento do escoamento e da carga de po- As medidas não estruturais englobam
luição difusa, possibilitando melhorar as um conjunto de regras de controle do uso
condições de drenagem e de qualidade da e de ocupação do solo. O Plano Diretor de
água com a melhor relação custo-benefí- Drenagem Urbana (PDDU) estabelece re-
cio possível. Os sistemas não convencio- gras que visam o controle e a prevenção,
nais usados no manejo da água em áreas combinando medidas não estruturais e
urbanizadas são classificados em dois ti- estruturais nos cenários de ocupação
pos: sistemas não estruturais ou de con- atual e futura. As medidas compensató-
trole do escoamento na fonte e sistemas rias de controle do escoamento na fonte
estruturais com eventual tratamento da englobam quatro tipos de ações:
água contaminada (TUCCI; ORSINI, 2005).
55

1. planejamento, projeto e implanta- a água;


ção de estruturas de retenção e armaze-
4. regulamentação, vigilância e meca-
namento;
nismos de sanções.
2. manutenção adequada das super-
As medidas não estruturais de controle
fícies permeáveis e impermeáveis;
do escoamento na fonte podem ser agru-
3. educação e treinamento como for- padas em categorias, conforme mostra a
ma de conscientizará população para os tabela abaixo:
problemas ambientais, e sua relação com
Categoria de medidas não estruturais

Fonte: RIGHETTO; MOREIRA; SALES (2009, p. 31).

Os sistemas estruturais compõem uma duzindo os impactos a jusante, uma vez


variedade de estruturas, cuja finalidade é que elas funcionam como estruturas de
a de deter e/ou transportar os deflúvios regulação (RIGHETTO; MOREIRA, SALES,
gerados na bacia e também de propiciar 2009).
a infiltração localizada. Essas obras têm
Em alguns países, os sistemas estrutu-
a finalidade de reduzir os impactos pro-
rais são usados no tratamento da água es-
vocados pela urbanização no hidrograma
coada, propiciando a remoção de poluen-
resultante.
tes presentes na água. Em alguns casos,
As bacias de detenção, por exemplo, o dispositivo de tratamento da água está
atuam amortecendo a vazão máxima, re- localizado na entrada da rede de drena-
56

gem; em outros, no ponto de lançamento das categorias funcionais, como mostra a


no corpo receptor. Os sistemas estrutu- tabela abaixo:
rais podem ser classificados em função
Categoria de medidas estruturais

Fonte: RIGHETTO; MOREIRA; SALES (2009, p. 37).


Tratamento e uso da água são assuntos
que não se esgotam! Pesquisas em gestão
de águas pluviais urbanas é um campo de
trabalho imenso, fértil, carente de profis-
sionais para buscarem condições ótimas
de sistemas de drenagem para as cidades
brasileiras.

Ainda observamos pouco trabalho em


termos de operação, manutenção e oti-
mização de regras operacionais dos siste-
mas estruturais de drenagem. Tampouco
as regulamentações e as fiscalizações
são cumpridas e realizadas por meio de
mecanismos de educação ambiental, de
sanções às infrações e de avaliações sis-
temáticas do desenvolvimento de áreas
urbanizadas e do impacto sobre a drena-
gem.

Fica a dica para maiores pesquisas e


quiçá investir nesse campo tão carente de
soluções.
57

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