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SUMÁRIO DO VOLUME

HISTÓRIA
1. Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes 5
2. Os primeiros anos da República no Brasil 23
3. Crise e ruptura: os últimos anos da República Velha 46
História 3
SUMÁRIO COMPLETO
VOLUME 1

1. Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes


2. Os primeiros anos da República no Brasil
3. Crise e Ruptura: os últimos anos da República Velha

VOLUME 2

4. Neocolonialismo e Primeira Guerra Mundial


5. Contexto Nacional: do Movimento Militar de 1930 ao Golpe Militar
6. Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria

VOLUME 3

7. Movimentos de resistência ao Capitalismo e ao Regime Militar no Brasil


8. Regimes militares na América Latina
9. O processo histórico contemporâneo no Brasil
4 História
História 5
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

1. ESTRANGEIROS QUE FIZERAM O BRASIL: OS IMIGRANTES

O povo brasileiro tem como característica uma

Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 05 jul. 2010.


diversidade étnica, cultural e religiosa que, em poucos
lugares do mundo, pode-se perceber. A imigração
que ocorreu no país, principalmente entre 1870 e
1930, levou à formação de um povo com inúmeras
faces.
Porém, questionamos: quais os motivos que
provocaram essa imigração? O que gerou a saída de
milhões de pessoas de suas terras e o que ocasionou
a busca de novos caminhos, em lugares dos quais se
sabia pouco ou até nada?
A Europa foi responsável pela maior parte
dos imigrantes que aqui chegaram, devido a uma Desembarque
século XX.
de imigrantes no porto de Santos, início do

conjuntura que tornava a vida de trabalhadores


bastante difícil. Primeiramente, pode-se mencionar que houve um aumento demográfico no Velho
Mundo, devido à prática de novas medidas de higiene e à vacinação (notadamente a antivariólica), que
levaram à diminuição da mortalidade. Esse aumento populacional conduziu também ao desemprego,
gerando miséria e pobreza. Além desse fator, houve também as crises agrícolas, que provocavam a falta de
alimento e, consequentemente, a fome.
Outro fator que impulsionou a imigração foi a Revolução Industrial Europeia, que ocasionou a
substituição da mão de obra humana por inovações tecnológicas (máquinas, por exemplo).
O Brasil, por sua vez, necessitava de mão de obra para ocupar o espaço deixado pelo escravo, dando
continuidade à ocupação do território. Atraídos por uma propaganda de enriquecimento fácil, de ascensão
social e econômica, os imigrantes desembarcavam e aqui se deparavam com a dura realidade de horas de
trabalho em más condições e o sonho da prosperidade financeira era algo distante para a maioria.

Disponível em: <www.laugalaekjarskoli.is>. Acesso em: 05 jul. 2010.


O trabalho infantil nas fábricas.
6 História
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Dentre os imigrantes que para o Brasil vieram, Atualmente, as atividades dos seus descendentes
estavam os alemães cujo maior fluxo deu-se após a são as mais variadas, como industriais, profissionais
Independência, dentro de um plano governamental liberais e empreendedores diversos. Ainda mantêm
de ocupação do Sul do País, onde poderia ser sua cultura e preservam o judaísmo.
desenvolvida a agricultura. A primeira colônia Os sírios e libaneses também migraram
alemã foi fundada em 1824, com o nome de São em maior quantidade no final do século XIX.
Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Posteriormente Fixaram-se, também, no Estado de São Paulo, e
outras colônias formaram-se. Atualmente, dedicaram-se às atividades comerciais. No início
as colônias mais conhecidas são aquelas que trabalhavam como mascates, indo às cidades do
passaram por um processo de desenvolvimento interior oferecendo suas mercadorias.
econômico com a industrialização, como é o caso Depois, abriram seus próprios
de Blumenau, Joinville e São Leopoldo, que ainda estabelecimentos comerciais e tiveram importante
conservam características da cultura original. papel no comércio da borracha. Os espanhóis
Santa Catarina é considerado o mais alemão dos foram a terceira maior etnia que imigrou para
Estados do Brasil. Há uma estimativa de que 35% o Brasil a partir de 1880, principalmente para
da sua população é de ascendência alemã. Muitas trabalhar nas fazendas de café no Estado de São
cidades do Sul preservam a cultura, a arquitetura, Paulo. A partir da década de 1920, ampliaram
a língua e as festas populares alemãs. suas atividades para a área urbana, incluindo os
setores de “ferro-velho” e de restaurantes.
Em suma, o processo imigratório produziu,
no Brasil, uma formação étnica e cultural sem
Disponível em: <www.godela.com.br>. Acesso em: 05 jul. 2010.

precedentes. Nas características físicas e na alma


do povo brasileiro, estão incorporados sinais dos
quatro cantos do mundo. Um país formado por
multiplicidade de cores e sabores e com uma
cultura de imenso valor histórico.

Trabalhando com imagens


Observe esta imagem e perceba a
diversidade cultural representada.

A Oktoberfest, em Blumenau, Santa


Catarina, reúne anualmente milhares de
turistas. A festa é uma forma de preservar
e divulgar tradições alemãs no Sul do País.

Além da imigração alemã, houve também


a judaica, que foi mais expressiva no fim do
século XIX. Porém, a partir dos anos 1920 e,
principalmente, na década de 1930, devido à
perseguição aos judeus pelos nazistas, o número
de imigrantes cresceu consideravelmente. Eles
se estruturaram, em sua maioria, no Estado
de São Paulo. Na capital paulista, o bairro do
Bom Retiro tornou-se reduto desses imigrantes
Adaptado para o Acervo CNEC
que trabalharam em atividades comerciais.
História 7
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

1 De acordo com a imagem, que aspectos


culturais você pôde perceber?

2 Pesquise, nas mais diversas fontes, sobre a


origem das culturas branca, negra e indígena.

3 Em sua cidade ou região, há variedade cultural?


Qual a origem da cultura da sua região?

Quando os portugueses chegaram às terras


brasileiras, encontraram-se com os índios. Após
a sua fixação nessas terras, tentaram utilizar o
índio como mão de obra, porém não obtiveram
o resultado esperado. Então passaram a usar a
mão de obra escrava provinda do continente
africano.
Com a extinção do tráfico negreiro e a
abolição da escravatura, dentre outros motivos, HOUËL, Jean-Pierre. Prise de La Bastille
imigrantes vindos de diversas partes da Europa A queda da Bastilha, fortaleza que representava o poder do
Absolutismo, marcou o início da Revolução Francesa.
fixaram-se no Brasil, reforçando a diversidade
cultural. A partir do somatório das culturas
Ocorreu, nesse período, a transição do
desses povos, formou-se a brasileira que, mesmo
Feudalismo para o Capitalismo; do Absolutismo
não sendo una, representa a Nação.
para formas governamentais mais democráticas,
Mas, no decorrer da história do Brasil, o
como, por exemplo, a República, e, no meio
País sempre esteve ligado aos acontecimentos
europeus. No século XVIII, a França vivenciou artístico, as influências dos pensadores franceses
um período de profunda insatisfação popular mudaram as produções, abandonando a poética
que levou à eclosão da Revolução Francesa, em neoclássica, um estilo voltado para o equilíbrio e
1789, cujos ideais eram de liberdade, igualdade a simplicidade.
e fraternidade. Esse movimento deixou claro que Surgia um novo estilo, o Romantismo.
as antigas práticas sociais, políticas e econômicas Para compreendê-lo melhor, entenda que
estavam sendo rejeitadas. O desejo era romper Romantismo com letra maiúscula refere-
com o Regime Absolutista, que se baseava se ao movimento artístico; já o com letra
no direito divino de governar, ou seja, os reis minúscula, designa um sentimento afetivo, um
afirmavam que Deus lhes havia concedido o comportamento.
poder, e o Estado era soberano nas decisões e no O historiador Nelson Werneck Sodré reforça
estabelecimento de leis. Os reis contavam com o a ideia de que o Romantismo tem ligações com o
apoio do clero e da nobreza, os quais usufruíam período histórico quando diz:
das benesses do Estado, enquanto o povo
“...o advento do Romantismo, pois, só tem uma
sofria com a má distribuição de renda e com os
explicação clara e profunda, a explicação objetiva,
impostos cobrados pelos nobres e clérigos. quando subordinada ao quadro histórico em que
As ideias iluministas influenciaram processou.”
grandemente os movimentos da Revolução NICOLA, José de. Literatura Brasileira, das origens aos nossos dias.
São Paulo: Scipione, 1998
Francesa. Os intelectuais, como John Locke,
Montesquieu e Voltaire, defenderam e
Essa nova tendência, que teve início na Europa,
difundiram a ideia de liberdade de pensamento
no século XVIII, foi percebida na literatura, na
e de ação, os direitos dos cidadãos e a igualdade
pintura, na música, nas artes plásticas e, de forma
social.
menos expressiva, na arquitetura.
8 História
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Os artistas abandonaram a arte voltada para


a nobreza, rejeitaram os preceitos de calma,
harmonia, equilíbrio, racionalidade que eram
típicos do Classicismo e do Neoclassicismo.
Os artistas românticos valorizaram o
sentimento, a emoção, a individualidade,
a liberdade de criação, o amor platônico, a
morte heroica na guerra e a espontaneidade.
Eles valorizaram os conceitos de pátria e de
República; enalteceram o que era nacional e
folclórico. Isso implicou conhecer a própria
terra, sua cultura e seus valores.
Através do nacionalismo, os povos de mesma
origem e cultura procuravam se unir; assim,
surgiu o conceito de nação. Dessa forma, os Delacroix, Eugène. A Liberdade Guiando o Povo.
povos começaram a valorizar suas singularidades Após a derrota de Napoleão na Batalha de
e seu passado histórico, passando a defender, Waterloo e a sua deportação para a ilha de Santa
também, sua independência nacional. A Helena, onde faleceu, as nações europeias, entre
ideia de que o rei representava o Estado era elas Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia, reuniram-
abandonada, sendo assim, defendiam também se no Congresso de Viena para decidir o futuro do
a escolha da forma de governo e um território continente. Boa parte da Europa estava em ruínas,
unificado. e as nações queriam tirar proveitos, reorganizando
A Inglaterra destacou-se com artistas o espaço territorial.
O objetivo do Congresso era retomar as antigas
românticos, porém quem divulgou e fez
práticas absolutistas de antes da Revolução Francesa
espalhar o movimento para outros lugares, sob um princípio legítimo. Eles defendiam a tese
como o Brasil, foram os artistas franceses. de que os governantes legítimos seriam aqueles
No período romântico, as músicas foram que descendiam das famílias dinásticas conhecidas
compostas com o intuito de emocionar o público como os Romanov (Rússia), Bourbon (França),
e levá-lo para as raízes regionais, folclóricas Habsburgo (Áustria), Hohenzollern (Prússia),
e nacionalistas. Muitos desses artistas, como Bragança (Portugal), entre outros.
Beethoven, Rossini, Verdi, Berlioz, Wagner, Assim, o Congresso restaurou o Absolutismo,
Liszt, Tchaikovsky são conhecidos até hoje. retornando as dinastias destituídas aos seus
A pintura foi um meio que difundiu com tronos. Houve uma divisão territorial, um novo
grande propriedade o Romantismo. Ela trazia desenho do mapa da Europa, porém tomaram o
cuidado de haver um equilíbrio territorial entre as
em si uma narração que era transmitida com
nações a fim de evitar o fortalecimento de uma
forte impacto. Eugène Delacroix, nascido no delas. Contudo a Áustria, a Prússia, a Rússia e a
país das revoluções, a França, foi um pintor Inglaterra receberam direitos especiais.
visto como revolucionário. A Inglaterra foi grandemente beneficiada. Ela
Entre suas obras, a mais conhecida é A recebeu o direito de livre navegação dos mares e
Liberdade Guiando o Povo, de 1830. Nesse rios, suas relações comerciais desenvolveram-se.
trabalho, o pintor retrata a multidão nas ruas, Para assegurar a paz e o cumprimento das
mobilizada pela ideia de conquistar a liberdade decisões tomadas no Congresso, foi criada a
e o nacionalismo na França. Era a luta do Santa Aliança, que nada mais era do que uma
povo para pôr fim ao Absolutismo, que havia força militar cuja função era realizar intervenções
armadas contra movimentos revolucionários e
retornado ao País, após o Congresso de Viena,
sufocar qualquer anseio de revolta e movimentos
em 1814, que devolveu o poder à Dinastia dos
nacionalistas que não aceitassem as imposições do
Bourbon. Congresso e emancipacionistas (movimentos nas
colônias pela independência).
História 9
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Na França, retomou o poder a Dinastia Alguns fracassaram, e a população não


dos Bourbon, com Luís XVIII. Uma nova conseguiu se libertar dos regimes absolutistas,
constituição foi redigida determinando que como é o caso da Alemanha, da Itália e da Polônia.
o poder executivo ficasse nas mãos do rei; o Porém, em alguns países, os manifestantes
legislativo seria dividido entre duas câmaras: a conseguiram implantar novos regimes
Câmara dos Pares, em que os deputados seriam governamentais. Outros conquistaram sua
nomeados pelo rei e teriam cargos vitalícios e independência: a Bélgica, que foi anexada à
hereditários e, a Câmara dos Deputados, que Holanda em 1815, tornou-se independente em
eram eleitos segundo a renda individual (voto 1831, e a Grécia, que estava sob o domínio dos
censitário). O governo de Luís XVIII apesar de Otomanos, também teve sua independência em
perseguir duramente os bonapartistas adotou 1832.
uma postura moderada em sua relação com a
alta burguesia e assim evitou confrontos mais
sérios em seu reinado.
Após a morte de Luís XVIII, quem assumiu Saiba mais
o trono foi Carlos X, que era líder de um grupo Victor Hugo (1802-1885) é considerado
profundamente reacionário conhecido como o maior escritor romântico da França. Sua
ultra-realistas. O rei tentou gradualmente vida é marcada pelo intenso envolvimento
restaurar o absolutismo na França. Em 1830, com os problemas da sociedade. Em 1848,
decidiu extinguir a liberdade de imprensa e por exemplo, o poeta foi favorável à adoção
alterar a Constituição do país. da República e combateu o imperador
Napoleão III. Consequentemente, passou 20
anos exilado. Entre suas obras, destaca-se a
coletânea Folhas de Outono e o romance Notre
Dame de Paris, ambos escritos em 1831. Mas o
seu trabalho que melhor registrou os problemas
sociais franceses foi Os Miseráveis, escrito em
1862.
Nessa obra, Victor Hugo descreve a vida do
personagem Jean Valjean, um camponês que,
levado pelas circunstâncias, comete um crime.
O intuito do escritor é trazer à tona uma situação
social que deveria ser encarada pela sociedade
em geral e, principalmente, pelas autoridades
políticas da época.

Veja o seguinte trecho de Os Miseráveis:

Episódio da revolução de 1830 na Bélgica.


“Jean Valjean, de humilde origem
camponesa, ficara órfão de pai e mãe ainda
Essas atitudes desencadearam uma nova pequeno e foi recolhido por uma irmã mais
revolução na França. Em 1830, ocorreram revoltas, velha, casada e com sete filhos. Enviuvando
que duraram três dias e ficaram conhecidas como a irmã, passou a arrimo da família, e, assim,
consumiu a mocidade em trabalhos rudes e mal
os três dias gloriosos. Ao final, os parisienses
remunerados (...). Num inverno especialmente
depuseram o rei Carlos X e, em seu lugar, assumiu rigoroso, perdeu o emprego, e a fome bateu
o Duque de Orléans, Luís Filipe de Orléans, à porta da miserável família. Desesperado,
considerado “O Rei Burguês”. recorreu ao crime: quebrou a vitrina de uma
O grande escritor Victor Hugo, através da padaria para roubar um pão (...). Levado aos
literatura, relatou a vida da população nesse período tribunais por crime de roubo e arrombamento,
revolucionário. Através do livro mundialmente foi condenado a cinco anos de galés. (...)
Mesmo na sua ignorância, tinha consciência
conhecido, Os Miseráveis, ele narra a situação
de que o castigo que lhe fora imposto era duro
política, social e econômica da França após 1830. demais para a natureza de sua falta e que o pão
Foi nesse clima que eclodiram movimentos que roubara para matar a fome de uma família
contra os regimes políticos em várias regiões da inteira não podia justificar os longos anos de
Europa, na década de 1830. prisão a que tinha sido condenado.”
10 História
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Através desse trecho, é possível comprovar


a situação de extrema miséria vivenciada
pelos franceses. Victor Hugo a utiliza como
justificativa para o roubo promovido por seu
personagem, atitude comum também na atual
sociedade.

4 Após a leitura do texto, descreva quais eram as


condições sociais e econômicas desse cidadão
francês.

Outro artista que abalou a sociedade com suas


obras foi o espanhol Francisco de Goya (1746-
1828). Goya retratou a família real espanhola,
as personalidades da corte, as pessoas do povo,
os horrores das guerras e as cenas históricas
decorrentes das lutas pela liberdade.
Um dos exemplos de suas obras que retrata
cenas históricas é Os Fuzilamentos de 3 de maio de
1808. No ano de 1808, a Espanha era controlada
pelas forças napoleônicas e, devido à revolta dos
François Rude. A partida dos voluntários de 1792
espanhóis contra o exército francês, houve um Essa obra é conhecida também como A Marselhesa, nome
verdadeiro massacre de cinco mil civis espanhóis. dado ao hino da França. Ela representa a Pátria, com as asas
abertas, chamando os voluntários para lutar pela Nação. Ela
A pintura foi a forma encontrada pelo artista faz parte do Arco do Triunfo, em Paris.
para demonstrar a sua indignação. Nas palavras do
estudioso Lionello Venturi, “a pintura de Goya é A arquitetura também visava recuperar a
um símbolo externo de revolta popular contra a
identidade nacional. Assim, ela valorizava a vida
opressão”.
urbana e evidenciava a cultura da época. Em
relação à vida urbana, a Revolução Industrial,
ocorrida no século XVIII, transformou as
grandes cidades que passaram a receber um
contingente de pessoas que vinha do campo à
procura de melhores condições de vida.
A urbanização da Europa determinou
mudança nas construções que deveriam suprir
as necessidades da classe média e burguesa. Os
edifícios eram construídos a fim de atender essas
classes, deixando as classes baixas abandonadas
em bairros sem as mínimas condições de infra-
estrutura. A poluição tornou-se um grande
problema das cidades industrializadas. A
falta de saneamento básico (abastecimento de
água, esgoto e instalações sanitárias) provocou
GOYA (Francisco José Goya y Lucientes). Os fuzilamentos
de 03 de maio de 1808.
diversas doenças.
Como se pôde observar, as artes passaram a
A escultura retratou atos heróicos e cenas de ter um forte papel de protesto, de denúncia, de
luta. Devido à preocupação com o nacionalismo, mobilização e de influência sobre a sociedade,
os monumentos deram ênfase aos atos patrióticos. mostrando as realidades vividas e os sonhos que
se desejavam alcançar.
História 11
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

A cultura europeia desse período


influenciou a vida e a formação da cultura
brasileira.
A vinda da família real para a Colônia
portuguesa, em 1808, transformou a vida
política, social, econômica e cultural das
pessoas. Uma esquadra contendo de 10 a 15
mil pessoas desembarcou trazendo riquezas,
documentos, arquivos do governo português,
uma máquina impressora e uma vasta
biblioteca, que formou a Biblioteca Nacional,
além de uma coleção de arte.

Através das obras de Debret é possível reconstituir parte do


cotidiano do Brasil.

Porém, também começaram a surgir jornais


independentes que continham críticas à política
portuguesa. Era o caso do Correio Brasiliense,
de Hipólito José da Costa.
A vinda da família real inovou o mundo
colonial, porém, para manter e suprir as
necessidades da Corte houve um aumento
de impostos que não agradou à maioria da
população. A insatisfação popular gerou atritos
com a corte e a família real.
Em 1821, por fim, D. João VI retornou
Disponível em: <http://i.olhares.com>. Acesso em: 05 jun. 2010.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro a Portugal e deixou o trono nas mãos de seu
filho D. Pedro I, que, em 1822, proclamou a
A partir desse momento, o acesso à cultura Independência do Brasil.
na Colônia deixou de ser privilégio de poucos Após a Independência, iniciou-se uma
que tinham condições de viajar para a Europa e discussão em torno da questão do “ser
estendeu-se às outras camadas sociais, uma vez brasileiro”. Passou-se a buscar uma identidade
que a sociedade também se diversificava. para o povo, marcado pelas diferenças raciais
e culturais. A identidade nacional deveria ser
Foram criadas várias Escolas e Academias,
criada a partir dos próprios aspectos do País.
entre elas a Academia de Belas Artes, onde, em
A imagem que se buscava deveria representar
1816, mestres da arte francesa, como Debret,
seus próprios valores, sua própria cultura e suas
ensinavam técnicas de pintura. Foi fundado o
próprias características.
Museu Nacional e o Observatório Astronômico,
A França e a Inglaterra tiveram grande
além da Biblioteca Real. O Imperador criou
parcela de influência nos movimentos que
a Imprensa Régia que editava várias obras de
aconteceram no Brasil. O Romantismo, que
escritores. Em 1808, foi publicado o primeiro
há muito tempo permeava a cultura europeia,
número do jornal A Gazeta, no Rio de Janeiro, desempenhou um importante papel histórico
que era controlado pelo Império e possuía um no País.
caráter oficial.
12 História
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Ampliando o conhecimento

Como já foi dito, durante o Período Imperial,


o Brasil passou por grandes transformações.
Alguns acontecimentos tiveram mais relevância
que outros e acabaram se destacando na
história brasileira. Para melhor compreensão
desse assunto, é importante conhecermos
esses acontecimentos.
AMOÊDO, Rodolpho. O último Tamoyo
5 Vamos trabalhar em grupo! A sala poderá ser
dividida em sete grupos, número de décadas do
Período Imperial. Cada grupo ficará responsável Muitos escritores destacaram-se. Entre eles,
por pesquisar sobre os acontecimentos Gonçalves de Magalhães, autor de Suspiros
políticos, econômicos, sociais e culturais da poéticos e saudades e Confederação dos Tamoios,
década definida pelo professor. Para finalizar, esta última obra financiada por D. Pedro II.
cada grupo apresentará o resultado de sua Outro grande destaque do Romantismo no
pesquisa em sala de aula. Não se esqueçam
Brasil é Gonçalves Dias, autor de poemas, como
de produzir cartazes para ilustrar sua pesquisa.
Bom trabalho!
I-Juca-Pirama, Os Timbiras, Canção do Tamoio,
que também reforçavam a ideia do indígena
como símbolo nacional. Também se destacaram
Com um reinado marcado pelo autoritarismo,
os romances Iracema e O Guarani. Na obra
D. Pedro I renunciou ao trono, e seu filho, D. Pedro II,
O Guarani, de José de Alencar, o índio foi
foi proclamado Imperador do Brasil.
idealizado ao extremo.
E com o intuito de formar uma identidade
brasileira, buscaram-se, nas tradições, na religião
e na natureza, os meios para uma imagem ideal.
Contribuindo com essa construção, foi publicado, Saiba mais
em 1836, na revista Niterói – Revista Brasiliense
de Ciências, Letras e Artes, um manifesto escrito HERÓI NACIONAL
por jovens brasileiros. O manifesto intitulava-se
“Das três raças que formaram a etnia brasileira,
“Tudo pelo Brasil e para o Brasil” e exaltava os apenas o índio se tornou herói em nossa literatura.
valores nacionais, principalmente os indígenas, O branco não poderia ser o herói nacional
que se tornariam o elemento básico de nossa naquele momento, em razão de estar identificado
brasilidade. Em 1838, a criação do Instituto com o colonizador português, isso entraria
Histórico e Geográfico Brasileiro também acirrou em choque com o sentimento nacionalista e
antilusitano que surgiu após a Independência.
as discussões sobre a construção da nacionalidade
O negro, por sua vez, representava o alicerce
brasileira. econômico daquela estrutura social, a mão de
A partir do governo de D. Pedro II e contando obra escravizada e compelida ao trabalho. Seria,
com o seu apoio, os intelectuais tornaram a portanto, um contra-senso econômico e social
valorização do índio um projeto oficial. O elevá-lo à condição de herói, uma vez que muitos
escritores e leitores da época faziam parte da
Romantismo tornou-se uma verdadeira política
classe dominante e compactuavam com o regime
cultural ligada à criação de uma história nacional escravocrata.
feita de continuidades e sem conflitos. Idealizou- Desse modo, coube ao índio, isento de conotações
se um índio heroico e uma natureza paradisíaca negativas, quer sociais, quer econômicas, o papel
que simbolizariam a história do País, enquanto de herói nacional em nossa literatura romântica.”
William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. Literatura
questões como a escravidão eram esquecidas. Brasileira. 2a ed. – Reformulada – São Paulo. Atual, 2000
História 13
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

A pintura seguiu o mesmo caminho


da literatura. Os pintores procuraram
recriar, em suas obras, os acontecimentos
históricos do país, a natureza, o indígena
e a vida do brasileiro em geral. D. Pedro
II tornou-se um verdadeiro mecenas
(patrocinador dos artistas) através da
distribuição de prêmios e de bolsas de
estudo para o exterior. A Academia
Imperial de Belas Artes, por exemplo,
criada em 1826, passou a ter grande Américo, Pedro. O grito do Ipiranga
A tela idealiza o momento em que D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil.
importância a partir do apoio financeiro Retrata D. Pedro I, de forma imponente, enquanto que o povo, representado pelo
agricultor do lado esquerdo, assusta-se com os acontecimentos.
do Império.
A busca pela brasilidade não se restringiu às artes. Nessa época, procurou-se criar uma história
nacional, que ressaltava momentos e nomes de personagens considerados importantes. Também as
ciências naturais buscaram conhecer melhor o País, identificando, catalogando e classificando os minérios
e as espécies da fauna, da flora.
Apesar da intenção de criar a imagem de um País onde as diferenças sociais e raciais conviviam
harmoniosamente, não foi possível abafar os conflitos que existiam, principalmente no que diz respeito à
escravidão. A arte, a partir da década de 1870, voltou-se para a realidade política e social de forma crítica,
até porque a própria luta dos negros e de grupos abolicionistas tornava o problema mais visível.
Entre as décadas de 1850 e 1890, o Brasil passou por profundas transformações. O café tornou-
se o principal produto das exportações e possibilitou o desenvolvimento comercial na região Sudeste,
principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O filósofo e historiador João Cruz Costa, em sua obra Pequena história da República, descreveu a
estrutura da sociedade brasileira no final do século XIX:
“No quadro da sociedade brasileira da segunda metade do século XIX, é possível perceber também
a existência de uma incipiente classe média composta de elementos ligados à atividade comercial, ao
que se chamaria de ‘alto comércio’, aquele que se ligava à exportação e importação, gravitando na órbita
da classe senhorial, e o comércio tout court, ligado às limitadas transações de um pequeno mercado
interno. Além desta classe comercial, contava-se com o funcionalismo, o numeroso funcionalismo
que deriva da amplidão do aparelho do Estado e de
características normais à estrutura econômica brasileira
em que o Estado se apresenta como empregador por
excelência, a válvula propícia à compensação das limitações
de um mercado de trabalho onerado pelo escravismo; os
elementos das profissões liberais, em grande parte oriundos
da classe comercial e do funcionalismo; os militares, quase
todos moços que ingressavam na carreira das armas para
conseguirem instrução que as condições de vida lhes
negavam; os intelectuais, quase todos funcionários (como
o grande romancista Machado de Assis); os sacerdotes, boa
parte oriunda, como os militares, de família pobre, que
procuravam os seminários para obterem a instrução que
sua família não lhes podia dar; os pequenos produtores
agrícolas e, enfim, os trabalhadores, na sua maioria escravos;
os trabalhadores livres e os representantes, ainda poucos,
das primeiras levas de imigrantes.”

PORTINARI, Cândido. Lavrador de café


14 História
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Saiba mais
OUTRAS RIQUEZAS BRASILEIRAS
Enquanto no Sudeste predominava a cafeicultura,
outras regiões do País desenvolveram atividades
produtivas que se destacaram na economia: na
Bahia, o cacau; na Amazônia, a exploração da
borracha extraída da seringueira, árvore da região.
Algumas descobertas foram importantes para
o cenário nacional: em 1839, o americano Charles
Goodyer inventou a vulcanização (adição de enxofre
à borracha); em seguida, a criação do primeiro
automóvel, em 1885, por Raul Benz, que utilizava
pneus de borracha vulcanizada. Essas descobertas Disponível em: <http://manaus1.files.wordpress.com>. Acesso em 06 jul. 2010.
impulsionaram a exploração do látex, matéria-prima Teatro Amazonas
para a fabricação dos pneus e de vários outros
produtos. Com o desenvolvimento comercial, houve
Nesse período, a região Norte, principalmente o um crescimento da classe média urbana, o
Amazonas, alimentou o sonho de ser o Estado mais que também ocorreu devido ao aumento de
rico do País. Isso também atraiu migrantes de várias funcionários do Estado durante o Segundo
regiões, principalmente nordestinos que fugiam da
terrível seca de 1877-1879, ocorrida no Ceará.
Reinado. Com a cafeicultura, surgiu também,
Muitos latifundiários, donos dos seringais, em São Paulo, um número grande de ricos
adquiriram verdadeiras fortunas. Em Manaus e em cafeicultores, defensores do fim da escravidão e
Belém, foram construídos belos palacetes; ruas, das ideias republicanas. Em 1870, os cafeicultores
hotéis e cafés fervilhavam, repletos de banqueiros fundaram o Partido Republicano Paulista (PRP),
ingleses, investidores americanos, dentre outros.
Porém, essas transformações não atingiram os
o que abalou as estruturas do sistema monárquico.
seringueiros, que permaneciam em condições O caminho para a República estava sendo
miseráveis de sobrevivência. traçado. Primeiramente, havia se extinguido o
Por alguns anos, a borracha brasileira dominou tráfico de escravos com a Lei Eusébio de Queirós
o mercado internacional, até que os ingleses de 1850; no ano de 1871, foi aprovada a Lei do
começaram a produzi-la em suas colônias asiáticas
por um custo bem menor. Os seringais da Amazônia
Ventre Livre (crianças nascidas após essa data
foram, aos poucos, abandonados. seriam livres); em 1885, foi assinada a Lei do
Da época áurea de Manaus e de Belém, Sexagenário (maiores de 65 anos tornar-se-iam
restaram algumas marcas, como é o caso do Teatro libertos). Por fim, em 1888, foi assinada a Lei
Amazonas. Áurea, que libertou todos os escravos.
Na área política, durante o governo de D.
Pedro II, havia uma união dos republicanos contra
o governo. O exército havia conquistado prestígio
com a Guerra do Paraguai (1864-1870).
O Paraguai, que tinha se tornado República
independente em 1811, governado por Solano
López, era um país que produzia quase todos os
alimentos de que precisava. Tinha, em sua capital,
Assunção, uma fábrica de pólvora e de armas,
e precisava se desenvolver economicamente,
exportando seus produtos. O País, porém, não tinha
saída para o Atlântico nem controlava a navegação
do rio Paraná, importante para escoamento de
produtos de exportação. Com o apoio do capital
inglês, o Brasil uniu-se à Argentina e ao Uruguai, a
Disponível em: <http://seringalguapimirim.com.br>. Acesso em 06 jul. 2010. fim de defender parte do território que interessava
Seringueiro ao processo expansionista paraguaio.
História 15
Estrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Nesse conflito, houve milhares de mortes, principalmente de paraguaios;


foi realmente uma tragédia. Ao final da guerra, havia morrido entre 60 e
70% dos seus habitantes, a maioria homens adultos. O Brasil e a Argentina
conseguiram alguns milhares de quilômetros de terras paraguaias, porém
perderam homens e se endividaram com a Inglaterra. Durante a guerra,
soldados brasileiros conheceram o governo implantado nos outros países: a
República. Assim, os militares aderiram às ideias republicanas e positivistas
(cuja filosofia enfatizava que o domínio social e político deveria ser exercido
pelos sábios e fortes, e o progresso provinha da ordem: “O amor por
princípio, a ordem por base e o progresso por fim”) e se voltaram contra o
Império.
Havia, também, um grande descontentamento popular. A sociedade
estava insatisfeita; os cafeicultores, os operários e a classe média desejavam
ter sua cota de participação na política.
A Igreja entrou em atrito com o governo por causa da maçonaria. No
Brasil, vigorava o Regime do Padroado,, no qual as determinações papais No Brasil foi construída a imagem de
estavam sujeitas à aprovação do imperador, e, quando o papa desaprovou a que Solano López, ditador sanguinário,
deveria ser detido a qualquer custo.
maçonaria, o Estado defendeu e apoiou a permanência dos maçons atuando
na Igreja Católica e em cargos eclesiásticos. Isso causou grandes problemas entre a Igreja e o Estado, o
que levou à separação em 1891 e à extinção do Regime do Padroado.
Todos esses pensamentos e mudanças que vinham se disseminando na sociedade geraram uma arte
crítica, denominada Realismo. Na literatura, destacou-se Castro Alves, “o poeta dos escravos”, que,
apesar de Romântico, denunciou os horrores da escravidão que ainda era mantida no Brasil. Escreveu
Navio Negreiro, em meados de 1868, e fundou no País a “poesia engajada”, ou seja, aquela que é
escrita em prol de uma causa política e ideológica, procurando conscientizar a população e despertar a
contestação. Muitos outros poetas e também cantores continuaram a usar as palavras no século XX para
despertar a população para os problemas sociais.
Na segunda metade do século XIX, o novo estilo artístico passou a predominar nas produções
europeias: O Realismo. Nesse período, o olhar voltou-se para a busca da representação da fiel realidade,
principalmente as decorrentes do desenvolvimento industrial da época.
A Europa vivia a segunda fase da Revolução Industrial — movida pela transformação do ferro em
aço, e a substituição do vapor pelo petróleo e pela eletricidade — iniciada na segunda metade do século
XIX e prolongada até as primeiras décadas do século XX.
Disponível em: <www.ua.pt>. Acesso em: 05 jun. 2010.

A Revolução Industrial possibilitou o crescimento e o


desenvolvimento de cidades industriais, como Londres e Paris;
transformou a vida humana; os problemas de urbanização, o
abastecimento de água, esgoto e iluminação eram crescentes. O
operário vivia sob condições de miséria, e a burguesia enriquecia.
O trabalho absorvia a mão de obra de mulheres, de crianças e de
homens. Os salários eram baixos, trabalhava-se muitas horas em
condições precárias. Isso gerava revoltas e greves.
Diante disso, surgem novas doutrinas sociais pregando a criação
de uma nova sociedade, sem miséria e igualitária, como enfatizavam
August Comte, Mikhail Bakunin e Karl Marx.
No Brasil, o Exército, impelido pelo forte ardor republicano,
estava insatisfeito com o reinado de D. Pedro II. Fortalecido pelo
prestígio que adquiriu na Guerra do Paraguai, tendo como aliados
os cafeicultores e liderado por Deodoro da Fonseca, em 15 de
novembro de 1889, proclamou a República no País, após um golpe
militar que retirou D. Pedro II do trono.
Monumento a Castro Alves, em
Salvador. Há muitos anos, os trios
elétricos de Salvador se reúnem,
na terça-feira de carnaval, na praça
Castro Alves.
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