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CIRURGIA NEONATAL
1. INTRODUÇÃO
V: defeitos vertebrais
A: atrésia anal
C: Defeitos cardíacos
T/E: Fístula traqueoesofágica
R: Anomalias renais
L: Anomalias dos membros (Limbs)
As alterações embriológicas, as
malformações e o resultado cirúrgico da
sua correção são fatores que podem
originar défices com impacto na qualidade
de vida relacionada com a saúde (Health
relative quality of life: HRQoL). Este índice
transmite não só o impacto da saúde no
doente, mas também para o país, a nível
socioeconómico.
2. OBSTRUÇÃO ESOFÁGICA
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2.1. ATRÉSIA ESOFÁGICA
O prognóstico pode ser definido em três classes, segundo os critérios de Spitz. De acordo
com este autor, as classes prognósticas valorizam o peso de nascimento e a presença de
anomalia cardíaca. Assim:
RN com peso < 1.500 gramas e anomalia cardíaca têm 26% de sobrevivência;
RN com peso > 1.500 gramas e sem anomalia cardíaca têm 96% de sobrevivência.
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3. ATRESIA DUODENAL
Malformação que causa oclusão total do lumen duodenal, como resultado de anomalia do
desenvolvimento embrionário (vacuolização incompleta do duodeno primitivo). Tem uma
incidência de cerca de 1/5000 nascimentos, sendo mais frequente no sexo masculino.
4. ATRÉSIA JEJUNO-ILEAL
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Uma vez confirmado o diagnóstico, está indicada intervenção cirúrgica cujo objetivo é
promover a continuidade do trânsito intestinal procedendo a anastomose digestiva direta,
após remodelar o segmento dilatado. Se houver sinais de necrose intestinal, procede-se à
recessão da ansa afetada. Para que não exista disfunção anastomótica, os doentes
permanecem durante um período de tempo com nutrição parentérica.
5. ÍLEO MECONIAL
É a situação clínica de oclusão ileal distal por mecónio anormal, espesso e viscoso. Tem uma
incidência de 1/5000 nascimentos, sendo em cerca de 10% dos casos a primeira
manifestação da fibrose quística (1/2000).
Pode classificar-se, por ordem crescente de gravidade, em: não complicado, complicado
(volvo ou perfuração) ou peritonite meconial.
Nos casos de íleo meconial complicado, existe sempre indicação cirúrgica. Nas formas de
apresentação com compromisso de ansa, isto é complicadas de torção de mesentério, volvo
ou formação de peritonite meconial ou quisto meconial intrabdominal, é necessário realizar
uma ressecção segmentar do segmento afetado e, posteriormente, restabelecer a
continuidade intestinal, ou derivar temporariamente o intestino, encerrando a
enterostomia em segundo tempo cirúrgico. A abordagem cirúrgica do íleo meconial obriga
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também à colocação de um cateter central de longa duração para permitir a administração
de nutrição parentérica.
Tem uma incidência de 1/5000 nascimentos e é mais comum no sexo masculino. Pode surgir
isolada (forma não sindrómica 70%) ou associada a outras síndromes (forma sindrómica
30%), nomeadamente do grupo das neurocristopatias.
O atraso na emissão de mecónio é o sinal clínico neonatal cardinal desta doença. Este sinal
clínico é seguido por obstipação, vómitos e distensão abdominal nos primeiros dias de vida.
Nos casos mais graves é caracterizada por distensão súbita, vómito bilioso, febre, sinais de
desidratação grave, diarreia sanguinolenta, sépsis e falência multiorgânica. O diagnóstico
depende da conjugação da clínica com o estudo imagiológico, o estudo manométrico e, por
fim, o estudo histológico (biópsia retal).
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A complicação mais grave é a enterocolite pós-operatória. É caracterizada por distensão
abdominal extrema, hipertermia, diarreia paradoxal profusa e hemática, e por síndrome
séptico (SIRS ou FMO). Esta situação obriga a descompressão intestinal de urgência por
sonda de enteroclise e instituição de antibioterapia de largo espectro e de pausa alimentar.
A enterocolite pós-operatória, que pode ocorrer em cerca de 20% dos casos, constitui a
primeira causa de morte pós-operatória nestes doentes.
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No sexo masculino, aquando de um ânus imperfurado, pode existir:
Fístula perineal: ocorre em 10% dos doentes e caracteriza-se por um trajeto fistuloso desde
o cólon até à pele perineal ou rafe mediana escrotal. Ao exame físico observa-se genitália
bem formada, rafe mediana proeminente, uma covinha na região anal e uma fístula perineal
com mecónio. A cirurgia de correção consiste numa anoretoplastia sagital posterior.
Fístula uretral: ocorre em 90% dos doentes e promove o contacto entre o aparelho digestivo
e o aparelho urinário ao nível da uretra, geralmente bulbar. Ao exame físico observa-se
genitália corretamente formada, uma covinha na região anal, sem perfuração, rafe mediana
proeminente, ausência de fístula perineal com mecónio e presença de fístula urinária.
Nestes casos, a correção cirúrgica definitiva só pode ser efetuada mais tarde, pelo que se
realiza uma colostomia diversiva, para evitar a retenção fecal e a dilatação distal da bolsa
cólica, com riscos de perfuração, de infeção urinária e de reabsorção de urina pela mucosa
intestinal conducente a acidose metabólica. O exame complementar fundamental, após a
construção da colostomia e antes de realizar a cirurgia definitiva, é o colostograma. Este
exame consiste no preenchimento do segmento distal do cólon, a jusante da colostomia,
por contraste hidrossolúvel, permitindo a visualização da porção terminal do cólon esquerdo
ou de qualquer trajeto fistuloso presente. A correção cirúrgica definitiva é realizada por
meio de uma anoretoplastia sagital posterior plena. Após a cirurgia, torna-se necessário
iniciar um programa de dilatação anal progressiva por meio dos chamados dilatadores de
Hegar. A colostomia deverá ser encerrada após a conclusão do programa de dilatações anais.
Fístula perineal: ocorre em apenas 10% dos casos e caracteriza-se por um trajeto fistuloso
para a pele perineal, geralmente perto do seu local de inserção normal. Na maioria dos casos
não é necessária intervenção cirúrgica.
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Fístula vestibular: ocorre em 90% dos casos e caracteriza-se por um trajeto fistuloso para a
forchette vaginal. Ao exame físico observa-se genitália corretamente formada, ausência de
ânus permeável e presença de ânus na região vestibular, ou seja, na zona de união posterior
dos grandes lábios. O tratamento cirúrgico é uma anoretoplastia sagital posterior, sendo
uma cirurgia mais simples que no sexo masculino por não existir confluência entre os
sistemas urinário e digestivo.
7.1. ONFALOCELE
Esta patologia pode ser diagnosticada por DPN a partir da 10ª semana de gestação.
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Esta patologia tem sempre indicação cirúrgica. Quando possível, faz-se o encerramento
primário da parede abdominal, desde que não provoque elevação excessiva da pressão
intra-abdominal. Se o defeito não permitir, pela sua dimensão, o encerramento primário,
deverá ser realizada a contenção do conteúdo do onfalocele por meio de um saco de
polímero de silastic (PTFE) promovendo o encerramento posterior (técnica de encerramento
diferido/por fases, de Schuster). Outra técnica possível é o encerramento por enxertos de
pele (técnica de Gross).
6.2. GRASTROSQUISE
Após o nascimento verifica-se que as ansas intestinais, pelo contacto prolongado com o
líquido amniótico, estão aderentes entre si. Este fenómeno pode, ainda, originar inflamação
no peritoneu (peritonite amniótica), edema da parede intestinal, formação duma película
de fibrose assim como compressão das artérias mesentéricas e das fibras nervosas entéricas,
sendo que o próprio orifício para-umbilical poderá também ter efeito compressivo sobre os
vasos.
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7. HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÉNITA
Tem uma incidência de 1:3000 nascimentos, sendo mais prevalente no sexo masculino. O
DPN deteta a presença de vísceras ocas no tórax fetal.
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As manifestações clínicas podem incluir agravamento abrupto do estado geral, distensão
abdominal, cólica, irritabilidade e, por vezes, eliminação de fezes com sangue. O diagnóstico
é imagiológico. No RX pode observar-se o intestino enrolado sobre si próprio: sinal do saca-
rolhas (“Corkscrew”). Na ecografia com doppler é possível observar os vasos mesentéricos
enrolados: sinal do turbilhão (“Wirlpool”).
9. ENTEROCOLITE NECROTIZANTE
A clínica não é específica, podendo ir desde ligeira instabilidade até sépsis severa. Em 31%
dos casos ocorre SIRS com ponto de partido abdominal (perfuração e extravasão
intraperitoneal), 62% dos casos têm indicação cirúrgica e 30% dos doentes morrem.
Fatores de risco:
Etiologia
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Classificação consoante a área afetada:
Diagnóstico
Sob o ponto de vista da evolução clínica e gravidade são descritos diversos estádios definidos
por Bell (Critérios evolutivos de Bell) cuja identificação, valorizando de modo cumulativo
sinais sistémicos, intestinais e imagiológicos, tem implicações práticas importantes quanto
às decisões terapêuticas e ao prognóstico.
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Tratamento
Casos menos graves: Interrupção imediata de alimentação por via entérica, descompressão
gástrica com introdução de sonda naso, correção dos equilíbrios hidroelectrolítico, ácido-
base, hemodinâmico, início de nutrição parentérica, início de antibioterapia de largo
espectro.
Nos casos em que se verifica progressão rápida do quadro clínico e agravamento global,
devem ser ponderados dois procedimentos invasivos: paracentese abdominal para
drenagem peritoneal simples e/ou laparotomia.
Nos casos de pneumoperitoneu, uma vez que indica perfuração de ansa, é sempre
necessária laparotomia exploradora com eventual resseção do segmento intestinal afetado,
se não viável, seguida de anastomose primária ou enterostomima.
Prognóstico e complicações
As principais complicações pós-cirurgia são estenose intestinal segmental e síndrome do
intestino curto, em casos de resseções intestinais muito alargadas.
A taxa de sobrevivência é inversamente proporcional à extensão da lesão. Assim, a
enterocolite focal tem uma taxa de sobrevivência de 75% enquanto que a da enterocolite
total é de apenas 5%.
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