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ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA - EBRAMEC

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM ACUPUNTURA


MARCELO LUIZ TROMBOTTO

A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA

SÃO PAULO
2015
MARCELO LUIZ TROMBOTTO

A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA

Projeto de Pesquisa do Trabalho de


Conclusão de Curso de Pós-Graduação em
Acupuntura apresentado à EBRAMEC –
Escola Brasileira de Medicina Chinesa, sob
orientação do (a) Prof. (a)

SÃO PAULO
2015
MARCELO LUIZ TROMBOTTO

A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA

BANCA EXAMINADORA

________________________________

________________________________

________________________________

João Carlos Felix

Orientador

Dr. Reginaldo De Carvalho Silva Filho


Co-Orientador

Marcelo Luiz Trombotto

São Paulo, ___ de ____________de ______


RESUMO

A dor é uma das principais causas do sofrimento humano e embora seja uma resposta
protetora do organismo a estímulos nocivos, resulta em efeitos indesejáveis quando não
controlada. A dor crônica gera incapacidades, comprometimento da qualidade de vida e
graves reflexos psicossociais e econômicos, constituindo-se em problema de saúde pública.
A ocorrência de dor é a principal razão pela qual 75% a 80% das pessoas procuram os
serviços de saúde. Diversas formas para seu controle têm sido propostas, desde o uso de
fármacos até a adoção de terapias complementares e alternativas. A Acupuntura,
modalidade mais conhecida da Medicina Chinesa no Ocidente, tem finalidade terapêutica
baseada em diagnósticos precisos. Sua eficácia como terapêutica da dor tem sido
comprovada pela literatura. Neste estudo, baseado em revisão bibliográfica, sobre a
utilização da Acupuntura no tratamento da dor crônica, verificou-se que seu emprego é
altamente recomendável por estudos e organizações de saúde em todo mundo.

Palavras chaves: Acupuntura. Dor crônica. Medicina chinesa.


ABSTRACT

Pain is a major cause of human suffering and although it is a protective response of the
body to harmful stimuli, resulting in undesirable effects if not controlled. Chronic pain
generates disability, quality of life impairment and severe psychosocial and economic
consequences, constituindose on public health problem. The occurrence of pain is the main
reason why 75% to 80% of people seek health services. Various forms for its control have
been proposed, from drug use to the adoption of complementary and alternative therapies.
Acupuncture, best known form of traditional Chinese medicine in the West, has therapeutic
purpose based on accurate diagnoses. Its effectiveness as pain therapy has been proven in
the literature. In this study, based on literature review on the use of acupuncture in the
treatment of chronic pain, it was found that its use is strongly recommended for studies and
health organizations worldwide.

Keywords: Acupuncture. Chronic pain. Chinese medicine.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 6

1. DOR .................................................................................................................................. 8

1.1 Dor Aguda.................................................................................................... 9

1.2 Dor Crônica ............................................................................................... 10

1.3 Terapêuticas Complementares para a Gestão da Dor .................................... 10

2. MEDICINA TRADICIONAL E MEDICINA COMPLEMENTAR (TCM) ........... 12

3. MEDICINA CHINESA (MC) ...................................................................................... 15

3.1 Processo de adoecimento na Medicina Chinesa ............................................. 16

3.2 O diagnóstico na MC .................................................................................... 17

4. ACUPUNTURA ............................................................................................................. 19

4.1 Acupuntura no Brasil ................................................................................... 21

5. A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA ............................... 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 27

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 29
6

INTRODUÇÃO

Estudos epidemiológicos, nacionais e internacionais, demonstram que a ocorrência


de dor é a principal razão pela qual 75% a 80% das pessoas procuram os serviços de saúde
(BRASIL, 2002).

A dor é uma resposta protetora do organismo a estímulos nocivos, que resulta em


efeitos indesejáveis quando não controlada.

É uma das principais causas do sofrimento humano, gerando incapacidades,


comprometimento da qualidade de vida e imensuráveis repercussões psicossociais e
econômicas, constituindo-se, desta forma, em grave problema de saúde pública (BRASIL,
2002).

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, International Association


for the Study of Pain), conceitua dor como sendo “uma experiência sensitiva e emocional
desagradável, associada a uma lesão tecidual atual, potencial, ou descrita em termos de tal
lesão”. (IASP, 1986).

É importante diferenciar as dores agudas das crônicas. As dores agudas são


consideradas fisiológicas, como um sinal de alerta, da maior importância para a
sobrevivência. Tem duração limitada no tempo e espaço, cessando com a resolução do
estímulo doloroso (MARQUEZ, 2009)

Dessa forma, a dor aguda é uma resposta protetora do organismo a estímulos


nocivos que segue a uma lesão do tecido e é temporalmente limitada, ou seja, ao curar a
lesão, a dor cessa. A dor crônica, por sua vez, é definida pela IASP como "dor, que persiste
além do tempo normal de cura" ou é associada a doenças crônicas (IASP, 2010).

Diversas formas de se controlar a dor têm sido propostas pela literatura, desde o uso
de fármacos e suas associações, até a adoção de terapias alternativas (VALE, 2006).

Entre os tratamentos disponíveis, as terapias alternativas e complementares são


muito utilizadas. Os efeitos adversos dos medicamentos e sua indisponibilidade,
7

principalmente nos países em desenvolvimento, são alguns dos motivos para a escolha de
outras formas de tratamento para a dor (IASP, 2010).

Nesse sentido, a Acupuntura tem se mostrado eficaz como coanalgésico pela


capacidade de diminuir a quantidade de fármacos utilizados para o controle da dor e
raramente ser contraindicada (TAFFAREL ET al 2009).

Ela representa uma opção terapêutica, indicada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) aos seus Estados-Membros, podendo ser usada isolada ou de forma integrada com
outros recursos terapêuticos (BRASIL, 2006).

Conforme Baldry e Thompson (2007), em diversos trabalhos publicados, a


Acupuntura tem apresentado um efeito positivo e potente no tratamento da dor. Tal fato é o
grande fator aliado na aceitação que tem recebido no ocidente. Além do alívio da dor, a
Acupuntura é comumente utilizada na Medicina Chinesa (MC) para tratar diversas
doenças.

Com objetivo de ressaltar os benefícios oferecidos pela Acupuntura, este trabalho


faz uma revisão bibliográfica sobre o seu emprego no tratamento da dor crônica.
8

1. DOR

A dor é uma das manifestações clínicas mais freqüentes. É um sintoma que surge
toda vez que ocorre agressão física, química, mecânica ou psíquica contra nosso corpo
(YAMAMURA, 2004).

A experiência dolorosa faz parte do desenvolvimento cultural de todas as


sociedades. Ao longo dos séculos dor e sofrimento tem sido sinônimos para a mente
humana.

A ocorrência de dor é freqüente em decorrência dos novos hábitos de vida, do


decréscimo da tolerância ao sofrimento pelo homem moderno, do prolongamento da vida
dos indivíduos em geral e dos doentes com afecções clínicas naturalmente fatais
(TEIXEIRA; FIGUEIRÓ, 2001).

Ela é considerada um grave problema de saúde pública, pois além de ser uma das
principais causas do sofrimento humano, incapacita, compromete a qualidade de vida, com
incalculáveis repercussões psicossociais e econômicas. Estudos epidemiológicos, nacionais
e internacionais, demonstram que a ocorrência de dor é a razão principal pela qual 75% a
80% das pessoas procuram os serviços de saúde (BRASIL, 2002).

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, International Association


for the Study of Pain) propôs em 1979 um conceito de dor que vigora até hoje e é
difundido mundialmente: “uma experiência sensorial e emocional desagradável que é
associada a lesões reais ou potenciais ou descrita em termos que sugerem tal dano”. A dor
é sempre subjetiva pois “cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas
experiências anteriores” (CARVALHO, 1999).

A dor é uma experiência subjetiva e pessoal, envolve aspectos sensitivos e culturais


que podem ser alterados pelas variáveis socioculturais e psíquicas do indivíduo e do meio
(TEIXEIRA; PIMENTA, 2000).

O seu grau de intensidade não é diretamente proporcional à quantidade de tecido


lesionado e muitos fatores podem influenciar a sua percepção, como fadiga, depressão,
9

raiva, medo, ansiedade e sentimentos de desesperança ou desamparo. A dor não tratada


causa muito sofrimento aos indivíduos afetados, indistintamente. Portanto, todos os
esforços devem ser feitos para promover o seu tratamento eficaz. (IASP, 2010).

A Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública (AHRQ),


Sociedade Americana da Dor (APS) e posteriormente a Sociedade Brasileira para Estudo
da Dor (SBED) descreveram a dor como o quinto sinal vital que deve ser sempre avaliado
e registrado juntamente com os outros quatro sinais vitais: temperatura, pulso, respiração e
pressão arterial (SOUSA, 2002; SBED, 2006).

O entendimento da dor como um importante problema de saúde progrediu bastante,


bem como as suas formas de tratamento. Na antiguidade costumava ser vista como parte
inevitável da vida, a qual os homens só podiam influenciar parcialmente devido à sua
etiologia presumivelmente sobrenatural. Atualmente foi desenvolvido um conceito
fisiológico onde o controle da dor agora é possível. Nas últimas décadas, o conceito de
“ciência natural” foi revisto e expandido pela aceitação da influência de fatores etno-
culturais, possibilitando o desenvolvimento de novas estratégias para seu o tratamento.
(IASP, 2010).

1.1 Dor Aguda

A dor tem como propósito a proteção do corpo; ocorre sempre que algum tecido
estiver sendo lesado e nos permite reagir com intenção de remover o estímulo doloroso
(GUYTON; HALL, 2006).

É possível concluir daí que sua função é muito importante para nosso organismo, nos
alertando que há algum problema acontecendo. Se não sentíssemos dor, não
conseguiríamos proteger nosso corpo adequadamente.

A dor aguda segue a uma lesão do tecido e é temporalmente limitada, ou seja, ao curar
a lesão, a dor cessa. Exemplos de dor aguda são as fraturas, queimaduras, ou a dor pós-
operatória.
10

1.2 Dor Crônica

A dor crônica é um evento de duração prolongada que persiste além do período de


reparação do tecido, pode se estender de vários meses a anos e que está quase sempre
associada a um processo de doença crônica. Exemplos de dor crônica são doenças como
artrite, fibromialgia ou a dor no câncer, que é chamada de "dor total". (Associação
Internacional para o Estudo da Dor - IASP, 1986).

Entende-se por dor crônica a dor persistente por mais de 03 a 06 meses,


independentemente de qual seja a sua causa (BRASIL, 2002).

Se a dor aguda é um mecanismo de defesa, a dor crônica é um estado patológico


desagradável relacionado com a depressão endógena e a uma baixa qualidade de vida
(VALE, 2006).

Diferente da dor aguda, que funciona como um alarme, a dor crônica perdeu a sua
função, pois já não mais nos avisa dos riscos e perigos. A condição dolorosa passa a ser a
própria doença, não é mais apenas um aviso de uma outra enfermidade,

Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é de que a dor crônica acometa entre


30 e 40% da população brasileira, representando a principal causa de absenteísmo, licenças
médicas, aposentadorias por doença, indenizações trabalhistas e baixa produtividade no
trabalho (BRASIL, 2002).

A identificação dos fatores que precipitam ou intensificam a dor é muitas vezes


esquecida. De acordo com Teixeira e Pimenta (2000), determinadas atividades, posições,
mudanças no clima, hora do dia, ou humor são comumente associadas com a precipitação
ou alteração da intensidade da dor.

1.3 Terapêuticas Complementares para a Gestão da Dor


11

As intervenções farmacológicas, embora sejam eficazes, nem sempre respondem às


necessidades dos doentes, e podem produzir efeitos secundários problemáticos. Além
disso, medicamentos são dispendiosos e em muitas situações podem ser difíceis de obter.
Estas questões constituem um grande desafio para os doentes que necessitam de tratamento
de longa duração, obrigando-os frequentemente a escolher entre viver com dor ou com os
efeitos secundários indesejáveis. (IASP, 2010).

Tanto a dor aguda como a dor crônica podem ser tratadas com fármacos de
prescrição médica, mas podem também ser controladas através de terapêuticas
complementares como a Acupuntura, as massagens terapêuticas e outras modalidades, por
um custo menor e, pela sua natureza, com menos efeitos secundários. As terapêuticas
complementares desempenham uma função importante em todos os contextos,
especialmente nos de baixos recursos. (IASP, 2010).

Segundo ainda o IASP (2010), as terapêuticas complementares são cada vez mais
usadas para aliviar a dor e outros sintomas, como as náuseas e a fadiga. A nível
internacional, entre 7% e mais de 60% dos doentes oncológicos recorrem a terapêuticas
complementares, consoante as definições usadas em inúmeros estudos. Estas terapêuticas
são também frequentemente usadas para a dor não oncológica.

Estas terapêuticas isoladamente apresentam resultados satisfatórios com frequência,


mas quando associadas a fármacos, reduz as dosagens necessárias, e com isso os efeitos
secundários e o custo. Quando as terapêuticas complementares funcionam em conjunto
com um regime farmacêutico para a dor, é possível melhorar a eficácia e reduzir os custos.
12

2. MEDICINA TRADICIONAL E MEDICINA COMPLEMENTAR (TCM)

A medicina tradicional é uma parte importante e muitas vezes subestimada dos


serviços de saúde. Em alguns países, a medicina tradicional ou medicina não convencional
é muitas vezes chamada de medicina complementar.

Abaixo, no Quadro 1, vemos as definições de Medicina Tradicional, Complementar


e de Medicina Tradicional e Complementar, segundo a OMS (2013):

Quadro 01: Definições de Medicina Tradicional e Complementar.

A medicina tradicional tem uma longa história. Ela é a soma total dos
conhecimentos, habilidades e práticas baseadas em teorias, crenças e
Medicina Tradicional experiências de diferentes culturas, sendo explicáveis ou não, usada para
manter a saúde e prevenir, diagnosticar, ou melhorar o tratamento das doenças
físicas e mentais.
Os termos "medicina complementar" ou "medicina alternativa" referem-se um
Medicina conjunto abrangente de práticas de cuidados de saúde que não são parte da
Complementar ou tradição ou da medicina convencional nem são totalmente integrados ao
Alternativa sistema de saúde em determinados países. Estes termos são utilizados também
para se referir à medicina Tradicional.
Medicina Tradicional A medicina tradicional e complementar mescla os termos "medicina
e Complementar tradicional e medicina complementar”, e cobre produtos, práticas e
(TCM) profissionais.

Fonte: Estratégia da OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. OMS (2013)

A publicação Estratégia da OMS sobre medicina tradicional 2014-2023 tem como


foco ajudar às autoridades sanitárias a encontrar soluções que propiciam uma visão mais
ampla a respeito da melhora da saúde e a autonomia dos pacientes. A estratégia tem dois
objetivos principais: prestar apoio aos Estados Membros para que aproveitem a possível
contribuição da Medicina Tradicional e Complementar (TCM) à saúde, bem-estar e a
atenção centrada nas pessoas, e promover a utilização segura e eficaz da TCM mediante a
regulamentação de produtos, práticas e profissionais (OMS, 2013).
13

Segundo a publicação da OMS, estas metas serão alcançadas através da criação de


três objetivos estratégicos, a saber:

1) desenvolvimento de uma base de conhecimentos e da política nacional;

2) reforçar a segurança, qualidade e eficácia através da regulamentação; e,

3) promover a cobertura universal da saúde através da integração de serviços de


TCM e auto-atendimento em saúde nos sistemas nacionais de saúde.

A Medicina Tradicional e Complementar é cada vez mais utilizada globalmente. Ao


mesmo tempo, desempenha um importante papel econômico em muitos países, pois no
contexto das restrições financeiras atuais, o uso de TCM para melhorar a saúde, cuidados
de saúde e prevenção de doenças poderia reduzir os custos nesse setor (OMS, 2013).

Segundo ainda a publicação da OMS (2013), produtos e práticas de TCM de uma


determinada região são comumente usados em todo o mundo para complementar a
prestação de serviços de saúde locais, o que faz da TCM um fenômeno verdadeiramente
global. Isso requer um novo nível de a cooperação entre os Estados-Membros, para
identificar e facilitar o acesso a produtos e práticas seguras.

No Brasil, com a publicação da Portaria n° GMIMS 971/2006, Política Nacional de


Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC, editada pelo Ministério da Saúde,
foram institucionalizados a inserção de práticas integrativas e complementares no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre elas a Medicina Chinesa, incluindo dessa forma
a Acupuntura. (BRASIL, 2006).

Desde o relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, busca-se a


introdução de práticas alternativas de assistência à saúde no âmbito dos serviços públicos
de saúde. Porém, apenas em 2006, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, os profissionais não-médicos puderam atuar como acupunturistas no
Sistema Único de Saúde (SUS).

A medida é altamente benéfica pois integra e complementa a biomedicina ocidental


(alopatia), como mais uma opção aos usuários do Sistema Único de Saúde.
14

Segundo dados do Ministério da Saúde, com a política nacional o acesso da


população a essas práticas na rede pública de saúde cresceu consideravelmente nos últimos
anos. Em 2012, foram realizadas mais de 850 mil sessões de Acupuntura. Em 2010, foram
362.100, o que representa um crescimento de 272%. (PORTAL BRASIL, 2013).

Conforme ainda informação do Ministério da Saúde, atualmente, 4.139


estabelecimentos de saúde ofertam serviços de Práticas Integrativas e Complementares no
SUS, sendo 908 estabelecimentos cadastrados para ofertar a prática da Acupuntura. A
população é atendida, principalmente, nas Unidades Básicas de Saúde, nos hospitais e nos
Núcleos de Apoio à Família (NASFs). (PORTAL BRASIL, 2013).
15

3. MEDICINA CHINESA (MC)

Em pesquisa realizada pela Federação Mundial de Sociedades de Medicina Chinesa


(WFCMS) para a OMS, verificou-se que a Medicina Chinesa se difundiu para mais de 100
países e se tornou uma prática International. Em todo o mundo existem cerca de 100 mil
clínicas, 300.000 profissionais de e não menos de 1.000 instituições de ensino em medicina
chinesa (OMS, 2013). Entre os progressos alcançados em todo mundo destacam:

Entre as várias formas de medicina, a Acupuntura chinesa é a mais utilizada no


mundo. Nos Estados Unidos tem status legal em 43 estados.

Na China, a Medicina Chinesa tem sido integrada em níveis nacionais e locais no


sistema de saúde; de uma perspectiva do governo, medicina chinesa e medicina
convencional são correspondentes.

A prática da Medicina Chinesa pelo o mundo é cada vez maior desde 1999.

A Medicina Chinesa, praticada há milênios, baseia-se na observação dos fenômenos


que regem a natureza e busca compreender todos os princípios que a organizam
(YAMAMURA, 2004).

Segundo Chonghuo (1993), ela fundamenta-se na observação e interpretação dos


fenômenos naturais e da própria natureza, considerando o homem um participante ativo no
processo de restabelecimento do equilíbrio e em ligação com o Cosmos. Nesta visão a
Medicina Chinesa coloca o homem e o universo como partes integrantes de um todo, em
que um representa ou demonstra os mesmos sinais que o outro.

Conforme Wilhelm (1991), a origem na Medicina Chinesa se baseia na Filosofia


Taoísta, e juntamente com o Confucionismo e o Budismo, formam os pilares e os alicerces
da cultura chinesa. O taoísmo propõe uma grande transformação pessoal, permitindo que a
pessoa transcenda a si mesma, em busca da verdade, baseado nas leis da natureza.

Como ainda enfatiza o autor (WILHELM, 1991), a MC entende o ser humano


como um todo, não sendo compreendido somente em termos de patologia, como órgãos
16

isolados; pelo contrário, considera o homem como um ser que engloba o todo, em busca do
equilíbrio, com corpo e mente caminhando juntos harmonicamente, com o objetivo da
manutenção da saúde e da integralidade do ser humano.

Conforme Maciocia (1996), a Medicina Ocidental vê cada órgão somente sob o


aspecto anatômico-material, enquanto a Medicina Chinesa os analisa como um sistema
complexo incluindo o aspecto anatômico e suas emoções, tecidos, órgãos dos sentidos,
atividades mentais, cor, clima e demais correspondentes.

A Medicina Chinesa apresenta conceitos diferenciados de órgãos e de vísceras que


difere do conceito da Medicina Ocidental. Órgãos (Zang) e as Vísceras (Fu), na concepção
chinesa, representam a integração dos fenômenos energéticos, que agem tanto nas
manifestações somáticas como na mental, e as duas em conjunto constituem os Zang Fu,
ou o conceito de Energia (Qi) dos Órgãos e das Vísceras.

Segundo Maciocia (1996), existe uma relação entre cada sistema e uma emoção em
particular é mútua, onde o estado do sistema afetará as emoções e o mesmo será afetado
pelas emoções. O Coração (Xin) relaciona-se à alegria, o Fígado (Gan) à fúria, o Pulmão
(Fei) à tristeza e à preocupação, o Baço (Pi) ao pensamento e o Rim (Shen) ao medo. Da
mesma forma, o fator externo também influencia o corpo, sendo que o Calor influencia o
Coração (Xin), o Vento influencia o Fígado (Gan), a Secura influencia o Pulmão (Fei), a
Umidade influencia o Baço (Pi) e o Frio influencia o Rim (Shen). Um excesso destes
fatores externos por um período prolongado pode afetar adversamente os Zang Fu.

3.1 Processo de adoecimento na Medicina Chinesa

Na concepção da Medicina Chinesa, o ser humano é constituído por dois aspectos


fundamentais: o Qi (Energia) e pela Matéria, obedecendo à concepção dualística
(Yang/Yin) do Universo.

A energia do corpo humano se origina da respiração (energia celeste) e da


alimentação (energia terrestre), é assimilada no tubo digestivo e distribuída para todas as
17

partes do organismo por meio dos diferentes tipos de Canais de Energia, tendo como
função primordial nutrir energeticamente as estruturas do corpo e promover sua defesa
(YAMAMURA, 2004).

Segundo ainda Yamamura (2004), quando algum agente causador de "doença",


como fatores inatos, alimentação desregrada, emoções reprimidas ou intensas estresse,
fadigas, drogas, traumatismo, etc., desarmoniza o sistema energético humano, inicia-se um
processo dinâmico de adoecimento.

O estágio energético é o estágio mais precoce de um processo de adoecimento,


quando se estabelece desequilíbrio Yang/Yín no Zang Pu ou do Canal de Energia,
determinando diminuição da vitalidade nesses setores.

3.2 O diagnóstico na MC

A Medicina Chinesa busca enfatizar todos os acontecimentos tidos como sensações


geradoras das alterações funcionais e orgânicas que provocam o aparecimento de sintomas
e de sinais. A origem destes processos nada mais é do que o desequilíbrio causado por
determinados hábitos que levam a obstrução de energia: alimentação desbalanceada,
emoções retidas ao longo da vida, sedentarismo e fadigas geradas por vários tipos de
excessos (YAMAMURA, 1993).

Conforme Maciocia (2005), pode-se dizer que o valor da Medicina Chinesa não
está em suas teorias de Yin-Yang, Cinco Elementos, Oito Princípios, etc., mas sim no
diagnóstico propriamente dito. O diagnóstico da Medicina Chinesa é valioso porque
começa com o exame cuidadoso do paciente. “Isto forma a base do diagnóstico em
qualquer tipo de medicina de qualquer formação cultural, incluindo a medicina ocidental
moderna.”

Segundo o autor, a medicina ocidental moderna costumava se basear no exame


cuidadoso do paciente, antes da tecnologia e dos modernos instrumentos diagnósticos
adquirirem primazia sobre este procedimento e substituírem o exame adequado do
18

paciente, razão pela qual a Medicina Chinesa, com seu exame meticuloso, atrai milhares de
médicos em todo o mundo (MACIOCIA, 2005).

A força do diagnóstico da Medicina Chinesa está no exame detalhado do paciente


abordado a partir dos quatro pontos de vista:

a) Pela observação (olhar);


b) Interrogação (perguntar);
c) Palpação (tocar); e,
d) Ausculta (ouvir e cheirar).

Conforme Lopes (2006), na abordagem do paciente para a Medicina Chinesa, o


organismo é visto como um sistema integrado, interligado por uma rede de comunicação
constituída pelos meridianos ou canais por onde fluem a Energia Vital (Ch’i), a energia
Sangue (Xue) e os Líquidos Orgânicos (Jin Ye), Corpo e mente são manifestações do
mesmo princípio. A desarmonia em um determinado nível implica na desarmonia nos
demais. O mesmo desequilíbrio pode causar sintomas ou sinais tanto somático como
mentais. Dessa forma o paciente deve ser abordado de modo integral: mente e corpo.

A Energia (Qi ou Ch’i) é a forma imaterial que promove o dinamismo, a atividade


do ser vivo. Manifesta-se sob dois aspectos principais, um de característica Yang, que
representa a Energia que produz o calor, a expansão, a explosão, a ascensão, a claridade, o
aumento de todas as atividades, e o outro de característica Yin, a Energia que produz o
frio, o retraimento, a descida, o repouso, a escuridão, a diminuição de todas as atividades.
(YAMAMURA, 2004).

A saúde é resultado do equilíbrio perfeito da energia, que transita pelo corpo


através de doze canais denominados de meridianos. Estes meridianos conduzem a energia
por todo o corpo, procurando manter o equilíbrio Yin/ Yang (SOUZA, 1987).

A circulação de energia por entre os diversos canais pode sofrer interferência de


fatores externos, que poderão ocasionar estagnação ou bloqueio dessa energia e do sangue
gerando processos dolorosos ou mau funcionamento dos órgãos (ROSS, 2004).
19

4. ACUPUNTURA

O Chen-Chui ou a Acupuntura, como é conhecido no Ocidente, é um antigo método


terapêutico da Medicina Chinesa que se baseia na estimulação de determinados pontos do
corpo com agulha (Chen) ou com fogo (C/mi), a fim de restaurar e manter a saúde.
(YAMAMURA, 2004).

Segundo Chonghuo (1993), a Acupuntura é a modalidade mais conhecida da


Medicina Chinesa no Ocidente. Ela se constitui um dos ramos desta medicina milenar e
tem, antes de tudo, finalidade terapêutica baseada em diagnósticos precisos
(YAMAMURA, 2004).

Segundo a OMS (2002), a Acupuntura teve origem na China há muitos séculos


atrás e logo se espalhou para o Japão, a península coreana e no resto da Ásia. É uma prática
amplamente utilizada em sistemas de saúde nos países desta região; é oficialmente
reconhecida por Governos e bem recebida pelo público em geral. Embora a Acupuntura
tenha sido introduzida na Europa antes do século XVII, o ceticismo sobre sua eficácia
continua a existir em países onde a medicina ocidental moderna é a base de cuidados de
saúde, especialmente aqueles em que a Acupuntura ainda não tenha sido amplamente
praticada.

De acordo com a nova terminologia da OMS - Organização Mundial da Saúde, a


Acupuntura é um método de tratamento complementar. Foi também declarado Patrimônio
Cultural Intangível da Humanidade pela United Nations Educational, Scientific and
Cultural Organization (Unesco) em 19 de novembro de 2010.

Apesar de fazer parte da Medicina Chinesa, ao contrário de muitos outros métodos


tradicionais de tratamento, a Acupuntura não está restrita a este país, sendo utilizada em
todo o mundo, principalmente a partir dos anos 1970. (WHO, 2002).

A Acupuntura vem colecionando ao longo dos anos provas científicas do seu poder
terapêutico. Na década de 70, após 25 anos de pesquisas, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) publicou o documento Acupuncture: review and analysis of reports on controlled
clinical trials (revisão e análise de relatórios sobre ensaios clínicos controlados) que
20

comprovou a eficiência da Acupuntura. Neste estudo, que foi atualizado em 2002, é


analisada a eficácia das agulhas em comparação ao tratamento convencional com 147 tipos
de doenças ou sintomas mais comuns no ocidente. No entanto, a Acupuntura foi mais
eficaz que os remédios, em 41 tipos de doenças.

A Associação Internacional para o Estudo da Dor, em seu Guia para o Tratamento


da Dor em Contextos de Poucos Recursos assim se refere à Acupuntura:

As origens da Acupuntura remontam a mais de 2 000 anos. Esta técnica envolve


a estimulação de pontos pré-determinados do corpo com agulhas esterilizadas,
filiformes e descartáveis, sendo por vezes usado calor (moxibustão), pressão
(acupressão) ou eletricidade para aumentar o efeito terapêutico. A teoria antiga
subjacente à Acupuntura pressupõe que o “Qi”, ou a energia da vida, flui pelos
meridianos, que estabelecem a ligação entre os órgãos do corpo. Acredita-se que
a doença ocorre quando os meridianos ficam bloqueados. Dessa forma, a
Acupuntura alivia o bloqueio e permite o fluxo normal do Qi, devolvendo assim
a saúde. Encontra-se em curso estudos adicionais sobre os mecanismos da
Acupuntura (IASP, 2010).

A Acupuntura vem de um longo processo histórico como o resultado da busca pela


eliminação de doenças, durante séculos, pelo povo chinês. Evidências apontam que, desde
a Idade da Pedra, as pessoas já utilizavam instrumentos feitos de pedra na busca da saúde e
de forma curativa, e eram conhecidas como bian. Com a entrada na Era do Bronze e em
seguida na do Ferro, as bian (primitivas), formam substituídas pelas de metal. E, com o
passar dos anos, esses instrumentos foram, aos poucos, sendo aperfeiçoados. (MAIKE,
1995; CHONGHUO, 1993),

Na história da Acupuntura destacam-se 5 períodos: Pré-História (com o livro Nei


Ching); o Período Pré-Imperial (com a maior obra e mais antiga o I Ching - O Livro das
Mutações); o Período Imperial (com o livro Nei Ching - o Livro do Interno) e o Tong-Jen-
Tchen-Kieu-King (Tratado do Homem de Bronze); Fundação da República (declínio da
Acupuntura em detrimento da Medicina Ocidental) e a República Popular da China
(Acupuntura reencontrando o seu período de esplendor). (TYMOWSKI; GUILLAUME;
FIÉVET-IZARD, 1986).

Conforme os autores ainda relatam, as origens da Acupuntura datam da pré-história


chinesa, onde agulhas de pedra e de espinha de peixe eram utilizadas na China na Idade da
Pedra (cerca de 3.000 anos A.C.). Há registros históricos que documentam a Acupuntura
21

chinesa em outros países desde tempos muito remotos (TYMOWSKI; GUILLAUME;


FIÉVET-IZARD, 1986). Sua prática foi introduzida na Coréia no Século VI, e no Japão no
mesmo período. A Acupuntura se espalhou pela Europa já no final do século XVII
(MAIKE, 1995).

Sua filosofia relata a existência de uma energia - denominada Chi, essencial e


primitiva, que rege todos os elementos. Essa energia através de vários processos de
mutação dá formação ao Yin e o Yang, que são dois tipos de energia existentes na natureza
e responsáveis pelo equilíbrio em todas as estruturas dos organismos. O objetivo de todas
as técnicas utilizadas pela MC é manter o equilíbrio necessário entre estas energias para
que se possa viver em plenitude, pois as doenças são geradas justamente pelo seu
desequilíbrio. (FAUBER E CREPON, 1990).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem estimulando o uso da Medicina


Tradicional aliada à Medicina Complementar e Alternativa nos sistemas de saúde de forma
integrada às técnicas da medicina ocidental modernas (BRASIL, 2006; OMS, 2013).

De acordo com os resultados de uma pesquisa realizada pela Federação Mundial de


Sociedades Acupuntura e Moxabustão, a Acupuntura é usada em 183 dos 202 países
pesquisados. Dos 192 Estados-membros das Nações Unidas, em 178 (93%) praticava
Acupuntura (OMS, 2013).

Segundo ainda a pesquisa, alguns países oferecem cursos e graduações para a


prática da Acupuntura. Cada vez mais os governos estão adotando sistemas de autorização
oficial para acupunturistas, requerendo formação acadêmica, análise e registro. Entre 2002
e 2011, 91 escolas médicas nos Estados Unidos adotaram a medicina complementar e
alternativa em seus planos de estudos obrigatórios da medicina convencional.

4.1 Acupuntura no Brasil

Segundo Queiroz (2006), após a década de 1960, o movimento internacional de


contracultura trouxe ao Brasil tradições provenientes de culturas orientais. Tal movimento
22

sugeria um novo estilo de vida incorporando tendências naturalistas. No âmbito


econômico, em sentido contrário à industrialização e consumos desenfreados, o movimento
recomendava conceitos de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida numa
forma mais equilibrada de interação com o meio social e ambiental.

Conforme ainda o autor, a maior parte destas tradições tem como aspecto teórico
fundamental, a ideia de que a “energia” organiza a matéria, e não vice-versa, com ênfase
no estado geral do doente e não mais na doença; apresenta uma perspectiva integradora e
não organicista, que interpreta a doença como um desequilíbrio interno, e não como
resultado de invasões de agentes patogênicos. (QUEIROZ, 2006).

Assim, as propostas de saúde influenciadas pelo contato com o Oriente se


caracterizam por serem, não intervencionistas, mas focadas no indivíduo, seu meio
ambiente e sua experiência de vida. Dentre elas está a Medicina Chinesa e a Acupuntura.
(QUEIROZ, 2006)

A Acupuntura foi reconhecida oficialmente como especialidade da área de saúde no


Brasil, por meio da resolução COFFITO-60 publicada no Diário Oficial da União (DOU)
nº 207, de 29 de outubro de 1985, Seção I, p. 15.744. Dessa maneira, o fisioterapeuta foi o
primeiro profissional da área de saúde do Brasil a possuir um instrumento normativo sobre
a prática da Acupuntura, podendo “aplicar, complementarmente, os princípios, métodos e
técnicas da Acupuntura, desde que apresente, ao respectivo Conselho Regional de
Fisioterapia Terapia Ocupacional (CREFITO), título, diploma ou certificado de conclusão
de curso específico, patrocinado por entidade de Acupuntura de reconhecida idoneidade
científica ou por universidade”, sendo essa uma possível explicação para o elevado
interesse que a Acupuntura desperta entre os fisioterapeutas (COFFITO, 1985)

Dez anos depois o Conselho Federal de Medicina reconheceu a Acupuntura como


especialidade médica através da Resolução CFM no 1455/1995. Posteriormente, os
Conselhos Federais de Farmácia (2000), Fonoaudiologia (2001), Psicologia (2002),
Educação Física (2003) e Enfermagem (2003) reconheceram a Acupuntura como
especialidade profissional (Resolução CFF no 353/2000; Resolução CFFO nº 272/2001;
Resolução CFP nº 05/2002; Resolução COFEF nº 069/2003; Resolução COFEN nº
283/2003). Em 2001, o COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
23

Ocupacional – autorizou os terapeutas ocupacionais através da Resolução nº 221/2001 a


utilizarem a Acupuntura como atividade complementar.

Baseado nas recomendações da OMS, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº


971, de 3 de maio de 2006, na qual aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no Sistema Único de Saúde.

Tais práticas contemplam sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos


também denominados pela OMS de medicina tradicional e complementar/alternativa
(MT/MCA) e entre eles, a Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia e Termalismo
Social/Crenoterapia 1.

No Brasil, a prática da Acupuntura foi introduzida na tabela do Sistema de


Informação Ambulatorial - SIA/SUS em 1999, através da Portaria nº 1230/GM (Brasil,
1999), e sua prática reforçada pela Portaria 971/2006.

Esse documento define que, no SUS - Sistema único de Saúde, sejam integrados
abordagens e recursos que busquem estimular os mecanismos naturais de prevenção de
agravos e de recuperação da saúde, sobretudo, os com ênfase na escuta acolhedora, no
desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio
ambiente e com a sociedade (Brasil, 2006)

O Ministério da Saúde assim justifica a inclusão da Acupuntura como prática


integrativa e complementar:

A Acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde, inserida na Medicina


Chinesa (MC), sistema médico complexo, que aborda de modo integral e
dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser usada isolada ou
de forma integrada com outros recursos terapêuticos e que a MC também dispõe
de práticas corporais complementares que se constituem em ações de promoção e
recuperação da saúde e prevenção de doenças (BRASIL, 2006).

1 Indicação e uso de águas minerais de maneira complementar aos demais tratamentos de saúde.
24

5. A ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA

Na concepção da Medicina Chinesa, nosso sistema energético sofre concentração


maior de polaridade positiva (Yang) ou negativa (Yin) gerando estímulos nos diferentes
receptores de dor, presentes principalmente, nas camadas superficiais, bem como, em
tecidos mais internos (YAMAMURA, 2004).

A maior parte dos quadros de dor, segundo a Medicina Chinesa, se origina por uma
obstrução do livre fluxo de energia, juntamente com a obstrução do livre fluxo sanguíneo.

Este processo de obstrução acumula calor em determinadas regiões e impede a


irrigação de vasos, gerando frio e ausência de sangue por outro lado, causando
desarmonias orgânicas e doenças.

Quando a dor aparece, dá a indicação de onde acontece determinada obstrução.


Exceto em casos de traumas e acidentes no local, nem sempre a origem da dor está no local
exato de sua manifestação.

Por ser de origem empírica, a Acupuntura nem sempre teve crédito. Uma das
primeiras explicações que o mundo ocidental apresentou diante dos bons resultados da
Acupuntura foi atribuir a sua ação ao sugestionamento do paciente. Porém, ao observar
estes mesmos resultados em animais, torna-se óbvio que seu mecanismo de ação não se
baseia na auto-sugestão (BOTEY & RODRIGUEZ, 2005).

Os trabalhos realizados pelo mundo nas últimas décadas comprovaram a eficácia da


técnica no tratamento da dor. Deste modo, a Acupuntura está sendo cada vez mais utilizada
como intervenção terapêutica nos Estados Unidos e na Europa (ARAUJO, 2007).

Os motivos elencados pela OMS para este crescimento são: o aumento da demanda
causado pelas doenças crônicas; o aumento dos custos dos serviços de saúde, levando à
procura de outras formas de cuidado; a insatisfação com os serviços de saúde existentes; o
ressurgimento do interesse por um cuidado holístico e preventivo às doenças; e os
tratamentos que ofereçam qualidade de vida quando não é possível a cura.
25

A OMS apóia o recurso à Acupuntura enquanto intervenção eficaz para as dores


lombares, pós-operatórias e as reações adversas à radioterapia e à quimioterapia. Em 1997,
uma Conferência de Consenso no National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos,
concluiu que a Acupuntura é eficaz no alívio da dor, das náuseas e da osteoartrose. Desde
esta conferência, uma vasta documentação de investigação veio aumentar as evidências de
benefícios adicionais e o NIH continua a apoiar ensaios clínicos sobre a Acupuntura, bem
como estudos sobre os seus mecanismos. Existem dados substanciais que confirmam a
capacidade da Acupuntura em aliviar a dor.

No estudo atualizado pela OMS em 2002, no qual foi analisada a eficácia da


Acupuntura em comparação ao tratamento convencional, verificou-se que a proporção de
dor crônica aliviado pela Acupuntura ocorreu na ordem de 55-85%, o que torna seu
emprego vantajoso em relação a outros tratamentos com fármacos potentes (morfina -
70%) e supera de longe o efeito placebo (30-35%). Além disso, os mecanismos de
analgesia de Acupuntura têm sido extensivamente estudados desde o final de 1970. A
Acupuntura apresenta a vantagem de não causar efeitos colaterais ao paciente, como
observado em alguns fármacos empregados nos tratamentos e seu custo é reduzido (WHO,
2002).

Em estudo realizado nos Estados Unidos pelo Centro Nacional para Medicina
Complementar e Alternativa - NCCAM (National Center for Complementary and
Alternative Medicine) e publicado no final de 2012 na revista Archives of Internal
Medicine periódico da Associação Médica Americana, foram utilizadas informações de
estudos clínicos desenvolvidos com um total de 17.992 pacientes dos Estados Unidos, Grã-
Bretanha, Alemanha, Espanha e Suécia. O estudo concluiu que a Acupuntura se mostrou
superior no tratamento da dor crônica tanto em relação ao grupo que não recebeu nenhuma
terapia quanto ao que recebeu Acupuntura simulada (na qual agulhas são introduzidas na
pele, mas fora dos pontos específicos). Além da Acupuntura simulada, também foram
usadas na pesquisa, agulhas retráteis (que pressionam, mas não ultrapassam a pele dos
pacientes), Acupuntura a laser e nenhum tratamento. Os resultados confirmaram ainda que
os pacientes que receberam Acupuntura apresentaram menor dor nos casos crônicos de
lombalgia, osteoartrite e cefaléia que os pacientes tratados com Acupuntura simulada. A
redução foi ainda maior em comparação com pacientes que receberam outros tratamentos
placebos. (VICKERS et al).
26

Segundo os autores, os dados resultantes dessa análise com uma amostragem de


quase 18.000 pacientes em testes clínicos de alta qualidade fornecem as mais robustas
evidências até hoje de que a Acupuntura é uma boa opção para pacientes com dor crônica.
27

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da Acupuntura tem se expandido por vários países durante as últimas


décadas, com crescente interesse nos meios científicos de validarem seus benefícios. Tais
benefícios, no entanto, já foram analisados e reconhecidos pela organização Mundial de
Saúde (OMS) como uma prática terapêutica eficiente de prevenção, tratamento, e de
promoção da saúde. As vantagens de seu uso, principalmente no controle da dor, é um
fator preponderante em favor de sua utilização.

Os princípios e as abordagens da Medicina Chinesa são diferentes dos da Medicina


Ocidental, pois em sua concepção o Universo e o ser humano estão submetidos às mesmas
influências. A sua prática visa diagnosticar precocemente as alterações do equilíbrio
Yang/Yin, e a terapêutica é dirigida no sentido de restabelecer-se esse equilíbrio energético
no corpo humano, para que se possa viver em plenitude, pois as doenças são geradas
justamente pelo seu desequilíbrio.

A associação da visão holística da Medicina Chinesa com os tratamentos


tradicionais da medicina ocidental, podem atuar de forma complementar na terapêutica dos
pacientes.

Nos estudos pesquisados no presente trabalho verificou-se que a Acupuntura é


eficaz no tratamento da dor crônica, reduzindo a necessidade de medicação,
proporcionando analgesia, relaxamento, promovendo a liberação de opióides, produzindo
efeitos homeostáticos e harmonizando psicologicamente o indivíduo.

Ela pode ser usada isoladamente ou como adjuvante, potencializando a analgesia


mediada por medicamentos convencionais e reduzindo os efeitos colaterais observados
pelo seu uso prolongado.

O tratamento da dor crônica é de extrema importância, havendo a necessidade de


conscientização da população e dos profissionais de saúde para a sua relevância como
problema de saúde pública e de suas repercussões psicossociais e econômicas. Para o seu
controle devem ser empregadas medidas paliativas ou curativas, independente de serem
convencionais ou alternativas ou mesmo através da combinação de ambas.
28

Os efeitos adversos dos medicamentos e sua indisponibilidade, principalmente nos


países em desenvolvimento, são alguns dos motivos para a escolha de novas estratégias
para o tratamento da dor.

A Acupuntura, por ser uma técnica que reconhece a condição única de cada
indivíduo, desempenha papel importante nas diferentes fases do adoecimento, da
prevenção de doenças, quando a mesma está em fase energética, até a reabilitação.

Desta forma, a utilização da Acupuntura, não apenas como terapêutica da dor


crônica, mas como método de prevenção e promoção de saúde, é extremamente benéfico e
eficaz, sendo uma opção principalmente nos serviços públicos de saúde, onde poderia
reduzir os custos nesse setor.
29

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(Doutorado em Ciências), Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, SP, 2007.

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