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INTRODUÇÃO
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Mestrando no programa de pós-graduação em História da Unesp/Assis, sob orientação da professora Dra.
Fabiana Lopes da Cunha.
“[…] uma ainda incipiente produção historiográfica tem voltado sua
atenção para o campo da música, pensando essa expressão cultural como objeto a
ser explorado e importante fonte de acesso às tramas que buscam dar sentido à
realidade estudada, esteja elalocalizada no passado recente ou em tempos
remotos.”(BRITO, 2007, p. 209,)
A questão é que desde meados dos anos 1970 até o presente momento há uma
quantidade significativa de trabalhos científicos que privilegiam a música e canção popular
como objeto de estudo. Mas, ao seremconfrontadoscom outras temáticas abordadas por
historiadores, é notável que o universo musical precise ser mais explorado. A proposta deste
texto não é de apresentar um extenso levantamento dessa produção historiográfica,
mas,apontar alguns teóricos que, citados nesta reflexão, são importantes para pesquisadores
que irão incursionar neste universo singular.
Possivelmente, tal produção aindaestá em fase embrional, e, espera-se que outros
pesquisadores possam interessar-se em utilizar a música como objeto cultural, sendo ela fonte
e objeto de estudo.Com base na produção historiográfica sobre o assunto,pode-se afirmar que
a utilização da música/canção como fonte documental traz à tona novas perspectivas
exploratórias ao revisitar e analisar determinados períodos e realidades.Sendo mais específico
em nossos objetivos, quando nos referimos ao termo canção,que é o foco desta reflexão,
estamos especificando que verso e música juntos formam a canção como tradicionalmente a
conhecemos.
A história cultural da música popular no Brasil vem se desenhando e tomando forma
aos poucos. É um trabalho um tanto intrincado para o historiador querer estabelecer relação
entre o conhecimento histórico e a música, pois nem sempre os acadêmicos, em sua maioria,
deram prioridade para essa relação tão intrigante, certamente devido à existência de questões
heurísticas que necessitem de atenção especial.O historiador que se enveredar por esse
caminho, primeiramente, irá se deparar com questões relacionadas ao balizamento
metodológico no trato com a documentação. O que é relevante ao se defrontar com um objeto
sonoro?Como interrogar as canções enquanto documento histórico? Como fazer uma análise
significativa entre os elementos musicais e o conteúdo presente nas letras do cancioneiro
popular? Seriam estudadosos elementos musicais apenas? Como fundir ambos os aspectos?
Acreditamos que o pesquisador é quemdeterminará quais serão os métodos e critérios
aoanalisar a sua documentação.
Como exemplos de análise háas possibilidades do estudo da música popular regional
brasileira, que é um tanto quanto complexa na atualidade devido as suas características
híbridas,consequência da quantidade e diversidade de elementos que compõem nossa música
e influenciada diretamente pela diversidade étnica desta terra. A diversidade de gêneros e
obras musicais é de uma vastidão imensurável em nosso território brasileiro, pois somos um
país que produz e faz a recepção/apropriação da canção como bem cultural. Essa forte ligação
que os indivíduos têm com a música realça as possibilidades dos historiadores de explorar
esses elementos culturais em seus trabalhos.
Além disso, o Brasiltambém é um país de uma pluralidade cultural imensa e intensa; a
música e os sons da nossa terra refletem essa majestosa diversidade que fora severamente
necessária para compor a identidade cultural da nação brasileira. O Brasil é de fato um país
sonoro e musical; a música está no cerne da população brasileira.Pode-se afirmar com
veemência que somos uma das maiores usinas sonoras do planeta (NAPOLITANO, 2002).
DOCUMENTO SONORO
“[…] Uma obra de arte musical moderna, por menos complicada que seja, não
poderia ser produzida, nem transmitida, nem reproduzidasem os meios de nossa
notação: sem ela uma obra musical moderna não pode emgeral existir em lugar
algum e de nenhuma maneira, nem mesmo como umapropriedade interna de seu
criador.”(WEBER, 1995, p. 119)
Esta afirmação aguça uma questãopreocupantepara o pesquisador que está trilhando tal
percurso de análise.É importante construir um método que auxilie no processo de pesquisa,
norteando as observações acerca do assunto. Um bom balizamento metodológico será
preponderante na tentativa de executar uma investigação sintética, para que isso possarefletir-
se em um discurso sólido e dentro das perspectivas teóricas e metodológicas da historiografia
atual para a temática abordada. O historiador Marcos Napolitano, em sua obra intitulada
História&Música, através de uma leitura panorâmica desta relação, propõe algumas
aplicações metodológicas no trato da canção como objeto e fonte.
Na formulação e aplicação dos métodos possíveis, vale ressalvar a seguinte afirmação
de Vinci de Moraes,que atesta que o pesquisador da área de história e música pode “[…] criar
seus próprios critérios, balizas e limites na manipulação da documentação” (MORAES, 2000,
p. 210).
É uma questão essencial na elaboração de uma pesquisa dentro deste
camposeratencioso com as possibilidades de balizar o método teórico estabelecido, tendo
como referência pesquisadores expoentes nesse tipo de estudo.No Brasil, durante a década de
1990, aumentou significativamente a quantidade de trabalhos científicos e obras derivadas de
trabalhos acadêmicos que compõem a historiografia que trata da relação história e música. Há
desde trabalhos que utilizam a canção comofonte depesquisas e há pesquisas interessadas em
estudar a historiografia referente à música produzida ao longo dos anos (MORAES, 2013).
“Num dos países mais ricos em diversidade sonora do mundo, com um lugar
privilegiado na história da música popular do século XX, dedicar-se à história da
música, pensada em diálogo com a história intelectual, social, política e cultural, é
dar um passo a mais na compreensão da própria sociedade e suas formas de auto-
representação. E ainda há muito por fazer”. (NAPOLITANO, 2007, p. 171)
Bibliografia: