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UMA VISÃO DE DEUS NA TEOLOGIA LIBERAL

INTRODUÇÃO

Falar sobre Deus é, sem dúvida um desafio em si mesmo, visto que Deus não
pode ser abrangido pela inteligência humana. A teologia é uma "ciência" que se
encontra diretamente relacionada com o discurso sobre Deus, conforme podemos auferir
a partir do próprio sentido etimológico do termo. São inúmeras as idéias que se podem
conceber a partir do termo Deus, por isto, não seria de se estranhar o fato de que há em
nossos dias, uma diversidade bastante considerável de teologias, dentre elas a teologia
liberal, com a qual nos ocuparemos por ocasião deste empreendimento de pesquisa.

Inicialmente apresentaremos uma visão geral dos principais pensadores e


teólogos que, de forma mais significativa se relacionam com a gênese do assim
chamado protestantismo liberal, nomes como os de Hegel, Schleiermacher, Feuerbach,
Nietzsche, Strauss, Baur, Ritschl e von Harnack, visando ainda apresentar alguns
aspectos da teologia tradicional de modo a constatarmos alguns destes principais
aspectos com aqueles que caracterizam a teologia liberal. Ao adentrarmos no assunto,
acerca da visão da Deus na teologia liberal, buscaremos identifica-lo nesta visão, assim,
tentaremos responder à pergunta sobre Deus na teologia liberal; por fim apresentaremos
aspectos da teologia tradicional que se chocam com a visão liberal visando uma breve
análise crítica da teologia liberal.

1.CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Os termos liberalismo, liberalismo religioso, modernismo religioso ou


modernismo, significam quase que a mesma coisa. O liberalismo por sua vez, se refere a
um espírito de investigação onde os valores religiosos são postos de lado, não em
atitude de desrespeito, mas visando uma maior averiguação crítica daquilo que se está
examinando. O liberalismo religioso surgiu como produto da filosofia moderna e da
ciência moderna e busca conservar a essência do cristianismo em nossos dias. Por meio
de uma reinterpretação radical da fé cristã, é que os pensadores da teologia liberal
pretendem atingir este objetivo.
Três teólogos se destacam, no século XIX por investirem em movimentos que se
tornaram marcos do liberalismo religioso:
1. O primeiro movimento surge com a filosofia da identidade na Alemanha e é
representado por Schleiermacher;
2. O segundo, brota da filosofia Kantiana e está representado por Ritschl;
3. E, em terceiro lugar, a partir da filosofia de Hegel, representado por
Bierdemann.

Os teólogos liberais foram praticamente unânimes em aplicar livremente os


métodos da crítica literária no estudo das escrituras, bem como os métodos históricos e
sociólogos. De modo geral aceitavam a uniformidade da natureza, rechaçavam idéia
sobrenaturais e defendiam a continuidade entre o humano e o divino. Entendiam que
Cristo fora um homem especial e especificamente pleno do divino, não entendiam Jesus
como Deus, o filho encarnado em Jesus de Nazareth. Este homem especial reteve, em
termos terrenos, a vida de Deus na sua alma.
No pensamento de K. Cauthen, dois tipos do liberalismo merecem destaque:
1. O liberalismo evangélico onde Jesus Cristo permanece como sendo o fator
único e o centro da religião cristã e;
2. O liberalismo moderno que não concede este destaque a Jesus. (RAMM,
1975, p.90)

No parecer de Cauthen, destacam-se, ainda, três fatores característicos do


liberalismo que devem ser considerados:
1. O princípio de continuidade borra a distinção entre o sobrenatural e o
natural, segundo ele “praticamente não há fim para sua aplicação. Reduz a
distinção entre os animais e os homens, homem e Deus, natureza e Deus,
razão e revelação, Cristo e os outros homens, cristianismo e outras
religiões, natureza e graça, os salvos e os perdidos, justificação e
santificação, cristianismo e cultura, a igreja e o mundo, o sagrado e o
profano, o indivíduo e a sociedade, vida aquém e além, céu e inferno, o
natural e o sobrenatural, as naturezas humana e divina de Cristo, etc.”;
2. O princípio de autonomia se refere à autonomia da razão na religião e à
autonomia da experiência religiosa O resultado geral disto é a experiência se
eleva acima da teologia, a revelação é reduzida de uma autorevelação divina
à experiência religiosa; isto torna a teologia algo prático e pós-reflexivo da
experiência religiosa;
3. O princípio do dinamismo ensina que o mundo é um sistema aberto. O
mundo, assim como os homens, estão em processo de desenvolvimento,
deste modo, qualquer coisa estática na teologia como uma bíblia infalível ou
uma verdade infalível ou credo infalível, é digna de desconfiança. O
crescimento deve ser permitido na Bíblia e na teologia, assim como ocorre no
processo de desenvolvimento social como homem.

A teologia neo-ortodoxa surgiu como um vigoroso protesto contra a teologia


liberal. Toda a estrutura do pensamento dogmático de Brunner é contrária ao
liberalismo, Barth atacou com freqüência o liberalismo. O ano de 1933 culminou com o
período de liberalismo teológico que surgiu com Schleiermacher, Ritschl e Troeltsch.
Segundo Niebuhr “o protestantismo liberal pertence, em suma, ao
renascimento” (...)
Certamente, podemos atestar o fato de que fundamentalistas e liberal revogam
para si a salvação da essência do cristianismo. Para os liberais os fundamentalistas
estavam tornando enfraquecida a influência do cristianismo no mundo, pois pretendiam
mantê-lo em moldes carcomidos pelos longos períodos históricos que se passaram. Para
os fundamentalistas, os liberais devem ser encarados como verdadeiros subversores da
fé genuína. Nesta guerra, a declaração de Fosdick nos apresenta uma noção bastante
razoável acerca da rixa que há entre as duas correntes teológicas: “(...) O problema na
enunciação de uma nova ou de uma velha teologia, dizia ele, baseava-se no fato de ter-
se uma nova teologia ou não se ter nenhuma teologia absolutamente”. ( HORDERN,
1974, p. 83-84).
Os teólogos liberais pretendiam modernizar a teologia cristã, deste modo,
percebemos que o método do qual pretendia se utilizar esta teologia haveria de se
constituiria em algo bastante diversificado de tudo que se tinha empreendido pela ala
mais fundamentalista até então. O cristianismo precisava ser transmitido de forma
significativa ao homem de nossos dias.
Segundo Fosdick, uma expressão permanente do Cristianismo tem sido a
convicção acerca do triunfo final de Deus sobre o mal. Contudo, a figura tradicional que
se vinha utilizando para retratar esta convicção, era a da segunda vinda de Cristo nas
nuvens para erradicar definitivamente o mal; ora, a verdade essencial deve ser
preservada, contudo a figura utilizada se encontra ultrapassada e em completo
desacordo com o pensamento do homem de nosso tempo. Portanto, a essência da fé
deve permanecer em voga, no entanto, a forma de enunciação desta essência já se
mostra ultrapassada. ( HORDERN, 1974, Pg. 84)
Para os liberais, todas as crenças devem ser apreciadas à luz da razão e da
experiência, isto é, a fé deixa de ser a última palavra no que diz respeito à autoridade
maior na solução das questões religiosas; compreendem que qualquer verdade que se
lhes apresente será verdade divina, por isso, não se atemorizam diante de um problema
que se lhes apresente, de modo que, submetem estes problemas ao meticuloso exame
racional de qualquer deles. Não há, na teologia liberal, espaço para temores quanto a
toda e qualquer investida crítica contra os postulados basilares da religião cristã, de
sorte que, de modo algum, os seus teólogos, apóiam um posicionamento amedrontado
mediante as investidas da crítica antiliberal; tampouco no que se refere às novas
descobertas, ou aos novos postulados científicos ou filosóficos que lhes possa parecer
ameaçadores.

2. PENSADORES E TEÓLOGOS LIBERAIS EM DESTAQUE

2.1. O idealismo absoluto de Hegel

As bases da filosofia hegeliana estão fundamentadas no fato de que é


indispensável ao homem a suposição da existência de uma estrutura racional fora dos
domínios de sua própria mente, do contrário, seria inadmissível a crença do homem no
seu próprio conhecimento; isto é, se não admitirmos que o mundo, também, expressa
mente ou razão, onde poderemos depositar confiança em nossa mente? “O Idealismo, se
tornou, de logo, muito insinuante às simpatias dos cristãos pelo fato de possuir, em si,
excelentes meios de ataque contra todas as formas de filosofia materialista”
(HORDERN, 1974, p. 85).
O conceito bíblico de revelação de Deus, em categorias históricas, é considerado
pelos idealistas como sendo pura ingenuidade; entender que a divindade de Jesus, na
verdade, é um conceito puramente simbólico que aponta para o fato de que todos os
homens trazem consigo um aspecto divino implícito na sua natureza seria uma
conclusão muito mais coerente que aquelas conclusões que se desenvolveram a partir
dos antigos postulados bíblicos das primeiras décadas do cristianismo.
Embora o Idealismo Absoluto, de modo geral, tendesse a certo desprezo em
ralação à Bíblia, o que jamais se admitiria pelos teólogos liberais; não deixou de ser
bastante aproveitado no âmbito desta teologia. A ênfase idealista quanto à imanência de
Deus pode ser um claro exemplo desta abertura dos teólogos liberais aos postulados
idealistas.
A teologia protestante do século XIX, tornou-se um marco maior daquilo que
caracterizou o chamado protestantismo liberal, esta teologia parte de princípios da
filosofia Kantiana, segundo a ótica de B. Mondin, de modo que, num primeiro princípio
em questão a ser considerado, a religião é removida da esfera especulativa e num
segundo momento, o cristianismo é reduzido aos limites da razão. (MONDIN, 1979, p.
09).
Do mesmo modo que Hegel se destaca dentro desta perspectiva teológica como
sua substancial influência filosófica, outros nomes merecem destaque no presente
contexto, a saber:

2.2. Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)

Partindo dos postulados apresentados por Kant, Schleiermacher desenvolveu


uma nova teologia, ele é considerado o pai da teologia liberal. Em Schleirmacher a
religião se transfere para a esfera do sentimento. Nele, a religiosidade não é ciência nem
ação, mas sim, uma determinação do sentimento e da autoconsciência imediata, a
essência de toda e qualquer religiosidade, invariavelmente, reside no fato de que todos
nós compreendemos que, de alguma forma, temos uma relação com Deus. O homem, ao
se dar conta de si e do universo, desperta para a interdependência estabelecida entre
ambos; daí que, a racionalidade cede seu lugar à intuição e ao sentimento, que são vias
possibilitadoras do alcance de Deus por parte do homem. Ao teólogo, por sua vez, cabe
estudar a origem da religião e da história dos dogmas, subjetividade e história são, em
Schleiermacher, conceitos fundamentais e, porque não dizer, alicerces para a teologia
liberal que a partir dele se desenvolve.

2.3. Georg G. F. Hegel (1770-1831)

Hegel compreende que a religião é um dos três momentos da dinâmica dialética


do absoluto por isso difere apenas em forma da filosofia e da arte. A autoconsciência do
Espírito absoluto na religião se realiza imaginavelmente, ao passo que, na filosofia, se
dá de forma conceitual ou especulativa e, na arte, pela intuição sensível, deste modo, o
pensamento hegeliano, opõe-se de forma crítica ao de Schleiermacher. A religião é
pensamento, razão, assim como a filosofia, só que, na religião, o pensamento se dá na
forma de imagem, símbolos e metáforas. Em Hegel a religião cristã encontra nova força
para se projetar rumo à secularização. Para Hegel, Jesus Cristo é concebido como um
moralista, praticante aperfeiçoado da moral e do imperativo categórico. Para Hegel,
encarnação e a redenção não passam de dogmas (...) “símbolos da realização completa
da autoconsciência divina concretizada dialeticamente no espírito humano através da
negação”. (MONDIN, 1979-80, p. 10).

2.4. Ludwig Feuerbach (1804-1872)

Em Feuerbach, Deus é produto do homem, a religião cristã é dissolvida na


hipostatização das necessidades humanas, o homem é visto como o criador da idéia de
Deus, deste modo a idéia não cria seu idealizador, muito pelo contrário, foi o homem
quem criou a idéia de Deus, logo, O criou. Deus é então criado para ser aquele Pai
perfeito capaz de proporcionar segurança ao homem num mundo em constante
instabilidade. Deus é o ser ultraperfeito, representação de tudo aquilo que o homem
almeja se tornar e nunca consegue atingir. A idéia de “reino de Deus”, e sua perspectiva
de uma vida eterna, nada mais é do que uma espécie de projeção da vida ideal que o
homem gostaria de viver na sua realidade terrestre.

2.5. Friedrich W. Nietzsche (1844 -1900)

Com a proclamação da morte de Deus atestou a supressão total da teologia, por


meio dos argumentos filosóficos. Suas conclusões são muito equivalentes às de
Feuerbach, diferindo apenas na metodologia utilizada, neste caso, a da filosofia
histórica.

2.6. Davi Strauss (1808-1874)

Strauss compreende a vida e obra de Jesus como um mito desenvolvido de forma


quase consciente por parte de seus discípulos. A divindade de Cristo é negada, bem
como o valor de seu sacrifício salvífico: sua paixão e morte.

2.7. Fernando C. Baur (1792-1860)

Baur compreende o Novo Testamento a partir do conceito Hegeliano do


“contínuo transforma-se de desenvolve-se da idéia Universal através da série indefinida
de teses e antíteses que desembocam na síntese conclusiva”.

2.8. Albrecht Ritschl (1822-1899)

De certo modo, Ritschl, liberta a religião cristã de influências filosóficas e


religiosas da Antigüidade reduzindo-a, em sua doutrina, a tudo que se refere à fé em
Deus como Pai de Jesus Cristo. Procurou apresentar um conhecimento da religião cristã
de forma clara e acessível para todos buscando anular seus aspectos cerimoniais.
Através desta concepção histórico-crítica profunda pretendia salvaguardar a genuína
concepção do Evangelho de toda e qualquer forma de misticismo, quer pietista ou
romântico, bem como do catolicismo.

2.9. Adolf von Harnack (1851-1930)

Harnack foi considerado o maior representante do protestantismo liberal, este


grande historiador do cristianismo primitivo, ganhou renome a partir de sua obra A
História dos Dogmas. Adepto do método histórico-crítico, Harnack, que também
desenvolveu importante trabalho de cunho teológico, acreditava que o método histórico,
enquanto ferramenta do teólogo, é indispensável à interpretação da revelação bíblica.
Para o referido teólogo e historiador, a interpretação científica da Bíblia é a única
realmente viável.

Algumas conclusões de Harnack merecem destaque:

1. Os dogmas teriam sido fruto da helenização do cristianismo;


2.Os milagres teriam sido produto da mentalidade mágica e supersticiosa dos
primeiros discípulos.
Muito embora, possa parecer estranho Harnack era um cristão ativo e piedoso,
embora pouco dogmático; não era adepto nem do radicalismo cientificista, nem tão
pouco, do pietismo. Sua fé cristã era bastante firme apesar das convicções quanto ao
método histórico-crítico.

OBS. Este período da história da teologia também é conhecida como a vaga


secularizada.

3. DEUS NA TEOLOGIA LIBERAL

Na visão fundamentalista, Deus se encontra transcendente em relação ao mundo


material, Contudo, pode manifestar-se de forma imanente por meio de atos miraculosos
e outros especiais de revelação. Esta posição é oposta quando comparada com a visão
do liberalismo onde Deus pode se encontrar presente em todas as manifestações vitais e
não em raras aparições espetaculares; deste modo, Deus opera por meio da dinâmica das
leis naturais e de mudanças progressivas. Na teologia liberal não há manifestação
natural de algo que aconteça no mundo de modo que outros fatos possam ser
compreendidos como sobrenaturais, antes, na teologia liberal tudo que existe é
compreendido como ação de Deus, isto é, daquele que age “em e através” de tudo que
existe. Deste modo, Deus, se evidencia no mundo por meio do nascimento de qualquer
criança, portanto o argumento fundamentalista de que o nascimento virginal de Jesus é
um fato Divino, ou seja, transcendente no humano, se torna completamente descartável
e desnecessário, chegando a ser um verdadeiro transtorno à razão; deste modo podemos
concluir que na teologia liberal, de modo geral, Deus é compreendido tanto como sendo
imanente quanto transcendente.
Admiti-se assim, que Deus, na visão da teologia liberal, é igualmente
transcendente e imanente, deste modo, compreende-se que Ele não está limitado aos
diques do universo material, muito embora, transcendendo a esses limites, como
espírito, seja imanente e, enquanto essência do espírito, transcendente ao plano natural.
Desta forma, entendemos que Deus é espírito e essência do espírito, assim como o
homem, pela sua essência, transcende a si mesmo.
Analisando a visão liberal quanto à doutrina da criação, podemos deduzir que
esta doutrina não é desprezada no âmbito desta teologia, antes é utilizada como conceito
elucidativo no tocante à questão da imanência de Deus. Nesta visão, Deus não baixou
do céu a terra para finalizar sua criação, antes esteve a trabalhar durante eras,
construindo, a partir das leis naturais, o universo no qual vivemos e cuja consciência da
grandeza do mesmo nos causa admiração. Partindo deste conceito de Deus como
operador no universo e na vida do homem, compreendemos, na visão da teologia liberal,
que Deus é um Deus humanizado; não no sentido de que o homem possa ser como
Deus, mas antes aceitando o fato de que Deus detém características espirituais
consideradas, no caráter humano, como sendo boas.
Quando compreendemos o conceito de “Reino de Deus” como um conceito
ultrapassado e, principalmente, desgastado em períodos da história, como, por exemplo,
no feudalismo, entendemos, conforme a visão de alguns teólogos liberais, que este
conceito poderia ser reinterpretado, em nosso contexto atual, como “Democracia de
Deus”. Deste modo, Deus na visão liberal é entendido como um Deus que deve certas
satisfações aos homens que podem requerer diante d’Ele que lhe sejam assegurados seus
direitos inalienáveis.
Quanto à revelação, na teologia liberal, de modo geral, se admite que Deus
revelou-se de modo mais convincente na Bíblia e na pessoa de Jesus Cristo, muito
embora há os que consideram o próprio homem como sendo extensão da revelação de
Deus, deste modo outras religiões podem dispor desta revelação, que, neste caso, não
seria uma exclusividade do cristianismo. Contudo, os liberais são unânimes quanto ao
entendimento de que a revelação deverá submeter-se aos critérios da razão e da
experiência.
Considerando as questões acerca da deidade da Jesus, podemos entender, a partir
da teologia liberal, o mestre Galileu não é compreendido aos moldes da interpretação
nicena do final do IV. Séc.., d.C., na qual Jesus é apresentado como sendo da mesma
substância de Deus, os liberais entendem essa interpretação avaliando-a em termos de
caráter e integridade espiritual, isto é: tendo vivido plenamente à vontade de Deus, Jesus
tornou-se um com Ele. (HORDERN, 1974, P. 91).

CONCLUSÃO

A teologia liberal tem ocupado um lugar de destaque como teologia em nossos


dias, isto se deve, principalmente, ao fato de que há liberdade de pesquisa e de produção
teológica que nela se verificam e possibilitam uma leitura bastante coerente de tudo
aquilo que se relaciona ao seu objeto fundamental.
Não se pode tentar responder à pergunta sobre Deus partindo de uma visão
preconceituosa quanto às metodologias empregadas neste empreendimento, tampouco
partir de pressupostos puramente dogmáticos; Deus não está relacionado a categorias
míticas ou lendárias, como no caso dos contos de Aladdin e o tapete voador, ou do
Gênio da lâmpada; Deus não pode ser contido dentro de uma garrafa, ou em algum
dique dos fracos mecanismos de dominação que os homens criam visando sobrepujar as
coisas que o cercam ao seu domínio. Deus não se encontra nos domínios do homem, por
isto, o compreendemos, também, a partir do conceito de transcendência que, por si só, já
deveria ser suficiente para derrubar antigos paradigmas quanto à especulação teológica
cerca esta temática.
A Teologia Liberal compreende Deus presente em todas as manifestações vitais
e, por isto mesmo, sua imanência não é ignorada neste contexto; deste modo Ele se
encontra agindo “em e através de” tudo.
Os teólogos liberais buscam resgatar a essência da religião cristã, deste modo,
um grande número de questões se tem levantado a partir da teologia tradicional
conservadora que vão de encontro à liberdade metodológica e especulativa empregadas
pela teologia liberal.
Temos compreendido que tanto o radicalismo dogmático quanto o liberal
representam um perigo quanto ao bom desenvolvimento do conhecimento humano no
que se refere à especulação teológica que é o fundamento para uma vivência salutar da
religiosidade humana.
A teologia liberal busca conhecer a Deus de fato e para isto busca também se
despojar tanto dos temores religiosos quanto da dogmática inquestionável que se
desenvolveu ao longo da história da igreja cristã. Qualquer teologia que tente perscrutar
a Deus com base em conhecimentos e credos anacrônicos, prescindindo de uma
perspectiva contemporânea do mundo e do conhecimento histórico-científico que
dispomos hoje está fadada ao fracasso. Para navegar nesta vastidão do mar da teologia
hoje é necessário um barco equipado com o que há de mais sofisticados; do contrário o
naufrágio se tornará óbvio.
Não há mais espaço para aquela idéia antiga de que quanto mais próximo de
Deus mais longe da razão, ou da idéia de que quanto mais nos atualizamos ou
acompanhamos o desenvolvimento natural da história mais próximo estamos do inferno
e da condenação divina. O próprio conceito de reino de Deus precisa ser
contextualizado visto que, em nossa época, faz mais sentido falarmos em termos de
“democracia de Deus” na qual Deus também se dispõe a não oferecer resistência aos
direitos inalienáveis do homem, muito principalmente quando este homem, por meio da
teologia liberal, alça sua voz proferindo a antiga pergunta ao infinito: Quem é Deus?

REFERÊNCIAS:

BARTH, Karl. Introdução à teologia evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 1996.

FABRO, Cornélio. Deus. São Paulo: Herder, 1967.

HENRY, Carl S. H. Fronteiras na teologia: Uma crítica das correntes tendências


teológicas. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1971.

HORDERN, William E. Teologia protestante ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Casa


Publicadora Batista, 1974.

MONDIN, Battista. As teologias do nosso tempo. São Paulo. Paulinas, 1979.

MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século XX, vol. II. São Paulo: Paulinas,
1979-80.

RAMM, B. Dicionário de teologia Contemporânea. Barcelona. Casa Bautista de


Publicaciones, 1975.

REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da filosofia, vol. III. São Paulo:
Paulus, 1991.

GUNDRY, Stanley. Teologia contemporânea. São Paulo: Mundo Cristão, 1983.


UMA VISÃO DE DEUS NA TEOLOGIA LIBERAL

MARCELO SANTOS

Recife
2000

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