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Revolução permanente e

revolução por etapas na


América Latina (Daniel
Bensaïd)

Revolução permanente e revolução por etapas na América Latina ⎼ A


tímida autocrítica de Jorge Handal
(1983)
Daniel Bensaïd
Tradução de Fernando de Oliveira Lúcio (Feluxo)
Revisão de texto por Pedro Barbosa

Fonte: http://danielbensaid.org/L-autocritique-timoree-de-Jorge-Handal?
lang=fr

Schafik Jorge Handal, secretário geral do Partido comunista salvadorenho


desde 1973, publicou em 1981 um artigo intitulado "O poder, o caráter e a
via da revolução e a unidade da esquerda", que trata de algumas questões
chave da revolução salvadorenha, à luz da experiência da Nicarágua. Esse
artigo foi objeto de inúmeras publicações em espanhol e em inglês.
Notoriamente, está publicado em sua versão integral no Intercontinental
Press de 15 de novembro de 1982. As ideias apresentadas nesse artigo de
Schafik Handal estão igualmente desenvolvidas em uma entrevista de Schafik
Handal pela jornalista chilena Marta Harnecker, publicada nos números de 7
e 8 de outubro de 1982 do jornal nicaraguense Nuevo Diario.

O Partido Comunista Salvadorenho conheceu uma cisão no fim de 1969. Um


grupo de militantes dirigidos por Salvador Cayetano Carpio, mais conhecido
a partir de então pelo nome de comandante Marcial, deixava, então, o
Partido. Cayetano Carpio, até então secretário geral do partido, explicava:
"Tomei essa iniciativa quando se tornou evidente que já não era possível
fazer o Partido compreender a necessidade de uma estratégia político-
militar, dito de outra forma, de uma estratégia revolucionária global cuja
validade deveria ser demonstrada ao nosso povo pela prática". O grupo
dirigido por Cayetano Carpio deveria tornar-se as Forças Populares de
Libertação (FPL) que são hoje um dos principais componentes da frente
Farabundo Martí de Liberação Nacional (FMLN).

Os problemas abordados por Handal sob a pressão dos eventos não são,
portanto, problemas novos para o Partido Comunista Salvadorenho, mas
objeto já de dois decênios de debates internos e de convulsões.

Fora isso, além das autocríticas, Handal se dedica a manter uma


continuidade na política concreta do PC. Logo depois do golpe de Estado de
outubro de 1979, o PC entrou no governo ao lado da democracia cristã. Em
1982, depois das eleições orquestradas pelo imperialismo americano, Handal
em pessoa reafirmava a possibilidade de uma aliança estratégica com um
setor do exército, que não saberia conceber-se fora de uma negociação
global na região: "[...] seria falso pensar que, no exército hondurenho, só
existam partidários da política de repressão e de intervenção. Aí se
encontram também outras opiniões realmente democráticas vindas dos
adversários de uma tal utilização do exército. Observar-se-á igualmente um
cenário análogo em Salvador" (Processo Revolucionário, n°2, agosto 1982,
p.13).

Em seu artigo, Schafik Jorge Handal se propõe a voltar a quatro questões


decisivas para a estratégia revolucionária na América Latina, a partir da
constatação de que na América Latina, "duas grandes revoluções autênticas
ocorreram, em Cuba e na Nicarágua, sem que, em nenhum dos dois casos, o
Partido Comunista estivesse na dianteira". Essas quatro questões-chave são,
segundo Handal, a do poder, a do caráter da revolução, a das "vias da
revolução", e enfim a da "unidade da esquerda revolucionária".

1. O fracasso dos partidos comunistas tradicionais (Handal fala da


"experiência desastrosa do partido irmão nicaraguense"), de certa forma, traz
de volta o conjunto de sua orientação. Para Handal, a fragilidade fundamental
deles reside na abordagem do problema do poder: "Estamos convencidos de
que a ausência prática de uma clara direção do combate para o poder é o
principal fator que explica esses resultados. O mesmo problema esteve na
base, pensemos, da caracterização de certos processos sociais e políticos
reformistas na América Latina como ‘revoluções’; na prática, essa
caracterização pôs os partidos irmãos dos diferentes países em um papel de
linha auxiliar".

2. No que tange ao caráter da revolução, Handal escreve: "Não se pode ir ao


socialismo senão pela via democrática anti-imperialista, mas, reciprocamente,
a revolução democrática anti-imperialista não pode ser devidamente
conduzida sem ir ao socialismo. Considerando-se que existe entre ambos um
elo essencial e indissolúvel, trata-se de duas facetas de uma mesma revolução
e não de duas revoluções [...]. A revolução democrática anti-imperialista não
se mostrará a nós como uma revolução separada, mas antes como o
cumprimento das tarefas da primeira fase da revolução socialista".

3. Quanto à via revolucionária, Handal a infere logicamente do próprio caráter


da revolução: "Se aceitamos a ideia de que a revolução democrática anti-
imperialista é uma parte inseparável da revolução socialista, a revolução não
pode, portanto, realizar-se pela conquista pacífica do poder a qualquer preço;
será antes indispensável, de qualquer maneira, desmantelar a máquina estatal
dos capitalistas e dos seus mestres imperialistas, para erigir um Estado e um
poder novos. Nessas condições, torna-se evidente que a via pacífica não é a
via da revolução. Quanto ao problema da via da revolução na América Latina,
partir do dogma segundo o qual é indiscutivelmente verdadeiro, por princípio,
que a via armada e a pacífica seriam igualmente possíveis e justas nos parece
um erro muito grave".

4. Enfim, interagindo com todos esses problemas, há a "questão da unidade


das forças da esquerda revolucionária e da atitude dos comunistas quanto às
organizações revolucionárias que apareceram por fora das estruturas do
partido". A esse respeito, Handal observa: "É curiosamente sintomático que os
partidos comunistas tenham demonstrado, nas décadas passadas, uma grande
capacidade de se entender com os vizinhos de direita, sendo que nós não
fomos capazes, em contrapartida, na maioria dos casos, de estabelecer
diálogos e alianças progressistas estáveis com nossos vizinhos de esquerda
[...]; não somos capazes de compreender o fenômeno da sua existência, suas
características e sua significação histórica objetiva".

Voltaremos a cada um dos pontos levantados por Handal à luz da experiência


da revolução na América Latina, começando, porém, pela questão do caráter
da revolução, o que nos parece mais lógico.

Sobre o caráter da revolução

Após haver claramente afirmado que a revolução democrática antiimperialista


e a revolução socialista não saberiam separar-se e que se trata, na verdade, das
duas "facetas de uma mesma revolução", Handal que não é um novato no
movimento comunista, lança com incrível má fé: "Não sei de onde nos vem
essa ideia, mas o nosso partido ⎼ lembro-me de outros partidos e dirigentes
comunistas na América Latina ⎼ trabalhou por dezenas de anos com a ideia de
duas revoluções e nós consideramos a experiência cubana como uma ‘exceção
particular’”.

É um malabarismo ideológico!

De onde poderia ter vindo essa ideia de dividir a revolução em duas etapas?
Handal perdeu repentinamente a memória. É necessário, portanto, refrescá-la.

A separação de duas etapas na revolução é totalmente estrangeira aos raros


documentos da Internacional Comunista sobre a América Latina nos seus
primórdios. "O chamado à Classe Operária das duas Américas" (A
Internacional Comunista, 15 de janeiro de 1921) inscreve, em vez disso,
explicitamente a luta democrática na perspectiva da revolução proletária: "A
união revolucionária da classe camponesa pobre e da classe operária é
indispensável; só a revolução proletária pode libertar o campesinato,
rompendo a potência do capital, só a revolução agrária pode preservar a
revolução proletária do perigo de ser esmagada pela contrarrevolução". E,
dois anos mais tarde, a proclamação "Aos Operários e aos Camponeses da
América do Sul" (Correspondência Internacional n°2, 20 de janeiro de 2023)
afirma: "Lutem contra sua própria burguesia e estarão lutando contra o
imperialismo yankee".

Em um texto magnífico de 1928, "A Luta Revolucionária contra o


Imperialismo", Mella explicava: "As traições das burguesias e pequenas
burguesias nacionais têm uma causa que já todo o proletariado compreende.
Elas não lutam contra o imperialismo estrangeiro para abolir a propriedade
privada, mas para defender a sua propriedade contra o roubo que os
imperialistas cometem de sua parte. Em sua luta contra o imperialismo (o
ladrão estrangeiro), os burgueses (os ladrões nacionais) se unem ao
proletariado, a boa bucha de canhão. Enquanto isso, eles acabam por
compreender que mais vale fazer aliança com o imperialismo, pois, no fim das
contas, eles perseguem um interesse similar. De progressistas, tornam-se
reacionários. As concessões que a burguesia fazia ao proletariado, para tê-lo
ao seu lado, ela os trai quando isto, no curso de seu avanço, se torna perigoso
tanto para o ladrão estrangeiro quanto para o ladrão nacional [...]. Para falar
concretamente: a liberação nacional absoluta, o proletariado só a obterá pela
revolução operária".

Quanto a Mariátegui, ele afirmava igualmente, em 1929, em O Proletariado e


sua Organização: "A revolução latino-americana não será nada demais e nada
de menos que uma etapa, uma fase da revolução mundial. Ela será pura e
simplesmente a revolução socialista. Você pode juntar a essa palavra, segundo
o caso, todos os adjetivos que quiser: antiimperialista, agrária, nacionalista,
revolucionária. O socialismo as implica, as precede, abraça-as todas". Não é
necessário crer que se trate de petições de princípio. Mariátegui sabia, ao
contrário, inferir daí claramente as consequências estratégicas essenciais:
"Para nós, o antiimperialismo não constitui nem pode constituir por si só um
programa político, um movimento de massas apto à conquista do poder.
Mesmo se se admite que possa mobilizar, ao lado das massas operárias e
campesinas, a burguesia e a pequena burguesia nacionalistas (já refutamos
formalmente essa possibilidade), o antiimperialismo não suprime o
antagonismo entre as classes, não anula as divergências entre os seus
interesses. Nem a burguesia nem a pequena burguesia podem levar ao poder
uma política antiimperialista [...]. A tomada do poder pelo antiimperialismo,
enquanto movimento demagógico populista, se fosse possível, não equivaleria
jamais à tomada do poder pelas massas proletária em nome do socialismo. A
revolução socialista encontraria seu inimigo mais corajoso e mais fervoroso
(perigoso em seu confusionismo e sua demagogia) na pequena burguesia
apegada ao poder conquistado por suas palavras de ordem. Sem negligenciar o
emprego de nenhum elemento de agitação antiimperialista, nem nenhum meio
de mobilização dos setores sociais que eventualmente possam participar dessa
luta, nossa missão é explicar e demonstrar às massas que só a revolução
socialista está em condições de opor uma barreira real e definitiva ao
imperialismo". (Ponto de Vista Antiimperialista, 1929)

Eis, então, qual era a tradição do comunismo revolucionário latino-americano


nascido da onda de choque da revolução de outubro. E foi ainda sob a
bandeira indissociável do antiimperialismo e do socialismo que o jovem
partido comunista salvadorenho de Farabundo Martí liderava a insurreição
camponesa de 1932.

A ideia de mutilar a revolução, de travá-la em sua etapa antiimperialista, da


qual Handal não sabe mais em 1981 de onde poderia ter vindo, é, de fato, uma
ideia importada. Ela é a projeção sobre o continente da guinada à direita da
Internacional Comunista em 1935, da tentativa de aliança entre a URSS e as
democracias burguesas (pacto Stálin-Laval) e da sistematização à escala
internacional da linha das frentes populares.

A partir de então, o objetivo estratégico dos partidos comunistas subordinados


a Moscou não vai além de uma etapa democrática e antiimperialista de
desenvolvimento capitalista. O fim implica os meios: uma aliança duradoura
com as burguesias nacionais na qual os partidos comunistas, como o admite a
posteriori Handal, se reduzem, na maior parte do tempo, ao papel de linha
auxiliar, e periodicamente expostos à repressão impiedosa de seus aliados de
outrora.
Nesse quadro geral, a aplicação concreta segue as sinuosidades da diplomacia
soviética. O fim dos anos trinta é aquele das frentes populares, que vê o PC
cubano apoiar Batista e participar do governo e o PC chileno pôr-se a reboque
do partido radical.

Em 1945, ao fim da guerra, é a euforia da aliança entre Stálin e o


imperialismo americano que se reflete na política dos partidos comunistas. Na
Argentina, o stalinista modelo, Codovilla, apoia contra o peronismo uma
aliança de "todos os partidos tradicionais, da parte mais consciente e
combativa do movimento operário e do campesinato, da maioria dos
industriais, comerciantes, pecuaristas e financistas, da maioria do exército e da
marinha e de uma parte da polícia em uniforme [...]" (relatório da conferência
do PC argentino de dezembro de 1945). O PC brasileiro se coloca sob a
liderança de Vargas, que entrou na guerra ao lado dos aliados.

Enfim, como lembrava o fundador da Frente Sandinista da Nicarágua, Carlos


Fonseca Amador, o Partido Socialista Nicaraguense (organização comunista
ligada a Moscou) nasceu "em 1944, antes do fim da Segunda Guerra Mundial,
em uma época onde as teses de Earl Browder, secretário do PC dos Estados
Unidos, que pôs à frente a conciliação com a classe capitalista e com o
imperialismo norte-americano na América Latina, estava em pleno vigor". É
verdade, apesar de tudo, que se tratava também da política oficial de Moscou,
pela qual Browder não deveria levar a culpa sozinho. Pior, o PSN nasceu
"durante um encontro cujo objetivo era proclamar o apoio ao governo de
Somoza. Isso se produziu em 3 de julho de 1944 no ginásio de Manágua [...]"
(Carlos Fonseca, Nicarágua, Hora H, Tricontinental, setembro de 1969).

O lapso de memória de Handal é, portanto, antes um precipício ou um abismo


para o qual é tragado meio século de história do movimento operário latino-
americano.

Mesmo admitindo que Handal esteja sujeito a tais esquecimentos, ele teve
mais de vinte anos, depois da vitória da revolução cubana, para reencontrar
sua memória defeituosa e reatar o fio da história. Pois Castro, Guevara, Carlos
Fonseca (que é um vizinho de Handal na América Central) não esperaram
vinte anos para extrair as lições da Revolução Cubana e reatar, assim, o
diálogo revolucionário com seus grandes ancestrais Mella ou Mariátegui.

Desde seu discurso histórico de 2 de dezembro de 1961, após a nacionalização


do essencial dos bens imperialistas, Castro retornava explicitamente a essa
tradição: "Não há meio termo entre o capitalismo e o socialismo. Os que se
obstinam a buscar uma terceira via caem em uma posição errada e utópica
[...]. Tal é o caminho que seguimos: o caminho da luta antiimperialista, o
caminho da revolução socialista. Pois não havia outra posição possível. Era
necessário fazer uma revolução antiimperialista, uma revolução socialista.
Mas essa não era senão uma revolução, pois só pode haver uma. Tal é a
grande verdade dialética da humanidade: o imperialismo só tem contra si o
socialismo". Castro era categórico sobre a unidade dialética do conteúdo
antiimperialista e do conteúdo socialista da revolução. Foram necessários a
Handal mais de vinte anos para convencer-se disso. Antes tarde do que nunca.
Porém, a descoberta de Castro não permaneceu uma confidência oculta entre
as linhas de um discurso. Ela foi partilhada e propagada pelo continente por
toda uma geração. Por Che Guevara, que proclamava: "ou revolução socialista
ou caricatura de revolução"; pelo relatório da delegação cubana durante a
conferência da OLAS em 1967 e pelas teses da própria conferência [1].

Handal não pode dizer que essa perspectiva não tenha atingido a América
Central. No artigo já citado, Carlos Fonseca escrevia em 1969: "A luta se
desenvolveu (de 1926 a 1936) sem que existisse um proletariado industrial. A
burguesia nascente traiu o povo nicaraguense e se abandonou à intervenção
yankee [...]. É necessário atualmente insistir no fato de que o nosso principal
objetivo é a revolução socialista, uma revolução que se propõe a pôr em
debandada o imperialismo yankee, seus agentes locais, os falsos oponentes e
os falsos revolucionários". Não fomos frugais diante da abundância das
citações e referências para mostrar adequadamente a que ponto as revelações
de Handal são tardias e genéricas, quanto a um debate que balança há um
século o movimento operário do continente. Foi necessária a formidável
persistência dos fatos e, sobretudo, a decolagem da revolução no próprio El
Salvador, de encontro à política do PC salvadorenho, para forçá-lo a essa
autocrítica.

Porém, nos anos vinte, os dados do problema estratégico estavam definidos e


bem-postos. Encontrava-se, de um lado, uma corrente populista que tendia a
insistir à exaustão na especificidade da América Latina, de sua história, de sua
estrutura social, para fundamentar teoricamente a perspectiva de uma
colaboração entre as classes. É notavelmente a teoria do peruano Haya de la
Torre e de seu movimento, a Aliança Popular Revolucionária Americana
(APRA) que se pretendia, em sua origem em 1924, um movimento
antiimperialista continental.

Mais tarde, viria uma corrente marxista mecanicista para alimentar em álibis
teóricos a política de aliança e de subordinação à burguesia nacional seguida
pelos partidos comunistas stalinizados. Tratava-se de considerar as sociedades
latino-americanas como sociedades feudais, para melhor justificar a
perspectiva de desenvolvimento de um capitalismo nacional e antiimperialista,
implicando uma aliança estratégica com as burguesias nacionais. Essa
orientação, que é ainda, sob múltiplas variantes, a dos partidos comunistas
tradicionais (no Brasil, na Bolívia, na Argentina, no Chile, etc.) deve ser
compreendida no quadro da política internacional da burocracia soviética. Se
trata de uma política ao serviço da burocracia soviética, que acompanhou, ao
longo dos anos, todas as suas principais viradas: prova de que as ideias têm
também sólidas raízes materiais. Mas seria necessário concluir, ao contrário,
(o que Handal evita) que uma política realmente revolucionária na América
Latina passa também pela afirmação da mais completa independência diante
dos interesses e metas da burocracia soviética.

Enfim, a corrente marxista e revolucionária, encarnada desde os anos vinte


por Mella ou Mariátegui, sempre considerou as sociedades cujo caráter
capitalista é diretamente imbricado na dominação imperialista e moldada por
ela. Donde o elo indissolúvel entre luta antiimperialista e revolução socialista.
Essa corrente rejeita a doutrina de um feudalismo latino-americano e define a
estrutura social, aí compreendida no campo, como essencialmente capitalista.
Critica o conceito de burguesia nacional progressista e rejeita a perspectiva de
um possível desenvolvimento capitalista para os países latino-americanos. Vê,
no fracasso das experiências populistas, a consequência lógica da natureza das
formações sociais dependentes do imperialismo. Encontra a fonte do "atraso"
econômico não no feudalismo ou nos obstáculos pré-capitalistas, mas nas
próprias características do capitalismo dependente. Concluindo, exclui a
possibilidade de uma via de desenvolvimento democrático-nacional e afirma a
necessidade da revolução socialista como única resposta coerente à
dependência e ao subdesenvolvimento.

A Questão do Poder

Handal considera que, se deslizes reformistas se produziram na política dos


partidos comunistas na América Latina, é por ter perdido de vista a questão do
poder. Raciocínio perfeitamente circular! E por que perderam de vista a
questão do poder? Está tudo lá.
Handal não estabelece claramente o elo entre esse deslize e a primeira
questão, a do próprio caráter da revolução. É, portanto, evidente que um
partido não aborda a questão do poder do mesmo jeito se objetiva conquistá-lo
ou se quer somente ajudar uma classe aliada a tomá-lo e exercê-lo. Essa era já
a grande linha divisória entre mencheviques e bolcheviques, desde 1905,
como Lênin notavelmente resumiu: "As frações bolchevique e menchevique
levaram, elas próprias, todas as divergências à seguinte alternativa: deve o
proletariado ser 'o guia', o 'dirigente' da revolução e puxar, em seguida, o
campesinato, ou será que deve ser 'o motor' que sustenta tal ou tal passo da
democracia burguesa?" (tomo XV, p. 388).

Lênin defendia, então, contra os mencheviques uma posição claramente anti-


etapista do ponto de vista da conquista do poder político. O que está em jogo
na polêmica do início da revolução de 1905, diz ele, "não é o problema teórico
geral dos objetivos da luta e do conteúdo de classe da revolução, no caso de
ela ser vitoriosa, mas o problema mais estreito do governo revolucionário
provisório" (ibid.).
À luz da experiência de 1905, desde 1906 o debate se esclareceu. Para os
bolcheviques, "só o proletariado está em condição de levar até o fim a
revolução democrática, pois é a classe completamente revolucionária da
sociedade contemporânea" e "puxa, em seguida, o campesinato”. Ademais,
insiste Lênin, pouco importam as formulações ("treinando o campesinato",
"apoiando-se sobre", "com ajuda do"). A questão em litígio com os
mencheviques se resume em três pontos capitais a seus olhos: 1) o
proletariado deve exercer o papel dirigente, o papel de guia da revolução; 2) o
objetivo da luta é a conquista do poder pelo proletariado com ajuda das outras
classes revolucionárias; 3) nesse domínio, o campesinato é a primeira, e talvez
a única, "ajuda" (ibid.).

Para os mencheviques, ao contrário, o proletariado deve ser o "motor" (o


motor, e não o guia, sublinha Lênin!) da revolução e “sustentar por uma
pressão de massa os passos da oposição da democracia burguesa que não estão
em contradição com o seu próprio programa". Sob o ponto de vista do poder
político, isso leva à resignação a uma etapa na qual o poder está abandonado
nas mãos da “democracia burguesa".

Handal reconhece, a seu modo, que os partidos comunistas latino-americanos


se colocaram, em sua maioria, ao lado do menchevismo, limitando-se ao papel
de "linha auxiliar" quanto ao problema do poder, que devem repor, no
presente, no "centro de sua atividade".

Entretanto, em seu retorno a Lênin, Handal só faz a metade do caminho. De


um lado, pretende abolir a separação entre uma revolução que será somente
antiimperialista e a revolução socialista. Mas, do outro, tende a restabelecer
essa etapa, distinguindo radicalmente "o problema do poder" do "programa
socioeconômico" da revolução.

É verdade que, entre 1905 e 1906, a polêmica de Lênin contra os


mencheviques se limitava à questão: quem deve tomar o poder? Se ele
respondia "o proletariado puxando o campesinato", não deixava, mesmo
assim, de caracterizar essa revolução como "democrática" e prever que o
conteúdo social da revolução social seria burguês. Ele concebia a
possibilidade de um poder político guiado ou dirigido pelo proletariado no
quadro de uma sociedade que permaneceria, por todo um tempo, capitalista.
No entanto, sobre essa questão, a revolução de 1917 completou as lições da de
1905. É verdade que a revolução proletária começa pela conquista do poder
político. É fato que a conquista do poder político e a transformação das
relações de produção não coincidem necessariamente no tempo. A primeira é
um ato, o desenlace revolucionário de uma prova de força entre classes
antagônicas. A segunda é um processo, do qual a primeira é uma alavanca e
cujos ritmos não se pode pré-determinar.
Existe, ao mesmo tempo, entre os dois, uma relação dialética. Pois a conquista
do poder político, e sobretudo a sua conservação contra toda tentativa
contrarrevolucionária, implica na mobilização mais ampla das massas
exploradas e oprimidas, sobretudo a classe operária e o campesinato pobre,
únicos capazes de romper a resistência capitalista e imperialista. Porém, essa
mobilização não se alimenta de promessas, mas de conquistas sociais. O
Partido Comunista Vietnamita sabia bem disso, tanto que ⎼ para preparar a
ofensiva que conduziu à vitória de Dien Bien Phu ⎼ lançou uma onda de
aprofundamento da revolução agrária. Da mesma forma, na Revolução Russa,
a resistência à agressão das potências capitalistas europeias e à
contrarrevolução interna conduziu muito rapidamente ao aprofundamento do
conteúdo social da revolução, à ruptura com a burguesia, à estatização dos
meios de produção, às diferenciações de classe no campo.

Essa lição é confirmada, além disso, pelas experiências de revoluções


vitoriosas ou derrotadas, a da revolução chinesa de 1926 e de 1949, a da
revolução vietnamita e da revolução cubana, mais próxima ainda de nós que a
revolução nicaraguense.

Ela foi sistematizada por Trotsky em 1928 em sua teoria da revolução


permanente. A batalha que ele conduz, portanto, contra a teoria stalinista da
revolução por etapas inscreve-se na continuidade da batalha realizada por
Lênin contra o etapismo dos mencheviques e a enriquece à luz da Revolução
Russa vitoriosa e da Revolução Chinesa provisoriamente derrotada.

Essa teoria, que afirma a necessidade de transformar a revolução democrática


em revolução socialista nos países dominados, não nega, contrariamente ao
que querem fazer crer os stalinistas, a existência de etapas no processo
revolucionário. "Nunca neguei o caráter burguês da revolução quanto a suas
tarefas históricas imediatas; somente a neguei quanto a suas forças motrizes e
a suas perspectivas [...]. A história uniu, não confundiu, mas uniu
organicamente o conteúdo fundamental da revolução burguesa à primeira
etapa da revolução proletária" (A Revolução Permanente).

Da mesma forma, ele não nega as alianças táticas com frações da burguesia:
"É evidente que não podemos, para o porvir, renunciar a tais acordos
rigorosamente limitados e que sirvam, a cada momento, a um objetivo
claramente definido [...]. A única condição de todo acordo com a burguesia,
acordo separado, prático, limitado a medidas definidas e adaptadas a cada
caso, consiste em não misturar as organizações e as bandeiras, nem direta nem
indiretamente, nem por um dia nem por uma hora e a nunca crer que a
burguesia seja capaz de conduzir uma luta real contra o imperialismo e não
entravar os trabalhadores e os camponeses (...)”.
Para derrubar Batista, Castro concluiu com setores burgueses um pacto
limitado, que "define uma estratégia comum para desfazer a ditadura pela
insurreição armada". Mas, desde a queda de Batista, ele consolida, em torno
do exército rebelde, os fundamentos do poder revolucionário, além de todo
controle dos órgãos formais do governo. À medida que avança e se aprofunda
o processo revolucionário, que se desenvolve a reforma agrária, que se
constrói o exército revolucionário, os representantes da burguesia retirar-se-
ão, um após o outro, para passar à oposição aberta e à contrarrevolução.

Cada pressão ou agressão imperialista chama em resposta medidas nas quais o


conteúdo social (tomada de bens imperialistas, congelamento de ativos
bancários) anda lado a lado com a mobilização das massas (formação das
milícias e dos comitês de defesa da revolução). Castro compreendeu e
expressou muito bem que não se podia mobilizar a massa dos trabalhadores e
dos camponeses para resistir ao imperialismo tentando-se gerir as grandes
propriedades organicamente ligadas ao imperialismo. Para liberar a energia
dos oprimidos, a conquista do poder político exigia necessariamente uma
transformação social.

Essas conclusões que souberam tirar os revolucionários mais lúcidos e


consequentes, a burguesia, de sua parte, também as tirou. A evolução de suas
posições progressivamente ao longo do avanço da revolução na Nicarágua é
um exemplo prático.

A ditadura oligárquica se impôs na Nicarágua nos anos trinta com o apoio


direto do imperialismo americano. Depois do início dos anos sessenta, uma
contradição se desenvolveu entre a velha oligarquia reagrupada em torno da
família Somoza e frações da burguesia industrial, que desejavam uma
liberalização do regime para poder inserir-se no desenvolvimento econômico
ligado à realização da marcha comum da América Central.

Essa burguesia tomou a dianteira de uma oposição liberal, com a formação da


União Democrática de Liberação (UDEL). Em 1977, após dois anos de lei
marcial, que supostamente haviam liquidado a Frente Sandinista, ela crê poder
beneficiar-se da campanha de Carter sobre os direitos do homem para passar à
ofensiva sem arriscar um desvio por parte do movimento de massas. Em
janeiro de 1978, após o assassinato do líder Joaquim Chamorro, é então o
patronato que toma a iniciativa de uma greve geral de protesto contra a
ditadura.

Mas uma rápida corrida tem início, então, pela direção do processo
revolucionário. No início de fevereiro de 1978, a Frente Sandinista passa de
novo à ação. O patronato bate logo em retirada e suspende a greve. Em julho,
constituem-se paralelamente à Frente Ampla de Oposição (FAO), de um lado,
que reagrupa a burguesia liberal de oposição, os stalinistas e a ala sandinista
terceirista e, do outro lado, o Movimento Popular Unificado (MPU), que reúne
22 organismos de massas (comitês, movimento estudantil, associações de
mulheres, etc.).

Em fins de agosto, início de setembro de 1978, com a nova escalada da


mobilização autônoma das massas, a iniciativa no terreno passa, cada vez
mais, às mãos de sandinistas. Em fins de agosto, um comando sandinista
ocupa o Palácio Nacional. O MPU convoca a greve geral. Em setembro, é a
Frente Sandinista que lança um chamado à insurreição.

A cada passo das massas avante, a burguesia se desdobra para tentar negociar
sobre o tapete verde, sob a arbitragem do imperialismo americano.

A ala terceirista da FSLN faz dessa capitulação argumento para retirar-se da


FAO. Essa retirada remove um dos principais obstáculos à reunificação das
três tendências sandinistas. Em fevereiro, forma-se a Frente Patriótica
Nacional (FPN). Ela inclui, ao lado da FSLN, forças burguesas significativas,
conduzidas por Alfonso Robelo e Violeta Chamorro. Mas, sendo a burguesia
hegemônica na FAO, o centro gravitacional deslocou-se então, durante a luta,
a favor dos operários e camponeses. É isso que se traduz na formação da FPN,
onde o papel dirigente passou às mãos da FSLN.

Após a derrubada da ditadura, à medida que se aprofunda o processo


revolucionário, novos setores da burguesia são levados a retirar-se da coalisão
governamental e a passar à oposição. É isso que ilustra brilhantemente a saída
de Robelo e Chamorro do governo desde a primavera de 1980. Nesse processo
de ruptura com a burguesia, a direção sandinista permaneceu fiel aos anúncios
de Carlos Fonseca, que escrevia (ainda no mesmo artigo): "É necessário
prestar atenção ao perigo de que a insurreição possa servir de trampolim à
força reacionária da oposição ao regime de Somoza. O objetivo do movimento
revolucionário é duplo. De um lado, trata-se de atrapalhar a associação
criminosa e traidora que, durante longos anos, usurpou o poder e, por outro, é
necessário impedir que a força capitalista da oposição, cuja submissão ao
imperialismo está comprovada, aproveite a situação desencadeada pela luta de
guerrilha e se aposse do controle do poder".

Assim, o comunicado de 9 de setembro de 1978, que sela a reunificação das


três tendências no seio da FSLN, destaca o prosseguimento da luta até a
destruição da coluna vertebral militar da ditadura e o apoio às reivindicações
sociais do MPU: "A derrubada da ditadura pela via revolucionária e a
dissolução da Guarda Nacional são as condições indispensáveis para se chegar
a uma real democracia. Nós lutaremos até o fim por esses objetivos, armas à
mão [...]. Apoiaremos as reivindicações apresentadas no programa do MPU e
consideramos que elas constituem as bases mínimas que permitem pôr o país
na via do progresso e da paz".

Autocrítica inacabada

As duas outras questões abordadas por Handal em seu artigo, a via armada e a
unidade da esquerda revolucionária, são decisivas. Porém, Handal não vai ao
fundo das coisas. Passa longe disso.

1. Ele constata que "a ideia de via pacífica da revolução na América Latina é,
segundo ele, ligada ao reformismo". É, de fato, a primeira palavra da
estratégia revolucionária, mas não a última. Se a luta armada é necessária, a
partir do momento em que se objetiva a conquista do poder através da
destruição do aparelho de Estado burguês, ela não constitui por si só uma
linha divisória suficiente entre reforma e revolução. Existe também um
"reformismo armado" e organizações que praticam a conciliação de classe. O
papel dos Montoneros argentinos à época do retorno ao poder de Campora e
depois de Perón em 1973-74 é, quanto a isso, eloquente.

Mas, sobretudo, a afirmação da necessidade da luta armada não diz nada sobre
a forma dessa luta armada e sua inserção em uma estratégia revolucionária de
conjunto. Existe, porém, quanto a isso uma ampla experiência de mais de
vinte anos sobre o continente. Em Revolução na Revolução, Régis Debray
extraiu da lição cubana lições simplificadas e erradas, que privilegiavam o
foco de guerrilha rural e a ele subordinavam a construção do partido
revolucionário. À luz das múltiplas experiências dos anos sessenta, Debray
precisou retornar a essas concepções em um texto autocrítico, A Crítica das
Armas.

Da mesma forma que o exemplo mal assimilado da Revolução Russa pôde


nutrir, nos anos vinte, correntes golpistas no seio da Internacional Comunista,
o exemplo mal compreendido da Revolução Cubana há anos condena toda
perspectiva insurrecional como "espontaneísta". Os revolucionários sinceros
viam, de fato, na insurreição repentina, o álibi tradicional dos partidos
stalinistas, que cobriam sua inação e suas capitulações, da perspectiva sempre
protelada de tal grande noite.

Já a revolução nicaraguense trouxe uma combinação original de formas de


luta armada, culminando na greve geral e na insurreição nas principais
cidades: nesse caso, a insurreição supõe uma preparação particular e uma
organização profunda das massas urbanas. Hoje, em El Salvador, a relação
entre as zonas controladas militarmente pelas guerrilhas e a perspectiva final
de luta pelo poder estão no cerne do debate entre as diversas organizações.
Pronunciando-se categoricamente pela via armada, Handal deu um passo
decisivo, mas não irreversível. Já se viu, em 1967, na conferência da OLAS,
dirigentes dos partidos comunistas tradicionais como o uruguaio Rodney
Arismendi se pronunciar pela luta armada, sem que isso implicasse uma
mudança real de perspectiva e um engajamento real da sua parte. Hoje,
mesmo o PC chileno se declarou a favor da luta armada, mas ele a concebe
como um meio de pressão, ao mesmo tempo que se esforça para negociar sua
entrada na coalizão com as formações burguesas, em particular a democracia
cristã.

Em 1970, Carlos Fonseca já havia dito do PC nicaraguense, o PSN: "Pode-se


afirmar que as mudanças na direção dessa organização não passam de puras
formas [...]. A nova direção pretendida não para de falar de luta armada, sendo
que, na prática, ela concentra toda a sua energia em uma ação pseudo-legal".

2. Sobre a unidade da esquerda revolucionária, Handal reconhece ⎼ e isso é


evidentemente positivo ⎼ que podem aparecer outros partidos revolucionários
além do Partido Comunista Oficial: "A velha concepção dogmática segundo a
qual o partido comunista é, por definição, o ‘Partido da Classe Operária’, a
vanguarda do combate anti-imperialista, etc., limita e mesmo bloqueia nossa
capacidade de compreender que, nas condições sociais e políticas da América
Latina, é impossível que não apareçam essas organizações da esquerda
armada". É necessário dizer, a não ser que se negue obstinadamente a
realidade, que Handal não tem qualquer escolha, tendo o PC salvadorenho
sido posto em minoria, inclusive nas organizações de massa urbanas, pelas
organizações revolucionárias armadas como os BPR ou os LP28.

A marginalização do partido irmão nicaraguense deve servir-lhe de lição, se


quer esperar recuperar terreno e exercer um papel no futuro.

Mas, a partir desse reconhecimento forçado da realidade, "a unidade da


esquerda revolucionária" pode desembocar em duas coisas diferentes.

Ou se trata de buscar a unidade na ação, ao nível sindical, político, de todas as


organizações que falam em nome dos trabalhadores e dos camponeses. Essa
unidade é, então, uma frente única de mobilização e de combate, respeitando a
identidade e a diversidade dos seus componentes.

Ou se trata da construção ou da refundação, por um processo de fusão na ação,


de um novo partido revolucionário. Mas então, o simples chamado à unidade
não é suficiente. Existem entre essas organizações programas e perspectivas
diferentes do ponto de vista da conduta e do objetivo final da revolução, como
do ponto de vista do seu ambiente internacional. Essas diferenças podem,
talvez, ser parcialmente superadas pela experiência prática, mas não sem a
discussão mais clara das diferenças existentes e sem afirmar, ao mesmo tempo
que a necessidade da unidade, a [necessidade] de uma democracia que permita
só a coexistência, no médio prazo, de posições diferentes entre diversas
organizações ou no seio de uma mesma organização.

Quarta Internacional, 1983

Notas

[1] Ao contrário, a história da luta de classes na América Latina oferece


múltiplos exemplos de revoluções traídas e derrotadas. Assim, o próprio
Handal volta às lições da derrota chilena de 1973, que considera como "um
laboratório". É verdade que, ao longo de toda a experiência chilena, duas vias
se opuseram constantemente: a via da conciliação e da colaboração de classe,
de um lado, e a da mobilização revolucionária, de outro. Após a ofensiva de
outubro de 1972 em torno da greve dos caminhoneiros, Allende podia se
apoiar sobre a mobilização popular espontânea, sobre a formação dos comitês
de suprimentos (os Jap), dos comandos comunais, dos cordões industriais,
para passar à contra-ofensiva. Em vez disso, ele reafirma seu respeito à
legalidade burguesa, chama os trabalhadores a voltar a suas casas e expande o
governo aos ministros militares, que poderão preparar seu trabalho com toda a
tranquilidade.

Após o golpe de Estado de junho de 1973 (o tankazo), duas vias se abriam de


novo. A reação estava desmascarada. Ela estava na defensiva. É então que
"estávamos mais fortes", devia dizer o dirigente do MIR, Miguel Enriquez.
Em vez de impulsionar essa contra-ofensiva, de chamar à greve geral, de
centralizar os órgãos de mobilização de massa, o PC e o PS se esforçaram,
mais uma vez, para ampliar as alianças. Eles ofereceram à burguesia novas
garantias. Deixaram o exército e a polícia perquirir as empresas para desarmar
preventivamente os trabalhadores. Deixaram a hierarquia militar reprimir
preventivamente os militantes revolucionários no exército, notadamente em
Valparaiso. Mas, em vez de apresentar claramente essas alternativas, Handal
reduz toda a questão a um erro tático: "Absolutamente ninguém defendeu o
general Prat e sua fração no exército!". O destino da revolução chilena
dependia, assim, principalmente, segundo ele, do apoio popular a uma fração
do exército que fosse leal.

Por outro lado, Handal parece ignorar completamente a autocrítica que o


partido comunista guatemalteco, o Partido Guatemalteca do Trabalho (PGT),
fazia desde 1955 da derrota de 1954: "O Partido Guatemalteca do Trabalho
não seguiu uma linha suficientemente independente face à burguesia nacional.
Na aliança com a burguesia democrática, ele obteve os sucessos assinalados,
mas, por sua vez, a burguesia exerceu uma influência sobre nosso partido,
influência que, na prática, freou numerosas atividades. O PGT não estimou
corretamente a fraca capacidade de resistência da burguesia e nem sempre
considerou o caráter conciliador frente ao imperialismo e às classes
reacionárias, o que explica as ilusões que teve sobre o patriotismo, a lealdade
e a firmeza da burguesia nacional frente aos ataques do imperialismo norte-
americano". Se há um país onde as lições da Guatemala deveriam ser
particularmente próximas e ardentes, é, porém, o próprio El Salvador.

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