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Origens E Consequências Do
Neoconstitucionalismo
22 de novembro de 2020 Marianna Medina
Mais uma vez, não é possível aceitar e concordar com esse tipo de
raciocínio, já que, como bem apontado por Hirschl, a democracia exige
que a escolha de valores políticos reais seja feita por representantes
eleitos e responsáveis, em vez de juízes que não se submeteram a
qualquer processo eleitoral.
Dessa forma, tem-se que toda a base em que se sustenta a tese dualista
de elaboração de leis como justificativa para a revisão judicial, cai por
terra.
1. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, indicado por seu primo, o então
Presidente da República filiado ao PRN, Fernando Collor de Mello, e
empossado em 13 de junho de 1990;
A essa altura do artigo, seria lógico tecer comentários acerca dos infames
Inquéritos 4.781 e 4.282, ambos manifestamente inconstitucionais,
repletos de uma série de vícios devidamente ignorados por quase todos
os Ministros que compõem o Supremo Tribunal Federal. As duas peças
investigativas encerram um verdadeiro festival de horrores, não deixando
nada a dever a qualquer regime político totalitário. Há aberração jurídica
para todos os gostos: investigação iniciada pela própria corte a fim de
apurar condutas supostamente virtualmente perpetradas contra seus
membros; decisão promovendo censura de veículo jornalístico; ausência
de fato certo a ser investigado; atipicidade das condutas perquiridas;
negativa de acesso aos autos dos inquéritos à defesa dos investigados;
mandados de busca e apreensão e prisões efetuados sem qualquer
respaldo legal etc. Vimos até mesmo o Ministro Luís Roberto Barroso
flexibilizando a noção de soberania nacional em prol do que seriam
consideradas as dependências do Supremo Tribunal Federal em casos de
crimes supostamente praticados contra os seus membros em ambiente
virtual. Como não é o objetivo desse artigo aprofundar o assunto em
discussão, considerando que inúmeros doutrinadores especializados já o
examinaram exaustivamente, faço a presente menção apenas para não
deixar passar em branco tamanha afronta ao Estado Democrático de
Direito, tão citado e “festejado” por Ministros da Suprema Corte, mas que,
infelizmente, quando mencionado é sempre esvaziado de qualquer
conteúdo. Apenas a título de curiosidade, deixo ao leitor alguns links
acerca do objeto aqui tratado [12] [13] [14] [15] [16] [17] .
Por fim, não nos esqueçamos que estão ainda pendentes de julgamento
pela Suprema Corte as ADPFs 462, 466 e 578, bem como a ADI 5668,
todas tendo por objeto a inserção da ideologia de gênero no ensino
escolar. Desnecessário afirmar, mais uma vez, que a matéria citada sequer
deveria ser apreciada pela cúpula do Poder Judiciário pátrio [19]. As
razões já foram aduzidas de forma extenuante ao longo do texto.
Ante o exposto, vê-se que as conclusões a que chega Ran Hirschl, após
analisar o panorama político-jurídico de quatro nações soberanas
distintas, não se amoldam exatamente ao que ocorre no Brasil em termos
de ativismo judicial. Decerto, a atuação do Poder Judiciário nacional tem
por objetivo avançar a sua autoridade e influência perante os demais
poderes, e, de quebra, ainda dar aquela turbinada previsível em sua
projeção internacional, quando procura implementar à risca os princípios
progressistas em voga, bem como satisfazer, na medida do possível, tudo
o que dita a agenda 2030 da ONU. Assim, longe de proteger os chamados
direitos fundamentais de primeira dimensão, ou seja, aqueles direitos que
o cidadão pode fazer valer contra o Estado, o Supremo Tribunal Federal
vem realizando toda sorte de arbitrariedades e aberrações jurídicas,
transformando o texto constitucional promulgado em 1988 em uma
massa de moldar, sendo possível tomar a forma que for mais conveniente
aos membros da Suprema corte em um determinado momento político.
Encerro esse artigo, como não poderia deixar de ser, com um alerta para
que nós, operadores do direito, permaneçamos vigilantes quanto ao
cumprimento do que preconiza a Constituição da República, que longe de
ser perfeita, ao menos deve ser fonte de segurança jurídica para o nosso
ordenamento. A batalha será longa e árdua para que possamos ter a
chance de restaurar e assegurar a ordem e o cumprimento efetivo às
normas no país, tendo em vista que o Estado Democrático de Direito
proclamado no caput, do artigo 1º, da nossa Carta Magna, provou ser
nada mais que uma mera exortação em vez de garantia categórica aos
cidadãos brasileiros.
[1] Ver Ronald Dworkin, A Bill of Rights for Britain (London: Chatto and
Windus, 1990).
[4] Ver John Hart Ely, Democracy and Distrust (Cambridge, Mass.:
Harvard University Press, 1980), 87-88.
[14] Ver
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/mandado27maio
.pdf