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Seja Bem Vindo!

Curso
Introdução à Supervisão e
Orientação Pedagógica
Carga horária: 35hs
Dicas importantes
• Nunca se esqueça de que o objetivo central é aprender o
conteúdo, e não apenas terminar o curso. Qualquer um termina, só
os determinados aprendem!

• Leia cada trecho do conteúdo com atenção redobrada, não se


deixando dominar pela pressa.

• Explore profundamente as ilustrações explicativas disponíveis,


pois saiba que elas têm uma função bem mais importante que
embelezar o texto, são fundamentais para exemplificar e melhorar
o entendimento sobre o conteúdo.

• Saiba que quanto mais aprofundaste seus conhecimentos mais


se diferenciará dos demais alunos dos cursos.

 Todos têm acesso aos mesmos cursos, mas o aproveitamento


que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os
“alunos certificados” dos “alunos capacitados”.

• Busque complementar sua formação fora do ambiente virtual


onde faz o curso, buscando novas informações e leituras extras,
e quando necessário procurando executar atividades práticas que
não são possíveis de serem feitas durante o curso.

• Entenda que a aprendizagem não se faz apenas no momento


em que está realizando o curso, mas sim durante todo o dia-a-
dia. Ficar atento às coisas que estão à sua volta permite encontrar
elementos para reforçar aquilo que foi aprendido.

• Critique o que está aprendendo, verificando sempre a aplicação


do conteúdo no dia-a-dia. O aprendizado só tem sentido
quando pode efetivamente ser colocado em prática.
Conteúdo

INTRODUÇÃO

PLANEJAMENTO – NOÇÕES BÁSICAS

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR – FUNDAMENTOS

ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL – UMA REFLEXÃO POSSÍVEL

A FORMAÇÃO DO ORIENTADORE EDUCACIONAL – VISÕES ÉTICA E


ESTÉTICA
INTRODUÇÃO

O início de um novo milênio nos conduz a inevitáveis indagações acerca


das transformações que a escola precisará sofrer para garantir a qualidade dos
serviços educacionais.

Num panorama nacional e internacional marcado pela vertiginosa expansão


dos meios de comunicação das organizações globalizadas, a escola não se poderia
furtar a uma conexão com as novas estruturas organizacionais. Novas estratégias
prometem aumentar a qualidade e a produtividade, e constitue-se em desafio
permanente para o futuro dos profissionais que têm a missão de formar os alunos para
os novos tempos.

Segundo Gandin (1997),

“As experiências não vem de se ter vivido


muito, mas de se ter refletido intensamente sobre o que se
fez e sobre as coisas que aconteceram”.
(Gandin, 1997)

É com essa visão que acreditamos estar contribuindo com o processo de


evolução da educação ao oferecer a disciplina SUPERVISÃO ESCOLAR.

Seguindo as instruções contidas nos módulos, certamente você terá a


oportunidade de discutir, rever, desvelar e somar ao seu repertório de conhecimentos
tantos outros que venham enriquecer o seu fazer pedagógico.
OBJETIVO

Leia atentamente a frase abaixo e procure avaliar que profissional da


educação poderia ter sido o seu autor

Querendo aumentar os nossos conhecimentos profissionais, sobre as


questões da educação brasileira, abrimos este diálogo, com a comunidade escolar,
buscando informações que venham enriquecer-nos, pois somos educadores
conscientes do nosso papel na sociedade e formadores de cidadãos que necessitam
estar conscientes e críticos no exercício da cidadania.

Um diretor de escola? Um secretário escolar?

Um orientador educacional?

Um supervisor escolar? Um professor ?

Um secretário de educação?

Certamente , qualquer um dos profissionais acima poderia tê-la dito. A


proposta de ouvir a comunidade escolar nem sempre acontece. Entretanto, deveria ser
um procedimento de rotina no trabalho de supervisão. Os supervisores precisam criar
o diálogo para, a partir dele, conhecer o grupo de trabalho: seus anseios, suas
dificuldades, suas propostas, e organizar – coletivamente - os procedimentos
pedagógicos de uma escola.

Supervisão, com o significado de “ver sobre”, permite ver os detalhes


contidos no geral.
O QUE É SUPERVISÃO ESCOLAR?

O significado etimológico do termo supervisão escolar é visão sobre todo o


processo educacional para que a escola possa alcançar seus objetivos. O principal
objetivo da supervisão escolar é oferecer orientação profissional quando e onde forem
necessárias, visando o aperfeiçoamento da situação de ensino-aprendizagem.

COM QUEM TRABALHA O SUPERVISOR?

Parte-se do pressuposto de que a escola é um sistema social composto por


um conjunto de funções todas elas inter-relacionadas e inter-influentes. Portanto, as
ações conduzidas em uma determinada área afetam, de alguma forma, as ações de
outra área. É necessário uma linha integrada de ação entre o diretor da escola, o
supervisor escolar e o orientador educacional.

Segundo Lück ,

“a administração da escola, a supervisão


escolar e a orientação educacional se constituem em três
áreas de atuação decisivas no processo educativo, tendo
em vista sua posição de influência e liderança sobre todas
as atividades desenvolvidas na escola. O clima emocional
de trabalho, o estabelecimento de prioridades de ação, o
tipo de relacionamento professores-professores,
professores-alunos, escola-comunidade, dentre outros
aspectos importantes da vida escolar, dependem,
sobremaneira, da atuação dos elementos que ocupam
aquelas posições”.
(Lück, 1991)

O SUPERVISOR PROPÕE MUDANÇAS?

O papel do Supervisor Educacional, inicialmente visto como uma espécie de inspetor


ou fiscal, começou a ser definido a partir dos autores que agora citaremos.
Segundo Ben Harris, supervisão é

“o conjunto de comportamentos e ações, com


o objetivo de manter ou mudar o pensamento da escola a
fim de influenciar diretamente a obtenção de seus principais
objetivos de ensino. A supervisão tem, desse modo, seu
impacto sobre o educando, através docentes e das
metodologias de ensino empregadas.”
(Ben Harris, 1963, p. 44)

Sob o ponto de vista de Kimball Wiles, os supervisores

“são os mediadores. Ajudam a estabelecer a


comunicação. Ajudam os indivíduos a ouvirem uns aos
outros. Servem como ligação para pôr as pessoas em
contato com aqueles que têm problemas semelhantes ou
com pessoas-recurso que podem ajudá-los. Estimulam os
membros do quadro de pessoal a verificar a extensão em
que as idéias e os recursos estão sendo compartilhados e o
grau em que os indivíduos são encorajados e apoiados
quando tentam novas coisas. Tornam as coisas mais fáceis
para executar os acordos que surgem das reuniões de
avaliação. Ouvem os indivíduos discutirem seus problemas
e recomendam outros recursos que podem ajudá-los na
busca de soluções. Trazem aos professores, que neles
confiam, sugestões e materiais adequados. Eles sentem,
conforme sua competência, os sentimentos que os
professores têm sobre o sistema e sobre sua política,
recomendando que a administração analise os atritos
existentes entre os membros do quadro de pessoal.
Oferecem assessoria para o bom funcionamento do grupo
e para o tipo de realidade e de estrutura de reunião que
facilitam a comunicação. Estão, acima de tudo,
interessados em ajudar os indivíduos a se aceitarem
mutuamente porque sabem que, quando os indivíduos
valorizam uns aos outros, crescem através da interação e
oferecem um clima emocional melhor para o crescimento
do aluno. O papel do supervisor transformou-se em papel
de apoio, de assistência e de participação, em vez do de
direção. A autoridade da p o s i ç ã o d o s u p e r v i s o r n ã o
diminui, mas é usada de um outro modo, para
promover o crescimento através da responsabilidade e
criatividade, ao invés da dependência e conformidade.”
(Kimball Wiles, 1967, p. 22)

William Burton e Leo Bruechner foram dois pioneiros na área de supervisão,


cujo livro clássico de 1955 - Supervision: A Social Process – New York, identifica como
princípios que governam a operação da supervisão: a criatividade, a sensatez e o
espírito de cooperação.
O supervisor precisa interagir com as instâncias burocráticas e pedagógicas
das escolas. A supervisão escolar é necessária, de uma ou de outra forma, para ajudar
o trabalho dos professores. Cabe frisar que na maioria das escolas podemos observar
a composição heterogênea dos docentes: cada mestre tem formação diferente, tem
uma maneira de ser, de pensar e de atuar. Diante deste quadro, a supervisão é
essencial para harmonizar o projeto político pedagógico da escola. Existem outras
razões que também demonstram a necessidade da supervisão, tais como:

a supervisão evita que a rotina se torne arraigada no ensino;


promove o aperfeiçoamento profissional do magistério;
garante a unificação e o desenvolvimento dos programas educacionais.
facilita a inserção da escola em seu meio ambiente, em perspectiva integradora e
renovadora;
pode contribuir de maneira científica para o planejamento integral da escola;
coopera para a interação entre a escola e a comunidade;
estimula a renovação do ensino;
é instância facilitadora da utilização dos dados culturais do meio ambiente
como fonte alimentadora da prática pedagógica.

Segundo Sergiovanni (1978, p. 41),

“se deixada à sua própria sorte, a escola evolui


para uma estrutura monolítica que capta e usa seus
participantes para realizar seus fins, e não os fins dos
indivíduos.”
(Sergiovanni, 1978, p. 41)

Enfim, a supervisão escolar deve partir do pressuposto de que vai trabalhar


com professores de diferentes disciplinas e com eles discutir planos que levem à
melhoria do processo ensino-aprendizagem, retificando possíveis equívocos e
melhorando a atuação do professor, a partir de dados concretos recolhidos
principalmente da observação do desempenho dos alunos.

Para a Supervisão Escolar funcionar bem, é necessário que tenha as


seguintes características:

cooperação - todos os professores, o pessoal administrativo, pais e alunos devem,


juntos, sentir-se responsáveis pelo desenvolvimento da ação educativa da escola;
integração - todos os planos de aula devem ser integrados por uma mesma
filosofia do currículo;

postura científica - a supervisão deve ser estruturada reflexivamente e com base


na mediação do funcionamento dos processos ensino-aprendizagem, para que os
resultados ofereçam sugestões de reajustamento constante do mesmo, a fim de
torná-lo mais ajustado e eficiente;

flexibilidade - A supervisão não deve ser rígida, deve estar aberta às mudanças e
se adaptar às exigências dos educandos e da sociedade;

permanência - A ação da supervisão deve ser permanente e não intermitente.


PRINCÍPIOS DA SUPERVISÃO ESCOLAR

Os princípios fundamentais da supervisão escolar são:

estruturar-se com base em uma filosofia de educação coerente com a linha da


escola;
atuar democraticamente;
abranger a todos, orientar a todos - professores, pessoal administrativo, pais
e alunos;
ser cooperativa, mobilizando todos os envolvidos;
ter postura científica, para que se desenvolva com base em planejamentos e
avaliações constantes dos resultados de seus trabalhos, para que possa haver um
processo contínuo de realimentação crítica que conduza a modificações nesses
trabalhos, sempre que necessário;
ser objetiva - todo o plano de trabalho deve derivar da realidade político-
educacional, sem imposição de modelos pré-estabelecidos.
ETAPAS DA SUPERVISÃO ESCOLAR

Planejamento: representa o roteiro de todo o trabalho a realizar, durante um


período letivo semestral ou anual.

Acompanhamento: o supervisor vai acompanhar, nesta etapa, o desenrolar das


atividades determinadas pelo planejamento.

Avaliação: atua sobre os resultados dos trabalhos realizados, a fim de prevenir


desvios, propor retificações e mesmo alterações que melhor ajustem a ação da
escola às necessidades do educando e da comunidade.

ATIVIDADES DE ESTUDO

Como você avalia o trabalho de Supervisão Escolar no local onde trabalha?

Convidamos para esta reflexão inicial e sugerimos que você relacione um


autor da bibliografia com algum outro que você conheça.
BIBLIOGRAFIA

LUCK, Heloísa. Ação Integrada: administração, supervisão e orientação


educacional. Petrópolis: Vozes, 1991.
MAIA, Graziela Brandão (org.). Administração e Supervisão Escolar - questões
para o novo milênio. São Paulo: Pioneira, 2000.
RANGEL, Mary e SILVA JUNIOR, Celestino Alves da. Nove olhares sobre a
supervisão escolar. Campinas: Papirus, 1997.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

AGUIAR, Marcia Angela. Supervisão escolar e política educacional. São Paulo:


Cortez, 1991.
ANDRADE, Narcisa Veloso de. Supervisão em educação: um esforço para a
melhoria dos serviços educacionais. Rio de Janeiro: FENAME, 1976.
BRANDÃO, Carlos (org.). O educador: vida e morte; escritos sobre uma
espécie em perigo. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
ETTINGER, Karl E. Controle e supervisão. São Paulo: IBRASA.
GUAPYASSU, Zilda de Macedo Carvalho. A importância da supervisão
educacional junto as escolas da rede oficial no estado do Rio de Janeiro .
Rio de Janeiro: FGV, 1979 (TESE).
JOHNSON, Junia Flavia D’Affonseca. O papel do supervisor de acordo com as
diferentes abordagens da administração pública. Rio de Janeiro: 1976.
KALO, Leila Juliette. Supervisão Escolar: Expectativas e percepções do
Supervisor escolar, do coordenador de área e do professor quanto ao
desempenho das funções do supervisor escolar - estudo de caso. Rio
de Janeiro: FGV,1980. (dissertação de mestrado).
LENHARD. Rudolf. Fundamentos da supervisão escolar. São Paulo: Pioneira, 1973.
LUCK, Heloísa. Ação Integrada: administração, supervisão e orientação
educacional. Petrópolis: Vozes, 1991.
MARINHO, Maria Marlene. As funções dos técnicos de supervisão no ensino de
primeiro grau em Goiânia. Goiânia: ed. da Univ. Fed. Goiás, 1980.
MEDEIROS, Luciene. Supervisão educacional: possibilidades e limites. São
Paulo: Cortez, 1985.
MONTELH, Bernard (org.). Ainsi change l’ école: l’ éternel chantier des
novateurs. Paris: série Mutations - número: 136, 1993.
PEREIRA, Ruth da Cunha. Supervisão educacional; um estudo sobre atribuições
e pré-requisitos. Rio de Janeiro: UERJ, 1981.
RANGEL, Mary. Supervisão pedagógica: um modelo. Petrópolis: Vozes, 1979.
RIOS, Lilian Rodrigues. Princípios científicos de supervisão. Brasília:
CETEB, 1975.
SERGIOVANNI. Novos padrões de supervisão escolar. São Paulo: USP, 1978.
WEBER, Max. The theory of social and economic organization. Free Press,
1947.
WEBSTER, William Gerald. Learner - centered principaship: the principal as
teacher of teachers. New York: Praeger, 1994.
WILES, Kimball. Técnicas de supervision para mejores escuela. México, 1977.
____________. Manual do supervisor educacional. Rio de Janeiro: Secretaria do
Estado, 1982.
____________. O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores educacionais.
São Paulo: Loyola, 1991.
BIBLIOGRAFIA – COMPLEMENTAR

DALMAS, Ângelo. Planejamento Participativo na Escola – Elaboração,


Acompanhamento e Avaliação – 11ª ed., Ed. Vozes: Petrópolis, 2003.
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação – 12ª ed. , ed. Vozes: Petrópolis,
2002.
FERREIRA, Naura S. Carapeto. Supervisão Educacional para uma Escola de
Qualidade: da Formação à Ação. Ed. Cortez: São Paulo.
SILVA, Neura Syria F, Correa da . Supervisão Educacional – Uma Reflexão Crítica
– 10ª ed., ed. Vozes: Petrópolis, 2000.
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INTRODUÇÃO

O início de um novo milênio nos interroga sobre as transformações que a


escola precisará sofrer para garantir a qualidade dos serviços educacionais.

Vivemos num país que, a todo momento, é chamado a participar de decisões no


âmbito internacional. Menos passivo, submete-se a novos desafios e, sacudido por turbulências
de todo tipo, adere rapidamente às mudanças tecnológicas e ambientais.

A escola não se poderia furtar a uma conexão com as novas estruturas


organizacionais. Novas estratégias prometem aumentar a produtividade, tornar o
ensino mais econômico e serão desafiadoras para o futuro dos que dela dependerem.

Segundo Gandin (1997), “as experiências não vêm de se ter vivido muito,
mas de se ter refletido intensamente sobre o que se fez e sobre as coisas que
aconteceram”. É com essa visão que acreditamos estar contribuindo com o processo
de qualificação da educação ao oferecer a disciplina Planejamento.

Assim esperamos levar o aluno a ter uma visão geral dos conceitos de administração
e planejamento voltados para a área de educação. Auxiliar ao administrador na busca da
maximização dos recursos existentes na Instituição Educacional e fazer o profissional da
educação entender e aplicar os princípios de um planejamento participativo, dinâmico e flexível.
O QUE É PLANEJAR?

Consideramos, para início de conversa, algumas definições apresentadas


por Gandin (1997).

“ Planejar é organizar a própria ação de grupo,


sobretudo.”
“Planejar é pôr em ação um conjunto de técnicas para racionalizar
a ação.”
“Planejar é realizar o que é importante (essencial) e, além disso,
sobreviver... se isso for essencial (importante).”
“ Planejar é agir racionalmente.”

E convidamos você a compará-las


com as que são apresentadas a seguir:

“Planejamento não é um oráculo inspirador de todas as


soluções...”.
(Menegolla e Sant Anna, 1993)

“Planejamento não é uma fórmula mágica para todos os


problemas”.
(Menegolla e San Anna, 1993)

“Processo de tomada de decisão, execução e teste de decisões”.


(Goldberg, 1973).

Processo de estruturação e organização da ação


intencional, realizado mediante:
• análise de informações relevantes do presente e
do passado, objetivando, principalmente, o estabelecimento de
necessidades a serem atingidas;
• estabelecimento de estados e situações futuros,
desejados;
• previsão de condições necessárias ao
estabelecimento desses estados e situações;
• escolha e determinação de uma linha de ação
capaz de produzir os resultados desejados, de forma a maximizar
os meios e recursos disponíveis para alcançá-los.
(Luck, 1999)

“Processo permanente e metódico de abordagem racional e


científica de problemas”
(Baptista,1979)

“Planejamento não é um ditador, mas é algo altamente


democrático e desencadeador de invocações; por isso, é
um processo que evolui, que avança e não permanece
estático.”
Selecionamos estas definições para que pudéssemos tecer algumas considerações
sobre o que é planejamento. Como ponto de partida dessa discussão já podemos observar que os
autores citados, ao conceituarem planejamento, chamam a atenção para as questões:
organizacional (técnica) e interativa (social) do ato de planejar. Entretanto, sabemos que a
criação do planejamento vai muito além de métodos e técnicas.
QUE OUTROS ELEMENTOS FAZEM PARTE
DO PLANEJAMENTO?

Se você já planejou, com certeza, levou algum tempo pensando na idéia antes de
tentar organizá-la para uma realização eficiente. E o que você pensou antes é que direcionou
toda a execução deste planejamento.

Sabe-se que para planejar não basta papel e caneta, é preciso que se tenha
idéias e uma vontade inquietante de experimentá-las.

Nesse ponto de nossa conversa, é importante salientar que enquanto


estamos planejando, estamos analisando a realidade e interagindo com ela.
Construímos mentalmente o que futuramente pensamos realizar estabelecendo a
predisposição para a prática. É através do levantamento das características da
realidade contextual, sua descrição e análise que será possível traçar objetivos e criar
ações específicas para alcançá-los. O referencial para a revisão do planejamento será
a avaliação permanente segundo Luck (1999).

Planejar é uma prática tão antiga quanto o nascimento das ciências e das religiões.
Conhecemos alguns fatos indicadores da idéia de planejamento e da necessidade de planejar
como, por exemplo, na Bíblia sagrada - “ No princípio criou Deus os céus e a terra”. Com esta
narrativa se percebe a tendência de se ordenar os acontecimentos em um limite de tempo, se
imagina que outros feitos ocorreriam após o” início” o que em seguida é confirmado no texto
sagrado: “Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse
dia de toda a obra que fizera.”

Ao estudarmos a origem dos seres vivos também nos defrontamos com relatos que
se detêm na cronologia dos acontecimentos tentando compreender a sua complexidade.
“Os primeiros seres vivos teriam surgido entre 3,5 e
4 bilhões de anos passados... Durante os primeiros dois bilhões de
anos, desenvolveram sua arquitetura celular... Há cerca de 1,5
bilhão de anos surgiram os seres pluricelulares...”.
(Amabis, 1998)
Parece ser da natureza do homem a vontade de ordenar, agrupar, prever, classificar e
registrar os acontecimentos que vivencia ao longo de sua vida. Mas se observarmos com atenção
os relatos apresentados percebemos que são totalmente desprovidos de uma prática avaliativa.
Por que Deus descansou? Por que ele terminou tudo no sétimo dia e não no décimo? O que teria
feito os primeiros seres vivos surgirem há 3 bilhões de anos?

Provavelmente estas perguntas ao serem respondidas trariam novos elementos para o


aprimoramento de um plano inicial. O texto de um projeto deve clarificar o conteúdo do plano
de trabalho. A sua avaliação é fundamental para o sucesso final.

A organização temporal e espacial dos acontecimentos, que observamos nos textos


religiosos e científicos, parece ter sido o pano de fundo para que conhecessem a lógica dos
acontecimentos e a correspondência entre causa e efeito, já que o narrador não fez parte deste
contexto e quer compreendê-lo, hoje, para intervir, interagir e transformá-lo, tornando-o
adequado às suas necessidades.

Assim pode-se perceber que quando consideramos o tempo, o espaço físico, os


custos, as características do grupo envolvido, as possibilidades de mudanças e os meios de
avaliação de um processo, estamos nos apropriando de dados fundamentais para bom resultado
de um plano.

Mas se planejar é uma prática tão antiga, espontânea e natural, por que não gostamos
de planejar?

Gandin (1997), aponta algumas dificuldades na prática do planejamento e considera


que sejam responsáveis por uma certa resistência, muito comum nos docentes, ao ato de
planejar.

Dentre as dificuldades apontadas por ele ressaltamos três :

1- A própria existência do “planejador”;


2- Pensar planejamento como se fosse fabricação de planos;
3- O fato do planejamento apontar para transformação.
QUEM É O PLANEJADOR NA EDUCAÇÃO?

Quando o planejador é um professor, que trabalha em diferentes níveis


organizacionais de estrutura escolar, muitas vezes com uma carga horária intensa em regência
de turmas, certamente, em sua rotina profissional não haverá o adequado espaço de tempo
necessário à realização de um planejamento, mais qualificado, das suas atividades docentes.

Algumas pessoas são mais organizadas , têm um melhor domínio do tempo,


enquanto outras estão sempre atrasadas e sem saber o que combinaram. Cada um de nós
apresenta características bio-psíquicas que nos diferenciam dos outros. Ser mais ou menos
organizado pode ser uma conduta resultante do processo de educação a que nos submetemos.
Não podemos esquecer, entretanto, da predisposição genética que poderá fazer a diferença no
final do processo educacional.

O compromisso com a qualidade do que se realiza é um outro ponto que poderá


favorecer ou prejudicar a prática do planejamento.

As frases do tipo: “Assim já está bom”, “Já está tudo arrumado na minha cabeça”,
são comuns nas conversas escolares. Mas há quem diga: “Isto pode ficar melhor, ainda.”

No início do ano letivo, no período determinado para o planejamento, os


professores retornam à escola com a incumbência de preparar o planejamento de
curso, geralmente uma semana antes do retorno dos alunos. Durante o restante do
ano não se falará mais em planejamento. Como se aquele feito não precisasse de
revisão ou ajustes.

Este procedimento já denota a visão equivocada do ato de planejar. Alguns


professores, mais críticos e atentos ao processo de trabalho escolar, discutem o fato de se
planejar abstratamente um trabalho destinado a uma população que muitas vezes ainda não é
conhecida do educador. Não sabem com certeza a faixa etária do grupo, rendimentos obtidos em
etapas anteriores, grau de interesse em suas áreas específicas de atuação.
É comum, ainda, reclamações do tipo: “Todo ano tenho que fazer isso. Vou escrever
qualquer coisa, ninguém vai ler mesmo. Na minha sala eu acabo fazendo o que quero.” Ou
atitudes como a de copiar o sumário do livro didático adotado e apresentar como se fosse o
planejamento de curso.
PLANEJAR É FABRICAR PLANOS?

O entendimento de que planejamento é o mesmo que montar uma lista do que se tem
a fazer é bastante limitado, pois exclui, entre outras, duas das mais importantes etapas do
planejamento que são: a de diagnóstico e de avaliação, como lembra Gandin (1997).

Geralmente a palavra planejar embute, no imaginário social, a idéia de


preenchimento de fichas, formulários, cronogramas ou agendas. Na maioria das vezes
esses dados são apenas anotações que auxiliam o indivíduo a prevenir-se dos
problemas gerados pelo esquecimento de compromissos assumidos por ele.
Representam uma pequena parte do planejamento de sua rotina diária.

Os planos de trabalho costumam Ter uma abrangência de tempo maior do


que os projetos de trabalho, na visão de Luck (1999). Isto provavelmente estaria
relacionado ao fato de que os planos consideram períodos longos de exercício escolar
e envolvem um maior número de indivíduos.

Na apreciação de Menegolla e Sant Anna,

“Parece haver, entre os professores, uma idéia


de que o planejamento é desnecessário e inútil por ser
ineficaz e inviável na prática.”
(Menegolla e Sant Anna, 1993)

Na verdade, para estes autores, todo esse mal entendido sobre o


planejamento advém do fato de que planejar a educação é planejar o indefinido, por se
tratar de um processo tão abrangente, considerando que o processo educativo
caminha ao encontro do futuro, onde as variáveis nem sempre são totalmente
conhecidas, afirmando que
“Devemos, pois, planejar a ação educativa para
o homem, não lhe impondo diretrizes que o alheiem.
Permitindo, com isso, que a educação ajude ao homem a
ser criador de sua própria história.”

Esta proposta está clara em Gandin (1999), quando comenta que a tendência na
organização de um planejamento atual e democrático é a de ser participativo já que esta parece
ser uma das condições para que o planejamento esteja voltado aos interesses de todos.
O PLANEJAMENTO APONTA PARA MUDANÇA?

Lamentavelmente, quando alguém descobre que através do planejamento flexível é


possível propor caminhos de transformação na educação, novamente surge a resistência à sua
realização pelo medo da criação do novo e da mudança.

Por tal motivo, o planejamento necessita buscar a eficiência e a eficácia de uma ação
para que ela seja reconhecidamente necessária e aceita, conforme comenta Gandin (1997).

O planejamento pode apontar para a transformação, ainda que temida, gerando


resistência, é seu papel prevê-la e criar condições para que se realize. O caráter político do
planejamento dá conta do compromisso com a mudança, com a busca de melhores condições de
trabalho, mas, principalmente com o desejo de construir um mundo melhor. Com essa visão,
Luck, 1999, ressalta que “pensar na dimensão política (do planejamento) implica pensar, ao
mesmo tempo, nas repercussões de ações educativas sobre os outros e as coletividades, como
no próprio envolvimento destes na determinação dessas ações. O sentido político do
planejamento educacional é evidenciado pelo compromisso efetivo que o planejamento expressa
com a transformação da realidade, o que se manifesta pela determinação de ações objetivas e
factíveis para tornar concretas situações vislumbradas no plano das idéias”. (grifo nosso )

Em seu texto Luck comenta que o planejamento é político já que


pressupõe o envolvimento de pessoas, de vários níveis hierárquicos, no seu
processo. E afirma que ele será plenamente político quando for participativo.

A experiência tem demonstrado que quando planejamos ganhamos tempo e


tornamos viáveis a realização de idéias e eliminamos os erros que decorrem da improvisação e
da falta de sistematização. São vários os níveis de planejamento que envolvem o processo de
educação.

Fala-se muito no planejamento que é realizado dentro das escolas mas não podemos
esquecer que antes dele há os realizados nas Secretarias de Educação Municipal e Estadual, os
realizados pelo Ministério de Educação e, ainda, os planos das Coordenadorias Regionais.
QUAL A IMPORTÂNCIA DA ARTICULAÇÃO ENTRE OS DIFERENTES
NÍVEIS ADMINISTRATIVOS DE PLANEJAMENTO?

Para Menegolla (1993), os vários níveis de planejamento podem ser exemplificados


na relação: LDB, currículo escolar e plano de aula.

É desejável que o planejamento, realizado nos níveis superiores da administração


educacional, possa contribuir para aperfeiçoar o trabalho dos educadores na escola e em todo o
sistema escolar. Que se constitua em um fórum permanente indo ao encontro dos desejos e
necessidades da sociedade. Certamente, nem sempre é assim que os planejamentos são
realizados. Muitas vezes são entregues a tecnoburocratas, sem vivência nas salas de aula,
distantes da realidade escolar, acabando por ser apenas mais um instrumento de obediência,
limitador de ações criativas e, de acordo com Kuenzer e colaboradores,

”uma força dominadora ...onde a criatividade é


tolhida, as iniciativas são castradas...”
(Kuenzer, 1990)

Precisa-se pensar no planejamento educacional de forma participativa,


diagnosticando as reais necessidades do ambiente e da comunidade escolar, tentando
atendê-las, sem “pacotes” ou modelos pré-fabricados. Este é o caminho para uma
escola verdadeiramente democrática.

Nota-se neste contexto a apresentação de algumas considerações sobre a


importância do planejamento educacional. Procure, nas indicações bibliográficas
oferecidas, enriquecer este estudo e para avaliá-lo responda às questões a seguir.
BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Summus, 1985.


ALVES, Rubem. A gestação do futuro. Campinas: Papirus, 1986.
ANDRADE, Cândido T. de Souza. Como administrar reuniões. São Paulo: Loyola, 1995.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BRANDÃO, Zaia. ( org.) A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez, 1990.
CALAZANS, M. Julieta e Col. Planejamento e educação. Petrópolis: Vozes, 1994.
CALVINO, Ítalo. (Trad. Ivo Barroso). Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
CHIAVENATO, Adalberto. Teoria geral da administração. São Paulo: Mac Graw-Hill, 1987.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petrópolis: Vozes, 1993.
FERREIRA, Francisco. Planejamento sim e não. São Paulo: Paz, 1993.
GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. São Paulo: Loyola, 1994.
GANDIN, Danilo. Prática do planejamento participativo. Petrópolis: Vozes, 1995.
_____________ . Temas para um projeto político – pedagógico. Petrópolis: Vozes, 1999.
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FUNDAMENTOS
INTRODUÇÃO

A Educação, entendida como apropriação do saber historicamente


acumulado, ou seja, como processo pelo quais as novas gerações assimilam as
experiências, os conhecimentos e os valores legados pelas gerações precedentes, é
fenômeno inerente ao próprio homem e o acompanha durante toda a sua vivência. Os
desenvolvimentos filosófico, científico, artístico e tecnológico, bem como as mudanças
que são introduzidas nos valores e nas maneiras de conduzir-se socialmente, são
sempre cumulativos e se fazem com base nas conquistas alcançadas anteriormente e
transmitidas às novas gerações através de algum processo educativo.

Nos primeiros agrupamentos humanos, o processo educativo podia ser


extremamente simples; acontecia através do contato informal, no próprio cotidiano
através da convivência entre pais e filhos; anciões e jovens, no qual os mais velhos
transmitiam o seu saber acumulado aos mais jovens. Atualmente, o conhecimento, a
complexidade e o montante do saber produzido historicamente e a velocidade da
renovação e atualização deste saber, determinam a necessidade de instituições
formalmente destinadas para essa tarefa.

A Escola é uma das principais responsáveis pela transmissão e construção


deste saber, de forma sistemática e organizada. Contudo, novas maneiras de ensino-
aprendizagem começam a ganhar corpos, em função da necessidade de se chegar
aos cidadãos dos lugares mais distantes de um país, proporcionando aos alunos uma
dinâmica escolar estrumaras, conectando-os aos grandes centros acadêmicos e
culturais. Para tanto, novamente a Administração Escolar é chamada para contribuir
com a organização administrativa exigida por novas demandas sócio-educacionais. A
existência da Escola hoje é irreversível e não podemos mais conceber este
conhecimento transmitido única e exclusivamente de maneira informal. Seja lá como
for, toda organização, como a escolar, necessita de administração para se alcançar, de
forma racional, os objetivos a que se propõe.
A Educação, é indiscutivelmente, um fator de desenvolvimento que favorece
a conquista de melhores condições para qualidade de vida dos cidadãos. Neste
sentido, as questões educacionais são, mais do que nunca, questões a serem
resolvidas com a participação de todos os envolvidos no processo educacional, ao
invés de serem discutidas somente pelos órgãos superiores.

A escola sofreu uma mudança no seu perfil. Atualmente é considerada


como uma organização social, que diretamente irá influenciar social, cultural e
politicamente a comunidade à que serve. Todos os envolvidos na sua dinâmica
possuem papel relevante nas tomadas de decisões, uma vez que irão influenciar direta
ou indiretamente em suas vidas. O cotidiano escolar é constituído pelos pais,
professores, supervisores, diretores, funcionários e alunos.

Neste primeiro módulo, iremos fazer considerações gerais a respeito deste


tema. Veremos a Administração Educacional, em sua forma conceitual, através do
estudo dos princípios de Administração em geral, da Administração Escolar e do
Sistema Educacional no contexto político–social da Educação Brasileira.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE

Todos os seres humanos conscientes da necessidade de promovermos


mudanças no modelo social no qual vivemos hoje. Certamente também concordamos
que a Educação é um dos caminhos para esta mudança. Estamos sempre falando e
criando metodologias de mudanças e precisamos, conforme Gandim lembra no texto a
seguir, pensar em que tipo de mudança estamos empenhados em promover.

“ A metodologia da mudança, ao tempo em que


exige do grupo a definição clara do tipo de mudança que
intenta, requer que o grupo defina os fins. Isso quer dizer
que ou se muda para algo que importa ou a mudança não
tem importância alguma. Isso quer dizer, também, que a
mudança pela mudança é algo inteiramente desprovido de
sentido.”
(Gandim, 1997, p. 14)

O grupo, à medida que vai estabelecendo-se, vai definido metas que deseja
alcançar com a sua existência e com o seu trabalho. Para que se alcance os fins
almejados, é preciso que exista um conhecimento a respeito da sociedade e do
homem inseridos nesse processo de mudança. Para tal a metodologia para mudança
tem que

...“ter uma ação condizente com uma


concepção. Para que a mudança aconteça e para que valha
a pena que ela aconteça, é necessário, respectivamente,
que se realize uma ação capaz de vivenciar uma concepção
e que haja uma concepção teoricamente viável e eticamente
justificada.”
(Gandim,1997, p. 16)

No processo educacional, é necessário que o grupo tenha claro para si que


concepção de educação irá adotar como proposta de desenvolvimento pessoal. É
importante que se tenha claramente definidas as relações que a educação tem com a
sociedade, as características que a definem e as principais linhas de ação.

Quando os grupos são maiores e mais complexos, surge a necessidade de


uma equipe de coordenação. Não queremos dizer, com isto, que exista a
obrigatoriedade de hierarquia, em termo de alguém que mande e outro(s) que
obedeça(m), contudo precisamos ter alguém que possa coordenar o grupo de modo
que ele organize suas finalidades e consiga implementar ações coerentes com as
mesmas, de forma sinergética, ou seja, com espírito de equipe propositiva.

A educação precisa estar atenta às estratégias da nova ordem mundial,


para que possa cumprir o papel desafiador de ser um elemento importante no
processo de transformação da sociedade. A introdução da qualidade, como critério, é
uma das referências básicas para a reconstrução deste sistema.
ADMINISTRAÇÃO - ASPECTOS GERAIS

A medida que a complexidade da sociedade humana foi aumentando,


através dos tempos, foram sendo necessárias certas mudanças na forma de
administração. O espaço, o tempo, as relações humanas e econômicas devem compor
o pano de fundo na discussão sobre educação para resolver problemas de interesse
comum da comunidade escolar.

As exigências históricas, cada uma em seu tempo, determinaram caminhos,


no campo da administração, com o propósito de melhor organizar a construção de
conhecimentos.

Numa tentativa de conceituar administração em geral, é preciso


descontextualizá-la dos seus determinantes sociais. Após este passo podemos dizer
que

“a administração é uma atividade específica do


ser humano, pois somente o homem é capaz de estabelecer
objetivos livremente e utilizar-se dos recursos de modo
racional”.
(Martins, 1999, p. 24)

Nota-se que a administração está inserida num contexto em que existem


condicionamentos de ordem política, econômica e social, podemos dizer que

“a administração é um processo de planejar,


organizar, dirigir e controlar recursos humanos, materiais,
financeiros e informacionais, visando à realização de
objetivos”
(Martins, 1999, p. 24).

A administração, como é entendida e realizada atualmente, é produto de


longa evolução histórica e reflete as contradições sociais e os interesses políticos da
sociedade em pauta. Considerando-a em seu sentido geral, pode ser conceituada
como a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados, o que a
caracteriza como uma atividade exclusivamente humana como já dissemos
anteriormente.
A atividade administrativa é, então, não apenas exclusiva mas também
necessária à vida do homem. O animal, como ser indiferenciado da natureza, busca
objetivos livremente, colocando-os então no plano da necessidade. O homem, embora
faça parte da natureza, como o animal, consegue diferenciar-se dela pela sua livre
ação. Ele só é humano porque transcende sua situação natural.

A administração, entretanto, não se ocupa do esforço despendido por


pessoas isoladamente, mas com o esforço coletivo.

"A administração é uma atividade generalizada


e essencial a todo esforço humano coletivo, seja na
empresa industrial, na empresa de serviços, no exército,
nos hospitais, na igreja etc. O homem cada vez mais
necessita cooperar com outros homens, para atingir seus
objetivos: neste sentido, a administração é basicamente a
coordenação de atividades grupais.”
EDUCAÇÃO E SEU DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

Analisando a educação em diferentes momentos históricos, Martins (1999)


concluiu que,

"nos povos primitivos a educação tinha o


objetivo de ajustar a criança ao meio pela aquisição de
experiência das gerações passadas, realizada por imitação.
A educação oriental tinha por objetivo o domínio da
linguagem e da literatura. A educação grega visou
primordialmente ao desenvolvimento individual,
característica que é o marco inicial da educaç ão liberal. A
educação em Roma fundamenta-se nos conceitos de
direitos e deveres que no período primitivo, desenvolveu-se
no lar, porém, a partir do período imperial, surgiram as
escolas de diversos graus, inclusive as universidades. A
educação clássica, que se desenvolveu na Grécia e em
Roma, tinha caráter humano e cívico.”
(Martins, J., 1999, p. 25)

Posteriormente, rompendo com as concepções liberal e individualista dos


gregos e prática dos romanos, surgiu o modelo de Educação utilizado na Idade Média
de caráter mais cristão. Somente mais tarde com a Reforma, inicia-se a chamada
Educação moderna caracterizada por ser promovida pelo Estado e destinada a todo
povo independente de seu gênero ou classe social.

Através desse breve relato é possível perceber que o desenvolvimento


filosófico, científico, artístico e tecnológico, bem como as mudanças dos valores
sociais e nas maneiras de conduzir-se socialmente, são sempre transmitidos de uma
geração a outra e, de forma cumulativa, mesmo sofrendo mudanças permanecem no
tecido social, caracterizando-o.

Inicialmente bastante simples e até informal, podemos afirmar que hoje o


processo educativo abriga preocupações profundas com o sistema de ensino, sendo
de essencial importância considerar não apenas suas condições (infra-estrutura), mas
também a dimensão político-social do processo de ensino-aprendizagem. Nesse
contexto, surge a demanda de uma administração escolar.
ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

CONCEITOS

"Numa rápida passagem pela história da


humanidade iremos perceber que, à medida que as
transformações econômicas, sociais, e políticas foram
ocorrendo, os grupos humanos responsáveis pelas mesmas
foram exigindo aprimoramento do processo administrativos.”
(Martins, 1999, p. 15)

A administração escolar pressupõe uma filosofia e uma política diretoras


estabelecidas pelo grupo escolar. Está estruturada para gerar processos criadores de
condições adequadas às atividades deste grupo, objetiva a unidade e à economia de
ação, bem como ao sucesso do processo educacional. Engloba atividades do tipo: –
planejamento, organização, assistência à execução (gerência), avaliação dos
resultados (medidas), prestação de contas (relatório).

A partir da concepção de educação daqueles que estabelecem a política


educacional, podemos inferir seu tipo de administração escolar. Como por exemplo: se
a política educacional priorizar o intelectualismo e o professor como centro do
processo educativo, teremos uma educação tradicional e, consequentemente, uma
administração humanista tradicional; se priorizarmos o aluno ativo como centro do
processo educativo, teremos uma educação escolanovista e, consequentemente, uma
administração humanista moderna; mas se priorizarmos o aluno tem-se uma educação
progressista e uma forma humanista-progressista de administração.

A prática administrativa, ao longo da história da educação, foi desenvolvida


com forma centralizada de poder. Esta conduta promoveu a competição, a intimidação
e a segregação nos trabalhos escolares. Atualmente a prática administração tende à
descentralização e prioriza as parcerias, como ilustra o texto abaixo.

“A administração escolar é um conjunto


complexo de atividades que criam condições para a
integração e o bom funcionamento de grupos que operam
em divisão do trabalho. Aí está explícito que a unidade total
de tarefas é subdividida em unidades menores e confiadas
a pessoas ou grupos que possuem certa autonomia para
executá-las. Portanto, quanto mais poderes os indivíduos ou
grupos têm para realizar tarefas, mais descentralizada e
democrática é a administração escolar. Não é, pois,
recomendável a centralização que caracteriza a
administração autoritária, ainda mais quando o conceito
atual é que a administração tem a função de zelar pelo
funcionamento harmonioso e orgânico dos grupos.”
(Martins, 1999: 34)

A maior preocupação da administração escolar deve ser a manutenção da


unidade grupal. Não podendo, no entanto, deixar de preocupar-se com a economia da
ação e o progresso do empreendimento. Não obstante, deve cuidar também da
otimização de recursos, sem diminuir o rendimento. Isto quer dizer que a
administração escolar não pode economizar recursos que possam implicar na queda
da qualidade do ensino, pois esta é a meta enquanto a otimização de recursos é meio.

A tarefa de administrador é, ainda, um grande desfio nas instituições


educacionais.

Muitas destas instituições não dispõe de um profissional qualificado para o


desempenho desta função. O cargo de diretor geralmente considerado "de confiança"
acaba sendo ocupado por profissionais que, usam o poder do cargo, coagindo os
outros profissionais com promessas de prêmios, incentivando as competições internas
e os conflitos interpessoais, no intuito de manter o domínio sobre o grupo.

A formação qualificada do administrador escolar começa a ser vista como


uma necessidade, urgente, para a conquista de um espaço educacional que respeite
os princípios de cidadania e a convivência democrática.
BIBLIOGRAFIA

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1979.
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BIBLIOGRAFIA -COMPLEMENTAR
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INTRODUÇÃO

“...simplesmente não posso pensar pelos


outros, para os outros, nem sem os outros.”
(PauloFreire)

Estamos trazendo, para esse “início de conversa” três idéias


extremamente fortes e presentes no cotidiano de nossas existências:

EDUCAÇÃO
TRABALHO
CIDADANIA

Embora usualmente utilizados, estes conceitos não são compreendidos de


forma integral. Falamos em educação de maneira tão discursiva, por exemplo, que
nem chega a parecer que tudo o que temos hoje presente na história da educação
nacional foi construído, de certa forma, por todos e por cada um de nós. Por vezes
falamos com tal isenção que nos colocamos à parte do que existe, como se não nos
coubesse nenhuma parcela de responsabilidade.

Ousamos, até, usar sistematicamente o pronome “ELES” em nossas falas,


deixando num outro lugar, bem longe de nós, os “responsáveis” pelo “descalabro”
educacional.

E a nossa responsabilidade? O que temos feito para mudar? O que temos


conseguido encaminhar, em ações concretas, para romper os paradigmas que tanto
nos incomodam?

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

As idéias das pessoas, as nossas idéias, se formam, essencialmente,


através de suas, de nossas práticas sociais. Por tanto, as práticas sociais escolares,
criam um ideário sobre educação que é concreto e cuja autoria pertence a todos nós
que nela atuamos. E o mesmo acontece em relação à noção de Trabalho e de
Cidadania.
É importantíssimo perceber, então, que as práticas escolares tanto
constituem-se por concepções de Educação, Trabalho e Cidadania que temos como
continuam, depois de nós, constituindo idéias sobre essa mesma Educação, Trabalho
e Cidadania.

Escolhemos essas três idéias por considerarmos que são totalmente


imbricadas, relacionadas, conexas. Chegamos mesmo a afirmar que não existe uma
sem as outras, ou, se tal acontecer, a existência será menos completa.

Embora a prática da educação tenha estado sempre dominada por


considerações menos profissionais e técnicas como devemos esperar, sua teoria tem
estado quase sempre dominada pela convicção de seu objetivo e seus meios são
somente as idéias.

Segundo Enguita (1989), tudo no desenvolvimento cotidiano da relação


pedagógica leva a pensar assim. O discurso do professor, o conteúdo do livro-texto, a
memória ou a capacidade de raciocínio do aluno são manifestações de idéias. As
demais ocorrências se apresentam diante dos olhos dos agentes do processo
educacional como subsidiárias e contingentes ao núcleo do processo de ensino e
aprendizagem ou derivadas únicas e exclusivamente das determinações devidas à
organização coletiva do ensino.

E isso encontra eco no eixo de mudança das realidades escolares, uma vez
que todo professor já mudou, por exemplo, o conteúdo de suas aulas, viu serem
substituídos alguns programas por outros etc... mas somente algumas gerações
viveram diretamente transformações , no sentido de “grandes mudanças”, como a
passagem da escola unidocente à seriada, ou da escola dominical à de cinco dias por
semana.

É também importante sinalizar que o campo do discurso escolar presta-se


mais, normalmente, à iniciativa pessoal do professor, sua disponibilidade, sua decisão,
sua autonomia que o das “práticas escolares” enquanto um campo de políticas de
ação organizadas para a concretização de alguns fins determinados e específicos.
Por exemplo, é muito fácil falar em “educação para valores”, mas é muito
menos fácil conceber essa ação como ação concreta de uma política de gestão
escolar, isso implicaria envolver não apenas aquele professor que já considera ser
essa opção uma opção viável interessante, mas envolver toda a comunidade escolar,
dentro de um Projeto Político-Pedagógico fruto de ampla discussão e reflexão acerca
do responsabilizar a todos e a cada um, num movimento de adesão coletiva, de
enredamento.

Assim, se “educar para valores” é importante para todos, que cada um se


comprometa por fazê-lo dentro e fora de seu “espaço imediato de trabalho”.

O processo de elaboração conjunta do Projeto Político-Pedagógico Escolar


é fundamental para situar a dimensão do “trabalho coletivo” como política no âmbito
das práticas escolares.

Isso demanda o estabelecimento de três tipos de marco:

a) marco contextual – implica levantamento da situação global (sócio-econômico-


político-cultural-educacional...) da instituição e de todos os envolvidos, traçando-se um
perfil bem definido do campo de possibilidades de ação que se tem.

b) marco doutrinário – implica levantamento das concepções de sociedade /


educação que se tem, incluindo visões de homem e valores fundamentais.

c) marco operacional – implica determinar que tipode ações deverão estar presentes
para referenciar os dois marcos anteriores.

É preciso, no entanto, estar atento às necessárias problematizações, já que


muitas vezes somos levados a pensar sob os parâmetros hegemônicos, isto é, os
modelos dominantes, que nem sempre são os que queremos ou devemos referendar.
Por exemplo, ninguém nega que a competição e o individualismo são
valores pregnantes na nossa sociedade neo-liberal capitalista, mas também não
podemos negar que no seio desta mesma sociedade há inúmeras manifestações de
valores outros, como de solidariedade e cooperação, mesmo sendo contra-
hegemônicos.
Nosso exercício assim, enquanto elaborador de práticas escolares, seria
identificar, na origem e no desenvolvimento, os valores que realmente seriam
referência para um trabalho constituinte de cidadania .

No texto literário de Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis, é possível


identificar um significativo diálogo entre Marco Polo (o navegador) e Kublai Khan (o
mestre) em que Marco Polo, decepcionado por saber que o último porto é sempre o
“porto do inferno” resolve negar-se a continuar caminhando, navegando.
No entanto Kublai Khan se coloca enfaticamente contra tal posição de
Marco Polo, defendendo que esse deveria, ao contrário, ser o verdadeiro motivo da
continuidade do seu caminhar pois que, segundo ele, “inferno já é o que existe mesmo
entre nós, no nosso cotidiano das relações humanas, mas temos que identificar o que,
no inferno, não é infernal, e continuar apostando e desenvolvendo ações nesse
sentido.

Nos últimos vinte anos, as transformações sociais, políticas e econômicas


foram tão acentuadas que ao falar sobre a sociedade no princípio dos anos 70,
verificamos que os pontos de contatos com a realidade atual são muito tênues. A
situação é idêntica em relação ao sistema educativo e, assim, em relação a todos os
profissionais que nele atuam.

É preciso, historicamente, situar o profissional professor e só assim poder-


se-á chegar à discussão dos outros profissionais da Escola.
CIDADE PERFEITA
Ítalo Calvino

O atlas do grande Khan também contém os mapas de terras prometidas visitadas


na imaginação mas ainda não descobertas ou fundadas: a Nova Atlântida, Utopia, a Cidade do
Sol, Oceana, Tamoé, Harmonia, New-Lamark, Icária.

Kublai perguntou para Marco:

- Você , que explora em oportunidade e é capaz de interpretar os símbolos,


saberia me dizer em direção a qual desses futuros nos levam os ventos propícios?

- Por esses portos eu não saberia traçar a rota nos mapas nem fixar a data da
atracação. Às vezes, basta-me uma partícula que se abre no meio de uma paisagem
incongruente, um aflorar de luzes na neblina, o diálogo de dois passantes que se encontram no
vaivém, para pensar que partindo dali construirei pedaço por pedaço a cidade perfeita, feita de
fragmentos misturados com o resto, de instantes separados por intervalos, de sinais que alguém
envia e não sabe quem capta. Se digo que a cidade para qual tende a minha viagem é
descontínua no espaço e no tempo, ora mais rala, ora mais densa, você não deve crer que pode
parar de procurá-la. Pode ser que enquanto falamos ela esteja aflorando dispersa dentro dos
confins do seu império; é possível encontrá-la, mas da maneira que eu disse.

O Grande Khan já estava folheando em seu atlas os mapas das ameaçadoras


cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições: Enoch, Babilônia,Yahoo, Butua, Brave New
World.
Disse:

- É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está lá no
fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito.

E Polo:

- O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o
inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de
não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste
até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem
contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é infernal, preservá-lo
e abrir espaço.
UM RECORTE HISTÓRICO

“... O passado é lição para se meditar, não para


reproduzir.”
(Mário de Andrade)

Antônio Nóvoa (1995) um dos nomes mais representativos da literatura


pedagógica atual destacou em seu livro intitulado “Profissão Professor”, podemos
destacar alguns fatos marcantes que nos ajudarão a construir uma visão sobre a
caracterização do profissional da educação.

SÉCULOS XVII E XVIII

. o saber religioso X saber laico ( Estado)


. professor = padre

. um corpo de saberes e técnicas

Saberes congregacionais e jesuítico


. conjunto de normas e valores

Saberes e técnicas = organizado em torno de princípios


e estratégias de ensino

saber geral X saber específico


Pedagogia
saber pedagógico

Corpo de saberes e técnicas produzido por pedagogos de fora, do exterior


do “mundo dos professores” por teóricos e especialistas.

Conjunto de normas e valores.

Influenciados por crenças e atitudes morais e religiosas


Ética e normas de caráter religioso
Missão de educar X prática de ofício
Motivações não desaparecem
Vocação X profissão

Igreja // Estado

internas
Instituições mediadoras das relações da profissão docente
externas

NO SÉCULO XVIII

A intervenção do Estado provoca a homogeneização, a


unificação e a hierarquização à escala nacional, instituindo
professor como corporação profissional.

OBJETIVO

Promover a constituição de um corpo profissional isolado,


submetido à disciplina do Estado.

Era necessário tirar os professores da alçada das comunidades locais,


organizando-os como um corpo do Estado.

Regime Estatal

garante ao docente o estatuto de autonomia e independência


em relação aos párocos, aos notáveis locais e às populações

Função compartilhada entre Estado e docente


MODELO IDEAL DO PROFESSOR

Situar-se entre o funcionalismo e a profissão liberal

Logo:

Ensinar só com a licença e a autorização do Estado, após uma série de exames


que requer um número de condições.

Dar suporte ao exercício docente:

- contribui para delimitar o campo profissional do ensino


- atribui ao docente o direito exclusivo de intervenção na área

LICENÇA DOCENTE

facilita a definição de um perfil de competências técnicas;


serve de base ao recrutamento dos professores;
delineia a carreira docente;
têm o aval do Estado os grupos docentes;
legitimação oficial de sua atividade;
afirmação profissional e reconhecimento social;
professor como funcionário (de caráter particular);
sua ação está impregnada de forte intencionalidade política pelos projetos e
finalidades do Estado.

PAPEL DA ESCOLA

• se impõe como instrumento privilegiado de estratificação social;


• professor se destaca nessa estratificação social como agentes culturais e
políticos no percurso de ascenção social.

PAPEL DO PROFESSOR

Promove o valor educação, criando as condições para a


valorização de suas funções para a melhoria do seu estatuto
sócio-profissional.

SÉCULOS XIX E XX

Época dos congressos de professores:


• laboratórios;
• de valores comuns;
• de ideário coletivo de origens religiosas.

TRABALHO DE PRODUÇÃO DOCENTE

Corpo de saberes
AÇÃO DOCENTE
Sistema Normativo

aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas pedagógicas;


introdução de novos métodos de ensino;
alargamento dos acúmulos escolares.

Resultando:
Dificuldades no exercício do ensino, que ficou visto como atividade secundária ou
acessória.

SÉCULO XIX
Expansão escolar – procura maior, como forma de ascenção social.
Corolário – instrução como forma de ascenção social.

ARGUMENTOS DE DEFESA DOS PROFESSORES

Caráter especializado da ação educativa.


Realização de trabalho da mais alta qualidade.

BASE DA FORMAÇÃO ESPECÍFICA DO PROFESSOR

• Desenvolvimento de técnicas e instrumentos pedagógicos.


• Necessidade de assegurar a reprodução das normas e valores próprios da
docência.
• Consolidação do estatuto e da imagem do professor e do Estado.
• A valorização das Escolas Normais.
• A troca do mestre-escola pelo professor de instrução primária.
• As instituições de formação no lugar central de produção e reprodução de saberes
e do sistema de normas da profissão docente.
• Assume papel crucial na elaboração dos conhecimentos pedagógicos e de uma
ideologia comum.

formam professores individualmente


• As Escolas Normais
produzem a profissão docente coletiva

• Contribuindo para:
a socialização de seus membros;
a gênese de uma cultura profissional.
IMAGEM AMBÍGUA

- Indefinição do estatuto - Reforço da solidariedade interna


do corpo docente – identidade
profissional pela ação das
- Relativo isolamento social associações de professores.

MOVIMENTO DE ASSOCIAÇÕES DOCENTES

• tomada de consciência dos interesses profissionais;


• pressupõem existência de um trabalho prévio de constituição dos professores
em um corpo solidário;
• elaboração de uma mentalidade comum.

MODELOS ASSOCIATIVOS – ASSOCIAÇÕES DE PROFESSORES

• filiações político-ideológicas;
• práticas associativas.
- melhoria do estatuto
- controle da profissão
- definição da carreira
• crescimento da unidade docente imposta pelo Estado

unidade intrínseca – com base no interesse comum,


na consolidação do espírito de corpo.
PROFISSÃO DOCENTE

• adesão implícita ou explícita a um conjunto de normas e valores, embasada pela


crença generalizada nas potencialidades da escola e na sua expansão ao conjunto
social;
• destaque ao professor, investidos de poder simbólico.
ESCOLA E INSTRUÇÃO – PROFESSORES COMO AGENTES

Anos 20 – Movimento da Educação Nova


conjugação de projetos culturais científicos e profissionais;
conseqüência – lentidão da evolução cultural;
idéia de escola;
afirmação das novas ciências da educação;
configuração do modelo de professor profissional.

Século XX - Eixos reivindicatórios


melhoria do estatuto
controle da profissão
definição de uma carreira

Durante os anos vinte – Movimento da Escola Nova

Conjugação de projetos culturais,


científicos e profissionais

A afirmação profissional dos professores é um percurso repleto de lutas e


de conflitos, de hesitações e recuos.

Os processos são contraditórios e partem de diferentes perspectivas,


chegando, no século XXI, a um tipo de desprofissionalização ou proletarização
docente.

É preciso urgentemente recaminhar para superar o surgimento generalizado


de desconfiança em relação às competências e à qualidade do trabalho docente.

É claro que existe uma brecha entre a visão dealizada e a realidade


concreta do ensino. É fundamental que pensemos sobre essa brecha. Qualquer
profissional ligado ao ensino, de forma mediata ou imediata, tem que apropriar-se
dessa historicidade, pois só se constitui enquanto feição identitária aquele que
verdadeiramente conhece seu processo histórico.
Observação:
Os esquemas anteriores foram elaborados com base na leitura de Nóvoa
(1985), texto que julgamos fundamental para leitura, contudo de difícil acesso por se
tratar de um livro estratégico.

RECOMENDAÇÕES

1. Leia atentamente o texto usando as seguintes estratégias:


a) leitura exploratória – geral, globalizada
b) leitura aprofundada – relacional, com interferências

2. Faça um pequeno resumo/fichamento, tentando identificar os pontos mais


relevantes.

3. Amplie sua leitura, optando por um dos livros indicados segundo seu maior
interesse.
BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Sumus, 1993.


ANDRÉ, Marli. Alternativas do ensino de didática. Campinas: Papirus, 1997.
ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Artes Médicas, 1994.

_____________. Conversas com quem gosta de ensinar. São


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_____________. Histórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1988.
BECKER, Fernando. Epistemologia do professor – o cotidiano da escola. Rio de
Janeiro: Vozes, 1995.
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ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: educação e trabalho no
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FERREIRA, Nilda Teves. Cidadania: uma questão para a educação . Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
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____________. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
____________. Vivendo e aprendendo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo. Rio de Janeiro: Vozes,
1994.
GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas.
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HOFFMANN, Jussara. Avaliação: mito e desafio numa perspectiva construtivista.
Porto Alegre: Educação e Realidade, 1991.
_________________ . Avaliação mediadora: uma prática em construção da
pré- escola à universidade. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1993.
LA TAILLE, Yves de et allii . Piaget, Vygotsky e Wallon:
teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
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LÜCK, Heloísa. Ação Integrada: administração, supervisão
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_______. Programa de Saúde Escolar da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro,
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BIBLIOGRAFIA – COMPLEMENTAR
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GRISPUN, M. (org.) Prática dos Orientadores Educacionais. São Paulo: Cortez,
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MORAES, J. Sala de Aula: Que espaço é este? SP: Papirus, 2001 16ª. ed.
PLACCO, V. Formação e Prática do Orientador e do Supervisor. SP: Papirus, 2000
4ª. ed.
PERRENOUD, P. 10 Novas competências para Ensinar. Porto Alegre, ArtMed,
2000.
RESENDE, I. Escola: Espaço do Projeto Político-Pedagógico. SP: Papirus, 2000
6ª. ed.
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EDUCACIONAL – VISÕES
VISÕES ÉTICA
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INTRODUÇÃO

“...os limites da minha linguagem denotam os


limites do meu mundo.”
(Ludwig Wittgenstein)

O processo educativo se viabiliza através de três áreas de atuação principais, que


são: a administração escolar, a supervisão escolar e a orientação educacional. Todas as
atividades desenvolvidas na escola, estão, sobremaneira, atreladas a estas três áreas, podendo-se
perceber que o sucesso do processo educativo dar-se-á através da posição de influência e
liderança exercidas por estas áreas.

Inspirado no texto do artigo 2º do Título I da nova LDB,

“A educação nacional, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, objetiva o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
responsável da cidadania e sua qualificação para o trabalho” .

é que procuraremos refletir e resgatar a importância do papel do orientador educacional em suas


dimensões ética e estética.

A escola, enquanto um sistema social, se compõe de um conjunto de funções inter-


relacionadas e interinfluentes, onde a ação numa das áreas se refletirá nas demais (Luck, 1999).
O papel da orientação educacional se faz importante nesse sentido à medida que esta consiga
atender às necessidades da comunidade.

Para entendermos melhor o papel da orientação educacional, é importante refletirmos


sobre a sua formação, suas origens e possibilidades prospectivas.
ORIGENS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

O advento da Orientação Educacional representa uma tomada de consciência em


relação à realidade do educando e à complexidade da vida social.

O que se pode observar, na prática, é que o educando ocupava posição secundária no


processo educacional. O sucesso escolar era quase sempre produto da eficiência do professor,
enquanto o fracasso corria por conta da falta de aplicação ou de aplicação inadequada, por parte
do educando em relação a seus estudos.

“Pode-se dizer, inclusive, que arbitrariamente todo


crédito no ensino era aberto ao professor e todo débito, ao
educando...”
(Nérici, 1974)

Somente no início do século XX é que a vida social do educando começou a ser


olhada como um aspecto importante para o sucesso do processo educativo. Decorre daí a visão
do educando, enquanto um sujeito com virtudes e carências, diferente um do outro, o que
determina aspirações diferenciadas. Este olhar diferenciado para o educando nos possibilita
construir um olhar também diferenciado para o professor, sendo percebido como um ser
falível.

Conseqüentemente, o meio sociocultural em que se desenvolve o educando, as


relações existentes da apropriação dos espaços, bem como as suas contradições, como por
exemplo, o crescimento do processo de industrialização e a exigência da especialização de mão-
de-obra se faz perceber, pela escola, como uma dimensão importante e necessária ao processo
educativo.

O educando começou a ser olhado de maneira mais compreensiva, com a intenção


de ser apreendido, integralmente, em sua realidade sócio-humana, sendo assistido e fortalecido
em suas dificuldades, bem como valorizado em seus aspectos positivos, de modo a prepará-lo
para integrar-se no meio social, como cidadão participante. Este é o advento da Orientação
Educacional.

Assim sendo, a Orientação Educacional fundamenta-se no reconhecimento das


diferenças individuais e no reconhecimento de que o ser humano, em qualquer momento de sua
vida, pode apresentar carências e dificuldades, necessitando, pois, de compreensão, ajuda e
orientação.

Ela surgiu no início do século XX, nos Estados Unidos com o objetivo primeiro de
orientar os estudantes para uma adequada escolha profissional para inserção no mercado de
trabalho, isto é, como um direcionamento para a orientação profissional. O contato direto com o
educando foi deixando transparecer suas dificuldades, ampliando-se seu campo de ação para
uma assistência mais ampla e completa, com o objetivo de melhor orientá-lo para a vida pessoal
e social.

“Logo no início do século XX, deu-se uma


ampliação natural no campo da Orientação, obedecendo à
necessidade de assistir o educando no desenvolvimento de todas
as suas estruturas – física, mental, moral, social, estética,
científica, política e religiosa.”
(Schmidt e Pereira, apud Nérici, 1974, p. 64)

A Orientação Educacional, no Brasil, tem sua primeira incursão no processo


educativo através de Lourenço Filho, um dos expoentes da educação brasileira, enquanto diretor
do Departamento de Educação do Estado de São Paulo criou o “Serviço de Orientação
Profissional e Educacional, em 1931, “serviço” este interrompido em 1932, sendo reiniciado
por Fernando de Azevedo, ainda, no mesmo ano e extinto em 1935.

O objetivo maior deste “serviço” era “guiar o indivíduo na escolha de seu lugar
social pela “profissão”, uma espécie de correlato do que hoje, concebemos como orientação
vocacional.

A expressão “Orientação Educacional”, empregada para designar um serviço


auxiliar da escola (visão simplista e pouco acadêmica) surgiu, pela primeira vez na
legislação federal, no Decreto-lei nº 4.073, de 30/1/42.

A formulação mais precisa aparece na Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-


lei nº 4.424 de 09/04/42),

“Art. 80 - Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundário,


Orientação Educacional.
Art. 81 - É função da Orientação Educacional, mediante a
necessária observação, cooperar, no sentido de que cada aluno
se encaminhe convenientemente nos estudos e na escolha de
sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos
sempre em entendimento com sua família.

Art. 82 - Cabe ainda à Orientação Educacional cooperar com


os professores no sentido da boa execução, por parte dos
alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir segurança e
atividade aos trabalhos complementares e velar para que o
estudo, a recreação e o descanso dos alunos decorram em
condições de maior conveniência pedagógica.”

Posteriormente, a Lei 5.564 de 21/12/68 amplia a extensão da orientação


educacional aos níveis médio e primário visando a uma ação mais assistencialista e de
aconselhamento.

Art. 1º- A Orientação Educacional se destina a


assistir o Educando individualmente ou em grupo, no âmbito das
escolas e sistemas escolares de nível médio e primário, visando ao
desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade,
ordenando e integrando os elementos que exercem influência em
sua formação e preparação para o exercício das opções básicas.

A Orientação Educacional se consagra no texto da Lei 5.692, de 11/08/71 quando


se faz presença obrigatória em todas as instituições de ensino através da criação do Serviço de
Orientação Educacional (S.O.E.), o qual deveria estabelecer uma relação de parceria entre
escola/ professores/ comunidade e família.

Art. 10 - Será instituída, obrigatoriamente, a


Orientação Educacional incluindo aconselhamento vocacional em
cooperação com professores, família e comunidade.

Apesar da obrigatoriedade nas escolas, o que se viu ao longo desses quase trinta
anos foi um desgaste progressivo da Orientação Educacional. Desgaste este propiciado
provavelmente pela formação inadequada dos profissiobnais de Orientação Educacional que
priorizaram, em seu percurso profissional, a função do aconselhamento, negligenciando outras
funções como as de planejamento, organização, atendimento geral, atendimento individual e de
relacionamento (Nérici, 1973).

Desta maneira, o S.O.E. passou a ser um espaço onde o aluno ia desabafar,


descansar ou, simplesmente, fugir da aula que ele achava desagradável.
Com a implantação da nova LDB/96 pretende-se resgatar a importância da
Orientação Educacional no processo educativo atual que visa

“(...) o pleno desenvolvimento da pessoa, seu


preparo para o exercício responsável da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
(Título II, art. 1º, lei 9.394 de 20/12/96)
O FAZER E O PENSAR DO ORIENTADOR EDUCACIONAL

Como vimos no texto, o papel social, qualquer que seja ele, é determinado por um
conjunto de fatores interferentes, tais como as características da escola, suas necessidades, os
recursos humanos disponibilizados, a expectativa do papel social desempenhado, entre outros.

No tocante aos recursos humanos importa-nos não só a quantidade de pessoas


disponibilizadas para a viabilização do processo educativo, mas, principalmente, a formação
destes recursos.

Assim, o orientador educacional necessita aprimorar-se não se limitando à formação


acadêmica mas investindo em treinamentos, em serviço e, principalmente, no desenvolvimento
das competências e habilidades, tão bem declinadas por Perrenoud (2000).

Segundo Lück (1999), o processo educativo será significativo quanto maior for a
qualidade do relacionamento professor-aluno. O conhecimento, as habilidades e as atitudes do
professor em relação ao aluno, alvo de sua motivação, tornam eficaz o processo educativo.
Assim, é de extrema importância orientar e assistir a este professor na promoção de um
ambiente escolar saudável e eficaz. Como “a chave do êxito na educação reside nas pessoas”
(Kaufman, 1978: 11) e seus relacionamentos, temos aqui a importância da ação da orientação
educacional.

Uma das grandes dificuldades da educação encontra-se na distância existente entre


as idéias inovadoras e a ação pedagógica em si efetivada pelo professor, uma vez que o espaço
próprio para a efetivação das mudanças – a sala de aula – continua pleno de ações
conservadoras, muitas vezes instintivas, ou como protestos diante das perspectivas frustradas e
das dificuldades encontradas pelo professor.

A falta de assistência ao professor quanto ao seu desempenho em sala de aula, tanto


no aspecto técnico quanto pessoal, é visto como uma das causas de entraves do processo
educativo.

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ENQUANTO ACONSELHAMENTO


Tradicionalmente, o orientador educacional é percebido e percebe-se como um
profissional que tem como função precípua atuar junto aos educandos.

Neste sentido, a orientação educacional é definida por Schmidt e Pereira (1969):

“um método pelo qual o orientador educacional


ajuda o aluno, na escola, a tomar consciência de seus valores e
dificuldades, concretizando, principalmente através do estudo, sua
realização em todas as suas estruturas e em todos os planos de
vida”.
(Schimidt e Pereira, apud Nérici, 1973, p. 67)

Dentro desta perspectiva, o aconselhamento tem sido considerado a principal


atuação do orientador educacional. Entretanto, atualmente, esta práxis vem sendo amplamente
questionada em virtude do orientador educacional não conseguir demonstrar a eficácia do tempo
destinado ao aconselhamento para o atendimento da problemática do educando.

Um dos questionamentos levantados relaciona-se à origem dos modelos e técnicas


de aconselhamento utilizados em orientação educacional, os quais são do âmbito da
psicoterapia.

Ora, neste particular existe uma ótica diferenciada, posto que na psicoterapia
pressupõe-se a existência de um núcleo de doença que, geralmente, é manifestado no indívíduo.
Assim, as mudanças a serem efetuadas devem se dar no indivíduo e não no ambiente. Esta
ótica se amplia para a escola através da postura assumida pelo orientador Educacional, já que,
geralmente, o aconselhamento é utilizado nos casos de indisciplina na escola (Lück, 1979).

A prática comum é a do encaminhamento do educando ao Serviço de Orientação


Educacional, para que suas atitudes sejam modificadas. Esta práxis nega o reconhecimento de
que, muitas vezes, a inadequação comportamental do educando é conseqüência de disfunções
ambientais, entre outras, as quais devem ser corrigidas e alteradas, tais como: currículos e
programas inadequados às necessidades dos educandos, rigidez nos regulamentos, falta de
sensibilidade de professores e outros profissionais da escola com relação às características
individuais do educando.

Além destes questionamentos, no plano da argumentação lógica, pensamos que a


desigualdade natural existente entre o orientador educacional (adulto) e o educando
(criança/adolescente) não se desfaz no espaço educacacional, uma vez que o adulto é percebido,
em nossa cultura, como figura de autoridade pela criança/adolescente, não importando a posição
por ele ocupada.

Outro aspecto a relevar é que o educando, geralmente um cliente involuntário do


aconselhamento, sentir-se-á totalmente à vontade para discutir qualquer assunto com o
orientador educacional. Parece-nos que não, o que torna a escola o espaço não apropriado para o
aconselhamento.

Além disso, a escola, sujeita a pressões organizacionais em termos de resultados, de


tempo e de eficácia, não propicia condições para que o educando desenvolva seu
comportamento natural. Ao contrário, vemos com freqüência a tentativa de moldar o aluno aos
padrões comportamentais concebidos pela instituição, como sendo os mais adequados.

Finalmente, a Orientação Educacional desenvolvida através do aconselhamento,


individual ou em grupo, é restrita a um número limitado de educandos, ficando a maioria deles
sem receber os benefícios da orientação educacional. Mais sério do que não contemplar a todos,
diante da pressão do tempo limitado e do número imenso de alunos, o orientador educacional
vê-se obrigado a diminuir o tempo de duração e o número de sessões com cada aluno, podendo
haver um ajustamento, prematuro e superficial, forçado inadvertidamente por ele.

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ENQUANTO PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS

A Orientação direta ao educando parte do pressuposto de que estes são diferentes e


que, portanto, apresentam necessidades distintas, as quais o professor não se vê com preparo
suficiente para efetuar seu trabalho. Logo, segundo Lück (1978) à medida que as necessidades
vão surgindo, o orientador torna-se um “prestador de serviços”.
Tal concepção mudou totalmente a abrangência e significância do papel do
professor, uma vez que ele não estará mais sozinho à frente das dificuldades, tentando resolvê-
las juntamente com o educando. Ao perceber as dificuldades psicoemocionais no seu aluno,
encaminhá-lo ao Serviço de Orientação Educacional transferindo ao orientador educacional a
responsabilidade de solucionar tais problemas.
Assim sendo, o professor se ausenta do papel fundamental de formador intelectual e
psicoemocional de seus alunos, deixando um hiato na qualidade do relacionamento interpessoal
professor/aluno, o que incidirá numa falta de parâmetros comportamentais na escola.

“Eu diria que os educadores são como as velhas


árvores.
Possuem uma face, um nome, uma “estória” a ser
contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que
os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade” sui
generis , portador de um nome e também de uma “estória”,
sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo
para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a
dois. Espaço artesanal.”
(Alves, R. 1983, p. 13)

Face ao exposto, depreende-se que o “fazer” do orientador educacional deva estar


voltado para prestar assistência ao professor, aos alunos, às famílias, à escola como um todo,
envolvendo os seus profissionais, enfim todas as pessoas que interagem e contatam com o
educando, objetivando prepará-los para atender e entender as necessidades dos educandos de
forma global – em relação aos aspectos cognitivos, psicomotores, sociais e afetivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantas mudanças ocorridas no mundo e da falta de investimento sério na


Educação (o Brasil é um Estado que investe pouco na Educação) , verificamos que a qualidade
de vida do povo brasileiro encontra-se comprometida, comprometimento este que acaba se
refletindo nas relações estabelecidas na escola.

Como conseqüência da falta de investimentos adequados às nossas necessidades


educacionais, funções altamente importantes dentro da escola, como as do orientador
educacional, foram negligenciadas até quase chegar à extinção, principalmente na escola
pública.

Atualmente, a escola não é mais um espaço de integração social, um espaço


reforçador da auto-estima, um lugar onde se desenvolvem valores e sentimentos. Por que será
que nos deixamos empobrecer tanto? Onde estaremos concentrando nossos esforços
educacionais?

Segundo Aquino (1998), não há nada de novo sob o sol. O novo é uma releitura do
velho. Só que para se poder fazer uma releitura, é necessário que se tenha aprendido a ler – e
este é o trabalho fundamental da escola.

Para que este trabalho seja feito é necessário que cada um tenha a clareza ética do
seu papel, bem como da importância do seu trabalho. Assim, o professor que encaminha quase
toda a sua turma para a Orientação Educacional de modo a avaliá-los comportamentalmente,
certamente, necessita de um aconselhamento ético.

Desta feita, em face de múltiplas leituras do mundo que somos estimulados a fazer,
devemos arriscar um novo olhar, para entender a importância da Orientação Educacional no
processo educativo. Um homem só se completa através do processo educativo. Para darmos
conta do montante de informações a que temos acesso, é necessário ter pessoas com
desempenho de qualidade, com conhecimento técnico atualizado, e que assumam uma postura
ética, o que em outras palavras, significa estar pronto a interagir com o(s) outro(s),
reconhecendo suas identidades, respeitando as diferenças, que não são melhores e nem piores,
em questões de subjetividade e autoridade.
Assim, hoje, a formação do orientador educacional deve visar a inserção dos
educandos na escola, o reconhecimento como parte para o desenvolvimento do trabalho
educacional. É mais do que ter o domínio de métodos e técnicas que redundam em assistir e
orientar , posto que esta visão assistencialista levou o orientador educacional a se alienar do
processo educativo como um todo, contribuindo também para a não conscientização do seu
papel. Este, por afastar-se do processo educativo, numa concepção holista, acabou sofrendo a
conseqüência da unidimensionalidade de sua ação. É preciso estar alerta para o perigo do
excesso de assistência e de orientação. Assistir e orientar verdadeiramente, implica deixar
sempre muito claro ao educando de sua liberdade, para que ele mesmo possa refletir sobre as
suas ações e buscar resolver suas dificuldades, juntamente, com a comunidade escolar.

Não se deve, pois, compreender a Orientação Educacional através de uma atitude


paternalista alienante. Atualmente, é mais claro o papel da mesma de resgatar e de elevar a
Orientação Educacional ao seu lugar de importância no cotidiano escolar, utilizando o viés
psicopedagógico que será de extrema valia no desenvolvimento pleno do processo educativo,
propiciando ao educando, a marcha para a maturidade, o crescimento pessoal e social e a
formação de um cidadão independente e livre.

“Já se disse que as grandes idéias vêm ao mundo


mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com
atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações,
um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança.
Alguns dirão que tal esperança jaz numa nação.
Eu creio, ao contrário, que ela é despertada,
revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos
atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações
mais cruas da história.
Como resultado, brilha por um breve momento a
verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a
base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.”
(Albert Camus)
BIBLIOGRAFIA

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